o bandeirante - nº 255 - fev 2014

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255 255 255 255 255 FEVEREIRO 2014 O Bandeirante Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional S.Paulo Curitiba “Um povo educado com um sotaque grandemente peculiar – lá, o som da letra ‘e’ final, quando não tônica, não se transforma em ‘i’ como no resto do País – habita uma cidade asseada e muito organizada em todas as áreas, dos transportes urbanos à conservação das praças e monumentos, passando pela integridade das calçadas e tudo o mais. Sexta-feira, no final da tarde, quando os centros comerciais de qualquer cidade mostram cansaço no que diz respeito à limpeza, caminhei no centro de Curitiba...” Leia a crônica de CARLOS AUGUSTO GALVÃO na p. 3 Não vivo do passado, tive a alegria de tê-lo vivido sem pensar que jamais passaria. Fiz planos e planos para o futuro sem saber ou sequer saber que o futuro nunca existiu e o tempo cruel me converteria numa outra peça de museu, sem futuro, arqueológico, com documentos amarelados e envelhecidos.Crônica de ROBERTO ANTONIO ANICHE na p. 4 A vida é um sonho A blusa romena “...Com olhar de moça ainda menina, encontrei a Blusa Romena. Diante do quadro senti que trocamos olhares; meigo, feminino, firme. Quando dei por mim, estávamos experimentando aquela mesma blusa e conhecíamos a textura, o toque dos bordados...” A crônica de SUZANA GRUNSPUN está na p. 4 Visite nosso BLOG: http://sobramespaulista.blogspot.com.br SUTILEZAS Ligia Terezinha Pezzuto 6 A CRISE Sheila Regina Sarra 5 CREPE SUZETTE Evandro Guimarães de Souza 6 PRATA DA CASA Alitta Guimarães Costa Reis 5

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Page 1: O Bandeirante - nº 255 - FEV 2014

255255255255255FEVEREIRO

2014O Bandeirante

Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional S.Paulo

Curitiba“Um povo educado com um sotaque grandemente peculiar – lá,o som da letra ‘e’ final, quando não tônica, não se transforma

em ‘i’ como no resto do País – habita uma cidade asseada emuito organizada em todas as áreas, dos transportes urbanos à

conservação das praças e monumentos, passando pelaintegridade das calçadas e tudo o mais. Sexta-feira, no final

da tarde, quando os centros comerciais de qualquer cidademostram cansaço no que diz respeito à limpeza,

caminhei no centro de Curitiba...”

Leia a crônica de CARLOS AUGUSTO GALVÃO na p. 3

“Não vivo do passado, tive a alegria de tê-lo vivido sem pensar

que jamais passaria. Fiz planos e planos para o futuro sem saberou sequer saber que o futuro nunca existiu e o tempo cruel me

converteria numa outra peça de museu, sem futuro,

arqueológico, com documentos amarelados e envelhecidos.”

Crônica de ROBERTO ANTONIO ANICHE na p. 4

A vida é um sonho

A blusa romena“...Com olhar de moça ainda menina, encontrei a BlusaRomena. Diante do quadro senti que trocamos olhares;meigo, feminino, firme. Quando dei por mim, estávamosexperimentando aquela mesma blusa e conhecíamos atextura, o toque dos bordados...”

A crônica de SUZANA GRUNSPUN está na p. 4

Visite nosso BLOG: http://sobramespaulista.blogspot.com.br

SUTILEZASLigia Terezinha

Pezzuto

6

A CRISESheila Regina

Sarra

5

CREPE SUZETTEEvandro Guimarães

de Souza

6

PRATA DA CASAAlitta Guimarães

Costa Reis

5

Page 2: O Bandeirante - nº 255 - FEV 2014

2 O Bandeirante - Fevereiro 2014

Jornal O Bandeirante

ANO XXIII - nº. 255Fevereiro 2014

Publicação mensal da Sociedade

Brasileira de Médicos Escritores -

Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP. Sede:

Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 278 - 7º. Andar - Sala 1 (Prédio

da Associação Paulista de Medicin a) - São Paulo - SP

Editores: Josyanne Rita de Arruda Franco e Marcos Gimenes

Salun (MTb 20.405-SP)

Jornalista Responsável e Revisora: Ligia Terezinha Pezzuto(MTb 17.671-SP).

