o caminho de pernambuco
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Eliane Marques Colchete de Morais e Luis Carlos de Morais JuniorTRANSCRIPT
O CAMINHO DE PERNAMBUCOEliane Marques Colchete
Luís Carlos de Morais Junior
O Caminho de Pernambuco
A moça leu o texto me pediu pela internet eu enviei pra ela e ela leu O Caminho de Pernambuco, depois me falou entusiasmada: "Pernambuco é o paraíso!!"Eu valorizo muito os leitores de todos os tipos, e é claro que a gente sempre considera muito os críticos, aqueles que sabem ver as linhas de força que estão no trabalho, no caso, no romance em versos, brincando com o romance popular nordestino, coisas folclóricas, infantis etc.Ah, mas essa avaliação valeu mais que tudo!! Pernambuco, o menino, que não tem medo, que acredita nos seus sonhos, que sonha, acorda e brinca de magia e poesia, que quer ser poeta, e ama a alegria, todo menino e menina assim é um paraíso, o estado de graça do nordeste brasileiro, onde quer que ele esteja, sendo sempre o mesmo, genuíno e verdadeiro.
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1 – Cantiga de Pernambuco
Triste sinaDo pequeno Pernambuco!
Todo dia assiste assimO sol no cocuruto
Lá na igrejinha brancaOs sinos tocam
Per-nam-bu-co!Per-nam-bu-co!
Como um relógio cucoComo uma foca bate palmaComo uma mula manca
Bate sino
Pernambuco
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2 – A igreja
O padre sempre fala:- Pernambuco, PernambucoVocê precisa de tudoQue o mundo quiser dar
Você veio do nordesteNa barriga da mamãeSua família é modestaVocê é fanho
Fala calo invés de carro(Deve ter a língua presa)Você não sabe contarNão sabe ler
Pernambuco tome jeitoVocê precisa aprenderA ser o que a gentePuder fazer de você! -
E o padre ria amareloBatia em sua cabeça
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Pernambuco olhava pro céuE o sino tocava à bessa
Tava na hora da missaDa hóstiaE da reza
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3 - A escola
A igreja brancaMadrugada rosaA missa acabaPernambuco vai embora
A terra é grande(Maior que a lua)As duas são redondasE o sol é maior que tudo
A tia diziaPernambuco ria
Se você diz: oEscreva uma bolaSe quiser um aNa bola põe um rabo
A tia ensinavaPernambuco sonhava
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Com jogo de bola com piqueCom alçapão que ele armavaCom um gato um porco um patoPassarim canela fina
O Nordeste é uma região do BrasilDe um lado está a BahiaDo outro lado MaranhãoNo miolo Piauí,Ceará, Rio Grande do Norte,Alagoas, ParaíbaE... Pernambuco!
E a turmaExplodia em zombaria,Piparote, cocuruto,
Pernambuco se defendia
E a tia dizia: - ChegaDe bagunça e brincadeira!
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4 – O trabalho
De tarde PernaVai prà vendaDo Seu Manel
E faz entregaVende cheiro-verdeEmbrulha no papel
Vai trocar dinheiroNão pára pra nadaE volta logo
Réstia de cebolaQuilo de batataMeia dúzia de ovo
Só resta(Depois do trabalho)Jogo de bola de meia
É batata
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5 – Outro dia na escola
A tia ensinavaPerna fugia
Trepava na árvoreCatava laranjaTirava bananaTacava limãoNo quintal do Seu João
A tia ensinavaPernambuco nem sabia
- Pernambuco, Pernambuco... -A tia ralhavaA meninada ria
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Um dia entrou na escolaSem ninguém saber de onde vinhaUma menina esquisitaNão falavaNão brincavaNão sorria.
Quem seriaEssa menina?
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6 – A fofoca das matracas
E disse me disseE fala que falaÉ daqui é de lá
Todos querem saberÉ preciso adivinharEla só diz:
“Presente”
Quando a tia chama:Patrícia
Maneco oferece maçã
Jandyra empresta a bonecaMarília fica invejosaNinguém mais quer saber dela
Mas Patrícia não respondeNão brinca, não come,Não nada
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“Patrícia é uma chata!”
