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1 O Cidadão 3 transporte dificulta a ida à escola 6 Internet ganha força com as lan houses 16 Saúde: saiba sobre a rubéola 20 Beach Soccer ajuda jovens RIO DE JANEIRO • ANO IX • Nº55 • ABRIL/MAIO 2008 Presidente Lula durante lançamento das obras do PAC na comunidade de Manguinhos PAC PAC Projeto promete grandes obras em favelas do Rio, mas será que o tempo previsto é suficiente?

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1O Cidadão

3 transporte difi culta a ida à escola 6 Internet ganha

força com as lan houses 16 Saúde:

saiba sobre a rubéola 20 Beach

Soccer ajuda jovens

RIO DE JANEIRO • ANO IX • Nº55 • ABRIL/MAIO 2008

Presidente Lula durante

lançamento das obras do PAC na comunidade de Manguinhos

PACPACProjeto promete

grandes obras em favelas do Rio, mas

será que o tempo previsto é sufi ciente?

2 O Cidadão

EDITORIAL

PAC: será mais uma ilusão?

ELES LÊEM O CIDADÃO

Acima Wladimir Aguiar, morador do Morro do Timbau. À direita, Cláudio Nascimento, super-intendente de Direitos Individuais, Coletivos e

Difusos da Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos

HÉLIO EUCLIDES

Nessa edição O CIDADÃO bus-cou ir além da Maré. Em nos-sa matéria principal decidimos

falar sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Essa foi a forma encontrada para explicar aos mareenses como acontecerá o projeto em algumas comunidades do Rio. O projeto prevê grandes construções, como teleférico, elevação da linha férrea e uma passarela assinada por Oscar Neimayer. Com isso, entramos em um questionamento. Será que essas obras são tão importantes? Será que não existiriam outras mais im-portantes para essas comunidades, como a construção de mais escolas e a instala-ção de um melhor sistema de saneamen-to básico?

O PAC foi lançado há alguns meses e é grande a satisfação dos moradores dos locais atendidos. Mas alguns especialis-tas contestam a justifi cativa do projeto que é a de “eliminar áreas de risco”, e não melhorar as condições de vida dos seus moradores. Será que ele continuará

com o passar do tempo? Será que tudo o que ele propõe acontecerá? Em 2007 tivemos um péssimo exemplo de má gestão de dinheiro público com o PAN. Muito dinheiro além do previsto foi gas-to para a construção de Complexos Es-portivos, e alguns continuam em obra, como o complexo Aquático Maria Lenk. Esperamos que isso não aconteça com as intervenções propostas pelo PAC, já que o projeto tem prazo para acabar.

Além disso, temos muitas outras ma-térias interessantes. Uma delas é a de fotógrafos, mostrando que com estudo e dedicação qualquer pessoa pode abraçar essa profi ssão. Na parte de educação re-velamos a difi culdade dos alunos da co-munidade em irem à escola de ônibus. Também é uma edição que nos despedi-mos da editoria de “Rua” que já nos deu muitas histórias interessantes. O CIDA-DÃO também alerta sobre a Rubéola, doença perigosa principalmente para as gestantes.

Boa Leitura!

RENATA SOUZA

O CIDADÃO é uma publicação do CEASM - Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré

Sede Timbau: Praça dos Caetés, 7 - Morro do TimbauTelefones: 2561-4604Site: www.ceasm.org.br

DireçãoAntonio Carlos Vieira • Cláudia Rose Ribeiro

Maristela Klem • Lourenço CezarCoordenadora de Comunicação:

Carla BaienseEditora: Cristiane BarbalhoCoordenadores de Edição:

Flávia Oliveira • Aydano André MottaChefe de Reportagem: Silvana Sá

Revisão: Audrey BarbalhoAdministração: Fabiana GomesReportagem: Cristiane Barbalho

Gizele Martins • Hélio Euclides • Rosilene RicardoRenata Souza • Julie Alves • Douglas Baptista

Colaborou nesta edição: Rede Memória

Jornalista Responsável:Renata Souza (Mtb. 29150/RJ)

Ilustrações: JhenriContato Comercial: Maria Matilde e

Elisiane AlcântaraProjeto Gráfi co: José Carlos Bezerra

Diagramação e Editoração Eletrônica: Fabiana Gomes e José Carlos Bezerra

Criação do Logotipo: Rosinaldo LourençoFoto de Capa: Ricardo Stuckert/PR

Distribuição: Maria Matilde (coordenadora)Ana Carla • Charles Alves

Givanildo Nascimento • Raio Nonato José Diego • Caíque Mendes • Luiz Fernando

Fotolitos / Impressão: EdiouroTiragem: 20 mil exemplares

Correio eletrônico:[email protected]

[email protected]

Rua Nova Jerusalém, 345 BonsucessoTel:3882-8200 / Fax:2280-2432

A impressão deste Jornal foi possível graças ao apoio da

3O Cidadão

GERAL

Transporte público na MaréMoradores arriscam a vida atravessando locais perigosos para ir à escola e o trabalho

COMO VOVÓ JÁ DIZIA

- Não deixe o ferro elétrico ligado quando for chamado à porta ou tiver de fazer outra coisa. Essa tem sido a origem de muitos incêndios.

- Ao encerar a casa, abra as portas e janelas para assegurar máxima venti-lação possível, evitando explosões e in-cêndios.

- Evite o uso de tomadas múltiplas

do tipo benjamim, pois a sobrecarga de corrente aquece os fi os e pode causar curto-circuito.

- Sempre que for desligar o fi o da tomada, puxe-o pela base de plástico, evitando quebrar a capa que o protege.

Fonte: Folhinha do Sagrado Cora-ção de Jesus - Editora Vozes

Dicas de Segurança

Por conta da ausência de transpor-te público na Maré, muitos pais, crianças e jovens, que estudam ou

trabalham fora da comunidade arriscam a vida para conseguir pegar um ônibus. Muitos precisam atravessar avenidas, por-que em alguns pontos da comunidade ain-da não existem passarelas. A defi ciência maior é na comunidade de Marcílio Dias, que hoje só possui uma linha de ônibus em horários determinados pela empresa.

Para Vera Lúcia da Silva, de 44 anos, moradora de Marcílio Dias, a preocu-pação com a falta de transporte é ainda maior, pois onde mora não há passarela. “O meu fi lho estuda do outro lado da Ave-

nida Brasil. Ele vai sozinho. Fico muito preocupada porque é muito perigoso”. Eliane Gomes da Silva, de 23 anos, mora-dora da mesma comunidade, fala de como é difícil levar os fi lhos ao colégio. “É mui-to ruim atravessar a Avenida, lá não tem sinal. Todos os meus fi lhos estudam fora daqui, é muito complicado. Temos que atravessar correndo”, completa.

Segundo Elenita dos Santos, de 44 anos, na época representante da Asso-ciação de Moradores de Marcílio Dias, a comunidade tem uma média de 9 mil pes-soas, muita gente para circular apenas um ônibus. “Há alguns anos passavam ônibus aqui, mas depois sumiram. Hoje temos

apenas um da empresa ‘Juremas’, que vol-tou a funcionar no fi nal de fevereiro deste ano e só conseguimos porque fi zemos um abaixo assinado. Muitos moradores ainda reclamam da falta de transporte”, diz.

O estudante Raphael Damaceno, de 17 anos, morador da Baixa do Sapateiro, também sofre com a falta de transporte. “Estudo na Tijuca, no Cefet. Todos os dias tenho que ir de bicicleta até a Ave-nida Brasil para pegar um ônibus. Deixo minha bicicleta na passarela e depois pego meu ônibus, na volta ‘pego ela’ e vou para

casa. Acho o transporte p ú b l i c o da Maré m u i t o deficien-te, quem mora na

Vila do Pinheiro e

quer ir ao Parque União, por exem-plo, tem que ir até a Av. Brasil pegar um ônibus, ou pegar várias kombis de dentro da comunidade até chegar lá”, diz.