Redação e Correspondência: Rua Francisco Pereira

Coutinho, 290, ap. 121 A – V. Municipal – CEP 13201-100 –

Jundiaí – SP E-mail: [email protected]

Tels.: (11) 4521-6484 Celular (11) 99937-6342.

Colaboradores desta edição: (Textos literários): Alitta

Guimarães Costa Reis, Carlos Augusto Ferreira Galvão,

Evandro Guimarães de Souza, Ligia Terezinha Pezzuto, Sheila

Regina Sarra, Suzana Grunspun e Roberto Antonio Aniche

(Fatos & Olhares) Márcia Etelli Coelho.

Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de

1.000 exemplares PDF enviados por e-mail.

Diretoria - Gestão 2013/2014 - Presidente: Josyanne Rita

de Arruda Franco. Vice-Presidente: Carlos Augusto FerreiraGalvão. Primeiro-Secretário: Márcia Etelli Coelho. Segundo-Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. Primeiro-Tesoureiro: José Alberto Vieira. Segundo-Tesoureiro: Aida

Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini. Conselho FiscalEfetivos:Hélio Begliomini, Luiz Jorge Ferreira e Marcos

Gimenes Salun. Conselho Fiscal Suplentes: José Jucovsky,

Rodolpho Civile e José Rodrigues Louzã.

.

Matérias assinadas são de responsabilidade de seus

autores e não representam, necessariamente, a opinião

da Sobrames-SP

Editores de O BandeiranteFlerts Nebó - novembro a dezembro de 1992

Flerts Nebó e Walter Whitton Harris - 1993-1994

Carlos Luis Campana e Hélio Celso Ferraz Najar - 1995-1996Flerts Nebó e Walter Whitton Harris - 1996-2000

Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun - 2001 a abril de 2009

Helio Begliomini - maio a dezembro de 2009

Roberto A.Aniche e Carlos Augusto F. Galvão - 2010

Josyanne R.A.Franco e Carlos Augusto F.Galvão - 2011-2012

Josyanne R.A.Franco e Marcos Gimenes Salun - 2013-2014

Presidentes da Sobrames-SP1º. Flerts Nebó (1988-1990)

2º. Flerts Nebó (1990-1992)

3º. Helio Begliomini (1992-1994)

4º. Carlos Luiz Campana (1994-1996)

5º. Paulo Adolpho Leierer (1996-1998)

6º. Walter Whitton Harris (1999-2000)

7º. Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)

8º. Luiz Giovani (2003-2004)9º. Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005)

10º. Flerts Nebó (out/2005 a dez/2006)

11º. Helio Begliomini (2007-2008)

12º. Helio Begliomini (2009-2010)

13º. Josyanne Rita de Arruda Franco (2011-2012)

14º. Josyanne Rita de Arruda Franco (2013-2014)

Editores: Josyanne R.A.Franco e Marcos Gimenes Salun

Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto

Diagramação: Marcos Gimenes Salun | Rumo Editorial

Produções e Edições Ltda. E-mail: [email protected]

Impressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica

Editora - São Paulo

Josyanne Rita de Arruda Franco

Médica Pediatra Presidente da Sobrames-SP

Já pagou a anuidade 2014?

21/02 – Josyanne Rita de Arruda Franco

27/02 – Hildette Rangel Enger

Retorno de férias: início de atividades e compromissos. Deixamosa tão curtida descontração para assumir responsabilidadescotidianas com maior interesse e empenho. Vão-se os dias deócio quase juvenil, de sol e sal, calor e roupas leves. Chinelosdando lugar aos saltos! Saem dos armários jalecos, uniformes evestes menos casuais.  É tempo de voltar à lida que movimenta oPaís, dá sentido à vida, impulsiona a economia... e alimenta ossonhos! Tempo de escrever e criar, florescer ideias e atitudes.Tempo de colocar em prática o prometido e o desejado. Tempode encontros alegres, de fato menos festivos que os do fim doano passado... porém mais constantes, semeados e cultivadoscom amizade e companheirismo ao longo de doze meses. É tempode arar a literatura e germinar Sobrames-SP! Pode chegar maisperto.

