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9 Sitientibus, Feira de Santana, n. 40, p.9-38, jan./jun. 2009 O ATO DE NARRAR À LUZ DA CRÍTICA DE ADONIAS FILHO Adeítalo Manoel Pinho* RESUMO Este ensaio tece reflexões a respeito do gênero romance, a partir de três visões críticas principalmente: Georg Lukács, Mikhail Bakhtin e Adonias Filho. Apontado como a forma literária da Modernidade, o romance será conceituado pelos três críticos na busca de um sentido essencial para a época cultural coeva. Aqui, estão expressos o conceito de mundo grego ideal, final do romance, o aparecimento de uma nova postura cultural em Lukács, o inacabamento, o novo sentido de tempo, a polifonia narrativa em Bakhtin, as revoluções na estrutura narrativa representando um desejo de ruptura na contemporaneidade nas concep- ções de Adonias Filho em romances brasileiros. PALAVRAS-CHAVE: Crítica. Romance. Modernidade. INTRODUÇÃO Bem aventurados os tempos que podem ler no céu estrelado o mapa dos caminhos que lhes estão abertos e que têm de seguir! Bem aventurados os tempos cujos os caminhos são iluminados pela luz das estrelas! (p. 27) O epigrama de Lukács acima nos envia para um mundo, segundo ele, onde a imanência e a transcendência estão como uma só. A transcendência e a imanência faziam com que o homem grego tivesse a compreensão completa da vida. * Prof. Assistente (DLA/UEFS). E-mail: [email protected] Universidade Estadual de Feira de Santana – Dep. de Letras e Artes. Tel./Fax (75) 3224-8265 - Av. Transnordestina, S/N - Novo Horizonte - Feira de Santana/BA – CEP 44036-900. E-mail: [email protected]

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Sitientibus, Feira de Santana, n. 40, p.9-38, jan./jun. 2009

O ATO DE NARRAR À LUZ DA CRÍTICA DE ADONIASFILHO

Adeítalo Manoel Pinho*

RESUMO — Este ensaio tece reflexões a respeito do gênero romance,a partir de três visões críticas principalmente: Georg Lukács, MikhailBakhtin e Adonias Filho. Apontado como a forma literária da Modernidade,o romance será conceituado pelos três críticos na busca de um sentidoessencial para a época cultural coeva. Aqui, estão expressos o conceitode mundo grego ideal, final do romance, o aparecimento de uma novapostura cultural em Lukács, o inacabamento, o novo sentido de tempo,a polifonia narrativa em Bakhtin, as revoluções na estrutura narrativarepresentando um desejo de ruptura na contemporaneidade nas concep-ções de Adonias Filho em romances brasileiros.

PALAVRAS-CHAVE: Crítica. Romance. Modernidade.

INTRODUÇÃO

Bem aventurados os tempos que podem ler no céuestrelado o mapa dos caminhos que lhes estãoabertos e que têm de seguir! Bem aventurados ostempos cujos os caminhos são iluminados pela luzdas estrelas!(p. 27)

O epigrama de Lukács acima nos envia para um mundo,segundo ele, onde a imanência e a transcendência estão comouma só. A transcendência e a imanência faziam com que ohomem grego tivesse a compreensão completa da vida.

* Prof. Assistente (DLA/UEFS). E-mail: [email protected] Estadual de Feira de Santana – Dep. de Letras

e Artes. Tel./Fax (75) 3224-8265 - Av. Transnordestina, S/N - NovoHorizonte - Feira de Santana/BA – CEP 44036-900. E-mail: [email protected]

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Quando o autor de Teoria do Romance fala de civiliza-ções fechadas, mostra simplesmente como, diferentemente dafragmentação do mundo moderno, a civilização grega buscavasua felicidade em monumentos simples e completos de ligaçãodo homem ao mundo, mostra também como esta ligação épossível nos tempos gregos e, como reação deste entendimen-to, pode trazer à tona a compreensão dos turbulentos temposmodernos.

Este mundo evidentemente é o grego, o qual estamos tãodistantes que só podemos entendê-lo como algo que nãopodemos jamais ser. Aquelas estrelas tal qual um mapa ondetudo é possível e mesmo não sendo, o mundo grego continuaseu caminho. As posições do grande ensaísta irão buscar umponto de reflexão para a compreensão do mundo moderno,suas faltas, seus abismos.

A partir das observações acima, já podemos delinear aproposição deste texto: Primeiramente, uma análise das obser-vações principalmente dos ensaístas Georg Lukács e MikhailBakthin sobre a Epopéia e o romance, sua progressão até aModernidade. Num segundo momento, buscar-se-ão as refle-xões de textos críticos de Adonias Filho sobre o romance.Demonstrar aqui como o crítico baiano tinha por objetivo tam-bém inserir o romance brasileiro na problemática moderna. Poroutro lado, um questionamento desta leitura é o distanciamentoda Modernidade em relação à Grécia Antiga (como civilizaçãofechada), as implicações modernas na forma romanesca e asposições do crítico Adonias Filho sobre o romance do Moder-nismo brasileiro.

1 EPOPÉIA E ROMANCE: REFLEXÕES CRÍTICAS

O romance é “a coisa impura,O monstro de muitas patas e muitos olhos.”1

Recriar o mundo através de uma linguagem singular étarefa própria do romancista. O romance é imagem, transmutação,ambigüidade, impureza. É o liame entre a poesia e a prosa.

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Discutir a trajetória do romance é reacender a chama dealgumas reflexões levantadas por teóricos como Lukács eBakhtin que evidenciam uma relação bastante dissonante entrea Epopéia - gênero voltado para a tradição clássica ou expres-sivo dos tempos heróicos – e o Romance – forma de narrativaque se apresenta como produto do capitalismo individual e deuma marca muito forte e determinante para a visualização daliteratura a partir de um traço da Modernidade – a formainacabada. Quando os seus primeiros estudos não davam aoromance a devida atenção, atentou-se para um fato relevante:a maioria das suas definições não se atreviam a um aprofundamentoestilístico, sempre permanecendo em ponto superficial e inde-ciso. Este comportamento dos primeiros teóricos deu a falsaimpressão de que o romance, dentre os gêneros clássicos, nãoera tão nobre quanto os demais.

O Romance, como um microcosmo da realidade, represen-ta modernamente a completa incapacidade de manter umarelação harmoniosa com os sujeitos que nele coexistem.

O romance é a epopéia de um tempo em que atotalidade extensiva da vida não é já dada demaneira imediata, de um tempo para o qual aimanência do sentido à vida se tornou problemamas que, apesar de tudo, não cessou de aspirar àtotalidade (LUKÁCS, p. 27)2 .

Lukács afirma que o romance é a forma de narrativa queexpressa a desagregação dos indivíduos, a sua constante lutapara defender os direitos de determinada classe. Nesse caso,o romance chegaria ao auge com a burguesia, apontando ascontradições da nova classe dirigente. A trajetória sofreria,conforme Lukács, quatro mutações. O antigo Épos, que repre-sentaria a infância da humanidade; o nascimento da formaromanesca, com a ascensão da classe burguesa; auge no fimdo séc. XVIII e XIX (pleno desenvolvimento do capitalismo);morte do romance dar-se-ia no Séc. XX com a completa desar-ticulação da narrativa épica.

