o catalogo josé eustaquio e silvano silva de objetos nebulosos

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O Catalogo J.E.S. S de Nebulosas e Objetos Estelares: A verdadeira história. Introdução O catalogo JES.S. surgiu para mim como uma espécie de herança. Posteriormente se tornou um trabalho delicioso. O projeto de recuperar esta parte da história da Astronomia em seu período clássico foi realmente gratificante. Cheio de surpresas e ensinamentos. Neste trabalho pude recuperar a obra de dois gigantes desconhecidos da astronomia. O que o tornava às vezes árduo. Os papéis que me chegaram em mãos e os que depois continuaram sendo localizados conforme minhas pesquisas se aprofundaram estavam sempre em péssimas condições e muitas veze eram apenas garranchos quase ilegíveis escritos a mais 250 anos . A cronologia de minha pesquisa é algo próximo ao realismo fantástico de Macondo. Uma pesquisa sobre um lugar e dois homens que não existem mais. E não fosse a curiosidade de outros homens jamais seriam lembrados. Os textos iniciais foram encontrados entre milhares de livros que meu avô estocava em nossa casa de praia. Os textos iniciais foram obtidos provavelmente pelo próprio. Meu avô nunca fora um homem organizado. Ele foi um dos primeiros forasteiros a comprar terras na antiga Armação do Buzios. Isso nos idos dos anos 40. Na verdade na comarca de Cabo Frio. Buzios só se tornaria município muitas décadas depois. Sempre gostou de antigüidades e manteve um pequeno antiquário na Rua do Lavradio, no centro do Rio de Janeiro, até o fim da vida.

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Romance astronomico

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Page 1: O Catalogo José Eustaquio e Silvano Silva de Objetos Nebulosos

O Catalogo J.E.S. S de Nebulosas e Objetos Estelares:

A verdadeira história.

Introdução

O catalogo JES.S. surgiu para mim como uma espécie de herança.

Posteriormente se tornou um trabalho delicioso. O projeto de recuperar esta parte da história da Astronomia em seu período clássico foi realmente gratificante. Cheio de surpresas e ensinamentos.

Neste trabalho pude recuperar a obra de dois gigantes desconhecidos da astronomia. O que o tornava às vezes árduo.

Os papéis que me chegaram em mãos e os que depois continuaram sendo localizados conforme minhas pesquisas se aprofundaram estavam sempre em péssimas condições e muitas veze eram apenas garranchos quase ilegíveis escritos a mais 250 anos .

A cronologia de minha pesquisa é algo próximo ao realismo fantástico de Macondo. Uma pesquisa sobre um lugar e dois homens que não existem mais. E não fosse a curiosidade de outros homens jamais seriam lembrados.

Os textos iniciais foram encontrados entre milhares de livros que meu avô estocava em nossa casa de praia. Os textos iniciais foram obtidos provavelmente pelo próprio. Meu avô nunca fora um homem organizado.

Ele foi um dos primeiros forasteiros a comprar terras na antiga Armação do Buzios. Isso nos idos dos anos 40. Na verdade na comarca de Cabo Frio. Buzios só se tornaria município muitas décadas depois.

Sempre gostou de antigüidades e manteve um pequeno antiquário na Rua do Lavradio, no centro do Rio de Janeiro, até o fim da vida.

Eu procurava algo interessante para tese de meu mestrado em História.

Meu amor sempre fora a história da astronomia. Quando se fala de astronomia se pensa sempre nos grandes nomes. Galileu, Newton e até mesmo Einstein. Mas meus favoritos sempre foram os autores dos catálogos clássicos. Lacaille, Messier e Herschel formavam minha trindade.

Assim meu projeto era desenvolver a tese fazendo um paralelo entre a história dos catálogos de nebulosas dos séculos xvii e xix e o desenvolvimento da cosmologia. Bem interessante, não acham?

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Com este tremendo abacaxi pela frente resolvo ir até nossa fazenda e me isolar lá enquanto me preparo para escrever a bendita da tese.

Certa noite fui caçar algo para ler no escritório de meu falecido avô. Uma caixa de papelão que lembrava estar lá desde sua morte jazia sobre a mesa. Molhada, úmida, podre mesmo. Fui fuçar e não foi minha surpresa quando vi entre os muitos papéis ali dentro uma folha. Muito velha. Peguei com cuidado. Escrito em uma letra rebuscada e evidentemente com uma pena consigo vislumbrar escrito: “Nebulosas sobre o céu do Arraial dos Peixes de Buzios”. Estava datada de 1767. Não apresentava o nome de seu autor. Lendo mais um pouco percebi que chegara até minhas mãos o primeiro catalogo de nebulosas realizado no Brasil e um dos primeiros do Hemisfério Sul.

Outros papéis, estes em péssimo estado, via-se claramente a data de 13 de maio de 1764. Era evidentemente uma copia de um catalogo estelar. Apesar do péssimo estado dos papéis pude notar que descreviam alguns objetos do Catalogo Maessier.

Isto me deixou incrédulo . O primeira versão do catalogo Messier só fora lançada em 1771. Eu tinha em minhas mãos o “Catalogo Perdido de Messier em minhas mãos.

Charles Messier era uma das pedras fundamentais de minha tese .

O Catalogo Messier é uma bíblia da astronomia amadora e foi a maior referencia sobre objetos de céu profundo durante o final do renascimento. Na verdade até 1782 quando Herschell iniciou sua busca era o maior coleção de objetos de céu profundo já catalogada.

Neste momento gostaria de abrir aspas para esclarecer os leitores.

“O que são objetos de céu profundo ?

Isto é bastante vago e neste artigo vou apresentar de forma mais clara as diversas categorias de objetos que em seu conjunto são chamados de Objetos de Céu Profundo (DSO, do inglês, Deep Sky Objects). Utilizarei deste anglicismo daqui para frente . D.S.O.

