o assedio moral na administracao publica

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O Assdio Moral na Administrao Pblica O assdio moral no um assunto novo. Na realidade, trata-se de um tema to antigo quanto as prprias relaes de trabalho. No h diferenas significativas na ao de assediadores nos universos pblico e privado. Porm, em virtude da natureza do servio pblico, o assdio se torna mais grave, pelo fato de que na administrao pblica no existe uma relao patronal direta e sim uma hierarquia que deve ser respeitada. A relao patronal no servio pblico reside no dever do agente pblico tratar com respeito, decoro e urbanidade todo e qualquer cidado. Este o verdadeiro patro, que custeia a remunerao do agente pblico por meio do pagamento de tributos. Na relao de trabalho, o agente pblico est sujeito ao princpio da hierarquia, constituda principalmente para estabelecer um grau de responsabilizao e ordem, objetivando que o servio pblico alcance seu objetivo maior, que o bem comum. O que realmente assdio moral na relao de trabalho? Resumindo trata-se, portanto, da exposio do servidor a situaes humilhantes e constrangedoras, recorrentes e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exerccio das funes. Essa exposio tirania mais freqente em relaes hierrquicas autoritrias, nas quais predominam condutas negativas, atos desumanos de longa durao, exercidos por um ou mais chefes contra os subordinados, ocasionando a desestabilizao da vtima com o ambiente de trabalho e a organizao. A vtima isolada do grupo sem explicao, passando a ser ridicularizada, inferiorizada e desacreditada diante de seus colegas. Estes, por medo, vergonha, competitividade ou individualismo, rompem os laos afetivos com a vtima e, muitas vezes, acabam reproduzindo aes e atos do agressor, instaurando um pacto de tolerncia e de silncio coletivo, enquanto a vtima vai se degradando e se enfraquecendo. Esta humilhao repetitiva acaba interferindo na vida do humilhado, gerando srios distrbios para a sua sade fsica e mental e podendo evoluir para a prpria incapacidade para o trabalho, a aposentadoria precoce e a morte. Em sntese o assdio moral uma perseguio continuada, cruel, humilhante e covarde desencadeada, normalmente, por um sujeito perverso, tanto vertical quanto horizontalmente, que intenciona afastar a vtima do trabalho, mesmo que para isso tenha que degradar sua sade. A Hierarquia no servio pblico Hierarquia o princpio da administrao pblica que distribui as funes dos seus rgos, ordenando e revendo a atuao de seus agentes e ainda estabelece a relao de subordinao entre os servidores do seu quadro de pessoal (Direito Administrativo Brasileiro, Hely Lopes Meireles, pg. 127, ed. 2003). Portanto, o servidor somente tem a condio de subordinado em relao ao princpio orientador da hierarquia entre a instituio e a funo, e no porque agente de menor ou maior capacidade do que o funcionrio numa funo acima da sua. A distribuio dessa hierarquia questo de organizao da Administrao Pblica e

tambm modo de operao dos atos e no uma diviso de castas de pessoas ou funes. Na Administrao Pblica, o funcionrio dos servios gerais tem a mesma importncia que um chefe de gabinete e, dentro de sua categoria, igual hierarquicamente a outros. Suas funes so diferenciadas apenas por questes de organizao, mas sua importncia a mesma dentro do quadro do funcionalismo. Desse modo, um chefe de gabinete que comete assdio contra um funcionrio de servios gerais, por exemplo, deve responder pelo ato que praticar. evidente que a responsabilidade ser sempre da administrao pblica, pois responde por leses morais o rgo que no coibir atos de assdio moral contra qualquer um de seus agentes. No entanto, o agente responder frente administrao pblica em ao regressiva. No se pode admitir um funcionrio de grau hierrquico maior prejudicar toda uma administrao, todo um bem elaborado sistema de controle do trabalho, simplesmente por querer humilhar seus subordinados. Conclui-se que a hierarquia no significa superioridade de cargo ou pessoal, e sim de funo dentro da organizao estatal.

H como impedir o ato de assdio moral? No h uma maneira eficaz de se impedir o assdio moral. Porm, essencial que o ato seja punido de maneira exemplar, por meio da abertura de Processo Administrativo Disciplinar (PAD) e de processo por desvio de conduta tica, com a conseqente exonerao do cargo e a aplicao das demais sanes impostas pelo ordenamento disciplinar e tico. de nosso entendimento que, em conformidade com o Cdigo de tica do Servidor Pblico, os desvios de conduta tica envolvendo o assdio moral atualmente so melhor tratados junto a tica pblica do que em procedimentos disciplinares, sendo que nada impede que os dois coexistam. A tica uma nova esfera dentro do Direito Administrativo, no concorrendo com a esfera Disciplinar, assim como a esfera Civil no concorre com a esfera Penal. A Administrao Pblica tem o compromisso de apurar, sempre que necessrio, qualquer indcio de participao de servidor em atividades que atentem contra a tica no servio pblico, devendo responder prontamente a incidentes que envolvam seus servidores, uma vez que nem todas as ocorrncias apresentam lesividade efetiva regularidade do servio, dano ao errio ou comprometimento real de princpios que regem a Administrao. O principal objeto do Direito Administrativo Disciplinar e do Cdigo de tica do Servidor Pblico no necessariamente punir, mas corrigir os ilcitos e a conduta do servidor. Tratando o assdio moral na tica PBLICA Como j vimos, o assdio moral em essncia um desvio de conduta tica e deve ser tratado como tal. Considerando como balizador o Cdigo de tica Profissional do Servidor Pblico Civil do Poder Executivo Federal, institudo pelo Decreto n 1.171/1994, podemos definir em quais desvios o assediador se enquadra.

