o capital da noticia
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O Capital da Notícia
II. Imprensa e Estruturação Econômica da sociedade.
“O Leitor torna-se um objeto do
mercado que paga até mesmo pelo papel no
qual ele é embrulhado.”Prospekt-TageszeitungProspekt-Tageszeitung
O caráter de mercadoria da Informação
• O saber tradicional
• Valor de Uso e de Troca da Notícia
• Imprensa e capitalismo
• Marketing no jornalismo
• Jornalismo e Literatura
O saber tradicional
•Friedrich Geyrhofer investiga a fundação da informação
na sociedade atual a partir de sua comparação com outras
formas de cultura;
•Ele compara A Igreja com uma Universidade: O
sacerdote e o professor sabem algo que é, primeiramente,
inacessível aos estudantes e aos leigos. Não é o conteúdo,
mas a autoridade do sabedor que o define.
•O Jornal separa a informação prática (vendável) do
conjunto de fatos e dados culturais. Ele trabalha com o que é
imediato e direto, separando o “disseminável” do absorvível;
O professor professa. O jornalista informa.
•Informação é poder. No jogo do poder estão implícitas
as relações de dominação. O saber é negociável e serve
como moeda para a ascensão na sociedade.
Ex.: Os escribas eram privilegiados nas antigas
sociedades.
•A “Queima de Arquivo” nos dias atuais seriam as
liquidações sumárias dos “mais informados” na antiguidade;
•A informação passa a ser usada como instrumento de
opressão. O saber secreto passa a ser uma arma;
•Informação significa Status.
Valor de Uso e de Troca da Notícia•Marx dizia que as notícias são a forma elementar de riqueza
no capitalismo e que elas são um tipo de mercadoria;
•O jornal é produzido para a venda. Seu produto são as
informações transformadas em notícias. Uma informação pura e
simples não tem valor antes de sua transformação;
•Algo só se transforma em notícia se há alguém que pode
destacar os aspectos positivos ou negativos do fato ocorrido.
•O valor de uso não é somente a notícia e a
informação, e o valor de troca não é somente a
compra. As duas esferas se mesclam em alguns
casos.
•Para o consumidor, o valor de uso se concretiza na
compra do jornal e com a sua leitura, quando ocorre o uso
propriamente dito do jornal;
•A mercadoria notícia é uma das mais perecíveis e seu
valor de uso cai rapidamente;
•Para o editor, o valor só se realiza na troca, a obtenção
do dinheiro. Para ele, o valor de uso é apenas um meio para
a concretização do seu valor de troca.
Imprensa e capitalismo• No capitalismo, a imprensa é uma mercadoria. A ilusão,
segundo Geyrhofer, é acreditar em um jornalismo
objetivo;
• Na teoria, uma sociedade não capitalista nos levaria a um
jornalismo menos alienado e manipulador. Ou seja, um
jornalismo não manipulador é uma utopia.
• Não há como se libertar da forma capitalista de se fazer
uma matéria. O que haveria é a mudança no tratamento
da matéria. Mudar toda a sua estrutura.
Marketing no jornalismoQuando falamos de jornalismo como atividade
econômica, há duas maneiras de atuar para o público:
3.Uma atuação arrojada, construtora de opinião crítica, com novas ideias e participação política;
5.Atuar de acordo com o que é dado e esperado. (Marketing Jornalístico)
• No primeiro caso, o receptor “estranha “o que é “novo”, pois acha que seu universo é “ameaçado”. Esta maneira geralmente gera insegurança e a primeira reação pode ser a rejeição imediata.
•No segundo caso, não há ruptura de padrões,nem crise
com o leitor. É apenas uma confirmação de informação;
•A Mercadologia no jornalismo é vender a notícia como
se ela fosse uma mercadoria qualquer;
•O marketing nessa área investe em pesquisas e na
atividade publicitária, ou seja, maior possibilidade de
vendas. O foco nesta indústria também é o lucro.
•A estratégia para se obter este lucro é a empresarial,
orientando a linha editorial e a programação do jornal.
•A pesquisa mercado lógica no jornalismo é um Copy-
Test. Esta técnica investiga as notícias mais observadas
pelo leitor, o produto indispensável;
•Esta é a orientação do “correr atrás” do que está na
moda, trata-se do oportunismo e do populismo. A massa
receptora é quem menos ganha com esse tipo de orientação
jornalística.
•Criticar o marketing não significa
desconsiderar a importância do público ou do
consumidor, pois ele são a fonte de sobrevivência
da imprensa. Porém isso não justifica a abdicação
da imprensa do papel de agente político em troca
de noticiar aquilo que já é esperado apenas por
razões de lucro imediato.
Jornalismo e Literatura•Marx questiona se as grandes lendas épicas não
desapareceriam com as novas tecnologias de produção
jornalística, ele afirma que a imprensa de massa acabaria com
as condições necessárias para que elas existissem.
•Isso não é ligado apenas às técnicas, mas sim a
apropriação do trabalho e da criação humana. Tais produções
são marginalizadas na produção comercial do jornal.
