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Trabalho Submetido para Avaliação - 09/05/2012 20:41:23

O ABSOLUTISMO E A REFORMA LUTERANA NA PERSPECTIVA DE QUENTIN

SKINNER MARCO AURELIO DA SILVA ([email protected]) / Mestrando em Ciências Sociais/UFSM,

Santa Maria/RS

ARISTEIA MARIANE KAYSER ([email protected]) / Especialização em Gestão da

Organização Pública da Saúde/UFSM, Santa Maria/RS

ORIENTADOR: DEJALMA CREMONESE ([email protected]) / Doutor em Ciência Política/UFRGS

e Professor da UFSM, Santa Maria

Palavras-Chave:

Reforma Protestante, Política, Governo

INTRODUÇÃO

Lutero monge Agostiniano é um reformador religioso e grande mentor intelectual da reforma protestante. A

teoria de Lutero não abarca apenas aspectos teológicos, mas também questões sócias, políticas e

lingüísticas. Lutero era orador nato, grande articulador das palavras. A proposta de Reforma Protestante,

inicia no século XVI no âmbito de ordem religiosa, mas ultrapassa esta perspectiva influenciando

pensamentos políticos e a própria sociedade

Um dos maiores embate de Lutero era referente à relação Igreja e Estado. Nesta perspectiva encontramos

os escritos: Manifesto à Nobreza Cristã da Nação Alemã, de 1520; Da Autoridade Secular, até que ponto se

lhe deve obediência, 1523. Os quais estruturam claramente o pensamento político e social de Lutero. O

mesmo propõe uma reflexão sobre 95 questões as quais estariam sujeitas a reforma entre estas estariam à

erradicação da mendicância, acordos de paz com a Boêmia.

Lutero usa do Antigo testamento o texto bíblico de Eclesiastes Cap, 3 para dar início a um novo modo de se

pensar a Igreja. Pois para o Reformador há uma necessidade emergente em reformar a Instituição “Igreja” no

sentido político dando maior ênfase nas questões sociais e é neste sentido que Lutero usa a palavra

Estamento.

Nesta perspectiva Lutero se posiciona de forma frontal para atacar os três pilares que estruturam a

autoridade da Igreja. São eles: o direito da igreja sobre o poder secular, o direito de exclusividade sobre a

interpretação das Escrituras Sagradas e a prerrogativa de que apenas o papa poderia convocar um concílio.

Com o ataque de Lutero a jurisdiciais da igreja, abre um precedente na história da Igreja, pois passa a

defender as autoridades seculares. (Skinner. 1996, p.296-297).

A teologia Luterana abarca questões de ordem política chegando a influenciar as monarquias absolutistas e

direcionar seu pensamento social. “A etapa final e realmente decisiva na evolução do luteranismo como

ideologia política se alcançou quando as autoridades seculares, que de início apenas roçavam a heresia,

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passaram a exigir dos súditos a aceitação de suas novas ordenações quanto à Igreja” (Skinner. 1996, p.

370). Ex.: É o combate ao poder eclesial e a autoridade da Igreja com finalidade de regular as ações

humanas, ou seja, assuntos temporais. Na verdade o poder eclesial esta estruturado no entendimento

medieval onde o papa é detentor do entendimento da vida secular tanto quanto espiritual. O papo poderia

determinar sobre questões de competência secular ao imperador. No entendimento de Bonifácio a

autoridade temporal quanto a espiritual ambas residem na igreja. Portanto; O poder do papa pode depor

governos conforme seu interesse. Reflexão sobre Na Bula Unam Sanctam (1302) de Bonifácio VIII.

As palavras do Evangelho nos ensinam: esta potência comporta duas espadas, todas as duas estão em

poder da Igreja: a espada espiritual e a espada temporal. Mas esta última deve ser usada para a Igreja

enquanto que a primeira deve ser usada pela Igreja. O espiritual deve ser manuseado pela mão do padre; o

temporal, pela mão dos reis e cavaleiros, com o consenso e segundo a vontade do padre. Uma espada deve

estar subordinada à outra espada; a autoridade temporal deve ser submissa à autoridade espiritual.

Segundo Skinner a fundamentação de Lutero a respeito do direito e a espada secular estão pautadas em

Rm. 13:1-2 “vontade e ordenação de Deus” (Skinner. Op. Cit. P. 297.)

De forma alguma deve-se permitir a diabólica arrogância de que o imperador beije os pés do papa ou se

assente aos seus pés ou, como se diz, lhe segure o estribo e o cabresto da mula ao montar, muito menos

ainda deve ele jurar obediência e fiel sujeição ao papa, conforme o têm exigido descaradamente os papas,

como se tivessem direito a isso. (...) Não cabe ao papa elevar-se acima do poder secular se não em funções

espirituais como pregar e absorver . (LUTERO, Martinho. À Nobreza Cristã da Nação Alemã, acerca da

Melhoria do Estamento Cristão, 1520 . In: Martinho Lutero Obras Selecionadas. Trad. Ilson Kayser. São

Leopoldo: Sinodal, 1995. p. 305).