De uma forma geral pode-se dizer que D.S.O. É qualquer objeto que não seja uma estrela e que esteja além do nosso sistema solar. A maioria dos D.S.O. É tênue, difuso e necessita de um telescópio para ser avistado. Aparecem maravilhosos em fotografias de longa exposição mas em geral aparecem apenas como “esfumaçamentos” de luz para os olhos humanos, até mesmo através de grandes telescópios. D.S.O. Dividem-se em diversas categorias:

Aglomerados Estelares Abertos

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Aglomerados Estelares Globulares

Nebulosas Difusas

Nebulosas Escuras

Nebulosas Planetárias

Resíduos de supernovas

Galáxias

Grupos de Galáxias

Quasares

Lentes Gravitacionais

Aglomerados estelares Abertos- São agrupamentos frouxos de estrelas. Alguns aglomerados abertos são grandes e espalhados. As Hyades (em Touro), as Pleyades (idem) e o Presépio (em Câncer) são desta forma e visíveis a olho nu. Outros são pequenos e tênues. Suas estrelas não se resolvem e o aglomerado parece uma névoa no céu. Quando podemos ver as estrelas que formam o aglomerado dizemos que ele foi resolvido. De uma forma geral quanto maior o telescópio (Diâmetro), mais aglomerados ele vai resolver. Alguns aglomerados terão apenas poucas estrelas. Outros apresentarão centenas, parecendo um derrame de sal sobre o céu. Tente perceber a diferença de cores nas estrelas que os compõem.

Assim como diversos D.S.O. Alguns aglomerados abertos aparecem melhor em telescópios pequenos do que em grandes. M11 (Em Scutum) vale a pena em qualquer tamanho. O Presépio (em Câncer) é melhor em telescópios pequenos. Já Ngc 2158 melhor em grandes.

Porque estrelas acontecem em aglomerados? Estrelas se formam de gigantes coleções de gás no espaço quando algum tipo de onda de choque passa por estas nuvens de gás as comprimindo e as fazendo colapsar sobre si mesmas formando estrelas. Ao contrario da gente todas as estrelas se formam quase que simultaneamente desta maneira. Através do tempo começam a se afastar uma das outras, mas dependendo de diversos fatores podem permanecer unidas por longos períodos. As gigantes nuvens de gás em que se formam as estrelas se concentram no plano da galáxia, ao longo da Via Lactea. è por isto que a maior parte dos aglomerados abertos aí se encontram. Por isso são chamados também de aglomerados Galácticos.

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Aglomerados Estelares Globulares- Estes aglomerados estelares são grupos muito maiores de estrelas mantidas juntas de forma muito mais concentrada e em um formato esférico. Aglomerados globulares possuem, em geral, centenas de milhares de estrelas reunidas em uma “bola”.

Se concentre nos Globulares mais brilhantes para vistas sensacionais (Tuc 47, Omega Centauro, M22). Posteriormente olho por outros mais tênues.

Aglomerados Globulares são compostos de estrelas velhas, Ao contrario dos abertos que se formam de forma continua, todos os globulares se formaram a bilhões de anos. Parece que estes aglomerados se formam quando duas ou mais galáxias colidem; tais colisões estimulam a formação de estrelas em escalas muito maiores (devido às imensas ondas de choque). Todos os aglomerados globulares de nossa galáxia se formaram aproximadamente ao mesmo tempo. Eles são encontrados fora do disco galáctico. Na região conhecida como Halo, formando uma espécie de nuvem a redor do centro galáctico. Por causa disto é que podemos ver a sua maioria durante o inverno em direção a sagitário que é onde se encontra o centro de nossa galáxia.

Nebulosas Difusas- São nuvens brilhantes de gás e poeira. A nossa galáxia está cheia delas e elas se posicionam ao longo do disco galáctico (principalmente). A maior parte deste gás e escuro, porém na proximidade de uma estrela quente e brilhante o suficiente ele pode incandescer Há duas maneiras de um gás brilhar. Ambas requerem grandes quantidades de luz azul e radiação UV adentrando a nebulosa. Estrelas quentes e massivas são excelente fonte de ambas.

São estas nébulas que causam os maiores desapontamentos porá os astrônomos iniciantes que esperam ver cores vívidas e detalhes observados em fotografias. Esqueça seus olhos não podem perceber cores e detalhes como um CCD em uma exposição de varias horas. Nem como um Filme 400 asa. Elas sertão P&B e bastantes difusas. Assim como neblina. Uma das melhores nebulosas para se observar é M42 em Orion. Situada na espada do guerreiro você será capaz de perceber sua nebulosidade até mesmo a olho nu. Mesmo com um pequeno telescópio você vai notar alguma estrutura nela. Até mesmo alguma cor.

A luz é difundida conforme ela penetra na nuvem de gás de uma forma semelhante a como a luz do sol ao penetrar a atmosfera

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terrestre. São as partículas de poeira que fazem a difração. È a luz azul que se difunde com maior facilidade sendo os que os outros comprimentos de onda passam “lisos”. A luz azul porem se difunde em todas as direções. Os astrônomos chamam a isto de Nebulosas de reflexão. Por isto são azuladas em fotografias.

A outra forma de uma nuvem brilhar é quando a luz de uma estrela é absorvida pelos átomos de gás e então reemitida. Átomos de hidrogênio gostam de absorver radia luz UV. Com isto seu único elétron obtém energia para sair livre e leve até encontrar outro núcleo de hidrogênio, se recombinar e fazer outro átomo de hidrogênio. Com isto devolvendo a energia roubada geralmente em forma de luz. Desta vez avermelhada. Muito semelhante a um anuncio em neon. Os astrônomos chamam isto de regiões HII. Novamente só serão avermelhadas para um CCD. Para você serão acinzentadas.

Nebulosas Escuras- Estas são nuvens de gás e poeira que escondem as estrelas atrás dela. O gás no espaço interestelar é acompanhado por minúsculas partículas de poeira, muito parecida com a fumaça de um cigarro. Se a nuvem é densa o suficiente esta grãos refratem e absorvem luz suficiente para tornarem as estrelas que estão atrás invisíveis. Estas nebulosas são talvez melhor observadas de binóculos A via lacte durante o inverno é um bom local para se procurar por elas. Procure por locais ao longo do disco onde parecem estar faltando estrelas.

A mais conhecida destas nebulosas é a Nebulosa Cabeça de Cavalo em Orion Famosa em fotografias e um objeto muito procurado e pouquíssimo visto por astrônomos visuais. O formato de uma cabeça de cavalo é delineado pela nebulosa escura sobre uma tênue nebulosa de reflexão no back ground. O problema é que se você não é capaz de perceber esta tênue e fraca nebulosa de reflexão ao fundo imagine a nebulosa escura a sua frente. Ver isto não é para iniciante e às vezes nem para iniciados.

