o blog como ferramenta de aprendizagem no ensino … · motivadoras, e acessíveis para o aluno. ao...
TRANSCRIPT
O Blog como Ferramenta de Aprendizagem no Ensino de Química1
Carlos Alberto da Silva SOUSA2
Maria Goretti de Vasconcelos SILVA3
Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, CE
Resumo
O blog foi utilizado neste trabalho como ferramenta pedagógica no ensino de Química em
uma escola pública da periferia de Fortaleza-CE. Desenvolveram-se ações com os
estudantes no laboratório de informática com a aplicação dos temas “As biografias e o
ensino de Química” e "Ácidos e Bases". Para avaliar a aprendizagem foi aplicado um
mesmo questionário em três momentos diferentes: no início, ao final e uma semana após o
término do curso gerando dados que foram analisados qualitativa e quantitativamente e
também comparados com turmas controle. Os pesquisados que usaram metodologias sem
blog apresentaram redução no desempenho de 3,74 para 2,30, equivalentes a 38,50% de
retrocesso. A implementação do blog como ferramenta pedagógica no ensino de Química
nos cursos presenciais regulares da educação básica possibilita desenvolver habilidades e
competências diferenciadas e úteis no mundo atual.
Palavras-chave: blog; ensino de química; aprendizagem significativa
Introdução
O ensino de química apresentou nos últimos tempos pouca evolução nas
ferramentas pedagógicas adotadas na melhoria da aprendizagem, o que pode ser percebido
nas Orientações Educacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 2006) quando no capítulo
referente aos conhecimentos de Química, refere-se sobre a disciplinaridade dos conteúdos
em contraposição às ações interdisciplinares e abordagens transdisciplinares recomendadas
pelos PCNEM e DCNEM (BRASIL, 2006, p. 101).
Na escola pública, salvo algumas intervenções pontuais, observa-se que as aulas
continuam sendo dadas nos moldes de séculos anteriores, tendo como recurso didático
unicamente o quadro verde ou branco (um grande avanço ao anteriormente negro) e o
velho e conhecido giz, um dos grandes responsáveis pela condição insalubre do magistério,
1 Trabalho apresentado ao II Simpósio de Inovação Tecnológica na Educação, Campinas, SP, 26 e 27/08 de 2013. 2 Mestre em Ensino de Ciências e Matemática, Professor do Ensino Básico Técnico e Tecnológico Federal da Escola de
Aprendizes-Marinheiros do Ceará, Fortaleza, CE. e-mail: [email protected] 3 Orientadora da pesquisa, Professora Doutora do Departamento de Química Analítica e Físico-Química da Universidade
Federal do Ceará, Coordenadora do Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática, Fortaleza, CE. e-mail:
embora nas escolas da rede estadual do Ceará, seja possível encontrar quadros para
marcador de quadro branco (pincel).
Encontramos em Guimarães (2000) um relato das práticas educacionais sem
reflexão, sem que seja dada a devida importância ao conhecimento efetivo o qual comunga
com o que estamos a expor com relação à falta de mudança, ou à pouca mudança, nos
procedimentos de ensino. Este tipo de ensino acontece por ser centralizado na suposta
sabedoria professor em detrimento do objetivo maior que é o aprimoramento do
conhecimento do educando.
Várias incursões do Governo Federal foram realizadas na tentativa de modificar
positivamente dessa realidade, como é o caso da “Lei nº 9.424 de 24 de dezembro de 1996
que dispõe sobre o Fundo de Valorização e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério (FUNDEF) o que estava previsto no sétimo parágrafo do
artigo 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias”, a “Proposta da Emenda
Constitucional (PEC) do FUNDEB” (BRASIL, 2006, p. 5), da distribuição de livros das
diferentes disciplinas do ensino, instalação de laboratórios de Ciências e Matemática
(multidisciplinares e/ou monodisciplinares), provimento de laboratórios de informática
com acesso por intermédio do “Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo)
criado pela Portaria nº 522/MEC, de 9 de abril de 1997”, e disponibilização de
computador na escola com acesso à internet ainda que lenta (BRASIL, 1997). Apesar
dessas iniciativas, pelo que se observa no cotidiano na escola, é notório o descompromisso
político na efetivação dessas ações nas escolas. As aulas não evoluíram suficientemente,
pelo menos o esperado pela repercussão do discurso ensejado por ocasião da aquisição dos
bens ou o início/inauguração das “obras”.
