nutrição durante a gestação
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Universidade Comunitária da Região de Chapecó – Unochapecó
Área de Ciências da Saúde - Curso de Farmácia
Disciplina de Bromatologia e Nutrição em Farmácia
Professora: Silvana
Acadêmicas: Adaiane Maria Zeni; Deise Vanessa Friedrich; Priscila Signori
NUTRIÇÃO DURANTE A GESTAÇÃO, LACTAÇÃO, INFÂNCIA, ADOLESCÊNCIA, IDADE ADULTA
Nutrição durante a gestação e lactação
A gravidez provoca modificações fisiológicas no organismo materno, que geram
necessidade aumentada de nutrientes essenciais. Seja em termos de micro ou
macronutrientes, o inadequado aporte energético da gestante pode levar a uma
competição entre a mãe e o feto, limitando a disponibilidade dos nutrientes necessários
ao adequado crescimento fetal. Portanto, a literatura é consensual ao reconhecer que o
estado nutricional materno é indicador de saúde e qualidade de vida tanto para a mulher
quanto para o crescimento do seu filho, sobretudo no peso ao nascer, uma vez que a
única fonte de nutrientes do concepto é constituída pelas reservas nutricionais e ingestão
alimentar materna.
Estudos epidemiológicos apontam que o maior risco para complicações
gestacionais está relacionado às mulheres obesas, embora o baixo peso também aumente
os riscos de desfechos desfavoráveis para a mãe e, principalmente, para o filho. Entre
esses desfechos podem ser citados diabetes e hipertensão maternas, macrossomia,
sofrimento fetal, trabalho de parto prolongado, parto cirúrgico, restrição de crescimento
intrauterino e prematuridade.
A saúde das gestantes e de seus bebês depende de uma nutrição adequada. A
nutrição da gestação é, portanto, decisiva para o curso gestacional. A dieta, no primeiro
trimestre da gestação, é muito importante para o desenvolvimento e diferenciação dos
diversos órgãos fetais. Já nos trimestres subsequentes, a dieta está mais envolvida com a
otimização do crescimento e do desenvolvimento cerebral do feto.
A gravidez sob o aspecto nutricional
Sob o ponto de vista nutricional, pode-se dividir a gestação em duas grandes
fases - fase materna e fase fetal.
Na fase materna, que corresponde aproximadamente à primeira metade da
gravidez, o organismo da gestante se prepara para permitir o desenvolvimento do feto
na segunda metade da gestação - a fase fetal. Várias adaptações fisiológicas são
observadas no organismo da mãe durante a fase materna:
■■ Aumento do apetite e da eficiência digestiva e absortiva do tubo digestivo.
■■ Aumento da volemia e do volume do líquido intracelular.
■■ Aumento no débito cardíaco e no fluxo sanguíneo renal e periférico.
■■ Aumento na ventilação pulmonar.
■■ Formação de “estoques de nutrientes” (a ingestão de alimentos no segundo trimestre
da gravidez é, por forças biológicas, maior que as necessidades nutricionais do
momento; em consequência disso se forma um “estoque” de nutrientes em vários
tecidos maternos). Esses “estoques” são constituídos, principalmente, por lipídeos e são
responsáveis, em boa parte, pelo aumento do peso da gestante.
■■ Aumento na produção de insulina, na produção hepática de triglicerídeos e na
mobilização de ácidos graxos pelo tecido adiposo; o organismo materno se torna mais
resistente à hipoglicemia.
Na fase fetal (segunda metade da gestação), boa parte das reservas nutricionais
da mãe é utilizada. Nesse período, o feto experimenta extraordinário crescimento: na 14ª
semana, pesa cerca de 20 g; na 34ª, aproximadamente 2.500 g, ou seja, 125 vezes maior.
É interessante salientar que, apesar da intensidade do crescimento fetal, as reservas
nutricionais da mãe permanecem praticamente estáveis nos últimos meses da gravidez.
RECOMENDAÇÕES DIETÉTICAS NA GESTAÇÃO
A gestação é um período de maior demanda nutricional do ciclo de vida da
mulher, uma vez que envolve rápida divisão celular e desenvolvimento de novos tecidos
e órgãos. Os complexos processos que ocorrem no organismo durante a gestação
demandam uma oferta maior de energia, proteínas, vitaminas e minerais para suprir as
necessidades básicas e formar reservas energéticas para mãe e feto.
RECOMENDAÇÕES DE VITAMINAS E MINERAIS
Em se tratando de macronutrientes, existe a recomendação de que
aproximadamente 55 a 75% do valor energético total (VET) diário seja na forma de
carboidratos, sendo o limite recomendado para a ingestão de açúcares simples menos
que 10% desses valores.
O consumo de gorduras deve ficar entre 15 a 30% do total do VET, sendo menos
de 10% na forma de gordura saturada. A indicação de ácidos graxos poli-insaturados
(PUFAs) n-6 é de 13g/ dia e n-3 é de 1,4g/dia.
