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Edição 177 | Ano XXVI | www.aborlccf.org.br V Combined Meeting e Four Otology 2020: ABORL-CCF promove evento 100% online Assessoria Técnica ao Associado: Gravação de cirurgia e o acompanhamento de médico auditor Fique Por Dentro: Ações digitais promovidas pela ABORL-CCF alcançam mais de 20 mil acessos O “novo normal” Mudança de prioridades, quebra de paradigmas e as alternativas para superar dificuldades impostas pela pandemia

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Page 1: O “novo normal”Todas elas com temas do maior interesse clínico aos otorrinolaringologistas. A resposta do associado não poderia ser melhor: presença maciça, grande quantidade

Edição 177 | Ano XXVI | www.aborlccf.org.br

V Combined Meeting e Four Otology 2020: ABORL-CCF promove evento 100% online

Assessoria Técnica ao Associado: Gravação de cirurgia e o acompanhamento de médico auditor

Fique Por Dentro:Ações digitais promovidas pela ABORL-CCF alcançam mais de 20 mil acessos

O “novo normal”Mudança de prioridades, quebra de paradigmas e as alternativas

para superar dificuldades impostas pela pandemia

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Diretoria 2020 PresidenteDr. Geraldo Druck Sant'Anna - Porto Alegre (RS)

Primeiro Vice-Presidente Dr. Eduardo Baptistella - Curitiba (PR)

Segundo Vice-Presidente Dr. Renato Roithmann - Porto Alegre (RS)

Diretor-SecretárioDr. Eduardo Macoto Kosugi - São Paulo (SP)

Diretor-Secretário AdjuntoDr. Bruno Rossini - São Paulo (SP)

Diretor-Tesoureiro Dr. Joel Lavinsky - Porto Alegre (RS)

Diretor-Tesoureiro AdjuntoDr. Fabrizio Ricci Romano - São Paulo (SP)

AssessorDr. Eduardo Dolci - São Paulo (SP)

AssessoraDra. Rebecca Maunsell - Campinas (SP)

AssessoraDra. Thais Knoll Ribeiro - São Paulo (SP)

PRESIDENTES DOS COMITÊS

Comitê de Eventos e CursosDr. Vitor Guo Chen - São Paulo (SP)

Comitê de ComunicaçãoDr. Ricardo Landini Lutaif Dolci - São Paulo (SP)Comitê de Educação Médica ContinuadaDra. Roberta Boeck Noer Pilla - São Paulo (SP)Comitê de Ética e DisciplinaDr. Roberto Campos Meirelles - Rio de JaneiroComitê de Residência e TreinamentoDr. Ali Mahmoud - São Paulo - SPComitê de Título de EspecialistaDr. Rodolfo Alexander Scalia - São PauloComitê de Defesa ProfissionalDr. Casimiro Villela Junqueira Filho - Rio de JaneiroComitê de Planejamento EstratégicoDr. Jose Eduardo Lutaif Dolci - São Paulo

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Mensagem do

PRESIDENTEGeraldo Druck Sant’Anna

Queridos associados e associadas,Diante de tudo o que vivemos nos últimos

meses, foi necessário, como em tudo na vida, mudanças e adaptações. A ABORL-CCF está conseguindo fazer isso, com segurança, equilíbrio e muita responsabilidade, tendo um respaldo positivo de muitos associados.

Desde o início da pandemia iniciamos ações que visam o interesse e a proteção do otorrinolaringologista associado. Notas de orientação ao atendimento em consultório, realização de procedimentos enoscópicos e cirúrgicos foram as primeiras medidas. Conseguimos agilizar linha de crédito junto ao Banco do Brasil, com taxas diferenciadas para aqueles que se encontram em dificuldades financeiras. Remanejamos alguns cursos itinerantes para online "UP Covid" e continuamos a produzir uma sequência de "superlives da ABORL-CCF". Todas elas com temas do maior interesse clínico aos otorrinolaringologistas. A resposta do associado não poderia ser melhor: presença maciça, grande quantidade de perguntas formuladas aos nossos fantásticos palestrantes. Já nos aproximamos dos 25 mil acessos a esse programa.

Em agosto faremos o 5º Combined Meeting! A Diretoria Executiva, o Comitê de Eventos e as diretorias da SBO, ABLV e ABOPe não se convenceram que ficaríamos sem esse evento, anteriormente programado para o mês de maio. Através de um trabalho rápido e hercúleo, colocaram esse programa inovador, totalmente online, para o dia 1º de agosto.

O curso de Foniatria da ABORL-CCF, que já era um sucesso, teve uma procura sem precedentes em sua nova configuração online, que nos levou a abrir uma segunda turma.

Apesar da pandemia a ABORL-CCF segue sua missão que é: trabalhar em busca da excelência da Otorrinolaringologia Brasileira, promovendo atualização e conhecimento, valorizando e defendendo o interesse dos seus associados e colaborando na melhoria das condições de saúde da população brasileira.

É muito importante ressaltar que as mudanças só puderam ocorrer de forma acelerada, pois a ABORL-CCF vem se preparando para isso ao longo dos tempos. O mapeamento dos processos e capacitação de nossa equipe de colaboradores, através do sistema de gestão da qualidade ISO9001 e a melhora do sistema de comunicação e das plataformas digitais tornaram esses processos cada vez mais eficientes. Nossas redes sociais apresentaram crescimento expressivo de seguidores. Hoje, nossos associados recebem informação contínua das atividades e comunicações da ABORL-CCF.

Poderíamos ter chegado na metade do ano cabisbaixos e somente reclamando da pandemia. Mas não, a ABORL-CCF, segue ativa, forte e pujante, apesar dos tempos difíceis.

Que continuemos assim: JUNTOS na dificuldade, JUNTOS pela nossa saúde e de nossos familiares e pacientes e JUNTOS pela otorrinolaringologia!

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Carta ao leitor

Páginas Azuis: O futuro da medicina sob a visão do Dr. Roberto Vieira Botelho

Combined Meeting: ABORL-CCF realiza V Combined Meeting e Four Otology 2020 totalmente online

Conduta Médica: Sobre a falta de Equipamento de Proteção Individual (EPI)

Assessoria Técnica: Gravação de cirurgia e o acompanhamento de médico auditor

Capa: A pós pandemia e o “novo normal”

ABORL-CCF em Ação: Comissão de Telemedicina

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O que diz a lei: Sobre a divulgação da especialidade otorrinolaringologia que não se possa comprovar

Fique por dentro: Interações digitais promovidas pela ABORL-CCF alcançam mais de 20 mil acessos

Educação Médica Continuada

Grandes Nomes da ORL: Paulo Augusto de Lima Pontes

HumORL

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VOX OtorrinoPresidente:

Dr. Geraldo Druck Sant’Anna

Comitê de Comunicações: Ricardo Landini Lutaif DolciAlexandre Beraldo OrdonesAndre Alcantara Csordas

Davi Knoll RibeiroEdson Ibraim Mitre

Hormy Biavatti SoaresIngrid Helena Lopes de Oliveira

Luiz Fernando Manzoni Lourençone

Assistente de Comunicação da ABORL-CCF:

Eduardo Vianna

Conteúdo jornalístico:AG Comunica

Jornalista responsável:Renato Gutierrez

Registro Profi ssionalNúmero 0087749/SP

Diagramação:Ronaldo Lopes TesserLeandro Galha Sgobbi

Periodicidade:Bimestral

Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da ABORL-CCF.

Espaço do leitor

Sugestões de pauta, críticas ou elogios? Fale conosco:[email protected]

(11) 95266-1614

EXPE

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NTE

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RL-C

CF CARTA AO

LEITORDr. Ricardo Landini

Lutaif Dolci

Trabalho e consolidação

Presidente do Comitê de Comunicações

Caros amigos, qual será o novo normal? Infelizmente essa reposta ainda não temos, porém seguimos trabalhando para tentar preparar a todos para esse momento. Os desafi os são enormes, assim como

os questionamentos. Quais legados fi carão e o que precisaremos mudar defi nitivamente?

Boa parte do conteúdo elaborado para essa edição da VOX Otorrino gira em torno das questões acima. E não há como ser diferente, afi nal, o planeta todo passa pelos mesmos dilemas, seja se esforçando para controlar a disseminação do vírus, seja buscando formas de retomar as atividades cotidianas.

Diante do preocupante cenário atual, a ABORL-CCF agiu rapidamente. Dentre as muitas medidas adotadas: mudou a rotina de trabalho, estendeu o prazo para pagamento da anuidade, liberou o acesso a aulas do Congresso Brasileiro e ampliou ainda mais a gama de serviços prestados aos associados, com destaque para a elevada quantidade de aulas que são promovidas através das plataformas digitais e que contam com a participação dos mais renomados professores nacionais e internacionais.

Esse é um papel primordial exercido pela entidade: defender os interesses de seus associados e lhes oferecer assistência e respaldo em momentos críticos como o que estamos enfrentando. Por isso sinto muito orgulho em fazer parte dessa equipe magnífi ca, que tem trabalhado incansavelmente, seja contra as difi culdades impostas pela COVID-19, seja em defesa do otorrinolaringologista e da otorrinolaringologia.

Contem conosco, pois estamos permanentemente discutindo estratégias e desenvolvendo novos projetos, pois JUNTOS seguimos fortalecendo a otorrinolaringologia brasileira.

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PÁGINAS AZUIS

O futuro da medicina e a inevitável relação com a tecnologia sob a visão do

cardiologista Roberto Vieira Botelho

Renato Gutierrez / Fotos: Arquivo pessoal

Com formação em medicina pela Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM), residência em cardiologia intervencionista

no Instituto Dante Pazzanese, Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP e especialização em pesquisa clínica na Harvard University, Dr. Roberto Vieira Botelho defende que a tecnologia baixa custos e aumenta a qualidade da assistência médica, além de ser uma poderosa ferramenta para descentralizar a complexidade, universalizar o acesso e democratizar a atenção em saúde.

Veja, a seguir, o ponto de vista do profi ssional sobre a relação entre saúde e tecnologia e o que ele pensa a respeito do futuro da medicina no pós pandemia.

VOX OTORRINO: Em sua especialidade, o que você já utiliza em termos de tecnologia - no dia a dia - para a ajudar os pacientes?