As Pizzas Literárias da SOBRAMES-SP acontecemna terceira quinta-feira de cada mês, a partir

das 19h00 na PIZZARIA BONDE PAULISTARua Oscar Freire, 1.597 - Pinheiros - S.Paulo

Será de R$ 330,00 o valor da anuidade para 2014, que poderá ser pagoem três parcelas de R$ 110,00, com cheques para fevereiro, março eabril. Para os pagamentos efetuados a partir de maio, o valor será deR$ 360,00. A diretoria espera e agradece a contribuição de todos, poisesta é a única fonte de recursos para manter as atividades da SOBRAMES-SP. O pagamento em dia também garante a publicação de seus textosliterários. Contatos com a tesouraria: [email protected]

Não perca em fevereiroPRÊMIO FLERTS NEBÓ - Na Pizza Literária de 20 de fevereiro seráfeita a entrega do Prêmio “Flerts Nebó” que, em sua 13ª. edição, irá parao melhor texto em prosa apresentado em 2013. Dois outros textos receberãomenções honrosas neste concurso. SUPERPIZZA. “Fim de festa” é o motepara quem quiser participar do desafio da próxima Superpizza, cujos textosem prosa ou verso com o tema deverão ser apresentados na Pizza Literáriado dia 20. O que for escolhido por um jurado convidado receberá umagarrafa de vinho.

Inscrições abertas para a Coletânea 2014As regras e condições para mais uma edição da tradicional coletâneabianual da SOBRAMES-SP, “A Pizza Literária - décima terceirafornada”, já estão disponíveis. Elas foram publicadas num BLOGexclusivo, que foi ao ar no final de janeiro e que poderá ser acompanhadono endereço abaixo. Uma divulgação por e-mail já foi feita e logo maisestará sendo enviada também por correio convencional. No encerramentodesta edição, três autores já haviam feito sua inscrição. Não percatempo: prepare seus melhores textos e inscreva-se hoje mesmo!

http://coletanea2014.blogspot.com.br/

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O Bandeirante - Fevereiro 2014 3

Carlos Augusto Ferreira Galvão

Curitiba ao molho da amizade

Curitiba, a maior cidade do Sul do País, nãotem um fundador, como muitas das capitaisbrasileiras; ela foi simplesmente criada a partir deum povoamento bandeirante, naturalmente em umaposição geográfica estratégica, e foi alçada àcondição de cidade em 1693. Porém apenas com acriação de uma estrada tropeira que ia de Sorocabaà Viamão, Curitiba começou a desenvolver-se, poisera um importante entreposto às tropas de burros,carregados de gêneros e bens de comércio, ondedescansavam os animais e os tropeiros. Em 1853,logo após a emancipação do Paraná, a cidadetornou-se a capital deste Estado.

No recente congresso em Curitiba, tiveoportunidade de conhecê-la e admirá-la. A cidadepossui uma característica bem paulistana: Curitibaé uma cidade séria, e não vai aí nenhum sentidopejorativo, porque inclusive a seriedade foi um dosfascínios com que São Paulo me conquistou ao pisarem seu chão.

Um povo educado, com um sotaquegrandemente peculiar – lá, o som da letra “e” final,quando não tônica, não transforma-se em “i” comono resto do País – habita uma cidade asseada emuito organizada em todas as áreas, dostransportes urbanos à conservação das praças emonumentos, passando pela integridade dascalçadas e tudo o mais. Sexta-feira, no final datarde, quando os centros comerciais de qualquercidade mostram cansaço no que diz respeito àlimpeza, caminhei no centro de Curitiba. Nenhumpapel machucado jogado nas calçadas, nem mesmoum maço vazio de cigarros, os pontos de ônibus

limpos... Não foi à toaque recentemente arevista Forbes classificouCuritiba como a terceiracidade mais ecologi-camente sagaz domundo, e explicou queela tem um cidadão demuita consciênciaa u t o s s u s t e n t á v e l ;acredito nisso.

Foi uma tarde lite-ralmente deliciosa;conheci os belíssimosparques que cercam acidade, vi uma imensaescultura de madeiraque também é umalinda igreja ortodoxa,araucárias por todos os

lados, arquitetura arrojada e moderníssima, afamosa “Ópera de Arame”, o impressionante“Museu do Olho”. Mergulhei na loiríssima Curitiba,em núcleos de imigrantes europeus, que preservama cultura de origem e que tanto enriqueceu a cidade,degustei alimentos de sabores diferentes e muitogostosos de origem polaca, isto tudo com umtempero que a cidade me ofereceu: a amizade deum grande curitibano, Sérgio Pitaki, que foi quempromoveu este “tour” vespertino. Enquantorodávamos por seus parques e ruas bem cuidados,a cidade parecia perguntar: –”Vê como sou linda?”