Lutero usa de forma ilustrativa “A doutrina dos dois reinos” com finalidade de explicitar as funções do

governo temporal e governo esperitual. Lutero não nega que Deus estabeleceu os dois reinos os quais estão

sobre o governo de Deus.

O reino da mão esquerda não devia intrometer-se nos negócios da igreja. Sua função específica era fornecer

justiça, ordem e tranqüilidade à sociedade. [...] Não devemos confundir a distinção de Lutero entre os dois

reinos com a separação moderna entre igreja e Estado. Para Lutero, os dois reinos pressupunham e

reforçavam um ao outro [...] (GEORGE, 1993, p.100).

Aqui se encontra a grande problemática pois, um é conduzido pela lei civil, enquanto o outro pela Igreja.

Dentro desta perspectiva é evidente a função do governo civil o qual, visa a limitar todas as consequências

ocasionadas pelo pecado. Para Lutero as ações do governo temporal são ações temporais.

Visto que são poucos os crentes e somente a minoria age como cristãos, não resistindo ao mal, ou até

fazendo ele próprio o mal, Deus criou para esses, ao lado do estado cristão e do reino de Deus, outro regime

(regiment) e os submeteu à espada, a fim de que, ainda que o queiram, não possam praticar sua maldade e,

caso a pratiquem, não o possam fazer sem temor e em paz e felicidade. ( Martinho Lutero. Da autoridade

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Secular. 1524).

A teologia de pecado escrita por Lutero esta associada a uma ética política é por isto que não se

aceita uma natureza corrompida.

Visto que todo mundo é mau e entre mil é difícil encontrar um único verdadeiro cristão, um devoraria o outro,

de maneira que ninguém estaria em condições de ter mulher e filhos, trabalhar pelo sustento e servir a Deus,

o mundo seria devastado. Por isso Deus instituiu os dois domínios, o espiritual que cria cristãos e pessoas

justas através do Espírito Santo, e o temporal que combate os acristãos e maus, para que mantenham paz

externa e tenham que ser cordatos contra a sua vontade. (Martinho Lutero. Da autoridade Secular. 1524)

Enquanto que o poder papal se restringe na função de “inculcar o verbo divino” (Skinner. 1996, p. 297).

Todo homem deve se submeter ao poder do governo civil, seja este Papa, Bispos, padres. O homem é livre

para seguir sua consciência em matéria de fé, mas caso seja necessário ele deverá abdicar do mal e

suportá-lo. Enquanto que o governo espiritual dev se restringuir na pregação do evangelho.

Que não cuidem senão das questões de fé e bons costumes, deixando para os juízes seculares aquelas que

tangem a dinheiro, bens matérias e corpo ou honra. Por isso o poder secular não deve permitir a

excomunhão e processos em casos que não se referem à fé ou vida correta. O poder espiritual deve reger os

bens espirituais, tal como o ensina a razão. Bens espirituais, entretanto, não são dinheiro nem coisas

materiais, mas fé e boas obras. (Martinho Lutero. À Nobreza Cristã da Nação Alemã, 1520. p. 302.)

Na concepção de (Skinner. 1996, p. 303) ha um estreito ligamento entre a teologia luterana e seu

pensamento político os quais estavam embasados em pensamento tardio medieval. Logo houve uma

diseminação da proposta de Lutero a qual foi amplamente aceita por movimentos, simpatizantes pois o

consideravam um verdadeiro arauto da liberdade de pensamento.

[...] as doutrinas políticas de Lutero, e as premissas teológicas em que elas se fundavam, estavam filiadas de

bastante perto a numerosas tradições bem arraigadas do pensamento medieval tardio. Tão logo Lutero

vozeou seu protesto, os expoentes dessas tradições tenderam a ser arrastados pelo amplo movimento de

reforma religiosa, reforçando-o com sua presença e concorrendo para garantir que a mensagem luterana

fosse, primeiro, ouvida e analisada com certa simpatia, e assim pudesse adquirir uma influência imediata e

bem difundida (SKINNER, 1996, p. 303).

No entanto um grande conservador no que tange seu pensdamento politico o qual estava ligado aos

interesses econômicos e políticos. (Skinner. 1996, p. 303).

CONCLUSÃO

O pensamento de Lutero contribuiu para uma clara demarcação entre Igreja e Estado no âmbito de suas

funções legais.

A proposta de Lutero não pode ser vista como uma secularização radical, pois esta secularização só

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pode ser pensada a partir de uma perspectiva iluminista e esta não era a proposta de Lutero. Para Skinner o

pensamento político de Lutero influenciou o absolutismo posterior. É nesta perspectiva que o pensamento

político moderno se fundamenta.

REFERÊNCIAS:

GEORGE, Timothy. ; Ansiando pela graça: Martinho Lutero. In: ______Teologia dos Reformadores. ; São

Paulo; Vida Nova; 1993.

LUTERO, Martinho; Obras Selecionadas. Trad. Ilson Kayser; São Leopoldo; Sinodal; 1995.

SKINNER, Quentin; AS FUNDAÇÕES DO PENSAMENTO POLÍTICO MODERNO ; São Paulo; Companhia

das Letras. ; 1996.