A deficiência acontece por conta inicialmente da baixa relação existente entre o
número de computadores da escola disponibilizados nos laboratórios e o número de alunos.
Já nos laboratórios de Ciências (Física, Química, Biologia e Matemática) a realidade da
grande maioria das escolas é que quando existe, trata-se de um único ambiente para
atender todas estas disciplinas para todas as turmas. Pode-se observar um grande
despreparo dos professores de um modo geral para o uso dessas ferramentas, apesar de
existirem profissionais aptos ou que pelo menos se disponibilizam a capacitar-se para esta
tarefa nos poucos cursos com esta destinação. Em muitos casos, até mesmo aqueles que
são destinados a coordenarem os laboratórios enfrentam tal situação sem qualquer
inclinação para a atividade. Outro fator complicador é a dificuldade apresentada para o
acesso aos laboratórios, exigida tanto ao professor como ao aluno.
Para ocorrer aprendizagem significativa, o material ou ferramenta utilizada permita
que o aluno tenha uma disposição para relacionar, o novo conhecimento, potencialmente
significativo, à sua estrutura cognitiva. Há a necessidade de que as aulas sejam
modernizadas, com o uso das novas tecnologias tais como a internet e simuladores de
ambientes virtuais, tornando-as atrativas, promovendo ações motivadoras, e acessíveis para
o aluno. Ao mesmo tempo, elas devem ser eficazes e práticas viabilizando a assimilação
dos conceitos científicos numa práxis de aprendizagem significativa por parte do
educando. É crucial que esta aula, ou parte dela, esteja disponibilizada para que o aluno
possa rever as estratégias e os conceitos trabalhados e será de grande valia, se esta aula
tiver continuidade em tempo fora da escola, possibilitando ao educando a interação,
produzindo e vendo produções de seus colegas e participar de um processo de construção
coletiva do conhecimento. A internet, com a diversidade de que é constituída, afigura-se
como um componente importante na viabilização destas atividades cruciais no processo
ensino-aprendizagem.
No entanto, a maior parte dos alunos vê com certa resistência a possibilidade de
aprender Matemática, Física, Química e Biologia. Do que se percebe a necessidade de que
as aulas sejam modernizadas, com o uso das novas tecnologias tais como a internet e
simuladores de ambientes virtuais, tornando-as atrativas e interessantes, promovendo ações
motivadoras, e acessíveis para o aluno. Ao mesmo tempo, elas devem ser eficazes e
práticas viabilizando a assimilação dos conceitos científicos numa práxis de aprendizagem
significativa por parte do educando. É relevante a aula, ou parte dela, esteja disponibilizada
para que o aluno possa rever as estratégias e os conceitos trabalhados e, será de grande
valia, se esta aula tiver continuidade em tempo extraescolar possibilitando ao educando a
interação, produzindo e vendo produções de seus colegas e, neste procedimento, participar
de um processo de construção coletiva do conhecimento.
Certamente o grande volume de acessos à internet tem seu reflexo na sociedade. Os
professores percebem mudanças comportamentais em seus alunos demandando novas
abordagens e métodos de ensino no exercício de sua profissão referindo-se inclusive à
superficialidade aparente dos alunos no pensar e agir pelo modo com que transitam de uma
fonte de informação para outra deixando a impressão que estes não refletem nem criticam
sobre o que as informações que absorvem. Para Veen e Vrakking (2009) a preocupação do
comportamento das crianças viventes no mundo digital não permeia apenas entre os
professores. Todo e qualquer projeto que tenha público alvo pessoas com idade de 12 a 24
anos, e a escola com dedicação especial, tem que estar atento a estas pesquisas, o que leva
a toda uma reformulação cultural. As linguagens passam a ser readequadas, os processos
motivacionais também devem está em ressonância com estas novas tendências
comportamentais. Lévy (2000) na introdução de seu livro “As tecnologias da inteligência:
o futuro do pensamento na era da informática” já se referia a este processo envolvente das
novas tecnologias e suas influências nas diversas relações da sociedade numa percepção ao
que existia e de como a evolução das tecnologias era percebida. A força influenciadora das
novas tecnologias no convívio social já era bastante evidente no início da década de 90.
