o caminho de pernambuco

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O CAMINHO DE PERNAMBUCO Eliane Marques Colchete Luís Carlos de Morais Junior

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Eliane Marques Colchete de Morais e Luis Carlos de Morais Junior

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Page 1: o Caminho de Pernambuco

O CAMINHO DE PERNAMBUCOEliane Marques Colchete

Luís Carlos de Morais Junior

Page 2: o Caminho de Pernambuco

O Caminho de Pernambuco

A moça leu o texto me pediu pela internet eu enviei pra ela e ela leu O Caminho de Pernambuco, depois me falou entusiasmada: "Pernambuco é o paraíso!!"Eu valorizo muito os leitores de todos os tipos, e é claro que a gente sempre considera muito os críticos, aqueles que sabem ver as linhas de força que estão no trabalho, no caso, no romance em versos, brincando com o romance popular nordestino, coisas folclóricas, infantis etc.Ah, mas essa avaliação valeu mais que tudo!! Pernambuco, o menino, que não tem medo, que acredita nos seus sonhos, que sonha, acorda e brinca de magia e poesia, que quer ser poeta, e ama a alegria, todo menino e menina assim é um paraíso, o estado de graça do nordeste brasileiro, onde quer que ele esteja, sendo sempre o mesmo, genuíno e verdadeiro.

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Page 3: o Caminho de Pernambuco

1 – Cantiga de Pernambuco

Triste sinaDo pequeno Pernambuco!

Todo dia assiste assimO sol no cocuruto

Lá na igrejinha brancaOs sinos tocam

Per-nam-bu-co!Per-nam-bu-co!

Como um relógio cucoComo uma foca bate palmaComo uma mula manca

Bate sino

Pernambuco

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Page 4: o Caminho de Pernambuco

2 – A igreja

O padre sempre fala:- Pernambuco, PernambucoVocê precisa de tudoQue o mundo quiser dar

Você veio do nordesteNa barriga da mamãeSua família é modestaVocê é fanho

Fala calo invés de carro(Deve ter a língua presa)Você não sabe contarNão sabe ler

Pernambuco tome jeitoVocê precisa aprenderA ser o que a gentePuder fazer de você! -

E o padre ria amareloBatia em sua cabeça

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Page 5: o Caminho de Pernambuco

Pernambuco olhava pro céuE o sino tocava à bessa

Tava na hora da missaDa hóstiaE da reza

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Page 6: o Caminho de Pernambuco

3 - A escola

A igreja brancaMadrugada rosaA missa acabaPernambuco vai embora

A terra é grande(Maior que a lua)As duas são redondasE o sol é maior que tudo

A tia diziaPernambuco ria

Se você diz: oEscreva uma bolaSe quiser um aNa bola põe um rabo

A tia ensinavaPernambuco sonhava

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Page 7: o Caminho de Pernambuco

Com jogo de bola com piqueCom alçapão que ele armavaCom um gato um porco um patoPassarim canela fina

O Nordeste é uma região do BrasilDe um lado está a BahiaDo outro lado MaranhãoNo miolo Piauí,Ceará, Rio Grande do Norte,Alagoas, ParaíbaE... Pernambuco!

E a turmaExplodia em zombaria,Piparote, cocuruto,

Pernambuco se defendia

E a tia dizia: - ChegaDe bagunça e brincadeira!

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Page 8: o Caminho de Pernambuco

4 – O trabalho

De tarde PernaVai prà vendaDo Seu Manel

E faz entregaVende cheiro-verdeEmbrulha no papel

Vai trocar dinheiroNão pára pra nadaE volta logo

Réstia de cebolaQuilo de batataMeia dúzia de ovo

Só resta(Depois do trabalho)Jogo de bola de meia

É batata

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Page 9: o Caminho de Pernambuco

5 – Outro dia na escola

A tia ensinavaPerna fugia

Trepava na árvoreCatava laranjaTirava bananaTacava limãoNo quintal do Seu João

A tia ensinavaPernambuco nem sabia

- Pernambuco, Pernambuco... -A tia ralhavaA meninada ria

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Page 10: o Caminho de Pernambuco

Um dia entrou na escolaSem ninguém saber de onde vinhaUma menina esquisitaNão falavaNão brincavaNão sorria.

Quem seriaEssa menina?

