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O BULLYING NA PERSPECTIVA DE ESTUDANTES VÍTIMAS, AGRESSORES E TESTEMUNHAS – UM ESTUDO DE CASO REALIZADO NO ENTORNO DE BRASÍLIA DIÓGENES, Meirielle Castro 1 - UCB LIRA, Adriana 2 - UCB Grupo de Trabalho – Violências nas Escolas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este artigo teve como principal objetivo averiguar a ocorrência de bullying na escola, considerando que seu seus efeitos são graves não apenas para as vítimas, mas também para as testemunhas e mesmo para os agressores; todas vítimas, conforme consideram Ortega e Del Rey (2002) e, ainda, averiguar o que faz a escola para lidar com ele. Apesar dos vários estudos já realizados, verifica-se que o fenômeno do bullying é ainda um problema preocupante para os pais e para a escola, já que ele continua sendo praticado com frequência por crianças e pré-adolescentes. Com base nisso, estas autoras buscaram por meio de pesquisa quantitativa, averiguar qual a percepção dos estudantes acerca deste fenômeno. O questionário, elaborado a partir da literatura, era composto de questões abertas e fechadas, permitindo analisar o perfil dos estudantes vítimas e agressores de bullying e ainda levantar informações junto aos estudantes (vítimas, autores e testemunhas) que pudessem contribuir para a análise do fenômeno bullying na escola e elaborar este artigo de conclusão de curso que pode colaborar com os professores, gestores e pais, interessados na superação deste problema. Os resultados evidenciaram que o bullying ocorre de forma muito naturalizada no espaço da escola, devendo, pois a escola investir mais no trabalho de prevenção e acompanhar mais de perto os casos que ocorrem na escola que é um mal para todos os envolvidos no papel de vítima, autora ou testemunha. Palavras-chave: Violência Escolar. Bullying. Autoria. Vitimação. Testemunha. 1 Graduada em Pedagogia pela Universidade Católica de Brasília (UCB). E-mail: [email protected] . 2 Mestre e Doutoranda em Educação pela Universidade Católica de Brasília - UCB. Professora adjunta da UCB e Secretaria Executiva da Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e Sociedade da mesma Universidade. E-mail: [email protected] .

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O BULLYING NA PERSPECTIVA DE ESTUDANTES VÍTIMAS,

AGRESSORES E TESTEMUNHAS – UM ESTUDO DE CASO

REALIZADO NO ENTORNO DE BRASÍLIA

DIÓGENES, Meirielle Castro1 - UCB

LIRA, Adriana2 - UCB

Grupo de Trabalho – Violências nas Escolas

Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este artigo teve como principal objetivo averiguar a ocorrência de bullying na escola, considerando que seu seus efeitos são graves não apenas para as vítimas, mas também para as testemunhas e mesmo para os agressores; todas vítimas, conforme consideram Ortega e Del Rey (2002) e, ainda, averiguar o que faz a escola para lidar com ele. Apesar dos vários estudos já realizados, verifica-se que o fenômeno do bullying é ainda um problema preocupante para os pais e para a escola, já que ele continua sendo praticado com frequência por crianças e pré-adolescentes. Com base nisso, estas autoras buscaram por meio de pesquisa quantitativa, averiguar qual a percepção dos estudantes acerca deste fenômeno. O questionário, elaborado a partir da literatura, era composto de questões abertas e fechadas, permitindo analisar o perfil dos estudantes vítimas e agressores de bullying e ainda levantar informações junto aos estudantes (vítimas, autores e testemunhas) que pudessem contribuir para a análise do fenômeno bullying na escola e elaborar este artigo de conclusão de curso que pode colaborar com os professores, gestores e pais, interessados na superação deste problema. Os resultados evidenciaram que o bullying ocorre de forma muito naturalizada no espaço da escola, devendo, pois a escola investir mais no trabalho de prevenção e acompanhar mais de perto os casos que ocorrem na escola que é um mal para todos os envolvidos no papel de vítima, autora ou testemunha. Palavras-chave: Violência Escolar. Bullying. Autoria. Vitimação. Testemunha.

1 Graduada em Pedagogia pela Universidade Católica de Brasília (UCB). E-mail: [email protected]. 2 Mestre e Doutoranda em Educação pela Universidade Católica de Brasília - UCB. Professora adjunta da UCB e Secretaria Executiva da Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e Sociedade da mesma Universidade. E-mail: [email protected].

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Introdução

De acordo com o artigo 5º da Lei 8.069/90 do Estatuto da Criança e do Adolescente

(cf. BRASIL, 2008), nenhuma criança ou adolescente deverá ser objeto de qualquer forma de

negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da

lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus diretos fundamentais. A mesma Lei (cf.

