o bullying na perspectiva de estudantes vÍtimas...
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O BULLYING NA PERSPECTIVA DE ESTUDANTES VÍTIMAS,
AGRESSORES E TESTEMUNHAS – UM ESTUDO DE CASO
REALIZADO NO ENTORNO DE BRASÍLIA
DIÓGENES, Meirielle Castro1 - UCB
LIRA, Adriana2 - UCB
Grupo de Trabalho – Violências nas Escolas
Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este artigo teve como principal objetivo averiguar a ocorrência de bullying na escola, considerando que seu seus efeitos são graves não apenas para as vítimas, mas também para as testemunhas e mesmo para os agressores; todas vítimas, conforme consideram Ortega e Del Rey (2002) e, ainda, averiguar o que faz a escola para lidar com ele. Apesar dos vários estudos já realizados, verifica-se que o fenômeno do bullying é ainda um problema preocupante para os pais e para a escola, já que ele continua sendo praticado com frequência por crianças e pré-adolescentes. Com base nisso, estas autoras buscaram por meio de pesquisa quantitativa, averiguar qual a percepção dos estudantes acerca deste fenômeno. O questionário, elaborado a partir da literatura, era composto de questões abertas e fechadas, permitindo analisar o perfil dos estudantes vítimas e agressores de bullying e ainda levantar informações junto aos estudantes (vítimas, autores e testemunhas) que pudessem contribuir para a análise do fenômeno bullying na escola e elaborar este artigo de conclusão de curso que pode colaborar com os professores, gestores e pais, interessados na superação deste problema. Os resultados evidenciaram que o bullying ocorre de forma muito naturalizada no espaço da escola, devendo, pois a escola investir mais no trabalho de prevenção e acompanhar mais de perto os casos que ocorrem na escola que é um mal para todos os envolvidos no papel de vítima, autora ou testemunha. Palavras-chave: Violência Escolar. Bullying. Autoria. Vitimação. Testemunha.
1 Graduada em Pedagogia pela Universidade Católica de Brasília (UCB). E-mail: [email protected]. 2 Mestre e Doutoranda em Educação pela Universidade Católica de Brasília - UCB. Professora adjunta da UCB e Secretaria Executiva da Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e Sociedade da mesma Universidade. E-mail: [email protected].
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Introdução
De acordo com o artigo 5º da Lei 8.069/90 do Estatuto da Criança e do Adolescente
(cf. BRASIL, 2008), nenhuma criança ou adolescente deverá ser objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da
lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus diretos fundamentais. A mesma Lei (cf.
BRASIL, 2008) prevê em seu artigo 17º que o direito ao respeito consiste na inviolabilidade
da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação
da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos
pessoais. Entretanto, verificamos que esta e tantas outras Leis acabam não sendo seguidas
mesmo no espaço educativo da escola, já que ouvimos diariamente que a violência está a
ocorrer no espaço escolar, sem escolher a classe social, o sexo, idade e credo. Noticiários
diários, na mídia televisam diversos meios de comunicação, anuncia que tem sido comum a
prática de palavrões, xingamentos, agressões físicas e verbais, ameaças entre alunos e alunos
contra educadores e depredação do patrimônio, comprometendo, pois a identidade espaço
educativo. Essas ocorrências agressivas, segundo Chalita (2008), caracterizam o bullying,
termo bastante explorado na literatura e mesmo assim não muito conhecido pelo público em
geral e mesmo na escola (SILVA, 2010). De acordo com Chalita (2008), o bullying direto é o
que é mais comum entre os agressores meninos sendo frequentes, palavrões, tapas,
xingamentos, murros e etc. O bullying indireto é o que existe entre o sexo feminino e crianças
menores, fazendo com que a vítima se isole caracterizado por intrigas, fofocas, rumores sobre
as vitimas e os familiares, entre outros. Por isso, é indispensável que a família e a escola se
unam para enfrentar esse mal, chamado bullying, que está presente em nosso país e tem
aumentado a cada dia. Sobretudo, é necessário que pais e educadores tenham um olhar atento,
amoroso, sensível, paciente, carinhoso, para que saibam acolher as angústias e os medos de
uma pessoa que sofre o bullying, e não apenas ajudar a vítima, mas também ajudar os
agressores. Quem pratica também é uma vítima que pode ter sido agredido dentro de casa, na
rua, com isso ela acaba agredindo, porque foi agredido e é uma forma dele descontar a sua
agressão em cima de outra pessoa.