Nebulosas Planetárias- Estas são outro tipo de nuvens de gás incandescente. Elas se formam quando estrelas atingem a meia idade. Estas estrelas se inflam varias vezes acima de sua circunferência original (um pouco como os homens...). Até um ponto que expelem suas camadas de gás mais externas para o espaço. A quente estrela central faz esse gás brilhar muito como nas regiões HII. A diferença que o gás não é hidrogênio. Oxigênio em geral e alguns outros resíduos. Ou seja, estas nebulosas nada têm em comum com planetas. Algumas Nebulosas planetárias aparecem

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como um azul muito tênue ou esverdeada (pelo menos as mais brilhantes).

Estas nebulosas existem em diversas formas e tamanhos. Algumas são descritas como muito brilhantes mas são tão grandes que esta luz se espalha sobre uma grande área. Isto as faz difíceis de serem avistadas. Pois como o mais importante é o caminho e não a chegada achar estes objetos pode ser extremamente prazeroso.

Algumas outras são pequenas e com isto se tornam mais fáceis de serem vistas. Um exemplo clássico é a conhecida Nebulosa do Anel (M 57) em Lyra. Localizada entre duas estrelas visíveis a olho nu é um alvo indicado para iniciantes. Não espere ver muitos detalhes em telescópios pequenos.

Resíduos de Supernovas- Quando uma estrela explode como uma Supernovas ela deixa uma enorme nuvem de gás em expansão. Estes vestígios variam desde a “brilhante” Nebulosa do Caranguejo (M 1) em Touro até a tênue Nebulosa do Véu em Cygnus.

M 1 é a mais brilhante dessas Supernovas e aparece como um ponto levemente enevoado em telescópios pequenos (Até 100 mm). Outros exemplos necessitam de telescópios muito maiores e filtros OIII eUHC podem ajudar.

Galáxias- Galáxias são universos ilhas assim como a nossa. Apresentam estrelas, aglomerados e nebulosas próprias. Galáxias assim como estrelas tendem a se agrupar em aglomerados. A galáxia de Andrômeda é o objeto mais distante visível a olho nu. Ela faz parte do chamado grupo local do qual a Via-lactea é um integrante.

As galáxias aparecem em sua maioria como pequenas nebulosas. A dois tipos principais de Galáxias: as espirais e as elípticas. As primeiras apresentam uma forma discóide como a nossa . As outras apresentam um aspecto arredondado ou ovóide e um núcleo estelar.

Lembre se que a magnitude das galáxias é imaginada como se fosse possível juntar toda a luz de uma galáxia em único ponto estelar. Elas apresentam um baixo brilho de superfície o que as torna objetos difíceis.

Aglomerados de Galáxias- São grupos de galáxias visíveis em um mesmo campo ocular. São famosos os catálogos Hickson e Abell. São voltados para astrônomos com grandes telescópios e experiência idem. São as maiores estruturas do universo. Neste caso

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cobrindo imensas áreas de céu. O Aglomerado de Virgem apresenta algumas galáxias ao alcance de telescópios pequenos.

Quasares – São objetos semelhantes a estrelas, porém extremamente distantes. Eles são os centros extremamente brilhantes de galáxias que em todos os outros aspectos são normais. Tudo indica que as galáxias possuem em seu centro massivos buracos negros. Quando uma galáxia colide com outra, gás e poeira são jogados para o centro da galáxia. Uma parte deste material acha sua orbita em direção ao buraco negro. A imensa gravidade faz o material em orbita emitir enormes quantidades de energia. Este quasar ao centro desta galáxia sobrepuja o brilho de toda a galáxia. E por isto a galáxia parece com uma estrela. Ou quase uma estrela (Quasar).

A física dos quasares os torna interessantes para o pensamento, porém nem tanto para a visão. São objetos distantes que brilham como uma estrela tênue. O Mais brilhante dos quasares responde pela alcunha de 3c 273. Ele visível em um telescópio de 150 mm. E só.

Lentes Gravitacionais- Não são D.S.O. Propriamente. Se refere geralmente a quasares que ao terem sua luz dobradas por um aglomerado galáctico alinhados com ele apresentam mais de uma imagem do mesmo objeto , “ dobrando assim sua magnitude. Este efeito também pode ser entendido como a cruz de Einstein. Não se conhece nada visível para Telescópios pequenos.

Isto foi o que a humanidade colecionou até meados do séc. XXI. O desenvolvimento da compreensão destas estruturas é também um dos pontos a serem abordados em nossa história. Nossos heróis são parte das engrenagens que levaram ao conhecimento que nos permite compreender (ou pelo menos tentar) a geografia do universo.

Com isto cancelei meus planos e minha tão inspirada dissertação sobre a cosmologia e os catálogos de nebulosas europeus. E mergulhei na aventura que resultou no Catalogo J.E.S.S. de Nebulosas e Objetos Estelares.

Vou relatar para vocês a história de José Eustaquio do Nascimento e Islas e de Dom João Silvano Silva que resgatei.

E de todo o processo de pesquisa e investigação que permitiu resgatar a grande obra destes homens.

Por fim apresentarei o grande catalogo deixado por eles e que acrescenta objetos aos ditos 152 objetos clássicos de céu profundo conhecidos até 1780 quando Herschel começou sua tal busca sistemática por estes tipos de objetos celestes. E também uma coleção de relatos sobre

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diversas descobertas astronômicas surpreendentes que os nivela com os gigantes de que falamos. Vou apresentar as figuras humanas, sua cosmo visão e cosmologia.

E ainda apresentar o Catalogo J.E.S.S. para todos. Bem como o caminho das pedras para aqueles que buscam localizar estes objetos no firmamento...

Por fim: eu criei o nome “Catalogo J.E.S.S.”. E uma brincadeira com as iniciais de seus autores: José Eustaquio e Silvano Silva.

PS – Diversas histórias que foram já divulgadas sobre o Catalogo Silvano Silva e José Eustaquio podem ser situadas no terreno das lendas. Era apenas o rascunho de um trabalho. Um romance na verdade. Algumas destas histórias estarão aqui. Outras não. Para que no futuro não haja confusões os textos que foram escritos e que ainda podem ser encontrados espalhados pela internet e em algumas copias perdidas são todos reconhecidos pelo titulo equivocado de “O catalogo J.E.S.S de Objetos Estelares”. Isto foi um erro devido a péssimas condições de alguns dos escritos. Pareceu-me , em um primeiro tratamento e antes da restauração dos escritos, que ambos ( Silvano Silva e José Eustaquio ) consideravam todas as estrururas nebulosas que observavam como que compostas por estrelas. Apenas não eram capazes de resolver estas devido a potencia de seus telescópios. Isto não é verdade e a cosmologia que ambos desenvolveram é bastante mais complexa. Pondo um fim neste assunto foram encontradas anotações onde ambos se referem a seu levantamento dos céus com o titulo de Nebulosas e Objetos Estelares sobre o Arraial dos Peixes de Buzios.Assim sendo achei que em respeito a nossos pioneiros heróis o titulo deste trabalho deva sés: “O Catalogo J.E.S.S. de Nebulosas e Objetos Estelares”.