4 O Cidadão

GERAL

Uma fotografia, histórias reveladasDois profi ssionais da imagem mostram a Maré e outros cantos do Brasil em suas fotos

De um lado da lente, olhos fi xos à pro-cura de momentos imperdíveis, e do outro, os donos dos instantes regis-

trados. Marcos Diniz, de 23 anos, conhecido como Ratão, e Ubirajara de Carvalho, de 37 anos, apelidado de Bira, fazem anônimos vi-rarem grandes personagens. Os dois desco-brem que através de suas máquinas podem encontrar vidas, histórias e experiências que não devem ser deixadas de lado.

Os dois seguem o mesmo caminho pro-fi ssional, a fotografi a documental. Eles já estão na profi ssão há alguns anos. Fizeram viagens pelo Brasil e o mundo. Hoje atuam na comunidade que nasceram. Bira já viajou para a Inglaterra, onde deu ofi cina de foto-grafi a em algumas escolas públicas do país. Ratão, viajou no ano passado para o Nor-deste, participando do “Revelando Brasis”. A participação no projeto o ajudou a com-prar sua primeira câmera profi ssional. “Esta viagem foi uma realização, porque qualquer fotógrafo documentarista tem o desejo de ir até o nordeste”, diz.

Bira e Ratão falam do objetivo que têm na profi ssão que escolheram. “Quero fazer as pessoas mudarem a visão distorcida que

tem das favelas. Porque quem não mora nela e não tem conhecimento do que é, não tem noção do quanto tudo isso é vivo, for-te, solidário e alegre”, diz Bira. Ratão é da mesma opinião do amigo. “Documentar os espaços populares é ter a possibilidade de se relacionar, de se aproximar, de compartilhar,

reconhecer, contribuir e construir histórias dos povos. A fotografi a, na minha opinião, é uma ferramenta de construção das histórias dos espaços populares e da vida de quem ne-les vivem”, afi rma Ratão.

Segundo Ratão, o mercado de trabalho de fotografi a é como todos de comunicação,

RATÃO DINIZ

BIRA CARVALHO

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muito disputado, difícil de conse-guir um espaço. Contudo, o amor pela profi ssão faz os dois seguirem em frente. Eles não saem de casa sem suas máquinas, andam por toda a comunidade sem nenhum problema, sendo conhecidos e respeitados por todos. “Eu sou uma pessoa que vejo a fotografi a como uma companheira. Fotogra-fo tudo o que vejo. Faço fotografi a porque eu gosto, é uma forma de se expressar, eu sou apaixonado pelo que faço. Acho ainda que a Maré tem que ser mais explora-da nesta área. Acontecem muitos eventos, mas infelizmente não são mostrados”, completa Bira.

RATAO DINIZ

BIRA CARVALHO

1- Jovem posa com lata de spray junto

ao grafi te, 2-Imagem noturna de uma

favela carioca, 3- Crianças mostram

a renovação da vida, 4- Foto, na Paraíba, revela

a diversidade do Brasil, 5- Crianças brincando de bola

na Maré, 6- Crianças se divertindo em

brinquedo instalado

RA

TAO

DIN

IZ

BIRA CARVALHO

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6 O Cidadão

GERAL

A Maré na era da internetCresce no bairro a busca pela conexão na rede mundial de computadores

HÉLIO EUCLIDES

A lan house é mais uma opção de acesso à internet e é largamente utilizada pelos moradores da comunidade

Segundo Cezar Alvarez, coordena-dor das ações de inclusão digital do governo federal, 67% da população

não têm computador em casa e dependem dos centros públicos para acessar à internet – publicado na revista ARede. Na Maré não é diferente. E por esse motivo as lan houses expandiram tanto pelo bairro, chegando ao ponto de ter uma ao lado da outra.

Em 2001, a Estação Futuro deu o “ponta-pé” inicial nesse serviço. Hoje, a demanda de usuários no tele-centro diminuiu, o que fez di-rigir a um público seleto. “Há muitas lan hou-ses na Maré e as pessoas já têm internet em casa, mas ainda temos procura de quem não quer bagunça, pois não trabalhamos com jo-gos”, comenta o supervisor de atendimento da Estação Futuro, Sérgio Vinícius, de 23 anos. Ele esclarece que nem todos se interessam pela internet. “Tem pessoas antigas que ainda nem usam computador. Mas buscam o servi-ço de digitação. É legal trabalhar aqui e ajudar a fazer um cadastro de concurso”, conclui.

As lan houses permitem um leque de possibilidades, mas a maior procura é por jo-gos, msn e orkut. “O usuário não sabe de fato para que serve a internet, poderia ser ensina-do nas escolas”, afi rma o inspetor escolar e morador da Nova Holanda, Marcos Antônio Martins, de 39 anos. No entanto, Wladimir Aguiar, de 49 anos, diretor dos tele-centros Associação Comunitária Escola de Rádio Progresso (Acerp) e Maremoto, analisa o ou-tro lado. Segundo ele, uma utilização de for-ma saudável é importante, como participar da comunidade bairro Maré no orkut. “Aqui o diferencial é a existência de monitores, de função social e d a tentativa de acabar

com a exclusão. Nossa preocupação é fazer a educação na internet. Já as lan houses tem função comercial”, explica.

Contudo, alguns mareenses desejam acessar pela sua própria máquina. “Fica di-fícil ter computador em casa, a nossa renda não facilita”, diz José Ribamar, de 33 anos. Marcos concorda, pois acha difícil se com-prar um computador ganhando um salário R$415. “Hoje o acesso é ilusório. A inclusão social do governo foi um fi asco. O acesso em massa só será possível se o poder públi-co quiser, falta programa de governo. Uma sugestão é que a Oi imitasse o trabalho que a Light realiza, a cobrança social”, fala Mar-cos. Wladimir vai mais além. “Só acredito em 100% da população tendo acesso a inter-net, quando acabar a pobreza”, desabafa.

Mas não é apenas a falta de verba para a compra de compu-

tador que se torna obstáculo na hora de se ter a internet em casa. Sérgio é um dos morado-res que não tem banda larga no lar, por seu telefone não ter suporte. “Na minha casa, o meu número não é atendido, já o meu tio ao lado tem velox”, reclama. Um funcionário terceirizado da Oi Fixo, que instala e reali-za manutenção na Maré, confi rmou o fato. Disse que os equipamentos estão cheios, não tendo mais vagas, mas que a empresa pretende de ampliar o serviço. Ao entrar em contato com a companhia, um funcionário do suporte Oi Velox declarou que a informa-ção não procede. Cada terminal (linha) tem o seu número de suporte, tendo a Maré mais de 3.300 conexões e 174 possibilidades técnicas disponíveis. E completou que a empresa está interessada em colaborar cada vez mais com os clientes.

Maré no encontro sobre internet realizado em São Paulo

Wladimir Aguiar representou a Maré na primeira edição no Brasil do Campus Party 2008, ocorrido em fevereiro desse ano, em São Paulo. Um festival de tecnologia, que debateu a evolução da internet. Um dos temas desenvolvidos, para politizar o evento, foi o do software livre. “A internet era uma, e agora é outra de-pois desse congresso. A exclusão digital é uma violência. Foi um fórum de inclusão social, que envolveu todo o país”, conclui. Ele representou o serviço de tele-centros do bairro. E lá lembrou o tempo que levou a internet à Praia de Ramos. “Na época as pes-soas não sabiam nem o que era mouse. No futuro isso vai mudar, porque a internet vai estarno celular. E também o idoso será um ‘internalta’, já que a minha geração será a terceira idade”, diz.

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Morador do Parque União e pai de três fi lhos, Cleber Machado, de 41 anos, se dedicou aos estudos,

passou no vestibular, fez concursos públicos e hoje é professor de geografi a. Com isso, incentivou seus fi lhos a seguirem o mesmo caminho. Hoje, o maior objetivo desta famí-lia é o de ser exemplo para todas as outras da Maré.