A casa é amarelaGrande e bonitaÉ a casa de PatríciaNão fica perto da praçaNão fica perto da igrejaÉ lá perto da estradaÉ quase no fim do mundoNa saída do subúrbio
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7 – Primavera
Como que ele sabe?Porque depois da aulaPernambuco segue elaChega atrasado na vendaSeu Manel não notouSubiu a estradaDepois da missa
Passa por lá
O padre reclamouTem faltado muitoA professora chiouFeito chaleira velhaAntes do caféDepois do jantarNem vai no campinhoVoa passarinho
Ninguém pra matar
Ué!Cadê Pernambuco?Êta menino maluco!
Ele não fala nada
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8 – O presente da Fada
A caminha é de caixasDa loja do Seu ManelPerna pensa que é um fósforoQue acende quando ele sonhaE toda vez que ele fecha os olhosO mundo fica dourado
Aparece uma montanha altaToda feita de cristalNo topo está um palácioQue tem uma porta encantadaDe guarda fica um dragãoDo tamanho do BrasilPerna pergunta:“Posso passar?”O Dragão responde:“Só se a Fada deixar”
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De repente o céu fica amareloE verde e azul e vermelho
Explode uma chuva de estrelasQue caem num pó prateadoA porta se abreO palácio somePatrícia apareceNa montanha enorme
Vestida de rosa
Dos pés à cabeçaUma coroa de jóiasBrilhando na testa“Pernambuco” ela falaE começa uma festa
A galinha toca cornetaO marreco dança com a pataA minhoca senta na cadeira
E começa a cantar uma ópera
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Peixinhos azuis fazem baléUm galo vestido de baileApita
triiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmmmm
O relógio acordaPerna pula da cama
Que sonho encantado!Só pode ser presente da Fada
Patrícia é a Fada
Da Montanha de Cristal
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9 – A casa
Pai de pedraMãe de fogo e água
O pai constróiA mãe cozinha e lava
Um galo sóLevanta o solDe tão alto que éO seu cocoricó
Uma irmã pequenaUm gato fujãoUm cachorro velhoUm bruxo de pano
Seis cadeiras e uma mesaRádio e geladeiraO pai está juntando dinheiroPra comprar uma tv
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O amigo do pai é o ZéQue faz cordelNaquela noite Pernambuco não dormiuOuvia as poesias do amigoCom os olhos brilhando
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10 – O tombo bom
Jamelão é uma fruta engraçadaToda preta deixa a língua roxaBem pequenina, a árvore é altaCheia de galhos,Tão bom de subir!
É coisa de FadaTer um pé de jamelão no quintalPernambuco pensa lá em cima:
Tão bom estar aqui!
Lá vem PatríciaA menina FadaEla pára embaixo da árvoreO vento tremelica o galhoQue tremelica PernambucoDe nervoso
CATAPLUM!UÁÁÁÁÁÁÁÁUUUUUU!ÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁIIIIIIIIIIII!
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Tombo,Berro,Susto.
Pernambuco olha Patrícia
Que olha Pernambuco
Que fica nervoso como fizesse mal-feito
De espiar a meninaQue tomou um susto daqueles
O vento sopra e ninguém falaPatrícia encabula olhando pro chãoQue horror!Do joelho de PernaSai um sangue vermelhinho
- Machucou?
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- Foi nada, não!- Deixa eu limpar.- Nem dói!- Que nada, isso arde.
Ela leva PernambucoPara a tia medicarNo caminho vão contandoHistórias gozadas do tombo.