Capitulo 1- Silvano Silva e seu Caminho até o Brasil

A história da chegada de Dom João do Silvano e Silva até sua

chegada ao Brasil foi um pouco diferente da lenda contada no intitulado Catalogo J.E.S.S. de objetos estelares.

Na verdade ele nunca teve nenhum parentesco com o autor e suas aventuras européias são muito mais obscuras do que pode parecer no primeiro tratamento.

Após visitar diversas paróquias de Lisboa localizei o que parece ser o registro de seu batizado.

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Ele nasceu em 1734. Em Lisboa. Seu pai chamava-se Manuel Silvano e Silva.

Fidalgos o rapaz parece realmente ter seguido o caminho do seminário. Era um caminho comum aos segundos filhos naqueles tempos.

Encontrei registros dele em visita ao Vaticano onde junto a diversos registros.

O Papa Bento XIV criou a Congregação dos Seminários, em prol das vocações eclesiásticas. O Papa, que se tornaria Bento XII, é o único Papa descendente da família real portuguesa. Isto é a única razão que encontro para encontrar o nome de Silvano e Silva em uma das atas da Congregação. A vocação de Silvano e Silva é altamente discutível como já foi apresentado no primeiro tratamento desta pesquisa. Só como uma curiosidade: O Papa Bento XII só assume este nome posteriormente. No momento de sua ascensão a trono de Pedro ele se denominou Bento XIV, pois acreditava ser o numero 13 negativo.

Finalmente a relação deste com Messier parece ter ocorrido de fato. São diversos os textos encontrados em posse de meu avô onde o próprio Silvano Silva discorreu sobre estes encontros.

Ele escreve em um de seus diários (um dos mais bem conservados apesar de ser um dos mais antigos: “... Messier estava à procura do cometa de Halley, e o procurava todas as noites. Ele acreditava piamente no retorno deste previsto por Halley para ocorrer ainda naquele ano. Isto era apenas uma hipótese naqueles tempos. De qualquer forma ele trabalhava para o Sr. Joseph Nicolas Delisle, astrônomo da marinha. Ele fora empregado por sua bela caligrafia e acabou sendo instruído no uso de telescópios e afins.

Estava ele buscando o cometa de Halley na região prevista para seu retorno quando encontrou uma pequena nebulosidade a qual acreditou ser o cometa. Era o dia 12 de setembro do ano do Senhor de 1758.

Como astrônomo precavido que era e ciente de seus deveres para o Senhor Delisle ele nada anunciou e continuou suas observações por mais alguns dias. Logo percebeu que aquele cometa não se movia em relação às estrelas de fundo. Não era um cometa e sim uma nevoa que habitava aquele lugar do espaço. Esta nevoa viria e se tornar o objeto Messier numero 1 ou M1.”

Diversos outros trechos deste diário descrevem as descobertas de Messier.

Parece bastante claro seu convívio bastante intimo com Messier durante o período que compreendeu entre 1758 e 1765. O que compreende a elaboração da primeira parte do catalogo Messier. Ou seja, até o objeto M45. Na verdade a primeira versão só foi publicada em 1771.

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Aqui apresento alguns trechos selecionados dos diários deste período. Apesar de desorganizado e afeito as bebidas como foi fácil perceber pelas notas manchadas de vinho, Dom João era um escritor compulsivo. Um habito que ele não perdeu durante toda sua vida.

“Reuníamos-nos sempre em Clugny (Faziam observações quase diárias do observatório da marinha situado em uma torre no hotel de Clugny em Paris. O prédio fora construído em 1480 sobre fundações de uma ruína romana de sec. IV. Era perfeito, escuro e com um horizonte livre em todas as direções.). O maior objetivo de Messier era localizar cometas.”

De fato Charles Messier criou a profissão de caçador de cometas. Uma profissão que poderia ser considerada um “trade Mark” do iluminismo. A sua especialização é precursora das teses atuais. Quase um conquistador do inútil. É importante lembrar aqui que o catalogo por ele organizado foi feito com o objetivo de registrar áreas nebulosas no céu para que estas não fossem confundidas com cometas. Os cometas eram seu santo graal e o objeto mais puro. Estes homens estavam descobrindo que cometas circulavam o sol. De uma forma diferente dos planetas. Estes pequenos blocos de gelo eram verdadeira amostra do ignoto.

“... esperávamos o retorno do Cometa descrito por Halley em 1682. Já passava do natal de 1758 e Messier procurava pelo cometa conforme indicações do Sr. Delisle. Nada acontecera desde então. A nebulosa observada por Messier me encanta. Extremamente tênue. Parece uma concha pequena.”

Silvano Silva se refere constantemente a esta pequena nébula. Ele na verdade era obcecado por estas pequenas nebulosas que não se provavam cometas. Suas anotações levavam a crer que ele conhecia diversas delas antes mesmo do catalogo Messier começar a ser organizado. Na verdade é bastante claro que ele já conhecia claramente a natureza nebulosa de diversos objetos que viriam a pertencer ao catalogo Messier. Objetos como a grande nebulosa de Orion, O Presépio em Orion e diversa outras nebulosas conhecidas desde a antiguidade são citadas freqüentemente em seus registros. Ele também conhecia diversos trabalhos pioneiros e catálogos pouco conhecidos. O pequeno catalogo que Halley escreveu em Santa Helena e o Catalogo também austral desenvolvido pelo Abbe Lacaille (como ele sempre se refere a Nicholas Louis de La Caille (1713-1762)) lhe eram conhecidos.

( Tudo indica que ele só viria a conhecer o Cataloga de Lacaille anos mais tarde e por um caminho surpreendente.)

Eram tempos curiosos. Enquanto a inquisição espanhola ainda torturava pessoas idéias cientificas tinham ampla difusão entre certas classes em Paris.

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Passaram-se dois anos antes que Messier registra-se uma nova entrada em seu catalogo. Na verdade nem catalogo ainda. Esta idéia só iria se firmar com o objeto conhecido como M3.