Segundo Cleber, tudo começou com o interesse de fazer o curso pré-vestibular no Ceasm. “Tive a idéia de fazer um plano de estudos, tanto para mim quanto para os meus fi lhos, quando eu estava estudando para o vestibular. Lembro que fazia grupo de estu-dos em casa. Para fazer meus fi lhos estuda-rem hoje, foi um plano de anos com eles, na verdade, de 10 anos”, comenta.

Hellon Machado, de 17 anos, fez curso preparatório também no Ceasm, estudou no Colégio Pedro II, e hoje está cursando física

na UFRJ. “Entrei no preparatório em 2003, a partir desse momento comecei a gostar mais de estudar”, diz. Vitor Machado, de 12 anos, também fez preparatório para a quinta série e passou para o Pedro II. “Quando comecei a fazer o curso, tudo fi cou mais difícil. Eu es-tava estudando muito e até reclamava com o meu pai, porque eu quase não tinha tempo de brincar. Tinha que fazer dever de casa e ainda estudar para o concurso. Mas foi muito bom. Quando fi z a prova nem a senti difícil”, fala.

Para Álvaro Machado, de 15 anos, o investimento de seu pai nos estudos ajudou muito, mas no início não concordava muito com ele. “O meu pai tinha métodos de edu-cação que no começo eu não concordava, como dormir cedo, não assistir muita televi-são, não jogar vídeo game etc. Mas sei que foram estes métodos que nos ajudaram”, afi rma.

Cleber deixa uma sugestão para ou-tros pais: “É preciso incentivar seus fi lhos, dizer que eles podem e vão con-seguir passar no que desejam. Porque muitas das vezes passar na prova é um ato de apoio também dos pais. Não é somente chegar e pôr seus fi lhos em um cursinho e pronto”, diz. Segundo ele, todos os seus fi lhos fi zeram parte de cursos do Ceasm, e que o interesse maior da instituição não é apenas que as crianças e jovens passem em concursos, mas que tenham uma visão crítica do mundo.

Um pouco da história do CPVO preparatório e o curso pré-vestibular

(CPV), já ajudaram muitos a passarem em concursos. O CPV, que começou em feve-reiro de 1998, foi o primeiro projeto da ins-tituição. No início, enquanto terminavam as obras no Ceasm, as aulas eram realizadas na

Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, com duas turmas. Hoje, com dez anos de atividades, já se somam mais de 500 apro-vações para diversas universidades do Rio de Janeiro e para variados cursos. Atualmente o CPV tem uma média de 200 alunos, dividi-dos em quatro turmas.

De acordo com os coordenadores do CPV, Everton Rangel Bispo e Guaraciara Gonçalves, o projeto não atua apenas com o objetivo de aprovar os alunos no Vestibular. “Buscamos não somente inserir o aluno na universidade, mas também desenvolver nele uma consciência crítica e motivá-lo a atuar na luta pela educação de qualidade, pela de-mocracia e pelos direitos comuns a todos os brasileiros”.

O projeto é apoiado pela Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Governo do Rio de Janeiro, pelo Instituto Unibanco e Light.

Cleber Machado junto com seus fi lhos mostram a força e a união que a dedicação aos estudos traz à família

HÉLIO EUCLIDES

NAS REDES DO CEASM

Uma família unida pelos estudosPai e fi lhos estudam juntos para passar em concursos, servindo de exemplo para a comunidade

Curiosidades sobre o CPVAtravés desses dados, podemos perceber que a maioria dos alunos é do gênero feminino. As mulheres são mais jovens e concluíram o Ensino Médio a menos tempo do que os homens. É possível ver também que dos 203 moradores que se inscreveram no CPV este ano, apenas 98 estão empregados. Por isso mesmo, a maioria dos alunos (62%) informou que está no projeto buscando preparação para entrar num curso universitário que qualifi que para o mercado de trabalho.

Quantidade Faixa Etária Conclusão do Ensino Médio

Quantos Trabalham

121 mulheres Entre 17 e 58 anos Entre 1976 e 2007 49

82 homens Entre 18 e 67 anos Entre 1972 e 2007 49

“É preciso incentivar seus fi lhos, dizer que eles podem e vão conseguir passar no que desejam”Cleber MachadoMorador do Parque União

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ACONTECEU NA MARÉ

E POR FALAR EM... REPRODUÇÃO

Associação de Moradores do Parque Rubens VazEndereço: Rua João Araújo, 117 – Par-que Rubens Vaz – Maré – CEP: 21044-075Telefone: 3881-9118 / 3880-9605Ano de fundação: 1965

Associação de Moradores do Parque UniãoEndereço: Rua Ary Leão, 33 – Parque União – Maré – CEP: 21040-000Telefone: 3882-5510Ano de fundação: 1962

Associação de Moradores de Roquete PintoEndereço: Rua Ouricuri, 135 – Parque Roquete Pinto Maré – CEP: 21030-010

Telefone: 9781-3691/ 9121-7518 Ano de fundação: 1979

Associação de Moradores da Praia de RamosEndereço: Largo da Felicidade, 2Praia de Ramos – Maré – CEP: 21030-190Telefone: 3105-4535Ano de fundação: 1981

Associação de Moradores e Amigos de Marcílio DiasEndereço: Av. Lobo Júnior, 83Marcílio Dias – Maré – CEP: 21011-680Telefone: 3889-6234Ano de fundação: 2000

União das Assoc. de Moradores

do Bairro Maré – UNIMAREndereço: Rua Nova Canaã, 8 – Baixa do Sapateiro – Maré – CEP: 21042-560Telefone: 3104-4619/ 3104-4620Ano de fundação: 1995

Associação de Mulheres de Marcílio DiasEndereço: Travessa 26 de fevereiro, 19Marcílio Dias – Maré – CEP: 21011-121Telefone: 2584-0084Ano de fundação: 2001

Instituições comunitárias da Maré

Atividades do mês de Março do CPV-Maré

Durante o mês de março o Pré-Vesti-bular da Maré realizou atividades sobre “O dia internacional da mulher”. Uma ofi cina sobre a construção dos papéis do homem e da mulher na sociedade, enfa-tizando a construção da masculinidade, foi realizada dia 13, com o psicólogo Carlos Zuma. No dia seguinte teve deba-te sobre os movimentos de lutas das mu-lheres. Dia 22, os alunos foram ao teatro Gláucio Gil assistir a peça “Silêncio”, da Cia dos Comuns. E dia 27, debates sobre todos estes eventos foram feitos em sala de aula.

P.U. ganha posto comunitário

Foi inaugurado no dia 23 de feverei-ro o Instituto Paulo Messina, no Parque União. O posto funciona na associação de moradores da comunidade. Estive-ram presentes o presidente da Unimar Auderley Julio dos Santos, a presidente do Conselho Distrital de Saúde Luisa Lopes, o diretor de Saúde do Parque União Nerel Lopes e Paulo Messina, presidente do Instituto. Os moradores são favoráveis à nova clínica. “Quando

temos um fi lho pequeno, quanto mais próximo o atendimento melhor”, diz Juliana Silva Araújo, moradora do Par-que União.

Benedita da Silva visita o Ceasm

Na mesma semana, 29 de março, o CPV recebeu a visita da secretária de Assistência Social e Direitos Humanos, Benedita da Silva. Ela conversou com as turmas do CPV sobre sua vida e como che-gou à universidade. E em que medida se tornar universitária contribuiu para a luta que travava junto com sua comunidade para melhoraria nas condições de vida.

Show na ruaA Lona Cultural Herbert Vianna re-

alizou show no Largo IV Centenário, na

Baixa do Sapateiro. O evento aconteceu no dia 20 de abril e contou com apresen-tação de bandas de forró.

Manifestação Gay na Maré

A primeira “Parada Gay” da Maré aconteceu no dia seis de abril, na Vila do João, às 16h. O evento foi realizado na garagem da Real (empresa de ônibus) e cerca de 800 pessoas participaram da ma-nifestação. Foi alugado por Beto um trio elétrico no valor de R$ 1.800, dinheiro conquistado através de “vaquinha”.