Lukács prevê ainda o renascimento do romance ou umnovo Épos com a construção de uma ordem socialista onde

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seria restabelecida unidade perdida pelo homem e que o épicotambém não seria a constituição ideal. Esta nova estruturaformar-se-ia com um novo discurso orientador.

Bakhtin, por sua vez, contrariando Lukács, considera oromance como gênero ainda inacabado. Ele afirma que odiscurso ficcional não se relaciona ao movimento social. Oprocesso de evolução do romance não está concluído. Eleimpõe-se desde o início do século XX numa nova fase.

Nossa época caracteriza-se pela complexidade e pela extensãoinsólitas de nosso mundo, pelo extraordinário crescimento dasexigências, pela lucidez e pelo espírito crítico. Estes traçosdeterminam igualmente o desenvolvimento do romance3.

A pré-história do romance estaria na antigüidade e naIdade Média. A narrativa romanesca assumiria, segundo Bakhtin,duas forças: “tendências: centrípeta e centrífuga”. O romancede cavalaria seria o limítrofe entre Epopéia e Romance. “DomQuixote” e as narrativas de Rabelais seriam as primeiras for-mas romanescas acabadas.

Bakhtin proclama a originalidade dessa forma queapresenta e capta o cotidiano, o incompleto, orelativo, o aberto, o devir. Uma realidade nãoheróica sem princípio nem fim, ...4

Enquanto os outros gêneros estariam parcialmente mor-tos, o romance continuaria em evidente evolução, por issomesmo não é uma forma pronta, seria, antes de tudo, umrebento dos tempos modernos. Este inacabamento supõe umalto risco no que concerne a uma conceituação definitiva. Ogênero épico foi conceituado e, por isso mesmo, dominado,posto numa certa regra onde nela as relações já estão resol-vidas. O herói épico configura-se como fruto de uma estruturaplana, de um mundo onde toda a problemática se resolveria apartir de sua potencialidade e de seus atributos meio humanosmeio divinos. Ulisses, na Odisséia, personifica a força de umpovo, o ícone que abranda as fúrias e seduz os deuses.Observando este grande poema, compreende-se que a noçãode classe é inexistente, como também de quaisquer vestígiosde conflito e de contestação da hierarquia: simplesmente há o

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eleito e aqueles que vão tranqüilamente segui-lo. O elementoque legaliza o herói é a prova de valor que só ele pode realizar,pela sua dignidade, força e astúcia. Uma epopéia formaliza ogrande símbolo de como uma sociedade se organizou, e o seudesaparecimento marca, com o mesmo efeito, o surgimento deoutra visão de mundo ou poder-se-ia dizer outro mundo. Oromance é a forma estética da literatura que reflete o nossotempo. Se ele toma a direção do seu fim, como articulam uns,ou continua evoluindo, como defendem outros, são atitudesque ainda almejam a elucidação do próprio romance. Como foireferido anteriormente, é preciso uma mudança de época paraque o romance realmente termine.

Na época clássica, o romance assumiu um caráter mar-ginal, não participava oficialmente da hierarquia organizadados gêneros constituídos e fixos. As grandes formas poéticasignoram completamente o romance, pela sua falta de homogeneidade,harmonia com os outros gêneros.

A característica essencial de outros gêneros literá-rios é repousar numa forma acabada, o romanceaparece como alguma coisa que devém como umprocesso. E é por isso o gênero mais exposto aosperigos do ponto de vista artístico ...5.

Seriam as paródias, as precursoras do romance. O duploparódico das grandes literaturas clássicas apresentar-se-iamcomo forma embrionária do romance. Esta postura plural ca-racteriza o caráter auto-crítico do gênero em formação.

É, na segunda metade do séc. XVIII, que ele assume oambiente literário como gênero dominante, passando a perten-cer à grande literatura. Romancistas como o alemão Jean Paul,com seus infindáveis textos em vários volumes, impregnadosde inúmeras aventuras, Richardson, Fielding, Defoe, com seusheróis em meio a aventuras pequeno-burguesas dominam ogosto do novo leitor vindo da burguesia.

O romance, enquanto gênero em constante desenvolvi-mento, reflete de forma substancial o que é peculiar de cadaépoca nos espaços políticos, ideológicos, religiosos e tambémo que é prazer, dor e crueldade. Somente uma forma literária

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inacabada pode acoplar-se aos modelos sociais de cada épo-ca. A forma acabada pressupõe o achamento do grande modelosocial e do seu desaparecimento, como o foi a epopéia parao mundo greco-romano. Por isso, os gêneros que, uma vezrealizados, ficaram no passado não poderiam representar oespírito da nossa época. O romance, como é o gênero que sefaz, pode acompanhar as rápidas mudanças de um século comoo vivido por nós.

O romance do séc. XIX é uma resposta multifacetadaà pergunta de como é o homem: uma gigantescateoria do caráter e sua projeção na sociedade. Oromance antigo ensina-nos que o homem é; nocomeço da era contemporânea, indaga como ele é.O romance de hoje perguntar-se-á seu porquê eseu para quê6.

Júlio Cortázar afirma ainda que o atual estágio do romancemoderno seria a forma preferida do nosso tempo, pois o homemprecisa do romance para conhecer o mundo e conhecer a sipróprio. O romance faz-se o instrumento verbal necessáriopara a posse do homem como pessoa, do homem vivendo esentindo-se viver. Essa possibilidade abre-se como uma luzvibrante atraindo-o para a perdição. Não poderemos esperarque a atitude infernal venha para a humanidade sem um preço,pois tudo que vivemos e sentimos hoje teve o objetivo de trazer-nos a felicidade. A Modernidade mostra que o caminho é árduodemais e pouco gozoso. E se queremos mesmo esse prazer quetanto cobramos, teremos que pagar o preço, e lançarmo-nosvorazmente em direção ao gozo abissal, ao buraco negro dasnossas intenções falidas e impossíveis. O romance representae nos atrai, a cada página, para esse jogo onde sempre é oabsurdo.

O romance moderno não possui personagens – existemcúmplices que ora condenam, ora absolvem – dando-nos amedida exata da existência humana no nosso tempo. Alémdisso, o romance transforma-se assumindo novas roupagens,criando o veio poético e o nascimento da prosa poética, construídapor entre linhas e imagens,

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dá sinais de que como espalha revelações mastambém esconde inquietação, afasta e indaga, nu-ma tímidos ensaios de apropriação e noutra emnosso século com evidentes manifestações deinquietação formal, de ansiedade que o levará ador, por fim um passo de incalculável importância;a incorporação da linguagem poética, a linguagemde expressão imediata das intenções7.

O romance é o oceano abissal onde tudo cabe e seesconde, é a torre de babel, na qual todas as linguagens sãopossíveis. Mas, apesar da intromissão da poesia, o romanceainda é, acima de tudo, discurso, narração, ação que sob aégide da poesia ganhou profundidade a nível estético e alargouos horizontes da prosa ficcional. Essa “atitude poética”, assu-mida por muitos romancistas prova que o romance tornou-serealmente uma forma narrativa em devir, proteiforme.