As proteínas envolvidas na síntese de novos ciclos e garantindo a melhor
absorção de carboidratos e lipídios, devem estar presentes numa média de 60g/dia
durante a gravidez, devendo 50% ser de alto valor biológico.
Ao se tratar de micronutrientes, sabe-se que o consumo inadequado de vitaminas
e minerais está associado a desfechos gestacionais desfavoráveis, por isso devemos ter
atenção redobrada na hora de avaliar a presença desses elementos na dieta da gestante,
em especial o cálcio, ferro, ácido fólico, zinco e as vitaminas A, C e D.
Durante a gestação, o período que requer maior demanda de ferro é no último
trimestre da gestação em virtude do aumento das necessidades de oxigênio do binômio
mãe/bebê. A carência de ferro durante a gestação pode levar à anemia, que aumenta o
risco de parto prematuro e morte perinatal. Pode haver também consequências para toda
a vida do bebê, como a diminuição da capacidade cognitiva, de aprendizagem e de
concentração. Para evitar estes efeitos deletérios, recomenda-se consumir 27mg/dia de
ferro no 2º e 3º trimestres da gestação sendo a suplementação medicamentosa uma
medida profilática preconizada pela World Health Organization (OMS, 2003). Deve-se
concomitantemente recomendar o aumento na ingestão de ferro juntamente com
alimentos ricos em vitamina C. É comum a ingestão oral de ferro ocasionar efeitos
colaterais gastrointestinais, como náuseas, constipação e dor epigástrica.
O acido fólico tem papel fundamental no processo de multiplicação celular,
sendo, portanto imprescindível durante a gravidez. O folato interfere com o aumento
dos eritrócitos, o alargamento do útero e o crescimento da placenta e do feto. Esta
vitamina é requisito para crescimento normal, na fase reprodutiva (gestação e lactação)
e na formação de anticorpos. Atua como coenzima no metabolismo de aminoácidos
(glicina) e síntese de purinas e pirimidinas, assim como na síntese proteica.
Consequentemente sua deficiência pode ocasionar alterações na síntese de DNA e
alterações cromossômicas, como defeitos do tubo neural e espinha bífida. Durante a
gestação, recomenda-se a ingestão de 600μg/dia, o que requer suplementação
medicamentosa, uma vez que fica difícil alcançar essa indicação por meio da dieta
habitual. No Brasil, em 2004, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
instituiu a adição de 0,15mg de ácido fólico para cada 100 gramas de farinha de trigo e
milho, além dos produtos derivados do milho comercializados no Brasil.
A vitamina A é essencial para diversos processos metabólicos, como a
diferenciação celular, o ciclo visual, o crescimento, a reprodução e para os sistemas
antioxidante e imunológico. A recomendação de vitamina A é de 770μg/dia. No Brasil,
o Ministério da Saúde adotou, em 2005, o Programa Nacional de Suplementação de
Vitamina A para controlar a deficiência deste nutriente em crianças e mulheres no pós-
parto imediato.
A vitamina C, recomenda-se a ingestão diária de 85mg para gestantes entre 19 e
50 anos, que é facilmente alcançada por meio da alimentação. A quantidade máxima
tolerada desta vitamina é de 2g/dia. A deficiência de vitamina C na gestação já foi
associada ao parto prematuro, pré-eclâmpsia e aumento no risco de infecções.
A indicação de vitamina D para mulheres, gestante ou não, é de 5μg/dia, sendo
que mulheres com exposição regular aos raios solares não necessitam de suplementação.
A deficiência de vitamina D já foi associado a distúrbios da homeostase óssea na
criança, redução da mineralização óssea e aumento no risco de fraturas.
O zinco é necessário à reprodução, diferenciação celular, crescimento,
desenvolvimento, reparação tecidual e imunidade. A deficiência deste mineral na
gestação está relacionada com aborto espontâneo, retardo do crescimento intrauterino
(RCIU), prematuridade, pré-eclâmpsia, entre outros. Uma dieta rica em alimentos
integrais e fitatos, bem como a ingestão elevada de ferro, o tabagismo, e o alcoolismo
diminuem a concentração plasmática materna de zinco, reduzindo sua disponibilidade
para o feto. Nestes casos há indicação de suplementação de 25mg/dia de zinco, para
minimizar o risco de complicações associadas à carência deste mineral.
O ganho de peso na gestação é oriundo não apenas do ganho ponderal do feto e
da presença de edema, comum na gestação, mas é também proveniente das mudanças
que ocorrem no organismo da mãe. Alguns fatores que contribuem para o aumento de
peso na gravidez:
A análise dos resultados de exames laboratoriais da gestante permite avaliar
possíveis deficiências nutricionais e corrigi-las por meio de um plano alimentar
individualizado. É importante observar que, devido as adaptações fisiológicas que
ocorrem na gravidez, alguns marcadores bioquímicos apresentam-se naturalmente
alterados, sem que isso seja motivo de preocupação.