Não pretendemos aqui aprofundar a violência, assim, consideramos importante
apresentar a definição de Lopes Neto (2005), que considera o termo violência escolar todos os
comportamentos agressivos e antissociais, incluindo os conflitos interpessoais, danos ao
patrimônio, atos criminosos, etc. Entre os diferentes tipos de violência existentes, destacamos
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uma que tem despertado interesse dos educadores, professores, psicólogos e pais. Estamos a
falar da violência no meio escolar, sendo esta designada como bullying. Muito embora não
seja um fenômeno novo, nos últimos anos a violência nas escolas tornou-se num tópico de
investigação mediática, na sequência de atos de violência realizados por crianças e
adolescentes (ALMEIDA, 2003). Com isso, a violência é frequentemente confundida com
outros termos, que se descreve a termos semelhantes como maus tratos ou sendo igual à
bullying ou agressão. Portanto, o foco é a violência física ou verbal que tem atingido a
maioria de nossos estudantes. O termo violência escolar diz respeito a todos os
comportamentos agressivos e antissociais, incluindo os conflitos interpessoais, danos ao
patrimônio, atos criminosos, etc. Muitas dessas situações dependem de fatores externos como,
por exemplo, os problemas de violência da sociedade, a desestruturação familiar etc., cujas
intervenções podem estar além da competência e capacidade das entidades de ensino e de seus
funcionários. Porém, para um sem número delas, a solução possível pode ser obtida no
próprio ambiente escolar. Com isso, o bullying passa a ser um tipo de violência que envolve
todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que acontecem sem motivação evidente,
tomadas por um ou mais estudante contra outro(s), ocasionando dor e angústia, sendo
efetuadas em uma relação desigual de poder. As agressões podem ser de natureza física,
psicológica ou sexual. É uma forma de afirmação de poder interpessoal por meio da agressão
que têm consequências negativas para o desenvolvimento psíquico e cognitivo dos estudantes
(LOPES NETO, 2005).
Preocupada com a ocorrência de violências no espaço escolar, as autoras dedicaram-se
a averiguar no contexto da periferia de Brasília informações junto aos estudantes do ensino
fundamental sobre o bullying na escola a partir dos seguintes personagens: testemunhas,
vítimas e agressores, apresentando um breve apanhado sobre o problema em pauta e, em
seguida, os resultados de pesquisa, finalizando com as principais considerações que possam
contribuir para os gestores, professores e pais no sentido de aperfeiçoar as ações da escola
para superação do bullying como uma das formas de manifestação das violências.
A preocupação destas autoras é que a escola é primeiro lugar de socialização da
criança depois da família e ainda os efeitos nocivos das violências para estado psíquico dos
estudantes (Cf. MINAYO, 2003) e para o trabalho da escola já que se torna um ambiente
inseguro em que todos temem0 serem vítimas. Portanto, a instituição não pode ser conivente
com este problema.
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O fenômeno bullying – uma das formas de violência escolar
No mundo em que estamos a cada dia a violência escolar tem aumentado em nossas
escolas, não importa a classe social a que pertencemos, acabam surgindo palavrões,
xingamentos, provocações verbais e agressões físicas e verbais, depredações do patrimônio
escolar, ameaças entre alunos e alunos contra professores e vice versa, com isso acaba
surgindo, o principal problema que tem afetado a maioria de nossas escolas, o fenômeno
bullying.
De acordo com Silva (2010), o bullying é um fenômeno de origem inglesa e sem
tradução ainda no Brasil, é utilizado para qualificar comportamentos agressivos no âmbito
escolar, praticados tanto por meninos quanto por meninas. Os atos de violência (física ou não)
ocorrem de forma intencional, repetitivo contra um ou mais alunos que se encontram
impossibilitados de fazer frente às agressões sofridas. Tais comportamentos não apresentam
motivações específicas ou justificáveis. Em última instância, significa dizer que, de forma
“natural”, os mais fortes utilizam os mais frágeis como meros objetos de diversão, prazer e
poder, com o intuito de maltratar, intimidar, humilhar e amedrontar suas vítimas.
O bullying é um fenômeno universal e democrático, pois acontece em todas as partes
do mundo onde existem relações humanas e onde a vida escolar faz parte do cotidiano dos
jovens. Ainda segundo Chalita (2008) e Fante (2005), o bullying consiste em atitudes
agressivas, físicas e psicológicas, frequentes, intencionais, sem motivação aparente que ocorre
entre iguais numa relação desigual de poder. Embora seja uma ocorrência maior entre
crianças ou adolescentes no ambiente escolar, ele pode ocorrer entre os adultos. Para Fante
(2005), o bullying evidencia-se pela “desigualdade entre iguais”, resultando num processo em
que os mais fortes projetam sua agressividade com requintes de perversidade e de forma
despercebida dentro da mesma escola.
De acordo com Fante (2005), é partir da década de 90 que surge o fenômeno bullying
para definir a violência entre os pares. Entretanto, verifica-se em Relatório de Pesquisa
“Bullying escolar no Brasil” de 2010, em pesquisa coordenada por Fischer (2010), que é a
partir do segundo milênio que o fenômeno do bullying ganhou projeção na mídia nacional e
internacional, sendo largamente difundido nos meios digitais, com a criação de inúmeros sites
na internet sobre a temática. O mesmo relatório (Cf. FISCHER, 2010), registra alto índice de
bullying na região Centro-Oeste com estudantes autores e vítimas do bullying.
