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Naturale junho/julho - 2011 O campo e o legado da Educação Ambiental Por Izabella Teixeira Ministra do Meio Ambiente do Brasil Artigo exclusivo para revista Naturale Foto: Geraldo Gomes

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O campo e o legado da

Educação Ambiental

Por Izabella Teixeira Ministra do Meio Ambiente do Brasil

Artigo exclusivo para revista Naturale

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Um dos maiores dilemas das po-líticas públicas ambientais está em projetar seus efeitos no tempo. Pes-quisas recentes, encomendadas pela Secretaria de Articulação Institucio-nal e Cidadania Ambiental do MMA e elaboradas por setores não-governa-mentais, dão claras indicações de que a informação sobre meio ambiente está relativamente disseminada nos vários estratos sociais. Porém, seus re-sultados também nos levam a reforçar a inferência, que até então carecia da força de dados, de que pessoas bem informadas não são necessariamente cidadãos conscientes ambientalmen-te. O caldo informativo parece não implicar, necessariamente, na mudan-ça para atitudes sustentáveis.

É preciso, no entanto, considerar os vários avanços, tanto nos discursos quanto nas práticas ambientalmente corretas. Já contamos hoje com pes-quisa e desenvolvimento de modelos sustentáveis, consolidados e em an-damento, que podem levar à redução sistemática dos impactos ambientais provocados por vários segmentos da economia. No campo e na indústria es-tão surgindo tecnologias inovadoras e com eficiência no aproveitamento dos recursos naturais. Já se nota, também, um aumento na oferta de produtos de cadeia verde na agroindústria e, princi-palmente, na agricultura familiar.

A parceria entre a agricultura fa-miliar e o governo vem consolidando seu viés ambiental. O Ministério do Meio Ambiente, por orientação da pre-sidenta Dilma Rousseff, reconhece a necessidade de o planejamento e até mesmo a gestão das políticas ambien-tais voltadas para o setor incluírem o

pequeno produtor e o agricultor fami-liar. Medidas dessa natureza mudam a percepção que o homem do campo tem dos órgãos ambientais. As ações de cada ministério estão chegando na ponta na forma de apoio técnico, oficinas de capacitação e programas de fomento. A ampliação do diálogo é fundamental para que os principais interessados se tornem agentes das políticas públicas de preservação e uso sustentável. O desafio é vencer resistências a mudanças no modo e no padrão de produção. O papel do estado é colocar à disposição dos agricultores recursos técnicos em agro-

ecologia, plantio direto, agroflorestas, agricultura orgânica e todas as alterna-tivas de desenvolvimento sustentável, além de promover a regularização com a legislação ambiental.

Medidas como a inclusão da produção extrativista no pacote do Pro-grama Nacional de Apoio a Agricultura Familiar (Pronaf) demonstram a presen-ça do estado no incentivo às práticas sustentáveis. A Secretaria Nacional de Extrativismo e Desenvolvimento Sustentável do MMA está tocando o Programa Mais Ambiente, que vai promover a adequação ambiental das

Contamos hoje com

pesquisa e desenvolvimento

de modelos sustentáveis,

consolidados e em

andamento, que podem levar

à redução sistemática dos

impactos ambientais

provocados por vários

segmentos da economia. No

campo e na indústria estão

surgindo tecnologias

inovadoras e com eficiência

no aproveitamento dos

recursos naturais.

propriedades rurais, substituindo ini-ciativas pontuais, projetos pilotos, por estratégias estruturantes para que nos próximos 10 anos, pelos menos, possamos alcançar resultados mais consistentes.

No entanto, nenhum acordo com a agricultura familiar, nenhuma das inúmeras ações dos subprogramas e projetos demonstrativos desenvol-vidos em vários biomas, nem o Mais Ambiente, podem prescindir da partici-pação direta e do envolvimento efetivo das comunidades para as quais estão voltados. Por isso, a criação e implan-tação de um programa de educação ambiental requer participação efetiva e direta dos produtores familiares e seus movimentos representativos. O MMA tem conversado com o movimento social para buscar sugestões que aten-dam e dialoguem com o mundo real da agricultura familiar. A experiência acu-mulada até aqui já é suficiente para nos mostrar que devemos buscar modelos que venham das demandas dos produ-tores. O olhar e a relação do agricultor e da agricultora com o ambiente e a biodiversidade são referências para o atendimento e satisfação de suas ne-cessidades.