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11 – A Fada ao vivo
- Se você não é fadaEu sou um sapoQue virou príncipeFantasiadoDe paraíba
- Se você é paraíbaO Nordeste deve ser bem bonito
- Se você é FadaFaz chover mingauFaz o sol vir aquiBrincar de batalha navalFaz criança poder casarFaz minha mãe ter tvFaz o mundo rodearCom a gente dentroNo meio do mundo enormeTão enorme
E dizem que ainda tem mais
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- Eu não sou fada nãoBem que gostariaMas eu já vi um velhoQue mora sozinhoQue eu acho que é um bruxoTerrível
- Você pode não ser fadaOu pode estar disfarçadaE não querer me contarPelo sim e pelo nãoEu vou te chamar de FadaSó de Fada eu vou te chamar
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12 – Mãe x tia
Tia: Não presta atençãoNão faz o dever
Nem vem mais às aulas,Que se há de fazer?
Mãe: Menino danadoSe dá castigo ele someSe bate ele diz: “Não choro”Se eu choro ele diz: “Melhoro”
E vai ver, fugiu da escola!
Tia: Bater não se deveCastigo é melhorPra dizer taboadaAté recitar de cor
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Mãe: Copia cem vezesO dois vezes dois,Eu disse para ele,E mostre depoisO tinhoso me volta
Com cópias xerox!
Tia: O jeito é deixarSem sobremesa...
Mãe: Só se tirarO que tem na mesa!
Tia: Não deixe entãoVer televisão!!!
Mãe: Só se mudando
O canal do patrão.
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13 – O bruxo
Patrícia mostrou a estradaPé no medo - e se ele vê?No meio do mato altoQuatro olhos espionam
Demora um pouco de nadaTudo em volta é silêncioAté que acontece algoEle abre a porta do pátio
Velho curvado resmungaCospe fuma cachimbo
Olha tudo e ri baixo
Vira e volta pro buraco.- Acha que ele enxergou?- Claro! Ele é um bruxo!
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14 – O pai
O pai cabisbaixoSentado na salaNa hora do almoço
A mãe nada falaE serve uma sopaDe galinha com osso
Perna se assuntaPergunta e espiaÉ tudo esquisito
Será se é porqueEle não quer aprender?
Será que é doença?O menino pensa.
No dia seguinteEle descobre sozinhoSeu Manel contou
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Que o Seu João disseQue o pai perdeu o emprego.
Era só isso?
Se é, não tem mosquito!Seu Manel tem sempre serviço.
Seu dinheiro não dá,A mãe explica.Pernambuco responde:É preciso pensar.
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15 – A ideia
Antes da estrada tinha uma fazendaNa fazenda tinha um engenho velhoPerto do engenho ficava um rioCom um caminho que dava na estrada
Perna levava Patrícia no rioPara cismarem segredos do bruxoMas a Fada estava tristinhaE Pernambuco caladão
Tinham ideias para arranjar dinheiroTinham medo do pai querer voltarE Pernambuco ir para PernambucoPernambuco, PernambucoA Fada falava baixinhoAté os peixes estavam quietosPara não atrapalhar o pensamento
Perna queria pedir à FadaUm jeito do pai arranjar empregoMas ficava com pena
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A Fada queria ser fadaPara fazer uma mágicaUma mágica!Mágica de bruxoO bruxo faz mágicaPedir mágica ao bruxoA Fada falava no maior entusiasmoQue tinha inventado uma idéia
Então combinaram de levar:
2 cordões de dentes de alho1 crucifixo1 terço2 medalhinhas de Santa Bárbara(Para proteger o Anjo da Guarda)
E 1 gato preto(Para dar de presenteE agradar o bruxo)
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16 – O pedido
No meio do mato entre galinha e pato com sapato furado
Amuleto e gato Pernambuco e Patrícia com medo e perícia
Procuram o bruxo na casa afastada onde gritam e batem
Palmas “ó de casa” até que a porta se abre
E o bruxo vem falar. Os dois não saem correndo porque
Estão com as pernas paralisadas de pavor.
O velho diz: - Sim? Boa tarde. O que vocês desejam?
O menino diz: - Eu quero conhecer o mundo todo.
- E eu com isso? - disse o velho.- O senhor é um bruxo. Eu sei.O velho riu de boca fechada.O tempo fechou.Patrícia amarrou a cara.Tudo em volta desapareceu.