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Este fenômeno não é, segundo Fante (2005), um fenômeno muito recente, por se tratar
de uma forma de violência que sempre existiu nas escolas – onde os bullies (agressores)
continuam a reprimir e a amedrontar as suas vítimas, por motivos banais e que até hoje ocorre
despercebida da maioria dos profissionais educativos. Ainda de acordo com Fante (2005), o
estudo do bullying é pertinente, pois cada vez mais se verificam casos de violências cometidas
por estudantes na escola, embora venha sendo explorado nos últimos anos. Portanto, torna-se
um desafio um desafio descobrir o que levam os estudantes a prática do bullying que expõe e
fragiliza o colega. Afeta a maioria das escolas, ocorrendo de diferentes formas e por diversos
motivos. Porém, este fato ainda é banalizado pelos adultos que veem como coisas de crianças
e adolescentes e, por isso, não interferem para resolvê-lo, encarando com um problema deles.
O modo mais frequente de maus tratos entre alunos é a agressão verbal por meio de
apelidos e xingamentos, passando a ser forma rotineira entre os estudantes. (Cf. FISCHER,
2010). Estas ocorrências quando não resolvidas geram violências ainda mais graves entre os
estudantes que não sabem resolver seus conflitos por meio do diálogo, conforme propõe Jares
(2002). Daí a importância do professor para mediar os conflitos entre os estudantes por meio
do diálogo (JARES, 2002), para que aprendam a conviver com os outros (FERNANDEZ,
2005).
Dessa forma, Fernandez (2005) considera que quando há interesse de uma das partes,
a pessoa acaba não tendo afeto, amor, empatia pessoal, vive e cresce em um ambiente de
desarmonia, aí acaba surgindo à violência, que poderá afetar pelo menos dois protagonistas:
aquele que exerce e aquele que sofre a violência. Aquela pessoa que exerce a violência, talvez
tenha passado por uma violência em sua infância, agora esteja querendo descontar toda a sua
raiva em pessoas indefesas, que não sabem se defender por estarem sentindo medo e não
consiga enfrenta-lo, se não tiver o apoio de alguém que observe e veja o que está acontecendo
ao seu redor. Ainda mais quando assumimos que este fenômeno da violência, o que
procuramos compreender é uma agressividade sem nenhum sentido, seja biológico ou social:
injustificada e cruel que Rojas Marcos (1995) denominada como agressividade maligna.
Silva (2010), por sua vez destaca que as consequências do bullying são as mais
variadas possíveis e dependem muito de cada indivíduo, da sua estrutura, de vivências, de
predisposição genética, da forma e da intensidade das agressões. No entanto, todas as vítimas,
sem exceção, sofrem com os ataques de bullying (em maior ou menor proporção). Muitas
levarão marcas profundas provenientes das agressões para a vida adulta, e necessitarão de
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apoio psiquiátrico e/ou psicológico para a superação do problema. Entre as várias
consequências, verifica-se que os problemas mais comuns são: desinteresse pela escola;
problemas psicossomáticos; problemas comportamentais e psíquicos como transtorno do
pânico, depressão, anorexia e bulimia, fobia escolar, fobia social, ansiedade generalizada,
entre outros. O bullying também pode agravar problemas preexistentes, devido ao tempo
prolongado de estresse a que a vítima é submetida. Em casos mais graves, podem-se observar
quadros de esquizofrenia, homicídio e suicídio. Entretanto, verifica-se que crianças e
adolescentes são vítimas das violências no próprio seio familiar, assim averiguaram alguns
estudos brasileiros (cf. MENEGHEL; GIUGLAINI; FALCETO, 1998; MALDONADO E
WILLIAMS, 2005; SISTO, 2005).
Maldonado e Williams (2005) verificaram que os casos de autoria do bullying no
espaço escolar estavam associados aos casos de vitimação na família, isto é, concluiu que o
comportamento agressivo das crianças na escola poderia ser considerado como “um pedido de
ajuda” das mesmas, já que a apresentação de comportamento agressivo pode ser considerado
um indicador de que a criança se encontra em situação de risco, frente à exposição à violência
severa. Este estudo alerta para a necessidade de se desenvolverem para a necessidade de
serviços de prevenção e intervenção em relação às crianças em situação de tal risco. Este fato
revela a importância de uma maior iteração entre a família e escola já que é comum ocorrer
quase sempre uma responsabilização entre as partes.
O fato é que seja na posição de testemunho, vítima ou autor, todos têm seu
desempenho comprometido pelas tensões provocadas pelas violências, aspectos melhor
explorados a seguir e a sua formação moral influenciada negativamente.
Os personagens do bullying na escola - expectador, vítima e agressor
Cunha e Weber (2010) destacam que em qualquer uma dessas posições (expectador,
vítima ou agressor) tem o seu bem-estar comprometido já que as ocorrências têm efeito na
saúde psíquica dos estudantes. Assim, verifica-se que as violências têm custos para os
envolvidos e para a sociedade. Assim, Ortega; Del Rey (2002) consideram todas as vítimas
das violências. Entretanto, a seguir apresentamos individualmente as características de cada
um deles.