Nas palavras de Otávio Paz, a Modernidade funda o mundono homem sendo seu alicerce a consciência. Tão logo o homemseja o senhor e não a vítima das relações históricas, a exis-tência social será determinada pelos “justos atos” humanos enão o inverso como agora. O mundo, na nossa época, éformatado a partir do homem via um discurso gerador. Porém,essa mesma construção provoca o esvaziamento em relação aooutro, ao conhecimento e a si próprio. Um esvaziamento dasconvicções formou “Dom Quixote”, e a crise dos paradigmasorientadores como a História e a Moral, proporcionaram umacarga muito grande sobre as costas desse personagem.

O gênero literário que mais demonstrou o desespero dohomem em relação ao homem, ao mundo foi o romance. Eleantes surge de uma mudança crucial de orientação. Configura-se como uma representação que se iniciou a partir do aban-dono de um mundo sem conflitos, plano, e, por isso mesmo,ilegível.

A Ciência moderna impôs ao homem uma implacável sen-tença: dessacralizou um sistema de valores teleológicos. Acrença no sagrado, no divino, no transcendente, como orien-tação e compreensão dos fenômenos, foi abandonada e em seulugar surgiram as explicações científicas “objetivas” e “empiricamente

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comprováveis”, conceitos hoje tão fragilizados como o foramanteriormente o ritual e a crença religiosa. Essas mudanças decódigos e valores provocaram no homem uma inadaptação aomundo, ou seja, a profanação de “verdades” tidas como dogmáticascriou um fosso intransponível. “Toda revolução sugere a con-sagração de um sacrilégio, que se converte num novo princípiosagrado”8. O câmbio de valores caros ao homem – como oséticos, morais, artísticos, prazerosos – aliados ao estabeleci-mento de estruturas ideológicas de poder, minaram, no mesmodescuidado ser humano, o espírito otimista em relação aomundo, à natureza e a ele próprio – inaugurando a Modernidade.A melhor palavra sobre estes tempos certamente é a descon-fiança.

O fosso que configura a era moderna corresponde ao queOtávio Paz chama de “espírito laico ou neutralidade”. O deusmoderno é a técnica, a máquina. Fórmulas mágicas antigasforam substituídas por senhas e códigos que possibilitam con-cretizar sonhos antes impossíveis. A relação homem-homem foisubstituída pela homem-máquina. Por isso, não é surpreen-dente que a imagem seja cheia de cores, que o movimentoholográfico tenha promovido novas sensações. As configura-ções que geraram a virtualidade do mundo contemporâneo,confirmam-se a partir da escolha do discurso mediador entreos homens e o mundo, no início da civilização ocidental, comonós a entendemos. Este discurso mediador substituiu o contatodireto, o qual Freud denominou de momento sem linguagem.

Portanto, não há uma revolução hoje, pois virtualidade,discurso paternalista, racionalização dos fatos são itens jáantigos, por conseguinte, permanecendo sim, e, não aparecen-do, na Modernidade. E os avanços demonstram ainda mais aterceirização, a ênfase em ações relativas. É muito provávelque o homem não esteja tão feliz com o desaparecimento docombate corpo a corpo, do contato físico mesmo sabendo dosseus riscos. Aliás, é pelo enfraquecimento dos sentidos, peladerrota dos contatos sempre conflituosos, sempre perigososque somos levados a escolher as regras, os formulários depreenchimento, os balcões de atendimento, os programas dos

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computadores em quase todas as parcelas da vida. “Ninguémtem fé, mas todos criam ilusões”9.

O ideal burguês fundamentado no trinômio igualdade,liberdade e fraternidade funcionou como um emaranhado denovos instrumentos de opressão, sendo seu principal a razão.As teorias Marxistas criticam a inconsistência da possibilidademítica de existência de um paraíso celeste, por outro lado,ainda querem legalizar a utopia social de um Éden Socialista.Sucumbem com o princípio religioso de vida eterna e funda-mentam sua utopia numa relação idealista de consciência declasse.

Romance e contemporaneidade são sinônimos, na medidaem que expressam respectivamente evolução literária e pro-gresso social, político, econômico do mundo moderno.

Bakhtin sugere alguns “índices de gênero” que tentariamapontar para a possibilidade de existirem romances de quali-dade incomparável, tanto na sua construção em único plano,como em muitos planos.

Em nosso parecer, o romance é fruto de umamistura nova e contemporâneo de todos os gêne-ros poéticos. Admite igualmente os elementosépicos, dramáticos e líricos. O elemento dominan-te dá o caráter do romance ...10

O romance moderno seria talvez a inversão da épica, umduplo travestido, pois seus heróis lutam aberta ou secretamentenão a favor do seu mundo, porém contra ele. É uma luta dasociedade contra ela mesma. A narrativa que seria o marco doromance moderno é Dom Quixote de Miguel de Cervantes, quetraça a trajetória de um herói em luta num mundo duvidoso equalquer relação de consonância entre homem e mundo parecebaldada.

Cervantes é o Homero da sociedade moderna... adesarmonia entre o Quixote e seu mundo não seresolve, como na épica tradicional, pelo triunfo deum dos princípios, mas por sua fusão.11

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Irreverente, ilegítimo, enfraquecido, desacreditado, im-perfeito, confuso, mas altivo. Solitário como ermitão que buscarefúgio numa aldeia distante e desabitada, ou andarilho erran-te como quem vagueia pelo mundo largado à sua própria sortesem destino, para a sua eterna procura. Assim, impõe-se oRomance criando mundos e heróis. Firmando-se enquantodiscurso construtor e desconstrutor, seguindo o seu cursonegando e admitindo a possibilidade de um universo de serese coisas inimagináveis. Lutando e brincando com a linguagem.

2 O HERÓI NO ROMANCE

Para Octavio Paz, não existe sociedade sem heróis em quese reconhecer. Considerando esta afirmação como ponto crucialpara a discussão que ora se inicia, levantaremos alguns pontosque vêm ratificá-la. Os textos clássicos de Otávio Paz e FlávioKothe serão exemplos utilizados nas nossas discussões. Oherói moderno tem características claramente díspares doherói eleito da epopéia.

A sociedade moderna caracteriza-se pela completa frag-mentação do homem e conseqüente desarticulação com omundo circundante. Compreendamos articulação, aqui, comoum encontro tranqüilo e otimista entre homem e mundo, e entrehomem e homem. A capacidade de articular é semelhante àpossibilidade de conservar posturas consagradas e, por con-seqüência, desarticular é semelhante ao incômodo da conser-vação de estruturas canonizadas e arcaicas. Sob este pontode vista, o herói moderno aparece como a figura problemática,ou a demoníaca de que fala Lukács. Este herói surge contra-posto ao herói positivo, indivíduo que estabelece o código demodelo da sua comunidade, luta pelos seus valores. É a vozsingular que fala enquanto ser plural.