“... Era a madrugada de 3 de maio de 1764. Estávamos com frio. Messier notara esta “manche” arredondada. Ele a registrou assim :

3. 13h 31m 08s(202d 51´19´´)+29d 32´57´´ (Maio 3, 1764) - Nebulosa descoberta entre Bootes e um dos Cães de caça de Hevelius [Canes Venatici] , não contém nenhuma estrela. Seu centro é brilhante e vai enfraquecendo em direção as bordas. Ela foi avistada com um telescópio de 1 Pé.”

O texto é quase idêntico ao encontrado no catalogo Messier original. È praticamente uma tradução exata para o português do catalogo Messier. Foi neste momento que comecei a acreditar na relação entre ambos.

Curiosamente esta entrada no catalogo Messier é uma espécie de pedra fundamental. É a primeira descoberta original de Messier. Naquele momento descrito por Silvano Silva o homem registrava o septuagésimo sexto objeto de céu profundo registrado por olhos humanos ( com e sem telescópios). Ainda que na época fossem apenas cinqüenta e cinco sendo outros vinte e um “objetos perdidos”. Foi apenas a partir deste terceiro objeto (M3) que Messier passou a se dedicar de uma forma sistemática para a localização destas nebulosas que poderiam confundir o astrônomo de seu tempo na caça por seus tão fundamentais cometas. Na verdade foi um ano onde Messier foi extremamente ativo e há diversos registros nos diários de Silvano Silva referentes ao ano de 1764. Entre maio e o fim do ano Messier registrou quarenta entradas em seu catalogo.

“Messier finalmente percebeu a necessidade de organizar as descobertas realizadas em Clugny. Está organizando todas as nebulosas localizadas no ano passado e com isto acredito termos acrescentado cerca de 20 novas nebulosas aos céus.”

Este trecho demonstra a extrema proximidade entre ele e Messier. E seus cálculos eram bem precisos para um tempo onde o saber não estava tão à disposição. Na verdade no ano de 1764 Messier descobriu 18 novos objetos de céu profundo nunca antes avistados. Sendo esse catalogados como M3,M9,M10,M12,M14,M18,M19,M20,M21,M23,M24,M26,M27,M28,M29,M30,M39 e M40.

Logo após o ano de 1765 os escritos apresentam um vazio. Parece ter sido um período conturbado para Silvano Silva e em sua ultima entrada podemos perceber certa urgência:

“... parto de Paris. Sentirei falta de Clugny. E de nada mais. Messier me presenteou com uma bela cópia de seus achados. Foi feita por uma copista

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de altíssimo nível e acredito não possuir ninguém mais uma cópia deste material. Vou à busca de uma saída...”

Não sei o que de fato se passou no decorrer dos próximos três anos. Entre os diários e notas que me chegaram não há nenhum registro dos caminhos percorridos por Silvano Silva.

Mas fica claro que ele deixou Paris com uma cópia das descobertas de Messier até o ano de 1764. Isto seria fundamental no desenvolvimento do Catalogo José Eustaquio e Silvano Silva de Objetos Nebulosos.

Este material não seria disponível até o ano de 1771. Neste ano Messier apresentaria a primeira versão de seu catalogo com as entradas de M1 a M45. Como já sabemos Silvano Silva conhecia todos os objetos do catálogo até a entrada de numero 40. Os outros cinco objetos incluídos por Messier nesta primeira versão eram conhecidos desde a antiguidade e certamente conhecidos por Silvano Silva. Com isto ele se tornou dono da primeira cópia do Catalogo Messier. E isto será de fundamental importância para a criação do Catalogo J.E.S.S. de Nebulosas e Objetos Estelares.

O próximo registro do padre só ocorre em 1768. E já no Brasil. Mas precisamente na Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Um registro de Casamento na Paróquia de Santo Antonio é o primeiro indicio da presença Dom João Silvano e Silva nas terras do Brasil. Santo Antonio é a região hoje conhecida como a Lapa. 1 de Maio de 1768.

“ ...o aqueduto foi inaugurado a mais de uma década e se encontra em excelente estado . Domina a paisagem e liga o santo Antonio a Santa Teresa, esporadicamente vou ao convento. “

Este pequeno trecho foi extraído de um texto mais longo onde alguém parece descrever a paisagem na região nos meados do Sec. Xvii.. Foi encontrado por uma tia minha que foi reclusa no Convento. Parece-me muito com a caligrafia de Silvano Silva. E os Arcos da Lapa foram inaugurados em 1750. Isto permite estabelecer com certeza a presença de Silvano Silva no Rio em 1768.

Acredito que os escritos que encontrei com meu avô tenham vindo da mesma origem.

Capitulo 2- As Origens de José Eustaquio

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José Eustaquio tem uma origem mais difícil de ser rastreada. É uma

figura mais misteriosa e sua história anterior ao seu encontro com Silvano Silva deixou pouquíssimos traços.

O único registro que possivelmente existe de sua vida pregressa é um velho e borrado registro encontrado na Biblioteca Nacional entre registros da Intendência de Policia.

Na época o conceito de policia que conhecemos hoje ainda não existia. A intendência de Policia era um órgão de caráter administrativo. A ordem publica era mantida pelos chamados quadrilheiros. Estes eram ligados aos senhores dominantes da colônia e também ligados de certa maneira as incipientes Maltas que se organizavam nas regiões centrais do Rio.

De qualquer maneira uma desavença em relação a uma garrafa de aguardente levou o registro de um crime na Intendência de Policia.

Por esta o cidadão de nome José Eustaquio do Nascimento e Islas, natural da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro foi responsabilizado pela agressão ao escravo Manuel Congola de propriedade do cidadão José Hermeto Pereira. O ano que conseguimos ler no documento o localiza na cidade também no ano de 1768.

O documento dá a entender que José Eustaquio seria nascido no Brasil. Isto é um pouco duvidoso em função de alguns relatos que encontrei posteriormente. De qualquer maneira isto nos permite localizar o momento em que Silvano Silva e José Eustaquio se encontraram. E permite perceber que José possuía uma origem simples porém de certo prestigio . Se por um lado envolvera-se numa briga com um escravo ele é tratado como cidadão no documento em questão. Escravos eram um bem de grande valor e o fato de José Eustaquio ter agredido e impossibilitado este para o trabalho levou seu proprietário a buscar reparação.

Sua pena teria o levado a prestar serviços junto a Paróquia de Santo Antonio.

O primeiro registro sobre ele por Silvano Silva é bastante interessante. Ele fala com certo respeito e também com certo temor. E revela um segredo de confissão.

Ele roubou. Mas como a males que vem para bem este foi um exemplo claro disto.