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O estudante testemunha ou expectador
As testemunhas, de acordo com Lopes Neto (2005), são os alunos que não se
envolvem diretamente em atos de bullying e geralmente se cala por medo de ser a próxima
vítima ou porque sente prazer em ver a agressão entre os pares. Também conhecido como
expectadores, os estudantes testemunha presenciam a prática de violência é de uma forma
afetado negativo já que as ocorrências geram medo e insegurança e ainda porque aprendem a
resolver os seus conflitos reproduzindo o que veem. Estudos tentam explorar este papel
ocupado por aqueles que não se envolvem diretamente. Alguns agem com silêncio outros até
se “divertem”, apóia os agressores. Tal silêncio é às vezes, interpretado como afirmação de
força. Esta posição, tal qual a de agressor ou vítima tem impacto negativo sobre o
comportamento dos estudantes que assistem incidentes de vitimização.
Para Chalita (2008), os expectadores assistem toda a violência dos agressores sem
ajudar em nada, preferem ficar só olhando, talvez por sentirem medo e preferem se esquivar.
O estudante vítima
De acordo com Olweus (1998), o aluno é vítima de bullying quando está exposto
constantemente e durante boa parte do tempo a ações negativas por parte de um aluno ou de
um grupo de alunos. Neste caso, Pereira (2000) considera que são vítimas ou estudantes direta
e indiretamente nas ocorrências de violências, entretanto, ambos são muito graves e provocam
imensos danos às suas vítimas. Geralmente, as vítimas, segundo Silva (2010), de forma geral,
já apresentam algo que difere do grupo (são tímidas, introspectivas, nerds, muito magras; são
de credo, raça ou orientação sexual diferente etc.). Estudos realizados comprovam que os
meninos são vítimas de bullying com maior frequência do que as meninas assim concluíram
Olweus (1998) e Fischer (2010). No que se refere à idade, Sebastião (2009) verificou em
pesquisa em Lisboa que as vítimas estão mais concentradas entre os 10 e 14 anos.
Ainda segundo Fischer (2010), os estudantes vítimas são geralmente aqueles sem voz
ativa e com perfil psicológico mais inibido e tímido. Outro aspecto se refere também às
características físicas marcantes, tais como o uso de óculos, sobrepeso ou até mesmo a cor da
pele.
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Para Chalita (2008), as vítimas são escolhidas às vezes por serem pessoas geralmente
fracas, que sofrem humilhações, ameaças, intimidações e acabam sendo os mais inseguros que
não conseguem enfrentar seus agressores por medo.
Ao analisar as posições de autoria, Calbo (2009) detectou que 66,67% eram meninos e
no que se refere à vitimação também foi elevado o número de meninos 80% eram do sexo
masculino já que eles se envolvem ainda mais em ocorrências de violências.
O estudante agressor
Para Chalita (2008), os agressores que são aqueles que gostam de se amostrar,
precisam de plateia e se sentem os valentões, mas não podemos esquecer que eles também
podem se tornar uma vítima do seu próprio medo, por já terem passado por sofrimentos, com
isso eles acabam tendo que escolher suas vítimas para descontarem suas raivas.
Segundo Olweus (1998), o agressor é aquele que vitimiza os mais frágeis, costuma
manifestar pouca empatia e pouca compreensão pelos problemas dos colegas. Geralmente tem
necessidade de subjugar e dominar os colegas manifesta necessidade de conseguir o que se
propõe a custo de ameaças, geralmente tem baixa resistência à frustração e é impulsivo.
Sebastião (2009) verificou em pesquisa em Lisboa que ao contrário das vítimas, os
agressores que tendem ser mais velhos (13 a 15 anos) e de séries mais avançadas. Tendem,
segundo Olweus (1998), a ser mais velhos, de séries mais avançadas e do sexo masculino.
Entretanto, diversas pesquisas registram casos que as meninas também são agressoras embora
em menor percentual. Elas tendem a ficar invisíveis por se tratar a indisciplina mais um
comportamento masculino (cf. OLWEUS, 1998; LIRA, 2010)
Calbo (2009) verificou que meninos tendem a serem mais autores e vítimas que as
meninas porque se envolvem mais nas violências.
De acordo com Fernandes (2005), a psicologia sempre tentou descobrir de fato, porque
as pessoas agem de uma maneira tão agressiva. Essa e outros autores no campo da Psicanálise
(cf. p. ex., AMORETTI, 1992) explicam que a agressividade é um componente próprio da
pessoa que não pode, portanto, ser ignorado na escola, mas considerado também vítima. A
Psicanálise nos ajuda a compreender o desenvolvimento dos indivíduos e, desta forma, o que
está por traz dos comportamentos violentos.