O herói moderno surge com a tarefa de caminhar pelasalamedas do insólito em busca de uma identidade perdida, sedistanciando cada vez mais de sua origem, tornando-se umverdadeiro simulacro12, destruindo, dessa forma, os predicadosheróicos da narrativa épica. As reflexões de Platão sobre osimulacro explicam muitos questionamentos da Modernidade,

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tais como duplicação e reduplicação, virtualidade, identidadee papel social. O simulacro é, em última instância, uma cópiaque perdeu sua característica principal: representar as mes-mas funções do que se supunha original; é preciso aqui estaratento ao perigo de conceitos como original, cujos pontos departida são pressupostos extremamente ideológicos. O simu-lacro é como um pretendente à mão de Penélope, na Odisséia,sem possuir as qualidades do eleito, refletidas estas no seumaior representante - Ulisses. A ousadia do simulacro, a von-tade destruidora das concepções vigentes é uma primeira etímida mostra do que seriam os tempos da Modernidade. Omundo grego, como explica muito bem Lukács, estava formu-lado dentro de um sistema completo – repleto – e articulado.Lá podem existir o original e o simulacro. Na Modernidade,aquelas posições perderam a força, arcaizaram-se. Por isso,é fatalmente com outros significados e intenções que, agora,usam-se original e natural.

Numa certa perspectiva, a vida é um sonho e os homensos fantasmas desses sonhos. Na Modernidade, este super-homem às avessas é um herói sem poderes que tenta ultrapas-sar as barreiras impostas pela desestruturação do mundo.Enquanto peça de uma engrenagem completamente desarticu-lada, busca soluções a partir de sua própria interioridade. Oherói será um personagem que tenta descobrir (se) dentro doseu universo particular.

Sempre que se refere sobre heróis, reporta-se imediata-mente à Ilíada e à Odisséia, literatura de incomparável beleza,canonizada através dos tempos. Lida e relida por todos queamam a arte. Segundo Otávio Paz, “Homero é a bíblia helênica”13.

Torna-se evidente, portanto, a figura do grande Ulisses,herói grego que se ergue com altivez e firma-se como elementoessencial de uma sociedade com um sistema de valores fecha-dos e acabados, no caso o universo épico. Este ser está sujeitoàs determinações de um deus e seu destino eternamente ligadoà perfeita ordem do Cosmos. O herói é uma entidade sacralizadano mundo grego. Converte-se em figura mítica que aproximao homem da sua origem e o conduz ao princípio, à unidade.Os heróis clássicos como Ulisses, Heracles e Aquiles têm

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características que refletem como é organizado um mundo; sãoseres com qualidades que os distinguem dos seres comuns.Como descreve Homero, nos seus versos clássicos, o herói éum ser que reúne poderes que possibilitam uma superação dosobstáculos da natureza.

O sonho do homem, desde os seus primeiros passos naterra, foi dominar a natureza. Esse sonho nunca é conseguido,pois os dois meios experimentados, um, com a criação do mito,e outro, com o desenvolvimento dos instrumentos na Modernidade,desenvolveram a criação ou deformação de outra “natureza”,a do discurso. Por esse dois meios, o homem não conseguiualcançar o mundo. Seria necessário rever não os instrumentosculturais, mas os objetivos e as posturas ocidentais. O homemmoderno debate-se porque tem consciência de sua impotênciaem cumprir os seus objetivos. Sabendo que o ocidente partede uma postura elitista que é, no primeiro momento, a natureza,seria menos doloroso iniciar, não pela superação, mas peloentendimento do que é o “outro ensimesmado”, e não inferiorizado.

O herói da Epopéia reúne as necessidades de seu Épos,do povo de onde ele se origina; sendo, dessa forma, capaz decomandar os destinos dos seus sem contestações tão profun-das que pudessem desestabilizar seu poder. Mas, a contesta-ção do seu poder tinha que ser posta em prática em muitosmomentos para, com isso, intensificar ainda mais a sua forçade eleito. A forma de eliminar qualquer contestação do eleitoera pela utilização da prova – meio constantemente utilizadono mundo antigo. O enigma, em Édipo, a prova do arco comUlisses e outros. A prova só podia ser realizada pelo eleito, pelasua força, pela sua astúcia, sensibilidade, divindade. Semprequalidades as quais colocam o herói acima dos homens co-muns. Mesmo nos textos clássicos, os homens comuns alme-jaram conseguir feitos semelhantes aos dos heróis, e isto nãofoi conseguido, mas inspiraram reflexões de suma importânciapara a Modernidade.

Para o estudioso San Tiago Dantas, O Quixote é a letraessencial de um texto chamado de cultura ibero-americana. Eleexplica:

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Não hesito em dizer que, sem o Quixote, o espíritoocidental, especialmente, ibérico e ibero-america-no, teria tido outros caminhos. E, se hoje o perdês-semos, e o apagássemos da memória, muito doque existe em nós se nos tornaria indecifrável.14

A incessante conversa em que Dom Quixote (amo) e SanchoPança (escudeiro) se acham empenhados, do princípio ao fimda narrativa, revela o contraste interno essencial do humano,dissociados em dois personagens; estão projetadas ali, asduas faces do homem que transita entre distintas e consubstanciais,demonstrando um diálogo constante de contrários e de seme-lhantes. Quixote representa ainda a formulação da heroicidade:opõe-se definitivamente ao heroísmo clássico – Ulisses, Aquiles,Teseu e outros já muito conhecidos dos leitores da obra clás-sica – pois o cavaleiro errante apresenta-se isento de êxito, ouseja, podemos perceber a ação heróica refletida justamente noinsucesso deste diante da incapacidade de completar umatarefa atribuída a ele enquanto “o escolhido”. Mas, Quixote nãoé um fracassado. É um personagem deslocado pela falta e pelanegação, como a ferrugem – chamando o ferro para a sua fontena terra e destruindo as intenções humanas de construir monumentosque alcancem o céu. O cavaleiro andante engendra peloscaminhos da ironia de que fala Bakhtin, não enquanto umaparódia do clássico mas fincado num tempo onde não há maisa possibilidade de permanência do herói positivo, ele apresen-ta-se irônico exatamente porque consegue estabelecer umaespécie de heroísmo incompatível com a sociedade na qualvive.

Enquanto a Antigüidade entendeu o homem heróico comosendo um ser mais poderoso que os demais mortais, e por issomesmo, realizador de grandes feitos, a Modernidade o compre-ende enquanto mártir, cujas ações o configuram pelo exemplodas fraquezas e pela força espiritual que irradia, normalmentedecrépito e imoral. Estas concepções vão diretamente ao encontrodos modos críticos do professor norte-americano Northop Frye:O do herói como divino (Odisséia) e o herói no modo irônico(Modernidade).

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Dom Quixote é o homem que vive um mundo inexistente,um homem negando sua época. Num tempo de esvaziamento,de quebra dos princípios. Estas características não podem serassumidas por um homem que procura a felicidade. OndeQuixote vai, sua presença é representada pelo seu discurso,é pela palavra que demonstra a sua insatisfação, as pessoasencontradas são pobres, marginais sem nenhum motivo parater uma visão alegre, verdadeira em relação à vida. Não existeexemplo mais forte de nosso desfiguramento e da nossa per-versão do que em Quixote; ele representa o homem distanteda sua felicidade, da sua esperança e dos seus ideais. Estesentimento não é só do guerreiro contra moinhos ou daqueleque procura de forma desesperada sua encantada amadaDorotéia — a mulher que todos procuram e não têm coragemde se aventurar numa procura inútil e “verdadeira”, apenasofendem-se e riem, como aqueles encontrados pelo cavalheiroacompanhado por Sancho. É o sentimento e a representaçãode uma realidade através das palavras que constróem DomQuixote: ele configura-se através das palavras tiradas do velholivro de cavalaria sempre acompanhante do homem que caval-gava em busca de damas em perigo.