BRASIL, 2008) prevê em seu artigo 17º que o direito ao respeito consiste na inviolabilidade

da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação

da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos

pessoais. Entretanto, verificamos que esta e tantas outras Leis acabam não sendo seguidas

mesmo no espaço educativo da escola, já que ouvimos diariamente que a violência está a

ocorrer no espaço escolar, sem escolher a classe social, o sexo, idade e credo. Noticiários

diários, na mídia televisam diversos meios de comunicação, anuncia que tem sido comum a

prática de palavrões, xingamentos, agressões físicas e verbais, ameaças entre alunos e alunos

contra educadores e depredação do patrimônio, comprometendo, pois a identidade espaço

educativo. Essas ocorrências agressivas, segundo Chalita (2008), caracterizam o bullying,

termo bastante explorado na literatura e mesmo assim não muito conhecido pelo público em

geral e mesmo na escola (SILVA, 2010). De acordo com Chalita (2008), o bullying direto é o

que é mais comum entre os agressores meninos sendo frequentes, palavrões, tapas,

xingamentos, murros e etc. O bullying indireto é o que existe entre o sexo feminino e crianças

menores, fazendo com que a vítima se isole caracterizado por intrigas, fofocas, rumores sobre

as vitimas e os familiares, entre outros. Por isso, é indispensável que a família e a escola se

unam para enfrentar esse mal, chamado bullying, que está presente em nosso país e tem

aumentado a cada dia. Sobretudo, é necessário que pais e educadores tenham um olhar atento,

amoroso, sensível, paciente, carinhoso, para que saibam acolher as angústias e os medos de

uma pessoa que sofre o bullying, e não apenas ajudar a vítima, mas também ajudar os

agressores. Quem pratica também é uma vítima que pode ter sido agredido dentro de casa, na

rua, com isso ela acaba agredindo, porque foi agredido e é uma forma dele descontar a sua

agressão em cima de outra pessoa.

Não pretendemos aqui aprofundar a violência, assim, consideramos importante

apresentar a definição de Lopes Neto (2005), que considera o termo violência escolar todos os

comportamentos agressivos e antissociais, incluindo os conflitos interpessoais, danos ao

patrimônio, atos criminosos, etc. Entre os diferentes tipos de violência existentes, destacamos

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uma que tem despertado interesse dos educadores, professores, psicólogos e pais. Estamos a

falar da violência no meio escolar, sendo esta designada como bullying. Muito embora não

seja um fenômeno novo, nos últimos anos a violência nas escolas tornou-se num tópico de

investigação mediática, na sequência de atos de violência realizados por crianças e

adolescentes (ALMEIDA, 2003). Com isso, a violência é frequentemente confundida com

outros termos, que se descreve a termos semelhantes como maus tratos ou sendo igual à

bullying ou agressão. Portanto, o foco é a violência física ou verbal que tem atingido a

maioria de nossos estudantes. O termo violência escolar diz respeito a todos os

comportamentos agressivos e antissociais, incluindo os conflitos interpessoais, danos ao

patrimônio, atos criminosos, etc. Muitas dessas situações dependem de fatores externos como,

por exemplo, os problemas de violência da sociedade, a desestruturação familiar etc., cujas

intervenções podem estar além da competência e capacidade das entidades de ensino e de seus

funcionários. Porém, para um sem número delas, a solução possível pode ser obtida no

próprio ambiente escolar. Com isso, o bullying passa a ser um tipo de violência que envolve

todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que acontecem sem motivação evidente,

tomadas por um ou mais estudante contra outro(s), ocasionando dor e angústia, sendo

efetuadas em uma relação desigual de poder. As agressões podem ser de natureza física,

psicológica ou sexual. É uma forma de afirmação de poder interpessoal por meio da agressão

que têm consequências negativas para o desenvolvimento psíquico e cognitivo dos estudantes

(LOPES NETO, 2005).

Preocupada com a ocorrência de violências no espaço escolar, as autoras dedicaram-se

a averiguar no contexto da periferia de Brasília informações junto aos estudantes do ensino

fundamental sobre o bullying na escola a partir dos seguintes personagens: testemunhas,

vítimas e agressores, apresentando um breve apanhado sobre o problema em pauta e, em

seguida, os resultados de pesquisa, finalizando com as principais considerações que possam

contribuir para os gestores, professores e pais no sentido de aperfeiçoar as ações da escola

para superação do bullying como uma das formas de manifestação das violências.

A preocupação destas autoras é que a escola é primeiro lugar de socialização da

criança depois da família e ainda os efeitos nocivos das violências para estado psíquico dos

estudantes (Cf. MINAYO, 2003) e para o trabalho da escola já que se torna um ambiente

inseguro em que todos temem0 serem vítimas. Portanto, a instituição não pode ser conivente

com este problema.

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O fenômeno bullying – uma das formas de violência escolar

No mundo em que estamos a cada dia a violência escolar tem aumentado em nossas

escolas, não importa a classe social a que pertencemos, acabam surgindo palavrões,

xingamentos, provocações verbais e agressões físicas e verbais, depredações do patrimônio

escolar, ameaças entre alunos e alunos contra professores e vice versa, com isso acaba

surgindo, o principal problema que tem afetado a maioria de nossas escolas, o fenômeno

bullying.

De acordo com Silva (2010), o bullying é um fenômeno de origem inglesa e sem

tradução ainda no Brasil, é utilizado para qualificar comportamentos agressivos no âmbito

escolar, praticados tanto por meninos quanto por meninas. Os atos de violência (física ou não)

ocorrem de forma intencional, repetitivo contra um ou mais alunos que se encontram

impossibilitados de fazer frente às agressões sofridas. Tais comportamentos não apresentam

motivações específicas ou justificáveis. Em última instância, significa dizer que, de forma

“natural”, os mais fortes utilizam os mais frágeis como meros objetos de diversão, prazer e

poder, com o intuito de maltratar, intimidar, humilhar e amedrontar suas vítimas.