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Metodologia
Esta pesquisa, que teve o próposito de verificar o bullying na perspectiva de
estudantes, é de natureza descritiva e exploratória, desenvolvida em setembro e outubro de
2012, trata-se de um estudo de caso a partir de duas turmas do quinto ano do ensino
fundamental de uma escola da periferia do Distrito Federal, totalizando 40 estudantes. De
acordo com Duarte (2002), o estudo de caso permite a compreensão mais aprofundada do
problema de pesquisa. A abordagem da pesquisa é quanti-qualitativa. Para coleta de dados foi
utilizado questionário para os estudantes com questões fechadas e abertas, totalizando 41
questões. O questionário foi organizado em três blocos: o primeiro sobre o perfil dos
estudantes, o segundo bloco reunia algumas informações sobre a família, o terceiro bloco
questões voltadas para a escola no que se referência à ocorrência de bullying na perspectiva
das vítimas, autores e testemunhas. Os dados foram organizados em Excel e comparados às
questões abertas. Estas autoras optaram ainda por realizar três observações in loco para
verificar como os estudantes se comportavam. Na oportunidade, também pode conversar com
os estudantes sobre a temática do bullying, compondo, pois uma caderneta de campo. Estes
dados foram reunidos para alcance do objetivo que pretendeu esta pesquisa.
O contexto escolar
A escola do ensino fundamental, cuja identidade será mantida em sigilo, está situada
na periferia do Distrito Federal. A escola funciona há 07 anos no local. Atualmente, a escola
funciona no período diurno e vespertino, atendendo um total de 1200 alunos moradores da
mesma região. Entretanto, esta pesquisa abrange apenas 02 turmas do ensino matutino. É
importante lembrar que as novas gestoras assumiram a escola há 02 meses.
No que se refere às características da escola, ela é uma escola grande comportado 21
salas de aula, quadra poliesportiva coberta e parque de recreações. É agradável, grande,
espaçosa. Composta de dois pavimentos e limpa verificou-se que na escola não há auditório.
Os alunos se sentam em duplas, porém, dependendo da necessidade da turma a professora os
coloca em círculo. Há murais na escola para as datas comemorativas.
Além da organização da sala de aula, estas pesquisadoras observaram um pouco do
intervalo, já que a literatura aponta este momento como espaço para a prática de violências
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entre os estudantes. O recreio dos alunos é dividido em dois horários, o primeiro horário é o
do Bloco de iniciação à alfabetização (BIA) que reúne as crianças menores (1º ano 3º ano)
com 25 minutos e, posteriormente, o segundo horário é de penas 20 minutos para as crianças
maiores do 4º e 5º ano. Esta decisão de separá-los foi adotada pela gestão anterior ao perceber
que a ocorrência maior era entre as crianças menores e as maiores. Ainda quanto ao recreio,
foi possível perceber a presença de alguns servidores que ajudavam no acompanhamento das
crianças no intervalo, minimizando desta forma as ocorrências entre as crianças. Vale lembrar
que na escola não há o serviço de policiamento ou que não quer dizer que ela não precise.
Quando perguntada sobre os projetos desenvolvidos, a escola informou que
desenvolve os seguintes projetos: Encontro de Leitores, Feira Cultural, Circuito de
Matemática e o Soletrando e o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência
(PROERD) desenvolvimento pela Polícia Militar. Entretanto, sentimos falta de ações ou
projetos para a cultura de paz e prevenção das violências.
A amostra
A amostra reúne 40 estudantes de duas turmas do 5º ano do Ensino Fundamental do
turno matutino, sendo 55,0% do sexo feminino e 45,0% do sexo masculino. Com faixa etária
entre 10 e 12 anos. Metade deles (50,0%) tem 10 anos, 45,0% declararam ter 11 anos e apenas
02 delas (5,0%) tinham 12 anos de idade. No que se refere ao seu credo religioso, 18,0% são
evangélicos, 42,5% declararam participar da religião católica e apenas 01 (2,5%) se declarou
espírita. No que se refere à cor, são em maioria pardos (57,5%), segundo a ficha de cadastro
dos estudantes na secretaria. Um percentual de 20,0% é branco, 17,5% são negros, 2,5% são
mulatos e 2,5% são índios.
Verificou-se que 75,0% estão na escola há mais de quatro anos e que apenas 7,5% do
total dos estudantes são repetentes. Metade deles (50,0%) não participa de alguma atividade
fora da escola.
Para compreender um pouco sobre da prática de bullying, buscou-se averiguar o
acesso à internet em casa. A maior parte deles (62,5%) tem acesso à internet em casa. Elevado
percentual de 32,5% declara que não moram com o pai e a mãe ou moram apenas com a mãe
(25,0%), revelando, pois um novo modelo de família (monoparental).
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No que se refere à participação dos pais em sua vida escolar, 32,5% informaram que
seus responsáveis comparecem à escola apenas quando chamados, aspecto preocupante para a
prevenção e superação das violências na escola. Ainda quanto à família, os estudantes em
geral consideram boa a sua relação com os seus familiares. Entretanto, 10,0% declaram que
não tem uma boa relação com a família, 5,0% já foi vítima de alguma violência em casa ou
presenciaram em seu lar alguma violência (20,0%).
Os resultados – sobre a ocorrência do bullying
Elevado percentual dos estudantes considerou a sua escola violenta (35,0%). Apesar
disso, verifica-se que 97,5% dos estudantes declararam que gostam da escola mesmo assim.
