O Brasil em 39 poemas fabulosos & alegóricos

Ilustrações Fido Nesti

Sumário14 a partilha15 a terra16 o desterro17 a batalha19 a entrada21 a conjura22 casa grande & senzala por uma mucama23 a fuga24 Nossa Senhora Dona Carlota Joaquina de Bourbon25 falsa lira de Pedro i, o “demonião”26 missiva de Domitila para o “demonião”27 Nioac29 1872 30 abolição31 o pijama de Deodoro32 1916 ou pelo telefone33 cabralismo 34 comboio35 a trajetória da pedra36 1932 ou para não dar a partida por perdida37 mmdc

39 pararatimbum-bum-bum40 16 de julho, 1950, 16:5041 o tiro do presidente42 pilhéria na padaria: 24 de agosto de 195443 como pode um peixe vivo viver dentro da braguilha44 vassourinha ou o presidente era um jingle45 1º de abril de 1964 na embaixada norte-americana 46 número 548 festival da canção, 196949 23 de março de 1979 ou repressão é isso aí, bicho! 50 Diretas já ou a banda do Pirandello53 memorando ministerial, 16 de março de 198554 o confisco, março de 199055 a moeda & o pão nosso de cada dia

56 caras-pintadas 57 tudo como dantes no quartel de Abrantes58 carta 14ª59 ai! que preguiça!...

61 referências, apropriações & citações (ou: expondo a cozinha)

a partilha

tome-se por decididopor justo e bem contratadoque o chão ao meio cindidoseja por vós partilhado

e não havendo o vencidoassinem este tratadopor Mim celebrado e ungidoco’a benção de meu Papado

e dando por resolvidoo embate e o seu passadoorando ao Deus consabidodobrem-se a Mim qual criado

a terra

as gentes nuasmansas e pacíficasna primeira inocênciapor Deus concedida

rejeitaram o mel os figos passadosa taça de vinhoe a água da albarrada

cobiçavam os gentiosos anéis e as insígnias de Nosso Capitão-Mor

e foram tão dóceisque ele as deu de bom gradoem troca de sua terra bruta

16

o desterro

manda quem não tem juízoobedece quem não pode

e qualquer aquele que maliciosamenteo contrário fizer pague um marco de pratamorra por isso ou seja degredado per omnia para o Brasil

17

a batalha

em este tempo a artelharia imigadesembarcou entre a cidade e a Vila Velha

alojados em São Bento com cargas de monição miúdamuitos meninos morrerão pelejando animosamentecom os Olandezes ( que farão toda essa matanzamuy contentes) hua briga que durou duas horas até que o manto negro da noite cobrisse a terra e o sangue da cor do vinhoa embriagasse

oitenta dos nossos vallerosos soldadosforão mortos e seus corpos enterradosno Sagrado solo e no Mistério de nossa Fée não se poderá ver mayor demonstração de amor à Sua Magestade e à Coroa de Portugal

porque sou de 63 annos e he já tempo

18

de tractar só de minha vida e não das alheasdarei fim a essa historia da batalha pera socorrere recuperar a Bahia

19

a entrada

as terras minerais desde sempre Vossasque por anos escavamos por de cima pelo meio e pela fossas

se encontravam livres sem eira beira ou mantimento para que Vossos vassalos houvessem bom repartimento

digo:

a bandeira em sua jornadacom a cruz e o facão rompe mataabre picada em viril execução o trabalho e a venturaseguem sempre em união com a dor e a clausurada mais bruta reclusão

e aquele em que grassaa mortífera sezão será posto em desgraça

20

sem provento ou quinhão

dito isso ó Meu Senhor encilhando meu cavalosem remendo ou temoro abandono sem abalo