Sergio mostrou-me uma coisa que meemocionou. Em minha infância, por meu pai serbaiano, conheci algumas antigas cidades baianascomo Campo Formoso, Barra do Sauípe e Cabrobó,que ainda guardavam suas praças tropeiras: umquadrilátero grande, com bebedouros de animais etodo calçado de paralelepípedos. Era estranho paramim, criança amazônica, onde as tropas de burroseram substituídas por canoas. Sérgio Pitaki levou--me ao “umbigo” de Curitiba... Sua praça tropeira,em tudo parecida com as que conheci em minhainfância. Estavam lá os paralelepípedos, obebedouro, os prédios da época muito bemcuidados... Ali senti uma Curitiba brasileira. Ali, aolado de meu amigo de origem polaca, vi o rostobrasileiro desta cidade. Caiu uma lágrima de emoçãoe orgulho na face deste caboclo nortista, poisconstatou que a linda e loira Curitiba também énossa... É da grande nação brasileira.

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4 O Bandeirante - Fevereiro 2014

A vida é um sonhoRoberto Antonio Aniche

A vida é um sonho, maravilhoso, grande demaispara ser contida num só pensamento. Na minha idade,não faço planos para o futuro, vivo o dia de hoje, tododia nasço novamente para o dia que nasce. Não precisopensar no amanhã; se ele vier, que venha cedo, logoque eu acordar para eu aproveitar o céu, o sol, tudo,tudo mesmo a que tenho direito.

Não vivo do passado, mas me embebedo dopassado. A cada dia amo uma mulher diferente, durmocom ela, faço amor com ela, trazida do meu passadobela e faceira, carinhosa.

A cada dia faço alguma coisa que não fiz no meupassado, Sou um dia médico, outro maquinista de trem,Papai Noel, lutador de boxe, karatê e kung fu.

A cada dia nocauteio um desafeto trazido lá docomeço do calendário, aquele que me infernizou a vida,rasgou meu caderno, passou a mão na minha bunda naescola primária, comeu o sanduíche da minha lancheira.

A cada dia tenho um bicho novo no quintal de casa,um cachorro, um gato, leopardo, jacaré, godzila. Ainda

bem que sempre tem alguém para limpar a sujeira queeles fazem.

Não vivo do passado, tive a alegria de tê-lo vividosem pensar que jamais passaria. Fiz planos e planos parao futuro sem saber ou sequer saber que o futuro nuncaexistiu e o tempo cruel me converteria numa outra peçade museu, sem futuro, arqueológico, com documentosamarelados e envelhecidos.

A vida é um sonho em que o castigo é acordar e cairna realidade de que tudo não passou de mera ilusão, quenão existem amores eternos, nem glórias eternas, masapenas migalhas como estrelas cadentes que brilham sópor um instante e nos enchem de orgulho, acariciam nossoego.

Não há mais data certa para aniversário. Aniversárioé todo dia acordar com um beijo diferente a cada manhã,um gosto novo a cada beijo, uma saudade diferente queremonta ao excesso de memória. Acordar de manhã implicaem fazer a barba, tomar banho, perfumar-se, sentar-seem uma cadeira em frente a um copo de leite e um montede comprimidos que me mantêm vivo.

E sonhar novamente, com paixões e despedidas,com amores impossíveis, com traições deliciosas e traiçõesrepletas de ódio e veneno, com pessoas que entram esaem de nossas vidas, deixando saudades ou momentosque não têm perdão.

A vida é mesmo um sonho e mesmo ao me deitarnão faço planos para amanhã. Durmo a cada noite comuma namorada diferente que na minha memória nãoenvelhece. Nesses devaneios sou atleta, cabeços pretos,fala macia e me torno o maior amante do meu pequenouniverso.

Eu não faço planos para o futuro, não preciso deles.Aliás, eu nem sei que dia será amanhã...

Encontrei escritos meus de 1972,letra em caneta tinteiro preta,rascunho em um envelope pequenino do Musée National D’art Moderneem Paris.