O bullying é um fenômeno universal e democrático, pois acontece em todas as partes

do mundo onde existem relações humanas e onde a vida escolar faz parte do cotidiano dos

jovens. Ainda segundo Chalita (2008) e Fante (2005), o bullying consiste em atitudes

agressivas, físicas e psicológicas, frequentes, intencionais, sem motivação aparente que ocorre

entre iguais numa relação desigual de poder. Embora seja uma ocorrência maior entre

crianças ou adolescentes no ambiente escolar, ele pode ocorrer entre os adultos. Para Fante

(2005), o bullying evidencia-se pela “desigualdade entre iguais”, resultando num processo em

que os mais fortes projetam sua agressividade com requintes de perversidade e de forma

despercebida dentro da mesma escola.

De acordo com Fante (2005), é partir da década de 90 que surge o fenômeno bullying

para definir a violência entre os pares. Entretanto, verifica-se em Relatório de Pesquisa

“Bullying escolar no Brasil” de 2010, em pesquisa coordenada por Fischer (2010), que é a

partir do segundo milênio que o fenômeno do bullying ganhou projeção na mídia nacional e

internacional, sendo largamente difundido nos meios digitais, com a criação de inúmeros sites

na internet sobre a temática. O mesmo relatório (Cf. FISCHER, 2010), registra alto índice de

bullying na região Centro-Oeste com estudantes autores e vítimas do bullying.

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Este fenômeno não é, segundo Fante (2005), um fenômeno muito recente, por se tratar

de uma forma de violência que sempre existiu nas escolas – onde os bullies (agressores)

continuam a reprimir e a amedrontar as suas vítimas, por motivos banais e que até hoje ocorre

despercebida da maioria dos profissionais educativos. Ainda de acordo com Fante (2005), o

estudo do bullying é pertinente, pois cada vez mais se verificam casos de violências cometidas

por estudantes na escola, embora venha sendo explorado nos últimos anos. Portanto, torna-se

um desafio um desafio descobrir o que levam os estudantes a prática do bullying que expõe e

fragiliza o colega. Afeta a maioria das escolas, ocorrendo de diferentes formas e por diversos

motivos. Porém, este fato ainda é banalizado pelos adultos que veem como coisas de crianças

e adolescentes e, por isso, não interferem para resolvê-lo, encarando com um problema deles.

O modo mais frequente de maus tratos entre alunos é a agressão verbal por meio de

apelidos e xingamentos, passando a ser forma rotineira entre os estudantes. (Cf. FISCHER,

2010). Estas ocorrências quando não resolvidas geram violências ainda mais graves entre os

estudantes que não sabem resolver seus conflitos por meio do diálogo, conforme propõe Jares

(2002). Daí a importância do professor para mediar os conflitos entre os estudantes por meio

do diálogo (JARES, 2002), para que aprendam a conviver com os outros (FERNANDEZ,

2005).

Dessa forma, Fernandez (2005) considera que quando há interesse de uma das partes,

a pessoa acaba não tendo afeto, amor, empatia pessoal, vive e cresce em um ambiente de

desarmonia, aí acaba surgindo à violência, que poderá afetar pelo menos dois protagonistas:

aquele que exerce e aquele que sofre a violência. Aquela pessoa que exerce a violência, talvez

tenha passado por uma violência em sua infância, agora esteja querendo descontar toda a sua

raiva em pessoas indefesas, que não sabem se defender por estarem sentindo medo e não

consiga enfrenta-lo, se não tiver o apoio de alguém que observe e veja o que está acontecendo

ao seu redor. Ainda mais quando assumimos que este fenômeno da violência, o que

procuramos compreender é uma agressividade sem nenhum sentido, seja biológico ou social:

injustificada e cruel que Rojas Marcos (1995) denominada como agressividade maligna.

Silva (2010), por sua vez destaca que as consequências do bullying são as mais

variadas possíveis e dependem muito de cada indivíduo, da sua estrutura, de vivências, de

predisposição genética, da forma e da intensidade das agressões. No entanto, todas as vítimas,

sem exceção, sofrem com os ataques de bullying (em maior ou menor proporção). Muitas

levarão marcas profundas provenientes das agressões para a vida adulta, e necessitarão de

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apoio psiquiátrico e/ou psicológico para a superação do problema. Entre as várias

consequências, verifica-se que os problemas mais comuns são: desinteresse pela escola;

problemas psicossomáticos; problemas comportamentais e psíquicos como transtorno do

pânico, depressão, anorexia e bulimia, fobia escolar, fobia social, ansiedade generalizada,

entre outros. O bullying também pode agravar problemas preexistentes, devido ao tempo

prolongado de estresse a que a vítima é submetida. Em casos mais graves, podem-se observar

quadros de esquizofrenia, homicídio e suicídio. Entretanto, verifica-se que crianças e

adolescentes são vítimas das violências no próprio seio familiar, assim averiguaram alguns

estudos brasileiros (cf. MENEGHEL; GIUGLAINI; FALCETO, 1998; MALDONADO E

WILLIAMS, 2005; SISTO, 2005).