Quixote sempre será a palavra maldita do mambembe e dolunático, do ser homem e do ser mito, da criança que nãoabandona seu melhor brinquedo, e do homem que não foge dasua vida mais feliz. Mas a Modernidade vai ser esta palavrasolta que reclama sua melhor época. O desespero, a falta deelementos onde se refugiar é o lembrete da nossa época. Osheróis já morreram, e os que ficaram agonizam e sonham comoQuixote e como a própria imagem infernal.

O herói luta entre dois mundos: o natural e o sobrenatural.Desde seu nascimento a figura do herói apresenta a imagemde um nó em que se atam forças contrárias. Sua essência é oconflito entre os dois mundos.15

Esta contradição, que tem como base o conflito, precisaser estruturada de forma que o choque dos contrários produzaum movimento harmonioso, além da consonância e da dissonância– onde o silêncio é tão poderoso que os conceitos tenham deolhar-se, rever-se, senão o universo pode sofrer uma série de

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sortilégios e todo o cosmo pode ser maculado. Neste mundofechado, transgredir os limites impostos pelas regras do que,em outras culturas, seria Karma pode muitas vezes figurarcomo violação dos direitos do outro. Nesse sentido, o homemseria o estopim da bomba que iniciaria a guerra cósmica. “Ohomem é polêmico porque todas as forças terrestres e divinasse encontram e lutam nele.”16

O homem não quer ser esta criatura andrógina, interme-diária. Ele quer ser absoluto: Deus ou Demônio. Sendo assim,toda sorte de malefícios sofridos ou provocados pelo homemadvêm do fato deste mesmo transgredir os limites determinadospela natureza, ou por um discurso orientador e normativo queDerrida chamou do domínio do centro17. Mas, cumprindo seufado maldito, a justiça cósmica é restabelecida. Este fado,entretanto, deve ser pago de forma consciente, pois só aconsciência produz a liberdade e ambos a harmonia universal.Paz afirma que “pagamos e expiamos porque, sendo inocentessomos culpados.”18 A caminhada é um passeio constante peloabismo. Interessa para ele passar sempre como Sísifo carre-gando sua pedra impassivelmente até o topo da montanha. Seo mito grego cumpre sua terrível sina, seu castigo pela ousadiade ir contra a força, a ordem natural das coisas – aqui grafadasem aspas – também o herói moderno terá que assumir suaprópria tarefa suicida.

O homem é o nó indissolúvel que, sujeito a todas asintempéries da vida, luta contra um discurso que o impede deestar aqui para escolher trilhar os caminhos do prazer, nascer,envelhecer, mudar de opinião. Ou seja, está na essência dahumanidade elementos interditados como o incesto, a perver-são, a fuga, a amoralidade. Todo um discurso tem que impediresta parte, que é o desejo, a forma de prazer sem intermédios,sem símbolos que possam limitar e até desfigurar o desejo.Segundo Hélio Pellegrino, ao estudar Freud, no seu ensaio“Édipo e a Paixão”, publicado na ótima coletânea Os sentidosda paixão (1991), o ser humano nasce com uma ligação diretacom o mundo, sem códigos; por isso, uma relação de prazer seestabelece, e é rapidamente contida para o bem de uma so-ciedade. Só que neste relacionamento, o homem se afasta do

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real, tendo que buscar códigos para reencontrá-lo. Se falarmosnuma linguagem freudiana, um princípio do prazer19, que nascecom o homem e simboliza uma relação imaginada e prazerosacom o mundo, é substituído pelo princípio da realidade, que porsua vez é a relação simbolizada do homem com a natureza.Aquela não se utiliza de mediações discursivas e aproxima-seda animalidade, promovendo um contato próximo do que seriahipoteticamente o verdadeiro. O princípio da realidade é apresença do discurso social, convencional, normativo. A orga-nização do mundo que chamamos de civilização precisa eincentiva o princípio da realidade, a arte em geral, que buscao homem e a sua beleza, clama pelo princípio do prazer. O heróimoderno representa a eterna destruição da artificialidade e doconvencional estabelecidos pelo homem em relação ao mundo.Quixote construindo Dorotéia, Robinson Crusoé negando-se aduplicar o mundo, Orlando diluindo os campos semânticostradicionais como gênero, tempo, diálogo, Casmurro provocan-do a invenção do leitor cuidadoso, são tipos que, construindoa perspectiva poderosa do romance, refletem a desconfiançanuma construção de mundo repleta de signos, cores e sons,e o temor que estes mesmos possam acabar por soterrar ohumano.

3 A CRÍTICA DE ADONIAS FILHO EM DOIS ENSAIOS

As reflexões e citações anteriores tentam dar conta dacomplexidade da forma romanesca como ponto de partida paraa compreensão das convicções do homem na Modernidade. Oestudo, a partir deste ponto, tentará posicionar algumas emis-sões do crítico e romancista Adonias Filho também sobre oromance.

Os textos críticos de Adonias Filho e de seu pseudônimoDjalma Viana estão reunidos, organizados e analisados emminha dissertação de mestrado Um crítico, dois caminho – aprodução de Adonias Filho e Djalma Viana. O escritor de Osservos da morte (1946) preferiu trabalhar sempre com narra-tiva, tendo uma dupla face na atividade diária de crítico de

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jornal. Uma, – Djalma Viana – crítico divulgador, resenhoucrítica dos outros suplementos e do próprio que trabalhou(Letras e Artes); outra, Adonias Filho, tinha pretensão de umacrítica ensaística, misturando a crítica sociológica, de consci-ência, comparatista e de uma forma simplificada, estrutural.

Os textos referidos e analisados são estritamente do crí-tico Adonias Filho.

O crítico grapiúna realiza uma reflexão crítica em relaçãoa alguns romancistas brasileiros, no sentido de encaixá-los naficção moderna ocidental. Sendo assim, questões caracterís-ticas da Modernidade na produção literária são abordadas peloensaísta, como “o problema arquitetônico do romance, suaarmação plástica, a aplicação do tempo e do espaço (todas asgrandes preocupações da ficção moderna)”20, quando analisaa obra de autores como Octávio de Faria, Cornélio Pena, JorgeAmado, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, José Américo deAlmeida, entre outros. O crítico persegue, nos ensaios contidosnos seus três livros publicados sobre o assunto, a compreen-são do novo romance brasileiro a partir do movimento literáriode 30. Adonias Filho afirma:

Após a libertação lingüística, que marcará parasempre o modernismo como um movimento literá-rio de interesse culturalmente histórico, e sem quese desvinculasse da linha documentária, pôde aficção – e já ficção moderna porque a partir de 1930coincidindo com a revolução militar e política –renascer, em sua afirmação artística, dentro docomplexo social brasileiro21.