Roberto Vieira Botelho: Na cardiologia utilizamos diversos recursos tecnológicos para auxiliar os pacientes. Dentre as experiências desenvolvidas por nosso grupo - que visam melhorar a prática da cardiologia - destaco a plataforma de consultas que interliga pacientes, cardiologistas e hospitais e, dessa maneira, oferta acesso para consulta 24 horas por dia. Há também uma rede de tele-laudos, onde empregamos um sistema de suporte à decisão – em nuvem – que auxilia no diagnóstico e tratamento de infarto. Essa plataforma já atendeu 800 mil pessoas e reduziu a mortalidade de 25% para 4%. Além do Brasil, pacientes da Colômbia e do México também usufruem desse recurso.

Empregamos ainda alguns algoritmos de inteligência artificial, um deles detecta o infarto via Apple Watch, um relógio inteligente desenvolvido pela empresa norte-americana que, entre outras

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coisas, faz a aferição dos batimentos cardíacos e registra tudo nos apps de saúde e

atividades do iPhone.Na área da educação,

temos várias redes de colaboração de segunda opinião para cardiologia através de telecomunicação e,

por fim, desenvolvemos também um algoritmo

que identifica a COVID-19 por raio-X.

VOX OTORRINO: Qual sua opinião a respeito da big data na área da saúde?

RVB: Diz respeito a um aumento maciço de dados digitais gerados pela humanidade e a sua capacidade de processamento pelos supercomputadores. O aumento maciço de dados - somado à capacidade dos supercomputadores - gera produtos impressionantes na área da saúde, especialmente algumas ferramentas que conseguem captar muitas informações, não só de texto, mas também de voz. Essas informações são armazenadas em uma base de dados, gerando um data lake riquíssimo, porém com informações não estruturadas que, portanto, necessitam de ferramentas que viabilizem as pesquisas dessa base. Isso nos leva ao computer language, que é a capacidade dos computadores de realizar o levantamento de dados na base de pesquisa, resultando em informações consolidadas. Esse grande volume de dados permite o treinamento de máquina e geração de algoritmos de inteligência artifi cial.

Exemplifi cando o que disse acima: um médico pode deter um grande volume de dados de teledermatologia, as imagens de teledermatologia treinam a máquina e ela passa a fazer o diagnóstico. O mesmo serve para mamografi a, radiografi a, tomografi a, entre outros exames de imagem. Sendo adequadamente armazenada e investigada, essa big data pode criar algoritmos de inteligência artifi cial que transformem a saúde de uma maneira muito impactante.

Nossos laudos de eletrocardiograma, por exemplo, são todos feitos por máquina, o médico só confi rma.

“O aumento maciço de dados, somado à capacidade dos supercomputadores, gera produtos impressionantes na área da saúde, especialmente algumas ferramentas que conseguem captar muitas informações, não só de texto, mas também de voz. Essas informações são armazenadas em uma base de dados, gerando um data lake riquíssimo”

Dr. Roberto Vieira Botelho

Isso traz uma efi ciência operacional signifi cativa e uma hierarquização da prioridade de laudos em nossa rede, que hoje atende 12 mil eletros por dia.

VOX: Quanto tempo o senhor acredita que avançamos em relação à tecnologia e à medicina durante este período de pandemia?

RVB: Há uma obra de Th omas L. Friedman chamada “Obrigado pelo atraso”, onde ele traça um gráfi co da capacidade humana de adaptação, que é uma curva linear, e sobrepõe um gráfi co sobre o avanço da tecnologia, que é exponencial. Neste segundo gráfi co, o avanço da tecnologia já está muito adiante da capacidade humana de adaptação, ou seja, há uma lacuna não preenchida.

A pandemia do novo coronavírus acelerou, no mundo inteiro, uma fl exibilização do rigor, especialmente em relação à aplicação da tecnologia, quanto à segurança de dados, criptografi a, entre outras questões. Isso permitiu novas experimentações que geraram indicadores, resultando num novo volume de informações que irá consolidar novas tecnologias e implementações que demorariam muito mais tempo.

Trabalho na área da tecnologia voltada à saúde há 20 anos e do ponto de vista regulatório, durante os últimos quatro meses, evoluímos mais do que nos últimos 20 anos. É claro que houve uma liberação ampla e ela deve ser reajustada, mas teremos mais elementos para trazer evidências e ajudar na regulação para que sejam defi nidos os limites adequados.

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PÁGINAS AZUIS

VOX: Como vê o futuro da medicina em relação a este avanço tecnológico? De maneira geral e, especificamente, em relação à otorrinolaringologia.

RVB: A automação associada à inteligência artificial, para assistência inteligente, vai substituir tudo o que for repetitivo e automático, isso é um determinismo tecnológico. Assim como ocorreu em outras áreas de atividade humana, haverá uma substituição da ineficiência. O médico que não entregar valor terá sua atividade substituída. Por outro lado, essa ameaça pode ser encarada como uma oportunidade, pois o profissional que estiver sintonizado com isso e utilizar as ferramentas para se tornar mais eficiente aumentará seu espectro e ampliará suas oportunidades.

Saindo de um cenário local e indo para um cenário global, visualizo uma transformação profunda que não pode mais ser limitada por regulatórios locais. O mundo globalizado vai permitir que um cidadão brasileiro busque informação em outros locais e vice e versa.

A otorrinolaringologia já possui alguns procedimentos automatizados e outros que dependem fundamentalmente do médico. O procedimento médico não vai ser substituído, mas melhorado. A otorrinolaringologia possui um espectro de ampliação de sua ação impressionante e um especialista pode melhorar sua prática e aumentar sua capilaridade. A capacidade de atuação será empoderada pelas novas tecnologias e o especialista do presente precisa estar adaptado às plataformas tecnológicas, familiarizar-se com algoritmos que tornem sua prática mais fluente, deixando a automação para a máquina e dedicando seu tempo para o paciente.

VOX: Seguindo esse contexto, como enxerga o conceito de “novo normal”? O que nessa pandemia em relação à tecnologia veio para ficar e foi um avanço?

RVB: O ‘novo normal’ precisa ser contextualizado com o que já vinha ocorrendo na chamada ‘transformação digital’. Independentemente da pandemia do novo coronavírus, a transformação digital já vinha registrando um ritmo de crescimento exponencial. A capacidade computacional dobra a cada 18 meses e isso vem transformando a vida de uma forma em geral. A pandemia acelerou esse processo e trouxe uma percepção desse ‘novo normal’, mas que já vinha ocorrendo.

Já sobre o que veio para ficar e é irreversível, sob o meu ponto de vista, destacaria a telecomunicação. Com a entrada no mercado da tecnologia 5G está previsto um aumento em cem vezes na capacidade das bandas atuais, o que resulta na disponibilidade de uma nova banda móvel muito mais rápida, diminuindo a latência e aumentando a confiabilidade. Isso significa que, quando se fizer um movimento num ponto remoto, esse movimento chegará instantaneamente ao outro local.

“A capacidade de atuação será empoderada pelas

novas tecnologias e o especialista do

presente precisa estar adaptado às plataformas

tecnológicas, familiarizar-se com

algoritmos que tornem sua prática mais fluente,

deixando a automação para a máquina e dedicando seu

tempo para o paciente”

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Dr. Roberto Vieira Botelho

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Há ainda um outro fenômeno, que é a comunicação maciça de máquina. Haverá um enorme crescimento de wearebles através de camisetas, oxímetros, relógios, sensores em geral que captam sinais biológicos das pessoas, assim como há nos hospitais as comunicações de máquinas através de monitores e das próprias camas. Tudo isso será embebido na vida diária, gerando uma vultuosa comunicação virtual.

É previsto que o ‘novo normal’ resulte na extinção de aproximadamente 19 milhões de empregos, mas ele também criará outras 21 milhões de oportunidades novas de trabalho, por isso é fundamental a reeducação. Especialidades médicas serão extintas e outras irão surgir. O médico precisa dominar a aplicação da tecnologia em saúde para estar familiarizado e ser o seu próprio substituto, realocando suas eficiências.

Vivemos o ‘novo normal’ diariamente, presenciamos há tempos o derretimento de estruturas consolidadas por transformações disruptivas. A pandemia apenas acelerou esse processo e trouxe à tona a percepção inevitável dessas mudanças.

VOX: Sob o seu ponto de vista, quais mudanças impostas pela pandemia serão revertidas e quais permanecerão mesmo após retomada a rotina de trabalho convencional?

RVB: Nunca vivemos nada parecido com o que estamos enfrentando neste momento. A pandemia trouxe transformações até então impensadas e, consequentemente, um rico aprendizado a todos sobre higiene, prevenção, vulnerabilidades, distanciamento e respeito de maneira geral.

Houve um amadurecimento global de consciência sobre o valor da eficiência de redes de saúde. A sociedade não aceitará mais redes ineficientes, portanto será preciso dedicar atenção especial ao desenvolvimento e alimentação dessas redes de forma eficiente, desde a ação primária à estrutura hospitalar como um todo. No final, a saúde sairá fortalecida dessa situação.

Houve também uma percepção e uma valorização muito interessante da atividade de pesquisa, um aumento da demanda por informações sólidas, valorização dos bancos de dados, randomização sobre registros, evidências de mundo real e fenotipagem

“Vivemos o ‘novo normal’ diariamente, presenciamos há tempos o derretimento de estruturas consolidadas por transformações disruptivas. A pandemia apenas acelerou esse processo e trouxe à tona a percepção inevitável dessas mudanças”

computacional, que é a estruturação de dados inteligíveis às máquinas.

A sociedade será muito mais eficiente e com respostas mais rápidas. Tornar-se-á altamente factível realizar um estudo que englobe 60 países, simultaneamente, com a inclusão de milhões de pacientes. Esses fenômenos são irreversíveis, eles irão melhorar nossas práticas e trazer informações muito mais consolidadas. O método de pesquisa atual é muito caro e, a partir de agora, ele será mais ágil, capilar, realista e com menor custo.

Essa transformação digital já está a caminho e eventos pontuais como a pandemia afloram nossa percepção do quanto essas soluções podem nos ajudar. Mas traz também a noção clara do quanto essas soluções podem ser ameaçadoras, já que por outro lado há os hackers, a invasão de privacidade e o uso inadequado de dados.

Os países que dominarem esse conhecimento e essa transformação digital estarão muito à frente dos que não tiverem esse conhecimento, por isso é fundamental que os brasileiros estejam inseridos nesse ambiente. A distância que existe entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento, impossível de se reduzir na realidade atual, torna-se viável no mundo digital para aqueles que se apoderarem dessas ferramentas, que aceleram o compartilhamento do conhecimento e diminuem a diferença entre eles.