Maldonado e Williams (2005) verificaram que os casos de autoria do bullying no

espaço escolar estavam associados aos casos de vitimação na família, isto é, concluiu que o

comportamento agressivo das crianças na escola poderia ser considerado como “um pedido de

ajuda” das mesmas, já que a apresentação de comportamento agressivo pode ser considerado

um indicador de que a criança se encontra em situação de risco, frente à exposição à violência

severa. Este estudo alerta para a necessidade de se desenvolverem para a necessidade de

serviços de prevenção e intervenção em relação às crianças em situação de tal risco. Este fato

revela a importância de uma maior iteração entre a família e escola já que é comum ocorrer

quase sempre uma responsabilização entre as partes.

O fato é que seja na posição de testemunho, vítima ou autor, todos têm seu

desempenho comprometido pelas tensões provocadas pelas violências, aspectos melhor

explorados a seguir e a sua formação moral influenciada negativamente.

Os personagens do bullying na escola - expectador, vítima e agressor

Cunha e Weber (2010) destacam que em qualquer uma dessas posições (expectador,

vítima ou agressor) tem o seu bem-estar comprometido já que as ocorrências têm efeito na

saúde psíquica dos estudantes. Assim, verifica-se que as violências têm custos para os

envolvidos e para a sociedade. Assim, Ortega; Del Rey (2002) consideram todas as vítimas

das violências. Entretanto, a seguir apresentamos individualmente as características de cada

um deles.

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O estudante testemunha ou expectador

As testemunhas, de acordo com Lopes Neto (2005), são os alunos que não se

envolvem diretamente em atos de bullying e geralmente se cala por medo de ser a próxima

vítima ou porque sente prazer em ver a agressão entre os pares. Também conhecido como

expectadores, os estudantes testemunha presenciam a prática de violência é de uma forma

afetado negativo já que as ocorrências geram medo e insegurança e ainda porque aprendem a

resolver os seus conflitos reproduzindo o que veem. Estudos tentam explorar este papel

ocupado por aqueles que não se envolvem diretamente. Alguns agem com silêncio outros até

se “divertem”, apóia os agressores. Tal silêncio é às vezes, interpretado como afirmação de

força. Esta posição, tal qual a de agressor ou vítima tem impacto negativo sobre o

comportamento dos estudantes que assistem incidentes de vitimização.

Para Chalita (2008), os expectadores assistem toda a violência dos agressores sem

ajudar em nada, preferem ficar só olhando, talvez por sentirem medo e preferem se esquivar.

O estudante vítima

De acordo com Olweus (1998), o aluno é vítima de bullying quando está exposto

constantemente e durante boa parte do tempo a ações negativas por parte de um aluno ou de

um grupo de alunos. Neste caso, Pereira (2000) considera que são vítimas ou estudantes direta

e indiretamente nas ocorrências de violências, entretanto, ambos são muito graves e provocam

imensos danos às suas vítimas. Geralmente, as vítimas, segundo Silva (2010), de forma geral,

já apresentam algo que difere do grupo (são tímidas, introspectivas, nerds, muito magras; são

de credo, raça ou orientação sexual diferente etc.). Estudos realizados comprovam que os

meninos são vítimas de bullying com maior frequência do que as meninas assim concluíram

Olweus (1998) e Fischer (2010). No que se refere à idade, Sebastião (2009) verificou em

pesquisa em Lisboa que as vítimas estão mais concentradas entre os 10 e 14 anos.

Ainda segundo Fischer (2010), os estudantes vítimas são geralmente aqueles sem voz

ativa e com perfil psicológico mais inibido e tímido. Outro aspecto se refere também às

características físicas marcantes, tais como o uso de óculos, sobrepeso ou até mesmo a cor da

pele.

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Para Chalita (2008), as vítimas são escolhidas às vezes por serem pessoas geralmente

fracas, que sofrem humilhações, ameaças, intimidações e acabam sendo os mais inseguros que

não conseguem enfrentar seus agressores por medo.

Ao analisar as posições de autoria, Calbo (2009) detectou que 66,67% eram meninos e

no que se refere à vitimação também foi elevado o número de meninos 80% eram do sexo

masculino já que eles se envolvem ainda mais em ocorrências de violências.

O estudante agressor

Para Chalita (2008), os agressores que são aqueles que gostam de se amostrar,

precisam de plateia e se sentem os valentões, mas não podemos esquecer que eles também

podem se tornar uma vítima do seu próprio medo, por já terem passado por sofrimentos, com

isso eles acabam tendo que escolher suas vítimas para descontarem suas raivas.

Segundo Olweus (1998), o agressor é aquele que vitimiza os mais frágeis, costuma

manifestar pouca empatia e pouca compreensão pelos problemas dos colegas. Geralmente tem

necessidade de subjugar e dominar os colegas manifesta necessidade de conseguir o que se

propõe a custo de ameaças, geralmente tem baixa resistência à frustração e é impulsivo.

Sebastião (2009) verificou em pesquisa em Lisboa que ao contrário das vítimas, os

agressores que tendem ser mais velhos (13 a 15 anos) e de séries mais avançadas. Tendem,

segundo Olweus (1998), a ser mais velhos, de séries mais avançadas e do sexo masculino.

Entretanto, diversas pesquisas registram casos que as meninas também são agressoras embora

em menor percentual. Elas tendem a ficar invisíveis por se tratar a indisciplina mais um

comportamento masculino (cf. OLWEUS, 1998; LIRA, 2010)

Calbo (2009) verificou que meninos tendem a serem mais autores e vítimas que as

meninas porque se envolvem mais nas violências.