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- Você se esqueceu de dar o gato preto!Estavam em algum lugar estranho.
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17 – As inglaterras da vida
Em algum lugar estranhoOnde o dia está nascendoE as pessoas todas fazemMovimentos muito lentosEm homenagem ao solOnde só de bicicletaSe pode andar pelas ruasTodas cheias de chineses(Não só nas pastelarias)Mas onde o guarda é chinêsO vendedor é chinêsAs crianças são chinesasE o cachorro é pequinês.Zuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuum!
E já estão em outro cantoOnde uma voz apaixonadaSob o sol da meia-noiteCanta: ‘Olhos negros, te amo.”
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Mas o cara canta em russoE eles não entendem “kak iá vas
lhiublhiú!”ZUUUUUUUUUUUUUUUUUMMMK!
Isso aqui é França!Patrícia metida a espertaSabe o que é Torre EiffelE Torre Inclinada de Pisa(Isso foi em Pisa, é claro,E Pisa fica na Itália,Mas a viagem é rápidaE tudo se embaralha.)
- Não tem graça! Parece tv!
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18 – O novo pedido
- Agora você vai falar com eleQue história foi aquela de pedir pra
viajar?- Não sei o que me deu. Meu pai perdeu o
empregoTantas vezes, que eu não quis desperdiçar
o bruxo.- Mas a gente não lhe deu o gato pretoAinda há uma chance que ele atenda seu
pedido.- Certo.
O velho surgiu nítidoNas retinas dos olhidos do meninoE da bela menina. E disse seu nome:- Antão Bartholomeu Gusmão Romeu
Avone- Prazer.- Muito prazer.
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- Meu nome é Pernambuco.- O meu nome é Patrícia. Delícia de
viagem.Mas dava pro senhor fazer outro favor?
E Pernambuco, antes que ela falasse:- Nós queremos conhecer o espaço
sideral!E tudo em volta desapareceu.
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19 – Perdidos no Espaço
Uma luz muito claraQue não machuca a vistaUm calorzinho gostosoE um cheiro de amendoimFaziam as crianças sentiremUma cosquinha na boca
Onde estavam?
Numa cadeira reclinávelNo meio do espaço sem fim
De repenteOlharam para baixoEstavam numa sala com sintecoE ali pertinhoUma aranha jogava bola de gude
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De repenteOlharam para cimaChovia uns pinguinhos de prata
E Patrícia vestida de fada
Estavam no sonho de Pernambuco
De repenteOlharam em voltaHavia uma névoa cor-de-rosaE um bichinho muito engraçadoVoava na névoa e mudava de cor
De repente- Ué! Para onde vamos olhar agora?
E estavam ali no quintal
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20 – O último pedido
- Dessa vez eu peço, juro! -Pernambuco em apurosPatrícia ultra da vidaDesse menino malucoQue não faz nunca o devidoE que não pede pro bruxo
Um emprego pro seu pai.- Aí vem ele, Pernambuco!
O velho chegou bem sérioE falou: - Foi tudo oquei?- Muito linda essa viagemPelo espaço, Seu Antão.Será se seria abuso, não sei...
- Eu concedo outro pedido
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Só mais um.Este é o ÚLTIMO!
E Pernambuco gritou apressado;- Eu quero o FUTURO!
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21 – O futuro
Discos voadores particularesUm trânsito sobre a cidade.Sons que saem de todos os lugaresLuz branca sem eletricidade.
Pula.
E pequenos seres lilás(Ou melhor: furta-cor)Nem melhor nem piorSão os caras atuais.
Pula.
Índios de tanguinhaCauim & Cauim
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Tribo na guerra do acajuPiolho, rede, sururu.
Pula.
Cidade de concretoHomens neuróticosNão, são robôsOs homens agora vivem no mato.
O futuro pula pula pula
Perna & Patri não entendem nada
O futuro pode ser tudoPula pula pula pula
Exato
Feito um sapo
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22 – Cadê?
