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A revista da Associação Portuguesa dos Nutricionistas

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Page 1: Nutrícias nº1
Page 2: Nutrícias nº1

Página 2Editorial

Página 4Perfil

Página 6Especialidades

Página 24Cientificidades

Page 3: Nutrícias nº1

Editorial

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Editorial

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Ser Nutricionista já ultrapassou há muito o

propósito inicial da realização de tarefas de ori-

entação e vigilância da alimentação racional,

normal e dietética, da população em geral e em

instituições, como factor básico de promoção da

saúde e prevenção da doença.

Vinte e cinco anos passados, os Nutricionistas,

apesar de aceitavelmente bem inseridos no

Sistema de Saúde, consideram que há ainda

objectivos para concretizar, metas para atingir,

horizontes para alargar.

Aliás, procuram a cada dia diversificar com-

petências, difundindo as suas vocações no mer-

cado de trabalho, e é possível vê-los com grande

determinação a dar já os primeiros passos em

Autarquias e em Direcções Regionais de Educa-

ção, perspectivando-se ainda algum desenvolvi-

mento ao nível da segurança alimentar pela

recente criação da Agência para a Qualidade e

Segurança Alimentar.

Com todos os desafios que se levantam na actual-

idade, fica pois perfeitamente justificada a ini-

ciativa da Associação Portuguesa dos

Nutricionistas de editar esta revista.

De facto, com esta pretensão procura-se uma

maior proximidade entre os profissionais de

Nutrição e todas as instituições com actividade

relevante nesta área, esperando-se que, com o

empenho e colaboração de todos, seja possível

tornar a Revista numa referência relativamente

aos objectivos e motivações dos profissionais que

representamos.

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Perfil

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Perfil

Uma questão de metodologia

Alexandra Bento transporta para as suas actividades asua maneira de estar na vida.As normas desta forma de viver passam principalmen-te pelo estabelecimento de relações próximas e francascom todos aqueles que fazem parte do seu universo.Tem 31 anos e é a actual Presidente da Direcção daAssociação Portuguesa dos Nutricionistas.

Família, profissão e associação são as três paixões àsquais Alexandra Bento, Presidente da Direcção daAssociação Portuguesa dos Nutricionistas, dedica o seudia-a-dia, e das quais é incapaz de prescindir.A família, os dois filhos e o marido, permitem-lheobter o equilíbrio para todas as actividades, ocupan-do-lhe por inteiro o coração e grande parte do tempo.A profissão completa de forma salutar o seu dia-a-dia,transportando para ela a sua forma de estar na vida,que passa por cimentar boas relações pessoais e rela-cionar-se de forma franca e amigável com as pessoas.A associação possibilita-lhe contribuir para o bomfuncionamento e engrandecimento da classe.Natural de Vila Real, passou a sua infância e ado-lescência em Amarante. De Amarante, mudou-se paraa cidade Invicta, onde se licenciou em Ciências deNutrição pela Universidade do Porto, em 1993, tendo-se desde logo dedicado a uma carreira ligada à saúde,exercendo actualmente a sua actividade profissionalcomo Nutricionista no Hospital de S. Gonçalo.Como diz foi o "espírito inconformista em relação àslacunas existentes na sua associação profissional" quea levou em 1998 a candidatar-se aos corpos sociais daAssociação Portuguesa dos Nutricionistas comoPresidente da Direcção, cargo que mantém, estandoempenhada e motivada a dar a sua contribuição paraa melhoria da nutrição em Portugal e para a afirmaçãoda profissão de Nutricionista e da AssociaçãoPortuguesa dos Nutricionistas como uma instituiçãomuito importante para a Nutrição.O prestígio alcançado por esta organização e o enri-quecimento que proporciona aos seus associados levaAlexandra Bento a aconselhar a inscrição de todos osjovens Nutricionistas na Associação.

Considera que a Associação Portuguesa dos Nutricio-nistas tem por objectivo, para além de defender osinteresses profissionais dos seus associados, clarificaros campos de actuação dos Nutricionistas, licenciadospela Faculdade de Ciências de Nutrição e Alimentaçãoda Universidade do Porto, "única Faculdade do nossopaís a licenciar Nutricionistas", esclarece AlexandraBento.Dentro dos campos de actuação dos Nutricionistas,Alexandra Bento destaca a Nutrição clínica, aRestauração colectiva, a Indústria alimentar, aInvestigação científica.No virar de um novo milénio, Alexandra Bento refereconsiderar que "a profissão de Nutricionista será umadas profissões com maior impacto neste novo milénioface aos modernos estilos de vida e a todas as questõesrelacionadas com o equilíbrio, a qualidade e segu-rança alimentar".

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Alexandra Bento

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Especialidades

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Especialidades

Os Nutricionistas e a Política Alimentar Nacional

Resumo

Neste trabalho, o autor apresenta a evolução das pre-ocupações da Comunidade Europeia com a alimen-tação ao longo dos últimos anos. Discute-se o actualpanorama alimentar e os maiores obstáculos à imple-mentação de uma Política Alimentar Europeia.Enquadra-se Portugal numa situação privilegiada faceao contexto Europeu, pela sua situação alimentar e derecursos humanos.

Introdução

Com a presidência Francesa, marcou-se definitiva-mente o interesse da União Europeia na criação demedidas políticas capazes de melhorar o estado nutri-cional dos cidadãos europeus. Portugal, devido aosseus padrões de consumo alimentar e à presença derecursos técnicos especializados, pode, neste contex-to, ter uma palavra a dizer.

Política Nutricional e Alimentar no contexto Europeu – Evolução histórica

Desde a assinatura do Tratado de Roma em 1957 até aoTratado de Maastrich em 1993, a Comunidade Europeiapouco se interessou pelas questões da saúde pública,preocupando-se inicialmente com questões económi-cas. A questão alimentar sempre foi subordinada àsquestões da produção, onde a Política AgrícolaComum (PAC) dominou e domina ainda as atenções.No início a Comunidade estava interessada em formarum grupo de economias coesas e capazes de cooperarentre elas. Em 1990, dão-se os primeiros passos do sen-tido da melhoria efectiva da situação nutricional nosEstados membros através Resolução do Conselho e dosrepresentantes dos governos dos Estados-membros,reunidos em 3 de Dezembro de 1990, relativa a umprograma de acção sobre a alimentação e a saúde.Nessa resolução a Comissão era convidada a apresen-tar uma proposta que previsse a organização e a pro-moção de um programa de manifestações e de activi-dades, nomeadamente, um "Ano Europeu daAlimentação". Entre estas actividades incluiam-se: 1)

acções gerais de sensibilização, do tipo programas deinformação através da televisão, rádio e imprensa eainda através de conferências e distribuição de materialdidáctico e de divulgação ou entrega de prémios; 2)projectos-piloto sobre as condições nutricionais de gru-pos seleccionados de populações de risco, bem como daqualidade nutricional dos alimentos; 3) inquéritos eestudos sobre os factores que orientam as escolhas doconsumidor em matéria de alimentação e o efeito dosalimentos sobre o equilíbrio metabólico, as consequên-cias da evolução dos hábitos alimentares, as consequên-cias da rápida evolução dos métodos de fabrico, de con-servação e de distribuição dos alimentos, a formulaçãodas mensagens destinadas ao consumidor e os estudossobre os comportamentos alimentares nas diferentesregiões da Comunidade; e, 4) actividades do comitécientífico da alimentação humana. Estas acções foram apenas timidamente implementa-das, tanto que as conclusões do Conselho e dos Minis-tros de Saúde dos Estados membros reunidos emConselho, de 15 de Maio de 1992, relativas à alimen-tação e à saúde (Jornal Oficial C 148 de 12.06.1992),convidavam a Comissão a prosseguir a sua reflexão e areafirmar a importância de uma acção comunitárianeste domínio. Só com a assinatura do Tratado deMaastrich se inicia o primeiro Quadro de Acção naSaúde Pública com 5 programas específicos de inter-venção nas áreas do Cancro, Sida, Toxicodependência,Promoção da Saúde e Monitorização do Estado deSaúde das Populações. Na sua comunicação relativa aum quadro de acção no domínio da saúde pública[COM(93) 559 final de 24.11.1993], a Comissão descre-veu os problemas no domínio da saúde com que seconfrontam os Estados-membros, tendo explicado omodo como tencionava pôr em prática as disposiçõesdo Tratado. A sua abordagem baseava-se na aplicaçãode dois tipos de acção: acções horizontais relativasnomeadamente à promoção e à vigilância da saúde:programa comunitário de promoção, de informação,de educação e de formação em matéria de saúde eprogramas plurianuais globais relativos a um certonúmero de domínios prioritários: cancro, toxicode-pendência, SIDA e outras doenças transmissíveis.

6 7

Pedro Graça

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Neste contexto, surgiram diversos projectos Europeuscom o objectivo de melhor conhecer e influenciar osestilos de vida, nomeadamente a ingestão de alimen-tos. São estruturados vários sistemas de avaliação dasituação, como os projectos "EPIC – EuropeanProspective Study into Cancer and Nutrition", "Pan-European Survey on Attitudes to Food and Health","The Sate of Health in the European Union in 2000", e oData Food Networking III". Concomitantemente é dina-mizada a formação a nível Europeu de técnicos capazesde darem resposta a problemas de âmbito nutricionalcom a constituição de programas de pós-graduaçãocomo o "European Nutrition Leadership Programme"ou o "European Masters Programme in Public HealthNutrition". Em 1996, iniciou-se o 3º plano da "Europacontra o Cancro" que enfatizava a mudança de hábitosalimentares, através do aumento do consumo de frutose hortícolas, da diminuição da ingestão de gordurasaturada e de bebidas alcoólicas.Mais recentemente, a União Europeia (UE) começou aquerer desempenhar um papel ainda mais activo nadefesa da saúde pública dos seus cidadãos. Com arevisão do Tratado de Maastrich em Amsterdão (1998)declara-se no Artigo 152 que " a protecção da saúdedeve ser assegurada na elaboração e implementaçãode todas as políticas e actividades comunitárias". Vai-se ainda mais longe ao admitir que a acção da U.E "deve complementar as políticas nacionais devendo serdireccionada para a melhoria da saúde pública, para aprevenção da doença e eliminação das fontes de peri-go para a saúde humana". Para tal deve-se recorrerentre outras estratégias à "informação e educação" daspopulações. Estes princípios aqui apresentados reflec-tem uma mudança substancial nas orientações da U.Eface à saúde dos seus cidadãos. Em vez de medidas que"contribuam" para a melhoria da saúde pedem-semedidas que "assegurem" a melhoria da saúde. Asmedidas devem ainda "promover a saúde" em vez deapenas prevenir o "aparecimento da doença".

A situação alimentar actual e a necessidadede uma Política Alimentar Comum

Porque razão a U.E começou a dar mais atenção àsquestões da alimentação e da saúde pública nos últi-mos tempos?

Em parte, devido a cinco grandes alterações no siste-ma de produção, comercialização e consumo de ali-mentos. Em primeiro lugar, nos últimos anos deram-segrandes alterações nos métodos de produção alimen-tar, com a introdução da manipulação genética. Estemétodo, ainda não totalmente compreendido, quantoa repercussões na saúde pública, introduziu umacapacidade acrescida de produção para aqueles quedominam esta tecnologia, e, por outro lado, umagrande desconfiança população, que a U.E quer evitar.Em segundo lugar, deu-se uma enorme procura nosalimentos com nutrimentos e outras substâncias adi-cionados industrialmente, em parte devido à publici-dade quanto ao seu efeito benéfico sobre a saúde dosconsumidores. Esta alteração nos padrões de consumode alimentos tende a modificar em pouco tempo opanorama actual das ingestões de nutrimentos nosdiferentes grupos da população. Acresce ainda umapreocupação cada vez maior por parte dos consumi-dores, quanto às relações entre a ingestão alimentar ea saúde, onde podemos dar como exemplo, o aumen-to significativo dos casos de obesidade na UE. Em ter-ceiro lugar, existe neste momento um enorme apelopúblico para a produção de alimentos em regimesmenos intensivos e menos agressivos para o meioambiente. Os consumidores procuram não só alimen-tos com menores custos ambientais, mas também pro-duzidos com menos aditivos e tóxicos. Nalguns casos,como na crise da BSE, as consequências para os pro-dutores e poderes públicos podem ser elevados. Emquarto lugar, a introdução das novas tecnologias deinformação tornaram o consumidor mais informadomas também mais susceptível de ver seu comporta-mento analisado. Esta modificação fragilizou os con-sumidores mais afastados destas tecnologias e aquelesonde as organizações de defesa do consumidor sãomenos efectivas, como é o caso Português. Por último,as alterações recentes nos acordos mundiais de comér-cio, vão permitir uma crescente liberalização do con-sumo alimentar no espaço Europeu. Os países doMediterrâneo com consumos alimentares mais próxi-mos de padrões desejáveis serão, provavelmente, dosmais afectados, pois são aqueles com uma agriculturae sistema de distribuição mais vulnerável e sujeita àmudança.