Estou na sala Matisse; é incrível ver a evolução do pintor Matissecaminhando para o modernismo, traços mais duros; impressionismo,tentativas de simplificação. Figuras, traços modernos, dá-me aimpressão de expressionismo, arte moderna: apogeu La BlouseRoumain.

Com olhar de moça ainda menina encontrei a Blusa Romena.Diante do quadro senti que trocamos olhares; meigo, feminino, firme.Quando dei por mim estávamos experimentando aquela mesma blusae conhecíamos a textura, o toque dos bordados.

Naquele momento alucinante da troca de roupa, eu me vi e medesconheci. Na profundeza do vermelho, emergi e me acalmei;do brancoao azul. Eu ainda mais nova e nós tão próximas. De perto parecidas;eu ainda menina me diferenciava dela uma mulher jovem...

Usei na infância tal seda,enfeitada e delicada. Comemoradapela minha mãe, naquela sua alegria de me reconhecer como umaigual aos seus; vindos de tão longe. Romênia. Agora para lá do ano2000, sentada, lembrando com emoção.

A blusa romenaSuzana Grunspun

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O Bandeirante - Fevereiro 2014 5

O Jubileu e a Prata da Casa

Alitta Guimarães Costa Reis

A ideia surgiu por acaso.Pesquisei a respeito e umaavalanche de dados surgiu.Aleatoriamente separei algumascoisas interessantes paracompartilhar com meus amigos nessareunião que comemora os vinte ecinco anos da SOBRAMES. Podemoslembrar Sigmund Freud, que disseque toda pessoa só é normal namédia, ideia que Caetano Velosoresumiu dizendo que de pertoninguém é normal.

Nós, humanos escritores,temos algo em comum: não existe quem seja perfeito. Por aíjá se vê que ninguém é tão bom e superior que possa rir deoutra pessoa por qualquer motivo. A SOBRAMES acolhe comsimpatia uma grande variedade de estilos pessoais e literários.Se a questão é rir, nós rimos com todos, e não de alguém.Incentivamos vivências de paz e alegria, ao mais puro estilo“Hava Nagila”. O que tem gerado fidelização ao grupo eoriginado produção literária até de quem nunca teve coragemde se assumir como escritor.

Optei por listar vinte e cinco singularidades,esquisitices, bizarrices, hábitos, excentricidades eidiossincrasias de escritores. Nessa lista mesclam-se dadosde escritores famosos, de escritores ainda pouco conhecidose de escritores iniciantes, no Brasil e no exterior. Em nomeda alegria saudável, contei o milagre, mas nem sempre citeio santo, só mesmo o que já era de domínio público. E guardeias referências...

Nossos prezados sobramistas não precisam adotarnenhum dos itens desta lista para escrever melhor, é claro.

Sobre os escritores e suas singularidades, esquisitices, bizarrices,hábitos, excentricidades e idiossincrasias

Embora alguns afirmem que uma“maniazinha” destas facilita muito otrabalho de um escritor...

1) Escrever à noite (por causa dosilêncio, quando todos dormem); 2)Escrever ouvindo música ou sonsespecíficos (chuva, passarinhos...);3)Escrever num lugar familiar, como namesa da cozinha, deitado na cama, nacadeira favorita no quintal, no carro...;4)Escrevendo em vários papeizinhos,depois colocando-os em ordem lógica;5) Reescrevendo muitas vezes, corrigindoo texto até a exaustão; 6) Sempre com

lápis bem apontado; 7) Sempre em papel liso, branco, semlinhas; 8) Com uma panela velha e fósforos para ir rasgandoe queimando as tolices; 9) Nunca com um computador;10) No meio do nada (campo, praia), bem isolado;11) Trocando ideias com outra pessoa; 12) Completamentenu; 13) Com uma gramática, um dicionário e um livro derimas do lado; 14) Cercado de coisas místicas e supersticiosas,como amuletos; 15) Gravando tudo e depois transcrevendo;16) Interrompendo para tomar um cafezinho (ou um uísque);17) Escrevendo deitado e assegurando-se da ausência deinsetos (Truman Capote); 18) Usando apenas tinta verde(Pablo Neruda); 19) Lendo alto à medida que vai escrevendo;20) Com gato ou cachorro do lado; 21) Nos cafés, restaurantes,parques, clubes, trabalho (sempre fora de casa); 22) Comum completo ritual, separando antes tudo o que vai precisar;23) Definitivamente, no banheiro. “No templo dos viventes,debaixo da cachoeira da sabedoria, no trono do pensador”;24 ) Sentindo um odor familiar (geralmente perfume);25) Escrevendo em guardanapos de papel (é claro, o nossoGalvão!).