“... um dos contraventores que foram enviados pela justiça para ajudar na pintura da fachada de minha paróquia pediu-me para realizar uma confissão. Levei-o até o confessionário e ele me contou que percebera a presença de uma luneta na Casa Paroquial. E aquilo só poderia ser um sinal do Senhor. Disse-me seu nome: José...”

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Este trecho assim como depoimento a seguir estava no diário mais mal tratado que encontrei na fazenda de Buzios.

Após muita luta e o trabalho de uma grande amiga que realiza conservação e recuperação de livros junto a Biblioteca Nacional conseguiu recuperar diversos trechos deste diário.

Grosso modo pude descobrir que José contou ao padre uma série de diversos crimes. Todos eles associados a diversos furtos. Mas também que ele não era responsável por estes crimes. Sua culpa teria sido ocultar o responsável pelos mesmos. Mas infelizmente não dá evidencia nenhuma de quem seria o responsável. Em uma abstração deduzi que este seria seu pai. E que seu pai seria também responsável por apresentar José Eustaquio aos mistérios do céu.

Como apresentando em um dos capítulos das lendas a passagem de Lacaille pelo Brasil foi um fato que realmente ocorreu e registrado em diversas fontes. Conforme os escritos de Silvano Silva um dos Telescópios de Lacaille foi deixado no Brasil. Aos cuidados do pais de José Eustaquio. Segundo o próprio seu pai teria trabalhado no Observatório estabelecido por Lacaille na Rua do Rosário.

Outro trecho do relato que me chamou atenção foi relativo a uma pequena série de objetos que fariam parte de um catalogo que estaria sendo organizado por Lacaille. Estas podem ser consideradas as primeiras entrada do Catalogo J.E.S.S..

Isto levou o padre a pedir que o preso fosse posto a seu serviço e que o auxiliasse em seus afazeres.

“... o Sr. José Eustaquio me revelou grandes fatos sobre a passagem de Abbe Lacaille pelo Brasil. Estou encantado com seu conhecimento a respeito do céu austral e ele me prometeu levar até o telescópio que foi confiado a seu pai. Acredito que o objeto tenha sido subtraído pelo pai de meu novo funcionário. Mas prefiro relevar. Aguardo ansioso ... E pretendo confirmar as posições das nebulosas que estão no papéis que ele me apresentou”.

Os objetos indicados por José de fato existiam e os cataloguei como J.E.S. S 1,2, 3, 4, 5,6 e 7.

Isto provavelmente ocorreu entre 1768 e 69. È difícil afirmar.

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Capitulo 3 – O Catalogo J.E.S.S. – Primeiras Entradas.

Aqui esta a transcrição dos escritos de Silvano Silva relativos aos

primeiros objetos que ele relacionou tanto a José Eustaquio como a Lacaille. Há seis objetos que são certamente entradas do catalogo elaborado pelo Abade. O de numero 6 , como veremos , parece ser um objeto descrito por José Eustaquio e novo entre a lista de objetos de céu profundo conhecidos até aquele momento. As coordenadas celestes são as indicadas por Silvano Silva e seriam relativas ao Sec. XVI. O catalogo Lacaille propriamente dito foi publicado em 1755. As coordenadas apresentadas são exatamente iguais as desta primeira edição. O que confirma o encontro de José Eustaquio (pai) com Lacaille.

“... a seguir as nebulosas as quais já confirmei as posições entre as que me foram confiadas nos escritos doados pelo Sr José Eustaquio do Nascimento no mês passado. Alguns dos objetos não constam do Catalogo elaborado por Mnsr. Messier. O catalogo completo elaborado pelo Abbe Lacaille foi publicado em França em 1755 porém não possuo uma cópia. Recordo-me de que possuía 42 entradas e por isto insisti que Mnsr. Messier incluísse nebulosas já conhecidas em seu catalogo para que este superasse seu antecessor... De qualquer forma os alfarrábios que José me disponibilizou apresenta a nomenclatura utilizada pelo Abbe em seu catalogo. Tenho agora certeza que o telescópio por ele apresentado foi outrora do Abbe Lacaille...”

“... Espero conseguir que me enviem de Europa uma cópia em breve.”

1- OO:22:54 , -73:26:50 – Como pude observar este seria o Objeto denominado por Abbe Lacaille com 1.1 . È provável, portanto que ele tenha começado seu levantamento dos céus Austrais antes de se estabelecer na Cidade do Cabo. “Eu mesmo nunca tinha avistado tal nebulosa e não percebi nenhuma característica estelar.”

Esta entrada é clara o bastante e demonstra que Silvano Silva obtivera um esboço do que veio a ser o catálogo elaborado por Lacaille. É fato publico que Lacaille observou o céu e inclusive determinou posições em sua estada no Rio de Janeiro. O Objeto em questão é o aglomerado globular Tuc 47. Na constelação de Tucano. Esta mesma criada por Lacaille. É o segundo aglomerado

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globular mais brilhante do céu e não há duvidas sobre esta entrada. (N.A)“

2- 13:12:09 , -46:10:45- Este é a entrada I.2 do catalogo de Abbe Lacaille. Semelhante ao objeto anterior, porém mais brilhante. Recorda-me a entrada 13 de Mnsr. Messier. Ainda mais brilhante. Percebo como uma pequena névoa mesmo a vista desarmada. “

Outra entrada obvia e que não deixa nenhuma duvida. Trata-se de Omega Centauro. O Maior aglomerado globular conhecido Porém no catálogo publicado em 1755 este objeto é registrado como Lac I.5 .(N.A)

3- 05:40;01 ,- 69:17:20 – “O Abbe o classificou como I .3 .Um belo objeto . Parece um pequeno x. Parece-me levemente estelar. É engolfado na grande nuvem.”

Este é outro que mudou de numero no catalogo publicado. Trata-se da Nebulosa da Tarântula. Na grande nuvem de Magalhães. Ele foi denominado de Lac I. 2 na publicação oficial. É o suposto lar da maior estrela conhecida pelo homem. (N.A)

4- 17:37:12 , -34:39:55 – “Lac II .1 . Este me é conhecido. .É um ajuntamento estelar incluído por Mnsr. Messier como sua entrada de numero 7. Na cauda do Escorpião. Facilmente percebido a olho nu.”