Dr. Roberto Vieira Botelho

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ABORL-CCF realiza V Combined Meeting e Four Otology 2020

totalmente onlineEventos que seriam realizados em maio

- e foram cancelados devido à pandemia do novo coronavírus – são transferidos para 1º de agosto

Renato Gutierrez / Fotos: Arquivo pessoal

COMBINED MEETING

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“Passados os impactos iniciais da pandemia foi possível avaliarmos toda a situação, discutirmos a viabilidade de realização do Combined Meeting e nos prepararmos para oferecer a todos os interessados um evento da melhor qualidade.”

Dr. Geraldo Druck Sant’Anna, presidente da ABORL-CCF

“Mesmo que não possamos estar juntos, debatendo presencialmente, essa é uma grande oportunidade para todos aprimorarem e atualizarem seus conhecimentos”

Dr. Rui Imamura,presidente da Academia Brasileira de Laringologia e Voz

A 5ª edição do Combined Meeting ABORL-CCF e o Four Otology 2020 tiveram de ser inicialmente cancelados devido à pandemia

do novo coronavírus e a consequente necessidade de distanciamento social recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Por conta disso, o evento que estava marcado para ocorrer presencialmente entre os dias 14 e 16 de maio, na Câmara Americana do Comércio (AMCHAM Brasil), em São Paulo, foi transferido para 1º de agosto e de forma totalmente à distância.

Outra importante decisão tomada pela diretoria executiva da ABORL-CCF foi disponibilizar, a todos os associados adimplentes da entidade, acesso integral da programação e conteúdo do evento de forma totalmente gratuita.

“Desde que nos vimos obrigados a cancelar o Combined Meeting ficamos incomodados com tal situação. Esse encontro tem ocorrido anualmente desde 2016 e sempre foi considerado de grande sucesso pelos participantes. Infelizmente, não havia como mantê-lo na data original por conta de todos os acontecimentos inesperados que tivemos de enfrentar. Porém, passados os impactos iniciais da pandemia, foi possível avaliarmos toda a situação, discutirmos a viabilidade de sua realização e nos prepararmos para oferecer a todos os interessados um evento da melhor qualidade e com conteúdo agregador, como sempre fizemos no formato presencial”, declara o presidente da ABORL-CCF, Dr. Geraldo Druck Sant’Anna.

As supra especialidades em discussão permaneceram as mesmas: Laringologia, Otorrinolaringologia Pediátrica e Otologia, além do Four Otology. Os principais convidados internacionais de cada área foram mantidos na programação, que conta com tradução simultânea. O formato do evento é composto por três salas, com mesas-redondas e painéis que promovem diversas discussões, desde a rotina no consultório até temas específicos. O encontro conta também com uma feira virtual.

A grade de laringologia do Combined Meeting online será enxuta, porém com muito conteúdo. “Contamos com duas palestras internacionais de renomados laringologistas, o Dr. Guillermos Campos, da Colômbia, que apresentará o tema ‘Princípios diagnósticos e terapêuticos em laringologia’; e o Dr. Markus Hess, da Alemanha, que falará sobre ‘Office based laryngeal procedures’, com tradução simultânea para o português. Temos ainda um painel de avanços em fonocirurgias, com temas como cirurgia endoscópica da laringe, injeções laríngeas, tireoplastia e uso do laser em câncer precoce, bem como uma mesa sobre disfonias de difícil diagnóstico. Ambas contam com a participação de experientes palestrantes nacionais. Mesmo que não possamos estar juntos, debatendo presencialmente, essa é uma grande oportunidade para todos aprimorarem e atualizarem seus conhecimentos”, aposta o presidente da Academia Brasileira de Laringologia e Voz, Dr. Rui Imamura.

A Otorrinolaringologia Pediátrica conta com um programa que visa a discussão aprofundada em temas pouco abordados e também controvérsias em

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“Por mais que estejamos vivendo um momento ímpar em nossa história e tenhamos de nos adaptar em diversos sentidos, as características de um evento intrigante, controverso e enriquecedor foram mantidas”

Dr. Edson Ibrahim Mitre,presidente da Sociedade Brasileira do Otologia

“Baseamos o formato no debate de casos clínicos ilustrativos, transformando o conteúdo em discussões de forma bastante estimulante.”

Dra. Rebecca Maunsell, presidente da ORL Pediátrica

relação a temas mais comuns, como o tratamento da apneia obstrutiva do sono em crianças. Tudo baseado sempre na discussão de casos clínicos ilustrativos. “Contamos com a participação de quatro convidados internacionais de peso: Dr. Hugo Rodriguez e Dr. Alejandro Cocciaglia, do Hospital Pediátrico Garrahan, maior hospital infantil de Buenos Aires; Dr. Diego Preciado, do Childrens National Hospital de Washington; e Dr. Paul Willging, do Cincinatti Childrens Hospital. Além disso, há também a geneticista Vera Gil da Silva Lopes, que fala sobre a importância do otorrinolaringologista na identificação de doenças genéticas”, explica a presidente da ORL Pediátrica, Dra. Rebecca Maunsell.

Já na área da Otologia, destaque para a diversidade de temas, que conta com discussões a respeito de: próteses de condução óssea, indicações específicas de implante coclear, cirurgia otológica endoscópica, entre outros.

Ainda que promovido a distância, o encontro também manteve suas características mais marcantes, como a rica troca de conhecimentos, o compartilhamento de experiências e a intensa discussão de ideias entre os participantes. “Esse é um dos princípios que movem a nossa Associação, que é o de promover o desenvolvimento da especialidade e o intercâmbio científico, técnico, cultural e social entre os seus integrantes. Por mais que estejamos vivendo um momento ímpar em nossa história e tenhamos de nos adaptar em diversos sentidos, as características de um evento intrigante, controverso e enriquecedor foram mantidas”, conclui o presidente da Sociedade Brasileira do Otologia, Dr. Edson Ibrahim Mitre.

V Combined Meeting e Four Otology 2020Supra especialidades em debate:Laringologia,

Otorrinolaringologia Pediátrica e Otologia

Evento realizado 100% a distância

Totalmente gratuito a associados adimplentes

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CONDUTA MÉDICA

Em breve síntese, cabe considerar para fins de análise que o tema “Equipamento de Proteção Individual” encontra previsão legal

no ordenamento jurídico e nos termos da NR 06: “Equipamento de Proteção Individual (EPI) é todo dispositivo ou produto, de uso individual, utilizado pelo trabalhador e destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar à segurança e à saúde no trabalho”.

Ainda na NR 06 encontramos o dever do empregador em fornecer os EPIs aos empregados: “A empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, EPI adequado ao risco, em perfeito

Sobre a falta deEquipamento de Proteção Individual (EPI)

Por Vania Rosa Moraes, do Departamento Jurídico da ABORL-CCF

estado de conservação e funcionamento (art 6.3, NR 06) e no âmbito da Consolidação das Leis do Trabalho no artigo 156”.

Nota-se, portanto, que o fornecimento de EPIs não é facultativo e, nos casos de descumprimento das obrigações legais, serão as pessoas jurídicas de direito público ou privado compelidas a cumpri-las e, sobretudo, a reparar os danos causados ao empregado e a terceiros.

Vale destacar que a obrigação do empregador não se limita apenas ao fornecimento dos EPIs,

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contemplando ainda o ato de fiscalizar e orientar sobre o uso correto e, ao empregado, cabe a obrigação de agir em conformidade com as normas que regulamentam sua atividade profissional. A recusa injustificada em não usar os EPIs é ato faltoso, pois a adoção de tal conduta coloca a própria saúde em risco e, neste caso, responderá pelos atos nos termos do artigo 158, parágrafo único da CLT.

As normas do Código de Ética Médica garantem ao médico o direito de apontar falhas das instituições em que trabalha e de recusar exercer a profissão onde as condições de trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar a própria saúde ou a do paciente, bem como dos demais profissionais, devendo comunicar com justificativa e brevidade sua decisão ao Diretor Técnico, ao Conselho Regional de Medicina e à Comissão de Ética da instituição, quando houver (Capítulo II, incisos III e IV do CEM).

Assim, diante dessas breves considerações, algumas respostas quanto à falta de EPIs a médicos nos parecem possíveis frente aos questionamentos mais comuns que os associados têm suscitados:

1. Considerando o atual cenário da saúde, como o médico deve proceder ao chegar ao local de trabalho e se deparar com a situação de falta de EPIs?

Ressalta-se que não há nenhum fomento ou orientação para que o médico abandone o plantão e/ou deixe de atender os demais pacientes, pois o não atendimento de pacientes com covid-19, por exemplo, não afasta a obrigação do médico de atender pacientes com outras doenças, tampouco de não comparecer ao local de trabalho sob pena de tal conduta configurar omissão de socorro e/ou abandono do emprego.

A orientação diante da falta de EPIs é que o médico deve comunicar aos órgãos competentes para que estes possam adotar medidas para o enfrentamento da falta de equipamentos de proteção e falhas na infraestrutura da instituição privada ou pública.

Assim, o médico poderá:I - registrar a falta de EPIs:a) em livro de ocorrência; b) em prontuário do paciente - tanto a falta de

EPIs como os atos médicos que deixou de praticar em função da falta dos EPIs e, em seguida:

II – Notificar por escrito:c) Diretor Técnico;d) Diretor Clínico;e) Comissão de Ética da Instituição (quando

houver);f ) Conselhos Regional e Federal de Medicina;g) Ministério Público;h) Sindicato.

2. Diante da falta de EPIs posso fotografar, filmar e obter testemunhas?

Preservando a imagem dos presentes no ambiente hospitalar, o médico poderá fotografar e filmar as situações que comprovem a falta de EPIs, podendo ainda arrolar testemunhas.

3. Se estou no plantão novamente, com falta de recursos, e o diretor não tomou as devidas providências, o que devo fazer? Aciono a polícia?

A atuação do diretor técnico está sujeita ao regramento insculpido em normas do Conselhos Regional e Federal de Medicina e, portanto, deve cumpri-las. O descumprimento com a devida comprovação pode ser informado por meio de denúncia ao Conselho Regional de Medicina.

Diante da ocorrência da situação de risco à própria saúde e dos demais trabalhadores do local, é possível acionar a autoridade policial, que poderá lavrar o boletim de ocorrência e, com base neste, iniciar o inquérito policial para apurar os fatos. O boletim de ocorrência servirá de prova em caso de denúncias em seu desfavor por abandono de plantão.