Caracterização de Blogs
Uma ferramenta criada na internet e que muito se popularizou pela praticidade de
manuseio, facilidade no acesso, quantidade e variedade de informações suportada, caiu no
gosto de todas as gerações, notadamente os jovens. Esta ferramenta, chamada inicialmente
de weblog é posteriormente denominada simplesmente de blog e foi concebida como “uma
coluna on-line, com interatividade e multimídia” Segundo Veen e Vrakking (2009), os
blogs “... são diários digitais que todos podem acessar. É possível escrever sobre qualquer
coisa: histórias, convicções, experiências, fotos, jogos, qualquer coisa que você deseje
compartilhar com o mundo.” Os blogs podem ser classificados segundo sua finalidade em
blogs de interação (e aqui estão os milhares de blogs sociais) e de aprendizado, que ainda
são raros na literatura.
Figura 1. Modalidades dos blogs na educação
Fonte: Barro et al. (2008)
A opção do uso de blogs como ferramenta pedagógica, deriva do fato de possibilitar
e propiciar aos educandos e professores postarem na internet textos selecionados prontos,
construir textos, narrativas, colocar questões, registros de aprendizado, opinião sobre
atualidades, partilhar ideias, relatórios de visitas, experimentos e excursões de estudos,
publicar trabalhos, fotos, desenhos, vídeos, músicas e o que mais a imaginação permitir,
participando de uma construção coletiva, colaborativa do conhecimento nas postagens ou
por intermédio dos comentários em momentos síncronos ou assíncronos de forma mais
fácil e rápida. Estes predicados consolidam a esta outra característica do blog como
ferramenta de apoio ao ensino no processo de desenvolvimento de trabalho colaborativo
isto tudo sem as dificuldades de atualização requeridas pelos sites tradicionais
(BALTAZAR; GERMANO, 2006; SANTOS, 2008; BARRO et al., 2008).
Os Blogs Educacionais (Salas de Aula Virtuais)
Na visão de Moresco e Behar (2006, p. 2), a utilização de weblogs no processo
ensino-aprendizagem proporciona ao educando uma variedade de ações educativas a serem
desenvolvidas síncronas ou não. Neste sentido MORESCO afirma que “a partir da criação
de blogs educacionais o aluno poderá pesquisar, analisar, refletir, e buscar soluções para
resolver problemas, ao mesmo tempo em que se apropriar das tecnologias digitais.” Tudo
isto pode acontecer dentro ou fora do ambiente escolar em seu horário de permanência da
sua instituição de ensino ou fora dela possibilitando assim a ampliação da ocupação do
educando no processo formativo contribuindo para que o mesmo fique menos vulnerável
às influências impróprias que o levaria à provável marginalidade.
Os blogs são dotados de recursos que permitem a interação entre o autor do blog e
os visitantes. Estes, ao verem as postagens podem fazer uso do espaço “comentário”, que
fica logo após cada postagem, ou do livro de visitas ou ainda dos murais virtuais, e
desenvolverem seus comentários os quais ficarão visíveis e identificados som nome e
imagem (uma foto, provavelmente, à escolha do postador), à escolha do autor do blog. Os
elementos de identificação, nome e foto, funcionarão como hiperlink permitindo que, ao se
clicar, enviar uma mensagem direta o proprietário da foto. Demais alunos que visitarem o
blog de modo síncrono, ou a posteriori, de modo assíncrono, poderão efetuar comentários
tanto direto da postagem principal como de cada comentário postado ou ainda direto para o
autor da postagem ou do comentário. Estas ações poderão promover produtivas discussões
proporcionando uma aprendizagem colaborativa. Desta forma, o educando sai da condição
de receptor passivo para coautor do conhecimento construído (BALLESTA PAGÁN,
2002). Tem-se então neste processo, com o uso de blogs educacionais na pesquisa, na
análise, na reflexão e na busca de soluções, o reforço da socialização do conhecimento
associado à construção colaborativa que pode influenciar positivamente na autoestima e
autonomia do educando (MORESCO; BEHAR, 2006).