Nova creche da Vila do João

O Espaço de Educação Infantil Vila do João para crianças de quatro meses à cinco anos, com creche e pré-escolar gratuitos, foi inaugurado no dia 1° de abril às 10h. O evento contou com a presença do Governa-dor Sérgio Cabral, moradores e presidentes das associações de moradores do local. Sue-ly Moreno, de 32 anos, moradora da Vila do João, é uma das benefi ciadas com a abertura da creche. “Ela vai nos ajudar muito, vamos ter mais tempo para trabalhar, é ótimo. Te-nho quatro fi lhos e um deles vai estudar aqui das 7h às 18h”, conclui.

ROSINALDO LOURENÇO

Benedita da palestra para os alunos do pré-vestibular

As informações do box foram retiradas do Catálogo de Instituições, publicado em 2004. Alguns dados podem estar desatualizados. Pedimos às instituições que estiverem com os dados incorretos que entrem em contato com a redação.

O Cidadão 11

PERFIL

Rosário faz de suas e de outras histórias páginas de livrosMaranhense deixou sua cidade para tentar realizar seu grande sonho: o de publicar seus livros no Rio de Janeiro

“Às vezes, quando estou dor-mindo, sonho com alguma coisa e vem logo uma idéia

fi xa, vindo a necessidade de escrever. Tem vezes que estou trabalhando e vem aquela idéia e daí sinto a vontade de parar tudo só para escrever. É estranho, as histórias aparecem em qualquer mo-mento, hora e lugar”. Isso é o que diz Rosário F. Frazão, de 38 anos, moradora da Praia de Ramos, que veio do Maran-hão tentar realizar seu grande sonho: o de publicar seus livros de poesias.

Rosário começou a fazer seus poemas aos 15 anos, quando ainda morava no Maranhão com seus pais e irmãos. Veio para o Rio há quatro anos com uma amiga na tentativa de conseguir patrocínio. En-controu difi culdades, mas não perdeu o desejo de ver seus livros publicados. “Eu olhava na televisão e achava o Rio de Ja-neiro lindo. Nunca tinha saído de perto da minha família. Eu pensava que era fácil. Minha mãe falava para eu não vir. Eu di-zia para ela que iria voltar sim, mas com os livros prontos”, fala.

Nos poucos anos que está no Rio, Rosário trabalhou em vários lugares para tentar realizar seu desejo. Trabalhou em restaurantes, doceria, já foi cozinheira

e também recolheu latinhas na rua para vender. Atualmente tira seu sustento da lanchonete que fez na sua própria casa. “A vida no Rio não é fácil, trabalhei muito até conseguir comprar meu peda-ço de chão. Vim com a cara e a coragem. Lembro que trabalhei numa fábrica de produtos químicos e nessa época fi quei

muito doente. Mas con-segui juntar dinheiro para comprar meu espaço e estou ajeitando devagar”, completa.

A autora já tem três li-vros publicados: “Primei-ros Passos” (1998), “Po-emas e Poesias” (2002), feitos no Maranhão, e “Po-emas e Poesias” produzido no Rio em 2007. Todos os livros foram pagos com suas economias. O último, lançado em 2007, ainda está sendo pago. Ela pre-tende conseguir patrocínio para os próximos livros. Um já está pronto e será voltado para o público infantil. “A vontade que

tenho é de conseguir ajuda para mostrar meu trabalho e doar parte deles para as escolas e comunidades. Mas para isso, eu preciso que uma editora se interesse pelo meu trabalho e me ajude”, diz Rosário.

Segundo ela, tudo lhe inspira a fazer poesias. “Escrevo sobre qualquer assun-to. Se alguém me falar algum aconteci-mento, anoto e imediatamente sai um poema. Apesar das difi culdades fi nancei-ras, Rosário diz que faz os poemas por-que gosta. “Não penso em sobreviver da poesia, quero fazer os meus trabalhos e doar. Não quero fi car rica”, afi rma. Para ela o papel e a caneta são seus grandes companheiros.

O seu poema preferido é “Riso de Palhaça”, história que faz lembrar seu pai. “Escrevi este poema pensando em meu pai. Quando eu era mais nova, meu pai arrumou uma amante e briguei com ela, porque eu não queria que ela fi zesse nenhum mal à minha mãe. E por causa dela, meu pai me bateu e me expulsou de casa. Isso dói muito. Mas quando ele fi cou doente, que foi o momento que ele mais precisou de alguém, eu estava lá, cuidando dele”, conta. Confi ra ao lado o poema.

Riso de Palhaça

Me vi ali tão sozinha, desprotegida me achei tão perdida, que chorei com medo da vida.

Que será de mim, nesse mundo sofrido que disfarço a dor com sorrisos, gemidos, brincando de palhaça no meio da praça, só para esquecer as desgraças, que eu passo nessa vida totalmente sem graça...Rosário F. Frazão

“Não desanime e sem abandone a luta. Se fracassou muitas vezes, tente novamen-te até conseguir...”

Retirado do livro: Poemas e Poesias, pág. 15Entrar em contato pelo telefone: 8629-1854, falar com Rosário.

Rosário exibe as edições de seus livros, um deles foi produzido quando ainda estava no Maranhão

RENATA SOUZA

O Cidadão12 O Cidadão

CAPAO Cidadão12 O Cidadão

CAPA

À esquerda, imagem de como fi cará a entrada da Rocinha

após as obras. À direita, hospital que será construído na comunidade

PAC: Impacto sem parProjeto prevê obras “faraônicas” em cinco comunidades do Rio de Janeiro

Com o objetivo de promover melho-rias urbanas e sociais em diversos estados do país, o governo federal

criou o Programa de Aceleração do Cresci-mento (PAC). No Rio de Janeiro o projeto foi lançado na Rocinha, no Complexo do Alemão, no Pavão-Pavãozinho, em Mangui-

nhos e no Preventório, no dia sete

d e

março pelo presidente Lula. Além disso, o projeto acontecerá em alguns municípios da Baixada Fluminense. A proposta do progra-ma é melhorar a estrutura física dos locais e promover o desenvolvimento social das regiões atendidas. Entretanto, o economista Thiago Marques critica a falta de participa-ção das comunidades envolvidas. Ele ques-tiona também se os resultados do PAC terão continuidade.

Segundo Patrícia Evangelista da Silva, do Comitê de Acompanhamento do PAC, a

escolha de Manguinhos foi a partir da pressão social.

“Descobrimos que Manguinhos não es-tava incluído inicial-mente no projeto do

PAC. Um dos critérios de escolha dos locais de

obras foi o Índice de De-senvolvimento Humano (IDH). Aqui temos baixo IDH e sofre-mos com enchentes e quando o

movimento social soube do PAC foi feito uma pressão junto aos go-

vernos para a inclusão das comunida-des daqui”, diz.

No Complexo do Alemão não foi dife-rente. Segundo Reginaldo Gabriel de Lima, assessor de projetos do Afroreggae, a entrada das comunidades da região aconteceu após reivindicações dos líderes comunitários. “Há um ano houve uma reunião com o vice-go-vernador Pezão e os líderes das comunidades, no qual foram apresentadas as necessidades do local e que só poderiam ser atendidas com uma estrutura igual a do PAC. Ele, então, en-trou em negociação com o governador para a inclusão do Complexo nesse programa”, afi rma

Rocinha, Manguinhos e Alemão são formadas por diversas comunidades. Po-rém, algumas delas não serão atendidas pelo projeto. Esse é o caso da Vila São Pe-dro, Comunidade Agrícola, Parque Carlos Chagas e Parque Oswaldo Cruz, todas em Manguinhos. Segundo Patrícia, esses locais não receberão nenhum tipo de investimento do PAC e da Prefeitura. “Estamos buscando saneamento e habitação saudável para todos e essa é uma das bandeiras levantadas pelo Fórum do Movimento Social para o De-senvolvimento Eqüitativo e Sustentável de Maguinhos, que é formado por cerca de 30 pessoas”, completa.