É fácil desmontar a tese de que cuidar do meio ambiente na pequena propriedade conduz à inviabilidade econômica. Há várias experiências que demostram aumento de lucratividade, redução de custos e abertura de novos mercados com métodos que conser-vam a natureza. Meio Ambiente não é despesa, é capital. Sua conservação é garantia de um ativo que se projeta no tempo. O agricultor sabe e precisa disso.

O Programa de Educação Am-biental e Agricultura Familiar (PEAAF), instituído pelo MMA em parceria com organizações da agricultura familiar e de outros ministérios, se organiza no sentido de agregar mais susten-tabilidade. Com intenção de formar extensionistas socioambientais, num uni-verso de 4 milhões de propriedades, o PEAAF tem como prioridade pro-mover um intercâmbio de saberes.

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Buscaremos uma educação integrada, participativa, emancipatória, sob um viés eminentemente prático.

Combater a pobreza extrema, compromisso basilar assumido pe-lo Governo, requer que incentivemos quem produz alimento. Os pequenos agricultores são responsáveis por 84 por cento das propriedades rurais e grande parte da produção de alimen-tos para o mercado interno. Estamos falando de mais de 12 milhões de bra-sileiros que dependem do que fizermos com nossa agricultura familiar. Gente que põe alimento na nossa mesa. A sustentabilidade terá que ser incor-porada como um novo atributo, quer na oferta de energia, quer no padrão de produção. O incremento deve se dar em novas bases, afastando a de-gradação ambiental. O PEAAF, como proposta de formação, tem entre seus desafios demonstrar que para produzir no tempo é preciso preservar, desde recursos hídricos e biodiversidade até diversidade socioambiental e cultural.

O diálogo que possibilitou a ela-boração de um programa de educação ambiental para a agricultura familiar começou há dois anos e envolveu a Federação Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Fami-lar-Fetraf, a Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura-Con-tag, e a Via Campesina. As secretarias nacionais de Desenvolvimento Rural Sustentável e Articulação Institucio-nal do MMA estão envolvidas, desde então, em dialogar com a agricultura familiar para colher as propostas do setor e incorporá-las no PEAAF. Não é tarefa fácil, já que requer diagnósti-

cos junto a Territórios da Cidadania, segundo programa do Ministério do Desenvolvimento Agrário, sobretudo nos estados prioritários do Mais Am-biente. As parcerias com estados estão sendo articuladas, como na Bahia, on-de as negociações estão avançadas. As portas estão abertas no ministério para os interessados em educação am-biental.

Em 2010, o programa definiu uma integração com o então criado Pro-grama Mais Ambiente, no sentido de difundir entre os agricultores familia-res novas práticas de sustentabilidade. Assim, espera-se a agilização no cum-primento das normas de preservação, abrindo caminho para a legalização e registro no Cadastro Ambiental Rural. Ou seja, legal é ser sustentável.

No elenco de estratégias de imple-mentação está também a comunicação. Como as oficinas de capacitação não podem atender a toda a demanda dos movimentos do campo e demais se-tores da agricultura familiar, o PEAAF também prevê estratégias de comuni-cação. Publicações e cursos à distância melhoram a transferência de tecnolo-gias verdes aos agricultores familiares. Levar por todos os meios as infor-

Meio Ambiente não é

despesa, é capital.

Sua conservação é

garantia de um ativo

que se projeta

no tempo.

mações a quem precisa delas é fator essencial na tomada de decisões.

Felizmente, há uma convergência plena entre o interesse da agricultura familiar e o Programa. O MMA vem fa-zendo gestões junto ao Ministério do Planejamento para conseguir os recur-sos necessários à sua implementação e buscando ampliar a parceria com os Ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, do Desenvolvimen-to Agrário, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e com o da Educação. Há um entendimento dentro do Go-verno de que a erradicação da pobreza só é possível com o fortalecimento da agricultura familiar.

O papel da educação ambiental voltado para o campo, que será imple-mentado pelo MMA e suas entidades vinculadas, é convencer os diferentes segmentos de produtores e gestores públicos e privados a promoverem a transição para modelos de produção, consumo e geração de energia cada vez mais sustentáveis. O esforço é fazer com que se compreenda que pro-dutores e consumidores, em pequena e grande escala, se encontram no mes-mo barco. Da utilização dos recursos pela agricultura e pela indústria de in-sumos com baixo impacto ambiental, até as prateleiras dos supermercados, da conservação de energia até a desti-nação final adequada dos resíduos, a sustentabilidade socioambiental é um longo caminho a percorrer. Uma tran-sição que está apenas nos primeiros passos. O meio ambiente saudável e a qualidade de vida das presentes e futuras gerações depende do que fi-zermos hoje.

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