A estratégia do uso de blogs propicia o desenvolvimento do pensamento crítico do
discente haja vista que o próprio educando se manifestará para aprimorar as contribuições
de seus precedentes ou por intermédio de participações em tempo real. Neste mecanismo
enseja-se a possibilidade das discussões que, com certeza, promovem e lapidam o
conhecimento. Com as devidas interveniências do conjunto de educadores vislumbra-se a
possibilidade do êxito possível na relação trabalho educacional em “contraposição” ao
trabalho político. Neste caso, contraposição não tem sentido antagônico e sim de
desabrochar atitudes políticas por ocasião do desenrolar do trabalho educacional.
Em harmonia com essa ideia encontra-se em Moresco e Behar (2006, p. 3) ao
discorrer que:
[...] o uso da rede é, ainda, muito recente na escola pública e o grande
desafio, para os educadores que utilizam as tecnologias digitais em sua
prática docente, é fazer com que os alunos nela naveguem com qualidade
e senso crítico. [...] A orientação e o acompanhamento do professor são
muito importantes neste sentido.
As atividades educacionais a serem desenvolvidas pelos profissionais da educação
não podem ficar amarradas aos currículos tradicionais, recheados de conteúdos estanques e
descontextualizados. Seus procedimentos devem permitir que o educando se desenvolva e
detecte a jogo de interesses que está por trás de cada ação do outro e consiga ter um
cotidiano consciente.
Exemplos do uso destas novas tecnologias já se manifestam em algumas escolas no
estado do Ceará, de forma pontual, porém, fazendo uso mais criativo da internet como os
Projetos: “Uso do Blog na Interação Escola-Comunidade” e “Jovens Profissionais na Linha
Digital” apresentado pela Escola Profissional de Russas “Jornal Virtual SFT” apresentado
na III Feira Estadual de Ciência e Cultura, em Fortaleza. Em outros estados do Brasil,
encontra-se ativo o blog da Escola Municipal CAIC Mariano Costa da Rede Pública
Municipal de Joinville-SC e em Rio Pardo no Rio Grande do Sul o blog é para a
aprendizagem de Física e Química de Moresco e Behar (2006), nos qual os autores
concluem que cada blog pode ser considerado um laboratório dinâmico que podem
colaborar no desenvolvimento de habilidades e competências necessárias ao estudante no
mundo atual.
Nos exemplos apresentados percebe-se o uso do blog na relação da escola com a
sua comunidade local e/ou na interação com os demais segmentos que configuram a
comunidade escolar, os quais são muito importantes para o sucesso escolar, mas não fazem
parte da dinâmica da sala de aula. Dos relatos destas escolas conclui-se, portanto não haver
nenhuma inovação no sentido da apropriação do conhecimento digital dos professores e/ou
alunos na dinâmica do processo ensino-aprendizagem em suas aulas ou numa extensão
destas na própria escola ou fora dela.
Desenvolvimento do Trabalho
A Construção dos Blogs Educacionais: Sala de Aula Virtual
O Blogger (tutorial ©Google.com - disponível em
<http://www.google.com/support/blogger/bin/answer.py?hl=pt-BR&answe r=41354>,
acessado em 3/8/2011) foi selecionado na elaboração dos blogs educacionais utilizados
neste trabalho, devido sua simplicidade e viabilização de atualização, a qualquer momento
independente do lugar que se encontre do planeta sem a menor complicação ou
conhecimento de programação desde que tenha acesso à internet além de ser uma
ferramenta disponibilizada gratuitamente. Dois temas foram selecionados para aplicação da
ferramenta: “As Biografias e o Ensino de Química” e "Ácidos e Bases".
As Biografias e o Ensino de Química
O tema “As Biografias e o Ensino de Química” foi selecionado possibilitando ao
estudante ser inserido na História da Ciência, conteúdo que normalmente não é
contemplado nos currículos das escolas. A introdução da História da Ciência na educação é
defendida por permitir aos estudantes, a concepção do conhecimento científico no contexto
de que a ciência pode ser situada social e historicamente (TERNES et al., 2009). Os
Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) indicam que esta área de pesquisa é
importante na compreensão das concepções científicas absorvidas pelos estudantes.
O trabalho foi aplicado em 14 turmas distintas de alunos do segundo ano do Ensino
Médio 6 (seis) do turno da manhã e 8 (oito) do turno da tarde. A pesquisa de campo
desenvolveu-se em várias etapas. Na primeira etapa, após a realização do questionário
preliminar citado acima, efetuou-se uma atividade de capacitação em comunicações
virtuais dos alunos da escola selecionada para que os mesmos apropriassem e ou
aprimorassem as habilidades necessárias ao manuseio de blogs com a finalidade de
minimizar as dificuldades nestes conhecimentos. Trabalhou-se, para tanto, habilidades de
enviar e receber mensagens por e-mail, postar comentários em blogs e sites, etc., com a
implementação do tema “As Biografias e o Ensino de Química”.