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Page 11: o Caminho de Pernambuco

6 – A fofoca das matracas

E disse me disseE fala que falaÉ daqui é de lá

Todos querem saberÉ preciso adivinharEla só diz:

“Presente”

Quando a tia chama:Patrícia

Maneco oferece maçã

Jandyra empresta a bonecaMarília fica invejosaNinguém mais quer saber dela

Mas Patrícia não respondeNão brinca, não come,Não nada

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Page 12: o Caminho de Pernambuco

“Patrícia é uma chata!”

A casa é amarelaGrande e bonitaÉ a casa de PatríciaNão fica perto da praçaNão fica perto da igrejaÉ lá perto da estradaÉ quase no fim do mundoNa saída do subúrbio

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Page 13: o Caminho de Pernambuco

7 – Primavera

Como que ele sabe?Porque depois da aulaPernambuco segue elaChega atrasado na vendaSeu Manel não notouSubiu a estradaDepois da missa

Passa por lá

O padre reclamouTem faltado muitoA professora chiouFeito chaleira velhaAntes do caféDepois do jantarNem vai no campinhoVoa passarinho

Ninguém pra matar

Ué!Cadê Pernambuco?Êta menino maluco!

Ele não fala nada

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Page 14: o Caminho de Pernambuco

8 – O presente da Fada

A caminha é de caixasDa loja do Seu ManelPerna pensa que é um fósforoQue acende quando ele sonhaE toda vez que ele fecha os olhosO mundo fica dourado

Aparece uma montanha altaToda feita de cristalNo topo está um palácioQue tem uma porta encantadaDe guarda fica um dragãoDo tamanho do BrasilPerna pergunta:“Posso passar?”O Dragão responde:“Só se a Fada deixar”

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Page 15: o Caminho de Pernambuco

De repente o céu fica amareloE verde e azul e vermelho

Explode uma chuva de estrelasQue caem num pó prateadoA porta se abreO palácio somePatrícia apareceNa montanha enorme

Vestida de rosa

Dos pés à cabeçaUma coroa de jóiasBrilhando na testa“Pernambuco” ela falaE começa uma festa

A galinha toca cornetaO marreco dança com a pataA minhoca senta na cadeira

E começa a cantar uma ópera

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Page 16: o Caminho de Pernambuco

Peixinhos azuis fazem baléUm galo vestido de baileApita

triiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmmmm

O relógio acordaPerna pula da cama

Que sonho encantado!Só pode ser presente da Fada

Patrícia é a Fada

Da Montanha de Cristal

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Page 17: o Caminho de Pernambuco

9 – A casa

Pai de pedraMãe de fogo e água

O pai constróiA mãe cozinha e lava

Um galo sóLevanta o solDe tão alto que éO seu cocoricó

Uma irmã pequenaUm gato fujãoUm cachorro velhoUm bruxo de pano

Seis cadeiras e uma mesaRádio e geladeiraO pai está juntando dinheiroPra comprar uma tv

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Page 18: o Caminho de Pernambuco

O amigo do pai é o ZéQue faz cordelNaquela noite Pernambuco não dormiuOuvia as poesias do amigoCom os olhos brilhando

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10 – O tombo bom

Jamelão é uma fruta engraçadaToda preta deixa a língua roxaBem pequenina, a árvore é altaCheia de galhos,Tão bom de subir!

É coisa de FadaTer um pé de jamelão no quintalPernambuco pensa lá em cima:

Tão bom estar aqui!

Lá vem PatríciaA menina FadaEla pára embaixo da árvoreO vento tremelica o galhoQue tremelica PernambucoDe nervoso

CATAPLUM!UÁÁÁÁÁÁÁÁUUUUUU!ÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁIIIIIIIIIIII!

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Page 20: o Caminho de Pernambuco

Tombo,Berro,Susto.

Pernambuco olha Patrícia

Que olha Pernambuco

Que fica nervoso como fizesse mal-feito

De espiar a meninaQue tomou um susto daqueles

O vento sopra e ninguém falaPatrícia encabula olhando pro chãoQue horror!Do joelho de PernaSai um sangue vermelhinho

- Machucou?

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Page 21: o Caminho de Pernambuco

- Foi nada, não!- Deixa eu limpar.- Nem dói!- Que nada, isso arde.

Ela leva PernambucoPara a tia medicarNo caminho vão contandoHistórias gozadas do tombo.