Adonias Filho busca elementos interpretativos para posicionara ficção brasileira próxima a grandes textos da Modernidade,como é o caso da ficção de Faulkner, Camus, Bernanos, Johndos Passos, Huxley. A revolução modernista na Europa e nosEstados Unidos da América provocaram uma revisão dos parâmetrosde construção romanesca e repeliram ferozmente as modalida-des “antiquadas” e “sóbrias” do século anterior. Em um textodo autor baiano, “Romance do testemunho”, há o seguintecomplemento:

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O que vai narrar, todo o veio novelístico hojesustentando os romances, assegura a afinidadenão apenas com alguns companheiros de geração(José Lins do Rego ou Graciliano Ramos), mas, eprincipalmente, com os documentaristas do nossotempo: Hemingway e Steinbeck, Malraux e Gascar,Malaparte e Silone, Huxley e Graham Greene”22.

Foram selecionados dois textos representativos do críticobaiano para discussão sobre o romance no Brasil, são eles: ORomance de Testemunho23, sobre a ficção de Jorge Amado, e“A revolução na estrutura”24 a respeito de romance de JoséGeraldo Vieira.

“O documentário, quando o fixamos na obra de JorgeAmado, se identif ica com o romancista através do encontro desua percepção com uma realidade”. Para Adonias Filho, boaparte da ficção brasileira parte de uma obsessão – marcar notexto uma expressão local, seja geográfica ou humana, que seconfigura numa “brasiliana”. O romance de Jorge Amado, comodocumentária, expressa a Bahia e o Brasil como objetivo pri-meiro de sua construção. Fora da realidade, segundo o crítico,não se poderia conceber o romance de Jorge Amado. Ora, qualrealidade o autor citado quer retratar?

Nas palavras de Antônio Cândido, ao ref letir sobre afunção da obra de arte de descrever a realidade,

a capacidade que os textos possuem de convencerdepende mais da sua organização própria que dareferência ao mundo exterior”, pois tanto as obrasditas realistas quanto as mais intimistas e subje-tivas podem representar “compromissodocumentário25.

Tanto Cândido pode colaborar com o argumento de AdoniasFilho, por um lado, que, no mesmo sentido, toda obra carregaessa ligação com o seu tempo, e o romance é representativodeste testemunho do homem em todas as suas conflituosidades;mas também, o autor de Formação da literatura brasileiraprocura suspeitar de uma generalização em qualquer aspecto

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o qual reflita o caráter movediço da ficção moderna, pois

o alvo é analisar o comportamento ou o modo de serque se manifestam dentro do texto, porque foramcriados nele a partir dos dados da realidade exte-rior26.

Mesmo estando os dois críticos de acordo com a experi-ência social do texto literário, Cândido chama a atenção parao fato da desconfiança acerca da literatura, porque todas asquestões e deflagrações estão no texto. O crítico baiano, porseu lado, não quer correr os riscos de uma abordagem descui-dada por dois motivos suficientemente compreendidos nesteestudo: o risco oferecido ao analista pelo gênero em questãoe a época caracteristicamente indecisa nos diversos âmbitos,e a experiência de leitura da escola norte-americana de análiseda literatura, denominada – por John Crowe Ranson – de NewCristicism. As palavras de outro importante crítico da literaturabrasileira e estrangeira, Otto Maria Carpeaux, podem muitobem circunscrever a perspectiva de Adonias Filho:

A preocupação do grande crítico inglês (Coleridge)com a linguagem poética chegou aos americanosatravés de I. A. Richards e, depois, Empson;ressurgiu como exigência de ler cada vez maisexatamente as ‘palavras na página’. É o closereading. A mesma atenção presta-se, mais umavez conforme a lição de Coleridge, à estrutura doconjunto de palavras e à técnica de sua organiza-ção em estruturas poéticas. A crítica literária éconsiderada a ciência autônoma que estuda aque-la técnica, sem se preocupar com os elementosbiográficos, psicológicos, históricos27.

O new criticism, como proposta de análise do texto literá-rio, não admitia inclusões exteriores como as impressionistas,que partiam muito mais da personalidade de um indivíduo“cioso de suas obrigações” do que do texto literário – fim únicodos estudos críticos. Mas, para tornar ao primeiro vínculo aquiproposto em relação ao texto de Adonias Filho, uma vez par-

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tindo do texto, as faces de uma exterioridade como cortinaideológica ou psicológica logo aparecem: é a lição primeira doautor de Jornal de um escritor percebida ao abordar a ficçãode Jorge Amado e suspeita de que o formalismo da escolaPoética norte-americana corria riscos.

Adonias Filho, ao realizar leitura dos romances de JorgeAmado, parece aproximar-se das perspectivas sociológicas deGeorg Lukács, no que diz respeito à literatura. Apesar de nãohaver referência ao grande ensaísta, autor de Teoria do ro-mance, nos textos de Adonias Filho, alguns traços dialógicosse fazem presentes. Ainda perseguindo uma compreensãosocial da obra do autor de Tenda dos milagres, explica ocrítico:

Mas, se a validade do documentário já se demons-tra com o testemunho – com a valorização literáriado testemunho – sobressai efetivamente porqueimplica uma correspondência social. Em certasposições, como no caso de Hemingway ou deMalraux, a sondagem se amplia na apreensão dascrises políticas. Em outras posições, como nocaso de Graham Greene ou Pierre Gascar, aabordagem se interioriza em função dos conflitos,como a guerra e a revolução, que mostram umaface da inquietação moderna. Sem o documentárionovelístico (tão autêntico nos “romances velhos”ibéricos quanto no romance norte-americano con-temporâneo), essa base de testemunho que vempela percepção direta ou pela memória coletiva, écerto que a ficção se mutilaria em uma das suasfinalidades. Uma carga de vida, dentro de umaexperiência histórica, nele se transporta. E seráisso mesmo que, ao lado das exigências estéti-cas, situa-se em determinadas obras como seestivesse a servir simultaneamente de problemáti-ca e lastro temático28.

A realidade é um grande manancial de questões para oRomance, gênero, como em Cervantes, que escolheu a gentesimples para retratar o mundo, testemunho parcial de um

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mundo, por isso incompleto – trabalho, que, pelo viés daliteratura, denuncia a postura marginalizante e elitista de outraparte ausente em Dom Quixote de la Mancha (talvez reduzidoà miniatura do livro de cavalaria nas mãos do errante cavalei-ro), e da incapacidade de permitir a completude do mundo emqualquer discurso. Em outro sentido, o próprio Lukács diz : “Ea comunidade é uma totalidade concreta, orgânica e, por isso,rica nela mesma de sentido”29. É esta riqueza que pode justi-ficar uma interpretação onde o valor da obra pode estar dentroe fora dela mesma, movimentando a pulsação intelectiva deleitura; e, de certa forma, dando uma dinâmica na obra. Oromancista é o intérprete de seu tempo. Bruxo e santo, estásempre pondo em prática, no caso do romance social, umanorma orientadora do mundo ou uma amoralidade desorientadorae, ao mesmo tempo, educativa. Ninguém melhor do que JorgeAmado para representar a nudez, o palavrão, a anedota, asensualidade chula, como expressão e desejo incontido de umpovo, o brasileiro, e de uma literatura quente e úmida como astardes tropicais.