Lá no rio da fazenda(Lembram-se?)Patrícia e PernambucoUm fala outro escutaDiscutem e calamCisma - resmungo - esperançaDecidem:
- Vamos tentar.
Lá na curva da estradaAndam correm vão emboraCom medo vergonha e pressaVão pedir mais um pedidoSó mais unzinho só
Afinal, vocês viram?O pai de PernambucoAinda está desempregado!
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Uma linda casa rosaUm casarão enormeUma piscina azul cheia de peixes rarosTambém um viveiro de pássarosDe todas as coresE todas as floresQue jardim tem.
Como tudo mudou!
Bateram. Veio uma moça
E Perna perguntou:
- Cadê Seu Antão?- Não mora aqui não.
- O Seu Bartholomeu?- Não é parente meu!
- E o Seu Gusmão?- Não conheço não.
- Pô! E o Romeu?
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- Nunca aqui se viu.
- Onde foi o Seu Avone, então?- Não sei nada não.
Ela fechou o portão.Eles se foram.O bruxo desapareceuNo ar, que nem bolha de sabão.
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23 – O caminho de Pernambuco
- Um bruxo daqueles tambémNão ia ajudar ninguém!
- Todo confuso e erradoFoi melhor não ter pedido!
Consolo de pobre é
Coçar o bicho do pé.
Pernambuco perdeu a chanceEntão deixou pra lá, com elegância.
Foi pra casa triste simMas foi sorrindo
E pelo caminhoQuem ia passandoIa pensandoEm suas vidasSem repararNo menino
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Bonzinho
Que ia
AliE ia em frente
Sempre
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24 – Surpresa!
Ao chegar em casaQueria só ir sonharCom a FadaOu com qualquer coisa.
Mas tinha festaTinha alegriaO Zé cantavaSeu pai sorria
O Zé é bom amigoE arranjou um bicoPro pai de PernambucoVender folheto de cordel com eleNa feira nordestina
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Tinha tanta coisa boa, gente!“O Verdadeiro RomanceDo Herói João de Calais”(De Severino Borges)“Bom Tempo não Volta Mais”(De Apolônio Alves dos Santos)“Abidala e Edileusa”(De Severino dos Santos)E o “Trem da Madrugada”(De José João dos SantosDe codinome Azulão.)E o esperto “Cancão de Fogo”(De Leandro Gomes de Barros)
E a maravilhosa história“Dum Pavão MisteriosoQue levantou voo da Grécia,Com um rapaz corajoso,Raptando uma condessa,Filha dum conde orgulhoso”(De José Camelo de MeloResende, poeta à bessa).
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25 – Pernambuco vai à luta
Bela sinaDo pequeno Pernambuco!
É ele que faz seu caminhoCom o coração.
Longe da sina e do sinoLonge de qualquer pecadoPernambuco desde meninoJá era um cabrito marcado
Pra viverE fazer poesiaE fazer cantoria no meio da praçaCanta rima Pernambuco
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E o povo que passaPode ter um momento feliz
E Patrícia
Bate palma, entusiasmada.
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O POLVO PAVLOV
Eliane Marques ColcheteLuís Carlos de Morais Junior
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No mar aberto, longe das praias do litoral, vive um polvo muito especial. Ora, me perguntará você, especial em quê?
Bem, primeiro eu posso dizer que esse polvo tem um nome.
Sim, como todos os bichos, ele tem a sua língua, e em sua língua de polvo ele sempre falou.
E o seu nome é polvo Pavlov.
No dia em que o polvo Pavlov nasceu os seus pais ficaram em polvorosa.
Ora, e por quê? - pode perguntar você.
É simples: quando Pavlov nasceu e ainda era um bebê ele já tinha o tamanho de um polvo adulto!
Ele não tinha culpa!E desde o primeiro dia ele
danou a crescer sem parar!Todos na Cidade dos Polvos...