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11 – A Fada ao vivo

- Se você não é fadaEu sou um sapoQue virou príncipeFantasiadoDe paraíba

- Se você é paraíbaO Nordeste deve ser bem bonito

- Se você é FadaFaz chover mingauFaz o sol vir aquiBrincar de batalha navalFaz criança poder casarFaz minha mãe ter tvFaz o mundo rodearCom a gente dentroNo meio do mundo enormeTão enorme

E dizem que ainda tem mais

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Page 23: o Caminho de Pernambuco

- Eu não sou fada nãoBem que gostariaMas eu já vi um velhoQue mora sozinhoQue eu acho que é um bruxoTerrível

- Você pode não ser fadaOu pode estar disfarçadaE não querer me contarPelo sim e pelo nãoEu vou te chamar de FadaSó de Fada eu vou te chamar

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Page 24: o Caminho de Pernambuco

12 – Mãe x tia

Tia: Não presta atençãoNão faz o dever

Nem vem mais às aulas,Que se há de fazer?

Mãe: Menino danadoSe dá castigo ele someSe bate ele diz: “Não choro”Se eu choro ele diz: “Melhoro”

E vai ver, fugiu da escola!

Tia: Bater não se deveCastigo é melhorPra dizer taboadaAté recitar de cor

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Mãe: Copia cem vezesO dois vezes dois,Eu disse para ele,E mostre depoisO tinhoso me volta

Com cópias xerox!

Tia: O jeito é deixarSem sobremesa...

Mãe: Só se tirarO que tem na mesa!

Tia: Não deixe entãoVer televisão!!!

Mãe: Só se mudando

O canal do patrão.

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13 – O bruxo

Patrícia mostrou a estradaPé no medo - e se ele vê?No meio do mato altoQuatro olhos espionam

Demora um pouco de nadaTudo em volta é silêncioAté que acontece algoEle abre a porta do pátio

Velho curvado resmungaCospe fuma cachimbo

Olha tudo e ri baixo

Vira e volta pro buraco.- Acha que ele enxergou?- Claro! Ele é um bruxo!

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14 – O pai

O pai cabisbaixoSentado na salaNa hora do almoço

A mãe nada falaE serve uma sopaDe galinha com osso

Perna se assuntaPergunta e espiaÉ tudo esquisito

Será se é porqueEle não quer aprender?

Será que é doença?O menino pensa.

No dia seguinteEle descobre sozinhoSeu Manel contou

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Que o Seu João disseQue o pai perdeu o emprego.

Era só isso?

Se é, não tem mosquito!Seu Manel tem sempre serviço.

Seu dinheiro não dá,A mãe explica.Pernambuco responde:É preciso pensar.

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15 – A ideia

Antes da estrada tinha uma fazendaNa fazenda tinha um engenho velhoPerto do engenho ficava um rioCom um caminho que dava na estrada

Perna levava Patrícia no rioPara cismarem segredos do bruxoMas a Fada estava tristinhaE Pernambuco caladão

Tinham ideias para arranjar dinheiroTinham medo do pai querer voltarE Pernambuco ir para PernambucoPernambuco, PernambucoA Fada falava baixinhoAté os peixes estavam quietosPara não atrapalhar o pensamento

Perna queria pedir à FadaUm jeito do pai arranjar empregoMas ficava com pena

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Page 30: o Caminho de Pernambuco

A Fada queria ser fadaPara fazer uma mágicaUma mágica!Mágica de bruxoO bruxo faz mágicaPedir mágica ao bruxoA Fada falava no maior entusiasmoQue tinha inventado uma idéia

Então combinaram de levar:

2 cordões de dentes de alho1 crucifixo1 terço2 medalhinhas de Santa Bárbara(Para proteger o Anjo da Guarda)

E 1 gato preto(Para dar de presenteE agradar o bruxo)

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Page 31: o Caminho de Pernambuco

16 – O pedido

No meio do mato entre galinha e pato com sapato furado

Amuleto e gato Pernambuco e Patrícia com medo e perícia

Procuram o bruxo na casa afastada onde gritam e batem

Palmas “ó de casa” até que a porta se abre

E o bruxo vem falar. Os dois não saem correndo porque

Estão com as pernas paralisadas de pavor.

O velho diz: - Sim? Boa tarde. O que vocês desejam?