O Cidadão 13

(Continua na próxima página)

“Descobrimos que Manguinhos não estava incluído inicialmente no projeto do PAC”Patrícia EvangelhistaMoradora de Manguinhos e integrante do Comitê de Acompanhamento do PAC

IMAGENS DE DIVULGAÇÃO

À esquerda, imagem dos locais, no Complexo do Alemão, que

sofrerão intervenções do PAC. À direita, panorâmica da comunidade

articipação popularInvestimento

O PAC vai investir nas comunidades do Rio de Janeiro R$ 1,14 bilhões. A Rocinha, com uma população de mais 120 mil pessoas receberá, um investimento de R$ 180,2 mi-lhões. O dinheiro será usado na instalação de redes de água, esgoto e drenagem, alarga-mento e construção de ruas, com o objetivo de melhorar a ventilação e mobilidade den-tro da região. Um anel rodoviário de 3,4 mil metros vai ser construído para delimitar a co-munidade. No local será construída uma pas-sarela sobre a estrada Lagoa-Barra, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer. E ainda terá um plano inclinado, ligando o pé do morro à Via Sul, novo acesso da comunidade.

Ainda está prevista construção de cer-ca de 430 apartamentos para os moradores que serão removidos em função das obras do PAC ou por morarem em local de risco, como encostas. Trinta mil famílias terão suas residências regularizadas e outras cinco mil os imóveis reformados. Além da construção de uma creche-modelo, um centro pré-hos-pitalar, um complexo esportivo, com piscina olímpica e quadra esportiva coberta, e centro com restaurante e usina de reciclagem. Tam-bém acontecerá o refl orestamento de 70 mil

metros quadrados de área devastada.Para Manguinhos, com 45 mil morado-

res, estão destinados R$ 358,7 milhões. E a grande obra que será feita na comunidade é a elevação da linha férrea. Ela será erguida do viaduto de Benfi ca até o viaduto da Linha Amarela. O objetivo da obra é integrar os dois lados da comunidade, com a construção do “Parque Metropolitano”, que será equivalen-

te ao Parque do Flamengo. Para Patrícia, essa elevação tem que ser muito bem pensada, já que sem a participação do movimento social, sem lazer e cultura, são grandes as chances do local ser ocupado. É também prevista a construção de 12 quilômetros de rede de es-

goto, cinco de pavimentação e 12 de drena-gem. Segundo ela, nas obras de Maguinhos estão previstos construção e alargamento de algumas ruas, sendo essa a responsabilidade da Prefeitura.

A construção de casas populares tam-bém vai acontecer em Manguinhos. “Ainda não teve um critério para escolha das pes-soas que irão ocupar as novas construções. A única coisa que sabemos é que 50% das pessoas que forem desalojadas por causa das obras ocuparão os apartamentos, 25% serão indenizadas e os outros 25% vão receber ajuda para a compra de um outro imóvel dentro da própria comunidade”, diz Patrícia. No local será construído um centro de atendimento médico, dois postos de saú-de, um complexo esportivo, duas escolas de ensino médio e uma de ensino técnico, além de uma biblioteca.

Outro dado importante é o número de pessoas inscritas para trabalhar nas obras. Em Manguinhos foram mais de 7500 ca-dastros. “Como a inscrição é para o banco nacional de emprego muito gente de fora da comunidade acabou se cadastrando. Além disso, uma média de cem pessoas já começa-

O Cidadão14 O Cidadão

CAPA

IMAGENS DE DIVULGAÇÃO

À esquerda, imagem em perspectiva do projeto do “Parque Metropolitano” que

será construído em Manguinhos após elevação da linha férrea. À direita, esquema destaca os pontos em que acontecerão as obras na comunidade localizada na no subúrbio carioca

(Continuação da página anterior)ram a trabalhar nos canteiros. A casa modelo será apresentada aos moradores, sendo cons-truídas dentro do antigo quartel que ainda terá a construção de um centro cívico, hospital e algumas habitações”, completa Patrícia.

O Complexo do Alemão tem 95 mil mo-radores e receberá R$ 601 milhões, a maior parte dos recursos do PAC. Na comunidade serão construídas três mil unidades habita-cionais, além da reforma de cerca de 5.600 casas. “O critério de desapropriação ainda precisa ser defi nido. A única coisa que sabe-mos é que o Estado irá trabalhar com o alu-

guel social, realocação e, caso seja necessário indenizará alguns moradores. E com relação às áreas de responsabilidade da Prefeitura ainda não temos nenhuma informação”, afi r-ma Reginaldo Gabriel de Lima, assessor de projetos do Afroreggae. A população local também será benefi ciada com a construção de um centro de atendimento médico, três postos de saúde, duas escolas de ensino mé-dio e uma de ensino técnico, duas creches, uma biblioteca e um posto policial. O grande destaque do projeto, na região, é a construção de um teleférico, ligando a estação de Bonsu-

cesso ao alto da comunidade.Segundo Reginaldo, as informações so-

bre as obras estão sendo passadas aos mora-dores pelo consórcio Rio Melhor e pelos pre-sidentes das associações de moradores. Ele ainda informou que os projetos sociais dentro da comunidade acontecerão na área de cul-tura, arte e educação, e que o assunto ainda será discutido com as secretárias que estão envolvidas no PAC. Mas, para ele, os proje-tos sociais deverão acompanhar a execução das obras, como no caso do canteiro social inaugurado no dia 14 de abril na região.

Economista questiona continuidade do PACPara o economista Thiago Marques o PAC não é justifi cado

para atender as necessidades básicas da comunidade, como habi-tação, saneamento e cultura. O projeto é utilizado como estratégia de segurança. “Ele utiliza como justifi cativa a violência. Onde se lê ‘eliminar áreas de risco’, estabelecendo a segurança das comunida-des envolvidas. Ainda está no texto do Plano Plurianual o seguinte: ‘é vital a realização dos projetos de urbanização das grandes comu-nidades informais via PAC’”, diz.

De acordo com texto do Plano Plurianual (2008-2011), o go-verno do estado delimita o PAC em 43 projetos estratégicos que terá prioridade na alocação de recursos via orçamentos anuais. “Fica evidente que o Orçamento Público legitima as ações do PAC, uma vez que qualquer tipo de despesa deve estar inserido no Orça-mento, daí a importância do acompanhamento público das ações

do PAC. As comunidade envolvidas necessitam se organizar e plei-tear a maior transparência da execução do programa e decidir se o que está sendo feito é bom ou não. Já que a divergência entre o que está sendo proposto com o que é realmente necessário está evidente. Será que a implementação de um teleférico no Complexo do Alemão é a prioridade?”, questiona o economista.

Segundo ele, grande parte do PAC social visa resultados sem continuidade, tendo data pré-determinada para acabar, no caso 2010. “A construção de escolas nessas comunidades que forneça ensino fundamental e médio possibilitaria um ganho importante, visto que não existe tal intenção no PAC Social. Contudo, as infor-mações estão fragmentadas e obscuras. O detalhamento dos proje-tos é desconhecido e o poder público (executivo) trata do tema sem um diálogo com as comunidades”, completa.

15O CidadãoO Cidadão 15

“...estamos capacitando essa ‘mulherada’ nas comunidades, essa é uma ação social”

ROSINALDO LOURENÇO

Benedita conta quais ações serão tomadas nas obras

CIDADÃO - Qual a importância do Pac?

Benedita - O Programa de Acel-eração do Crescimento (PAC) trouxe um novo desenvolvimento para as nossas co-munidades. E a inclusão através das políti-cas que estamos implementando junto com as obras, como o saneamento. Essa inclusão também passa pelos jovens, pela capacitação das mulheres na construção civil. Além disso, estamos abrindo o pré-vestibular social, reconhecendo os talentos que existem dentro da comunidade. Tenho certeza que o PAC é, nos últimos tempos, o que de melhor apareceu no Rio.

CIDADÃO - Qual foi o critério para a escolha das comunidades?

