o atlas do amor
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O Atlas do
AMOR Trs jovens e uma pequena surpresa
Laurie Frankel
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Sinopse
Ningum sobrevive maternidade sem aliados - principalmente
quando se est em meio a um curso de ps-graduao. Por isso, apesar
de descobrir no fim de um semestre que est grvida e de ser
abandonada pelo namorado sete anos mais novo, Jill - uma pessoa que
considera abrir um pacote de bolachas para o jantar uma grande
habilidade domstica -, ainda pode se imaginar sortuda quando suas
duas melhores amigas imediatamente se prontificam a ajud-la a criar
Atlas, o beb.
Jill, Katie e Janey se mudam ento para uma casa maior, arranjam
um cachorro e montam uma programao sem intervalos, que inclui
cuidar do beb, assistir s aulas da ps-graduao, lecionar matrias de
introduo literatura, corrigir trabalhos e cumprir a agenda de leituras.
Elas esperam que seu esforo seja suficiente para formar uma famlia
para Atlas, mas claro que tudo acaba se complicando, como acontece
em todas as famlias, embora de maneiras que ningum poderia
imaginar.
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Para Paul,
literariamente e literalmente
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PARTE I
ANTES DE TUDO
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Quando eu tinha seis anos, encontrei um beb no
saguo do Waldorf-Astoria. Envolto por um lenol e aninhado
em uma verdadeira selva de vasos de plantas ao canto, ele
estava num lugar em que somente uma criana de seis anos
o encontraria. Para se enfiar ali, s mesmo algum to
obcecado por onde vivem os monstros que saberia reconhecer
aquela floresta misteriosa e cuja av fazia o check-in havia
horas e nem estava prestando ateno mesmo. A no ser que
voc fosse uma recepcionista de vinte e poucos anos que
escondera a gravidez e estava apavorada aps ter dado luz
na hora do almoo em uma sute no terceiro andar que no
seria ocupada a semana inteira porque o carpete estava
sendo trocado. Nesse caso, acho que aquela selva de vasos de
plantas pareceria um bom lugar.
Eu tinha escapado da minha av e me aventurado
naquela floresta porque estava em busca de monstros. L,
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encontrei s poeira, uma moedinha que guardei no bolso para
dar sorte, dois pedaos de rocambole grudados no cho
dos quais nem cheguei perto porque, mesmo aos seis anos,
eu no comia pedaos de rocambole grudados no cho e,
debaixo de um tinhoro, uma coisinha se remexendo que a
princpio pensei ser Max vestido de lobo.
claro que eu no tinha idade para entender, mas de
alguma maneira devo ter entendido, porque me agachei com
o beb no colo e me encostei-me parede da selva de plantas
e, para tentar acalmar meu novo amigo, olhei fixo em seus
olhos sem piscar nem uma vez, ignorando os gritos histricos
da minha av e o tumulto de um saguo cheio de gente
estranha chamando meu nome, espiando embaixo da porta
dos banheiros, na lojinha, na calada e em mais um monte
de outros lugares onde uma criana de seis anos poderia ter
ido parar sem querer. Foi preciso outra criana para me
achar, sua cara suja enfiada na minha selva gritou Achei!
Achei! Eu achei! como se ele que tivesse feito algo
heroico.
Vi o rosto de a minha av passar do alvio raiva e
confuso continuamente, enquanto ela tentava entender
como a neta de seis anos tinha conseguido escapar dela e dar
luz em cinco minutos. Ela abriu e fechou a boca algumas
vezes antes de finalmente dizer: Janey, querida, por favor,
me diga que voc no roubou o beb.
*
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Mais tarde, no nosso quarto perfeito com camas
brancas enormes e toalhas macias enormes e janelas
enormes com milhes de luzinhas brilhantes, depois de
escapar do frenesi da imprensa, que tinha tomado conta do
saguo quando uma recepcionista lvida percebeu que estava
na hora de abrir o jogo, coloquei meu pijama e minha av me
abraou e disse que estava muito orgulhosa de mim.
Voc no est zangada?
Um pouquinho, ela admitiu, por isso nunca,
mas nunca mesmo fuja de mim e se esconda como voc fez
hoje. Mas eu tambm estou muito impressionada.
Por qu?
Porque posso ver a grande garota que voc vai ser
quando crescer. E uma garota adorvel.
Por qu?
Porque voc estava assustada, mas foi corajosa. No
sabia o que aconteceria se algum te achasse, por isso ficou
calma, quietinha e no largou aquele beb. Mesmo sabendo
que eu provavelmente ia ficar zangada. Mesmo sem nunca ter
cuidado de um beb antes. Foi corajosa, esperta e carinhosa.