Especialidades

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Especialidades

Obstáculos à Política Alimentar Comum

Face a estes dados, é natural que a Comissão Europeiatente uma acção política mais concertada para daruma resposta efectiva a esta nova situação. No entan-to, são muitos os obstáculos com que se depara. Entreeles, podemos enumerar a existência de políticas pro-movidas no seio da EU com efeitos desconhecidossobre o estado nutricional das populações. A PAC éuma delas, já muito se tendo escrito sobre o seuimpacte positivo ou negativo sobre o estado nutricio-nal. São necessários estudos mais amplos neste domí-nio ainda desconhecido, até porque o Tratado deMaastrich assim o obriga ao assinalar que "deve serassegurado um nível elevado de protecção da saúdena definição e implementação de todas as políticascomunitárias". Outro obstáculo sério à formulação deuma Política Alimentar Comum é a dispersão de res-ponsabilidades por diferentes corpos nacionais e ainexistência de uma Comissão Científica para aAlimentação forte e coesa no seio da UE. O actualScientific Committee for Food (SCF) é ainda uma estru-tura frágil e por outro lado os diversos corpos nacio-nais responsáveis pela alimentação, são habitualmen-te compostos por diversas identidades, cada uma comuma agenda própria, sendo muitas vezes difícil pro-mover consensos. Linguagens diferentes, objectivosdiferentes e a presença discreta de Nutricionistas noscorpos decisores tornam estas agências nacionaispouco efectivas e muito dependente do poder político.Nos casos de sucesso, como na Noruega, em que desde1974 foi lançada e implementada uma PolíticaAlimentar, a Comissão Científica colocou de ladoburocratas e apostou em cientistas que exprimem deforma independente as suas opiniões, as quais poste-riormente podem ser levadas em conta ou não. A cre-dibilidade das agências nacionais e regionais é aindafundamental para que lhes seja confiada a tarefa defornecer e implementar recomendações alimentares.De facto, sendo a Europa um enorme puzzle de cultu-ras com os seus hábitos e preferências próprias, cadauma adaptada a determinadas especificidadesambientais, sociais e culturais faz todo o sentido queseja confiada a instâncias locais com amplo conheci-mento do terreno a tarefa de criar e implementarorientações de base alimentar que vão de encontro a

linhas de orientação nutricional. Outro obstáculo sérioà existência de uma Política Alimentar Comum é a ine-xistência de um conhecimento aprofundado, regular eminimamente padronizado da ingestão alimentar nosdiversos países da U.E. Sem esta informação é difícilatribuir prioridades de intervenção ou conhecer até aevolução da situação nutricional. Diversas tentativasde avaliar a situação nutricional e alimentar na U.Etêm vindo a ser feitas. Podemos citar, entre outros, oprojecto EUROSCOP – Improvement of Knowledge ofFood Consumption with a view to Protection of PublicHealth by Means of Exchanges and CollaborationBetween Database Managers , o COST 99/EUROFOODS –Inventory of European Food Composition Tables andNutrient Database Systems, o DAFNE – Data FoodNetworking, EURALIM – Europe Alimentation Project eo projecto SENECA – Multi-centre survey of nutritionand health in the elderly. No entanto, estes projectos,estão ainda longe de fornecer a informação regularnecessária à monitorização do estado nutricional dapopulação Europeia. Por outro lado, muitos destesprojectos têm um financiamento de 4 anos o que tornadifícil a avaliação da evolução alimentar que necessi-ta de períodos mais prolongados de observação.

A formulação da Política AlimentarComum e o papel dos Nutricionistas

Do que aqui foi exposto, a Política Alimentar Comumserá uma realidade mais ou menos próxima. Portugaltem condições para participar neste processo de umaforma activa. Possuímos no nosso país, um conjuntode disponibilidades alimentares associada à produçãoagrícola e a tradições gastronómicas e culturais quesão protectoras do ambiente, do emprego, e da saúde.Possuímos um vasto conjunto de licenciados emCiências da Nutrição habilitados para avaliar e com-preender a ingestão alimentar, definir planos de inter-venção e actuar no terreno. Neste aspecto, Portugalencontra-se mesmo em situação privilegiada poisdefiniu há muitos anos, no ensino universitário públi-co, uma clara opção inovadora ao conceber uma licen-ciatura de raiz em Ciências da Nutrição, algo que só sefazia em alguns países do norte da Europa. OsNutricionistas, vocacionados para o trabalho interdis-ciplinar na área das Ciências da Saúde têm formação

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Especialidades

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específica na avaliação da situação nutricional daspopulações, através da sua formação epidemiológica,são capazes de intervir eficazmente, a nível individuale comunitário, possuem condições técnicas para inter-vir em grupos específicos a nível escolar, laboral e ins-titucional, através da formação e da gestão dos ser-viços de alimentação. Possuem ainda uma compre-ensão clara dos fenómenos legislativos nas áreas maiscríticas do actual panorama alimentar como seja arotulagem alimentar/nutricional, géneros alimentíciosdestinados a uma alimentação especial, alimentosfuncionais e fortificação. Mais, possuem já uma visãoampla das políticas comunitárias que se interpene-tram e que poderão vir a condicionar a elaboração defuturas Políticas Alimentares/Nutricionais no contextoEuropeu. Por todos estes motivos a integração de

nutricionistas nas futuras estruturas responsáveis pelaimplementação de Políticas Alimentares será um passonecessário e irá acontecer na maioria dos paísesEuropeus. Espera-se que em Portugal, devido àsituação excepcional de recursos humanos que vive-mos, não se fuja à regra, e até se vá mais longe. Omomento que vivemos actualmente é pois de forteesperança para todos aqueles que têm lutado parauma sociedade mais saudável e mais atenta aos pro-blemas nutricionais.

Pedro GraçaRegente da Disciplina de Política NutricionalFaculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do PortoRua Dr. Roberto Frias, 4200-465 Porto

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Especialidades

Segurança Alimentar: Novos Desafios

A introdução do mercado único obrigou os países queconstituem a Comunidade Europeia à reformulaçãodos seus sistemas de controlo e segurança alimentarde modo a adaptá-los à nova realidade. Esta tarefaacabou por se revelar mais complexa e exigente doque se previa e resultou num sistema de controlo har-monizado mas com carências que se foram tornandoevidentes ao longo do tempo. As crises da BSE e dasdioxinas vieram tornar imperativa uma nova aborda-gem da segurança alimentar, num momento em que aconfiança dos consumidores se encontra muito abala-da. A resposta tenta ser dada usando uma nova meto-dologia em matéria de segurança alimentar, a análisede riscos nas suas 3 componentes: avaliação, gestão ecomunicação dos riscos.

1. Mercado único e segurança alimentar

Com a introdução do mercado único em 1 de Janeiro de1993, alteraram-se profundamente as condições relati-vas ao comércio, controlo e fiscalização dos génerosalimentícios. Desaparecem os controlos efectuados atéesta data nas fronteiras nacionais e, em sua substi-tuição, é implementado um sistema baseado na apli-cação de legislação comunitária, designadamentelegislação vertical (legislação sectorial respeitante,por exemplo, a carnes e produtos cárneos, a leite elacticínios, etc.) conjugada com legislação horizontal(que tenta abranger toda a cadeia alimentar), e emprocedimentos de controlo pré-definidos cujo melhorexemplo é o Regulamento dos Controlos VeterináriosAplicáveis ao Comércio Intracomunitário de Produtosde Origem Animal (1). Este diploma estabelece que osgéneros alimentícios de origem animal só podem sercomercializados desde que tenham sido obtidos, con-trolados, marcados e rotulados de acordo com a regu-lamentação comunitária e sejam acompanhados comdocumentação e marca sanitária adequada. designa-da como “marca de salubridade comunitária” (fig. 1),esta marca é formada por uma oval, no interior daqual existem 3 campos respeitantes ao país de origem,nº de controlo do estabelecimento e uma sigla relativaà UE. A marca de salubridade comunitária deve ser

colocada durante o processo de fabrico ou acondicio-namento do produto, em estabelecimento autorizadoe de forma claramente visível, legível e indelével.Este sistema obriga também a um registo oficial deoperadores, à realização de avisos prévios de chegadade produtos de origem animal provenientes de paísescomunitários e à organização de um livro de registosdestas operações. Os avisos prévios, efectuados juntoda autoridade competente (Direcção-Geral deFiscalização e Controlo da Qualidade Alimentar e daDirecção Regional de Agriculura da área), devem serrealizados com uma antecedência mínima de 48 horase incluir a designação das mercadorias, data darecepção, peso, país, estabelecimentos de origem elocal de descarga previsto.Numa situação de risco grave e imediato, um sistemade troca rápida de informação (2) obriga as entidadescompetentes à recolha de informações relevantes, re-colha de amostras, determinação dos riscos, proibiçãoda colocação no mercado e remoção do mercado deum produto ou lote de produto afectado, bem como àcomunicação da situação à Comissão Europeia.No entanto, hoje é claro que em matéria de higiene esegurança alimentar, o edifício legal comunitário nas-ceu com deficiências estruturais que afectam signifi-cativamente a sua eficácia. Numa época em que écomum o fabrico de gigantescas quantidades de ali-mentos em unidades industriais de grande capacida-de, afastadas milhares de quilómetros dos locais ondeestes irão ser consumidos e usando avançadas tecno-logias de fabrico, distribuição e conservação que vêmprolongando por muitos meses a vida útil destes ali-mentos, este sistema não abrange de forma integrada

Fernando Amaral

PXPTO007

CEE

Fig. 1: Marca de Salubridade comunitária

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Especialidades

toda a cadeia alimentar, permite a coexistência deabundante legislação vertical com legislação horizon-tal, caracteriza-se pela sua rigidez e incapacidadepara acompanhar o desenvolvimento de novas técni-cas de produção, transformação e distribuição de ali-mentos e, sobretudo, não considera como instrumen-to importante em matéria de segurança alimentar, aanálise dos riscos nas suas 3 componentes: avaliação,gestão e comunicação dos riscos.Estão assim criadas as condições para, em caso deocorrência de acidentes, se originarem graves crisesem termos de saúde pública.

2. Princípios de segurança alimentar: novaabordagem

O sector agro-alimentar é hoje um dos principais sec-tores industriais na União Europeia, representandocerca de 15% da produção total a indústria transforma-dora, o que se verifica numa época em que as crises daBSE e das dioxinas vieram colocar em evid~ência, deuma forma clara, as carências dos sistemas de segu-rança alimentar da Comunidade e dos seus Estados--membros.Em consequ~ência, verificou-se uma natural e signifi-cativa quebra de confiança dos consumidores nosactuais processos de produção, transformação ecomercialização de alimentos, bem como nos conheci-mentos científicos, na legislação, no controlo e fiscali-zação alimentar, o que veio colocar a segurança dosgéneros alimentícios, mais do que nunca, no centrodas suas preocupações.para assegurar um nível elevado de protecção da saúdehumana e de protecção dos consumidores, o LivroBranco da Segurança Alimentar (3) estabelece que “apolítica de segurança dos alimentos deve basear-senuma abordagem global e integrada, ou seja, aolongo de toda a cadeia alimentar (da exploração agrí-cola até á mesa)”.Assim, os principais responsáveis em matéria de segu-rança alimentar passam a ser os produtores de alimen-tos para animais, os agricultores e os operadores dosector alimentar. As autoridades competentes devemcontrolar e garantir a observância desta responsabili-dade, implementando adequados sistemas nacionais

de segurança alimentar. A comissão, por sua vez, ava-liará o grau de desempenho das entidades nacionais.Finalmente, os consumidores deverão representar umpapel central neste cenário, quer no que respeita àcorrecta utilização dos alimentos, quer intervindo emtodas as áreas relacionadas com a segurança alimentar.

3. Autoridade Alimentar Europeia vs.Agências nacionais

Sendo pacífico que, como acontece em qualquer acti-vidade humana, a produção de alimentos é acompan-hada de algum risco para o consumidor, importa saberavaliar e gerir eficazmente os riscos inerentes e criarcondições para que estes sejam reduzidos à sua menorexpressão. Um dos aspectos nucleares da nova abor-dagem da segurança alimentar é a criação de um sis-tema em pirâmide, no topo da qual se encontra umaAutoridade Alimentar Europeia (AAE) com competên-cias na “avaliação e comunicação dos riscos no domí-nio da segurança alimentar”, e cuja base é formadapor Agências dos vários Estados-Membros, interlocu-toras privilegiadas da AAE no que respeita à recolha deinformação e respondendo perante a ComissãoEuropeia relativamente às medidas legislativas, regu-lamentares e de controlo.Esta autoridade europeia independente terá comoobjectivo a avaliação e comunicação dos riscos, atra-vés da elaboração de pareceres científicos, da gestãode sistemas de alerta rápido, da comunicação com osconsumidores e do estabelecimento de uma rede deagências e de organismos científicos nacionais. Agestão dos riscos caberá à Comissão e às autoridadesnacionais que, nesse sentido, deverão reorganizar osseus serviços de forma a poder responder rápida e efi-cazmente às situações que se poderão apresentar,encarregando-se quer da produção legislativa, querdo controlo e fiscalização da cadeia alimentar. Daí arazão da recente criação da Agência para a Qualidadee Segurança Alimentar (AQSA), que irá absorver, nofinal do seu período de instalação, organismos como aDirecção-Geral de Fiscalização e Controlo da QualidadeAlimentar (DGFCQA), os serviços da Direcção Geral deVeterinária relacionados com a higiene pública veteri-nária e com a alimentação animal, os serviços de fis-

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Especialidades

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calização das Direcções Regionais de Agricultura(DRA’s) e as compet~encias da Inspecção Geral dasActividades Económicas (IGAE) em matéra de fiscali-zação da conformidade, qualidade e segurança dosprodutos agro-alimentares e da pesca (fig.2).