De acordo com Fernandes (2005), a psicologia sempre tentou descobrir de fato, porque

as pessoas agem de uma maneira tão agressiva. Essa e outros autores no campo da Psicanálise

(cf. p. ex., AMORETTI, 1992) explicam que a agressividade é um componente próprio da

pessoa que não pode, portanto, ser ignorado na escola, mas considerado também vítima. A

Psicanálise nos ajuda a compreender o desenvolvimento dos indivíduos e, desta forma, o que

está por traz dos comportamentos violentos.

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Metodologia

Esta pesquisa, que teve o próposito de verificar o bullying na perspectiva de

estudantes, é de natureza descritiva e exploratória, desenvolvida em setembro e outubro de

2012, trata-se de um estudo de caso a partir de duas turmas do quinto ano do ensino

fundamental de uma escola da periferia do Distrito Federal, totalizando 40 estudantes. De

acordo com Duarte (2002), o estudo de caso permite a compreensão mais aprofundada do

problema de pesquisa. A abordagem da pesquisa é quanti-qualitativa. Para coleta de dados foi

utilizado questionário para os estudantes com questões fechadas e abertas, totalizando 41

questões. O questionário foi organizado em três blocos: o primeiro sobre o perfil dos

estudantes, o segundo bloco reunia algumas informações sobre a família, o terceiro bloco

questões voltadas para a escola no que se referência à ocorrência de bullying na perspectiva

das vítimas, autores e testemunhas. Os dados foram organizados em Excel e comparados às

questões abertas. Estas autoras optaram ainda por realizar três observações in loco para

verificar como os estudantes se comportavam. Na oportunidade, também pode conversar com

os estudantes sobre a temática do bullying, compondo, pois uma caderneta de campo. Estes

dados foram reunidos para alcance do objetivo que pretendeu esta pesquisa.

O contexto escolar

A escola do ensino fundamental, cuja identidade será mantida em sigilo, está situada

na periferia do Distrito Federal. A escola funciona há 07 anos no local. Atualmente, a escola

funciona no período diurno e vespertino, atendendo um total de 1200 alunos moradores da

mesma região. Entretanto, esta pesquisa abrange apenas 02 turmas do ensino matutino. É

importante lembrar que as novas gestoras assumiram a escola há 02 meses.

No que se refere às características da escola, ela é uma escola grande comportado 21

salas de aula, quadra poliesportiva coberta e parque de recreações. É agradável, grande,

espaçosa. Composta de dois pavimentos e limpa verificou-se que na escola não há auditório.

Os alunos se sentam em duplas, porém, dependendo da necessidade da turma a professora os

coloca em círculo. Há murais na escola para as datas comemorativas.

Além da organização da sala de aula, estas pesquisadoras observaram um pouco do

intervalo, já que a literatura aponta este momento como espaço para a prática de violências

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entre os estudantes. O recreio dos alunos é dividido em dois horários, o primeiro horário é o

do Bloco de iniciação à alfabetização (BIA) que reúne as crianças menores (1º ano 3º ano)

com 25 minutos e, posteriormente, o segundo horário é de penas 20 minutos para as crianças

maiores do 4º e 5º ano. Esta decisão de separá-los foi adotada pela gestão anterior ao perceber

que a ocorrência maior era entre as crianças menores e as maiores. Ainda quanto ao recreio,

foi possível perceber a presença de alguns servidores que ajudavam no acompanhamento das

crianças no intervalo, minimizando desta forma as ocorrências entre as crianças. Vale lembrar

que na escola não há o serviço de policiamento ou que não quer dizer que ela não precise.

Quando perguntada sobre os projetos desenvolvidos, a escola informou que

desenvolve os seguintes projetos: Encontro de Leitores, Feira Cultural, Circuito de

Matemática e o Soletrando e o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência

(PROERD) desenvolvimento pela Polícia Militar. Entretanto, sentimos falta de ações ou

projetos para a cultura de paz e prevenção das violências.

A amostra

A amostra reúne 40 estudantes de duas turmas do 5º ano do Ensino Fundamental do

turno matutino, sendo 55,0% do sexo feminino e 45,0% do sexo masculino. Com faixa etária

entre 10 e 12 anos. Metade deles (50,0%) tem 10 anos, 45,0% declararam ter 11 anos e apenas

02 delas (5,0%) tinham 12 anos de idade. No que se refere ao seu credo religioso, 18,0% são

evangélicos, 42,5% declararam participar da religião católica e apenas 01 (2,5%) se declarou

espírita. No que se refere à cor, são em maioria pardos (57,5%), segundo a ficha de cadastro

dos estudantes na secretaria. Um percentual de 20,0% é branco, 17,5% são negros, 2,5% são

mulatos e 2,5% são índios.

Verificou-se que 75,0% estão na escola há mais de quatro anos e que apenas 7,5% do

total dos estudantes são repetentes. Metade deles (50,0%) não participa de alguma atividade

fora da escola.

Para compreender um pouco sobre da prática de bullying, buscou-se averiguar o

acesso à internet em casa. A maior parte deles (62,5%) tem acesso à internet em casa. Elevado

percentual de 32,5% declara que não moram com o pai e a mãe ou moram apenas com a mãe

(25,0%), revelando, pois um novo modelo de família (monoparental).