Por fim, não se pode esquecer que o fornecimento de EPIs é inegociável, pois trata de anteparo para proteger o indivíduo dos riscos existentes no exercício da atividade profissional. Pensar em negociar seu fornecimento ou não os ter, ou tê-los, mas em quantidade insuficiente, que provoque a reutilização dos EPIs que deveriam ser descartados ou fazer uso de outros produtos que não foram produzidos para serem EPIs, é elevar a saúde dos profissionais médicos a riscos e danos.

Na dúvida, deve-se buscar orientação jurídica, e o Departamento Jurídico da ABORL-CCF, por meio do programa de extensão jurídica aos associados, está à disposição para eventuais esclarecimentos.

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GRAVAÇÃO DE CIRURGIAe o acompanhamento de médico auditor

ASSESSORIA TÉCNICA

Renato Gutierrez / Fotos: Arquivo pessoal

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Nesta edição da VOX Otorrino, a coluna Assessoria Técnica ao Associado aborda o parecer elaborado pelo Comitê de Defesa

Profi ssional e pelo Departamento Jurídico sobre a questão de “Gravação de cirurgia e o acompanhamento de médico auditor”, tema bastante procurado por associados da ABORL-CCF no Banco de Pareceres disponibilizado no site da entidade.

Tal medida é adotada por operadoras de planos de saúde que exigem dos otorrinolaringologistas a gravação de suas cirurgias em vídeo para comprovação do pós-operatório junto à auditoria, bem como a presença de médico auditor na sala de cirurgia durante o procedimento.

De acordo com avaliação do Comitê de Defesa Profissional e do Departamento Jurídico da ABORL-CCF, a conduta é ilegal e abusiva, pois fere o exercício profissional do médico, cabendo às operadoras de planos de saúde respeitarem a isonomia do profissional médico. Tendo este entendimento, inclusive, respaldo no Código de Ética Médica.

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ASSESSORIA TÉCNICA

“Dentre os princípios fundamentais do Código de Ética Médica está definido que o médico não pode, em nenhuma circunstância ou sob nenhum pretexto, renunciar a sua liberdade profissional, nem permitir quaisquer restrições ou imposições que

possam prejudicar a eficiência e a correção do seu trabalho. Além disso, é direito do médico

apontar falhas em normas, contratos e práticas internas das instituições em que trabalhe quando as julgar indignas do exercício da profissão ou prejudiciais a si mesmo, ao paciente ou a terceiros, devendo se dirigir, nesses casos, aos órgãos competentes e, obrigatoriamente,

à comissão de ética e ao Conselho Regional de Medicina de sua jurisdição”, afirma o

presidente do Comitê de Defesa Profissional da ABORL-CCF, Dr. Casimiro Villela Junqueira

Filho.Seguindo essa linha de raciocínio e se utilizando

de prerrogativas legais, o Conselho Federal de Medicina promulgou a Resolução CFM nº 1.642. “Ela determina que as empresas que atuam sob a forma de prestação direta ou intermediação de serviços médicos devem estar registradas nos Conselhos Regionais de Medicina de sua respectiva jurisdição, bem como devem respeitar a autonomia profissional dos médicos, efetuando os pagamentos diretamente aos mesmos e sem sujeitá-los a quaisquer restrições”, complementa Dr. Casimiro.

O presidente do Comitê de Defesa Profissional da ABORL-CCF revela que as empresas de seguro-saúde, de medicina de grupo, cooperativas de trabalho médico, empresas de autogestão ou outras que atuem sob a forma de prestação direta ou intermediação dos serviços médico-hospitalares devem seguir princípios em seu relacionamento com os médicos e usuários. “É fundamental respeitar a autonomia do médico e do paciente em relação à

escolha de métodos diagnósticos e terapêuticos, bem como admitir a adoção de diretrizes ou protocolos médicos somente quando estes forem elaborados pelas sociedades

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brasileiras de especialidades, em conjunto com a Associação Médica Brasileira”, determina.

Segundo o especialista, dentre os prejuízos que a exigência de gravação de cirurgia, bem como a presença do médico auditor podem ocasionar, estão uma exposição excessiva dos pacientes e um maior risco de contaminação hospitalar. “Gravar as cirurgias é desnecessário, uma vez que o documento primordial se chama ‘descrição de cirurgia – prontuário’. Outro ponto a ser levado em consideração é o fato de o paciente ter de autorizar por escrito que autoriza a gravação, além da quebra do relacionamento médico–paciente”, afirma.

De acordo com o profissional, mesmo a exigência de CID é contestada judicialmente, quanto mais de vídeo. ”O sigilo médico deve ser respeitado, não sendo permitida a exigência de revelação de dados ou diagnósticos para nenhum efeito”, finaliza o presidente do Comitê de Defesa Profissional da ABORL-CCF.

Por fim, lembramos que a ABORL-CCF disponibiliza, a todos os associados adimplentes, amplo conteúdo de pareceres para consulta. Para tal, basta acessar o site da entidade, realizar o login com a respectiva senha e, em seguida, clicar no menu “Defesa Profissional” para acessar a página “Banco de Pareceres”, onde é possível pesquisar o tema de interesse.

“O médico não pode, em nenhuma circunstância ou sob nenhum pretexto, renunciar a sua liberdade profissional,

nem permitir quaisquer restrições ou imposições que possam prejudicar

a eficiência e a correção do seu trabalho. Além disso, é direito do

médico apontar falhas em normas, contratos e práticas internas das

instituições em que trabalhe quando as julgar indignas do exercício da

profissão ou prejudiciais a si mesmo, ao paciente ou a terceiros”

Dr. Casimiro Villela Junqueira Filho.presidente do Comitê de

Defesa Profissional da ABORL-CCF.

O QRCode ao lado dá acesso à Ouvidoria da ABORL-CCF, um canal exclusivo para envio – de forma anônima – de denúncias relacionadas ao exercício profi ssional médico da especialidade Otorrinolaringologia:

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A pós pandemia e o “novo normal”

Renato Gutierrez / Fotos: Arquivo pessoal

Os desdobramentos da COVID-19: novas formas de se relacionar, mudança de prioridades, quebra de paradigmas e alternativas para superar as difi culdades impostas pela pandemia.

CAPA

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Desde o início do distanciamento social por conta da pandemia do novo coronavírus tem se utilizado muito a expressão “novo

normal”. Diversos setores foram gravemente afetados. O sofrimento, tanto das pessoas como das empresas, tem sido grande, e coisas simples para as quais não se dava muito valor, ganham agora uma nova dimensão. O fato é que, após a pandemia, muita coisa irá mudar.

Aos poucos, novos hábitos vão sendo naturalmente incorporados ao dia a dia de todos. Pesquisar preços, consumir pela internet, utilizar mais recursos tecnológicos e interagir de forma online estão entre os principais desses novos costumes.

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Muita gente se viu obrigada a realizar compras pela internet, já que os estabelecimentos ficaram fechados, ou mesmo por receio de sair às ruas. Segundo uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), 61% dos clientes que compraram online durante a quarentena aumentaram o volume de compras devido ao isolamento social. Outra tendência é a de pesquisar preços de maneira mais rotineira. Afinal, a compra online nos permite ganhar tempo e, em poucos cliques, é possível saber se está fazendo um bom negócio sem precisar percorrer vários lugares para levantar os valores a fim de economizar alguns reais.

O estilo de vida profissional das pessoas também tem registrado mudanças significativas por conta dessa nova realidade. Devido ao isolamento social, muitos trabalhadores estão revendo suas prioridades. Sem perder tempo com transporte e podendo se organizar para trabalhar sem a rigidez dos horários, vários profissionais estão fazendo cursos online, sabendo das mudanças que virão e se requalificando de olho em novas oportunidades. O trabalho remoto ainda reduziu o número de viagens profissionais. Isso sem falar no efeito dominó que demissões e home office devem ter sobre o mercado imobiliário comercial, esvaziando muitos prédios de escritórios e derrubando os alugueis.

CAPA

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um abraço ou o compartilhamento de materiais, não fazem mais parte desta nova realidade”, explica o consultor em gestão empresarial do SEBRAE, Antonio Carlos de Matos.

O reflexo terá efeito também sobre os transportes. Vários modais devem ser revistos para ajudar as pessoas a se moverem pela cidade com menor acúmulo de pessoas. Preocupações com a segurança e mudanças no comportamento em geral são prioridade. O uso obrigatório de máscaras em transportes públicos, carros de aplicativos e táxis é um exemplo das medidas necessárias que estão sendo adotadas.

Porém, não são todas as áreas que podem optar pelo trabalho remoto, em muitos casos a necessidade de que a função seja exercida presencialmente é inevitável e as empresas terão de fazer diversas adaptações no ambiente corporativo para que o retorno da equipe seja promovido com total segurança. “O novo normal no ambiente corporativo prevê estações de trabalho com distanciamento social, escalonamento e rodízio de colaboradores e testagem obrigatória para casos suspeitos. Os gestores terão de fazer uma revisão aprofundada dos processos, e isto inclui a forma como os funcionários se relacionam e se comportam internamente. Atitudes que até pouco tempo eram consideradas inofensivas, como

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LIVE

JoséLive Show

RonaldoShow!!!

Renato\o/

Outro setor que vai precisar se reinventar é o de eventos, especialmente após amargar prejuízos altíssimos com o cancelamento de mais de 50% das atividades programadas para este ano. “Devido à pandemia do novo coronavírus o setor de eventos deixou de movimentar nos últimos meses algo em torno dos 300 bilhões de reais, isso falando apenas das feiras comerciais, considerando também os eventos científicos esse número é muito maior”, revela o diretor do Instituto Brasileiro de Eventos (IBEV) e coordenador do comitê 142 de eventos da ABNT, Paulo Passos.

Segundo o diretor do IBEV, a retomada das atividades depende de diversos fatores, tais como as características do evento e a região onde ele será realizado. “No Estado de São Paulo há uma previsão para liberação a partir do dia 12 de outubro, porém depende de autorização do governo estadual, bem como do desenrolar da pandemia. Em relação aos outros estados, não é possível generalizar, já que cada um tem registrado números de crescimento e/ou redução de casos de forma muito particular”, acredita.

Diante deste cenário, Paulo Passos aposta num acréscimo expressivo de eventos promovidos virtualmente, ressaltando que haverá impactos mais ou menos significativos, dependendo do tipo de encontro. “Os mini meetings, por exemplo, que são aqueles eventos menores, promovidos para até 10 pessoas, muito provavelmente se tornarão online de forma permanente, independente da rotina ser normalizada após a pandemia. Já no caso dos grandes eventos é muito mais difícil, o contato presencial continuará sendo de extrema importância, até mesmo porque muitos profissionais se encontram apenas uma vez ao ano, que é exatamente nesses eventos e não abrirão mão disso, ainda que demore um tempo maior para que essa retomada ocorra”, declara.