4. O nutricionista e a segurança alimentar

A licenciatura em Ciências da Nutrição e Alimentação éa única, no actual panorama académico em Portugal,a dedicar todo o seu currículo exclusivamente ànutrição e alimentação humana, o que permite dotaros nutricionistas da visão abrangente, integrada eglobal que os caracteriza. Estes profissionais encon-tram-se, portanto, naturalmente capacitados paradesempenharem um papel importante nesta novaabordagem da segurança alimentar, sendo certo que,pela primeira vez, a Comissão Europeia vem reconhe-cer que “A protecção da saúde pública não se limita àsegurança química, biológica e física dos alimentos.Deve igualmente ter por objectivo assegurar a

ingestão de nutrientes essenciais, limitando a ingestãode outros alimentos a fim de evitar efeitos negativospara a saúde, incluindo efeitos anti-nutricionais”.

Bibliografia

1 - Portaria nº 576/93 de 04/06, alterada pela Portarianº 100/96 de 01/04.

2 - Directiva 92/59/CEE do Conselho, de 29 de Junho de1992.

3 - Livro Branco Sobre a Segurança dos Alimentos.Comissão das Comunidades Europeias; Bruxelas,12/01/2000

Fernando AmaralDirecção-Geral de Fiscalização e Controlo da QualidadeAlimentarAv. Conde Valbom, 961050-070 Lisboa

Fig. 2: (*) Competências a integrar na Agência para a Qualidade e Segurança Alimentar

Autoridades

de Saúde

AQSA

Regime de instalação

Veterinários

Municipais

IGAE

* Área Alimentar* DGFCQA

DRAEDM

*DSF

DRATM

*DSF

DRABL

*DSF

DRAbi

*DSF

DRARO

*DSF

DRAAlt

*DSF

DRAAlg

*DSF

* Produtos de

Origem animal

* Alimentação

Animal

* Higiene Pública

Veterinária

DGV

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Especialidades

HACCP - vicissitudes da sua juventude

É já um lugar comum dizer-se que o HACCP, Análise dosPerigos e Pontos Críticos de Controlo, é considerado omelhor sistema de segurança alimentar, tendo umarelação eficiência/custo muito favorável. É aconselha-do por muitos organismos internacionais de prestígiode que são exemplos a FDA, Food and DrugAdministration, a OMS, Organização Mundial deSaúde, pela Comissão do Codex Alimentarius da OMS eFAO e Organização das Nações para a Agricultura,tendo este último organismo elaborado um guia prá-tico para a sua aplicação1 que veio uniformizar concei-tos e matrizes algo díspares. Se bem que o sistema tenha quase trinta anos, surgiucomo novidade, na Europa e grande parte do mundo,a meio da década passada. A sigla HACCP foi interna-cionalmente adoptada pela maioria dos países, embo-ra uma minoria, onde o Brasil e a Espanha se incluem,tenha adoptado a sigla constituída pelas iniciais daspalavras traduzidas para a língua do país. Curiosa-mente, os textos que temos lido em língua francesa,muitos deles com origem em França, onde é bem con-hecido o cuidado na utilização de estrangeirismos,usam a designação internacional HACCP embora odefinam como Análise de Riscos ... e não Análise dePerigos ... Sendo o risco avaliado pelo grau de proba-bilidade de o perigo ocorrer, temos de conhecer operigo em primeiro lugar devendo por isso, em nossoentender, designar-se por Análise de Perigos... Talvezesta não uniformidade esteja relacionada com o que édesignado por risk assessment, de tão difícil traduçãopara as línguas latinas, que faz a abordagem globaldos perigos e respectivos riscos. Como em qualquer produto ou serviço inovador, hádificuldades que resultam de ajustamentos inerentesao aperfeiçoamento, indispensável à evolução. E.Taylor da Universidade Central de Lancashire, numacomunicação num forum HACCP em 19982, apontouoito deficiências graves comuns encontradas no siste-ma, em várias empresas inglesas onde havia sido apli-cado, ainda que seguindo o guia definitivo publicado

pela comissão do Codex Alimentarius e em que mem-bros das equipas para a implementação haviam sidotreinados pelo Royal Institute of Public Health. Como irão instalar o sistema pequenas exploraçõesagrícolas e pequenas empresas com escassos meiosmateriais e humanos - suporte económico de milhõesde famílias - face ao quadro político de segurança ali-mentar, a médio prazo, traçado no Livro Branco?3 AComissão do Codex Alimentarius estuda, actualmente,sob proposta da Holanda, a possibilidade de umHACCP mais simples e menos exigente, questão que nadiscussão inicial teve o desacordo total dos EUA4.Referimos ainda como curiosidade, mas sobretudocomo indicador do grau de aperfeiçoamento preten-dido, que a delegação alemã discordou, nesta reu-nião, da utilização da palavra implementação para osistema, referindo que deve utilizar-se a palavra apli-cação. Existem ainda múltiplas questões a melhorar.Citamos o exemplo da diferente noção deAutocontrolos existente em Portugal5 e no ServiçoAlimentar Veterinário da Direcção-geral da Saúde eDefesa do Consumidor na CE6. Alguns cursos do ensino superior deveriam dar umaformação mais aprofundada em HACCP, pressupondo,naturalmente, uma preparação prévia dos alunos emmicrobiologia e toxicologia alimentares e uma prepa-ração complementar de natureza prática; aplicação doaprendizado. Os professores que o ensinam deveriam,por seu lado, ter experiência prática na sua aplicação,mesmo que o objectivo não seja a formação de espe-cialistas no sistema; não é possível a um professorabordar adequadamente, ainda que em teoria, asnoções base de prática cirúrgica sem que nunca tives-se efectuado qualquer intervenção cirúrgica. O HACCPé um sistema técnico-científico, refere o CodexAlimentarius, pesando igualmente cada uma das com-ponentes. Uma das abordagens para a resolução dealguns problemas por insuficiente formação prática deprofissionais para as empresas - as associações empre-sariais, em Portugal, queixam-se que o ensino superior

Manuel Araújo

1 Codex Alimentarius, FAO/OMS. Food Quality and Safety Systems, a training manual on food hygiene and the Hazard Analysis and Critical Control

Point. Roma, 1998

2 Problems in the implementation of HACCP – a UK perspective. Second International Food Safety International Conference. Noordwijk.

3 Comissão das Comunidades Europeias. Livro Branco sobre a Segurança dos Alimentos. Bruxelas, 12 de Janeiro de 2000.

4 Codex Alimentarius Comission, FAO/OMS. Report of the thirty second session of the Codex Committee on Food Hygiene. Washington DC, 29

November-4 December 1999.

5 Noção deduzida do texto do Artigo 3º do Decreto-Lei nº 67/98 de 18 de Março.

6 Noção deduzida do Final Report of a Mission carried out in the United Kingdom from 19-20 January and 24-28 January 2000.

DG(SANCO)1003/2000 - MR final. European Comission, Health & Consumer Protection Directorate-general, Directorate D - FVO.

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Especialidades

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não "produz" profissionais com a qualidade desejada- tem sido a criação de cursos técnico profissionais deformação, organizados e ministrados por empresasmistas das associações empresariais e por empresasprivadas. Muitos deles têm tido grande sucesso mas,no caso do HACCP, ainda existem relevantes deficiên-cias. A frequente não exigência nos candidatos a for-mandos, duma preparação de base prévia em deter-minadas áreas específicas, é um exemplo; os cursos deauditorias em HACCP frequentados por indivíduos sema formação de base referida, ainda que já auditoresnoutras matérias, vai criar ruídos que poderão perma-necer durante algum tempo, obstáculo a uma maisrápida evolução. O risk assessment não pode ser abor-dado por quem leu "umas coisas" sobre microbiologiae toxicologia; um psicólogo não poderá ser inspectorde finanças, diria o marechal La Palice. Surge também regularmente a confusão entre concei-tos e metodologias do HACCP e da norma ISO, série9000. Há muitos pontos comuns e têm sido várias asabordagens, entre as quais um projecto de NormaPortuguesa, para a sua interligação, mas como osobjectivos intrínsecos são diferentes, tem havido algu-ma dificuldade para a realização desejável dessainterligação harmoniosa. Num futuro breve, com anova norma ISO 9001:2000, estamos convictos que serásolucionada grande parte desta importante questão. Pensamos também que os organismos oficiais têmdedicado atenção insuficiente aos problemas da segu-rança alimentar. O conteúdo do projecto de relatóriosobre leites e de produtos à base de leite, pelos ins-pectores da CE7 evidencia claramente a desorgani-zação das vertentes da segurança alimentar, emPortugal, que está sob responsabilidade governamen-tal. O documento refere, textualmente, que a for-mação dos inspectores8 no domínio do sistema HACCPe da tecnologia de sector leiteiro é insuficiente, e fazuma recomendação ao governo português para col-matar com brevidade esta lacuna. Também nos pare-ce que o Instituto Português da Qualidade poderiadedicar mais atenção à segurança alimentar como acomponente mais importante da Qualidade no sectoralimentar; no 1º Congresso da Qualidade, promovidopelo IPQ, realizado em Lisboa no passado mês de

Junho, foram apresentadas 88 comunicações nãohavendo nem uma sobre segurança alimentar!Recentemente, num artigo sobre HACCP publicado narevista Qualidade Nº 1 de 20009 com um conteúdo "isofi-cado" (de iso), o autor nem tão pouco deu o nome cor-recto em inglês ao sistema. A ordem das palavras rara-mente é arbitrária; rica menina e menina rica não têm omesmo significado. As revistas oficiais de organismoscom responsabilidade nesta área têm, em nosso enten-der, o dever de dar um contributo para reduzir o ruído.Dentro do aperfeiçoamento necessário a uma maiscélere evolução, imperativo nacional, seria importanteque o IPQ reconhecesse alguma entidade que conce-desse uma chancela para as instituições que, comrigor, tivessem em aplicação o sistema HACCP.Não é difícil imaginar que, a médio prazo, os alimen-tos sem uma garantia de segurança aceitável, acabemtambém por se não "venderem" no país de origem;interdição das autoridades sanitárias e/ou recusa dosconsumidores. Podemos imaginar que face à con-corrência, as agências de viagens da CE, recomendempara os turistas - sobretudo os idosos que imunologi-camente são menos resistentes e cujo turismo temtendência crescente - que viagem para Portugal, comovalor acrescentado dos seus serviços, que os hotéis x ey servem carne alemã e queijos franceses10. Nessetempo, os turistas terão informações sobre os produtosalimentares que são considerados inseguros no paíspara que viajam, embora hoje apenas sejam informa-dos das vacinas a tomar quando viajam para países derisco relativamente a determinadas doenças. Algumasagências de viagens e turismo holandesas, para man-terem os seus clientes e para não poderem ser respon-sabilizadas, ainda que parcialmente, já preferem reco-mendar os hotéis e restaurantes que tenham instaladoo HACCP. Aliás, na Holanda, os cardápios dum númerosignificativo de restaurantes têm em nota de rodapé ainformação de que têm implantado o sistema. É necessário alargar a passada.

Manuel AraújoNutricionistaCoordenador dos consultores do Núcleo para a Segu-rança Alimentar e HACCP da IBP consulting, SA

7 Comissão Europeia, Direcção-geral da Saúde e Defesa do Consumidor, Direcção D - Serviço Alimentar e Veterinário. DG(SANCO)/1001/2000 - MR

projecto. Projecto de Relatório de uma Missão Realizada em Portugal entre 20 e 24 de Março de 2000 para avaliar a aplicação da Directiva 92/46/CEE

do Conselho que adopta as normas sanitárias relativas à produção e colocação no mercado de leite e de produtos à base de leite. Sd. CE, SANCO

FVO, Dublin.

8 O documento refere que os inspectores portugueses "são geralmente veterinários ou engenheiros e são apoiados por engenheiros técnicos."