Nas questões abertas eles responderam “É violenta, mas os professores ensinam melhor e são
legais com os alunos” (Menina, 10 anos), aspecto este favorável à superação das violências
na escola. E uma segunda resposta revela um perigo “É violenta, mas eu já acostumei”
(Menino, 11 anos). Mais da metade (57,5%) têm vontade de voltar à escola, destacando gostar
muito dos professores e de brincar com os colegas. Quanto perguntado aos estudantes o que
faltava para a escola ser melhor, a maioria das questões apontaram os seguintes aspectos
“faltam brinquedos, laboratório de ciências, professor de informática, piscina, ter sala de artes,
sala de vídeo e, por fim, não ter bullying”. Foi possível, perceber nestas respostas que os
estudantes não pedem muito, mas verifica-se que a realidade deles ainda não tem o mínimo do
que têm em outras escolas, espaços além da sala de aula.
A tabela 01 que se segue apresenta um panorama da ocorrência de bullying na escola
na perspectiva da vítima, do autor e da testemunha.
Tabela 01: Sobre a ocorrência de violências em sua escola
Questões Sim Não Em
branco
Total
Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total - -
Há a prática de bullying nesta escola?
14 16 30 (75,0%)
6 3 9 (22,5%)
1 40 (100,0%)
Você já foi vítima de bullying nesta escola?
4 7 11 (27,5%)
16 13 29 (72,5%)
0 40 (100,0%)
Você já foi autor de bullying nesta escola?
4 3 7 (17,5%)
16 29 33 (82,5%)
0 40 (100,0%)
Você já presenciou a prática de bullying nesta escola?
9 9 18 (45,0%)
11 10 21 (52,5%)
1 40 (100,0%)
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- - 100,0% - - 100,0% - (100,0%) Fonte: elaboração própria
Foi possível observar na tabela acima que os estudantes em geral já ouviram falar
sobre o bullying e sabem dizer o que é este fenômeno. Para 75,0% dos respondentes, ocorre
bullying na escola pesquisada, sendo que 45,0% já presenciaram a prática de bullying ou já
foram vítimas (27,5%). Também há aqueles que se declaram autores (17,5%). É possível
notar uma omissão para a prática do bullying já que um percentual de 82,5% declarou nunca
ter praticado alguma prática do bullying. Estas autoras pretendiam realizar um trabalho antes
da aplicação do questionário acerca do fenômeno bullying, entretanto, verificou-se em
conversa com os estudantes que eles sabiam definir bem o que era esta prática já que havia
sendo desenvolvido um trabalho na escola. Quando perguntado o que entendiam por bullying
deram a seguinte resposta “é quando a pessoa quer humilhar a outra”, discriminar, falar mal,
colocar apelidos, praticar racismo, praticar violência física e verbal, ofender as pessoas, chega
até a não comer por causa do ocorrido, se sente mal, ameaça, é desrespeitado. “Quando
perguntado a eles por que as pessoas praticam bullying verificamos as seguintes respostas
“porque já sofreu e quer se vingar” (Menina, 10 anos), “porque gosta de fazer o mal (Menino
10 anos),” por causa de raiva ou inveja” (Menina, 11 anos), “por causa do racismo” (menina,
10 anos) e ainda por insegurança de quem pratica para chamar atenção (menina, 12 anos).
A vítima do bullying
Ainda de acordo com a tabela 01, anteriormente apresentada, 27,5% dos estudantes se
declaram vítimas, sendo 17,5% delas femininas. Os estudantes afirmaram ter os seguintes
sentimentos quando vítimas “humilhações, medo, vergonha, revolta, constrangimento entre
outros, conforme demonstra a tabela 2 a seguir:
Tabela 02: Vítima de bullying
Nesta escola Todos os dias
Muitas vezes
Algumas
vezes
Total Nenhuma vez
Total geral
Você já foi apelidado pelos colegas? 5 1 15 21 (52,5%)
19 (47,5)
40 (100,0%)
Já foi ameaçado por outros ? - 1 6 7 (17,5%)
33 (82,5)
40 (100,0%)
Já foi humilhado? - 4 9 13 (32,5%)
27 (67,5%)
40 (100,0%)
Já foi alvo de brincadeiras de mau gosto? - 2 13 15 25 40
28366
(37,5%) (62,5%)
(100,0%)
Foi ignorado, desprezado ou excluído? - 3 10 13 (32,5%)
27 (67,5%)
40 (100,0%)
Seus colegas fizeram intrigas ou fofocas sobre você?
2 6 11 19 (47,5%)
21 (52,5%)
40 (100,0%)
Já teve que entregar o seu material, objeto ou dinheiro à força?
- - 1 1 (2,5%)
39 (97,5)
40 (100,0%)
Já teve os seus pertences estragados? - - 12 12 (30,0%)
28 (70,0%)
40 (100,0%)
Já foi alvo de socos ou empurrões? - 3 3 6 (15,0%)
34 (85,0%)
40 (100,0%)
Já foi alvo de violência pela internet ou celular?