Como dito é M7. É curioso que Lacaille posteriormente alterou a entrada para Lac II. 14. Outro dado importante é que Lacaille classificou seus objetos da seguinte forma:

I- Nebulosas sem estrelasII- Aglomerados estelares nebulososIII- Estrelas acompanhadas de nebulosidade

5- 17:24:00 ,-32:02:45 “Lac III. 1 . Outro objeto reconhecido por Mnsr. Messier Entrada de numero 6 . Este aglomerado estelar em forma de losango me recorda uma borboleta. Na cauda do Escorpião. Próximo a ultima entrada”Dispensa qualquer comentário (M6). Apenas foi alterada a numeração do catalogo original. Veio a se tornar Lac III.11

“6- 15:54:20. ,-53:33:43 “Curiosamente este objeto não apresentou

sua classificação. Mas consiste de um belíssimo campo estelar que envolve um pequeno aglomerado estelar acompanhado de certa

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nebulosidade . Nas anotações que chegaram as minhas mãos ele não possuía sequer descrição sendo apenas uma coordenada”

Esta é uma entrada curiosa. O aglomerado em questão, segundo minhas pesquisas é NGC 6067, que é um aglomerado aberto que se resolve com óticas melhores. É um delicado aglomerado aberto que se vê acompanhado de um belíssimo campo estelar. Este é um objeto novo a lista de objetos de céu profundo históricos conhecidos até o levantamento sistemático realizado por Herschel (a partir de 17820) e posteriormente por seu filho. Esta entrada seria original do catalogo J.E.S.S. e a primeira vez que este objeto teria sido descrito é nos escritos de Silvano Silva. As coordenadas apresentadas seriam corretas para o objeto em 1750. Hoje (2000) ele se encontra em RA: 16h13m12.00s DE:-54°13'00.0"“

7- 16:08:33, -25:54:55 “Classificado como I . 4 Outro objeto que Mnsr. Messier catalogou. É a 4ª entrada do catalogo e parece um pequeno cometa sem cauda”

Outro velho conhecido (M4) que teve sua numeração alterada para Lac I.9

Com isto temos esta tabua de equivalências e coordenadas atualizadas das primeiras entradas do Catalogo José Eustaquio e Silvano Silva de Nebulosas e Objetos Estelares

JESS 1 – NGC 104 - RA: 0h24m06.00s DE:-72°05'00.0"JESS2 - NGC 5139 - RA: 13h26m48.00s DE:-47°29'00.0"JESS3 - NGC 2070 - RA: 5h38m36.00s DE:-69°05'60.0"JESS4 - M 7 - RA: 17h53m54.00s DE:-34°48'00.0"JESS6 – NGC 6067 -RA: 16h13m12.00s DE:-54°13'00.0"JESS7 - M 4 -RA: 16h23m36.00s DE:-26°32'00.0"

Primeiras Entradas – O Caminho das Pedras

Aqui vou apresentar indicações que visam facilitar a observação dos Objetos que compõem o Catalogo José Eustaquio e Silvano Silva de Nebulosas e Objetos Estelares . Escolhi numerar o catalogo através da cronologia dos textos encontrados em vez de por declinação ou outro conceito mais técnico. Preferi assim manter o caráter histórico e imprimir uma linearidade temporal ao mesmo.

JESS 1 ( Ngc 104) – Aglomerado globular em Tucana. É o segundo globular mais brilhante do céu. Telescópios de 80 mm serão capazes de começar a resolver estrelas individuais. É visível até mesmo a olho nu

como uma estrela nebulosa.

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Aonde olhar: Localize Canopus (Alfa Carina, a segunda estrela mais brilhante do céu) e Achernar e trace uma linha ligando as duas. Ao sul desta linha você vai perceber a Pequena Nuvem de Magalhães.

Pela Buscadora – Com a Nuvem a leste da buscadora procure pela estrela nebulosa a oeste e levemente a norte da Nuvem. Ele é claramente visível em uma buscadora de 8x50. Lembre-se: a imagem em uma buscadora aparece invertida em todos os sentidos.

JESS 2 (Ngc 5139)- O Aglomerado de Omega Centauro. O maior aglomerado globular da galáxia e o mais brilhante. Um dos maiores shows do céu austral. Possivelmente o núcleo de uma galáxia que foi absorvida pela Via Láctea. Foi primeiro descrito por Halley.

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Aonde olhar: Localize Alpha e Beta Centauro. São conhecidas como os apontadores do cruzeiro, já que indicam o Cruzeiro do Sul. A partir de Beta imagine uma linha ligando esta a Épsilon Centauro. Dobre a distancia na mesma direção e você perceberá uma tênue estrela. É Omega Centauro.

Na Buscadora: Embora em um campo bastante vazio (apenas algumas estrelas bem pequenas) o aglomerado será claramente visível. Não há como não se perceber o aglomerado.

JESS 3 (Ngc 2070) – A nebulosa da Tarântula na Grande Nuvem de Magalhães é uma imensa região de formação estelar. Está a cerca de 140.000 anos luz. Se fosse tão próxima como a Grande Nébula de Orion,

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causaria sombra a noite.

Aonde olhar: Novamente ao sul da linha imaginaria que liga Canopus a Achernar. Desta vez dirija-se para a Grande Nuvem de Magalhães. Em céu suburbano localize Delta do Dorado e dali caminhe cerca de um campo de buscadora para oeste. Em Ambintes urbanos utilize Achernar e Canopus para triangular a poisção. Paciencia e persistência vão ajudar.

Na buscadora- Centralize na Grande Nuvem. Você vai perceber uma “estrela” diferente dentro do campo. Para mim é como um pequeno x. Esta é a Tarântula (Ngc 2070)

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JESS 4 (M7)- Junto a cauda do escorpião você vai perceber sua nebulosidade a olho nu em um local escuro . Se percebe facilmente até mesmo em ambientes urbanos. Em vermelho.

JESS 5 (M 6) – O Aglomerado da Borboleta. Na cauda do escorpião. Visível a olho nu como area enevoada. Bonito. Mag. 4.20 Dim. 20´x20´ Catalogado(?) por Hodierna antes de 1634. Visivel no mesmo campo que M7

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JESS 6 (Ngc 6067) – Belissimo aglomerado em Norma. A ,elhor forma para localizá-lo é seguindo a linha entre Beta e Zeta Ara e dobrar esta distancia . Pode- se também utilizar a linha que liga Beta a Alfa do Centauro para triangular a posição . Em ambientes suburbanos se percebe claramente uma forte nebulosidade na região. Muito próximo se encontra Collinder 299 e toda área vale ser escaneada.