9 Publicada pela APQ, Associação Portuguesa para a Qualidade.

10 Não há actualmente alguma interdição à exportação portuguesa de leite e de produtos derivados do leite para a CE.

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Percurso profissional de um Nutricionista pioneiro

Mentiria se dissesse que quando acabei o Bacharelatoem NUTRIÇÃO - Dezembro de 1978 -, tinha concretiza-do o meu grande sonho.Nessa época quem queria ou gostaria de serNutricionista?No entanto, não tinha também imaginado que trabal-har como Nutricionista iria ser tão difícil…O (des)conhecimento sobre a capacidade e áreas detrabalho era tão sério e profundo, que quando cumprio Serviço Militar Obrigatório, por ser Nutricionista,acabei por ser colocado numa Unidade de Cavalaria naEspecialidade de Carros de Combate!!!!!!Ou seja, o Poder, desconhecia por completo qual a uti-lidade dos jovens recém-formados, cujos estudoshaviam sido por si financiados, desperdiçando porcompleto a minha formação, tendo então sido escolhi-do para Carros de Combate, unicamente, por ter umaestatura mediana/baixa, o que lhes permitia"enfiar–me" dentro daquelas máquinas de guerra detão reduzida habitabilidade.Acreditem que daí para diante, fui sempre muito maiscauteloso, quando tinha que explicar que eraNutricionista.Depois desta tão "enriquecedora" experiência - 18Meses - e porque o Ensino não me seduziu, rumei paraLisboa e comecei a concorrer para Delegado deInformação Médica.Se no Norte os Nutricionistas eram ainda pouco conhe-cidos, em Lisboa …Após uma fugaz passagem pela IndústriaFarmacêutica, respondi a um anúncio da NESTLÉ.Março de 1983: - Após diversas Entrevistas, fui admiti-do como Delegado de Informação Médica no Departa-mento de Produtos Infantis e Dietéticos.Neste primeiro embate com o "Mundo Empresarial",fui obrigado a desenvolver outras aptidões, nomeada-mente na área Comportamental e da Negociação, queapoiadas na minha Formação em Nutrição se vieram atornar extremamente úteis, nomeadamente quandoinserido numa Companhia como a NESTLÉ.Os primeiros 4 anos foram marcantes.Fui obrigado a "crescer" profissionalmente.

Novos horizontes/desafios me foram colocados:1988 - Coordenação Nacional da equipa de

Informação Médica.1991 - Conclusão da Licenciatura em Ciências da

Nutrição.1991 - Chefia do Departamento de Produtos Infantis

e Dietéticos.Somos então confrontados com aquela pertinentequestão:"Será que o Curso de Nutrição (à semelhança de todosos outros Cursos Superiores) nos prepara para a reali-dade da vida Profissional?Claro que não!No entanto, fornece–nos uma base suficientementesólida na área da Nutrição, que complementada com aFormação que a Empresa me forneceu e enriquecidapela experiência profissional adquirida, me permitiuassumir a chefia do Departamento, liderando umaEquipa de 20 colaboradores .

- Elaboração do Plano de Marketing - Gestão da Força de Vendas - Lançamento de Novos Produtos

Todos estes desafios são possíveis de ser aceites …apenas se precisa de bom senso, capacidade de tra-balho, motivação, dedicação e apoio/orientaçãosuperior.Por ter sido dos primeiros, senão o primeiroNutricionista a trabalhar numa Empresa com as carac-terísticas da NESTLÉ, penso ter contribuído de algumaforma para um melhor conhecimento das capacidadesdos Nutricionistas - à semelhança de outros colegas,nomeadamente na área Hospitalar - criando por arras-tamento uma maior apetência por parte destas enti-dades empregadoras para a posterior admissão demais NutricionistasHoje … no início do ano 2001, e sensivelmente 22 anosapós a conclusão do Bacharelato, é com grato prazerque "revisitando" a minha carreira profissional:

- 9 anos de NESTLÉ- 8 anos de NUTRICIA

Registo com uma "pontinha" de vaidade, que naNESTLÉ, quer durante a minha permanência, quer após

Manuel Sequeira

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a minha saída, outros Nutricionistas foram admitidose que na NUTRICIA presentemente se encontram a tra-balhar (e com sucesso nas suas diferentes áreas/res-ponsabilidades) 7 Licenciados em Ciências daNutrição.

NOTA: Gostaria de aproveitar esta pequena "estória"para render uma sentida homenagem aos Mestres quede alguma forma muito me influenciaram:- Prof. Gonçalves Ferreira, Prof. Rego do Aguiar, Prof.Emílio Peres, Prof. Norberto Teixeira Santos, Dr. LimaReis e Dr. Abrunhosa.

Manuel SequeiraMarketing ManagerNutriciaRua da Fraternidade Operária2795-491 Carnaxide

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Nutricionista Comunitário na autarquia - experiência de uma NutricionistaEstagiária na Câmara Municipal de Valongo

Realizei o meu estágio académico da licenciatura emCiências da Nutrição da Faculdade de Ciências deNutrição e Alimentação da Universidade do Porto noDepartamento de Educação, Acção Social, e Desporto,da Câmara Municipal de Valongo, em 1999-2000. Otrabalho desenvolvido insere-se no âmbito daNutrição Comunitária, e o seu objectivo principal foi aintervenção na comunidade, privilegiando a trans-missão de conhecimentos, para a mudança de atitudese comportamentos face à alimentação.A preocupação de base de todo o meu trabalho foi a dealertar toda a comunidade educativa (crianças, pais,professores e manipuladoras de alimentos) para aimportância da alimentação na saúde. É responsabili-dade da Escola ensinar e incentivar hábitos de vidasaudável, promovendo o desenvolvimento global dacriança. O nível de ensino privilegiado nesta acção, foio 1º ciclo do Ensino Básico e Pré – Escolar, nas freguesiasde Campo e Sobrado.A adopção de uma alimentação saudável reflecte-se

em todo o processo de desenvolvimento da criança,influenciando o seu rendimento escolar. Por isso aescola é o local ideal para a criança aprender e prati-car os conhecimentos transmitidos. A forma de educarpelo exemplo, para uma alimentação saudável aolongo da vida, é a mais eficaz para a criança interiori-zar os conhecimentos adquiridos.A primeira etapa do estágio foi avaliar as condiçõeshigio-sanitárias e funcionamento das cantinas escola-res dos estabelecimentos acima referidos. Da obser-vação destas, resultou a necessidade de ministrar umaformação dirigida às manipuladoras de alimentosdestes estabelecimentos de ensino. A experiência foigratificante, justificada pela adesão do número deformandas e, ainda, pela demonstração de interessepelos temas apresentados e modificação de comporta-mentos na manipulação.Para pôr em prática os objectivos inicialmente defini-dos, desenvolvi diversas actividades e materiais paraas crianças, entre os quais manuais, jogos, canções. Tendo sempre presente que queria atingir o maiornúmero de crianças, mas com limitações, vi-me obri-gada a seleccionar as acções e o seu local. Contudo,

em todas as escolas da freguesia de Campo e em duasda freguesia de Sobrado, abordei temas como:

- A Roda dos Alimentos - suas mensagens;- A importância das Refeições- Regras básicas de Higiene e Segurança Alimentar

Esta acção decorreu numa sessão única, para todas ascrianças das escolas acima referidas.O trabalho de investigação, sob o tema - O Impacto daEducação Alimentar nos Hábitos Alimentares eAvaliação do Estado Nutricional, teve como a popu-lação alvo as crianças do 3ºº e 4º ano das escolas daRetorta e Outeiro, da Freguesia de Campo. Para a con-cretização dos objectivos inicialmente propostos, apli-quei um inquérito alimentar às 24 horas anteriores, uminquérito de caracterização soció-económica, ava-liação antropométrica e desenvolvi aulas de educaçãoalimentar. Os pais de todas as crianças destas escolas,foram convidados a participar em duas sessões sobreAlimentação Saudável e Custo da AlimentaçãoSaudável. Estes aderiram em razoável número, gosta-ram da iniciativa promovida pela Câmara e mostra-ram-se interessados para participar noutras acções dogénero.Para terminar a acção na comunidade escolar promoviuma acção de sensibilização com o tema –"Alimentação Saudável" e apresentação de ummanual por mim desenvolvido – "Valonguito Sadio -Alimentação na Escola", dirigido aos docentes, dasfreguesias de Campo e Sobrado. A resposta por partedestes foi positiva, e também se mostraram receptivospara outras iniciativas do género, tal como, incluir otema no programa escolar e a presença do nutricionis-ta na sala de aula para leccionar o tema.Colaborei ainda no trabalho de campo da disciplina deNutrição e Saúde Pública, da Faculdade de Ciências deNutrição e Alimentação da Universidade do Porto, queteve como população as crianças de duas escolas dafreguesia de Ermesinde, do concelho de Valongo.O meu estágio no Departamento de Educação, AcçãoSocial, e Desporto, da Câmara Municipal de Valongo

Elsa Alves

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possibilitou ainda a intervenção em acções promovi-das pelo sector de Acção Social, tais como:

- campanhas de sensibilização para "Hábitos deVida Saudável", actividade desenvolvida com aequipa do Projecto Crescer, dirigida a crianças do4º ano do 1ºº ciclo do Ensino Básico, de algumasescolas de todas as freguesias do Concelho;

- realização de uma acção de formação, em colabo-ração com a Faculdade de Ciências de Nutrição eAlimentação da Universidade do Porto, dirigidaaos técnicos que intervêm no âmbito doRendimento Mínimo Garantido;

- acção de formação "Gestão Doméstica", dirigida adoze famílias carenciadas da freguesia de Campo,em acompanhamento pelo Projecto Crescer,Gestão Social da Câmara Municipal de Valongo eno âmbito do Rendimento Mínimo Garantido.

Surgiu também um convite para ministrar uma for-mação dirigida às manipuladoras de alimentos doCentro de Acolhimento Temporário, "Mãe d’Água",instituição que pertence à Santa Casa da Misericórdiade Valongo. Neste Centro, tive a oportunidade deestagiar durante os meses de Julho, Agosto eSetembro. Aqui, desenvolvi as seguintes acções:

- organizar o funcionamento geral da cozinha;- promover sessões para aprofundar temas aborda-

dos na formação;- avaliar o estado nutricional das crianças;- averiguar os hábitos alimentares das crianças com

idade superior a 9 anos;- implementar a alimentação diversificada no plano

alimentar dos bebés;- desenvolver actividades no âmbito da Educação

alimentar.

Penso poder concluir que ultrapassei largamente osobjectivos inicialmente propostos. Apesar de parecermuito o tempo de duração do estágio, estamos peran-te uma vasta população e um variado número de pos-síveis intervenções, impossíveis de colocar em práticana totalidade durante estes "poucos" meses. Algoficou bem claro no final: há ainda muito trabalho afazer neste departamento. No entanto, se à partida

havia um desconhecimento das funções doNutricionista, penso que o meu estágio contribuiupara demonstrar as nossas potencialidades numaautarquia. A prova disso é a resposta dada pela acomunidade, em relação às iniciativas promovidas,pela motivação e adesão demonstradas.A minha participação e concretização de projectos sófoi possível devido ao facto de estar a estagiar numdepartamento, onde existe uma equipa multidiscipli-nar. Esta tem como principal objectivo a mudança dedeterminadas atitudes da comunidade em todas assuas latitudes, implicando por isso a participação dediferentes técnicos tendo em vista abranger toda apopulação. O meio utilizado é a comunicação mas sóatravés de uma mensagem efectiva e real os objectivosserão alcançados. A minha experiência foi gratificante, pois conseguichamar e interessar diferentes públicos para amudança de atitude não só no que concerne à alimen-tação, como também em relação à nossa classe profis-sional. Embora haja quem ainda considere oNutricionista como um "profissional de elite" com umpúblico alvo restrito, penso que de algum modo con-segui desmistificar alguns desses conceitos. Assimcomo penso que este trabalho demonstrou que a pre-sença de um Nutricionista Comunitário é uma maisvalia para as autarquias.Com um trabalho de equipa, e em parceria com dife-rentes instituições, podemos realizar o sonho de"Nutrição" para todos.

Elsa AlvesNutricionistaCâmara Municipal de ValongoDepartamento de Educação, Acção Social e DesportoAv. 5 de Outubro, nº 1604440-503 Valongo

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Cientificidades

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Cientificidades

Saúde, actividade física e peso corporal: contributo para o seu conhecimento numa amostra da população adulta Portuguesa

EEssttee aarrttiiggoo éé uumm rreessuummoo ddaa TTeessee ddee DDiisssseerrttaaççããoo ddeeMMeessttrraaddoo eemm SSaaúúddee PPúúbblliiccaa nnaa áárreeaa ddee eessppeecciiaalliizzaaççããooeemm EEppiiddeemmiioollooggiiaa aapprreesseennttaaddaa àà FFaaccuullddaaddee ddeeMMeeddiicciinnaa ddoo PPoorrttoo eemm JJuunnhhoo ddee 22000000..

Resumo:

Foi objectivo deste estudo identificar na populaçãoPortuguesa, os determinantes e níveis de prática deactividade física (AF) e a sua relação com o peso e ima-gem corporal. Este trabalho foi desenvolvido no âmbi-to do projecto Pan-EU Survey on Consumer Attitudes toPhysical Activity, Body Weight and Health, lideradopelo Institute of European Food Studies e financiadopela DGV, com a presença de todos os países da UniãoEuropeia, sendo a Faculdade de Ciências da Nutrição eAlimentação a representante nacional.Foram inquiridos 1007 Portugueses, com idade igualou superior a 15 anos. Para a análise da informaçãoprocedeu-se à análise descritiva, uni e multivariável. Como resultados deste estudo verificamos que emPortugal, a relação entre AF, peso corporal e saúdeencontra-se pouco valorizada, sendo a alimentação(60%) o tabaco (26%) e o stress (21%) os determinantesda saúde mais importantes. O acumular de investi-gação comprova a importância da AF na saúde e bem-estar, porém observamos uma elevada proporção deindivíduos que não se encontravam envolvidos emqualquer actividade (60%), sendo a principal barreiraapontada para o não envolvimento na AF foi não seconsiderarem do "tipo desportivo".A distribuição pelas classes de Índice de MassaCorporal indica-nos que embora 49,5% dosPortugueses sejam normoponderais, 42,3% tem exces-so de peso (33,2% sobrecarga ponderal e 9,1% obesos)e 8,2% são magros. Os principais factores identificadoscomo influenciadores do aumento do peso corporalrelacionavam-se com a alimentação em geral (34%) ouseus aspectos específicos, sendo a AF identificada ape-nas por 11% da amostra.Verificou-se existirem desigualdades de atitudes, con-hecimentos e importância atribuída à AF e ao peso cor-poral entre regiões do país, idades, sexo e classes

socioeconómicas correndo mais riscos de saúde asmulheres, os mais velhos e as classes sociais mais des-protegidas onde a informação e as infraestruturas nãochegam com a facilidade esperada.O presente estudo contribui para identificar priorida-des de actuação na promoção de uma vida mais acti-va, servindo como ponto de partida à implementaçãode uma política de saúde pública adaptada à popu-lação Portuguesa.