Voc tem um corao enorme, explicou minha av. Fiz
uma proposta. Deveramos lev-lo para casa para morar
com a gente.
No, meu bem. Aquele beb pertence outra pessoa.
Mas se a me no queria o beb...
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O beb no seu, querida. Mas amanh vamos
loja de brinquedos escolher um s para voc.
Mais tarde ainda - muito mais tarde, para dizer a
verdade, - minha av disse que foi ali que tudo comeou. As
pessoas costumam reduzir tudo a vulos e espermatozoides,
mas quase sempre comea muito antes disso. Jill acha que
comeou quando Dan salvou o diretrio acadmico. Katie
acha que foi com os profiteroles. Mas minha av insiste que
foi vinte anos antes, no saguo do Waldorf-Astoria. difcil
saber com certeza, mas parece um pouco cedo demais. Eu
mesma acho que o momento derradeiro foi com Jill na parte
de bolachas do supermercado. Todo o resto se seguiu dali.
Famlia no uma questo de sangue, mas de destino. No
d para escolher.
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Conheci Jill na parte de bolachas do supermercado na
noite anterior ao incio do ano letivo, a ltima noite antes de
comearmos a ps-graduao e a dar aulas. Achei que seria
bom ter algo para beliscar enquanto esperava o amanhecer
em pnico. Jill enchia o carrinho de bolachas gua e sal.
Ei, voc aquela estrangeira, ela disse,
reconhecendo-me da orientao.
Sou de Vancouver, respondi.
O Canad outro pas, explicou Jill com razo.
verdade, pensei. Mas eu me sentia completamente em casa.
Seattle quase no Canad.
Quantas bolachas, eu disse. O papo no estava
indo nada bem.
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Ela no deu importncia. So baratas. E eu no
gosto de supermercados.
Ento voc pretende punir o mercado comprando
todas as bolachas?
Estou comprando o mximo agora para no ter que
voltar.
Elas vo ficar velhas.
Bolacha gua e sal sempre tem gosto de velha, ento
tudo bem, ela explicou.
E as vitaminas? perguntei. Ela me olhou com cara
de espanto. Vitaminas, nutrientes... Comida saudvel,
sabe?
Quem voc para falar de comida saudvel? Jill
perguntou, olhando para a minha cesta de compras.
Macarro, arroz de saquinho, bolachas. Essas coisas a
no vo te encher de nutrientes. Era verdade de novo.
Eu vou feira amanh, expliquei, embora no
tivesse pensado nisso at aquele exato segundo. S vim
aqui para comprar o bsico.
Eu no como legumes, mas voc pode me pegar
depois da aula, disse Jill, como se tivesse sido convidada.
Talvez eu consiga absorver algumas vitaminas andando
com as suas compras.
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Meu nome Janey, eu disse, esticando minha
mo. Ainda estava meio atordoada com a cara de pau de Jill,
mas feliz por quase ter uma amiga.
Eu me lembro. Janey do Canad.
No foi assim de cara. Costumvamos sentar juntas
nas aulas, mas s. At que, uma tarde, ao sair da classe,
perguntei a ela: Voc no vai para casa e janta bolacha,
n?.
s vezes.
S bolacha?
Ou um sanduche.
Sanduche de bolacha?
s vezes. O que voc costuma jantar?
Macarro. Ou arroz. Mas com legumes.
Voc cozinha?
No micro-ondas. Mesmo assim... Voc deveria vir
jantar um dia desses.
Eu sei me cuidar, respondeu Jill.
Parece que no, retruquei. Eu ainda no sabia
como aquilo era verdade. Ela veio jantar. Descongelei brcolis
no micro-ondas com molho de queijo e ervilha na manteiga,
depois misturei tudo com macarro. Penne com molho de
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manteiga e queijo com brcolis e ervilha. Devia ter algumas
vitaminas ali, mas o aspecto era meio nojento.
Isso meio nojento, disse Jill.
Melhor que jantar bolacha.
No tenho tanta certeza disso.
Como eu tambm no tinha muita certeza disso,
decidi que amos aprender a cozinhar. Diante dos fatos, Jill
reconheceu que era uma boa ideia. No podia ser assim to
difcil. Livros de cozinha so livros, e livros so nossa
especialidade. Peguei vrios deles e fomos ao Pike Place
Market naquele domingo tarde. Jill sugeriu comer primeiro.
Viemos aqui para cozinhar, protestei.
Viemos aqui para comprar.
Ento vamos s compras.
No se deve comprar comida de estmago vazio,
ela explicou com sabedoria.
Mas voc s compra bolacha.
No quando estou com fome.
Ela me levou a uma lanchonete minscula mais
adiante na rua do mercado, com papel de parede surrad