•Para se afirmar como “produção independente”, a literatura
tentou fugir da estagnação da linguagem imposta pelo
jornalismo.
•A poesia e a literatura não se subordinam à ditadura
das formas jornalísticas e a lógica da mercadoria que
trabalha com o facilmente inteligível, com o direto e
“mastigado”. Elas são uma expressão subjetiva, um
manifesto humano;
•Na elaboração de notícias não há espaço para o
indivíduo, o para o ser humano com um criador de
informação.
As Formas de encobrimento e falseamento
O jogo com o texto noticioso
• A fragmentação da realidade
• A personificação dos processos sociais
• Outros Processos
O uso da linguagem e da técnica
A política do destaque e da supressão de
informações
As Formas de encobrimento e falseamento•A edição de uma matéria é o principal modo de
manipulação. É nessa fase que se opera a adaptação
ideológica da notícias e sua estruturação com fins de
interesse de classe e valorização;
•Normalmente, este falseamento não é intencional. Na
maior parte das vezes ele vem da forma que o jornalista
estrutura os fatos, de maneira inconsciente.
•A uniformização da notícia no estilo do jornal pode
moldá-la ideologicamente. As normalizações técnicas de
como fazer uma notícia tiram grande parte do potencial
crítico que ela pode vir a ter;
•O Autor caracteriza três formas de falsear ou encobrir
uma notícia:
Visão Fragmentada
Uso das técnicas de linguagem
Sonegação das informações indesejáveis
O jogo com o texto noticioso – A fragmentação da realidade
•O Autor pega o conceito de Alienação de Marx e o
une ao conceito de Fracionamento de Atividade Primitiva
de Brückener para gerar o conceito de “Consciência
Dividida”. O trabalhador não reconhece o produto final
como uma “obra sua”;
•Conceitos como Estado Moral e Igreja não são obras
da humanidade, estes conceitos têm vida própria.
•A consciência e o relacionamento do indivíduo são
mediados pelo processo fragmentador;
•A fragmentação (disposição do mundo numa
perspectiva burguesa) produz mentalidades fragmentadas
que veem o contexto social (realidade) sem nexo e
ordem;
•Para uma mente fragmentada, uma notícia fragmentada.
•Na notícia fragmentada os fato não tem lógica entre
si. Não tem algo que os explique. A fragmentação indica
imediaticidade;
•A produção d notícias fragmentadas é uma técnica
mercadológica. Apaga-se o contexto histórico e social da
notícia e ela é colocada no mercado com determinados
aspectos destacados. Não é transmitido um processo de
trabalho. É um fato sem origem e vinculação com algo
que o explique.
•O contexto da noticia é dividido e transmitido a um público
que não consegue selecionar os fotos fragmentados e
entendê-los no contexto original;
•A história da notícia é compartimentada, reduzida a
fragmentos desconexos para que o público não consiga
analisar o processo de evolução da notícia;
•Isto também acontece na política e na história.
A Fragmentação da estrutura da notícia torna o homem
inconsciente de sua dominação.
A personificação dos processos sociais
• A Personalização dos fatos e das notícias está
associada à intimização das questões públicas,
banalização dos fatos e do culto à personalidade;
•Está técnica faz o público questionar as vantagens e
as desvantagens das pessoas e não as condições do
sistema social;
•Os fatos não tem relação com a realidade.
•A fragmentação pode ser interpretada com um
estratégia: “ dividir para vender mais”;
•O Autor salienta que a história não é feita de grande
nomes, apenas. Os grandes nomes faziam parte de uma
classe e defendiam seus interesses. Quando os
historiadores os separam da classe de origem eles a
isentam de culpa. A guerra não é o interesse de uma classe
e sim de uma única pessoa, com se ela possuísse poderes
sobre naturais e se impusesse diante da sociedade como
um todo.
•Um exemplo desta situação é o populismo na América
Latina: Políticos como figuras fortes, paternais e populares;
•Isto cria a ideologia do destino - os problemas não têm
uma organização específica, eles simplesmente “caem do
céu”;
•A personificação “positiva” como produto, é a
perseguição dos agentes dos males sociais. Os bodes
expiatórios.
•O Bode Expiatório serve para pregar a desconfiança e
a falta de solidariedade. Tem um efeito ideológico;
•O Terrorismo é um filho da ideologia da notícia. Seria
uma maneira de divulgar de maneira forçada uma notícia;
•Grupos extremistas utilizam de ataques terroristas,
porém causam uma reação oposta da população e do
governo, que responde com um bloqueio de notícias.
• Neste processo a política se separa da população e
se torna um assunto apenas de especialistas;
• A personificação, aliada à fragmentação desinforma
as pessoas;
• A notícia passa a ser dada com algo para o
entretenimento e recreação para as horas vagas.