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No que se refere à participação dos pais em sua vida escolar, 32,5% informaram que

seus responsáveis comparecem à escola apenas quando chamados, aspecto preocupante para a

prevenção e superação das violências na escola. Ainda quanto à família, os estudantes em

geral consideram boa a sua relação com os seus familiares. Entretanto, 10,0% declaram que

não tem uma boa relação com a família, 5,0% já foi vítima de alguma violência em casa ou

presenciaram em seu lar alguma violência (20,0%).

Os resultados – sobre a ocorrência do bullying

Elevado percentual dos estudantes considerou a sua escola violenta (35,0%). Apesar

disso, verifica-se que 97,5% dos estudantes declararam que gostam da escola mesmo assim.

Nas questões abertas eles responderam “É violenta, mas os professores ensinam melhor e são

legais com os alunos” (Menina, 10 anos), aspecto este favorável à superação das violências

na escola. E uma segunda resposta revela um perigo “É violenta, mas eu já acostumei”

(Menino, 11 anos). Mais da metade (57,5%) têm vontade de voltar à escola, destacando gostar

muito dos professores e de brincar com os colegas. Quanto perguntado aos estudantes o que

faltava para a escola ser melhor, a maioria das questões apontaram os seguintes aspectos

“faltam brinquedos, laboratório de ciências, professor de informática, piscina, ter sala de artes,

sala de vídeo e, por fim, não ter bullying”. Foi possível, perceber nestas respostas que os

estudantes não pedem muito, mas verifica-se que a realidade deles ainda não tem o mínimo do

que têm em outras escolas, espaços além da sala de aula.

A tabela 01 que se segue apresenta um panorama da ocorrência de bullying na escola

na perspectiva da vítima, do autor e da testemunha.

Tabela 01: Sobre a ocorrência de violências em sua escola

Questões Sim Não Em

branco

Total

Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total - -

Há a prática de bullying nesta escola?

14 16 30 (75,0%)

6 3 9 (22,5%)

1 40 (100,0%)

Você já foi vítima de bullying nesta escola?

4 7 11 (27,5%)

16 13 29 (72,5%)

0 40 (100,0%)

Você já foi autor de bullying nesta escola?

4 3 7 (17,5%)

16 29 33 (82,5%)

0 40 (100,0%)

Você já presenciou a prática de bullying nesta escola?

9 9 18 (45,0%)

11 10 21 (52,5%)

1 40 (100,0%)

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- - 100,0% - - 100,0% - (100,0%) Fonte: elaboração própria

Foi possível observar na tabela acima que os estudantes em geral já ouviram falar

sobre o bullying e sabem dizer o que é este fenômeno. Para 75,0% dos respondentes, ocorre

bullying na escola pesquisada, sendo que 45,0% já presenciaram a prática de bullying ou já

foram vítimas (27,5%). Também há aqueles que se declaram autores (17,5%). É possível

notar uma omissão para a prática do bullying já que um percentual de 82,5% declarou nunca

ter praticado alguma prática do bullying. Estas autoras pretendiam realizar um trabalho antes

da aplicação do questionário acerca do fenômeno bullying, entretanto, verificou-se em

conversa com os estudantes que eles sabiam definir bem o que era esta prática já que havia

sendo desenvolvido um trabalho na escola. Quando perguntado o que entendiam por bullying

deram a seguinte resposta “é quando a pessoa quer humilhar a outra”, discriminar, falar mal,

colocar apelidos, praticar racismo, praticar violência física e verbal, ofender as pessoas, chega

até a não comer por causa do ocorrido, se sente mal, ameaça, é desrespeitado. “Quando

perguntado a eles por que as pessoas praticam bullying verificamos as seguintes respostas

“porque já sofreu e quer se vingar” (Menina, 10 anos), “porque gosta de fazer o mal (Menino

10 anos),” por causa de raiva ou inveja” (Menina, 11 anos), “por causa do racismo” (menina,

10 anos) e ainda por insegurança de quem pratica para chamar atenção (menina, 12 anos).

A vítima do bullying

Ainda de acordo com a tabela 01, anteriormente apresentada, 27,5% dos estudantes se

declaram vítimas, sendo 17,5% delas femininas. Os estudantes afirmaram ter os seguintes

sentimentos quando vítimas “humilhações, medo, vergonha, revolta, constrangimento entre

outros, conforme demonstra a tabela 2 a seguir:

Tabela 02: Vítima de bullying

Nesta escola Todos os dias

Muitas vezes

Algumas

vezes

Total Nenhuma vez

Total geral

Você já foi apelidado pelos colegas? 5 1 15 21 (52,5%)

19 (47,5)

40 (100,0%)

Já foi ameaçado por outros ? - 1 6 7 (17,5%)

33 (82,5)

40 (100,0%)

Já foi humilhado? - 4 9 13 (32,5%)

27 (67,5%)

40 (100,0%)

Já foi alvo de brincadeiras de mau gosto? - 2 13 15 25 40

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(37,5%) (62,5%)

(100,0%)

Foi ignorado, desprezado ou excluído? - 3 10 13 (32,5%)

27 (67,5%)

40 (100,0%)

Seus colegas fizeram intrigas ou fofocas sobre você?

