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Arrendatário de Suicídio Eu não sei, muito sinceramente, por onde começar este relato. São tantas as ideias, tão profundas as impressões, tão radicais as questões que me assaltaram nos últimos anos que, agora que me consegui sentar para escrever, pareço um balão pronto a rebentar. Começar a escrever agora, equivale a furar a contenção com um alfinete. E explodir. E como acontece nas grandes explosões, que deixam em seu redor um caos de destruição, assim está o meu pensamento. Esforçome por começar pelo princípio, que é como sempre se fez, obrigandome a cumprir o hábito, mas não consigo libertarme da noção do fim. Desde que teve lugar a malfadada conversa com o senhor Sim – era assim que lhe chamávamos – não voltei a ter aquela tranquilidade singular da ignorância. Depois do que experimentei discutindo e conversando com ele, acheime num patamar de consciência a que nunca deveria ter chegado. Não devia ter aceite a proposta dele. Mas aceitei. E agora estou muito preocupado porque suspeito que esta história pode não acabar apenas com a morte do senhor Sim. Apesar de ser esse, afinal, o meu desejo. É que ele já morreu, já está aviado, enquanto que eu só agora comecei a escrever. O senhor Sim nem sequer era meu amigo. Cruzava-se comigo várias vezes ao dia, mas nunca falávamos muito; trocávamos palavras circunstanciais, e às vezes nem isso,

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Um conto de Pedro Miguel Gon

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Arrendatário de Suicídio

Eu não sei, muito sinceramente, por onde começar este relato. São tantas as ideias, tão profundas as impressões, tão radicais as questões que me assaltaram nos últimos anos que, agora que me consegui sentar para escrever, pareço um balão pronto a rebentar. Começar a escrever agora, equivale a furar a contenção com um alfinete. E explodir. E como acontece nas grandes explosões, que deixam em seu redor um caos de destruição, assim está o meu pensamento.

Esforço­me por começar pelo princípio, que é como sempre se fez, obrigando­me a cumprir o hábito, mas não consigo libertar­me da noção do fim. Desde que teve lugar a malfadada conversa com o senhor Sim – era assim que lhe chamávamos – não voltei a ter aquela tranquilidade singular da ignorância. Depois do que experimentei discutindo e conversando com ele, achei­me num patamar de consciência a que nunca deveria ter chegado. Não devia ter aceite a proposta dele. Mas aceitei. E agora estou muito preocupado porque suspeito que esta história pode não acabar apenas com a morte do senhor Sim. Apesar de ser esse, afinal, o meu desejo. É que ele já morreu, já está aviado, enquanto que eu só agora comecei a escrever.

O senhor Sim nem sequer era meu amigo. Cruzava­se comigo várias vezes ao dia, mas nunca falávamos muito; trocávamos palavras circunstanciais, e às vezes nem isso,

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apenas trejeitos de reconhecimento com o mesmo valor de comunicação num contexto familiar. Ele esticava a mão por cima do balcão e eu entregava­lhe a chave; e os gestos tinham em si toda a coloquialidade necessária para quem está habituado à presença do outro. Às vezes, quando acontecia haver confusão junto ao balcão e se tratava de outros residentes regulares, ele ficava preso na conversa, por simpatia, supunha eu, e lá dizia ele,

«Sim, sim…», não sei se interessado no esgrimir dos argumentos dos outros, o que duvido muito, porque neste hotel não é costume entrarem grandes esgrimistas, mas tão­só os mais violentos acossadores da monotonia, do falhanço existencial, como eu próprio. Dizia «Sim, sim…» como se dissesse «claro!», «evidentemente!», «naturalmente!» ou «sem dúvida!», e se um dos interessados na contenda o interpelava para conhecer o seu parecer, era tão reticente que a sua intervenção acabava por resumir­se a,

«Sim, sim… mas…her…»E se, por sua vez, o oponente do primeiro o interrompia

para também ouvir a sua opinião segundo determinado ângulo que lhe interessava mais, não variava muito o tom da sua manifestação, apesar de se perceber que quando dizia,

«Sim, sim… mas…her…», havia muito a dizer nas reticências, mas que se abstinha de o fazer por causa de uma estranha cavilha de retenção. Talvez suspeitasse que as suas objecções eram tão vastas para um e para outro oponentes que não sobrava tempo suficiente para as expor? Talvez julgasse que as teorias com que se via confrontado não tinham qualquer dignidade intelectual para que valesse a pena introduzir precisões? Talvez suspeitasse que ao expor as suas objecções corria o risco de não ser percebido e devolverem­lhe uma teimosa reposição das mesmas incongruências sem vislumbrarem a pertinência destrutiva das suas objecções?

