o “art nouveau” em belÉm

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Após mais de meio século de Historicismo e de exasperado Ecletismo, aultima década do século XIX assiste ao desenvolvimento, não só na Europa, deuma tendência modernista ligada a todas as manifestações artísticas – desde aarquitetura à arte aplicada, da pintura à ilustração, da escultura às artesgráficas publicitárias – que respira uma renovação total, reivindicando adefinição de “novo” estilo. Embora se encontre com nomes em diversos países,é historicamente definido com a designação francesa Art Nouveau, que nonosso país, Brasil, é Arte Nova.

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  • VALRIA MARIA PEREIRA ALVES DA SILVA

    O ART NOUVEAU EM BELM

    Escola de Engenharia de So Carlos - EESC

    Universidade de So Paulo

    So Carlos, 2005.

  • ii

    VALRIA MARIA PEREIRA ALVES DA SILVA

    O ART NOUVEAU EM BELM

    Trabalho apresentado Escola de

    Engenharia de So Carlos da

    Universidade de So Paulo, como

    requisitos para obteno da creditao da

    disciplina Habitao, Metrpole e Modosde Vida, ministrada pelo o Prof. Dr.

    Marcelo Tramontano.

    Escola de Engenharia de So Carlos EESC

    Universidade de So Paulo

    So Carlos, 2005.

  • iii

    SUMRIO

    1 INTRODUO 3

    2 CRONOLOGIA DAS POCAS E DOS ESTILOS 7

    3 O ART NOUVEAU EM BELM 8

    3.1 PALACETE PINHO 213.2 PALACETE BOLONHA 223.3 PALACETE FACIOLA 253.4 PALACETE VICTOR MARIA DA SILVA 263.5 LOJA PARIS NAMRIA 29

    4 CONCLUSO 32

    5 BIBLIOGRAFIA 33

  • iv

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Ornamentos florais na cama............................................................................................... 11

    Figura 2 - Mesa de bronze

    Figura 3 - Mesa de bronze ..................................................................................................................... 12

    Figura 4 - Mesa de bronze

    Figura 5- Mesa de bronze ...................................................................................................................... 12

    Figura 6 Porta Retrato em Bronze..................................................................................................... 13

    Figura 7 Portas jias em bronze. ....................................................................................................... 14

    Figura 8 Peas em bronze................................................................................................................... 14

    Figura 9 Peas em bronze.................................................................................................................. 14

    Figura 10 Peas em bronze. .............................................................................................................. 15

    Figura 11 Peas em bronze. .............................................................................................................. 15

    Figura 12 Fivelas

    Figura 13- Peas de Toucador .............................................................................................................. 15

    Figura 14 - Peas em prata.

    Figura 15 Peas em prata. ................................................................................................................. 16

    Figura 16 - Palacete Pinho antes de sua demolio quase que completa..................................... 21

    Figura 17 - Palacete Bolonha ................................................................................................................ 22

    Figura 18

    Figura 19 - Painel de azulejo do Palacete Bolonha ........................................................................... 22

    Figura 20 Sala de banho do Palacete Bolonha ............................................................................... 23

    Figura 21 Mercado de Ferro do Ver-o-Peso .................................................................................... 24

    Figura 22 Bar do Parque..................................................................................................................... 24

    Figura 23 Palacete Faciola ................................................................................................................. 25

    Figura 24

    Figura 25

    Figura 26 Plafonier (Daum) do Palacete Faciola. ........................................................................... 26

    Figura 27 Braso da Familia V.M.S. ................................................................................................. 26

    Figura 28 Figura executada por Boulanger

    Figura 29 Figura executada por Boulanger...................................................................................... 27

    Figura 30

    Figura 31

    Figura 32 Painis executados por Boulanger.................................................................................. 28

    Figura 33 Fidalgo Portugues do sculo XVII executado por Boulanger. ..................................... 28

    Figura 34

    Figura 35 Marinha executados por Boulanger. ............................................................................... 28

    Figura 36

    Figura 37 Flor de Chagas e Parreiras. Painis executados por Boulanger. ............................... 29

    Figura 30 Fachada da Loja Paris n Amrica................................................................................... 29

  • vFigura 31 Lustre de bronze e cristal da Loja Paris nAmrica ....................................................... 30

    Figura 32 - Escada da Sala Principal da Loja Paris nAmrica ........................................................ 30

    Figura 33 Detalha da estatua em bronze.................................................................................31

  • Introduo

    1 INTRODUO

    Aps mais de meio sculo de Historicismo e de exasperado Ecletismo, a

    ultima dcada do sculo XIX assiste ao desenvolvimento, no s na Europa, de

    uma tendncia modernista ligada a todas as manifestaes artsticas desde a

    arquitetura arte aplicada, da pintura ilustrao, da escultura s artes

    grficas publicitrias que respira uma renovao total, reivindicando a

    definio de novo estilo. Embora se encontre com nomes em diversos pases,

    historicamente definido com a designao francesa Art Nouveau, que no

    nosso pas, Brasil, Arte Nova.