Palavras-chave: saúde, actividade física, obesidade,Portugal

Introdução

"Mente sã em corpo são", é um princípio cada vezmais actual. Em nome desta ideia de um corpo saudá-vel e belo, aumenta o número de pessoas preocupadascom a saúde e seus condicionantes.

A investigação mostra que, o sedentarismo aliado aopadrão alimentar, condicionantes do aumento dopeso corporal, desempenham um papel fundamentalna sociedade actual obcecada pelo "culto do corpo",onde elegância é sinónimo de magreza e para aobtenção de uma boa saúde, a prática de AF são fac-tores primordiais (1).

São hoje reconhecidos os benefícios da AF termos desaúde. A sua prática regular é benéfica em todas asidades pela sua característica fortalecedora dos mús-culos e ossos, ajudando em grande escala à manu-tenção da independência funcional, à medida que oenvelhecimento ocorre, promovendo não só a longevi-dade como também a qualidade de vida (2-8), sendojá considerada como uma das melhores aquisições emsaúde pública (9).

Em paralelo com o sedentarismo generalizado daspopulações, deparamo-nos com outro grande proble-ma que afecta principalmente as sociedades desenvol-vidas, denominado já por várias entidades como aepidemia do século - a obesidade (10,11).

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Cláudia Afonso1, Denisa Mendonça2, Maria Daniel Vaz de Almeida3

1 Nutricionista, Técnica-Superior, Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto

2 Professora Associada, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar

3 Professora Auxiliar, Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto

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Cientificidades

Contrariamente ao esperado numa sociedade em que oestereotipo desejado é a magreza, assistimos aoaumento da prevalência da obesidade, doença cróni-ca, que no seu sentido lato corresponde a um aumen-to das reservas lipídicas no tecido adiposo, com impli-cações catastróficas em termos de saúde pública e nãomeramente uma questão estética (12).

Múltiplas interacções têm vindo a ser estudadas natentativa de estabelecer uma relação entre a falta deAF e o aumento de peso corporal. Assim verifica-se queo contributo da AF, no tratamento da obesidade serelaciona com o seu efeito em termos de balanço ener-gético, composição corporal, parâmetros psicológicos,qualidade de vida, risco de diversas patologias,gestão do peso corporal e distribuição da gordura nosindivíduos obesos ou não-obesos (13-15).

Um factor limitante da promoção da AF com a con-sequente gestão do peso corporal em Portugal, é odesconhecimento dos comportamentos e práticaspor parte das populações. Assim, este projecto foidesenvolvido no âmbito do projecto multicêntricoPPaann--EEUU SSuurrvveeyy oonn CCoonnssuummeerr AAttttiittuuddeess ttoo PPhhyyssiiccaallAAccttiivviittyy,, BBooddyy WWeeiigghhtt aanndd HHeeaalltthh, liderado peloIInnssttiittuuttee ooff EEuurrooppeeaann FFoooodd SSttuuddiieess ((IIEEFFSS)) – Dublin efinanciado pela DG V, e com a presença de membrosde todos os países da União Europeia em que aFaculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação daUniversidade do Porto foi o representantePortuguês.

Presidiu como objectivo geral deste trabalho analisar,na população portuguesa, os determinantes e níveisda prática da AF, e a sua relação com o peso corporal,que possibilitem a definição de estratégias de pro-moção adequadas à população Portuguesa.

Material e Métodos

Este estudo envolveu 1007 Portugueses. A amostra foiseleccionada por quotas, definidas em Portugal a par-tir de dados do Instituto Nacional de Estatística (1991)e posteriormente ponderadas, de forma a representaras realidades sociais e demográficas do nosso país.

Mediante os objectivos propostos procedeu-se à ela-boração de um questionário estruturado de adminis-tração indirecta com perguntas de resposta simples oumúltipla e posteriormente procedeu-se à realização dorespectivo estudo piloto em 20 indivíduos. No questio-nário final incluiu-se para além de questões relativasàs atitudes, conhecimentos e comportamentos face àsaúde, AF e peso corporal, informações sobre as carac-terísticas sócio-demográficas da população estudada.Neste estudo, o peso e a estatura, utilizados para cons-truir categorias de Índice de Massa Corporal (IMC),foram auto-avaliados (16,17).

As entrevistas bem como a digitação dos dados noprograma informático foram feitos em conjunto com aEurotest com a coordenação europeia da Taylor NelsonAGB, segundo as normas da ICC/Esomar (18).

Resultados

Apresentam-se assim alguns resultados retiradosdeste estudo.

Atitudes face à AF, peso corporal e saúde

A alimentação foi o factor mais referido pelos partici-pantes como tendo influência na saúde (60%), segui-do dos hábitos tabágicos (26%) e do stress (21%). Opeso corporal foi o 6º factor referido e a AF física o 7º,escolhido por apenas 11% dos inquiridos.

Verificamos que os principais factores identificadoscomo influenciadores do aumento do peso corporal serelacionavam também com a alimentação, em geral(34%) ou seus aspectos específicos (ingestão de gor-duras, 43,8%, açúcar, 22,9%, bebidas alcoólicas,12,1%). De realçar que a AF é identificada por apenas10,8% da amostra como tendo influência no peso e que21,6% dos inquiridos refere não ter tendência paraengordar.

Os indivíduos que seleccionam a AF como condicio-nante do peso corporal diminuem à medida que aidade aumenta e são em maior percentagem homens(p<0,05). São indivíduos com maior instrução (17,8%)e pertencentes à classe social média baixa. São os

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Cientificidades

Portugueses com sobrecarga ponderal (16,3%) e que sesentiam normais e gordos quem mais assinala aimportância da AF para o ganho de peso.

São os habitantes do Interior Norte e Centro dePortugal que concordam mais com esta afirmação.

Frequência da prática de exercício físico

O padrão de distribuição dos Portugueses em termos dehoras semanais de prática de AF situa-se em dois extre-mos, os que não praticam (sendo estes a maior percen-tagem, 60,2%) e aqueles que praticam mais do que 3,5h(30,2%). Entre 1,5 e 3,5 horas por semana encontraram-se envolvidos 9,7% da população inquirida.

São as mulheres e os mais velhos que são menos parti-cipantes, 70% e 70,7% respectivamente. A escolarida-de e a classe social parecem ser factores determinan-tes da prática de AF. Assim sendo, observamos que sãoos indivíduos de nível educativo mais baixo, os quetêm a mais elevada percentagem de não participação(72,2%). O inverso acontece na classe social mais ele-vada, pois são os que praticam em maior número dehoras (42,4%).

A distribuição geográfica dos não participantes per-mitiu verificar que, num grande número de regiões, apercentagem de não participação era superior à médianacional (60%), destacando-se em primeiro lugarSetúbal e o Alentejo (78,7%), seguido do Algarve(69,2%). Uma participação superior a 3,5h foi encon-trada em maior percentagem na zona da GrandeLisboa (40,5%) e também no Algarve (30,8%).

Dos Portugueses que referem ter participação em AF, asactividades mais praticadas foram andar continua-mente durante 30 minutos (48,9%) e futebol (25,5%),seguido da natação (10,5%) e da pesca (9,9%), tendoas restantes actividades sido referidas em menorespercentagens.

Principais razões para a prática de AF

Apesar da manifesta não participação em qualquer

modalidade, verificamos que os principais benefícios

atribuídos pelos Portugueses à prática de AF se pren-

dem com a manutenção da saúde (21,4%), com o

facto da AF relaxar (17,6%) e também para estar ao ar

livre (15,1%). O convívio foi referenciado por 11,5% dos

inquiridos.

Principais barreiras à prática de AF

Em geral, o principal motivo referido para a não parti-cipação, prende-se com o facto de não se considerardo tipo desportivo e também com motivos profissio-nais ou de estudo. A inexistência de condições foi tam-bém apontada por 14,1% dos Portugueses. A idade bemcomo a falta de saúde foi o motivo que 21% da popu-lação referiu. O facto de preferir fazer outras coisas foidescrito por 4,4% dos inquiridos. Cerca de 11% dosinquiridos referiu não ter nenhum obstáculo à AF.

Peso corporal e Índice de massa corporal

A distribuição do IMC encontrada indica-nos queembora 49% dos Portugueses sejam normoponderais,42% tem excesso de peso (33% sobrecarga ponderal e9% obesos).

Em termos de distribuição do IMC, a razão da percen-tagem mulheres/homens é superior não só para amagreza como também para a obesidade. São os maisnovos que têm a categoria de IMC mais baixa e os maisvelhos aqueles que mais têm excesso de peso (58%). OIMC varia na razão inversa da escolaridade e classesocial. Assim observamos que aos participantes comum nível de instrução mais baixa e de menor classesocial, correspondia um maior número de indivíduoscom peso superior à normalidade. O inverso acontececom os magros e normoponderais que possuem umnível de escolaridade superior e pertencem à classealta e média alta.

Foram encontrados na região de Setúbal e Alentejo,17,3% de obesos, na Grande Lisboa 12,3% e 10,1% noGrande Porto. Dentro do grupo de menor IMC, foiLisboa, o Interior Norte e Centro e Setúbal e Alentejo, asregiões que apresentam uma percentagem mais eleva-da, 13,3%, 8,5% e 8% respectivamente.

26 27

Page 25: Nutrícias nº1

Cientificidades

Em geral, e se excluirmos a classe de IMC mais baixa,podemos dizer que o aumento do IMC varia de formainversa com o n.º de horas dispendido na prática de AF.

Satisfação com a imagem corporal

Embora a maioria dos Portugueses se sinta bem com asua imagem corporal (47,5%) uma proporção muitopróxima dos 45% sente-se gorda (44,7%).

São 87 % os indivíduos com IMC ≥ 30 que têm consciên-cia do seu peso excessivo, no entanto 12% sente-sebem com o seu peso. Uma atenção especial deverá serdada aos participantes com o IMC dentro da normali-dade (31%) ou abaixo (5%) que se sentem gordos.

Gestão do Peso Corporal

Para os 184 (18%) entrevistados que estavam a perderpeso, a dieta foi o método a que 51,6% recorreu em pri-meiro lugar. A AF foi seleccionada por 12,8% e 24%referiu estar a perder peso por outros meios, a suaconjugação com a dieta foi referida por apenas 7%Portugueses.

São os indivíduos com peso a mais e que se sentemgordos que estão em maior percentagem a tentar per-der peso (41,8% e 27,3%). Destaca-se o facto de 12,9%de normoponderais e 7,3% de indivíduos magros esta-rem também a tentar perder peso.

Os métodos mais escolhidos para a perda de pesovariam de acordo com o IMC. A dieta e o exercício físi-co de forma isolada parecem ser mais frequentes entreos indivíduos obesos (30,8% e 2%) e a medicação, uti-lizada entre os obesos e por indivíduos que se sentemgordos. A combinação da dieta e AF é mais evidentenos indivíduos normoponderais, com sobrecarga pon-deral e pelos que se sentem gordos.

Com o aumento da idade, aumenta também o númerode pessoas a tentar perder peso, principalmente paraos indivíduos que têm idades compreendidas entre os35 e 54 anos. 3,9% dos mais jovens que estão a tentarperder peso, fazem-no através da prática de AF, segui-do de dieta (3,7%). Só 1,3% mencionam ambas as coi-

sas. O oposto acontece à medida que a idade aumen-ta, ou seja para os mais velhos o método mais utiliza-do é dieta (11,4% com idade compreendida entre os 34e os 54 anos e 15% com idade superior a 55 anos).

Comparativamente aos homens, são as mulheres quemmais tenta perder peso (20,1% das mulheres e 16,4%dos homens). Os homens quando o fazem, fazem-noigualmente quer por dieta ou pela prática de outrosmeios (6%), e só 4,1% faz AF quer de forma simples oucombinada com dieta. A dieta é a forma mais utiliza-da para a perda de peso entre as mulheres (12,7%), só1,4% o faz mediante a prática de AF e 1,6% através demedicação. A associação entre dieta e AF é só seleccio-nada por 1,8% da população feminina.

À medida que aumentam a escolaridade e a classesocial, aumenta o n.º de pessoas que tenta perder pesoa praticar AF, combinado com dieta (escolaridade 3ª,20,6%) e diminui os que fazem dieta de forma isolada.