2 6 11 19 (47,5%)

21 (52,5%)

40 (100,0%)

Já teve que entregar o seu material, objeto ou dinheiro à força?

- - 1 1 (2,5%)

39 (97,5)

40 (100,0%)

Já teve os seus pertences estragados? - - 12 12 (30,0%)

28 (70,0%)

40 (100,0%)

Já foi alvo de socos ou empurrões? - 3 3 6 (15,0%)

34 (85,0%)

40 (100,0%)

Já foi alvo de violência pela internet ou celular?

- - 2 2 (5,0)

38 (95,0%)

40 (100,0%)

Já se sentiu perseguido na escola? - 1 6 7 (17,5)

33 (82,5%)

40 (100,0%)

Já foi discriminado na escola? - 2 1 3 (7,5%)

37 (92,5%)

40 (100,0%)

Fonte: elaboração própria

Podemos observar na tabela 02 que as violências mais experimentadas no papel de

vítima foram em primeiro lugar o apelidamento (52,5%), em segundo lugar, as intrigas e

fofocas (47,5%), brincadeiras de mau gosto (37,5%), humilhações (32,5%), desprezo e

exclusão (32,5%) todas com consequências graves para o desenvolvimento psíquico das

crianças e pré-adolescentes. Quando analisados os casos de vitimação por sexo, verificou-se

que as meninas são mais vítimas de apelidos, humilhações, intrigas e fofocas, desprezo ou

exclusão alvo de violência pela internet e brincadeiras de mau gosto. Já os meninos são mais

vítimas de brincadeiras de mau gosto, socos ou empurrões, têm os seus pertences pegos à

força ou estragados e ameaças.

O autor - a prática do bullying

Embora geralmente omitida já que 82,5% dos estudantes declararam não ter praticado

bullying na escola, conforme demonstra a tabela 01. Quando analisada a prática de violência

por sexo verificou que os meninos (10,0%) se declaram mais agressores embora com

diferença pequena para as meninas (7,5%). Entretanto, considera-se elevado o número de

estudantes que se declararam autores do bullying (17,5%).

Tabela 03: Sobre a prática de bullying Nesta escola Todos os

dias Muitas vezes

Algumas vezes

Total Nenhuma vez

Total geral

Você já colocou apelido em algum colega nesta escola?

- 2 10 12 (30,0%)

28 40

Você já ameaçou algum colega nesta escola?

- - 3 3 (7,5%)

37 (100,0%)

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Já zoou ou humilhou algum colega? - - 7 7 (17,5%)

33 40

Já fez brincadeiras de mal gosto a algum colega?

- - 6 6 (15,0%)

34 (100,0%)

Já ignorou, desprezou ou excluiu algum colega?

- 2 4 6 (15,0%)

34 40

Já fez intrigas ou fofocas de algum colega?

- 3 10 13 (32,5%)

27 (100,0%)

Já forçou algum colega a lhe entregar algum material, objeto ou dinheiro à força?

- - 1 1 (2,5%)

39 40

Já estragou algum pertence de algum colega?

- - - - 40 (100,0%)

Já deu soco ou empurrão em algum colega?

- 1 7 8 (20,0%)

32 40

Já cometeu alguma violência pela internet ou celular?

- - 1 1 39 (100,0%)

Já perseguiu algum colega na escola? - - 2 2 38 40 (100,0%)

Já discriminou algum colega na escola?

- - 1 1 39 40 (100,0%)

Fonte: Elaboração própria Vemos na tabela 03 acima que apenas uma delas “estragar os pertences de algum

colega” não foi declarada pelos agressores já que 40,0% afirmaram não tê-la praticado,

embora 30,0% tenha se declarado vítima na tabela 02.

As principais práticas assumidas foram “fazer intrigas ou fofocas de algum colega”

(32,5%), apelidar um colega (30,0%), dar socos e empurrões, e humilhar (17,5%) e fazer

brincadeiras de mau gosto (15,0%). Comportamentos estes, praticados, segundo os

respondentes por diferentes justificativas “acho que pela falta da educação dos pais”

(menina, 10 anos), “acho que é alguém que já sofreu e quer se vingar” (menino, 10 anos),

“por insegurança” (menina, 11 anos), “por preconceito, racismo” (menino, 10 anos).

Em outra questão também sobre a prática do bullying no que se refere aos sentimentos

durante a prática do bullying a maioria (42,5%) deixaram em branco. No entanto, 15,0%

apontam um dado importante que é o fato de terem se sentido apontado pelo seu grupo, o que

nos leva a perceber que os estudantes podem praticar violência para se sentir aceito no grupo,

que é o sentimento de pertencimento. Embora em menor percentual, também há aqueles

estudantes que declararam sentir prazer (2,5%), confiança (2,5%), força (2,5%) e

superioridade (2,5%).

A testemunha do bullying

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Outra posição ocupada na prática do bullying é o de testemunha que sofre

consequências graves tais quais aqueles que ocupam o papel de vítima e autores, já que as

violências acabam por gerar nelas sentimentos de insegurança e medo. Entretanto, na

literatura encontra-se maior abordagem às vítimas e autorias (cf., p. ex., OLWEUS, 1998;

FANTE, 2005)

Na tabela 01, vimos que quase metade dos estudantes já declarou ter presenciado a

ocorrência de bullying na escola (45,0%). Quando analisados os sexos, verificou-se que

ambos os meninos e meninas, são igualmente vítimas neste caso, isto é, 9 do gênero

masculinos e 9 do feminino, igualmente já presenciaram a prática de bullying.