Na segunda etapa, o blog privativo foi construído pelo autor da pesquisa para cada
uma das 14 (catorze) turmas. O título de cada blog foi constituído do termo “QUÍMICA
GERAL. COM_[REFERENCIA DA TURMA], como por exemplo, para a turma A do 2º
ano o título atribuído foi “QUÍMICAGERAL.COM_2A” podendo ser encontrado no
endereço eletrônico <http://quimicageralcom-2a.blogspot.com> como pode ser visto na
figura 02.
Figura2. Print screen do blog construído para uma das turmas, 2ºA, na fase I com a postagem
“As Biografias e o Ensino de Química”
Fonte: Blog Química Geral.com_2ª- Disponível em: http://quimicageralcom-2a.blogspot.com.br/2010/05/as-
biografias-e-o-ensino-de-quimica.html>. Acesso em: 14 jul. 2013.
A apresentação do blog de cada turma (sala de aula virtual) contendo um passo a
passo da primeira atividade a ser desenvolvida no tema “As biografias e o ensino de
Química” com uma listagem de 50 cientistas envolvidos com os conhecimentos de
Química, ou afins foi realizada. Na primeira sessão de cada turma no laboratório de
informática foi apresentado o blog portal, não privativo, o seu endereço eletrônico,
http://quimicageralcom.blogspot.com, através do qual seria feito o acesso ao blog de cada
turma. Cada aluno deveria escolher um dos cientistas relacionados na postagem, pesquisar
a biografia e fazer uma publicação na forma de comentário desta postagem tendo a
obrigação de transformar a linguagem dando a conotação de uma autobiografia. A
avaliação dos comentários correspondeu a uma nota que compôs parcialmente a nota do
primeiro período letivo de 2010 do aluno, sendo que para os alunos que, por um motivo ou
outro, não desenvolveram a atividade tiveram suas médias compostas apenas pelas demais
atividades do referido período, como se a atividade não tivesse existido.
A segunda atividade programada consistiu na leitura das postagens inseridas no
blog, no tema "As Biografias e o Ensino de Química - parte II”, seguido da execução de
duas tarefas: escolher um cientista entre os 50 da listagem da primeira atividade que não
tenha sido trabalhado por ele, ler a biografia desse cientista postada por um colega, assumir
a postura de entrevistador diante do cientista e elaborando 15 perguntas (devendo envolver
a identificação, a produção científica e a vida pessoal/social do vulto) cujas respostas sejam
encontradas na biografia postada por seu colega na primeira atividade, sem, no entanto,
respondê-las, pois quem irá responder será um outro aluno.
A terceira tarefa foi a de escolher uma entrevista postada por um colega e assumir o
papel do cientista diante do repórter e responder as 15 perguntas postadas pelo colega. O
aluno, neste momento, não poderá trabalhar com o cientista do qual elaborou a entrevista
nem com o do que postou a biografia, de modo que ao final da atividade, o aluno deverá ter
trabalhado com (três) cientistas diferentes, do 1º postou a biografia, do 2º publicou a
entrevista e do 3º respondeu as 15 perguntas. Durante toda a atividade, os alunos postavam
também as impressões sobre o uso da ferramenta.
Ácidos e Bases
Alguns conhecimentos são fundamentais na Química e permeiam por várias áreas
estando presentes no cotidiano de todos. São temas transversais, citados nos PCNs
(BRASIL, 1999), e um desses temas é "Ácidos e Bases". O uso dos blogs na aplicação do
tema ácidos e bases foi realizado com quatro grupos de vinte alunos
convidados/voluntários, dois grupos de cada turno, manhã e tarde.
Inicialmente os estudantes participaram de uma avaliação virtual, que funcionou
como um pré-teste sobre os conhecimentos já existentes sobre o conteúdo de 20 questões
objetivas de 05 opções das quais uma única é verdadeira. Antes da ação da primeira aula,
foi construído um blog contendo orientações a serem utilizadas pelos alunos.