Quanto à classe social são os dois extremos de classequem mais faz dieta para a perda de peso (13,1%, AB e14,3%, DE). Apesar do recurso à medicação ser poucofrequente é a classe social mais baixa que com maiorfrequência recorre a este método (2,6%).

Discussão e Conclusões

À porta de um novo século, em que a saúde e a suapromoção pela adopção de estilos de vida saudáveis,estão no centro da atenção da sociedade, em que seidealizam políticas e se estabelecem estratégias ambi-ciosas neste âmbito, a prática de AF bem como a pre-ocupação pela manutenção de um peso corporal ade-quado, aparecem na opinião dos Portugueses comuma importância reduzida no que se refere à suainfluência sobre a saúde.

A Comissão das Comunidades Europeias, refere que "aspessoas da União Europeia possuem actualmente umamaior longevidade e revelam estilos de vida mais sau-dáveis que anteriormente" (19). No entanto, Portugalnão parece enquadrar-se neste padrão.

Page 26: Nutrícias nº1

Cientificidades

Se, no universo da União Europeia, os resultados finaisnão são, no seu todo, alarmantes, nem a necessidadede intervenção tão premente, ao analisarmos asituação Portuguesa, bem como a de outros paíseseuropeus da bacia do Mediterrâneo, os dados sugerema necessidade de intervir urgentemente pois caminha-mos para um futuro pouco animador, confrontadoscom graves problemas de sedentarismo, excesso depeso e as suas já conhecidas consequências. A nossapopulação revela uma atitude passiva face à AF, refle-xo da ausência de conhecimentos, o que se traduz nosaltos níveis de sedentarismo, a par de uma prevalên-cia elevada de peso superior ao normal, factores derisco conhecidos para as principais causas de morbili-dade e mortalidade em Portugal.

Face aos principais resultados deste estudo salienta-sea necessidade de definir e delimitar estratégias deintervenção em termos de saúde pública.

Assim, o Governo deverá reflectir se o que se tem feitoe se tem considerado como prioritário, corresponde àsreais alterações dos padrões de doença e estilos devida da população Portuguesa. Para isso torna-senecessário verificar quais as necessidades presentes efuturas não só a nível nacional como local.

A par do que já se faz em alguns países da Europacomo por exemplo na Finlândia, a implementação deuma política de saúde pública que contemple a pro-moção da AF, seria um auxílio precioso no sentido dareorientação e reformulação das políticas de saúde nosentido da promoção do bem-estar das populações(20).

Estas orientações deverão ter em conta, a criação deinfra-estruturas propícias à sua execução, não só emtermos materiais como também estabelecendo umanova legislação que promova a AF nas mais diversasáreas da sociedade (locais de trabalho, instituições delazer, autarquias, escolas etc.).

Existe então a necessidade de promover actividadesconsideradas atractivas para as diferentes faixas etá-rias, associando a noção de actividade com diverti-

mento e não obrigatoriedade (21), mostrando as maisvalias a nível de sucesso escolar e profissional, salien-tando a sua importância no controlo do stress e confli-tos emocionais, criando condições favoráveis aoaumento da AF e ensinar a aproveitar os tempos delazer adoptando comportamentos mais saudáveis, emtodos os grupos populacionais, não esquecendo aque-les que se encontram mais distanciados destas práti-cas: as mulheres, os indivíduos de menor escolaridadee pertencentes a um estrato social baixo, os mais vel-hos e os que provavelmente vivem em determinadaszonas do país, como é o caso da região de Setúbal eAlentejoO presente estudo indica também uma necessidade deintervenção para reverter a crescente prevalência doexcesso de peso, um dos principais problemas emsaúde pública cujas consequências são inúmeras einfelizmente cada vez mais evidentes. Para este pro-blema a prevenção será também o método mais sen-sato, eficaz e de menor custo (22,23).

No que se pode considerar a outra face da mesmamoeda verifica-se a difusão de uma imagem princi-palmente feminina associada à magreza e geradora deestados de ansiedade por quem não se enquadra nestegrupo (24).

Por outro lado cresce a oferta alimentar de produtosenergeticamente densos e de riqueza nutricional baixaque concorrem para o aumento da ingestão de ener-gia.

Assim o tratamento da obesidade implica uma abor-dagem multidimensional, que inclui a intervenção emtermos dietéticos, já compreendida pelos Portuguesesque pretendem perder peso, e onde a promoção deestilos de vida mais activos é necessária apesar de nãoser bem entendida pela nossa população (22,23).

O presente estudo evidencia o andar a pé como umaactividade popular em todas as faixas etárias.Também Hakim e Morris referenciam a caminhada a pécom um passo activo como uma forma acessível deexercício para a população em geral, mas também

28 29

Page 27: Nutrícias nº1

Cientificidades

para aqueles que têm peso em excesso e mais idade(25,26).

No entanto, numa sociedade dominada pelo consu-mismo, a adopção de estilos de vida que possam serentendidos como mais "básicos" poderá não ser acei-te com facilidade.

O Governo Português considera essencial "mobilizar osprincipais actores no sentido de identificar um Códigode Boas Práticas para uma vida activa e saudável, cul-turalmente adaptado à população Portuguesa e pro-mover a sua difusão e adopção" (27). Aguardamosentão um futuro mais animador?

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Correspondência:Cláudia AfonsoFaculdade de Ciências da Nutrição da Universidade doPortoRua Dr. Roberto Frias4200-465 PortoTelefone: 22 507 43 20 Fax: 22 507 43 29

30 31

Page 29: Nutrícias nº1

Cientificidades

Chá, uma fonte natural de antioxidantes

O chá é a bebida mais consumida no Mundo, logo aseguir a água, bebendo-se mundialmente mais de300 biliões de litros de chá, sendo sete vezes maisconsumida que a água mineral.

Esta bebida é proveniente dos rebentos frescos daCamellia sinensis, um arbusto que cresce em climas tro-picais e semitropicais. A partir das suas folhas é possívelobter mais de 3000 diferentes tipos de chá e, dependen-do do tipo de tratamento a que são sujeitas, divide-seem 3 categorias: chá preto, chá verde e chá Oolong.

Tanto as categorias do chá, como as quantidades deantioxidantes presentes, dependem da forma comoeste é processado após a colheita.

Para se obter o chá preto, após a colheita manual, asfolhas do chá são expostas em esteiras para quesofram uma extensa oxidação (fermentação), duran-te a qual as enzimas aí presentes conduzem à oxidaçãodos flavonóides em diferentes tipos de compostos dosquais, os que existem em maior quantidade, são asteoflavinas e teorubiginas (ver Fig. I). Estas são formaspolimerizadas das catequinas. Estas substâncias sãoresponsáveis por conferir ao chá preto a sua cor esabor únicos. As teorubiginas são também responsá-

veis pela cor avermelhada/acastanhada, enquantoque as teoflavinas são responsáveis pelo seu pigmen-to amarelado.

Se, contrariamente não se deixar que ocorra a oxi-dação enzimática, obtém-se o chá verde. No cháverde, as enzimas são inactivadas, por meio da expo-

sição ao calor, logo a seguir à sua colheita. Os flavo-nóides presentes em maior quantidade no chá verdesão as catequinas, nomeadamente a epigalocatequinagalato (EGCG) (ver Fig. II).

O chá Oolong resulta de um processo de fabrico inter-médio, entre o chá preto e o verde. Deste modo, o chásofre um processo de fermentação não tão longo comoo do chá preto.

A composição e a quantidade de sólidos extraíveis dochá, depende de vários factores como, por exemplo, avariedade e a quantidade das folhas, as condições decrescimento da planta, a sua origem (tipos de solo,grau de humidade e temperatura), o método de fabri-co (grau de oxidação) utilizado na sua preparação.Para além destes factores, os métodos utilizados na pre-

Chá Preto

Flavonóides 10%

Teoflavinas 13%

Teorubiginas 47%

Catequinas 30%

Chá Verde

Flavonóides 10%

Catequinas 90%

Fig. I - Chá Preto

Fig. I - Chá Preto

Helena Cid

Page 30: Nutrícias nº1

Cientificidades

paração do chá são igualmente importantes para a suacomposição química final, isto é, a quantidade de folhasversus a quantidade de água, bem como o tempo deduração da infusão são factores que determinam a con-centração de componentes fenólicos na bebida final.

Podemos encontrar alguns minerais no chá, tal como opotássio, o magnésio e o flúor. O flúor é um mineralque se encontra em quantidades elevadas no chá e é oresponsável pela cor amarelada que os recipientes vãoadquirindo ao longo do tempo.

As populações Africanas que bebem chá diariamente,apresentam baixos índices de cárie dentária. Sabe-seque, no Brasil, na Universidade Federal dePernambuco, está a ser realizado um estudo popula-cional, onde está a ser implementado o consumo dechá por forma a ajudar a saúde oral das populações.

Chá e Antioxidantes

Já desde a antiguidade o chá era visto como uma bebi-da que garantia saúde e longevidade.Todos estes benefícios são actualmente suportadospor um vasto programa de investigação científica, quehá mais de uma década se tem vindo a desenvolver.Os componentes bioactivos do chá são os flavonóidesque segundo investigações " in vitro", em animais oumais recentemente em estudos epidemiológicos eensaios clínicos, referem que os flavonóides, têm umaelevada capacidade antioxidante.Os flavonóides pertencem ao grupo dos polifenois.Sabe-se que existem mais de 4 000 destas substânciasquímicas.

Estudos científicos têm demostrado os efeitos benéficospara a saúde dos antioxidantes, nomeadamente dos fla-vonóides presentes nos frutos e nos vegetais e no chá.

O Dr. Ron Prior, da Human Nutrition Center on Ageing,tuff´s University in Boston, mediu a capacidade antio-xidante do chá e de 22 frutos e vegetais e verificou quea concentração e a capacidade de antioxidante do cháera superior aos dos outros alimentos estudados. Esteinvestigador concluiu também que 80% dos antioxi-dantes estão disponíveis a partir dos 5 primeirosminutos de infusão.

Mais recentemente, um estudo "in vitro" realizado noInternational Antioxidant Research Center, refere que ascatequinas e os flavonóides, presentes no chá, têm umaelevada capacidade antioxidante. Estas substânciasapresentam uma capacidade de neutralizar o oxigénio eo nitrogénio superior à das outras substâncias antioxi-dantes, presentes nomeadamente nos vegetais e nosfrutos, tais como a vitamina C, E e os carotenóides.

Os resultados de um estudo "in vivo" mostraram-nosque após o consumo, quer de chá verde quer de chápreto, as substâncias antioxidantes são rapidamenteabsorvidos pelo organismo humano e o seu pico séricomáximo dá-se cerca de 120 minutos após suaingestão. Igualmente foi demonstrado a sua elevadabiodisponibilidade. Mesmo a adição de leite nãoinfluencia a absorção destes antioxidantes.

Chá e Doenças Cardiovasculares

Evidências científicas têm relacionado o papel dosradicais livres de oxigénio na patogénese de algumasdoenças crónicas, como as doenças cardiovasculares,cancro entre outras.

Vários estudos epidemiológicos sugerem que o chápode ter um efeito benéfico nas Doenças Cardio-vasculares e parece haver uma relação entre os bebe-dores habituais de chá e uma diminuição da incidên-cia deste tipo de doenças degenerativas.

Os resultados dos estudos "in vitro", demonstraramque os flavonóides presentes no chá são potentessequestradores de radicais livres na fase aquosa e nalipídica protegendo, deste modo, mais rapidamente aoxidação das lipoproteínas de baixa densidade (LDL).

Mesmo quando comparadas as substâncias antioxi-dantes presentes no chá com outros antioxidantesconhecidas como a vitamina E, C e carotenóides, veri-fica-se que os flavonóides presentes no chá tem umefeito antioxidante mais eficaz sobre a as substânciasenvolvidas na patogénese da placa de ateroma.

As evidências sugerem que o chá pode ter, também,um efeito anti-plaquetário.

32 33

Page 31: Nutrícias nº1

Cientificidades

Chá e Cancro

Os estudos populacionais, têm demonstrado que podeexistir um efeito positivo entre o consumo de chá e a pre-venção do cancro. Estudos com modelos animais suge-rem a possibilidade de tanto o chá verde como o chápreto serem agentes eficazes na prevenção de algunstipos de cancro, tal como o cancro da pele, do esófago,do estômago, do cólon, especialmente nas fases iniciaisda carcinogénese, bem como, nos processos celulares demorte natural (apoptose) destes tumores.

Segundo investigações, parece que o consumo de chá,diminui a peroxidação lipídica, a mutagenicidade egenotoxicidade e a inibição da hiperproliferação celu-lar. Por outro lado, parece que o chá tem um efeitopoderoso na activação eficaz dos seus antioxidantes edos sequestradores dos radicais livres.Estão a imergir uma panóplia de investigações cienti-ficas nesta área, necessários para se poder tirar maisconclusões.

Conclusão:

Os Europeus e os Americanos bebem essencialmente chápreto e os Asiáticos consomem mais chá verde. O cháverde foi o primeiro a ser estudado porém, actualmentepode afirmar-se inequivocamente que ambos (cháverde e preto) contêm substâncias com actividadesantioxidantes "in vitro" muito fortes.