Há vários anos, quando abro o jornal, sou,diariamente, surpreendida pela notícia de pelo menosuma grande crise. A indústria em retração, as contaspúblicas que nunca fecham, a falta de profissionaisqualificados, a descoberta de fraudes nos órgãospúblicos, as obras contratadas que atrasam, são todosexemplos da interminável lista de crises com as quaistemos de conviver.

Acredito, porém, que a maior crise de todasseja a ausência da verdade. Este sublime personagemarrumou as malas e partiu sem que ninguém saiba oseu destino. O que existe, no seu lugar, é uma“verdade”, fabricada segundo os interesses de quem afabrica. Poucas pessoas partem para um

questionamento. A maioria prefere não pensar e optapor seguir o caminho comum. Por que discordar se jáexiste um consenso do que seria a verdade? Afinal, elajá está preparada e servida. É só engolir e pronto.

A falta da verdade trouxe alienação e perda derumo para a sociedade. Como não se sentir preocupadacom esta mistura de apatia e resignação. Muitas vezes,as pessoas preferem não enxergar e continuar vivendoum sonho agradável. Sentem-se bem por estar emsintonia com o todo, feliz por não destoar.

Uma das grandes “verdades” fabricadastransmite a ideia de que para ser, você precisa possuir.A compulsão pelo consumo tornou-se um fenômenomundial, que atinge até a China. Nas viagens pela Europa,o que mais se vê são lojas lotadas por orientais quecompram freneticamente o seu sonho de consumo.Ninguém sabe exatamente o porquê, mas se aceita comoverdadeiro que aquela compra poderá deixá-lo mais feliz.No Brasil, a febre das compras espalhou-se pelapopulação e substituiu os ideais mais nobres, tais comosaúde, educação e cultura.

Quando se ouve que algo deu certo, ninguémduvida. Quando se diz que é bom, todos seguem. Se odiscurso impressiona, concordam prontamente. É difícillutar contra a vontade de acreditar.

A criseSheila Regina Sarra

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6 O Bandeirante - Fevereiro 2014

Crepe Suzette de graxaEvandro Guimarães de Sousa

Existem contro-vérsias quanto à origemdesta sobremesa. Ad-mite-se que foi criada apartir de um enganocometido por um as-pirante a garçom, em1895, no Monte CarloCafé de Paris. Durante opreparo, para o Príncipede Gales e outros con-vidados, a mistura comos ingredientes pegoufogo acidentalmente.Entretanto, a iguaria foi apreciada e elogiada. O nomeSuzette foi dado em homenagem a uma linda garotafrancesa que estava entre os convivas.

No dia 27 de abril, comemora-se o Dia doEngraxate em todo o território nacional e oshistoriadores afirmam que essa profissão teve origem,no ano de 1806, quando um operário poliu as botas deum general francês recebendo uma moeda de ouro comorecompensa.

Por volta de 1877, com a imigração italiana,aparecem os primeiros engraxates na cidade de SãoPaulo. Eram poucos no início e percorriam as ruas comuma pequena caixa de madeira com suas latas, escovase outros objetos. Em seguida, a profissão se espalhoupelo país. Até há alguns anos passados era comumencontrá-los nos salões de barbeiros, nas esquinas eaqueles que buscavam os nossos sapatos em casa edepois os devolviam lustrados. Entretanto, com o passardo tempo e mudança de costumes, tênis passaram a sermais utilizados. Aí me lembrei da letra da músicaEngraxate interpretada pelo Grupo Nhocuné Soul: “Meusenhor não use tênis/ De sapato você fica de bom trato/Simpático, esporte chique interado/ Sujeito elegante,ajeitado/ Na quebrada é respeitado/ Quando passa atéespanta mau-olhado”... Observa-se que, nos dias dehoje, esse conselho não foi seguido, e o serviço dosengraxates ficou muito reduzido.