- - 2 2 (5,0)
38 (95,0%)
40 (100,0%)
Já se sentiu perseguido na escola? - 1 6 7 (17,5)
33 (82,5%)
40 (100,0%)
Já foi discriminado na escola? - 2 1 3 (7,5%)
37 (92,5%)
40 (100,0%)
Fonte: elaboração própria
Podemos observar na tabela 02 que as violências mais experimentadas no papel de
vítima foram em primeiro lugar o apelidamento (52,5%), em segundo lugar, as intrigas e
fofocas (47,5%), brincadeiras de mau gosto (37,5%), humilhações (32,5%), desprezo e
exclusão (32,5%) todas com consequências graves para o desenvolvimento psíquico das
crianças e pré-adolescentes. Quando analisados os casos de vitimação por sexo, verificou-se
que as meninas são mais vítimas de apelidos, humilhações, intrigas e fofocas, desprezo ou
exclusão alvo de violência pela internet e brincadeiras de mau gosto. Já os meninos são mais
vítimas de brincadeiras de mau gosto, socos ou empurrões, têm os seus pertences pegos à
força ou estragados e ameaças.
O autor - a prática do bullying
Embora geralmente omitida já que 82,5% dos estudantes declararam não ter praticado
bullying na escola, conforme demonstra a tabela 01. Quando analisada a prática de violência
por sexo verificou que os meninos (10,0%) se declaram mais agressores embora com
diferença pequena para as meninas (7,5%). Entretanto, considera-se elevado o número de
estudantes que se declararam autores do bullying (17,5%).
Tabela 03: Sobre a prática de bullying Nesta escola Todos os
dias Muitas vezes
Algumas vezes
Total Nenhuma vez
Total geral
Você já colocou apelido em algum colega nesta escola?
- 2 10 12 (30,0%)
28 40
Você já ameaçou algum colega nesta escola?
- - 3 3 (7,5%)
37 (100,0%)
28367
Já zoou ou humilhou algum colega? - - 7 7 (17,5%)
33 40
Já fez brincadeiras de mal gosto a algum colega?
- - 6 6 (15,0%)
34 (100,0%)
Já ignorou, desprezou ou excluiu algum colega?
- 2 4 6 (15,0%)
34 40
Já fez intrigas ou fofocas de algum colega?
- 3 10 13 (32,5%)
27 (100,0%)
Já forçou algum colega a lhe entregar algum material, objeto ou dinheiro à força?
- - 1 1 (2,5%)
39 40
Já estragou algum pertence de algum colega?
- - - - 40 (100,0%)
Já deu soco ou empurrão em algum colega?
- 1 7 8 (20,0%)
32 40
Já cometeu alguma violência pela internet ou celular?
- - 1 1 39 (100,0%)
Já perseguiu algum colega na escola? - - 2 2 38 40 (100,0%)
Já discriminou algum colega na escola?
- - 1 1 39 40 (100,0%)
Fonte: Elaboração própria Vemos na tabela 03 acima que apenas uma delas “estragar os pertences de algum
colega” não foi declarada pelos agressores já que 40,0% afirmaram não tê-la praticado,
embora 30,0% tenha se declarado vítima na tabela 02.
As principais práticas assumidas foram “fazer intrigas ou fofocas de algum colega”
(32,5%), apelidar um colega (30,0%), dar socos e empurrões, e humilhar (17,5%) e fazer
brincadeiras de mau gosto (15,0%). Comportamentos estes, praticados, segundo os
respondentes por diferentes justificativas “acho que pela falta da educação dos pais”
(menina, 10 anos), “acho que é alguém que já sofreu e quer se vingar” (menino, 10 anos),
“por insegurança” (menina, 11 anos), “por preconceito, racismo” (menino, 10 anos).
Em outra questão também sobre a prática do bullying no que se refere aos sentimentos
durante a prática do bullying a maioria (42,5%) deixaram em branco. No entanto, 15,0%
apontam um dado importante que é o fato de terem se sentido apontado pelo seu grupo, o que
nos leva a perceber que os estudantes podem praticar violência para se sentir aceito no grupo,
que é o sentimento de pertencimento. Embora em menor percentual, também há aqueles
estudantes que declararam sentir prazer (2,5%), confiança (2,5%), força (2,5%) e
superioridade (2,5%).
A testemunha do bullying
28368
Outra posição ocupada na prática do bullying é o de testemunha que sofre
consequências graves tais quais aqueles que ocupam o papel de vítima e autores, já que as
violências acabam por gerar nelas sentimentos de insegurança e medo. Entretanto, na
literatura encontra-se maior abordagem às vítimas e autorias (cf., p. ex., OLWEUS, 1998;
FANTE, 2005)
Na tabela 01, vimos que quase metade dos estudantes já declarou ter presenciado a
ocorrência de bullying na escola (45,0%). Quando analisados os sexos, verificou-se que
ambos os meninos e meninas, são igualmente vítimas neste caso, isto é, 9 do gênero
masculinos e 9 do feminino, igualmente já presenciaram a prática de bullying.