CAPA

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Todos os segmentos de atuação devem elaborar protocolos visando a segurança daqueles que atuam no setor, de acordo com as respectivas características e necessidades específicas. “Para isso deverão ser analisados diversos aspectos, como o grau de contato físico, o ambiente - interno ou externo -, e as instalações que determinarão um menor ou maior risco de contágio. De maneira geral, deverão viabilizar locais para a lavagem das mãos, tapete higienizador para sola de calçados, álcool em gel e demais produtos de higiene, além de fiscalizar o uso de máscara para todos”, explica o engenheiro sanitarista Sebastião Ney Vaz Junior.

"O contato pessoal faz parte da natureza humana, a forma de fazer negócio, de se relacionar, de apresentar um produto ou transmitir uma ideia seguirá sendo mais eficiente quando realizada presencialmente. Tenho convicção de que esses encontros não só voltarão a ser realizados, como voltarão ainda mais fortes."

“É preciso elaborar protocolos visando a segurança de todos. Para isso deverão ser analisados diversos aspectos, como o grau de contato físico, o ambiente - interno ou externo -, e as instalações que determinarão um menor ou maior risco de contágio”

Paulo Passos, diretor do Instituto de Eventos

Sebastião Ney Vaz Junior, engenheiro sanitarista

Ensino a distância, home office, investimento em tecnologia e comunicação

A flexibilização da quarentena ainda é um grande ponto de interrogação. A principal razão para isso é que, enquanto não se fizer testes em massa na população, não há dados suficientes para que o poder público possa afrouxar o isolamento de forma segura. “Sem uma ampla realização de testes não é possível definir um diagnóstico da dimensão da epidemia no país e, assim, não se chega a uma previsão segura quanto à redução do número de casos e a disponibilidade de leitos nos hospitais”, explica a infectologista Dra. Naiane Ribeiro.

O papel desempenhado pela tecnologia, de proporcionar a criação de ferramentas importantes para facilitar a vida da população, tem sido determinante. Diante desse cenário, os recursos tecnológicos se apresentaram como uma peça fundamental para que as pessoas possam suprir suas necessidades de contatos com outras, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional.

A previsão para o pós pandemia é de que muitas empresas reduzam custos e, entre os principais cortes, está a manutenção de funcionários trabalhando em suas casas. Com isso, o que é temporário pode se tornar permanente para muitas pessoas. As empresas se beneficiarão com a redução de gastos com água, luz, transporte e alimentação dos funcionários. Por outro lado, terão que investir mais em tecnologia para garantir infraestrutura digital a todos aqueles que passarão a trabalhar de forma remota.

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Enquanto o afrouxamento não ocorre, as escolas promovem projetos de Ensino a Distância (EAD). Assim como o home office, o EAD também veio para ficar. Muitas instituições precisaram realizar altos investimentos em plataformas digitais que viabilizassem a continuidade das aulas, num movimento que não deve voltar atrás. É possível manter as atividades educacionais com o uso dessas ferramentas que possibilitam aulas remotas por meio de salas online, de plataformas de disponibilização de conteúdos transmidiáticos e das bibliotecas virtuais. Além disso, vários cursos e aplicativos gratuitos de diversos segmentos estão sendo disponibilizados durante esse período de distanciamento social e podem ser usados para ampliar o conhecimento.

Assim como o uso da tecnologia, uma boa comunicação também tem se mostrado necessária como forma de manter bons resultados e desempenho satisfatório diante de tantas dificuldades. De acordo com o consultor em gestão empresarial do SEBRAE, como forma de se recuperar das perdas neste momento, torna-se necessário ampliar o vínculo de confiança da marca e de seus representantes com os clientes e consumidores. “Neste sentido, a comunicação é um ativo importante para qualquer corporação. Não se trata de gasto a ser diminuído, mas de investimento a ser multiplicado. Quando tudo parece incerto, aparecer e mostrar proatividade transmite segurança e confiabilidade. Essa é uma maneira eficiente de fortalecer a própria imagem e estreitar relacionamentos”, revela Antonio Carlos de Matos.

Atenção além da saúde físicaPara vencer o momento atual é preciso muita

atenção à saúde mental. O distanciamento social é fundamental neste momento como forma de conter a disseminação do novo coronavírus, mas, por outro lado, pode acarretar em uma série de prejuízos emocionais. É preciso estar atento e minimizar esse risco. “É muito comum o registro de ansiedade e/ou depressão em pessoas que moram sozinhas devido às incertezas que vivemos neste momento. Elas estão há muito tempo sem ter contato com outras pessoas, interagir, abraçar. Para minimizar esse problema é indicado criar uma rotina, incluindo novas atividades. Incorpore ao dia a dia coisas que lhe dão

prazer, mas que antes não estava acostumada a fazer”, indica a psicóloga Ana Beatriz Cintra.

A especialista entende que, passada a pandemia, os hábitos serão retomados naturalmente. “Não acredito em mudanças significativas, exceto aquelas que serão impostas pelas autoridades. Na retomada é provável que as pessoas evitem lugares cheios e tomem um pouco mais de cuidado, mas com o passar do tempo tudo voltará a ser como antes”, afirma Ana Beatriz.

Tal afirmação da psicóloga se baseia no fato de que as mudanças na forma de se relacionar costumam levar décadas para ocorrerem. “Talvez o medo as faça pensar diferente e mudar um pouco, mas duvido que seja suficiente para não nos tocarmos mais, para continuarmos mantendo a distância indicado, de 1 metro e meio, entre outros

“Não acredito em mudanças significativas, exceto aquelas que serão impostas pelas autoridades. Na retomada é provável que as pessoas evitem lugares cheios e tomem um pouco mais de cuidado, mas com o passar do tempo tudo voltará a ser como antes”

Ana Beatriz Cintra, psicóloga

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comportamentos que estão sendo colocados como forma de conter a disseminação do vírus. As pessoas sentiram que podem amenizar a saudade por vídeo conferência, mas o toque, o abraço e o beijo ainda são insubstituíveis”, conclui.

Apesar de todos os problemas, a adaptabilidade do ser humano deve prevalecer. Os cuidados com crianças e idosos será intensificada, aumentará a preocupação com questões voltadas à saúde e ao meio ambiente e os excessos consumistas serão reduzidos.

O mundo foi tirado da zona de conforto e todos tivemos de reaprender a dar valor ao que é realmente importante em nossas vidas. A pandemia igualou a todos, sem distinção de classe, raça, cor ou crença. Ela nos mostrou que o respeito é fundamental e que devemos distinguir e aceitar o que podemos controlar e o que não podemos.

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ABORL-CCF EM AÇÃO

Renato Gutierrez I Fotos: Arquivo pessoal

Nunca se discutiu tanto a questão da telemedicina como agora. Por conta da pandemia do novo coronavírus e da

consequente recomendação de distanciamento social, a prática foi recomendada pelo Ministério da Saúde como forma de continuidade à prestação de assistência para muitos pacientes impossibilitados de se consultarem presencialmente.

Porém, muito antes disso, a ABORL-CCF colocou o tema em pauta e vem discutindo como esse tipo de procedimento deve ser conduzido da maneira mais adequada, garantindo fidelidade no diagnóstico e assertividade no tratamento, mantendo a segurança do paciente.

A Comissão de Telemedicina da ABORL-CCF foi formada após a aprovação, e quase imediata revogação, da resolução da Telemedicina pelo Conselho Federal de Medicina, em fevereiro de 2019 (Res. CFM nº 2227/18). “Como a revogação por parte do CFM se deve à má repercussão da mesma na comunidade médica, e entidade decidiu abrir uma consulta pública para sugestões acerca do tema, avaliando o posicionamento dos mais diversos entes sociais. Dentro da ABORL-CCF, a Comissão de Telemedicina foi formada primeiramente para discutir o atendimento à distância e suas particularidades na otorrinolaringologia para podermos, com isso, contribuir junto ao CFM”, explica o coordenador da Comissão, Dr. Virgílio Batista do Prado.

Inicialmente, o trabalho foi coordenado pela Dra. Tatiana Della Giustina, porém, com a eleição da profissional para o Conselho Federal de Medicina e a posterior condução dela ao cargo de diretora segunda secretária daquela autarquia, não foi mais possível que ela conduzisse a comissão da ABORL-CCF. “Fui escolhido como substituto pela Diretoria Executiva da Associação, mas a principal atribuição continua sendo a mesma: debater amplamente o

Comissão de Telemedicina

atendimento à distância em nossa especialidade. Temos que discutir principalmente os limites da atividade médica dentro da otorrinolaringologia através de meios virtuais. Aquilo que é possível ser realizado a distância sem implicar em aumento no risco de erros no diagnóstico e no tratamento”, detalha Dr. Virgílio.

O coordenador da Comissão de Telemedicina acredita que, a todo momento e em todos os seus atos, o médico está medindo o risco e o benefício. “A decisão de se fazer ou não uma prescrição, um exame ou uma cirurgia é norteada pela busca daquilo que trará o maior benefício com o menor risco para o paciente. Quando houver o esperado fim da pandemia, a balança risco versus benefício voltará a pender fortemente para o lado da consulta presencial, devendo ela se impor novamente como a forma de se realizar a medicina com segurança para o paciente”, decreta.

Entretanto, o profissional acredita que muito aprendizado sobre teleatendimento será produzido nesse momento peculiar. “Estudos, pesquisas e muitas lições se desenvolverão durante a pandemia e poderão ser incorporados pela medicina. É a natural evolução tecnológica ocorrendo neste momento, possivelmente através de um salto, um largo passo. Particularmente na otorrinolaringologia, o exame físico é muito decisivo para o diagnóstico, hoje, a maioria dos especialistas tem em sua sala um sistema completo para avaliação endoscópica imediata de nariz, faringe, laringe e até do ouvido. A acurácia do diagnóstico se eleva e, consequentemente, a precisão do tratamento. Abrir mão disso só pode ser imaginado em situações muito excepcionais, como é o caso da pandemia. No mais, não há como se pensar em atendimento na nossa especialidade sem exame direto em algum momento”, afirma.