    A caracterstica principal deste estilo e a linha, que to depressa lenta

    como rpida, com um andamento quase sempre assimtrico e envolvente,

    passando de frgeis motivos decorativos a elementos estruturais vigorosos. A

    decorao geralmente inspirada em motivos florais (campnulas, rosas, folhas

    e rebentos), ou do reino animal (borboletas, liblulas e galgos), no serve

    apenas para realar a beleza de objetos e mveis, mas tambm como um meio

    para chegar forma. A par desta Arte Nova exuberante existe uma verso feita

    de equilbrio e de rigor elegante, caracterizada por uma decorao simples e

    por formas que se exprimem atravs de figuras geomtricas elementares como

    quadrado, o crculo e o retngulo, preferindo as superfcies planas s

    esculpidas, as linhas verticais s sinuosas.

  • Cronologia das pocas e dos estilos 7

    2 CRONOLOGIA DAS POCAS E DOS ESTILOS

    Tabela 1 Cronologia das pocas e dos estilos.

    FRANA ITLIA ESPANHA ALEMANHA INGLATERRA E.U.A1450 Gtico

    InternacRenascimento

    eManeirismo

    Gtico Internac Gtico Tudor

    1500 Renascimento Mudjar ColonialPrimitivo

    1550 Renascimento Isabelino1600 Barroco Jacobino1625 Barroco Barroco Barroco1650 Barroco Barroco Barroco Stuart Barroco16751700 Georginano

    PrimitivoHolandsColonial

    1720 Regncia Rococ GeorginanoPrimitivo

    1740 Rococ ouBarocchetto

    Rococ Chip Pen Dale

    1760 Luis XV Rococ eNeoclssico

    Rococ Rococ Chip Pen Dale Chip PenDale

    1780 Directrio Neoclssico Neoclssico Neoclssico Neoclssico FederalPrimitivo

    1800 Imprio Imprio Imprio Imprio Regncia Federal Tardo1820 Restaurao Restaurao Isabelino Biedermeier Ecletismo1840 Luis Filipe Albertino Ecletismo Historicismo Vitoriano1860 Ecletismo Ecletismo Ecletismo Historicismo Historicismo,

    Arts and Craftse Movimento

    Esttico

    Ecletismo

    1880 Arte Nova Jugendstil Liberty1900 Floreale Arte Jovem Liberty Movimento

    Moderno1920 Movimento

    ModernoMovimentoModerno

    MovimentoModerno

    MovimentoModerno

    MovimentoModerno

    MovimentoModerno

    1840 Art Dco eRacionalismo

    Art Dco eRacionalismo

    Art Dco eRacionalismo

    Art Dco eRacionalismo

    Art Dco eRacionalismo

    Art Dco eRacionalismo

    1960 EstiloInternacional

    EstiloInternacional

    EstiloInternacional

    EstiloInternacional

    EstiloInternacional

    EstiloInternacional

    Fonte: Livro Guia de Historia do Mobilirio

  • O Art Nouveau em Belm 8

    3 O ART NOUVEAU EM BELM

    A Revoluo Industrial propiciou o desenvolvimento econmico do

    mundo contemporneo, mudando qualitativamente os processos produtivos e,

    entre outras coisas, provocando o aparecimento da grande industria, a

    expanso do comercio mundial, o surgimento da burguesia industrial, de novas

    doutrinas sociais e econmicas, de rivalidades mais profundas entre naes

    etc. Assim, o poder econmico e social deixou de pertencer somente ao circulo

    do capital mercantil e seus dominadores passando, agora, a outras classes,

    isto , a todos os que fizessem fortuna, independentes, portanto de sua origem,

    de seu nascimento.

    Sob esse clima de poderio econmico, a efmera sociedade burguesa

    dos fins do sculo XIX, j refinada culturalmente, eufrica e despreocupada em

    si mesma, necessitou de uma arte que refletisse essa euforia ilusria,

    provocada pela relativa paz social e pelo avano da tecnologia, e que

    satisfizesse s suas exigncias praticas e culturais. Da esse final de sculo

    ser marcado pelo aparecimento de um novo, elegante e refinado estilo,

    coerente sobretudo com modus vivendi dessa sociedade e que se liga,

    fundamentalmente, arte decorativa, quer seja interior ou exterior.