Uma conquista importante ocorrida nos últimos anos, foio desenvolvimento de métodos analíticos que permitemmedir com exactidão os principais componentes do chá.Isto tornou possível obter provas sobre a biodisponibili-dade dos vários antioxidantes presentes no chá.

Espera-se que a nova geração de estudos possa forne-cer provas ainda mais conclusivas sobre os efeitosbenéficos do chá para a saúde.

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Helena CidNutricionistaCentro de Informação Lipton-Chã e SaúdeLargo Monterroio Mascarenhas, nº 11070-184 Lisboa

Page 32: Nutrícias nº1

Cientificidades

34 35

Restrições alimentares e sua justificação: comparação entre mulheres jovensnormais e predispostas a perturbaçõs alimentares

Resumo

Mulheres jovens universitárias (18-30 anos: N=437) pre-encheram o "Eating Disorders Inventory" (EDI) e adicio-nalmente foi-lhes pedido que indicassem numa lista de70 alimentos/bebidas usuais, aqueles que geralmenteevitavam e respectiva razão. Cerca de 16% das partici-pantes (n=68), cujo resultado no EDI era maior que 43,encontrava-se em maior risco de desenvolver pertur-bações alimentares em comparação com outras comresultados igual ou inferiores a 43 (n=369).Proporcionalmente, mais mulheres do grupo de Riscodo que do grupo Normal evitavam alimentos/bebidasna sua maioria de elevada densidade energética: quei-jo, gorduras, batatas incluindo as fritas, pão, cereais,nozes, doçaria, comidas rápidas, molhos e refrigeran-tes. Foram encontradas diferenças significantes entre osdois grupos de mulheres em relação à diversidade dasjustificações para a restrição de 27 alimentos: leitesgordo e meio gordo, queijo, ovos, gorduras, pão bran-co, massas, batata frita, frutos secos, nozes, bolachas ebolos com creme, chocolates, sobremesas lácteas, gela-dos, compotas, compotas dietéticas, açúcares, adoçan-te, comidas rápidas, molhos e refrigerantes. As razõespara a restrição alimentar sob a categoria "engorda"foram mais mencionadas pelas mulheres em Risco,enquanto que características sensoriais não aprazíveise/ou aspectos não saudáveis dos alimentos foram maisreferidos por mulheres do grupo Normal.

Introdução

Obsessões pela magreza e pela dieta crónica são cada

vez mais frequentes, sobretudo entre adultos jovens

do sexo feminino. Todo o processo de restrição ali-

mentar pode originar, entre outros distúrbios fisioló-

gicos e psicológicos, o comportamento de pertur-

bações alimentares incluindo a anorexia (AN), a buli-

mia nervosas (BN) ou ainda perturbações alimentares

atípicas, que podem passar muitas vezes despercebi-

das (Fairburn & Walsh, 1995).

É sabido que o jejum e a restrição alimentar poderão

desencadear ingestões alimentares compulsivas

(Polivy & Herman, 1985; Wardle, 1987). Existe ainda a

tendência para evitar alimentos com elevada densida-

de energética, nomeadamente os ricos em gordura, e

uma maior preferência por produtos alimentares die-

téticos (Tuschl et al., 1990). No entanto, pouco se sabe

acerca das justificações inerentes à restrição alimen-

tar. Consequentemente, o objectivo deste estudo con-

sistiu em verificar as diferenças em relação aos ali-

mentos evitados e às razões para tal comportamento,

entre mulheres jovens predispostas a perturbações ali-

mentares e mulheres que não estavam em risco.

Metodologia

Estudantes do sexo feminino e de diferentes cursos daUniversidade do Minho, com idades compreendidasentre 18 e 30 anos, preencheram um questionário queconsistia em duas partes. A primeira incluía o "EatingDisorders Inventory" (EDI; Garner et al., 1983; Garner,1990) validado para a população Portuguesa(Machado et. al., 2001). O número de questionáriosválidos foi de 437. As mulheres que participaram nesteestudo foram divididas em 2 grupos de acordo com oponto de corte convencionado de 43 (Jacobson &Truax, 1991). As jovens, cujo resultado do EDI era supe-rior a 43, foram incluídas no grupo de Risco (n=68), ouseja em risco de desenvolver perturbações alimenta-res, enquanto que as restantes, cujo resultado do EDIera igual ou inferior a 43, constituíram o grupo Normal(n = 369). As médias para o EDI e suas subescalas dos 2grupos foram comparadas utilizando-se o teste nãoparamétrico de Mann-Whitney U. A segunda parte incluia uma lista de 70 alimentos ebebidas usuais. Os participantes teriam que indicarquais os alimentos/bebidas que habitualmente evita-vam e providenciar a razão para tal comportamento. Oteste do qui-quadrado foi aplicado nas frequências dealimentos evitados e razões. De modo a evitar fre-quências esperadas menor que 5, as frequências

Santos, M. L. S., Ph. DMachado, P. P. P., Ph. D

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Cientificidades

pequenas observadas de justificações foram combina-das em Outras razões. O nível de significância escolhi-do para todas as análises foi de 0.05 (bicaudal).

Resultados

Características demográficas

Relativamente à idade, que variava entre 18 e 30 anos,as mulheres do grupo Normal apresentavam um meanrank superior ao das de Risco (Idade mean rank

Normal=226.1; Idade mean rank Risco=180.49; Z=-2.773,p=.006). Apesar de as mulheres em Risco apresentaremum mean rank superior para o Índice de MassaCorporal (IMC) que as do grupo Normal (IMC mean rank

Risco=253.13; IMC mean rank Normal=212.71; Z=-2.425,p=.015), ambos os grupos continham sujeitos quevariavam da magreza extrema ao peso excessivo.

Eating Disorders Inventory

Em média, as mulheres em Risco estavam menos satis-feitas com a sua imagem corporal, tinham um maiorimpulso para emagrecer, e apresentavam médias maiselevadas para as restantes subescalas do EDI (Tabela I).

Restrição alimentar

Em geral e proporcionalmente, as mulheres em Riscoevitavam mais alimentos que as do grupo Normal,excepto leite magro, bolachas integrais e de água e sal(Figuras 1a e 1b). A maioria dos alimentos evitadospelas mulheres em Risco possuem elevado teor ener-gético e estão associados à gordura e/ou hidratos decarbono de absorção rápida (doçaria) lenta (farináce-os). No entanto, alimentos associados à palavra inte-gral ou magro não eram tão restringidos pelas mulhe-res em Risco. Não foram encontradas diferenças para amaioria dos alimentos/bebidas dos seguintes grupos:Ovos, carnes e peixes; Hortaliças e legumes; Frutos;Bebidas, excepto para salsichas, nozes, refrigerantes,café, chá e infusões em que as mulheres em Risco evi-tavam mais.

Justificação para a restrição alimentar

Em relação às razões dadas para evitar os mesmos ali-

mentos: leites gordo e meio gordo, queijo, ovos, gor-

duras, pão branco, massas, batata frita, frutos secos,

nozes, bolachas e bolos com creme, chocolates, sobre-

mesas lácteas, gelados, compotas, compotas dietéti-

cas, açúcares, adoçante, comidas rápidas, molhos e

refrigerantes, os dois grupos divergiram significativa-

mente (Tabela II). Para a restrição da maior parte des-

tes, as mulheres de Risco referiram mais frequente-

mente razões categorizadas em Engorda, enquanto

que o grupo Normal distribuía justificações pelas

características sensoriais não aprazíveis e pelos aspec-

tos não saudáveis dos alimentos e menos frequente-

mente por Engorda.

Conclusão

Certos alimentos, sobretudo fornecedores de gordurae de hidratos de carbono de absorção rápida, mas emalguns casos de absorção lenta, são alimentos com aconotação de que engordam sobretudo entre as mul-heres predispostas a perturbações alimentares destaamostra universitária. Por outro lado, as mulheres dogrupo Normal evitavam os mesmos alimentos ou pornão gostarem, ou por não considerarem saudáveis ouainda, mas em menor número, por engordarem. Noentanto, é importante realçar que algumas destasjovens, em risco ou normais, tinham a noção deturpa-da de que produtos alimentares de pouco valor ener-

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Cientificidades

36 37

Tabela I: Mean ranks para as subescalas e total do EDI dos grupos Normal e de Risco.

Impulso para emagrecer

Bulimia

Insatisfação corporal

Ineficácia

Perfeccionismo\

Desconfiança interpessoal

Consciência Interoceptiva

Medos de maturidade

Total

197.74

209.14

197.97

200.34

211.78

211.05

201.27

207.25

191.00

378.78

315.86

377.51

364.44

301.28

305.28

359.31

326.28

416.00

Normal (n=369) Risco (n=68)

-11.004

-7.541

-10.616

-10.261

-5.289

-5.643

-9.512

-7.052

-13.229

Mann-Whitney U

Z p≤≤<

0.0001

0.0001

0.0001

0.0001

0.0001

0.0001

0.0001

0.0001

0.0001

gético também contribuem para o excesso de peso.Assim, considerando estes dados preliminares, mastambém de modo a facilitar o processo terapêutico,torna-se fundamental a investigação mais detalhadaacerca da racionalidade inerente à restrição alimentar.

Referências

Fairburn, C. G. & Walsh, B. T. Atypical eating disorders.In K. D. Brownell & C. G. Fairburn (Eds.), Eating disor-ders and obesity, pp. 135-140, 1995. New York:Guilford.Garner, D. M., Olmsted, M. P. & Polivy, J. Developmentand validadtion of a multidimensional Eating DisorderInventory for anorexia nervosa and bulimia.International Journal of Eating Disorders, 1983; 2: 15-34.Garner, D. M. Eating Disorders Inventory – 2:Professional Manual, 1990. WPS: Los Angeles.Jacobson, N. S. & Truax, P. Clinical significance: a sta-tistical approach to defining meaningful change inpsychotherapy research. Journal of Consulting andClinical Psychology, 1991; 59: 12-19.

Machado, P. P. P., Gonçalves, S., Martins, C., & Soares,I. C. The Portuguese version of the Eating DisordersInventory: evaluation of its psychometric properties.European Eating Disorders Review, 2001; 9: 43-52.Polivy, J. & Herman, C. P. Dieting and binging. A cau-sal analysis. American Psychologist, 1985; 40: 193-201.Tuschl, R. J., Laessle, R. G., Platte, P. & Pirke, K.Differences in food-choice between restrained andunrestrained eaters. Appetite, 1990; 14: 9-13.Wardle, J. Compulsive eating and dietary restraint.British Journal of Clinical Psychology, 1987; 26: 47-55.

Instituto de Educação e Psicologia Universidade do Minho - Campus de Gualtar4710-057 BRAGAEndereço para correspondência: a mesma, dirigida à Doutora Lourdes Santos

Agradecimentos: à Fundação para a Ciência e aTecnologia pela bolsa de pós-doutoramento atribuídaao primeiro autor (PRAXIS XXI/BPD/20122/99)

Page 35: Nutrícias nº1

Cientificidades

Figura 1a: Proporção de mulheres que evita alimentos/bebidas

0 10 20 30 40 50 60

leite magro

iogurte*

óleos

manteiga

margarina

pão branco/tostas*

pão de mistura/cereais*

arroz*

massas*

batatas fritas

batatas cozidas/assadas*

nozes

bolachas "Maria"/"Torrada"

bolachas c/ creme

%

Risco (n=68)

Normal (n=369)

todos p <.05* Teste Exacto deFisher

Figura 1b: Proporção de mulheres que evita alimentos/bebidas

açúcares/mel/melaço Risco (n=68)

Normal (n=369)

todos p <.05* Teste Exacto deFisher

0 10 20 30 40 50 60

bolos secos*

bolos c/ creme

chocolates

sobremesas lácteas

gelados

compotas

rissóis/pasteis

hamburger/hot-dog

maionese

refrigerantes

café/chá

infusões*

%

Page 36: Nutrícias nº1

Cientificidades

38 39

Tabela II: Proporção de mulheres dos grupos Normal e Risco referindo razões para evitaremalimentos; amostras baseadas no score de EDI: Normal (N=369); Risco (N=68).