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Não sei bem. Talvez fosse um pouco de tudo. O certo é que falou com uma claridade intelectual impressionante na primeira vez que o vi falar prolixo, dirigindo­se a mim e para me fazer um pedido. Mas era um falar, digamos, desagradável, à falta de outro adjectivo mais adequado. O seu discurso trazia uma frescura que me deixou gelado. Agora escrevo para me aquecer e não me livro da sensação que uma parte de mim continua na penumbra.

Aquele homem não falava seios robustos, não falava aroma de pele feminina, nem falava músculos húmidos, nem frémitos, nem lençóis ou almofadas recém­lavadas, nem refeições preferidas, nem mãos atrasadas nas nádegas, nem o acordar de um sono sereno, nem o primeiro café da manhã, nem o rumor das epidermes coladas, gritantemente cansadas, nem falava adrenalina brusca num perigo procurado, nem a mundana leitura de uma página. Não. Nem ponta. Ele falava as relações em si. Ele só falava as relações de tudo, sem ter o tudo. E quando me falou não retomou o «sim, sim…her…» monocórdico, antes fluiu desenvolto e frugal por um conjunto de vocábulos e nexos que me pregou ao balcão.

Se ele tivesse falado e voltado à sua vidinha sem me desenca­minhar, não teria havido mal nenhum. Mas o problema é que ele soltou rodos de raciocínio para me fazer um pedido que me amarrava a pensamentos que eu não queria ter. Confesso que o susto inicial se dissipou depressa, pelo que não cheguei a acreditar que o homem fosse perigoso: escolher­me a mim para falar tanto, quando eu sabia que ele raramente falava, deixara­me preocupado; mas logo que percebi que apenas me queria pedir um favor, disse­lhe com a prontidão do alívio,

«Terei todo o gosto em ajudá­lo, se estiver dentro do âmbito das minhas possibilidades!»

A reacção dele foi mais uma vez estranha. Não sei se ficou agradado ou desagradado com a minha resposta. Como que

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ficou suspenso no tempo, suspenso no próprio corpo. Talvez se visse confrontado na inevitabilidade do pedido que me queria fazer; talvez se desafiasse a si próprio a fazê­ ­lo; talvez procurasse ler o real alcance das minhas palavras automáticas.

Depois, subitamente, voltou à terra, olhou­me nos olhos ao mesmo tempo que estendeu a mão sobre o balcão; fiquei com a impressão que me ia agarrar a mão, mas apenas me tocou nela com o indicador, várias vezes, como quem calca uma tecla de piano, o que significava ao mesmo tempo uma inusual quebra de privacidade e uma chamada de atenção para a importância daquilo que tinha para dizer,

«Sabe, vou­me suicidar em breve, e preciso de alguém para resolver umas questões práticas.»

Eu devo ter ficado absolutamente aparvalhado, porque ele não continuou.

«Incomodei­o?»Eu menti ao responder­lhe que,«Não!»E ele percebeu bem que eu mentia por educação, apenas

para não admitir que um tema tão drástico chegasse a tornar­ ­se real através da nossa conversa, ou, talvez melhor, para não ser tão nítido o meu incómodo em lidar com essa realidade. A minha boca soltou aquele «não!», mas os meus olhos e o movimento da cabeça haviam dito que a ideia de morte e, mais grave ainda, a ideia de suicídio, me agrediam como meias mal calçadas. Fiquei tenso, preocupado e sem pistas de experiência para lidar com um homem que coloca na boca a palavra «suicídio» diante de outro congénere que o pode ouvir.

«Peço­lhe desculpa por ser tão directo, mas quero evitar todos os equívocos. Tenho os meus objectivos bem definidos. E preciso mesmo da sua ajuda.»

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«E em que posso ajudá­lo?», repliquei eu, meio irritado com a situação perigosamente ridícula em que me via entrar.

«Onde podemos ter uma conversa particular? Não queria adiantar­me muito aqui na recepção, onde podemos ser inter­rompidos a qualquer momento…» e lançou o olhar inquieto para a entrada do hotel, que, depois de um nervoso perscrutar, transitou para a sempre movimentada área dos elevadores.

Outra vez por educação aceitei uma conversa que na verdade não queria ter, mas remetendo­a para o turno da noite, com a leve esperança que fosse rejeitada essa opção, mas o senhor Sim aceitou sem reticências. Lembrei­me instantaneamente de Agnès, aquela por quem o professor Avenarius se apaixonara, quando esta lhe contou um episódio sobre seu pai, um eminente professor de filosofia, que num passeio pelo campo se afastou do seu caminho por ordem dum bando de fedelhos; e medi­me. Senti­me bem por saber que um eminente professor havia escolhido não confrontar os ignóbeis fedelhos, tal como eu teria feito.