    Os artistas, sentindo que o vertiginoso desenvolvimento industrial

    facilitava a produo de obras em srie, procuraram, atravs de uma herana

    de origem romntica criar, uma forma artstica O Art Nouveau, forma

    espontnea e original, que tambm satisfizesses sua criao individual, ao

    seu desejo pessoal, afastando-se inclusive do modernismo, num esforo

  • O Art Nouveau em Belm 9

    indiscutvel de renovao, e que fosse adaptada aso novos materiais impostos

    pelo desenvolvimentos tecnolgico.

    Sofrendo, como se sabe, a influncia dos pr-rafaelistas, do simbolismo,

    e revelando certo gosto pela japonaiserie, (esta, tambm descoberta na poca

    pela Europa e Estados Unidos) a origem e os postulados estticos do Art

    Nouveau prendem-se a vrios pases, de onde a variedade terminolgica com

    que esse estilo conhecido. Na Inglaterra recebe o nome de Modern Style; na

    Alemanha, Jugesdstil, tirado da revista Jugend, que o propagou; na Frana o j

    mencionado Art Nouveau, que talvez, o mais difundido e o que se fixou no

    Brasil; na Itlia, Style Liberty, ou Stile Nuovo; nos Estados Unidos, Style

    Tyffani, homenagem prestada ao seu principal representante nesse pas, Louis

    Comfort Tyffani, na Espanha, Modernista, Arte Jovem ou Stile Gaud, tambm

    homenagem a Antnio Gaud, inovador r divulgador do estilo no comeo do

    sculo. Vale ressaltar que, afora esses nomes, o movimentos artstico em

    referencia conhecido, ainda, por outras denominaes, as quais penetram na

    linguagem corrente por um processo de derivao conforme esclarece

    Chapigneulle1.Alm disso essa nova esttica j de si bastante diversificada,

    assumindo caractersticas prprias de acordo com o pas a que esteja

    vinculada.

    1 CHAMPIGNEULLE, B.A. Art Nouveau. So Paulo. Verbo, ed. Da Universidade de So Paulo,

    1976. p.10 ( Trad. Maria Jorge Couto Viana).

  • O Art Nouveau em Belm 10

    A influncia mais direta, porque mais prxima talvez, foi a da arte

    utilitria de William Morris, escritor, poeta, pintor r desenhador ingls2. Sua arte,

    com razo assim denominada, explorava a arquitetura domstica e a

    decorao interior, de caracter artesanal, pretendendo substituir tudo aquilo

    que se relacionasse fria objetividade da maquina por objetos artsticos, isto ,

    por utilidades feitas com arte, ao contrario, fundamentalmente subjetiva, em

    que, o artista, com simplicidade, aliado o belo ao til, adaptasse de maneira

    harmoniosa matria e espirito. Seguindo esse mtodo, ao compor seus

    trabalhos, os novos artistas utilizavam a prpria natureza como a mais

    importante fonte de inspirao vista no pela tica impressionista3, que

    tentava capt-la a partir das sensaes luminosas momentneas que o mundo

    exterior despertasse na viso dos homens mas pela tica cientifica, para em

    seguida deformar essa prpria natureza, isto , transform-la, estetizando-a

    nas mais variadas formas, mesmo obedecendo s exigncias do mercado

    financeiro e s encomendas particulares e oficiais, que punham, de certa

    forma, um obstculo, um freio, sua imaginao criadora.

    O aproveitamento temtico da natureza feito de maneira especial. Os

    artistas misturam a flora e a fauna aqutica e terrestre para que ambas,

    fundidas e confundidas, produzam certos efeitos expressivos, tais como a

    mobilidade, a flexibilidade, a fragilidade etc., conforme o que aqueles

    2 JANSON, H. W. Histria da Arte; Panorama das Artes Plsticas e da Arquitetura da Pr

    Histria Atualidade. Lisboa. Fundao Calouste Gulberkian, 1979. P. 612-613. ( Trad. J. A.

    Ferreira de Almeida e de Maria Manuela Rocheta Santos).

    3 CHAMPIGNEULLE, B.A. Art Nouveau. So Paulo. Verbo, ed. Da Universidade de So Paulo,

    1976. p.32 ( Trad. Maria Jorge Couto Viana).