Outra questão colocada em discussão pelo

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COMISSÃO DE TELEMEDICINA

Coordenador:Dr. Virgílio Batista do Prado

Secretário:Dr. Casimiro Villela Junqueira Filho

MembrosDr. Roberto MeirellesDr. Davi Knoll Ribeiro

Dr. Luiz Antonio Prata FigueiredoDr. Vitor Chen

Dra. Thais KnollDra. Andrea de Oliveira

Contatos da ABORL-CCF:Instagram: @aborlccf Whatsapp: (11) 95266-1614

e-mail: [email protected]

Telefones: 0800 7710 821 - (11) 5053-7500 - Fax: 5053-7512

Facebook: /aborlccf

“Quando houver o esperado

fim da pandemia, a balança

risco versus benefício voltará a

pender fortemente para o lado

da consulta presencial, devendo

ela se impor novamente como a

forma de se realizar a medicina

com segurança para o paciente”

Dr. Virgílio Batista do Prado

coordenador do Comitê de

Telemedicina da ABORL-CCF

especialista são os diversos conflitos éticos, administrativos e econômicos que acabarão surgindo. “Como ficará a relação médico-paciente? Como será a relação de médicos, operadoras de saúde e usuários? Qual o impacto financeiro para todos os entes envolvidos?”, questiona.

Para Dr. Virgílio, o atendimento virtual pode ser uma ferramenta auxiliar e complementar. “Ao invés de o paciente retornar ao consultório somente para mostrar um exame, no que consideramos hoje um retorno, um complemento de uma primeira consulta, ele pode enviá-los virtualmente e o médico pode concluir a investigação e proceder com o tratamento. Da mesma forma podem ocorrer as consultas de orientação pré-operatória”, sugere.

Muitas outras indagações são levantadas pelo profissional. “Seria correto oferecer avaliação à distância a um paciente que mora a centenas ou milhares de quilômetros do consultório, sabendo ser impossível a complementação dessa para a realização de um exame físico caso este seja necessário? Haveria um aumento de exames subsidiários em substituição

ao exame físico? Seria ético solicitar uma audiometria e uma tomografia para avaliação diagnóstica, sendo que a otoscopia realizada de rotina poderia elucidar o diagnóstico? Quanto tempo, recurso financeiro e até mesmo risco se despenderá em nome da telemedicina? Todas essas questões e mais tudo aquilo que a diretoria da ABORL-CCF, seus Comitês e seus Associados trouxerem, fazem parte do escopo de trabalho da Comissão de Telemedicina”, finaliza.

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O QUE DIZ A LEI

que não se possa comprovarotorrinolaringologia

Sobre a divulgação da especialidade

Por Vania Rosa Moraes, do Departamento Jurídico da ABORL-CCF

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“É vedado ao médico anunciar títulos científicos que não comprovar e especialidade ou área de atuação para a qual não esteja qualificado e registrado no Conselho Regional de Medicina”.

“É vedado ao médico deixar de incluir, em anúncios profissionais de qualquer ordem, seu nome, número no Conselho Regional de Medicina - com o estado da Federação no qual foi inscrito - e Registro de Qualificação de Especialista (RQE) quando anunciar a especialidade”.

Art.2º: os anúncios médicos deverão conter, obrigatoriamente, os seguintes dados: a) nome do profissional; b) especialidade e/ou área de atuação, quando registrada no Conselho Regional de Medicina; c) número da inscrição no Conselho Regional de Medicina; d) número de registro de qualificação de especialista (RQE), se o for.

Já o artigo 117 diz:

Assim, diante dessas considerações éticas e jurídicas, é possível responder à questão: “não tendo título de especialista emitido pela AMB e/ou Certificado de Residência Médica emitido pela CNRM/MEC, posso divulgar em carimbo, receituário e mídias sociais que sou otorrinolaringologista ou que atuo na otorrinolaringologia?”

Considerando as normas vigentes, entendemos que não pode inserir no carimbo ou em qualquer outro meio de divulgação a informação: Otorrinolaringologista e/ou Otorrinolaringologia, afinal, como dito na explanação legal, o médico somente poderá divulgar especialidade que possa comprovar e que esteja registrada no Conselho Regional de Medicina.

No que toca à publicidade na atividade médica, os médicos devem obedecer aos ditames éticos e legais, sob pena de incorrer em infração ética e ter que responder perante o Conselho Regional de Medicina pela conduta antiética, podendo receber penalidades, dependendo do caso concreto, que variam de advertência até a cassação do exercício profissional médico.

Não se pode deixar de reiterar: médico sem Título de Especialista e/ou Certificado de Residência Médica, devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina, não pode divulgar a especialidade ou a condição de especialista e, no caso, por exemplo, do carimbo, deverá constar apenas: nome do profissional e condição (médico e número do registro no CRM), sendo vedada a menção da especialidade sob a condição de incorrer em infração ética.

Por fim, não se pode esquecer que, na dúvida, deve buscar orientação jurídica, e o Departamento Jurídico da ABORL-CCF, por meio do programa de extensão jurídica aos associados, está à disposição para eventuais esclarecimentos.

Cabe ainda considerar as alíneas “b” e “d” do artigo 2º da Resolução CFM nº 1974/2011, que determinam:

De início, vale considerar que o exercício da medicina é normatizado, disciplinado e fisca-lizado pelos Conselhos Regional e Federal de

Medicina e, ao médico, cabe o dever de obediência às normas deontológicas, conforme preconizado no artigo 17 do Código de Ética Médica.

Portanto, todas as atividades inerentes ao exercício profissional médico, inclusive a publicidade médica, estão sob a supervisão, disciplina e fiscalização dos Conselhos de Medicina.

Determinado isso, cabe considerar, para fins de análise da questão “divulgar especialidade que não se possa comprovar”, tanto o Código de Ética Médica quanto a Resolução CFM nº 1974/2011, que regulamentam a publicidade na atividade médica.

O Código de Ética Médica determina, em seu artigo 114, que:

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A atual onda de lives impulsionou o consumo de um formato de vídeo que antes da pandemia do novo coronavírus era muito pouco explorado.

Até então, raros eventos ao vivo haviam mobilizado grandes quantidades de pessoas na web. Já com o distanciamento social, o cenário mudou, e esse tipo de transmissão ganhou uma dimensão nunca antes vista.

O que impulsiona o formato é a espontaneidade. De acordo com um estudo da consultoria Forrester e da IBM, a audiência das lives é de dez a 20 vezes maior do que a dos vídeos gravados. “Trata-se de um fenômeno mundial. O modelo se destacou devido à necessidade das pessoas de interagirem de alguma maneira durante a quarentena. A força das lives vem do desejo de interação nesse período de isolamento, as pessoas querem ver a reação ao improviso do ao vivo. Ao mesmo tempo em que estão conectadas, elas querem interagir”, explica o publicitário especializado em mídias digitais João Víctor Ortiz.

Interações digitais promovidas pela ABORL-CCF alcançam mais de 20 mil acessos

FIQUE POR DENTRO

Esse fenômeno atingiu a todos: empresas, profissionais liberais e entidades de classe, que passaram a utilizar o recurso como forma de manter vínculo com seus públicos de interesse. “O crescimento do consumo de lives durante a pandemia é uma realidade que aparentemente veio para ficar, já que muitos daqueles que experimentaram essa tecnologia pela primeira vez perceberam o poder de conexão com o público, viabilizando a disseminação da informação que desejam transmitir de forma rápida, segura e eficiente”, decreta Ortiz.

Sempre antenada às novas tendências para oferecer a seus associados cada vez mais benefícios, a ABORL-CCF agiu rapidamente e mergulhou nesta transformadora forma de se comunicar e transmitir conhecimento. As primeiras ações neste sentido ocorreram ainda no mês de março, logo após o início da quarentena, quando a entidade promoveu um evento de Educação Médica ao vivo e online. Na

Renato Gutierrez

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ocasião, a Profª Dra. Wilma Anselmo Lima e o Dr. Fabrizio Ricci Romano comandaram a discussão que teve como tema: ‘Diálogos em Rinite Alérgica: surge uma nova alternativa terapêutica no tratamento da doença’. A iniciativa contou com interação dos participantes, compartilhou casos clínicos, bem como a experiência dos palestrantes em relação ao problema.

A partir de então, diversas técnicas e procedimentos foram tema das lives promovidas pela ABORL-CCF, entre elas, um encontro virtual para debater ‘microcirurgia de laringe para doenças benignas’. “Falamos sobre o que todo otorrinolaringologista precisa saber a respeito de microcirurgia de laringe, suas técnicas básicas e os truques dos grandes especialistas. Foram abordados desde os cuidados pré e pós-operatórios, além de como obter uma boa exposição e realizar técnicas eficientes nos trans-operatório. Tudo isso contando com os comentários dos experientes debatedores participantes e abrindo espaço ao público para perguntas”, explica o presidente da ABORL-CCF,

Dr. Geraldo Druck Sant’Anna.As iniciativas nesse sentido foram se intensificando

e, dentre os mais variados temas colocados em discussão, foram abordadas: “orientações intraoperatórias básicas em cirurgia endoscópica nasossinusal aplicadas à rinossinusite crônica”, “etiologias da apneia obstrutiva do sono na infância e SAOS na população pediátrica”, “controle da Otite Média Aguda recorrente”, entre outras.

Os organizadores buscaram abranger o máximo possível de assuntos. Uma das lives foi sobre “foniatria para iniciantes”, apresentando as mais recentes atualizações sobre essa área da otorrinolaringologia e mostrando que a foniatra vai muito além da avaliação dos distúrbios de linguagem, da aprendizagem e da comunicação. As participantes fizeram apresentações curtas e diretas, com 10 minutos de duração, e depois foram mais 40 minutos para responder todas suas dúvidas das participantes.

Além das questões médicas, assuntos multiprofissionais também foram colocados em pauta. Dr. Thiago Bezerra, moderador da live que

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• 34 lives promovidas entre maio e junho/2020;

• Uma centena de especialistas nacionais e internacionais;

• Tradução simultânea;

• Mais de 20 mil participantes, provenientes de todos os estados brasileiros e mais 35 países.

FIQUE POR DENTRO

teve como tema ‘situação ético profissional na pandemia’, detalhou os principais pontos abordados durante a discussão. “Na oportunidade, debatemos acerca de orientações aos médicos sobre como cuidar melhor dos seus pacientes, zelando também de si. Discutimos sobre a importância de exigir estrutura adequada para que nenhum paciente fique sem a assistência, e falamos sobre como um médico tecnicamente capacitado e protegido pode desempenhar ainda melhor o seu trabalho”, detalha.