Tabela 04: Testemunha ou presenciamento do bullying

Nesta escola Todos os dias

Muitas vezes

Algumas vezes

Total Nenhuma vez

Total geral

Você já presenciou o apelidamento entre os estudantes?

- 6 14 20 (50,0%)

20 40 (100,0%)

Já presenciou ameaças? - 2 7 9 (22,5)

31 40 (100,0%)

Já presenciou humilhações? - 3 9 12 (30,0)

28 40 (100,0%)

Já presenciou brincadeiras de mau gosto?

3 3 12 18 (45,0%)

22 40 (100,0%)

Já presenciou desprezo ou exclusão? 1 3 12 16 (40,0%)

24 40 (100,0%)

Já presenciou situações de intrigas ou fofocas entre os colegas?

5 4 9 18 (45,0%)

22 40 (100,0%)

Já presenciou algum colega que teve entregar o seu material, objeto ou dinheiro à força?

- - 3 3 (7,5%)

37 40 (100,0%)

Já presenciou alguém estragar os pertences de algum estudante?

- 1 7 8 (20,0%)

32 40 (100,0%)

Já presenciou alguém dar socos ou empurrões em algum estudante?

- 5 13 18 (45,0%)

22 40 (100,0%)

Já soube de violências praticadas por estudantes por meio da internet ou celular?

1 4 10 15 (37,5%)

25 40 (100,0%)

Já soube de algum caso de perseguição na escola?

- 5 6 11 (27,5%)

29 40 (100,0%)

Já presenciou alguma prática de discriminação na escola?

- 5 9 14 (35,0%)

26 40 (100,0%)

Fonte: Elaboração própria

Observa-se na tabela 04 acima que todas as formas de violências já foram testemunhas

no espaço escolar, principalmente, o apelidamento entre os estudantes (50,0%), brincadeiras

de mau gosto (45,0%), intrigas e fofocas entre os estudantes (45,0%), práticas de socos e

empurrões (45,0%) desprezo ou exclusão (40,0%) e etc.

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De acordo com Ortega e Del Rey (2002), todos são vítimas neste processo. Os

estudantes reconhecem os efeitos negativos do bullying para os estudantes e para o ambiente

da escola como um todo.

As últimas questões do questionário se referiam aos encaminhamentos da escola. Os

estudantes afirmam que a escola já foi pior. O acompanhamento dos adultos no intervalo e a

separação dos estudantes menores e maiores, bem como o projeto “chega de bullying”

contribuíram para a diminuição das ocorrências de violências na escola. Entretanto, os

estudantes apontam como fragilidade o fato de os seus professores encaminharem os casos

ocorridos para que a direção resolva como geralmente tem apontado outras pesquisas, tira da

sala de aula.

Considerações Finais

Este trabalho oportunizou fazer um mapeamento dos estudantes vítimas, autoras e

testemunhas do bullying na escola, importantes para o planejamento de ações preventivas na

escola. É muito importante que os responsáveis pelos processos educacionais identifiquem

com qual tipo de agressor estão lidando, uma vez que existem motivações diferenciadas.

Não havia na escola pesquisa ações sendo desenvolvidas para prevenção ou superação

do bullying. Entretanto, as mais variadas formas de violências estão a ocorrer de modo muito

naturalizado entre os estudantes como comportamento de crianças que estão em processo de

formação. Aspectos estes que influenciarão na formação moral e psíquica dos estudantes. Há,

pois a necessidade urgente da observação nos comportamentos entre os estudantes para que

eles sejam corrigidos tão logo aconteçam. É preciso promover a convivência e a colocar-se no

lugar do outro já que as ocorrências ocorrem com as brincadeiras de mau gosto,

apelidamentos etc.

Um aspecto que incomodou ambas as autoras foi o fato de as crianças mais novas

terem intervalo separado das crianças maiores, como se isso fosse de fato educativo para

superar o bullying entre as crianças. Penso que seria importante promover a convivência das

crianças menores e maiores para que elas aprendessem a conviver e se respeitarem.

Outro aspecto importante é a participação da família na vida escolar dos filhos, pois

vimos também que há crianças que são vítimas das violências dentro de casa. De acordo com

Silva (2010), verifica-se a necessidade de pais e a escola se comunicaram para juntos

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observarem o comportamento de seus filhos/estudantes, observando sinais de vitimação e

autoria para tomar medidas devidas. Auxiliá-los e conduzi-los na construção de uma

sociedade mais justa e menos violenta, é obrigação de todos. Porém, através do questionário

pude observar que 10,0% dos estudantes consideraram não ter boas relações com sua família.

Não será este um fator influenciador apara que as crianças cometam bullying? O bullying é

um fenômeno que atormenta pais, professores e gestores. Está presente em praticamente todas

as escolas ao redor do mundo (cf., p. ex., BERGER, 2007), entretanto, é preciso uma

interação entre a família, a escola e a comunidade para sociedade para superá-lo. Por isso,

temos que lutar para combater o bullying e proteger tanto as vítimas, os agressores e as

testemunhas, porque no final todos acabam se tornando vítimas deste fenômeno.

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