O senhor Sim raramente saía à noite. Segundo o que me diziam as empregadas de limpeza, o quarto dele era só papeis e livros em vários montes, por isso imagino que passasse a noite inteira enterrado nos ditos papeis e livros. E das vezes que saiu para jantar, ou depois do jantar, nunca regressou cedo e nunca nas melhores condições de dignidade.

Era meia­noite quando ele desceu do quarto e me apareceu diante do balcão. Eu relia pela oitava vez as mesmas notícias do jornal do dia, pois já tinha feito as palavras cruzadas e os restantes passatempos. É mais ou menos pela quinta leitura que começamos a duvidar da autenticidade das notícias por nos apercebermos da facilidade com que as palavras engendram sentidos automáticos que nada devem aos factos. E na oitava leitura já duvidava que algum jornalista existisse que tivesse escrito aqueles textos; bem poderiam ser

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uma descarga impessoal processada por computador e dava no mesmo.

Quando senti a sua presença levantei os olhos do jornal mais resignado que as parangonas,

«Queria explicar­lhe porque preciso da sua ajuda», ouvi­o dizer.

Contrariado com a insistência praticamente insultuosa do homem, levantei a portada do balcão e deixei­o entrar no meu cubículo pessoal, nos bastidores da recepção. Só ao entrar acompanhado naquele espaço exíguo percebi como era degradante; isso dilatou ainda mais a minha exasperação por ver enleado o comportamento burricida dele no meu. Sentámo­ ­nos: eu na cama e ele na única cadeira existente junto duma pequena secretária cheia de, digamos, aquilo que identifiquei como nulidades quotidianas. Ocorreu­me que o senhor Sim esperaria encontrar livros de grandes crânios numa secretária, em vez de embalagens de after shave, desodorizante e escovas de sapatos, o que não deixou de contribuir para acentuar a minha sensação de desagrado, que não se estilhaçou quando ele começou a falar,

«Como lhe disse, tenho um objectivo definido. Não o quero maçar com essa parte. Eu só preciso de ajuda por causa das consequências…»

Apeteceu­me ser brutal, para me vingar.«Refere­se ao seu cadáver?»«Não». Silêncio. Percebi que fora desnecessariamente

violento.«Trata­se de outro género de consequências…», acres­

centou.Arrependi­me, era um golpe baixo mesmo para quem pa­

re cia incluir a morte numa programação de tipo empre sarial.«O meu problema principal», voltou ele, «são os entes

queridos. Eu não queria que eles soubessem do meu suicídio.

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Deste modo, queria que, após a minha morte, eles conti­nuassem a pensar que ainda estou vivo. É para isso que preciso da sua ajuda».

«Não estou a perceber como…»«Queria que o senhor se encarregasse de manter os meus

familiares mais próximos com a impressão que estou vivo… por intermédio de cartas… enviadas de tempos a tempos, a dar notícias minhas».

«Mas como poderia eu saber que notícias dar?…»«Na verdade, só tem que colocar as cartas no correio

porque já estão todas escritas. Tenho cartas escritas para seis anos de correspondência à média de uma por mês. Está tudo previamente organizado. As cartas estão numeradas, pelo que só tem de as colocar no correio uma por mês».

Nem queria acreditar no que ouvia.«Aquilo que me pede é muito estranho e de muita

responsabilidade…»«Não o creia. Trata­se de um trabalho como outro qual­

quer. Será pago, evidentemente. Deixarei instruções no banco para que lhe seja entregue todos os meses, e até ao fim do contrato, a quantia que acordarmos».

«Mas porquê manter uma tal encenação durante tanto tempo?»

«Os meus pais são idosos, mas ainda não morreram. Não lhes dei filhos meus, também não lhes quero dar a minha morte. Enquanto viverem quero que pensem que a vida que geraram continua viva. Seria uma dor atroz deixá­los ver interrompida a vida de um filho».

«Compreendo».«Assim, seis anos é um período de segurança suficiente,

durante o qual as últimas linhas de suas vidas serão percor ri­das… E as minhas irmãs, com a distância, irão aceitar melhor o meu desaparecimento definitivo».

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Houve uma pausa. Eu não sabia o que lhe dizer e ele, via­se no rosto, esperava por uma reacção minha. Por isso, ante o meu silêncio, voltou a procurar a minha resposta,

«Então posso contar com a sua ajuda?»A sensação de absurdo aliada ao tom confessional desa­

gradava­me sobremaneira e tornava­se crescentemente insu­portável vivê­la naquele cubículo onde a minha vida também estava a nu. Era um assunto demasiado grande que já não cabia no aperto do meu cubículo.