Outros Processos•A falsidade também é outra técnica deturpar a
realidade em uma notícia;
•A Burguesia manipula os fatos, selecionando as fontes
convenientes e as favorecem de acordo com a sua
perspectiva;
•As fontes geralmente “são as testemunhas da multidão
histórica” e seus depoimentos são distorcidos.
• A Saturação para se animar o consumo e ondas
de opinião, histerias públicas e mitologias
ideológicas são divulgadas nos veículos de
massa;
• A Polarização de conceitos e o maniqueísmo
forçam ao leitor a optar entre dois extremos.
Bem e Mal, Certo e Errado.
O uso da linguagem e da técnica•O uso de linguagens técnicas com um tom oficial em
formulações anônimas favorecem um comportamento receptivo
da população;
•A notícia que se utiliza destes artifícios passa imagens
neutras e sociais, mas na maioria das vezes possuem tom direto,
restritivo e imperativo;
•O uso de termos técnicos, gráficos e tabelas, onde as
informações podem ser encobertas e manipuláveis dificultam o
entendimento.
•A “técnica redacional” é quem opera a transformação da
notícia nos padrões da empresa.
•A padronização do pensamento e da redação do jornal e a
submissão delas ao “modo de exposição” ou “estilo do jornal”
podem ser caracterizados como deturpação da notícia
•A subimissão dos fatos à uma ordem, o faz perder seu
caráter explosivo. Esta padronização domestica o jornal.
•Isto atravessa vários filtros. O primeiro é quando editor
decide o enfoque, o assunto da notícia e o que é conveniente
ser mencionado no jornal.
A política do destaque e da supressão de informações
•As formas anteriores de distorção não são exclusivas do
jornalismo e podem ser usadas num discurso geral para
adaptá-lo à interesse ou conveniências;
•A pauta reflete apenas o que está acontecendo ou o que
preocupa o público em geral, porém numa segunda análise
ela pode refletir muito mais do que os jornais estão
publicando.
•O Jornalista extrai da matéria o que lhe interessa ou
interessa aos leitores e transforma isso em notícia. Da
realidade é extraída a “parte útil”, segundo a avaliação de
objetivos particulares;
•O Editor decide o enfoque, o tamanho (em linhas), o
tamanho do título e a colocação na página. Está nas mãos
do editor a definição política de como a matéria vai repercutir
na sociedade.
•O Editor pode transformar algo pequeno em um
escândalo e abafar um fato importante. Ele traduz e
transforma a realidade, a adaptando de acordo com suas
convicções. Ele trabalha a opinião pública. Esta intervenção
é chamada de Downplay;
•Nesta forma de manipulação há uma intervenção
direcionada a reprodução dos fatos sociais e históricos.
•O papel do jornal, aqui, não é noticiar, informar, divulgar
o que interessa, mas moldar, esticar e comprimir os fatos
para a sociedade. Montar uma segunda natureza dos fatos
sociais, muitas vezes opostas à verdadeira natureza das
coisas reais;
•Jornalismo não é divulgar as notícias orientadas
ideologicamente, mas redimensionar os fatos de acordo
com uma natureza artificial. É criado um outro mundo, com
outros fatos e outras atribuições de importância.
O produto é a Cristalização Ideológica.
Telejornalismo•Além de obedecer as técnicas gerais de produção e distorção
dos fatos, o telejornalismo tem alguns aspectos adicionais que
reforçam a superficialização da transmissão dos fatos e recepção
acrítica;
•No jornal impresso, a capa é como uma vitrine, onde os
artigos são expostos separadamente para a venda do jornal. No
telejornalismo não há primeira página e manchetes na ruas para
chamar a atenção das pessoas;
•O que existe são as pequenas chamadas durante a
programação que convida o público para assistirem o jornal.
•O consumo do telejornal é prefixado no espaço e é
determinado à ele um horário na programação. Ele se
preocupa em cativar a audiência daquele horário da
programação e com isso perde a sua possibilidade de
“venda”;
•A produção deste tipo de jornal obedece a critérios de
atratividade e interesse. Os elementos de fragmentação e
personalização devem ser radicais. Só elementos e peças
soltas.
•A manipulação ocorre com mais facilidade na escolha
do destaque, do enfoque e na expressão do apresentador;
•A televisão transmite a ilusão da verdade utilizando
imagens que garantem o estatuto de verdade absoluta e
inocenta a deturpação;
•A notícia tem um status de espetáculo, propagandismo e
de circo de atrações.
•O cenário, o apresentador e as informações paralelas
produzidas para o veículo formam o pano de fundo
neutralizador do telejornalismo;
•Mesmo que as notícias sejam de caráter anticapitalista,
elas funcionam para vender o jornal e garantir o lucro.
•O valor de troca se concretiza no telejornalismo com a
audiência. E no telespectador se desligar dos próprios
problemas e ver uma oferta mínima no programa que o
sensibiliza e o liga ao mundo.
• A produção de notícias baseia-se na ligação,
mesmo que pequena e elementar, entre
produtor e receptor. Isso cria a ponte entre
experiência e comunicação que torna a
recepção da informação possível.