Utilizo de rotina as engraxatarias nos aeroportos.Geralmente, escolho o par de sapatos mais necessitadode um trato e me dirijo para o local aonde, geralmente,tenho de esperar uma cadeira vaga. Porém, sempre soubem atendido.

Durante uma caminhada na Av. Paulista, no mêspassado, entrei num shopping e deparei-me com umanúncio de um tratamento especial para calçados.Tratava-se de uma técnica especial de recuperaçãoutilizando calor. Imediatamente, retornei para casa ecalcei o par de sapatos mais velhos e surrados quepossuo. A prudência mineira recomenda que não se deveconfiar muito em novidades. Portanto, se algo der erradoo prejuízo será menor. Lá chegando, assentei-me e oengraxate deu início ao procedimento: lavou os sapatos,espalhou a tinta, passou graxa e acendeu o isqueiro.Imediatamente, surgiram chamas nos calçados. Levei

um susto e já estava me preparando para chutá-los paralonge, quando o fogo foi apagado. Os sapatos depois delustrados ficaram novos, aliás, novíssimos. A explicaçãodo profissional é que o calor dilata “os poros” do couropermitindo que a tinta e graxa se entranhem dando maiorproteção e brilho. O preço cobrado, ao final do trabalho,faria jus a uma sobremesa de luxo como o Crepe Suzette.Só que neste caso, por motivos de segurança, não deveriaser ingerida. Apenas apreciada!

Da próxima vez, só por precaução, levarei oextintor de incêndio. Nunca se sabe o que o entusiasmodeste engraxate poderia ocasionar durante este inusitadoprocedimento.

Duas sutilezasLigia Terezinha Pezzuto

CONCERTOMil manhasnas manhãsmágicas.

Matreiros sonhosengrandecem o amanhã.Minha morosa melodiaembala o ninho.

Musical momentoMaestro

Mão.

NOITE CALMAA lua alvatalha a lagoacom seu reflexoalgo molhadoao largo do líquido.Leite cálido emalma alada atéacolhedoraalvorada.

Page 7: O Bandeirante - nº 255 - FEV 2014

O Bandeirante - Fevereiro 2014 7Livros em destaque

MARCOS GIMENES SALUN“O Encantador de Passarinhos -e outras histórias”Agbook Editora - SPQuase todos os dias se vive umanova história. Seja nas horascomuns da rotina do dia a dia,seja n’algum mágico momentodesses que acontecem quandomenos se espera e que nemsempre percebemos quandorealmente ocorrem. Este livromostra alguns desses momentos,às vezes imperceptíveis. Adquiraversão impressa no site AGBOOK:https://agbook.com.br/ e aversão em e-book no site dalivraria AMAZON.COM em:http://www.amazon.com.br/

MÁRCIA ETELLI COELHO“Os Apóstolos do Zodíaco”Scortecci Editora - SPVocê sabia que Leonardo da Vincipintou cada apóstolo representandoum signo astrológico? Com essapergunta, o personagem Fabianoinstiga a curiosidade da sobrinha,Regina, e inicia uma interessanteconversa sobre o mural “A ÚltimaCeia”. A trama deste romance sedesenvolve em torno dessaabordagem da obra de Leonardo daVinci, que a autora faz commaestria, mesclando-a aos dramasde seus personagens. Para adquiriro livro entre na livraria ASABEÇA:http://www.asabeca.com.br/home.php

...Era mesmo muito hábil essa menina.

Como, aliás, toda menina estuprada. E

tinha plena consciência de que a

manipulação era a semente da

desonestidade e da falta de ética...

O trecho abaixo é parte de um conto de um dos autores daSOBRAMES-SP, já publicado anteriormente numa de nossas

COLETÂNEAS. Você consegue identificar o autor?Resposta na próxima edição.

Esta agenda está sujeita aalterações em decorrência defatores não previstos quando

de sua elaboração

Endereços e horários

Pizzas Literárias:Pizzaria Bonde Paulista. Rua OscarFreire, 1.597 - a partir de 19h00.