  • O Art Nouveau em Belm 11

    pretendam evidenciar. Assim, rvores de pequeno ou grande porte como o

    Castanheiro, com suas folhagens e suas flores de formas anatmicas

    femininas, a papoula, a ris, o lrio, ou ainda caules, trepadeiras, dormideiras,

    musgos etc., ou mesmo a vegetao marinha com sua enorme variedade de

    algas, de nenfares, estes aproveitados por suas belssimas e amplas flores e

    folhas, tudo isso constitui os motivos ornamentais. Por outro lado, as aves,

    como o avestruz, o cisne, o pavo, os patos selvagens, os falces etc., ou

    animais aquticos em especial os peixes, ou ainda os repteis como os lagartos

    e certos tipos de cobras, ou mesmo os anfbios como os sapos, rs,

    salamandras, e os insetos como as liblulas e as borboletas, so tambm

    aproveitados por seus coloridos, suas sinuosidade e seus caracteres

    ornamentais.

    Figura 1 Ornamentos florais na cama.Fonte: Livro O Art Nouveau em Belm. Coleo de Helena Matos e Boulhosa

  • O Art Nouveau em Belm 12

    Figura 2 - Mesa de bronze Figura 3 - Mesa de bronzeFonte: Livro O Art Nouveau em Belm. Fonte: Livro O Art Nouveau em Belm.Coleo de Helena Matos e Boulhosa Coleo de Helena Matos e Boulhosa

    Figura 4 - Mesa de bronze Figura 5- Mesa de bronzeFonte: Livro O Art Nouveau em Belm. Fonte: Livro O Art Nouveau em BelmColeo de Helena Matos e Boulhosa Coleo de Clia Bassalo

  • O Art Nouveau em Belm 13

    Todos esses elementos conjugados associam-se em particular com as

    figuras femininas, constituindo este um dos pontos relevantes do Art Nouveau.

    As mulheres e as flores so tematizadas e estetizadas nas mais diversas

    composies e, quando se combinam, estas servem para realar a graa, a

    leveza, a suavidade e o sensualismo descontrado daquelas, em que os

    vestidos compridos, finos transparentes, e os longos cabelos, modelam e

    acompanham as linhas e os volumes dos corpos, numa elegncia diferente da

    provocada pelos antigos e duros espartilhos.

    Encarando-se e descrevendo o fenmeno do Art Nouveau como um

    todo, independentemente, portanto, de influncias sofridas e de suas origens e

    postulados estticos, tem-se observado haver esse estilo deixando sua marca

    tambm no mobilirio, na ornamentao em ferro batido, na tipografia, na

    tapearia, nos tecidos, nos papeis de paredes, na ourivesaria, na cermica,

    sobretudo a porcelana, no vidro, especialmente o cristal. Em toda essa

    variedade de materiais e de trabalhos, porm, o trao caracterstico do novo

    estilo dado pelos padres lineares, pelas formas curvilneas, ondeadas,

    sinuosas etc., assinalando a verdade que se evidencia e se afirma na poca

    o movimento.

    Figura 6 Porta Retrato em Bronze.Fonte: Livro O Art Nouveau em Belm. Coleo de Helena Matos e Boulhosa

  • O Art Nouveau em Belm 14

    Figura 7 Portas jias em bronze.Fonte: Livro O Art Nouveau em Belm. Coleo de Helena Matos e Boulhosa

    Figura 8 Peas em bronze.Fonte: Livro O Art Nouveau em Belm. Coleo de Helena Matos e Boulhosa

    Figura 9 Peas em bronze.Fonte: Livro O Art Nouveau em Belm. Coleo de Helena Matos e Boulhosa

  • O Art Nouveau em Belm 15

    Figura 10 Peas em bronze.Fonte: Livro O Art Nouveau em Belm. Coleo de Helena Matos e Boulhosa

    Figura 11 Peas em bronze.Fonte: Livro O Art Nouveau em Belm. Coleo de Helena Matos e Boulhosa

    Figura 12 Fivelas Figura 13- Peas de ToucadorFonte: Livro O Art Nouveau em Belm. Fonte: Livro O Art Nouveau em BelmColeo de Helena Matos e Boulhosa Coleo de Clia Bassalo

  • O Art Nouveau em Belm 16

    Figura 14 - Peas em prata. Figura 15 Peas em prata.Fonte: Livro O Art Nouveau em Belm Fonte: Livro O Art Nouveau em BelmColeo de Clia Bassalo Coleo de Clia Bassalo

    Considerando um caso parte na Histria da Arte, o fenmeno Art

    Nouveau tem despertado polemica entre os estudiosos do assunto, de vez que

    alguns deles tentam conceb-lo sob uma estratificao artstica, considerando-

    o, pois, um estilo menor4. De qualquer modo, o estilo afirmou-se como um

    movimento esttico e, equivocadamente foi tomado como vanguardista do final

    do sculo XIX e inicio do XX, estendendo-se para alm da Europa e tornando-

    se, pois, um fenmeno de carter universal, numa poca em que a elite social

    vivia sob o mesmo clima espiritual, condicionado pelo capitalismo industrial e,

    consequentemente, pela elegncia da belle poque. Dessa poca brilhante as

    artes em geral nos legaram nomes expressivos como Emille Gall, Louis

    Majorelle, Ren Lalique, August e Antonin Daum, Antnio Gaud, Henry Van de

    Velde, Gustav Klimt, e outros, os quais contriburam para a divulgao desse

    fenmeno dentro e fora do continente europeu.