Alimentos

Leite gordoNormal (n=227)Risco (n=46)

Leite meio-gordoNormal (n=41)Risco (n=10)

QueijoNormal (n=43)Risco (n=13)

OvosNormal (n=22)Risco (n=7)

ÓleosNormal (n=59)Risco (n=22)

ManteigaNormal (n=53)Risco (n=22)

MargarinaNormal (n=79)Risco (n=26)

Pão brancoNormal (n=16)Risco (n=11)

MassasNormal (n=10)Risco (n=11)

Batatas fritasNormal (n=94)Risco (n=33)

Frutos secosNormal (n=91)Risco (n=24

NozesNormal (n=54)Risco (n=17)

Biscoitos com cremeNormal (n=89)Risco (n=33)

Sensoriais

%

5233

6650

6331

1457

Outrasrazões

Outrasrazões

4323

Outrasrazões

Outrasrazões

Outrasrazões

9362

4629

6033

Engorda

%

1035

1050

1969

--

936

3873

1346

3782

2082

2961

Outrasrazões

1759

2667

Saúde

%

3328

240

190

8743

6636

2818

3523

Outras razões0

Outras razões0

5327

Outrasrazões

Outrasrazões

Outras razões0

Outras razões

%

54

--

--

--

2514

349

98

6318

8018

1812

738

3712

150

χ2

χ2(3)=20.6

p<.0001

χ2(2)=10.1

p=.006

χ2(2)=12.7

p=.002

χ2(1)=5.5

p=.038*

χ2(2)=10.2

p=.006

χ2(2)=8.2

p=.017

χ2(3)=13.5

p=.004

χ2(1)=5.2

p=.047*

χ2(1)=8

p=.009*

χ2(2)=10.8

p=.005

χ2(1)=16

p<.0001*

χ2(2)=12.1

p=.002

Page 37: Nutrícias nº1

Cientificidades

Bolos com cremeNormal (n=89)Risco (n=35)

ChocolatesNormal (n=92)Risco (n=30)

Sobremesas lácteasNormal (n=47)Risco (n=23)

GeladosNormal (n=23)Risco (n=13)

CompotasNormal (n=48)Risco (n=29)

Compotas dietéticasNormal (n=36)Risco (n=11)

Açucar/mel/melaçoNormal (n=60)Risco (n=21)

AdoçanteNormal (n=46)Risco (n=9)

Rissóis/pasteisNormal (n=48)Risco (n=22)

PizzaNormal (n=52)Risco (n=14)

Hamburger/hot-dogNormal (n=94)Risco (n=28)

MaioneseNormal (n=99)Risco (n=34)

Ketchup/outros molhosNormal (n=138)Risco (n=30)

RefrigerantesNormal (n=71)Risco (n=24)

3120

150

344

Outras razões0

5614

7836

4519

7833

Outrasrazões

Outrasrazões

4725

6653

6440

378

4174

4083

4783

61100

3183

Outrasrazões

3871

Outrasrazões

1267

1979

1154

935

747

1838

203

383

Outrasrazões

Outras razões0

Outrasrazões

Outrasrazões

Outrasrazões

Outrasrazões

4611

Outrasrazões

3121

2012

Outrasrazões

3946

83

713

1913

390

133

2264

1710

2267

4222

8121

120

50

3013

68

χ2(2)=18.8

p<.0001

χ2(3)=12.6

p=.006

χ2(3)=23.4

p<.0001

χ2(2)=9.3

p=.009

χ2(1)=6.8

p=.014*

χ2(2)=19.2

p<.0001

χ2(1)=6.6

p=.023*

χ2(2)=6.9

p=.032

χ2(1)=7.4

p=.013*

χ2(2)=19.8

p<.0001

χ2(1)=17.9

p<.0001*

χ2(3)=25.8

p<.0001

χ2(3)=14.4

p=.002

χ2(2)=33.8

p<.0001

Nota:* Teste Exacto de Fisher

Page 38: Nutrícias nº1

Cientificidades

40 41

PROBIÓTICOS: alimento funcional?

Alimento Funcional

Recentes conhecimentos sugerem a hipótese de quepara além das necessidades nutricionais, a dieta podemodular variadas funções no organismo exercendoum papel benéfico na prevenção de doenças.Os conceitos nutricionais são hoje mais abrangentes,comemos não só para sobreviver mas, para satisfazer oapetite, prevenção de efeitos adversos e também como objectivo de promover o "bem estar", aumentandoos níveis de saúde e reduzindo o risco de doença.Um alimento diz-se funcional se contém um compo-nente (seja ou não um nutriente) que beneficia algu-mas das funções do organismo humano de tal formaque seja relevante para o bem estar e saúde ou aredução do risco de doença,(1) ou se este tem efeitosfisiológicos ou psicológicos para além dos tradicionaisefeitos nutricionais.(2)Os alimentos funcionais têm sido motivo de investi-gação em países como os Estados Unidos e o Japão.Esta investigação tem como objectivo avaliar os efeitosfisiológicos e os benefícios de alimentos ou seus com-ponentes na promoção da saúde.Os efeitos positivos de um alimento funcional contri-buem para a manutenção de bem estar físico ou redu-zir os riscos de algumas patologias.(3)Da reunião de Consenso (Madrid, Outubro 1998) umgrupo de peritos Europeus adoptou a seguinte defi-nição de alimento funcional "Um alimento pode serconsiderado funcional se é demonstrado de formasatisfatória que actua em um ou mais alvos funcionaisdo organismo afectando-os, para além do efeitonutricional adequado, de tal modo que é relevantepara o aumento do "bem estar", saúde ou redução dorisco de doença".(4)Um componente de um alimento funcional pode serum macronutriente se tem efeitos fisiológicos específi-cos (ex: ácidos gordos n-3) ou um micronutrienteessencial se a sua ingestão é maior do que a dose diá-ria recomendada . Pode ainda ser um componente deum alimento que embora tendo valor nutritivo, não éessencial (ex: alguns oligossacarídeos) ou sem valornutritivo (ex: microorganismos vivos).

A dieta, para além do seu valor e funções nutricionais(necessidades metabólicas), dá prazer e fornece com-ponentes que permite modular as funções do organis-mo e reduzir o risco de algumas doenças.

Probióticos

Classicamente, probiótico é definido como microorga-nismo vivo do suplemento da dieta que tem efeitosbenéficos no aparelho digestivo. Esta definição foi ini-cialmente aplicada ao uso de produtos para animais.Em nutrição humana é definido como microorganismovivo constituinte dos alimentos que tem efeito benéfi-co na função intestinal e que promove a saúde.(5)Estes microorganismos, promovem a fermentaçãotransformando alguns dos açúcares, especialmente alactose em ácidos orgânicos (ácido láctico e acético)sendo usadas na produção do iogurte e outros produ-tos de fermentação do leite. Os géneros bacterianosmais utilizados são o lactobacilo e a bifidobacteria.Para além da sua utilização principal, em produtoslácteos e culturas liofilizadas, os probióticos parecemvir a ter, num futuro próximo, um papel importanteem alimentos vegetais e carnes. De acordo com experiências efectuadas em diversos ins-titutos, estes microorganismos vivos, resistem ao sucogástrico e sais biliares e parecem sobreviver mesmo quetransitoriamente no intestino delgado. Este facto temimportância vital na regulação do aparelho gastrointes-tinal. A sua viabilidade é superior aos microorganismosvivos que habitualmente podem ser ingeridos e sãoencontrados no cólon. Assim, a capacidade de fermen-tação que habitualmente existe no cólon pode ser adi-cionalmente modificada após a ingestão oral de probió-ticos, tendo como efeito a presença de elevado numerode lactobacilos e bifidobacterias nas fezes.Alguns efeitos relacionados com a saúde e associadosà ingestão de probióticos foram descritos por diferen-tes grupos de investigação em nutrição humana.(6) Osseus efeitos podem ser usados para justificar asexigências nutricionais ou na redução do risco dedoença.

Rosa Maria Santos1, João Pedro Freitas2, Mário Espiga Macedo3, António Falcão de Freitas4

1 Nutricionista

2 Cardiologista, Mestre em Medicina Desportiva

3 Prof. Auxiliar Faculdade de Medicina Porto

4 Professor Catedrático da Faculdade de Medicina Porto, Director do Serviço de Medicina 2 - H. S. João - Porto

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Cientificidades

Efeitos funcionais dos probióticosEfeitos sobre a intolerância à lactoseA intolerância à lactose é um problema para mais oumenos 70% da população mundial com deficiência deb- galactosidase intestinal. Esta intolerância à lactoseprovoca efeitos osmóticos e fraca digestibilidade paraos hidratos de carbono. Os alimentos com probióticostêm efeitos benéficos melhorando a digestão, e redu-zindo os sintomas de intolerância à lactose. (6)Efeitos sobre o colesterolOs efeitos de alimentos com probióticos sobre o coles-terol são ainda motivo de controvérsia. Estudos publi-cados em 1970 e 1980 referem consistentemente que oconsumo diário de produtos lácteos fermentados porperíodos variáveis entre 2 a 4 semanas reduzem ocolesterol entre 5 e 17%, contudo, estes dados foramrecentemente contestados por outros estudos quereferem não existir efeito sobre o colesterol.(7)Diminuição do risco de doençaExistem evidências de que o consumo de probióticosleva à redução do risco de diarreias provocadas porrotavirus e possivelmente o cancro do cólon. A diarreiapor rotavirus é das alterações gastrointestinais mais fre-quentes, daí o seu interesse em saber quais os probióti-cos disponíveis na prevenção destas situações que oco-rrem sobretudo em crianças e em indivíduos com alte-rações da motilidade gástrica. Diferentes grupos deinvestigadores, utilizando condições de método diferen-tes concluíram que o consumo de probióticos e produtoslácteos fermentados reduzem os episódios de diarreia eo risco de doenças gastrointestinais. (8)No cancro do cólon as evidências baseiam-se exclusi-vamente em experiências animais que mostram dimi-nuição das formas aberrantes "crypt-foci" histológi-cos após a ingestão de produtos com lactobacillus ebifidobactérias. (9)As cadeias dos probióticos lactobacillus e bifidobac-téria diminuem a quantidade fecal de enzimas como ab-glucuronidase, b-glucosidase, nitroreductase e ure-ase que estão envolvidas na activação metabólica dediferentes mutagénios e carcinogénios. Para alémdesta sua inibição da actividade enzimática parecemtambém fazer diminuir os mutagénios fecais e uriná-rios em voluntários saudáveis consumidores habituaisde carne de vaca.

Defesas naturais e imunitáriasAs crianças cuja suplementação alimentar é feita comcadeias de lactobacillus casei têm aumento das con-centrações de Imunoglobulinas A (IgA) que se correla-ciona com a diminuição de diarreias provocadas porrotavirus.(10) A IgA existe em duas formas diferentes,sendo um elemento da imunidade especifica mediadapor anticorpos ou imunidade humoral. Uma das for-mas de IgA, a dimérica está presente nas secreções queenvolvem as superfícies mucosas e participam no quese chama exclusão imune, dado que contribuem paraformar uma barreira mucosa, não permitindo que osantigénios toquem e atravessem a superfície mucosa.É de notar que a maior parte das infecções humanas deorigem bacteriana ou vírica, penetram por superfíciesmucosas. A IgA monomérica ao contrário da diméricaé uma imunoglobulina presente no soro. Estudos efec-tuados em voluntários humanos realizado por LinK-Amster et al. em 1994 no NRC, demonstrou que leitesfermentados com estirpes de microorganismos pro-bióticos aumentavam significativamente os níveisséricos de IgA contra lipopolissacarídeos da SalmonelaTyphi após vacinação oral da estirpe atenuada deSalmonela. De referir também que existem varias estir-pes de probióticos, sendo que a sua selecção e utili-zação estão a ser investigadas por diversos laborató-rios mundiais especializados em nutrição humana.

ConclusãoOs probióticos são muito conhecidos quer na Europa,Japão e Estados Unidos, usados sobretudo em produ-tos fermentados do leite. Estes alimentos influenciampositivamente as funções gastrointestinais e a flora docólon. Os maiores benefícios para a saúde são a pre-venção de diarreias e a sua acção positiva no sistemaimunitário.Os hidratos de carbono são um conjunto de compo-nentes com diferentes efeitos fisiológicos e diversaspropriedades nutricionais que merecem cada vez maisa atenção dos nutricionistas. Na família dos hidratosde carbono, os oligossacarídeos indigestíveis merecemparticular atenção e podem ser na próxima décadamotivo de interesse como alimento funcional. Para que

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Cientificidades

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se justifique o seu papel de alimento funcional e fac-tor adjuvante para a saúde são ainda necessários estu-dos que confirmem os seus efeitos benéficos.Alterações na microflora intestinal, modulação dometabolismo do triacilglicerol, modulação da insuli-némia, aumento da biodisponibilidade do cálcio dadieta e modulação negativa na carcinogénese docólon são algumas das áreas que motivam interessepor parte dos investigadores em Nutrição Humana. Os probióticos são pois recomendados a qualquerindivíduo. Por motivos nutricionais é sempre reco-mendado um produto lácteo. Se aliado aos beneficiosnutricionais de um produto lácteo temos presente umfermento láctico com as características de um probió-tico, este será sem duvida uma mais valia nomeada-mente nas: a) situações de défice imunitário b)situações de terapêutica com antibióticos c) alteraçõesda motricidade intestinal d) intolerância à lactose. Deuma maneira geral traduz vantagens ao longo de todoo aparelho digestivo.Fala-se muito em estilos de vida e na forma de comba-ter determinados erros alimentares mas, na maiorparte das vezes, é difícil alterar hábitos e fazer arefeição que queremos ou que gostamos. No equilibrioda microflora intestinal, como substituto de produtoslácteos que causam que provocam intolerância à lac-tose, como adjuvante das situações de défice imunitá-rio ou como suplemento alimentar, os probióticos sãoum alimento funcional porque evitam algumasdoenças gastrointestinais e podem ainda melhorar asaúde e bem estar e evitar o risco de determinadasdoenças do aparelho digestivo.

Bibliografia

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Centro de Estudos da Função Autonómica; Medicina 2;H.S.João – PortoCorrespondência:Rosa Maria SantosServiço de Medicina 2,Hospital S.JoãoAlameda Hernani Monteiro4200-Portoemail: [email protected]

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