Balada Literária:APM - Espaço Maracá - Av. Brigadei-ro Luís Antônio, 278 - 11º. andar -das 18h30 às 22h00

Reuniões de Diretoria:Sede da SOBRAMES-SP na APM -Av. Brigadeiro Luís Antônio, 278 -7º. andar - Sala 1 - às 19h00

PIZZAS LITERÁRIAS

JAN - 16FEV - 20MAR - 2OABR - 24*MAI - 15JUN - 26*

JUL - 17AGO - 21SET - 18OUT - 16NOV - 13*DEZ - 18

Realizadas na terceiraquinta-feira de cada mês

*ATENÇÃO Em virtude deferiados, as datas das reuniões

de Abril, Junho e Novembroforam modificadas

CONGRESSO NACIONAL

OUT - 08 a 12 Recife - PE

ELEIÇÕES

JUL - 17 - Prazo final para ainscrição de chapas concorrentes

SET - 18 - Eleição

BALADA LITERÁRIA

MAI - 30 NOV - 07

COLETÂNEA 2014

FEV Divulgação das regras einício das adesões de autores

NOV - 07 Lançamento

REUNIÕES DE DIRETORIA

Primeira quinta-feira do mês

“Esqueço problemas

Obrigações e rotinas

Apenas caminho

sem me importar

se me vigiam

se me envenenam.”

O trecho da edição anterior pertence à poesia “LIVRE”,

de Sônia Andruskevicius de Castro, que foipublicada na página 81 da coletânea “A Pizza Literária –décima segunda fornada”. Que tal reler essa poesia naíntegra, além de outros textos de Sônia e dos talentososautores da SOBRAMES daquela edição?

Relendo

DESTAQUEREALIZADOSuperpizza com tema “FIM DE FESTA” e entrega do “Prêmio

Flerts Nebó” na Pizza Literária de 20.02.1014

Page 8: O Bandeirante - nº 255 - FEV 2014

ESTREANDO O MICROFONEOuvir textos de qualidade tornou-se recorrente nas PizzasLiterárias da Sobrames-SP. Mas um registro memorável destacou--se em 16 de janeiro: a apresentação de três convidadas quepela primeira vez se expressaram em nossos encontros: SheilaRegina Sarra, Isamar Falanga e Márcia Villaça da Rosa. Comtextos sensíveis e inteligentes, elas se animaram para aspróximas apresentações.

HONRARIASuzana Grunspun recebeu das mãos da presidente Josyanne

Rita de Arruda Franco o bóton da Sobrames-SP, honrariadestinada a quem completa um ano de filiação. Esse bóton éusado em eventos literários, tais como Jornadas, Congressos

e ocasiões festivas da Sobrames ou de outras agremiaçõesliterárias, sendo considerado uma distinção honorífica para o

seu detentor.

PRÊMIO ALDO MILETTOMuitos sobramistas destacaram-se em 2013 nos quesitos quesomam pontos para o Prêmio Aldo Miletto de melhordesempenho do ano, tais como lançamentos de livros,participações em jornadas e congressos, dentre outros.Josyanne Rita de Arruda Franco foi quem somou a maiorpontuação e ficou com o Prêmio de Melhor Desempenho 2013.O regulamento e os critérios de avaliação encontram-se noBlog: sobramespaulista.blogspot.com.br. As tabelas depontuação são mantidas à disposição para consultas, com adiretoria.

ACERVO DA SOBRAMES-SPA sede da Sobrames-SP na APM, fruto do empenho da diretoria atual e dagestão anterior, finalmente começa a cumprir seu objetivo: a guarda dopatrimônio histórico e literário dos seus membros. Assim, convidamostodos os sobramistas paulistas a doarem seus livros autorais, individuaisou coletâneas de que tenham participado, para que integrem aBiblioteca da Sobrames-SP. Apenas um exemplar de cada título ésuficiente para esse objetivo. A entrega pode ser feita a qualquermembro da diretoria.

ASSIDUIDADE 2013Às vésperas de completar 89 anos de idade,

Rodolpho Civile participou da entrega do PrêmioAssiduidade que leva o seu nome. Foram agraciados

Maria do Céu Coutinho Louzã e Roberto AntonioAniche na categoria Grande São Paulo e JosyanneRita de Arruda Franco na categoria Interior, que

participaram de todas as sessões de 2013. Ressalte--se a importância de cada sobramista que enfrenta

o cansaço, trânsito e chuva para participar doseventos promovidos pela Sociedade,

independentemente da premiação. Essa presença éo que torna nossos encontros tão agradáveis e, por

isso, sintam-se todos agraciados.