    4 BASSALO, Clia Coelho. O Art Nouveau em Belm. Editora Grafisa. Belm, 1984. p. 8.

  • O Art Nouveau em Belm 17

    O Brasil tambm no escapou a essa influncias e manifestaes,

    embora, claro, em menor escala, de vez que aqui elas representavam uma

    projeo do gosto burgus europeu.

    Na Amaznia, altura da primeira metade do sculo XIX, a extrao da

    borracha j constitua o plo mais dinmico da economia local. O extrativismo

    da hvea (borracha) recolocava, por assim disser a Amaznia na esfera do

    capitalismo mundial, definindo o papel a regio como fornecedora, sobre tudo,

    dessa matria-prima, na diviso internacional do trabalho.

    A economia da borracha tem sido o objeto de continuas estudos, tanto

    no plano da pesquisa econmica, como no da social5, representando, ainda,

    um campo de grande potencialidade para outros trabalhos, considerando-se,

    principalmente, a complexidade da dinmica interna e externa prpria do

    extrativismo do ltex.

    Ressente-se a histria social, entretanto de trabalho que procurem

    recuperar, em termos mais amplos, as diversas representaes de que se

    serviu a ideologia do ciclo da borracha, entendida a ideologia como um

    conceito operacional no universo das cincias sociais. Assim, se de um lado

    percebe-se as formas de pensamento dominantes na Amaznia durante o

    perodo de mais expresso hvea (1870-1910), de outro constata-se a falta de

    levantamento e de tratamento cientfico sobre as tendncias culturais e

    estticas presentes na Amaznia nesse momento da historia regional.

    5 SANTOS, Roberto Arajo do oliveira. Histria Econmica da Amaznia;1800-1920. So

    Paulo. TAQ, Editor, Ltda. 1980.

  • O Art Nouveau em Belm 18

    A borracha estabeleceu, sem dvida, novas relaes de dependncia

    entre a Amaznia e os centros hegemnicos do capitalismo mundial, ento

    representados principalmente pela grande industria europia e norte-

    americana. Na primeira metade do sculo XIX, essas relaes de dependncia

    se orientavam em funo do capitalismo comercial, com influencias

    configuradas sobre a regio, colocando Belm mais prxima de Lisboa do que

    do Rio de Janeiro ou de outros centros comerciais do pas. Posteriormente, tais

    relaes agora com o capitalismo industrial aproximavam Belm de

    Londres, Paris e Boston.

    Considerando-se que a subordinao se processou tanto no plano

    econmico, como no intelectual percebe-se que os componentes da ideologia

    presentes na Amaznia da borracha reproduziram em diversas instncias, os

    nveis configurados da dependncia estrutural da regio queles centros

    hegemnicos do capitalismo industrial. Assim, o francesismo que dominou o

    panorama intelectual da Amaznia durante o referido ciclo, e que parecia

    buscar a construo de uma Paris tropical, surgira como uma projeo dessa

    sujeio econmica, estando implcita e explicitamente identificada com os

    interesses e com as predilees da classe dominante regional. A importncia

    de padres estticos para a Amaznia da segunda metade do sculo XIX,

    desse modo, no refletiu, apenas, uma questo de gosto mas, antes, uma dada

    situao de dependncia estrutural.

    A arquitetura to distanciada das necessidade ecolgicas do trpico -,

    as concepes urbanismo e de paisagismo, os modismos, as tendncias

    literrias e estticas, chegam da Europa e preenchem as necessidades

    mundanas e intelectuais da elite regional que se nutre, sobre tudo, do comercio

  • O Art Nouveau em Belm 19

    de exportao da borracha dessa forma, a sociedade que se organizou nos

    dois maiores centros urbanos regionais (Belm e Manaus) em torno da goma

    elstica, operou, atravs de sua elite, a aproximao e a identificao, segundo

    a metodologia de histria social de Pierre Bourdieu6, entre os campos

    econmicos e intelectual. A dependncia econmica condicionava a

    dependncia intelectual, permitindo e possibilitando o consumo de varias

    formas de representaes das tendncias literrias e estticas dominantes na

    Europa fin de sicle7.