Posteriormente foram ministradas dez horas-aulas sobre ácidos e bases, distribuídos em 6
tempos de aula. Dos quatro grupos, dois (1 de cada turno), trabalharam em aula
convencional (sem o uso do blog), e os outros dois (1 de cada turno), desenvolveram
atividades letivas usando o blog como ferramenta didática. Os 2 grupos que receberam
aulas sem o auxílio do blog, sendo 1 (um) de cada turno, serviram como grupo de controle.
Esses eventos aconteceram no próprio laboratório de informática da escola em que os
alunos estudavam em seus turnos correspondentes. As atividades desenvolvidas com o uso
do blog foram principalmente aulas virtuais e listas de exercícios. No final da atividade foi
efetuada uma avaliação que consistiu da mesma prova que foi aplicada no pré-teste e uma
semana após a última aula, aconteceu a aplicação da mesma prova, todas com o mesmo
critério de pontuação da primeira, de modo que a mesma prova foi aplicada em 03
oportunidades.
A partir dos dados obtidos, foi possível promover a análise da evolução ou
regressão das médias dos grupos ao longo das 3 provas e a propor a influência destes
resultados no processo de ensino-aprendizagem de cada grupo estratificados por turnos,
ano de escolaridade, por prova e total, para os alunos que participaram do curso sem blog.
Resultados e Considerações Finais
A desenvoltura dos alunos no desenvolvimento do projeto “As biografias e o ensino
de Química”, se percebe no comentário desenvolvido por um aluno da 1ª série do ensino
médio, incorporando o cientista Fritz Haber e narrando a Biografia do cientista como se
fosse a sua própria, e nos revela que isto é possível uma vez que para a concretização de tal
tarefa o aluno, assim como os demais que participaram ativamente, desenvolveram
habilidades e competências tais como leitura, escrita, concordância gramatical,
familiarizou-se com a vida pessoal e acadêmica do cientista, apropriou-se de vários termos
específicos da Química bem de algumas áreas de atividades que lhe são próprias. O nível
de informação e de interação com o próprio blog da turma é bastante diferenciado e mesmo
assim o resultado foi bastante satisfatório.
Os alunos que concluíram todas as atividades do projeto “As biografias e o ensino
de Química”, não chegaram a 20% dos alunos que iniciaram o projeto. Durante este
percurso, estes 68 alunos se apropriaram de conhecimentos, que os outros não tiveram, e se
entusiasmaram pela empreitada, tanto pelo teor das informações obtidas, como pela nova
habilidade obtida na construção deste recurso informacional, que é o blog. De forma geral,
concluímos que esta atividade foi utilizada com sucesso no treinamento destes alunos nesta
metodologia que são o uso e construção de blogs.
Os dados obtidos com as respostas de todos os alunos permitiram na atividade que
investigou o uso dos blogs na aplicação do tema ácidos e bases, permitiu elaborar o gráfico
01, que compara o desempenho dos estudantes com o uso da ferramenta Blog e sem esta.
Gráfico 1. Comparação entre as notas obtidas por todos os alunos
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
1º Ano 2° Ano 3° Ano Geral
2,82
3,39
3,93
3,263,263,04
0
3,15
Com Blog
Sem Blog
Fonte: Tabulação das notas das avaliações realizadas por ocasião de aulas sem blog e com blog
A consistência do conhecimento apropriado pelo estudante, revelado pela avaliação
após o término do curso ter sido bem diferente entre as duas metodologias usadas nesta
pesquisa. Enquanto os alunos que trabalharam fazendo uso de ferramentas da internet
evoluíram da 2ª para a 3ª prova percentualmente 24,27%, os pesquisados que se
submeteram ao curso que usou metodologias sem blog desencadearam uma redução no
desempenho de 3,74 para 2,30 equivalentes a 38,50% de retrocesso. Durante o processo de
aprendizagem fazendo uso de blogs o aluno desenvolve habilidades e competências tais
como autonomia na busca de conteúdos, liberdade de escolha dos textos, sons e imagens
mais adequados à sua postagem, necessidade de tomada de decisões, desenvolve o
processo de produção textual, e aprimora a criticidade. Estas desenvolturas fizeram a
diferença e foram responsáveis pelo aprendizado significativo revelado pelo resultado das
médias, mesmo mais de uma semana posteriormente ao encerramento do curso.