Benedita - O primeiro critério foi o levantamen-to da planta e do projeto. Já existia um proje to e ele foi a p r i -

morado, adicionando o conteúdo social. Isso acabou coincidindo com o fato de que o governo estaria investindo na área de sane-amento, que é uma demanda muito antiga. As comunidades que já tinham esse projeto pronto tiveram os projetos adequados e que agora estão sendo implantados. Claro que não dá para fazer em todas as comunidades, mas o legado que essa urbanização vai dei-xar será grande, pois teremos mão-de-obra qualifi cada e pessoas com mais informação. E teremos mais condições de aplicar em ou-tras comunidades o que chamamos de “PA-Cinho”, nas demandas do dia-a-dia. Depois do PAC teremos algumas comunidades que precisarão ter seus projetos específi cos.

CIDADÃO - Por que a Maré não foi escolhida tendo em vista que é uma das maiores?

Benedita - Porque o critério, na verdade, não foi o tamanho. Eu

até disse assim: porque o Chapéu Mangueira não foi escolhido? Mas não foi realmente o tamanho e sim o fato de ter uma constata-

ção. Você sabe que leva tempo para fazer um diagnóstico e alguns anos

para fazer o projeto. Então esse diagnós-tico levou alguns anos, e quando tivemos a oportunidade o governador Sérgio Ca-bral apresentou o projeto para o presidente Lula. Foi apresentado aquilo que já esta-va pronto e acabado. Esse não foi o caso da Maré e nem do meu querido Chapéu-Mangueira. Não teve nenhum outro cri-tério, como o de tamanho, de ser menor

ou maior, foi mesmo o de poder atender. E com o projeto pron-to fi cou muito mais fácil.

CIDADÃO - Quais proje-tos sociais serão desenvol-

vidos nessas comunidades? O morador da Maré será

benefi ciado de alguma forma com os proje-

tos do governo?Benedita - Estamos mon-

tando a infraestrutura para viabilizar as mudanças nas regiões atingidas.

Nós temos 40% de mão-de-obra feminina e 60% de mão-de-obra masculina. Você sabe que para as mulheres a construção civil não tem muita cultura. Por isso, es-tamos capacitando essa “mulherada” nas comunidades, essa é uma ação social. Estamos implementado o pré-vestibular social. Além disso, o governo está insta-lando os UPA 24h nas regiões que serão

atendidas. Acreditamos que essas ações antecipam algumas obras de estrutura nas comunidades. O PAC social tem que passar pela juventude, por política de gê-nero e pela política do idoso, que não é fácil, dentro de uma comunidade, o idoso se locomover. E paralelamente estamos também cuidando de muitas iniciativas, como na Maré, onde estamos nos conve-niando aos pré-vestibulares, porque não é interesse do governo do estado fi car in-ventando as coisas.

Governo fala sobre o PACO CIDADÃO entrevistou Benedita da Silva, Secretária Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, sobre as obras do PAC e como acontecerão os projetos sociais.

ENTREVISTA

16 O Cidadão

A rubéola é uma doença infecto-con-tagiosa, freqüentemente confundida com outras, como a dengue, por

exemplo, já que sintomas como manchas na pele e dor de cabeça podem aparecer. A transmissão acontece pelas vias respira-tórias, através da secreção de saliva que a pessoa infectada solta ao tossir, espirrar ou mesmo falar. O meio mais efi caz de prevenir a doença é através da vacinação, que ocorre nas crianças de 1 e 4 anos e em campanhas, para populações adultas não-imunes. É im-portante lembrar que a vacina é contra-indi-cada para mulheres grávidas ou com suspeita de gravidez.

A forma mais perigosa da doença é a congênita, que é passada pela mãe ao feto durante a gestação. O bebê poderá apresen-tar seqüelas irreversíveis como glaucoma, catarata, malformação cardíaca, retardo no crescimento, microencefalia (má formação do cérebro), surdez, dentre outras. Esse ris-co é maior quando a doença ocorre durante o primeiro trimestre de gestação, quando o embrião está se formando.

Os recém-nascidos com rubéola congê-

nita podem eliminar os vírus nas secreções respiratórias e na urina por tempo pro-longado (um ano ou mais) e podem transmiti-lo para os indivíduos não-imunes. Após a infec-ção, que varia de duas a três semanas, aparecem os primeiros sinais ca-racterísticos da doença: febre baixa, o surgi-mento de gânglios linfáticos (ínguas), normalmente locali-zados nas axilas, virilha e na parte de trás do pescoço, e manchas rosadas.

O tratamento para a rubéola é realizado à base de antitérmicos e analgésicos, como forma de controlar as dores arti-culares e musculares ou a febre. Para se ter certeza do diagnóstico é importante procurar um médico e solicitar o exame de sangue.

SAÚDE

Rubéola pode ser confundida com outras doençasA trasmissão pode acontecer por vias respiratórias, saliva, tosse, espirro. A vacinação é a melhor prevenção

A pré-estréia do fi lme “Maré: nossa história de amor”, de Lúcia Murat, no dia 24 de março, lotou a quadra

de samba Gato de Bonsucesso, que fi ca na Nova Holanda. O fi lme, livremente inspirado no clássico “Romeu e Julieta”, é um musi-cal que se passa nas comunidades da Maré e retrata o romance dos dançarinos Analídia e Jonathan que são separados pela briga entre facções rivais. Todas as artes expostas e cria-das nas periferias serviram de cenário para o fi lme. O funk e o hip hop são os ritmos mais utilizados na trilha sonora. O grupo de rap Nação Maré teve uma importante participa-ção no fi lme. Além de ajudar na elaboração do roteiro, narra e intervêm em diversas ce-nas tratando-as em rap e poesia. O fi lme está no circuito dos cinemas.

Após a exibição, do fi lme cerca de 200

pessoas puderam fazer perguntas para a Lú-cia Murat e para alguns dos atores do lon-ga-metragem. Mas, mesmo com todas as explicações sobre o fi lme, o público fi cou di-vidido. “Não gostei do fi lme, porque a favela é retratada a partir do tráfi co. Isso fortalece os estereótipos. Faltou contextualizar o que leva uma pessoa a entrar no tráfi co. Não se pode dizer que este fi lme representa as fave-las cariocas. É apenas mais um fi lme”, disse o morador da Maré, Ubirajara de Carvalho.

“O fi lme trata da nossa realidade. Sou mareense, moro aqui desde que nasci, mi-nha família veio removida de outra favela. E no fi lme vemos inúmeras situações que são vivenciadas pelos moradores. A Lúcia (Mu-rat) conseguiu retratar isso sem precisar ser apelativa e foi muito feliz”, disse Nego Jeff integrante do grupo Nação Maré.

GERAL

“Maré: nossa história de amor”Filme baseado em “Romeu e Julieta” fala do amor impossível entre jovens do bairro

DIVULGAÇÃO

Cena do fi lme de Lúcia Murat: Maré como cenário

17O Cidadão

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18 O Cidadão

ANÚNCIOS

O Cidadão 19

RUA

Ruas da MaréDesde 2003, O CIDADÃO investiga as principais ruas da Maré para mostrar suas histórias e difi culdades

A editoria “Ruas da Maré” se des-pede nesta edição por ter cum-prido o seu papel fundamental:

apresentar as histórias, as curiosidades, os problemas e possíveis soluções das principais ruas das comunidades da Maré. Entre elas estão a rua Principal, que corta a Baixa do Sapateiro, o Parque Maré, a Nova Holanda e a Rubens Vaz. A Gerson Ferreira que divide a Praia de Ramos e Roquete Pinto. E a Teixeira Ri-beiro que tem o maior centro comercial da Maré e nos fi ns de semana se trans-forma em uma grande feira livre. Conta-mos com você para falar sobre a sua Rua.