Tomemos como exemplo: Das vedaes ao Servidor Pblico f) permitir que perseguies, simpatias, antipatias, caprichos, paixes ou interesse de ordem pessoal interfiram no trato com o pblico, com os jurisdicionados administrativos ou com colegas hierarquicamente superiores ou inferiores; Neste inciso o legislador contempla em sua totalidade o assdio moral, na ascendente e descendente do plano vertical e em sua totalidade no campo horizontal. As proibies revelam a maioria das iniqidades praticadas pelo assediador moral contra sua vtima. Preveno Agora, h sim como prevenir tais atos, aplicando aes mais intrnsecas e eficazes na educao ou reeducao tica e profissional do agente pblico, incuntindo-lhe o respeito aos seus pares e principalmente ao cidado. certo que a virtude moral decorrente do hbito e no da natureza do ser humano. O exerccio contumaz da virtude moral arraigar no homem o seu espectro, posto que o hbito no modifica a natureza. a natureza que nos d a capacidade de receber as virtudes, e o hbito aperfeioa esta capacidade. Portanto, a prtica da virtude moral, que conduz o homem verdadeira felicidade, no nasce com ele, sendo construda a partir de condutas positivas reiteradas. Aes do Gestor pblico O gestor pblico poder utilizar as medidas necessrias para prevenir o assdio moral, tais como: Planejamento e organizao do trabalho; Levar em considerao a autodeterminao de cada servidor e possibilitar o exerccio de sua responsabilidade funcional e profissional; Assegurar ao servidor oportunidade de contato com os superiores hierrquicos e outros servidores, ligando tarefas individuais de trabalho e oferecendo a ele informaes sobre exigncias do servio e resultados; Garantir a dignidade do servidor; Evitar o trabalho pouco diversificado e repetitivo, protegendo o servidor no caso de variao do ritmo de trabalho; As condies de trabalho devero garantir ao servidor oportunidades de desenvolvimento funcional e profissional no servio; Desenvolvimento de aes objetivando a disseminao de normas ticas e disciplinares.

O gestor pblico tem o dever de zelar por um bom ambiente de trabalho, coibindo e punindo casos de assdio moral. Ele no pode compactuar com expedientes odiosos, devendo aplicar seu poder disciplinar sobre seus subordinados, para restabelecer a ordem no ambiente de trabalho. Ele jamais poder deixar de observar que assdio moral toda ao, gesto ou palavra, praticada de forma repetitiva por agente, servidor, empregado, ou qualquer pessoa que, abusando da autoridade que lhe confere suas funes, tenha por objetivo

ou efeito atingir a auto-estima e a autodeterminao do servidor, com danos sua sade, ao ambiente de trabalho, ao servio prestado ao pblico e ao prprio usurio, bem como evoluo da carreira e da estabilidade funcional do servidor. essencial que o gestor abstenha-se de: Determinar a realizao de atribuies estranhas ou de atividades incompatveis com o cargo que ocupa, ou em condies e prazos inexeqveis; Designar para o exerccio de funes triviais o exercente de funes tcnicas, especializadas, ou aquelas que exijam treinamento e conhecimento especficos; Apropriar-se do crdito de idias, propostas, projetos ou de qualquer trabalho de outrem;

Em tempo, tambm considerado assdio moral as aes, gestos e palavras que impliquem: No desprezo, ignorncia ou humilhao do servidor, que o isolem de seus superiores hierrquicos e de outros servidores, sujeitando-os a receber informaes, atribuies, tarefas ou outras atividades somente por meio de terceiros; Na sonegao de informaes que sejam necessrias ao desempenho das funes ou teis vida funcional do servidor; Na divulgao de rumores e comentrios maliciosos, bem como na prtica de crticas reiteradas ou na subestimao de esforos que atinjam a dignidade do servidor; Na exposio do servidor a efeitos fsicos ou mentais adversos, em prejuzo de seu desenvolvimento pessoal e profissional.

Paulo Roberto Martinez Lopes Autor do Livro: tica, assdio moral e assdio sexual na Administrao Pblica 22 de Janeiro de 2009