Discussões que ultrapassam fronteirasAs lives deram tão certo que diversos especialistas

mundo afora passaram a fazer parte da programação. Nessa linha foi promovida uma discussão a respeito da COVID19 na Otorrinolaringologia, abordando a experiência ocorrida na região de Vêneto, norte da Itália, um dos epicentros da pandemia. A ação contou com participação do Profº Daniel Marchioni, direto da cidade de Verona.

Já o médico israelense Daniel Kaplan falou sobre os resultados positivos registrados por Israel, que é referência mundial no combate à COVID-19, graças à ação antecipada para controlar o surto por meio do monitoramento e isolamento social, aliado a um sistema centralizado de saúde, tornando-se um dos países mais seguros para se estar durante a pandemia.

Destaque também para a discussão sobre como a inovação está ajudando o cotidiano da medicina do sono e da Otorrinolaringologia. Abordando os problemas relacionados ao sono e como aplicar

soluções práticas e inovadoras no dia a dia para ajudar a dormir melhor. A ação contou com participação do Dr. Robson Capasso, chefe da Divisão de Cirurgia do Sono, Professor de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço na Stanford University e Stanford Biodesign Advisor.

O sucesso das lives é um fato que pode ser comprovado graças às estatísticas que apontam elevado número de acesso e visualização dessas ações. Para se ter uma ideia, entre os meses de maio e junho/2020, a ABORL-CCF promoveu 34 iniciativas desse tipo nas plataformas digitais. Mais de uma centena de especialistas brasileiros e estrangeiros participaram das lives, que contaram com tradução simultânea e geraram uma visualização superior a 20 mil pessoas, oriundas de todos os Estados da Federação, além de outros 35 países.

Dentre as muitas mudanças no dia a dia profissional que foram impostas pela pandemia do novo coronavírus, uma que certamente veio para ficar foi essa interação virtual, capaz de reunir diversas pessoas, em diferentes localizações, simultaneamente. “Não que esse tipo de ação seja uma novidade, mas foi muito mais intensificada neste momento de distanciamento social, sendo colocado em prática inclusive por aqueles que eram resistentes a esse tipo de recurso tecnológico e mostrando o quanto essas novas formas de se comunicar podem ser úteis e relevantes”, conclui o especialista em mídias digitais, João Víctor Ortiz.

Todas as lives ficam gravadas e estão disponíveis para acesso, a qualquer momento, aos associados que não puderem acompanhá-las em tempo real.

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Tratamento do paciente que usa a voz profissionalmente. Duas aulas de 20 minutos, divididas entre uma apresentação sobre Voz Falada e outra sobre Voz Cantada.

“Situação ético profissional durante a pandemia da COVID-19”. Aula contou com um time de profissionais de grande prestígio na ORL brasileira, além de um time da área jurídica para debater e tirar todas as suas dúvidas.

Superlive Internacional: mentes brilhantes da ORL mundial, contou com palestra do Dr. Richard Harvey, grande expert de reconhecimento internacional em cirurgia e pesquisa na área de Rinologia.

Discussão de casos práticos do dia a dia no consultório sobre a tosse (Rinite Alérgica, Rinossinusite, Refluxo faringo-laríngeo). Ação contou com a orientação de grandes especialistas sobre as técnicas básicas e os principais truques sobre o tema.

Como diminuir a chance de sangramento pós-septo e turbinectomia? Como não deixar o septo entortar novamente? Por que reoperar a turbinectomia após dois anos? Essas e outras dúvidas foram respondidas em aulas práticas, seguidas por um debate sobre: Septoplastia e Turbinectomia.

Live sobre microcirurgia de laringe, suas técnicas básicas, os truques dos grandes especialistas e o que todo otorrino precisa saber a respeito: os cuidados pré e pós-operatórios, como obter uma boa exposição e realizar técnicas eficientes nos transoperatório.

Em pauta: “Controlando a Otite Média Aguda recorrente”, discussão sobre evidências e experiências a respeito do tema com uma aula de 20 minutos, seguida por um debate com os convidados e resposta às perguntas dos participantes.

Perda de audição em crianças up-to-date: mostrando o que todo otorrino precisa saber sobre suspeita, diagnóstico e tratamento da surdez. Uma aula direto ao ponto sobre o tema, seguida de um debate com um grande time de speakers.

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EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADAEsta seção é de inteira responsabilidade

do Comitê de Educação Médica Continuada da ABORL-CCF

Quando a cirurgia de Avanço Maxilo-Mandibular

é a primeira opção para o tratamento da SAHOS?

Dr. Diderot Rodrigues ParreiraOtorrinolaringologista e Cirurgião Crânio Maxilo-Facial com Prática restrita a Cirurgia Plástica e Reconstrutora da Face

Muitos pacientes chegam ao meu consultório em um misto de necessidade e curiosidade quando o assunto é cirurgia esquelética para

tratamento da SAHOS. A necessidade é de buscar um tratamento que melhore a qualidade de vida do paciente e, consequentemente, de seu companheiro. Já a curiosi-dade diz respeito em saber mais sobre a tal cirurgia que “quebra os ossos do rosto e os coloca para frente”.

Nesse universo dos roncadores e apneicos, há aqueles que já estão calejados por terem sido tratados através de modalidades cirúrgicas e clínicas diversas, porém sem ainda terem o resultado esperado de “dormir bem” e "acordar melhor ainda”. Mas, hoje, comentaremos especificamente sobre aqueles pacientes sem tratamento prévio que chegam e têm a cirurgia esquelética como primeira opção de tratamento.

Dentre estes pacientes, o que apresenta deformidade dentofacial associada a SAHOS é aquele a quem mais está indicado o procedimento esquelético. Neste aspecto, incluem-se pacientes com alteração da oclusão dos tipos 2 e 3.

Discutindo ainda sobre oclusão, os pacientes que são classe 1 com ou sem birretrusão (hipoplasia

de maxila e mandíbula) também são candidatos à cirurgia esquelética. Nestes casos, com mínima intervenção ortodôntica (colagem passiva de aparelho), faz-se o avanço bimaxilar com rotação anti-horária para maximizar resultados de abertura na via aérea.

Aquele paciente que, no exame de sonoendoscopia, apresenta completo colapso concêntrico do palato mole e também da parede lateral faríngea é grande beneficiário da cirurgia esquelética, pois esta agirá estabilizando a musculatura do tensor do véu palatino, palatoglosso e palatofaríngeo.

Por fim, os pacientes que no exame de polissonografia apresentem IAH acima de 30, com dessaturação severa, têm o avanço maxilo-mandibular como primeira escolha cirúrgica no tratamento de SAHOS.

Assim, é sempre importante considerar que o algoritmo de indicação cirúrgica precisa ser o mais específico para o tratamento do paciente à sua frente. E que a decisão final sobre qualquer tipo de tratamento será do paciente, embasado nas informações adequadas sobre os tratamentos disponíveis repassados pelo médico que o assiste.

REFERÊNCIAS1. Liu SY, Riley RW, Pogrel A, Guilleminault C. Sleep Surgery in the Era of Precision Medicine. Atlas Oral Maxillofacial Surg Clin N Am 27 (2019) 1–5 1061-3315/19/a 2018.

2. Holty JE, Guilleminault C. Maxillomandibular advancement for the treatment of obstructive sleep apnea: a systematic review and meta-analysis. Sleep Med Rev 2010;14(5):287e97.

3. Liu SY, Huon LK, Iwasaki T, et al. Efficacy of maxillomandibular advancement examined with drug-induced sleep endoscopy and computational fluid dynamics airflow modeling. Otolaryngol Head Neck Surg 2016;154(1):189e95.

4. Liu SY, Huon LK, Powell NB, et al. Lateral pharyngeal wall tension after maxillomandibular advancement for obstructive sleep apnea is a marker for surgical success: observations from drug-induced sleep endoscopy. J Oral Maxillofac Surg 2015;73(8):1575e82.

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Como o tipo da resposta inflamatória pode direcionar o tratamento da Rinossinusite Crônica?

Wilma T. Anselmo LimaProfessora Titular do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da FMRP-USP

Edwin Tamashiro e Fabiana C. P. ValeraProfessores Associados do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da FMRP-USP

A ampla variabilidade de apresentação clínica e histomolecular das rinossinusites crônicas tem gerado necessidade de subclassificações,

baseadas em características clínicas observáveis (fenótipo) ou em aspectos histológicos ou moleculares (endótipo) semelhantes.

Nas RSC primárias ou idiopáticas, a endo-fenotipagem tem a finalidade de identificar mais precisamente subtipos da doença que apresentam mecanismos moleculares semelhantes, favorecendo a predição de respostas ao tratamento, minimizando terapias incompletas e evitando efeitos colaterais desnecessários.2

Dentre as características endotípicas, a determinação da predominância de resposta inflamatória do tipo 2 (como eosinofilia tecidual ≥ 10 eosinófilos/campo de maior aumento, eosinofilia séria ≥ 250 células/µL, IgE total ≥ 100) é de fácil execução na prática atual e pode auxiliar na melhor escolha terapêutica. Geralmente, as RSC com predominância do endótipo do tipo 2 são as que se apresentam fenotipicamente com asma, alergias (como na síndrome atópica do compartimento central), presença de pólipos nasais e nas formas fúngicas alérgicas, e respondem melhor às terapias

com corticosteroides em relação às formas não tipo-2.3 Além disso, a confirmação de inflamação do tipo 2 em casos graves e refratários a tratamento clínico-cirúrgico é um dos critérios para a indicação da utilização de imunobiológicos direcionados a mediadores do tipo 2 em RSC.4

Outras apresentações de RSC, como aquelas com predominância de inflamação do tipo 1 (como elevado número de neutrófilos, baixa densidade de eosinófilos teciduais e níveis séricos de IgE total < 100) ou tipo 3 (IL-17 e IL-22 elevados), geralmente não apresentam associação com asma e são menos comuns nos pólipos nasais em pacientes caucasianos (20% casos). Em pacientes com predominância de inflamação do tipo 1, por exemplo, parecem responder melhor a macrolídeos prolongados em baixas doses,5 embora ainda necessite de comprovação com ensaios clínicos maiores.

O próximo desafio na endo-fenotipagem na RSC será identificar características clínicas ou biomarcadores moleculares que sejam específicos para cada subtipo da doença, de fácil execução, e que possam direcionar os melhores tratamentos individualizados e mais precisos a cada paciente.

REFERÊNCIAS1. Whitney W et al. Chronic Rhinosinusitis pathogenesis. J Allergy Clin Immunol;136(6):1442-1453.