    A belle poque, enquanto materializao diversificada de uma esttica

    de imediata aceitao por parte da burguesia europia, afigura-se como uma

    contradio dotada de peso especifico quando observada no mundo tropical da

    borracha. Primeiro, porque transplantava para uma cultura de padres prprios

    elementos e valores contrastantes com os componentes bsicos de nossa

    organizao cultural esta alicerada em funo das necessidades e dos

    condicionamentos do homem regional; segundo, porque tais representaes

    estticas eram inerentes a um estgio cultural vivido pela Europa a

    construo do mundo burgus sobre os pilares da industrializao alheio a

    uma Amaznia exportadora de matrias-primas, e na qual no estavam

    presentes a razo e a viso de mundo da classe mdia europia em expanso.

    Em outras palavras, a importncia do gosto burgus europeu para a Amaznia

    da borracha caa no artificial e no superficial, pois no havia correspondncia

    6 BOURDIEU, Pierre. A Economia das Formas Simblicas. So Paulo, perspectiva. 1974. 361

    p. (Introd. Org. e Seleo de Srgio Miceli)

    7 BASSALO, Clia Coelho. O Art Nouveau em Belm. Editora Grafisa. Belm, 1984. p. 10.

  • O Art Nouveau em Belm 20

    direta e clara entre o estgio de desenvolvimento social da regio e as

    representaes estticas geradas pelo mundo burgus da Europa

    industrializada.

    O gosto da elite regional, cujos os membros eram educados na Europa,

    manteve atuante esse tipo de comportamento intelectual, reproduzindo, no

    trpico, as instancias de ideologia impostas pelas relaes de dependncia da

    Amaznia em relao ao capitalismo industrial. O teatro, a msica, a literatura,

    as artes plsticas e decorativas, assim como as boas maneiras dimensionavam

    a viso do mundo dos seringalistas8(ento seringueiros), dos grandes

    exportadores de borracha e dos prsperos comerciantes em geral.

    Dessa forma, Belm reflete esse estado de coisas. No plano residencial,

    por exemplo, avultam, entre outros, os Palacetes Pinho, Bolonha, Faciola,

    Montenegro, Virgilio Sampaio, Carlos Brcio da Costa, alm da casa de Victor

    Maria da Silva, casa essa de to requintado bom gosto quanto aqueles,

    sobretudo no que diz respeito decorao interior e exterior. Todos, embora

    guarnecidos com motivos e peas Art Nouveau no eram, entretanto, na sua

    estrutura orgnica, tipicamente, Art Nouveau, mas refletiam o Ecletismo ento

    vigente, o qual se estendia, tambm, para as casas comerciais, como por

    exemplo o Paris nAmrica e para os prprios governadores.

    Para uma compreenso melhor de tudo o que j foi dito, ser feito,

    superficialmente, uma apresentao de alguns costumes do Palacete Pinho, a

    absoro e emprego de padres estticos europeus por Francisco Bolonha, a

    8 COELHO, Machado. Seringalista, Palavra Nova. A Provncia do Par. 02-07-1955.

  • O Art Nouveau em Belm 21

    sensibilidade artstica de Antnio Faciola e de Victor Maria da Silva e,

    finalmente a viso intuitiva do comerciante Francisco de Castro.

    3.1 PALACETE PINHO

    Figura 16 - Palacete Pinho antes de sua demolio quase que completa.Fonte: http://www.icam2004.org/upload/pap0178.pdf#search='palacete%20pinho'

    Em meados de 1897, o Comendador Antnio Jos de Pinho inaugurou o

    seu palacete residencial. Na inaugurao desse solar a cidade assistiu a um de

    seus mais belos saraus, onde desfilou a moda parisiense e londrina,

    importadas com exclusividade para a elite elegante de Belm, tanto a feminina

    como a masculina. Em seus sales reuniram-se com freqncia orquestras,

    artistas nacionais e estrangeiros, para promover concertos de cravo e piano,

    grandemente concorridos. moda da poca, no faltaram tambm

    declamaes, para no falar dos bailes e jantares suntuosos de que o Palacete

    foi palco, com suas mesas exibindo iguarias e bebidas do mais apurado gosto.

    Atualmente esta em plena reconstruo e restaurao.

  • O Art Nouveau em Belm 22

    3.2 PALACETE BOLONHA

    Figura 17 - Palacete BolonhaFonte: http:/www.fumbel.com.br/patrimonio3.htm

    Com falecimento, precoce, do herdeiro do Comendador e com a crise

    econmica sofrida com a queda da borracha no mercado internacional, o solar

    extinguiu-se espiritualmente e, por assim dizer, materialmente.