O menino diz: - Eu quero conhecer o mundo todo.

- E eu com isso? - disse o velho.- O senhor é um bruxo. Eu sei.O velho riu de boca fechada.O tempo fechou.Patrícia amarrou a cara.Tudo em volta desapareceu.

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- Você se esqueceu de dar o gato preto!Estavam em algum lugar estranho.

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Page 33: o Caminho de Pernambuco

17 – As inglaterras da vida

Em algum lugar estranhoOnde o dia está nascendoE as pessoas todas fazemMovimentos muito lentosEm homenagem ao solOnde só de bicicletaSe pode andar pelas ruasTodas cheias de chineses(Não só nas pastelarias)Mas onde o guarda é chinêsO vendedor é chinêsAs crianças são chinesasE o cachorro é pequinês.Zuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuum!

E já estão em outro cantoOnde uma voz apaixonadaSob o sol da meia-noiteCanta: ‘Olhos negros, te amo.”

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Page 34: o Caminho de Pernambuco

Mas o cara canta em russoE eles não entendem “kak iá vas

lhiublhiú!”ZUUUUUUUUUUUUUUUUUMMMK!

Isso aqui é França!Patrícia metida a espertaSabe o que é Torre EiffelE Torre Inclinada de Pisa(Isso foi em Pisa, é claro,E Pisa fica na Itália,Mas a viagem é rápidaE tudo se embaralha.)

- Não tem graça! Parece tv!

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Page 35: o Caminho de Pernambuco

18 – O novo pedido

- Agora você vai falar com eleQue história foi aquela de pedir pra

viajar?- Não sei o que me deu. Meu pai perdeu o

empregoTantas vezes, que eu não quis desperdiçar

o bruxo.- Mas a gente não lhe deu o gato pretoAinda há uma chance que ele atenda seu

pedido.- Certo.

O velho surgiu nítidoNas retinas dos olhidos do meninoE da bela menina. E disse seu nome:- Antão Bartholomeu Gusmão Romeu

Avone- Prazer.- Muito prazer.

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Page 36: o Caminho de Pernambuco

- Meu nome é Pernambuco.- O meu nome é Patrícia. Delícia de

viagem.Mas dava pro senhor fazer outro favor?

E Pernambuco, antes que ela falasse:- Nós queremos conhecer o espaço

sideral!E tudo em volta desapareceu.

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19 – Perdidos no Espaço

Uma luz muito claraQue não machuca a vistaUm calorzinho gostosoE um cheiro de amendoimFaziam as crianças sentiremUma cosquinha na boca

Onde estavam?

Numa cadeira reclinávelNo meio do espaço sem fim

De repenteOlharam para baixoEstavam numa sala com sintecoE ali pertinhoUma aranha jogava bola de gude

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De repenteOlharam para cimaChovia uns pinguinhos de prata

E Patrícia vestida de fada

Estavam no sonho de Pernambuco

De repenteOlharam em voltaHavia uma névoa cor-de-rosaE um bichinho muito engraçadoVoava na névoa e mudava de cor

De repente- Ué! Para onde vamos olhar agora?

E estavam ali no quintal

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Page 39: o Caminho de Pernambuco

20 – O último pedido

- Dessa vez eu peço, juro! -Pernambuco em apurosPatrícia ultra da vidaDesse menino malucoQue não faz nunca o devidoE que não pede pro bruxo

Um emprego pro seu pai.- Aí vem ele, Pernambuco!

O velho chegou bem sérioE falou: - Foi tudo oquei?- Muito linda essa viagemPelo espaço, Seu Antão.Será se seria abuso, não sei...

- Eu concedo outro pedido

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Só mais um.Este é o ÚLTIMO!

E Pernambuco gritou apressado;- Eu quero o FUTURO!

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Page 41: o Caminho de Pernambuco

21 – O futuro

Discos voadores particularesUm trânsito sobre a cidade.Sons que saem de todos os lugaresLuz branca sem eletricidade.

Pula.

E pequenos seres lilás(Ou melhor: furta-cor)Nem melhor nem piorSão os caras atuais.

Pula.

Índios de tanguinhaCauim & Cauim

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Tribo na guerra do acajuPiolho, rede, sururu.

Pula.

Cidade de concretoHomens neuróticosNão, são robôsOs homens agora vivem no mato.