2. Heffler et al. Treatable traits in CRSwNP. Curr Opin Allergy Clin Immunol 2019; 19: 373-378.

3. Fokkens et al. European Position Paper on Rhinosinusitis and Nasal Polyps 2020. Rhinology 58 (Suppl S29): 1-464.

4. Fokkens et al. EUFOREA consensus on biologics for CRSwNP with or without asthma. Allergy 2019; 74:2312-9.

5. Cervin et al. Efficacy and safety of long-term antibiotics (macrolides) for the treatment of chronic rhinosinusitis. Curr Allergy Asthma Rep 2014; 14(3): 416.

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GRANDES NOMES DA OTORRINO

Renato Gutierrez I Fotos: Arquivo Pessoal

Paulo Augusto de Lima Pontes obteve graduação na Escola Paulista de Medicina em 1966. Realizou residência médica em Cirurgia

Otorrinolaringologia no Hospital São Paulo, estágio em Cirurgia de Cabeça e Pescoço no Hospital do Câncer AC Camargo e estágio em Microcirurgia da Laringe na Universidade da Califórnia – Los Angeles (UCLA) nos Estados Unidos.

Oriundo da cirurgia geral e, portanto, com treinamento em cirurgias de grande porte, decidiu se dedicar à laringologia, um ponto de convergência entre a ORL e a Cirurgia de Cabeça e Pescoço. “Completei minha formação nesta especialidade no Hospital de Câncer de São Paulo e, em Laringologia, na Universidade da Califórnia, com foco na microcirurgia. Assim, pude trazer ao Brasil novas técnicas de cirurgia com o uso do microscópio. Paralelamente, tive de aprofundar meus conhecimentos na Ciência da Voz, que resultou na introdução no Brasil do uso do Laboratório de Voz para diagnóstico e tratamento de seus distúrbios, bem como para o ensino”, conta.

Médico voluntário na disciplina de ORL da Escola Paulista de Medicina até 1972, construiu a carreira como instrutor de ensino, Professor Assistente, Professor Adjunto e Professor Titular, ministrando aulas no Programa de ORL da grade curricular do Curso Médico da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). “Participei intensamente do programa da Residência

Paulo Augustode Lima Pontes

M é d i c a , com destaque na orientação aos médicos residentes em Cirurgias Otorrinolaringológicas e em Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Fui professor orientador no programa de pós-graduação em ORL e CCP e no programa do Distúrbio da Comunicação Humana, ambas da UNIFESP”, descreve.

Dentre as muitas atividades exercidas, foi também Diretor Acadêmico do Campus São Paulo da UNIFESP, por eleição direta. “Mediante tratativas nas esferas governamentais, incorporei ao patrimônio da instituição áreas físicas que possibilitaram a construção do Edifício do Hemocentro de São Paulo e do Hospital Universitário II. Ao me retirar da diretoria do Campus São Paulo, em 2013, deixei área desapropriada para a construção do Hospital da Criança e do Adolescente, além da Incorporação de área de 150 mil m² na zona leste para a expansão do Campus”, destaca.

Além da intensa atuação na UNIFESP, Paulo Pontes organizou e ministrou estágios em microcirurgia da laringe para 23 especialistas estrangeiros em sua clínica privada, o Instituto da Laringe de São Paulo (INLAR). “Também exerci atividades assistenciais, com destaque nas funções de médico voluntário das equipes de assistência às populações do Vale do Alto Araguaia e dos Índios do Parque Nacional do Xingu”, revela.

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Presidiu, ainda, a Sociedade Brasileira de Laringologia e Voz, a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), a Internacional Association of Phonosurgery (IAP) e a International Federation of Orhynolaryngological Societies (IFOS).

Sob sua ótica, Paulo Pontes relembra as evoluções mais significativas registradas na especialidade. “Quando iniciei minhas atividades profissionais vivíamos o grande avanço na otologia, com destaque na área cirúrgica, decorrente da introdução do microscópio alguns anos antes. A otoneurologia também estava em franca ascensão, com novos conceitos e métodos de avaliação e terapia. Outro marco significativo foi o incentivo e a apresentação de novas técnicas na realização de cirurgias parciais da laringe nos casos de câncer. Sucedendo os avanços da laringologia, a rinologia teve sua vez, e nesta supra especialidade os especialistas brasileiros tiveram expressivo papel a nível mundial”, relata.

Quando questionado sobre as principais novidades que deveremos testemunhar nos próximos anos, o Professor aponta que a inteligência artificial, a base

Alguns números de destaque ao longo da carreira:

• Teve 68 artigos publicados como autor;• Outros 259 como colaborador em periódicos

especializados;• 5 livros publicados;• 58 capítulos;• 2.477 citações na base de dados do Google

Acadêmica;• Orientando em 37 dissertações de mestrado

e em 29 teses de doutorado;• Participação em 512 eventos e congressos

médicos;• Palestrante em 72 encontros no exterior e

263 realizados no Brasil.

Principais homenagens recebidas:• Prêmio Jorge Marsillac pela Sociedade

Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço;• Membro Honorário do Movimento

Dignidade Médica;• Presidente de Honra do Congresso Português

de ORL;

de dados, a nanotecnologia e a robótica, dentre outras, trarão mudanças ou troca de paradigmas. “Acredito que isso ocorrerá tanto nos diagnósticos quanto nos tratamentos e, em especial, na assistência. Ainda assim, é muito difícil fazer previsões diante da estrondosa evolução por que passa a ciência. Quanto à otorrinolaringologia, como a especialidade que mais interage com as demais, será uma das primeiras a ser afetada, direta ou indiretamente. Tenho a esperança de que os possíveis avanços se façam com a preservação da relação médico-paciente, recuperando e preservando a liberdade de escolha e a liberdade de decisão, tudo em consonância com os valores éticos e morais de ambos”, prevê.

Atualmente, Paulo Pontes se dedica ao estudo da aquisição e desenvolvimento da linguagem, com foco no papel da laringe e de suas variações na comunicação humana. “Tenho como objetivo deixar uma contribuição para esta área do conhecimento também”, finaliza o Professor.

• Membro Honorário da Fundacion Mexicana de la Voz;

• Professor homenageado pela Associação Centro-Brasileira de ORL;

• Menção honrosa pela Federação das Sociedades de Biologia Experimental;

• Membro Honorário da Sociedade Portuguesa de ORLCCF;

• Mérito Científico pela Revista Arquivos Internacionais de ORL;

• Prêmio Líder Saúde do Grupo Empresarial LIDE SAÚDE;

• Médico Honorário da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira;

• Medalha de Ouro concedida pela Internacional Federation of Otrhinolaryngological Societies;

• Homenageado com a criação do Prêmio anual “Paulo Pontes” para os melhores trabalhos científicos sobre Laringologia e Voz apresentados à The Voice Foundation /capítulo brasileiro (desde 2017).

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HumORL

A história a seguir se passa no ambulatório da Zona 19 do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Estava eu em atendimento, junto aos

alunos, quando entrou um paciente vindo do interior do Estado, com todo o aspecto de origem alemã e que se chamava Orlando Jesus.

Possuía as características clássicas de quem tinha algum tumor de laringe: voz rouca típica, bigodinho fino (à la Wilson Grey – para quem lembra) e uma filha bonita. Não sei o porquê, mas naquela época, comentávamos que todo paciente com neoplasias da cabeça e pescoço vinha acompanhado de uma filha "de fechar o comércio"...

Como eu estava na presença dos alunos, decidi "dirigir" a anamnese, uma vez que, só pelo 'bom dia' dele, e pelo seu aspecto geral, já havia feito uma hipótese diagnóstica (confirmada posteriormente) de um caso típico de câncer de laringe.

Assim, a fim de demonstrar meu vasto conhecimento em propedêutica médica, nem lhe concedi a palavra, passando a realizar uma anamnese dirigida. Inicialmente, perguntei há quanto tempo estava rouco. A seguir, questionei se estava com alguma dificuldade para engolir (já que é sabido que, dependendo do tipo e tamanho da lesão, poderia ocasionar danos à dinâmica da deglutição) e, diante da sua resposta afirmativa, emendei se o fôlego dele estava começando a diminuir. Nesse exato momento, a beldade intercedeu e me questionou:

- Mas doutor, o senhor conhece o Jesus?Como um católico semi-praticante pensei que

nossa conversa pudesse estar enveredando para um uma discussão de dogmas ou fé! Recomposto, retruquei:

- Conheço sim, mas não este aí!- Então, como é que o senhor sabe tudo da vida dele?

Contestou, com surpresa, a bela filha.Olhei para meus alunos, lancei uma olhar cínico,

oblíquo e dissimulado (a la Capitu!), e, ignorando a pergunta, prossegui fazendo os questionamentos necessários, como sobre quantos cigarros e por quanto tempo ele fumava?

Aula prática de semiologia

Tem uma história que queira compartilhar?

Envie para [email protected]

- É, eu fumo, não sei quantos maços por dia, mas bastante.

Na sequência fiz outra observação: pois é, fumas muito e és canhoto (devido às pontas dos dedos médio e indicador da mão esquerda amareladas pela fumaça e nicotina). No que ele me respondeu:

- Não, eu sou destro (deve ter dito sou direito, mas deixa assim...)

- Então tu és motorista de caminhão?E dessa vez acertei!Orgulhoso com meu desempenho até então, preparei

com cuidado e disparei a pergunta que completava o seu perfil e concluía com louvor meu caso:

- E álcool, Jesus, quanto tu bebes de álcool?- Não, álcool não, Doutor! Respondeu com sincera e

verossímil contundência. Aquela resposta me atingiu como um raio! Entre

surpreso e confuso, fiquei pensando que aquela enfática negativa simplesmente arruinava o "gran-finale da minha apresentação teatral"!

Ficamos andando pelo corredor, de um lado para o outro, até que ele se achegou mais próximo e me disse, baixinho:

-Olha Doutor, eu vou ser bem sincero com o senhor, álcool mesmo, eu só tomo quando acaba a cachaça!

Pronto! Estava resgatada a minha lição de semiologia. Não na plenitude, entretanto, pois me lembrei de uma célebre frase do poeta Willian Butler Yeats, muito apropriada para a ocasião, e que certeira, pontuava a minha única e maiúscula falha.

Dizia ele: PENSE COMO UM SÁBIO, DOUTOR, MAS COMUNIQUE-SE, SEMPRE, NA LÍNGUA DO POVO!

Por Dr. Sady Selaimen da Costa

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