CRISTIANE BARBALHO

De cima para baixo: rua Teixeira Ribeiro em dia de feira livre, rua do Bispo da Marcílio Dias, Via C-4 da Vila do Pinheiro, Gerson Ferreira da Praia de Ramos e Rua Principal, que corta a Baixa do Sapateiro, Parque Maré, Nova Holanda e Rubens Vaz

CRISTIANE BARBALHO

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HÉLIO EUCLIDES

RENATA SOUZA

20 O Cidadão

ESPORTE

Depois da dor, o recomeçoMoradores da Vila do Pinheiro utilizam o futebol e transformam meninos em grandes heróis

FOTOS DE ARQUIVO PESSOAL

Grupo exibe troféu como símbolo da vitória sobre a violência contra a infância e adolescência dentro da Maré

Carlos Henrique, símbolo da luta contra a desigualdade

“Henrique queria ser jogador de futebol. Lembro que nesse dia, tudo por aqui parou”Renato do NascimentoResponsável pelo projeto de Beach Soccer

O projeto Beach Soccer de futebol foi criado por dois moradores da Vila do Pinheiro. Ele nasceu de

um momento de revolta e comoção. Há quase três anos Carlos Henrique, de 11 anos, morreu ao ser baleado durante uma operação policial na comunidade. “Hen-rique queria ser jogador de futebol. Lem-bro que nesse dia, tudo por aqui parou. No dia do enterro, interrompemos o trân-sito da Avenida Brasil e fi zemos uma ora-ção”, diz Renato do Nascimento, de 32 anos, um dos responsáveis pelo projeto e também padrinho de Henrique.

Segundo Renato, o desejo de realizar um projeto social já era antigo. “Antes desse fato eu já tinha a idéia de esque-matizar algo, com o objetivo de tirar as crianças da rua. Esse acontecimento apenas consolidou o que eu já tinha em mente”, diz.

Atualmente o Beach Soccer atende em média de cem crianças e jovens, de 8 a 16 anos, de várias comunidades da Maré. Uma das regras, é que todos eles estejam estudando. Os treinos acontecem de terça à sexta, das 16 às 18h30min. Segundo Ri-cardo Alves, de 36 anos, também respon-sável pelo programa, o projeto enfrenta muitas difi culdades. “Hoje treinamos no campo da ciclovia do Pinheiro, que está abandonada. Aqui não tem nada para um

bom treinamento. Poderíamos até fi car por mais tempo, mas não tem nem poste. Quando começa a escurecer temos que

sair logo”, relata.Segundo Ricardo, o projeto já con-

seguiu parcerias com alguns clubes. “Há quase dois anos temos uma parceria com a Portuguesa da Ilha do Governador, ten-do ainda com o Botafogo e o Bonsucesso Futebol Clube. Já temos quase 10 jogado-res mirins federados nestes clubes”, diz.

Ainda sem fi nanciamento, o gru-po recebe ajuda dos moradores, de pessoas próximas ao projeto, dos comerciantes e da Associação de Moradores da Vila do Pinheiro. “O apoio é através de uniformes, materiais e inscrições dos meninos em clubes. Quando a gente precisa sair para campeonato ou passeios, eles nos ajudam até com ônibus”, conclui Ricardo.

O grupo já conquistou diversas premia-ções e muitos alunos atuam em clubes, como o estudante Wilson Jeronymo Ju-

nior, de 10 anos, que comenta a importân-cia de jogar: “Gosto muito de vir treinar. Agora estou até como jogador mirim do Botafogo”. Para Chistopher Amorim, de 8 anos, é agradável treinar com os amigos em campo. “Gosto da convivência com os meus colegas, gosto dos jogos e dos profes-sores, eles nos ensinam muita coi-sa”, conta.

O Cidadão 21

O diretor executivo da Lona Cultural Herbert Vianna, nas horas vagas, consegue soltar a voz. Edilson Er-

nesto, de 38 anos, lança seu Cd Curriculum Vitae, construído em cima da MPB. Tudo co-meçou nos anos 80, quando ouvia muita mú-sica americana, como Bob Marley e grupos de rap. Na época aprendeu com amigos e em revistas de música, a tocar violão. De lá para cá são quase 20 anos de estrada. No início cantava na escola, festas de bairro e datas co-memorativas, como carnaval e festa junina.

Nascido no Espírito Santo, veio para o Rio de Janeiro com 17 anos. E descobriu que a voz grave se aproximava com o timbre de Tim Maia, fato que o infl uenciou. “Contudo acrescento ingredientes, como transformar músicas de pagode em soul reggae. Como fi z

em meu Cd, Deixa a vida me levar e Caviar”, diz o cantor e compositor. São 12 canções, dentre as quais apenas duas não são criadas por ele. A gravação foi independente, pois ele já estava cansado de esperar por empresário e gravadora. “As pessoas não devem nunca desistir de lutar pelos seus objetivos. E o que nos faz viver são os sonhos”, revela.

Como cantor encontra difi culdades, que são superadas pela alegria do público. “Os ar-tistas que não estão na mídia pagam para can-tar. É difícil até marcar um show. Mas sei que os colegas Dinho, Bhega, Dito Felix, Delta e Dona Iraci, passam por isso também”, desaba-fa. Edilson já realizou vários shows na Nova Holanda, Vila do João e Lona Cultural. Mas destaca os da Fundição Progresso e na antiga versão do Disco Voador, no projeto Coração Rastafary. “Soul é o estilo que mais gosto, e aonde vou sempre friso que soul da Maré”,

completa dizendo que a banda que o acompa-nha é formada por moradores do bairro.

No seu Cd, a música de trabalho é “Cur-riculum Vitae”, a mais antiga, que fala da difi culdade do morador da comunidade em conseguir um emprego. Contudo, a que mais gosta é “Pobre Menina Linda”. Balada que fala sobre uma menina rica que deseja ser pobre, e de um menino que espera o inver-so. “Não gosto de música com duplo sentido. E sim das que trazem mensagem, nas quais se valoriza o ser humano, e nos faz viver em harmonia e paz”, relata. Edilson Ernesto sen-te orgulho, quando olha para os fi lhos que já seguem os seus passos. “Eles gostam do pai artista, e até cantam as músicas. Meu fi lho Lucas toca percussão e minha fi lha Sara além de tocar violão, canta na Igreja”, conta. O Cd Curriculum Vitae custa R$10 e pode ser ad-quirido na Lona Cultural Herbert Vianna.

MUSICAL

Soul da MaréO cantor Edilson Ernesto lança Cd independente no estilo anos 80

HÉLIO EUCLIDES

SABOR DA MARÉBolo-pudim da Quel

Preaqueça o forno. Junte o leite condensado, o leite e 4 ovos no copo do liquidifi cador e bata bem. Despeje na forma.

Separe os ovos restantes e bata as claras em neve. Adicione as gemas, uma a uma, batendo sempre. Junte 4 colheres de sopa de açúcar e o chocolate e torne a bater. Adicione o trigo e mexa devagar. Despeje na forma so-bre a outra massa e leve para assar, em banho-maria, por 1 h e meia. Deixe esfriar e leve à geladeira.

Desenforme e saboreie!

Ingredientes:- 1 xícara de chá mais 4 colheres de sopa de açúcar- 1 lata de leite condensado, a mesma me-dida de leite- 8 ovos- 3 colheres de sopa de chocolate em pó- 5 colheres de sopa de farinha de trigo

Modo de fazer:Faça a calda com 1 xícara de açúcar e ca-

ramelize uma forma para pudim. Reserve-a.

RENATA SOUZA

Raquel e o seu famoso quitute: sucesso na Maré

“As pessoas não devem nunca desistir de lutar pelos seus objetivos. E o que nos faz viver são os sonhos”

Edilson Ernesto, sucesso musical na Maré, aprendeu a tocar violão em revistas de música há vinte anos

“Não gosto de música com duplo sentido. E sim das que trazem mensagem, nas quais se valoriza o ser humano, e nos faz viver em harmonia e paz”

22 O Cidadão

As cartas ou sugestões para o jornal devem ser encaminhadas para o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré - Jornal O Cidadão (Praça dos Caetés, 7, Morro do Timbau, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 21042-050)

CARTASPÁGINA DE RASCUNHO

Fiquei indignada com a matéria sobre a depredação dos orelhões na Comunidade. Na edição 29 que recebi numa palestra, onde orelhão sem aparelho é “surdinho”.

É difícil enxergar, que ainda em pleno século XXI, com tantos apelos e incentivos para a inserção dos defi cientes na sociedade, ainda tenha um instrumento dos meios de comunicação, que deveria ser de inclusão, como o jornal Cidadão, tratar um defi ciente auditivo (surdo) com termos pejorativos.