Tabela 04: Testemunha ou presenciamento do bullying
Nesta escola Todos os dias
Muitas vezes
Algumas vezes
Total Nenhuma vez
Total geral
Você já presenciou o apelidamento entre os estudantes?
- 6 14 20 (50,0%)
20 40 (100,0%)
Já presenciou ameaças? - 2 7 9 (22,5)
31 40 (100,0%)
Já presenciou humilhações? - 3 9 12 (30,0)
28 40 (100,0%)
Já presenciou brincadeiras de mau gosto?
3 3 12 18 (45,0%)
22 40 (100,0%)
Já presenciou desprezo ou exclusão? 1 3 12 16 (40,0%)
24 40 (100,0%)
Já presenciou situações de intrigas ou fofocas entre os colegas?
5 4 9 18 (45,0%)
22 40 (100,0%)
Já presenciou algum colega que teve entregar o seu material, objeto ou dinheiro à força?
- - 3 3 (7,5%)
37 40 (100,0%)
Já presenciou alguém estragar os pertences de algum estudante?
- 1 7 8 (20,0%)
32 40 (100,0%)
Já presenciou alguém dar socos ou empurrões em algum estudante?
- 5 13 18 (45,0%)
22 40 (100,0%)
Já soube de violências praticadas por estudantes por meio da internet ou celular?
1 4 10 15 (37,5%)
25 40 (100,0%)
Já soube de algum caso de perseguição na escola?
- 5 6 11 (27,5%)
29 40 (100,0%)
Já presenciou alguma prática de discriminação na escola?
- 5 9 14 (35,0%)
26 40 (100,0%)
Fonte: Elaboração própria
Observa-se na tabela 04 acima que todas as formas de violências já foram testemunhas
no espaço escolar, principalmente, o apelidamento entre os estudantes (50,0%), brincadeiras
de mau gosto (45,0%), intrigas e fofocas entre os estudantes (45,0%), práticas de socos e
empurrões (45,0%) desprezo ou exclusão (40,0%) e etc.
28369
De acordo com Ortega e Del Rey (2002), todos são vítimas neste processo. Os
estudantes reconhecem os efeitos negativos do bullying para os estudantes e para o ambiente
da escola como um todo.
As últimas questões do questionário se referiam aos encaminhamentos da escola. Os
estudantes afirmam que a escola já foi pior. O acompanhamento dos adultos no intervalo e a
separação dos estudantes menores e maiores, bem como o projeto “chega de bullying”
contribuíram para a diminuição das ocorrências de violências na escola. Entretanto, os
estudantes apontam como fragilidade o fato de os seus professores encaminharem os casos
ocorridos para que a direção resolva como geralmente tem apontado outras pesquisas, tira da
sala de aula.
Considerações Finais
Este trabalho oportunizou fazer um mapeamento dos estudantes vítimas, autoras e
testemunhas do bullying na escola, importantes para o planejamento de ações preventivas na
escola. É muito importante que os responsáveis pelos processos educacionais identifiquem
com qual tipo de agressor estão lidando, uma vez que existem motivações diferenciadas.
Não havia na escola pesquisa ações sendo desenvolvidas para prevenção ou superação
do bullying. Entretanto, as mais variadas formas de violências estão a ocorrer de modo muito
naturalizado entre os estudantes como comportamento de crianças que estão em processo de
formação. Aspectos estes que influenciarão na formação moral e psíquica dos estudantes. Há,
pois a necessidade urgente da observação nos comportamentos entre os estudantes para que
eles sejam corrigidos tão logo aconteçam. É preciso promover a convivência e a colocar-se no
lugar do outro já que as ocorrências ocorrem com as brincadeiras de mau gosto,
apelidamentos etc.
Um aspecto que incomodou ambas as autoras foi o fato de as crianças mais novas
terem intervalo separado das crianças maiores, como se isso fosse de fato educativo para
superar o bullying entre as crianças. Penso que seria importante promover a convivência das
crianças menores e maiores para que elas aprendessem a conviver e se respeitarem.
Outro aspecto importante é a participação da família na vida escolar dos filhos, pois
vimos também que há crianças que são vítimas das violências dentro de casa. De acordo com
Silva (2010), verifica-se a necessidade de pais e a escola se comunicaram para juntos
28370
observarem o comportamento de seus filhos/estudantes, observando sinais de vitimação e
autoria para tomar medidas devidas. Auxiliá-los e conduzi-los na construção de uma
sociedade mais justa e menos violenta, é obrigação de todos. Porém, através do questionário
pude observar que 10,0% dos estudantes consideraram não ter boas relações com sua família.
Não será este um fator influenciador apara que as crianças cometam bullying? O bullying é
um fenômeno que atormenta pais, professores e gestores. Está presente em praticamente todas
as escolas ao redor do mundo (cf., p. ex., BERGER, 2007), entretanto, é preciso uma
interação entre a família, a escola e a comunidade para sociedade para superá-lo. Por isso,
temos que lutar para combater o bullying e proteger tanto as vítimas, os agressores e as
testemunhas, porque no final todos acabam se tornando vítimas deste fenômeno.
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