(pois eles viviam numa grande cidade no mar, que aliás se chamava
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POLVÓPOLIS
- pois polvo quer dizer polvo e pólis quer dizer
cidade.)
Pois bem, como eu dizia, a cidade inteira comentava cheia de espanto o tamanho gigante daquele menino polvo.
O povo gosta de falar:- Eu acho que ele não se
manca!- Eu acho que ele é gigante!!- E se ele quiser nos agarrar!!!Mas o povo dos polvos é tão
preguiçoso que logo se cansou de fofocar, e foram todos fazer suas coisas e deixaram o Pavlov pra lá.
Polvo gosta de dançar com todas as suas pernas uma dança lenta e bem elegante.
Polvo também gosta de brincar de cometa nadando com os
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tentáculos juntos como se o oceano fosse o cosmos.
E polvo gosta de passear.Pavlov se sentia sozinho
porque ninguém queria passear, conversar e brincar com ele.
Então ele ficava passando de lá pra cá, conversando consigo mesmo.
Mas Pavlov foi ficando crescido (mais crescido ainda!) e agora ele queria porque queria... uma namorada!
Um dia ele viu uma pequenina anêmona, que é um bicho assim:
Y
e que fica grudada no chão do mar.
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Pavlov perguntou pra ela:- Por que você está de cabeça
pra baixo? Está fazendo ioga?E tentou desvirá-la.Ela gritou:- Me larga!Então ele perguntou:- Você não é um polvo?Ela riu e disse:- Não! Eu sou uma anêmona-
do-MAR e meu nome é Cyba-Nêmo Lena, mas pode me chamar de Cyba Lena.
- Você vive aqui sozinha? - Pavlov quis saber.
- Não - respondeu a anêmona - Eu vivo em Pólipopolis, a cidade dos pólipos, quer dizer, das anêmonas.
- E você é animal, vegetal ou mineral? - Pavlov, indiscretíssimo, indagou.
Aí a Cyba Lena gritou alto:- Animal, animal, é melhor e
não faz mal!
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E Pavlov seguiu seu caminho
pelo oceano que parecia infinitocansado de se sentir tão sozinhoe procurando um amor bem bonito
Por que será - se perguntava o grande polvo - que ninguém no mundo é assim como eu?
De repente ele avistou alguém parado no meio da massa do mar.
Era um submarino enguiçado, mas Pavlov pensou que era uma tímida polva que, como ele, tinha o tamanho exagerado.
- Olá, como vai? Tudo bem com você?
Pavlov puxava conversa, passeava na frente do sub, jogava charme, fazia ondinha.
E o submarino nem nada, só ali parado, calado.
Os dias se passaram e Pavlov descobriu que estava apaixonado.
E agora? E agora? E agora? E agora?
E agora? E agora? E agora?57
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Um dia veio outro submarino que fez reparos e colocou óleo naquele que estava quebrado. E os dois saíram juntos pelas águas, lado a lado, foram navegando, navegando...
e foram embora.
E o polvo Pavlov chorou de dor-de-cotovelos, pois pensou que os dois submarinos eram casados.
E ele continuava só.
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Mas aí... mas aí...
ele viu algo incrível!
Ou melhor: alguém incrível!O melhor: uma polva incrível!Uma polva linda e
GIGANTE!
Ela vinha de seu lado cabisbaixa e pensativa.
Parece que ela também se sentia tão sozinha por
ser considerada grande além do que devia.
E aí eles se viram.
Seus olhos se encontraram.
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E então eles sorriram.
E se cumprimentaram.
- Meu nome é Polvo Pavlov.
- Meu nome é Polva Pólvora.
E aí eles dançaram do jeito que queriam,
espalhando muita água e levantando a areia do
fundo do mar. E os peixes e navios, as estrelas e
os ouriços, as baleias e as sereias, as lulas e os
caramujos, os grilos e os passarinhos começaram
a cantar e a sorrir felizes, porque o amor dos dois
polvos gigantes Pavlov e Pólvora agiganta a vida,
é uma usina de alegria, e faz o mar transbordar.
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