O futuro pula pula pula

Perna & Patri não entendem nada

O futuro pode ser tudoPula pula pula pula

Exato

Feito um sapo

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22 – Cadê?

Lá no rio da fazenda(Lembram-se?)Patrícia e PernambucoUm fala outro escutaDiscutem e calamCisma - resmungo - esperançaDecidem:

- Vamos tentar.

Lá na curva da estradaAndam correm vão emboraCom medo vergonha e pressaVão pedir mais um pedidoSó mais unzinho só

Afinal, vocês viram?O pai de PernambucoAinda está desempregado!

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Page 44: o Caminho de Pernambuco

Uma linda casa rosaUm casarão enormeUma piscina azul cheia de peixes rarosTambém um viveiro de pássarosDe todas as coresE todas as floresQue jardim tem.

Como tudo mudou!

Bateram. Veio uma moça

E Perna perguntou:

- Cadê Seu Antão?- Não mora aqui não.

- O Seu Bartholomeu?- Não é parente meu!

- E o Seu Gusmão?- Não conheço não.

- Pô! E o Romeu?

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- Nunca aqui se viu.

- Onde foi o Seu Avone, então?- Não sei nada não.

Ela fechou o portão.Eles se foram.O bruxo desapareceuNo ar, que nem bolha de sabão.

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23 – O caminho de Pernambuco

- Um bruxo daqueles tambémNão ia ajudar ninguém!

- Todo confuso e erradoFoi melhor não ter pedido!

Consolo de pobre é

Coçar o bicho do pé.

Pernambuco perdeu a chanceEntão deixou pra lá, com elegância.

Foi pra casa triste simMas foi sorrindo

E pelo caminhoQuem ia passandoIa pensandoEm suas vidasSem repararNo menino

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Page 47: o Caminho de Pernambuco

Bonzinho

Que ia

AliE ia em frente

Sempre

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24 – Surpresa!

Ao chegar em casaQueria só ir sonharCom a FadaOu com qualquer coisa.

Mas tinha festaTinha alegriaO Zé cantavaSeu pai sorria

O Zé é bom amigoE arranjou um bicoPro pai de PernambucoVender folheto de cordel com eleNa feira nordestina

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Tinha tanta coisa boa, gente!“O Verdadeiro RomanceDo Herói João de Calais”(De Severino Borges)“Bom Tempo não Volta Mais”(De Apolônio Alves dos Santos)“Abidala e Edileusa”(De Severino dos Santos)E o “Trem da Madrugada”(De José João dos SantosDe codinome Azulão.)E o esperto “Cancão de Fogo”(De Leandro Gomes de Barros)

E a maravilhosa história“Dum Pavão MisteriosoQue levantou voo da Grécia,Com um rapaz corajoso,Raptando uma condessa,Filha dum conde orgulhoso”(De José Camelo de MeloResende, poeta à bessa).

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25 – Pernambuco vai à luta

Bela sinaDo pequeno Pernambuco!

É ele que faz seu caminhoCom o coração.

Longe da sina e do sinoLonge de qualquer pecadoPernambuco desde meninoJá era um cabrito marcado

Pra viverE fazer poesiaE fazer cantoria no meio da praçaCanta rima Pernambuco

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Page 51: o Caminho de Pernambuco

E o povo que passaPode ter um momento feliz

E Patrícia

Bate palma, entusiasmada.

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O POLVO PAVLOV

Eliane Marques ColcheteLuís Carlos de Morais Junior

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Page 53: o Caminho de Pernambuco

No mar aberto, longe das praias do litoral, vive um polvo muito especial. Ora, me perguntará você, especial em quê?

Bem, primeiro eu posso dizer que esse polvo tem um nome.

Sim, como todos os bichos, ele tem a sua língua, e em sua língua de polvo ele sempre falou.

E o seu nome é polvo Pavlov.

No dia em que o polvo Pavlov nasceu os seus pais ficaram em polvorosa.

Ora, e por quê? - pode perguntar você.

É simples: quando Pavlov nasceu e ainda era um bebê ele já tinha o tamanho de um polvo adulto!

Ele não tinha culpa!E desde o primeiro dia ele

danou a crescer sem parar!Todos na Cidade dos Polvos...