Na Buscadora: Você vai perceber claramente o aglomerado e muitas estrelas na região que parece “brotar” do aglomerado. Não relacionadas. O Aglomerado em si é bem denso e concentrado. Um objeto que mais ao norte fosse e seria cantando em prosa e verso.

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JESS 7 (Ngc 6121- M4)- Um dos Aglomerados Globulares mais próximos (o segundo). Descoberto por De Chéseaux em 1745-46. Fácil de achar. Ao lado de Antares. Sensível a Poluição Luminosa.

Aonde olhar: Localize verá também Escorpião. Depois localize Antares ( Alpha Scorpio). Uma estrela vermelha facilmente localizavel. A seu lado estará Sigma Scorpio . M4 forma um triangulo com as duas. Escaneie a area a partir de Antares.

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Na Buscadora: M 4 vai se destacar na ocular como uma estrela enevoada. È um alvo bem fácil se partindo a partir de Antares

Cap. 5- Os telescópios e equipamentos

Os equipamentos disponíveis para a realização do Catalogo José Eustaquio e Silvano Silva de Nebulosas e Objetos Estelares foi o fruto de um metódico levantamento dos céus austrais de nossos dois astrônomos pioneiros e tembém resultado de avanços tecnológicos que se desenrolaram ao longo de vários séculos de pesquisa astronômica.

Sabemos pelos textos de Silvano e Silva que José Eustaquio “herdara” um dos telescópios que Lacaille trouxera em sua expedição para o Sul. Este teria ficado em poder de seu pai que segundo dados circunstanciais parece ter servido ao Abade em sua estada no Rio de Janeiro.

Sabemos por diversas fontes que o grande astrônomo francês não deixara saudade e tampouco a sentia em relação a cidade maravilhosa . Em diversos textos o abade falava da sujeira e do mau cheiro que invadia a Rua do Rosario. Foi ali que ele montou sua banca. Apesar da grande herança deixada por Lacaille ele realizou todos os seus feitos com telescópios deveras simples. Na realidade pouco mais que pequenas lunetas. Instrumentos de cerca de 25 mm de diâmetro de objetiva. E com aumentos da ordem de 6 a 9 vezes. É impressionante que este homem tenha deixado seu catalogo e mais

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uma família de constelaç~pes nos céus austrais com equipamento tão simples.

O próprio Silvano Silva nos diz:

“... o telescópio de Eustaquio pouco mais é que um monóculo de opera. E apesar disto ele reconhece centenas de nebulosas. Sua criação junto aos marinheiros deixara um profundo conhecimento dos céus e de seu comportamento.”

Já o equipamento de que dispunha o padre parecia ser mais sofisticado. Segundo suas próprias palavras seu aparelho era em muito superior ao pequeno newtoniano de Messier. Porém com uma menor distancia focal. Apesar de não citar valores em nenhum dos textos encontrados podemos fazer algumas suposições.

Os telescópios que Messier utilizou são conhecidos pela história e pelas palvras de Silvano podemos fazer sérias conjecturas .

Segundo Frommert e Kronenberg (SEDS) Charles Messier observou e/ou possui alguns telescópios;

1. Refrator de 8 metros de Distancia focal, Mag. 138x 2. Refrator Acromático, 4 metros DF Mag. 120x 3. Newtonian reflector 4.5 foot FL, Mag. 60x 4. Refrator Acromatico, 1200 mm DF (Dollond), Mag. 120x 5. Campani refractor, owned by M. Maraldi, Mag. 64x 6. Refrator 6 m DF, Observatorio de Paris, Mag. 76x

Estes são apenas alguns dos telescópios utilizados por Messier . É importante lembrar que devido a tecnologia da época eles eram bem mais limitados do que sugerem as grandes distancias focais. Percebe-se também que na época a idéia de oculares variadas ainda não havia feito escola.

Mas devido a um pequeno recorte encontrado entre os escritos de Silvano Silva dois destes aparelhos se mostram muito significativos para minha pesquisa.

“... Tive a felicidade de conservar comigo dois belos aparelhos que ainda curtos me apresentam alta qualidade e aumento de 60x e 120x. O primeiro um modelo como o de Newton e o outro , meu favorito , um belo modelo inspirado em Galileu.

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São muito semelhantes aos telescópios que utilizei em França . Sendo que um deles é um Dollond...”

Até devido a viagem que trouxe Silvano Silva ao Brasil lhe era impossível possuir um telescópio de grande porte aqui na Colônia. Mas sua temporada em Paris o ensinou a conhecer equipamento astronômico e ter acesso ao que havia de melhor em seu tempo.

Messier utilizou com freqüência telescópios com objetivas de 90 mm e 1200mm de distancia focal e 120 x de magnificação. Um deles feito por um tal de Dollond. Silvano Silva se refere ao mesmo textualmente.

Estes refratores acromáticos são capazes de observar todo o catalogo Messier assim como alguns alvos mais difíceis.

Como já foi dito quando se observa o céu o obsevador é tão ou mais importante que o diâmetro ou qualidade ótica do próprio telescópio.

E a descrição do Newtoniano não deixa muitas duvidas de se tratar de um aparelho semelhante ao descrito por Messier. Com 1500 mm de ditancia focal e com cerca de 90 mm de espelho. Na época os newtonianos sofriam do uso de espelhos especulares e isto seria aproximandamente um 60 mm moderno.

O Refrator acromático era um show de tecnologia em uma das fronteiras do mundo conhecido. E Silvano Silva sabia disto.

E ele sabia também que ele poderia descobrir o véu sobre o céu profundo que vivia escondido abaixo do Equador.

Em outro trecho ele deixa clara sua ambição:

“... com os meus equipamentos em muito superiores serei capaz de mapear um numero de nebulosas em muito superior aos encontrados pelo Abbe... e com isto demonstrar o brilhantismo das terras Lusitanas e a gloria de nosso reinado.”

É aceito hoje que nenhum dos telescópios descritos aqui seja superior a um refrator de 100 mm ou um refletor newtoniano de 150 mm.

Acredita-se que a pequena luneta de José Eustaquio e o refrator de Silvano Silva foram a tecnologia que nos levou até o Catalogo J.E.S.S.

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Todos os objetos descritos nesta pesquisa são acessíveis a tais telescópios e em sua grande maioria estão ao alcance de Binóculos 10x50. A pequena luneta descrita por Silvano Silva como de propriedade de José não superaria de forma alguma um bom binóculo moderno. Mas novamente sou obrigado a lembrar que o observador é parte importante do equipamento. A mais importante.

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