O uso do blog como ferramenta do processo ensino-aprendizagem escolar na
modalidade presencial, de um modo generalizado, na hipótese desta pesquisa revelar a sua
viabilidade, terá de imediato que vencer a resistência estabelecida no convívio do
magistério da educação básica pública que consiste na quebra de sua rotina pedagógica
como nos afirma Carvalho (1999), citado por Carvalho (2002): “Um problema que
encontramos em nossas investigações diz respeito à dificuldade do professor em realizar
mudanças na ‘sua didática’”.
Entende-se que a mudança de atitudes dos profissionais da educação na direção de
adotar as novas tecnologias como recurso didático na prática de sua sala de aula deverá ser
estimulada. Talvez o caminho seja o de promover cursos de capacitação para os
professores, oficinas de capacitação do uso de blogs em aulas e mostrando para eles as
possibilidades diversas de aplicação desta ferramenta e com os resultados eles possam
aderir a esta nova estratégia. O número de professores familiarizados com as novas
tecnologias não é muito favorável ao que estamos propondo no projeto ensejando a
necessidade de políticas públicas de qualificação destes profissionais o que pode ser feito
por intermédio da formação continuada em serviço.
Reportando-se à necessidade de reverter o quadro crítico apresentado nos resultados
do Sistema de Avaliação da Educação Básica, referentes aos alunos que concluíram o
segundo grau no Estado de São Paulo, os quais não diferem muito dos demais estados
brasileiros, Nardi (2005), citado por Moraes (2008, p. 348) admite ser imperativo
reformular a realidade da educação científica desde os grandes centros urbanos às regiões
rurais mais inacessíveis, e se conceber novas ações, políticas e parcerias público-privadas.
Por sua vez, Valente (2003), citado por Moraes (2008, p. 348) afirma ser uma das metas a
priorizar a reestruturação da forma inicial e continuada de professores de ciências,
destacando-se o uso das tecnologias digitais como ferramenta de apoio pedagógico.
A probabilidade da alfabetização digital dos professores vir a ser feita por
intermédio da educação continuada é uma possibilidade valiosa a se levar em conta. No
Brasil, historicamente, os cursos de formação têm se revelado insuficientes na capacitação
dos profissionais para o exercício pleno das atividades que lhes são inerentes. Desta forma,
a volúpia do conhecimento não permitiu a devida atualização das graduações de
preparação destes profissionais acarretando um grande descompasso entre as exigências do
mercado e o nível de preparação dos profissionais.
Assim, problemas concretos das redes inspiraram iniciativas chamadas de educação
continuada, especialmente na área pública, pela constatação, por vários meios (pesquisas,
concursos públicos, avaliações), de que os cursos de formação básica dos professores não
vinham (e não vêm) propiciando adequada base para sua atuação profissional. Muitas das
iniciativas públicas de formação continuada no setor educacional adquiriram, então, a
feição de programas compensatórios e não propriamente de atualização e aprofundamento
em avanços do conhecimento, sendo realizados com a finalidade de suprir aspectos da má
formação anterior, alterando o propósito inicial dessa educação - posto nas discussões
internacionais -, que seria o aprimoramento de profissionais nos avanços, renovações e
inovações de suas áreas, dando sustentação à sua criatividade pessoal e à de grupos
profissionais, em função dos rearranjos nas produções científicas, técnicas e culturais
(GATTI, 2008).
A implementação do blog como ferramenta pedagógica no ensino de Química nos
cursos presenciais regulares da educação básica possibilita um contato a mais do aluno
com o professor de modo síncrono ou assíncrono como sala de aula virtual, em que o
professor executa uma postagem e os alunos desenvolvem comentários, e outros alunos
vendo a postagem do professor e o comentário de um colega pode vir a ser estimulador e
para outro que ao ser despertado passa também a comentar sobre a postagem do professor
ou referente ao comentário do aluno e é nessa direção que devem ser feitos os incentivos
de participação dos alunos.
O professor, nesse contexto funciona como mediador desse diálogo que se forma
tendo-se conhecimento gerando conhecimento num processo colaborativo. Quando o
professor intervém num comentário de um aluno em forma de outro comentário, estará
atuando num atendimento individualizado, levando em conta os subsunçores percebidos
pelo professor para o referido aluno na(s) participação(ões) feita(as) até o momento de sua
intervenção, possibilitando uma aprendizagem significativa que será aproveitado por todos
aqueles que ao blog tiver acesso a qualquer tempo.