    Figura 18 e Figura 19 - Painel de azulejo do Palacete BolonhaFonte: Livro O Art Nouveau em Belm

  • O Art Nouveau em Belm 23

    Figura 20 Sala de banho do Palacete BolonhaFonte: Livro O Art Nouveau em Belm

    Francisco Bolonha, em 1900 visitou Paris, de onde trouxe padres

    estticos l vigentes. Chegando em Belm, empregou tanto nas construes

    feitas para o Governo do estado como para particulares o trao arquitetnico

    europeu. Adotou em Belm, como a quase generalidade dos construtores e

    estetas de seu tempo, os recursos decorativos do Art Nouveau, a comear por

    sua residncia particular, o Palacete Bolonha, hoje transformado em uma

    repartio pblica do Governo do Estado do Par. O interior e o exterior do

    palacete so exemplos de variado aproveitamento desse estilo decorativo.

    Essa linha de decorao estendeu-se s de mais construes de Bolonha, haja

    vista os dois Mercados de Ferro, destinados venda de carne e de produtos do

    mar, situados no Ver-o-Peso e noa quais sobressaem, naquele, os gradis, as

    mos francesas, as escadas em espiral, feitos em ferro forjado, ao azulejos.

    Alm desses mercados ainda tem a construo do mercado de So Braz, em

  • O Art Nouveau em Belm 24

    vrios quiosque, hoje demolidos em nome do progresso urbano, com exceo

    do Bar do Parque, quiosque localizado na praa da Republica, ponto de

    encontro dos bomios. Alm de ter feito o projeto de reservatrios de gua em

    ferro, muitos hoje demolidos. Como se v, as construes de Bolonha trazem a

    marca obrigatria desse elegante tipo de decorao.

    Figura 21 Mercado de Ferro do Ver-o-PesoFonte : http://www.cabano.com.br/Veropeso2.htm

    Figura 22 Bar do ParqueFonte: http:/www.pa.gov.br/hostite/ciriodenazare/s_agenda_004.asp

  • O Art Nouveau em Belm 25

    3.3 PALACETE FACIOLA

    Destino oposto ao Palacete Pinho o que se verificou no Palacete

    Faciola.

    Figura 23 Palacete FaciolaFonte: http://www.oliberal.com.br/oliberal/interna/default.asp?modulo=248&codigo=32253

    Ele foi, verdadeiramente, um museu, das mais variadas peas de arte.

    Nele encontraram-se uma enorme variedade de louas, vasos, lustres,

    plafoiniers, bronze, etc., assinados por mille Gall, August e Antonin Daum, A.

    Larroux, Flix, Charpentier, etc., artistas consagrados desta poca que

    surgiram no mercado europeu e internacional9. Falando. Alias, sobre os objetos

    de arte e mobilirio do Palacete Faciola, escreveu-se Machado Coelho que tais

    objetos foram adquiridos em Paris e que, no final do sculo, um antiqurio,

    iludido pelo porte, dinheiro e bom gosto do comprador, tomou-o por um prncipe

    russo, na poca homens que reuniam essas trs caractersticas apontadas

    pelo o vendedor de antigidades.

    9 BASSALO, Clia Coelho. O Art Nouveau em Belm. Editora Grafisa. Belm, 1984. p. 12.

  • O Art Nouveau em Belm 26

    Figura 24, Figura 25 e Figura 26 Plafonier (Daum) do Palacete Faciola.

    Fonte: Livro O Art Nouveau em Belm.

    Hoje encontra-se em reconstruo e restaurao, pois somente sua

    fachada se encontrava de p.

    3.4 PALACETE VICTOR MARIA DA SILVA

    Figura 27 Braso da Familia V.M.S.Fonte: Livro O Art Nouveau em Belm.

    Victor Maria da Silva, deixou em sua residncia a marca dessa

    sensibilidade. Seu palacete guardava oito painis de azulejos criados por A.

    Arnoux e feitos por Boulanger &Cie., alm de um outro painel contendo o

  • O Art Nouveau em Belm 27

    braso da famlia. As grades das janelas, as cantoneiras, que servem e

    ornamentam o ptio interno, os lustres, o porto de entrada so em ferro

    fundido, todos contendo caractersticas Art Nouveau. O revestimento das

    paredes e do forro da primeira saleta que compe o hall de entrada, assim

    como o forro da varanda, feito em folhas de Flandres, com relevo e motivos,

    tambm, Art Nouveau. Nessa mesma saleta h dois painis do mesmo

    material, aplicados direita e a esquerda simbolizando duas estaes do

    ano: Primavera e Outono.

    Figura 28 Figura executada por Boulanger Figura 29 Figura executada por BoulangerFonte: Livro O Art Nouveau em Belm. Fonte: Livro O Art Nouveau em Belm.