O romance é a expressão maculada da humanidade emfrenético vôo para lá da inconsciência, onde os novelos deregras formam e reprimem o homem, para cá da miscelânia querevela um retrato da sociedade que persegue e atrofia o desejode liberdade deste mesmo homem, de voltar-se para um mo-mento onde todos são filósofos, de felicidade. Um romance deMachado de Assis, como Memórias Póstumas de Brás Cubas,nada mais é que um jogo voraz entre o ser corroído de um heróivingativo, mil vezes derrotado pelo poder social, mas queencontra sua forma de vingança na sua herança mais contun-dente, seu passado de pusilânimes atitudes legalizadas pelasociedade. A mesma sociedade que se descartou dele todosos dias de sua vida, sem uma chance lhe dar, vai ser atingidapelos seus comentários maldosos, sua reprimenda inútil. AssimBrás Cubas dirige-se ao seu incauto leitor, sedento de umavírgula sequer de postura construtiva:

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Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoaimaginará que não houve míngua nem sobra, econseguintemente que saí quite com a vida. Eimaginará; porque ao chegar a este outro lado domistério; achei-me com um pequeno saldo, que éa derradeira negativa deste capítulo de negativas:– Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criaturao legado da nossa miséria30.

É essa possibilidade de refletir a sociedade e o homemnuma perspectiva aguda e sem realces que impulsiona a refle-xão de Adonias Filho. Segundo ele, “em sua obra, pois, – todosos romances baianos de Jorge Amado – o que se continua éum cancioneiro”. Os seus romances, ao beber duma fontesocial, recaem sobre o material coletado com voracidade. Encontrareste mundo de informações valiosas que têm um profundo laçode afeição com a história do povo, e, ao mesmo tempo, expres-são de uma desconfiança para com os meios “legalizados” deregistro e lapidação dessa imprescindível porção de conheci-mento encontrada nos espaços exteriores às reuniões eruditase formais, lugares onde inegavelmente a obra de Amado rea-liza-se esmagadoramente forte. O romance de Jorge dos Ilhé-us, por isso mesmo, trilhará caminhos desde a propaganda, ànovela e ao folhetim. Momentos, normalmente, que a ficçãobrasileira do Modernismo, na sua quase totalidade, não seguiu.Adonias Filho não nota que Jorge Amado quer, em certosmomentos, construir o herói do século passado. Um dos prin-cípios que podem caracterizar esta obra ficcional é o modoromanesco proposto por Northop Frye, não referido, entretan-to, pelo crítico baiano.

Em outro texto, A revolução na estrutura, algumas refle-xões sobre o moderno romance brasileiro levam Adonias Filhoa concluir que

o romance impõe a revolução na estrutura, aevolução estética em toda a sua violência, seusperigos e sua indisciplina31.

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Aqui, a narrativa moderna encontra a mais fecunda temática,buscando a perda, a fragmentação, a loucura, a mentira, aviolência e o sexo-amor. A postura do crítico, em alguns mo-mentos, defende a escritura clássica, pela defesa de umapostura estética tradicional, nos moldes formais da clareza eda erudição. Porém, logo essa perspectiva é reduzida e aban-donada, pois não há mais condição de retorno, nem de renascimento,porque a característica predominante desses tempos entre epós-guerras é a consciência, anteriormente discutida a partirde Octávio Paz. Mesmo a perspectiva clássica em Adonias Filhoé coerente, porque o momento, apesar de cruel, é de reflexão,o vôo cego das vanguardas estatelaram-se no concreto muroda barbárie, basta que simplesmente veja-se algumas refle-xões de Walter Benjamin. O romance representará a revoluçãointerna, a implosão de conceitos caros ao homem no cerne danarrativa, na perda do início e do “era uma vez”. O escuro, adúvida, a queda, a solidão, momentos ficcionais anteriores ànossa época, juntam-se à quebra da linearidade, ao desfechoprecoce e desavisado da narração, à falta de elementos esclarecedores,e ao medo, na ficção mais recente. Os romances de Franz Kafkademonstram bem este papel na construção da narrativa moder-na. Continua o crítico:

O corte decisivo, porém, se realizaria em função daforma, da operação artística, da concepçãoarquitetônica humana cotidiana e viva32.

O romance na Modernidade alcança a maior repercussãopolemicamente falando ou esteticamente, não se pode dizerque chegou ao seu limite. A época humana teria de estagnar-se para que a narrativa em si estacionasse temática, estruturale conceitualmente. Isto marcaria a ligação do romance com asua época, refletindo e se construindo a partir das imbricaçõessociais. Mesmo assim, se a época para o homem é de difícilaceitação e a crise pode estar se instaurando, a forma roma-nesca, apesar de moldar-se nessa crise, fortalecerá suas bases,negando também o próprio homem. Vale mencionar que aliteratura, nesse momento de questionamento dos discursos

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ditos canônicos como o científico e o histórico, ganha posturade documento social, o que fortalece algumas afirmações deAdonias Filho.

O romance descarnado de Graciliano Ramos, o labirínticoe passional do próprio Adonias Filho, a renovação lingüísticade Guimarães Rosa, junto com o faroeste dramático de Faulkner,o do narrador plural de Virgínia Woolf, operam revolução “nosmétodos críticos – não a revolução paralela, mas a revoluçãocomplementar no círculo mais autêntico da Literatura”33.

A necessidade de uma iniciação, ou talvez erudição, nosmodelos tidos como consagrados numa tentativa de rebeldia eavanço, formando um tipo de impostura criativa na ficção,provoca a necessidade gritante de plasmar no texto o registrode uma época desfigurada, semelhante à pintura de Picasso,onde – em meio ao emaranhado de dúvidas, recalques eestabelecimento da crueldade – está o homem, perdido comoo herói clássico. Mas, há uma diferença: Ulisses sabia do seucrime, do seu castigo e das condições do seu perdão, e ohomem moderno, enquadrado em formas e esquinas, tem ex-trema consciência da absurda incerteza das suas ações. AdoniasFilho sabe que o romancista moderno, tal como Guimarães ouKafka, Graciliano Ramos ou Faulkner, grava a sua experiênciaerudita numa forma internamente revolucionária.

O que acontece finalmente na virtuosidade moder-na, é a justaposição de qualquer tema (psicológi-co, sociológico, imaginário) à estrutura que decor-re de uma experiência literária comprovada34.

Quebra-se o preconceito de tema, que fazia com que umaobra fosse menos valiosa literariamente pela não utilização dotema da moda, como no Romantismo brasileiro – o indianismo,o nacionalismo, o amor e a morte; naturalismo – o cientificismopositivista. Vê-se que autores como Machado de Assis já es-tavam operando a sua revolução, fugindo do tema nacionali-dade, e analisando a sociedade e o ser humano. Mas a granderevolução machadiana foi a sua noção precisa do conceito deconto, romance e conhecimento literário, chegando a adiantar-

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se à sua época. Segundo o ensaísta e professor Jorge deSouza Araújo:

Com o criador de Brás Cubas atravessamos orubicão da incomunicabilidade, devassamos o im-penetrável da alma humana, de seu porão extrain-do máximas evocadoras de sentidos de desloca-mentos e náusea, num existencialismo muito an-terior à corrente de pensamento exalçada porSartre e Camus35.