As leituras realizadas, a análise das postagens dos alunos em suas salas de aula
virtuais, o diálogo com os alunos por ocasião nas interações nas salas de aula e no
laboratório de informática da escola levam a concluir a possibilidade do uso dos blogs
como ferramenta auxiliar no processo de ensino aprendizagem de todas as disciplinas do
ensino básico e inclusive Química.
Referências
BALLESTA PAGÁN, J. Educar para el consumo crítico de los medios de comunicación. Revista
Eticanet, v. 1, p. 1-21, 2002. Disponível em:
<http://www.ugr.es/~sevimeco/revistaeticanet/Numero0/Articulos/Educar_para_el_consumo_de_lo
s_mc.pdf>. Acesso em: 19 mar. 2012.
BALTAZAR, N.; GERMANO, J. Os weblogs e a sua apropriação por parte dos jovens
universitários. O caso do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Algarve.
Prisma.com – Revista de Ciências da Informação e da Comunicação do CETAC, n. 3, out. 2006.
Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/baltazar-neusa-germano-joana-weblogs-jovens-
universitarios.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2013.
BARRO, M. R.; FERREIRA, J. Q.; QUEIROZ, S. L. Blogs: aplicação na educação em química.
Química Nova na Escola, n. 30, p. 10-15, 2008.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes curriculares
nacionais para o ensino fundamental: Parecer nº CEB 04/98. Brasília, DF, 1998.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação a Distância. Programa Nacional de
Tecnologia Educacional – PROINFO: diretrizes. Brasília, DF, 1997.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros
curriculares nacionais para o ensino médio. Brasília, DF, 1999.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Ciências da natureza,
matemática e suas tecnologias. Brasília, DF, 2006. 135p. (Orientações curriculares para o ensino
médio, v. 2).
CARVALHO, A. M. P. A pesquisa no ensino, sobre o ensino e sobre a reflexão dos professores
sobre seus ensinos. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 28, n. 2, p. 57-67, jul./dez. 2002.
GATTI, B. A. Análise das políticas públicas para formação continuada no Brasil, na última década.
Revista Brasileira de Educação, v. 13, n. 37, p. 57-70, jan./abr. 2008.
GUIMARÃES, G. TV e escola: discursos em confronto. São Paulo: Ed. Cortez, 2000.
LÉVY, P. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de
Janeiro. Editora 34, 2000.
MORESCO, S. F. S.; BEHAR, P. A. Blogs para a aprendizagem de física e química. RENOTE -
Revista Novas Tecnologias na Educação, Porto Alegre, v. 4, n. 1, 2006. Disponível em:
<http://seer.ufrgs.br/renote/article/view/14121/7996>. Acesso em: 03 mar. 2012.
NARDI, R. (Org.). Questões atuais no ensino de Ciências. São Paulo: Ed. Escrituras, 2005. In:
MORAES, S. E. (Org.). Currículo e formação docente: um diálogo interdisciplinar. Campinas, SP:
Mercado de Letras, 2008.
SANTOS, G. L. dos. Blogs como recursos didáticos. 2008. Disponível em:
<http://www.interdidatica.com.br/blog/index.php/2008/ 10/15/blogs-como-recursos-didaticos/>.
Acesso em 26 jul. 2013.
TERNES, A. P. L.; SCHEID, N. M. J.; GÜLLICH, R. I. C. A história da ciência em livros
didáticos de ciências utilizados no ensino fundamental. 2009. Disponível em:
<http://posgrad.fae.ufmg.br/posgrad/viienpec/pdfs/1677.pdf>. Acesso em: 01 ago. 2013. Trabalho
apresentado no VII ENPEC, 2009, Florianópolis, SC.
VALENTE, J. A. (Org.). Formação de educadores para o uso da informática na escola. Campinas,
SP: UNICAMP/NIED, 2003. In: MORAES, S. E. (Org.). Currículo e formação docente: um
diálogo interdisciplinar. Campinas, SP: Mercado de letras, 2008.
VEEN, W.; VRAKKING, B. Homo zappiens: educando na era digital. Porto Alegre: Artmed,
2009.