Face ao meu silêncio ainda discorreu,«Deixe­me acrescentar que a última carta terá de ser

diferente. Não poderá ser minha. Alguém escreverá a dizer que morri. Acho que é a coisa menos comercial que lhe peço. Bom, também há um outro pequeno detalhe que fica para depois, isto se vier a aceitar o que lhe proponho».

Sentia­me como se estivesse a negociar a morte de um homem. A lucrar com a morte de alguém. Essa foi a primeira impressão a golpear­me, mas depois pressenti, difusamente, que o pior ainda estaria para vir, caso me deixasse enlear em tal história.

«Bom, deixo­o a meditar sobre a minha proposta…», fez intenção de se levantar, algo hesitante, talvez por perceber na minha cara um ensosso enfado.

«Peço­lhe que não se preocupe pelo facto de ser uma proposta algo singular. No fundo é tudo muito simples. Veja: arrendo­lhe o meu tempo de suicidado».

«Pois eu não estou muito certo dessa simplicidade. Normalmente, quando se morre, morre­se mesmo».

«Não quero pressioná­lo. Deixo­o com os seus pensa­mentos. Espero que dê menos importância à parte metafísica deste assunto que à parte comercial. Sim, que o que está em causa é, basicamente, um contrato comercial de serviços:

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colocar cartas no correio. Além disso, faz­me pessoalmente um grande favor».

Na verdade recusei pensar no assunto e entreguei­me à televisão como já não fazia há meses. Adormeci tarde e acordei cedo. E o pouco sono dormido deixou­me mal disposto e inde ­ feso. Ao pequeno almoço, a reflexão, que deveria ter sido cuidada durante a noite, caiu de catadupa e, a cada trinca na torrada excessivamente barrada com manteiga, ganhava força a resolução moral de o dissuadir do suicídio, apesar de não saber indicar em nome de quê. Às vezes a moralidade é uma boa estratégia para evitar o adensar do comportamento burricida.

A meio da manhã, quando o senhor Sim desceu e me entregou a chave, e aproveitando que mais ninguém se encontrava junto ao balcão da recepção, disse­lhe logo que não podia aceitar que se suicidasse. Mas ele calou muito rapidamente os meus arrepios morais,

«Não! Não diga mais… Por favor! A minha decisão nada deve ao ético e ao moral, muito menos ao estético. Não aprendi as emoções na televisão, não se preocupe, pelo que não me vou suicidar em virtude de uma mecânica cinematográfica. Agradeço o seu cuidado, a sua preocupação, acredite que fico tocado. Mas o senhor não está na minha pele e eu tenho todas as pontes destruídas.»

«Pontes?»«Sim, pontes. Já não tenho como aceder aos outros.

Sou uma ilha inacessível e inútil. Não consta em qualquer mapa. Sei, até ao último lepton, que não vale a pena.»

Eu ia abrir a boca para responder, quando ele rematou muito rapidamente,

«Não o cite, por favor!»E com isso se afastou.Se eu tivesse exigido o esclarecimento antecipado do tal

detalhe que ficara “para depois”, talvez tivesse vislumbrado

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o que me esperava, mas já era tarde demais quando o soube. Lembro­me que ainda tentei averiguar, mas sem real convicção, perguntara por perguntar, curiosidade trôpega facilmente vencida quando o senhor Sim se recusou a revelá­lo senão quando eu tomasse uma decisão e se tomasse a decisão que lhe interessava. Bom, a verdade é que acabei por aceitar o contrato que ele propôs e há quatro anos que envio a carta mensal que encena a vida de um homem que morreu no quarto 810 deste hotel. Só que, como eu temia, houve consequências inesperadas.

Desde que iniciei aquele ritual de manter vivos homens mortos, deixei de ler as fantasias dos jornais diários e passei a escrever o meu próprio jornal diário, para dar vazão à inusitada agitação mental que passou a ocupar os meus dias. Desde que assinei o contrato que não consigo desligar o cérebro, e tudo o que me passa diante dos olhos é susceptível de crítica e reavaliação. Passei a reflectir sobre o comportamento das pessoas e sobre o funcionamento das sociedades; e não consegui encontrar nada mais genuíno que a decisão química do senhor Sim em colocar um fim à exclamação que constituía no mapa dos comportamentos. Tive de admitir que é muito mais fácil fazer como os outros vão fazendo, copiando esquemas comuns com os quais se lida com a barbaridade da rotina, do que fazer como nos é próprio fazer.

Só no dia em que assinei o tal contrato, diante de um advogado ávido, vim a saber que detalhe ficara solto na negociação. Ali, no momento da revelação, não vislumbrei qualquer gravidade. Por isso assinei. Quem coloca uma, coloca duas, pensei eu. Afinal não eram só as cartas dele que deveria colocar no correio. Teria de colocar também as cartas de outros homens que o haviam convencido a ele a arrendar o tempo do suicídio.