Porém, os grandes revolucionários deste século são osescritores que se arriscaram para além da conceito tradicionalda arte literária, aperfeiçoando o romance psicológico e envol-vendo-se com outras linguagens além da literatura, buscandoa sua mais pura irradiação.

No caso do escritor José Geraldo Vieira, a linhapropriamente da fabulação, em seus elementosromanescos, colocada à margem do cálculo, sem-pre significará um mundo literário. (...) O romancecapta o seu ritmo estético na manobra da constru-ção36.

O que é vital para a sobrevivência da arte narrativa,principalmente o romance, é este senso aparentemente caóticoligado a uma alma forjada e iniciada no áspero ofício deromancista e crítico literário.

Este último texto de Adonias Filho busca mais elementosnuma procura estética do texto vivo, tentando, como Pound,captar com antenas para onde anda a arte hoje, para onde iráamanhã. É preciso perceber também que o crítico poderiafornecer elementos de suporte para o romancista que come-çava a aparecer, com Os servos da morte, em 1946. A expres-são “áspero ofício”, aqui mencionada, é título do livro deensaios do jornalista Almeida Fischer, e tem caráter significa-tivo neste momento porque Adonias Filho empenha-se paraposicionar sua produção literária dentro e ao redor das pro-blemáticas da Modernidade. Algumas reflexões de G. Lukácsoferecem diferenciação salutar entre mundo grego e modernidade,

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e dessa diferenciação emanam saídas para impasses comoinacabamento, simulacro e fragmentação na época moderna.

Uma vez tendo escolhido o romance para refletir as pos-turas da Modernidade e vice-e-versa, encontrou-se um gêneroliterário extremamente fincado na humanidade e nos seusanseios e, também, um crítico aparentemente desconhecidoempenhado em compreender o exercício desta forma literáriano Brasil e revelando, do seu ponto de vista, argumentos tãocomuns na atualidade como a validade da literatura comodiscurso representativo de uma realidade.

Enfim, o texto de Adonias Filho pode ser capaz de contri-buir para as discussões sobre literatura brasileira e a formaromanesca.

THE ACT OF NARRATING AND ADONIAS FILHO’SCRITICISM

ABSTRACT — This text discusses the novel from three points of view:those of Georg Lukács, Mikhail Bakhtin and Adonias Filho. Here, theromance is the literary form of the Modern Age; for these writers itexpresses the essence of the times: the Greek concept of an ideal world,the end of romance, the beginning of the new cultural spirit in Lukács;the unending, a new sense of time, the polyphonic narrative in Bakhtin;the narrative revolution as the image of the desire for rupture in thecontemporary in Adonias Filho’s conception of the Brazilian novel.

KEY-WORDS: Criticism. Novel. Modernity.

NOTAS

1 CORTÁZAR, Júlio. Situação do romance. In:______. Valise deCronópio. 2. ed., Trad. Davi Arrigucci Jr. e João AlexandreBarbosa. São Paulo: Perspectiva, 1993. p. 71. (Coleção Debates).

2 LUKACS, G. Epopéia e romance. In: ______.Teoria do Roman-ce. Lisboa: Presença, 1962. p. 61. (Biblioteca de Ciências Hu-manas, 5).

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3 BAKHTIN, Mikhail. Epos e romance. In: ______. Questões deLiteratura e de Estética: A teoria do romance. 3. ed. São Paulo:UNESP, 1993. p. 428.

4 RODRIGUES, S. C. A Narrativa e sua problemática. In: VASSA-LO, L. (Org.). A Narrativa ontem e hoje. Rio de Janeiro: TempoBrasileiro, 1984. p. 35. (Comunicação, 5).

5 Op. Cit. nota 2. p. 61-76.

6 Op. Cit. nota 1. p. 66.

7 Op. Cit. nota 1. p. 69

8 PAZ, Otávio. Ambigüidade do romance. In: ______. O arco e aLira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. p. 269.

9 Idem, ibidem. p. 270.

10 EIKHENBAUM, B. Sobre a teoria da prosa. In: EIKHENBAUM, B;TOLEDO,Dionísio de Oliveira (Org.). Formalistas Russos. 4. ed.Porto Alegre: Globo. 1978. p (?).

11 Op. Cit. nota 8. p. 277.

12 PLATÃO. A alegoria da caverna. In: ______. Diálogos, A Repú-blica. Rio de Janeiro: Livros de Ouro, s/d. p. 153-156.

13 Op. Cit., nota 8, p. 241.

14 DANTAS, San Tiago. Dom Quixote: um apólogo da alma ociden-tal. 2. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1964. p. 29.

15 Op. Cit. nota 8. p. 242.

16 Op. Cit. nota 8. p.245.

17 DERRIDA, J. A Estrutura, o Signo e o jogo no discurso dasCiências Humanas. In: ______. A Escritura e a Diferença. 2. ed.São Paulo: Perspectiva, 1995. p. 229-249.

18 Op. cit. nota 8. p. 250.

19 MARCUSE, H. Eros e civilização: uma interpretação filosóficado pensamento de Freud. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1992.p. 33-40.

20 ADONIAS FILHO. Modernos ficcionistas brasileiros. Rio deJaneiro: Tempo Brasileiro, 1965. p. 10 (2ª série).

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21 Id., ibid., p. 9.

22 Id., ibid. p. 08.

23 Id., ibid. p. 11-18.

24 Id. Modernos ficcionistas brasileiros. Rio de Janeiro: O Cruzei-ro, 1958. p. 20-28.

25 CÂNDIDO, Antônio. Prefácio. In:______. O discurso e a cidade.São Paulo: Duas Cidade, 1993. p. 11.

26 Id., ibid. p. 10.

27 CARPEAUX, Otto Maria. O New Criticism. In: ______. Tendên-cias contemporâneas na literatura. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d. p. 170.

28 ADONIAS FILHO. O romance do testemunho. In: ______. Moder-nos ficcionistas brasileiros. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,1965. p. 11-12.

29 LUKÁCS, G. Teoria do Romance. Lisboa: Presença, 1962. p.75. (Biblioteca de Ciências Humanas, n. 5).

30 ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. 14ed. São Paulo: Ática, 1990. p. 144. (Série Bom Livro).

31 ADONIAS FILHO. A revolução na estrutura. In: ______. Modernosficcionistas brasileiros. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1958. p. 20.

32 Id., ibid. p. 21.

33 Id., ibid. p. 21.

34 Id., ibid. p. 23.

35 ARAÚJO, Jorge de Souza. Machado de Assis: intérprete dedesertos. A Tarde, Salvador, 19 jun. 1999. Suplemento Cultural,p. 7.

36 ADONIAS FILHO. A revolução na estrutura. In: ______. Modernosficcionistas brasileiros. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1958. p. 24.

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REFERÊNCIAS

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