(pois eles viviam numa grande cidade no mar, que aliás se chamava

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Page 54: o Caminho de Pernambuco

POLVÓPOLIS

- pois polvo quer dizer polvo e pólis quer dizer

cidade.)

Pois bem, como eu dizia, a cidade inteira comentava cheia de espanto o tamanho gigante daquele menino polvo.

O povo gosta de falar:- Eu acho que ele não se

manca!- Eu acho que ele é gigante!!- E se ele quiser nos agarrar!!!Mas o povo dos polvos é tão

preguiçoso que logo se cansou de fofocar, e foram todos fazer suas coisas e deixaram o Pavlov pra lá.

Polvo gosta de dançar com todas as suas pernas uma dança lenta e bem elegante.

Polvo também gosta de brincar de cometa nadando com os

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Page 55: o Caminho de Pernambuco

tentáculos juntos como se o oceano fosse o cosmos.

E polvo gosta de passear.Pavlov se sentia sozinho

porque ninguém queria passear, conversar e brincar com ele.

Então ele ficava passando de lá pra cá, conversando consigo mesmo.

Mas Pavlov foi ficando crescido (mais crescido ainda!) e agora ele queria porque queria... uma namorada!

Um dia ele viu uma pequenina anêmona, que é um bicho assim:

Y

e que fica grudada no chão do mar.

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Page 56: o Caminho de Pernambuco

Pavlov perguntou pra ela:- Por que você está de cabeça

pra baixo? Está fazendo ioga?E tentou desvirá-la.Ela gritou:- Me larga!Então ele perguntou:- Você não é um polvo?Ela riu e disse:- Não! Eu sou uma anêmona-

do-MAR e meu nome é Cyba-Nêmo Lena, mas pode me chamar de Cyba Lena.

- Você vive aqui sozinha? - Pavlov quis saber.

- Não - respondeu a anêmona - Eu vivo em Pólipopolis, a cidade dos pólipos, quer dizer, das anêmonas.

- E você é animal, vegetal ou mineral? - Pavlov, indiscretíssimo, indagou.

Aí a Cyba Lena gritou alto:- Animal, animal, é melhor e

não faz mal!

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Page 57: o Caminho de Pernambuco

E Pavlov seguiu seu caminho

pelo oceano que parecia infinitocansado de se sentir tão sozinhoe procurando um amor bem bonito

Por que será - se perguntava o grande polvo - que ninguém no mundo é assim como eu?

De repente ele avistou alguém parado no meio da massa do mar.

Era um submarino enguiçado, mas Pavlov pensou que era uma tímida polva que, como ele, tinha o tamanho exagerado.

- Olá, como vai? Tudo bem com você?

Pavlov puxava conversa, passeava na frente do sub, jogava charme, fazia ondinha.

E o submarino nem nada, só ali parado, calado.

Os dias se passaram e Pavlov descobriu que estava apaixonado.

E agora? E agora? E agora? E agora?

E agora? E agora? E agora?57

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Page 58: o Caminho de Pernambuco

Um dia veio outro submarino que fez reparos e colocou óleo naquele que estava quebrado. E os dois saíram juntos pelas águas, lado a lado, foram navegando, navegando...

e foram embora.

E o polvo Pavlov chorou de dor-de-cotovelos, pois pensou que os dois submarinos eram casados.

E ele continuava só.

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Page 59: o Caminho de Pernambuco

Mas aí... mas aí...

ele viu algo incrível!

Ou melhor: alguém incrível!O melhor: uma polva incrível!Uma polva linda e

GIGANTE!

Ela vinha de seu lado cabisbaixa e pensativa.

Parece que ela também se sentia tão sozinha por

ser considerada grande além do que devia.

E aí eles se viram.

Seus olhos se encontraram.

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Page 60: o Caminho de Pernambuco

E então eles sorriram.

E se cumprimentaram.

- Meu nome é Polvo Pavlov.

- Meu nome é Polva Pólvora.

E aí eles dançaram do jeito que queriam,

espalhando muita água e levantando a areia do

fundo do mar. E os peixes e navios, as estrelas e

os ouriços, as baleias e as sereias, as lulas e os

caramujos, os grilos e os passarinhos começaram

a cantar e a sorrir felizes, porque o amor dos dois

polvos gigantes Pavlov e Pólvora agiganta a vida,

é uma usina de alegria, e faz o mar transbordar.

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