  • O Art Nouveau em Belm 28

    Figura 30, Figura 31 e Figura 32 Painis executados por Boulanger.Fonte: Livro O Art Nouveau em Belm.

    Figura 33 Fidalgo Portugues do sculo XVII executado por Boulanger.Fonte: Livro O Art Nouveau em Belm.

    Figura 34 e Figura 35 Marinha executados por Boulanger.

    Fonte: Livro O Art Nouveau em Belm.

  • O Art Nouveau em Belm 29

    Figura 36 e Figura 37 Flor de Chagas e Parreiras. Painis executados por Boulanger.Fonte: Livro O Art Nouveau em Belm.

    3.5 LOJA PARIS NAMRIA

    Figura 38 Fachada da Loja Paris n AmricaFonte: http://www.nautilus.com.br/~araujo/ferro/loja.htm

  • O Art Nouveau em Belm 30

    Figura 39 Lustre de bronze e cristal da Loja Paris nAmricaFonte: http://nautilus.com.br/~araujo/ferro/lustre.htm

    Figura 40 - Escada da Sala Principal da Loja Paris nAmricaFonte: http://nautilus.com.br/~araujo/ferro/escada.htm

  • O Art Nouveau em Belm 31

    Figura 41 Detalha da estatua em bronzeFonte: Livro O Art Nouveau em Belm

    Das casa comerciais, destacamos apenas uma, Paris nAmrica, loja

    de tecido e aviamentos, por ser a que melhor traduz as caractersticas desse

    estilo. Seu proprietrio o prospero comerciante portugus Francisco de castro,

    importou de Paris o projeto de sua imponente casa comercial e ao mesmo

    tempo residencial. Seu interior decorado sobre tudo por uma escadaria

    monumental, feita em ferro fundido e ela foi importada da Europa. Alm da

    escada a loja possui uma decorao requintada importada, principalmente, da

    Frana.

  • Concluso 32

    4 CONCLUSO

    A existncia da burguesia que gravitava em torno da exportao da

    borracha, criou na Amaznia um tipo de comportamento social que, sob certos

    aspectos, pode ser identificado com o que se verificou em so Paulo em

    relao a nobreza do caf. Em ambos os casos , o rpido enriquecimento da

    elites locais possibilitou a importao e o cultivo da padres estticos da

    Europa, muitos dos quais dominantes na sociedade e, mesmo, na cultura

    brasileira regional.

    A intensidade com que a elite da Amaznia cultivou as regras emanadas

    da belle poque, e mesmo os monumentos arquitetnicos, como tambm as

    demais representaes estticas peculiares transio vivida no mundo

    contemporneo (passagem do sculo XIX ao XX) no bastaram para esconder

    o artificialismo presente na adoo desses modelos pela elite regional. A

    superao histrica do extrativismo da borracha, com a conseqncia

    marginalizaro da Amaznia, provocou a queda dessa elite, e com ela, a

    estrutura simblica que sustentava, de forma tnue, a Paris tropical. Dessa

    forma, as folias do ltex deixaram marcantes impresses de melancolia.

    Da mesma maneira como a efmera sociedade desse final de sculo foi,

    rigorosamente, marcada e sufocada pela proporia exausto, o Art Nouveau

    ultimo e gracioso estilo, extinguiu-se prematuramente e no deixou

    descendentes.

  • Bibliografia 33

    5 BIBLIOGRAFIA

    BASSALO, Clia Coelho. O Art Nouveau em Belm. Editora Grafisa. Belm,

    1984. 56 p.

    BOURDIEU, Pierre. A Economia das Formas Simblicas. So Paulo,

    perspectiva. 1974. 361 p. (Introd. Org. e Seleo de Srgio Miceli)

    CHAMPIGNEULLE, B.A. Art Nouveau. So Paulo. Verbo, Editora da

    Universidade de So Paulo, 1976. 309 p. (Trad. Maria Jorge Couto

    Viana).

    COELHO, Machado. Os Gall de Antnio Faciola. A Provncia do Par. 29-

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    ________________. Vida, Morte e Ressurreio do Art Nouveau. A Provncia

    do Par. 07-03-1976, Srie; Belm Artstica, II. Belm-Par.

    ________________. Seringalista, Palavra Nova. A Provncia do Par. 02-07-

    1955.

    JANSON, H. W. Histria da Arte; Panorama das Artes Plsticas e da

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    Gulberkian, 1979. 766p. (Trad. J. A. Ferreira de Almeida e de Maria

    Manuela Rocheta Santos).

    SANTOS, Roberto Arajo do oliveira. Histria Econmica da Amaznia;1800-

    1920. So Paulo. TAQ, Editor, Ltda. 1980. 358