A matéria não tem que necessariamente tratar o defi ciente como “surdinho”. A vida dos defi cientes e seus familiares já são sofridas o sufi ciente, sem esse tipo de colocação.

Como informativo quero dizer o seguinte: conceituar um surdo por surdinho ou mudinho, só faz aumentar o preconceito para com essas pessoas. O termo no diminutivo inferioriza e exclui.

O mundo do surdo é especial e diferente. É um mundo cercado de luz, cores, movimento, expressões de tristeza e alegria e tudo o que se pode captar com os olhos. Ter uma defi ciência não faz com que uma pessoa seja melhor ou pior do que uma pessoa não defi ciente, ou que esta não possa ser efi ciente.

Em suma, os surdos são pessoas que têm os mesmos direitos, os mesmos sentimentos , os mesmos

receios , os mesmos sonhos, assim como todos. Se ocorrer alguma situação

embaraçosa, uma boa dose de delicadeza, sinceridade e bom

humor nunca falham.

Sandra Lúcia Barbosa Souza

Como comentamos na palestra, não foi a intenção do jornal discriminar ninguém. Mas fi ca marcado em nosso

trabalho sua excelente refl exão, já que nosso objetivo é dar voz ao

bairro. Obrigado, Sandra, pela sua carta e qualquer pessoa que por ventura

tenha se sentido ofendida, receba o nosso pe-dido de desculpas. Ficaremos mais atentos!

O CIDADÃO

O mundo dos surdos

FebemTer mãe e não terTer Pai e não terTer irmão e não terTer uma família e não ter. Não ter nada,nunca nada. Não ter famílianão ter ninguémnão existir nunca! Ter mãe e não ser fi lhoSer fi lho e não ter mãe.Ter pai e não ser fi lhoSer fi lho e não ter pai.Não ter ninguém, ser só.

Ser fi lho e não ter PaiSer fi lha e não ter Mãenão ter nada,não ter ninguém. Nunca ter nada,nada nunca! Admilson Rodrigues Gomes

Queime a vida de seus netos,Corte as esperança dos fi lhos,Destrua a fonte da cura,Enriqueça sua conta bancária,Com a morte de seus irmãos.

Os pássaros deixarão de cantar,Com o término do seu ciclo de vida,Os animais terrestres deixarão de caminhar,Porque sob seus pés só brasa existirá.

Seus rios e lagos,Aos poucos vão morrendo de sede,O que resta são pequenas poças,De água com gosto de sangue,Que corre sem força,Entre as pedras que deixaram de rolar.

A degradação de nossa existência,Já está se aproximando,Respiramos com difi culdade,E lágrimas nos olhos rolando.

Roberto N. Alves

Fauna e Flora

23O Cidadão

PiadasPiadasViagem ao solNo congresso Internacional de Astronáutica, o representante de um dos países participantes anuncia, orgulhosamente:- Nós seremos os primeiros a de-sembarcar no Sol!- Impossível! Vocês morreriam queimados com todo aquele ca-lor!- Ah, mas nós não somos burros. Nós iremos à noite!

A cartaO doido estava no hospício es-crevendo uma carta, quando o médico chegou, viu e pensou:- Poxa, esse cara já deve estar bem. Tá até escrevendo carta!Chegou pro doido e perguntou:- Pra quem é essa carta?- Ah, é pra mim mesmo, doutor, eu nunca recebo cartas de nin-guém.- E o que está escrito nela?- Como vou saber?...ainda não recebi.

MemóriaUm louco afi rma:- Olha, eu tenho duas coisas óti-mas! A primeira é minha memó-ria. A segunda...já não lembro mais.

Esperança-É a esperança que me faz traba-lhar.-Esperanças de quê?-De nada. Esperança é a minha mulher.

© Revistas COQUETEL 2008

2

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Dígrafo de"linha"

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Robin (?),herói dosladrões

(Lit.)

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Roedor decapinzaisO "lar" domendigo

Símbolode prata(Quím.)

Mulher quevai casarParasitado cão

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Pão-de-(?), bolo

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51, emalgarismosromanos

Cesto depalha

Criançassem pais

Senador(abrev.)

Despesas

Um,dentrevários

AchagraçaFlores

odoríferas

O nosso"eu"

Ir aos (?):explodir

Cesso deandar

Estádiocarioca de

futebolDrogar

Estado dospaulistas

(sigla)

Aparelhopara

praticarvôo livre

Comportamentos

Parte transparentedo capacete

Sílaba de"ordem"

Motivo dedesgastedo lápis

OAINSPIRADO

HOODSIRPREAAG

RANOIVAUCTTEN

BALAIOLIORFASC

CRIEGOMARACANA

DOPARSPASADELTA

ATOSORVISORUSO

CE

E G O

Amigo(a) leitor(a), nesse número do nosso jornal continuaremos a visitar o barraco sobre palafi -

tas que está no centro do Museu da Maré. Nesse espaço, chamado de Tempo da Casa, estão expostos vários objetos da vida dos moradores.

Na edição passada, relembramos a história do pente quente, e muitos cheiros invadiram nossa memória: o cheiro do ferro esquentando no fogão, o cheiro do pano usado para aliviar o calor do pente, o cheiro do cabelo sendo alisado. Agora, outro cheiro vai tomar conta da nossa me-mória, um cheiro muito conhecido não só dos moradores da Maré, mas também de muitos outros brasileiros. É o cheiro de querosene usado para acender o fogãozi-nho Jacaré.

O objeto desse mês aparece na música

O Rancho da Goiabada, de João Bosco e Aldir Blanc, ao lado do rádio de pilha e da marmita, utensílios muito simples do dia-a-dia dos bóias-frias. Mas não eram apenas esses trabalhadores que usavam o fogão Jacaré. Ele era usado também nas grandes cidades, que sofriam com pro-blemas de abastecimento de gás. Além do problema de abastecimento, o gás era caro e nem todo mundo podia comprar um fogão, por isso o fogareiro a querose-ne era um objeto comum nas casas.

O sr. Alaor Bessa é professor de Ma-temática há 12 anos na escola municipal Tenente General Napion, aqui na Maré. Ele nasceu em Olaria e sempre freqüentou a Praia de Ramos, entre os anos de 1953 e 1978. Bessa, como gosta de ser chamado, tinha amigos que moravam nas palafi tas e jogava futebol com eles aos domingos.

“Eu conhecia o balneário, o bar da Dona Marli e a casa de show chamada Bambu, cujo dono era o sr. Abílio, já falecido. Eu ia com meu pai praticar esporte na Praia de Ramos e sempre via um fogão Jacaré na casa dos meus amigos. Mas minha mãe também usava o fogão. Ela colocava uma base circular de papelão ou feltro, umede-cia bastante com querosene e, depois, co-locava um cilindro de metal. Tinha fogão de uma ou duas bocas. Quando o foga-reiro estava meio ruim, a chama sujava o fundo das panelas. O fogão era simples, mas dava um foguinho muito bom!”

O fogão Jacaré faz parte da nossa his-tória. Ele é um objeto que lembra a casa, a comida, a convivência e a simplicidade. Ele lembra também a solidariedade que é sempre necessária para superar as difi cul-dades e construir uma vida melhor.

Este espaço representa a história dos moradores da Maré. Envie sua história, perguntas e suges-tões para a Rede Memória na Casa de Cultura da Maré. Endereço: Av. Guilherme Maxwell, 26, em frente ao SESI. Tel.: 3868-6748 ou para o e-mail: [email protected] matéria referente a esta página é de exclusi-va responsabilidade do projeto Rede Memória.

Fogão Jacaré reinou nos lares brasieiros por não consumir gás. Seu combustível era o querosene

REDE MEMÓRIA DA MARÉ

O fogão JacaréFoi muito utilizado no passado, sendo comum nas casa devido o preço elevado do gás

“Ele era usado também nas grandes cidades, que sofriam com o problemas de abastecimento de gás”