Dos exames pré-natais rotineiros, os principais a serem observados, sob o ponto
de vista nutricional, incluem a dosagem de hemoglobina (Hb) e níveis de hematócrito
(Ht), que podem indicar a anemia. Outro parâmetro importante é a determinação da
albumina plasmática, que pode indicar a deficiência de proteínas. Uma vez que a
carência de vitamina A é um problema de saúde pública no Brasil e este influencia no
quadro de morbimortalidade materno-infantil, o retinol sérico também deve ser
observado, principalmente em pacientes de baixa renda.
Uma boa nutrição durante a lactação
O aleitamento materno é a mais sábia estratégia natural de vínculo, afeto,
proteção e nutrição para a criança e constitui a mais sensível, econômica e eficaz
intervenção para redução da morbimortalidade infantil. Permite ainda um grandioso
impacto na promoção da saúde integral da dupla mãe/bebê e regozijo de toda a
sociedade. Uma boa nutrição é tão importante para uma mulher lactante como o é para
uma grávida. Há 3 boas razões para que a sua nutrição seja importante durante a
lactação.
1. Produzir leite materno requer muita energia - em termos de nutrição, o seu
lactente necessita muito mais de si agora do que quando estava grávida. Isto porque o
seu crescimento é muito mais substancial. Nos primeiros 4 meses de vida uma
criança duplica o peso que tinha à nascença, peso esse que levou 9 meses de gravidez
para atingir. A produção de leite materno necessário para suportar este crescimento é
grande. Para suportar um mês de amamentação, irá utilizar tantas calorias como
durante toda a sua gravidez.
2. Uma boa nutrição otimiza a qualidade e quantidade de leite materno - as
lactantes subnutridas produzem menos leite por dia. A baixa ingestão materna de
vitaminas pode originar um leite que contenha baixos teores destes nutrientes
essenciais. Também as proteínas importantes que ajudam a proteger o seu bebé das
infecções podem ser segregadas em quantidades reduzidas, caso esteja subnutrida.
3. A boa nutrição ajuda a manter a saúde da mãe -
se a sua dieta não satisfaz as necessidades nutricionais do seu bebé, ficará
vulnerável à depleção da sua própria reserva de nutrientes. Apesar de ser pouco
provável que uma baixa ingestão de minerais reduza o teor mineral do seu leite, as
suas reservas podem ficar diminuídas para compensar.
Amamentar é muito mais do que nutrir a criança. É um processo que envolve
interação profunda entre mãe e filho, com repercussões no estado nutricional da criança,
em sua habilidade de se defender de infecções, em sua fisiologia e no seu
desenvolvimento cognitivo e emocional, além de ter implicações na saúde física e
psíquica da mãe.
NUTRIÇÃO NA IDADE ADULTA
A nutrição na idade adulta enfatiza a importância da dieta de manutenção do bem-
estar e prevenção de doença. O papel da nutrição expandiu-se significativamente e
agora é visto como uma ferramenta que pode ser utilizada não apenas para impedir
doenças, mas para promover saúde (qualidade de vida).
Estudos afirmam que as principais causas que levam à morte – doenças cardíacas,
câncer, acidente vascular cerebral (AVC), doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)
e lesões não intencionais – podem ser atribuídas, pelo menos em parte, aos
comportamentos e fatores ambientais (United States Department of Health and Human
Services, 2000).
A nutrição defensiva para adultos no século XXI enfatiza fazer escolhas saudáveis
para promover o bem-estar e sustentar os sistemas orgânicos para um ótimo
funcionamento durante o envelhecimento. Um paradigma de nutrição defensiva para
adultos deve:
1) Maximizar o suporte para sistemas orgânicos;
2) Otimizar a integridade gastrointestinal e a função imunológica;
3) Garantir a manutenção de um peso corporal e nível de adiposidade saudáveis, e
4) Ajudar a prevenir a síndrome metabólica e doenças crônicas relacionadas
Uma ferramenta nutricional amplamente utilizada para guiar as pessoas no
sentido de fazerem escolhas alimentares é o Guia da Pirâmide Alimentar do USDA
(United States Department of Agriculture, 1992). Há mais de uma década, a pirâmide do
USDA vem sendo revisada para refletir sobre pesquisas atuais sobre nutrição e saúde.
Por exemplo, a Clínica Mayo introduziu uma versão, em 2002, intitulada “Pirâmide do
Peso Saudável” (Health Weight Pyramid), onde coloca as frutas e hortaliças na base da
pirâmide, os grãos integrais na segunda camada da pirâmide e ressalta o exercício físico
como um componente importante.
Já a Pirâmide Alimentar da Dieta Mediterrânea (Mediterranean Diet Food
Pyramid) enfatiza as leguminosas e oleaginosas como fonte de proteína; a ingestão
diária de azeite de oliva, frutas e vegetais, queijo e iogurte; e apenas mensalmente o
consumo de carne vermelha.
A Pirâmide Alimentar da Alimentação Saudável, desenvolvida na Harvard
School os Public Health, enfatiza óleos vegetais, grãos integrais, hortaliças, frutas,
leguminosas e nozes assim como os peixes, aves e ovos, como escolhas alimentares
diárias. Esta pirâmide sugere consumir carne vermelha, manteiga, arroz, pão branco,
massa, doces e batatas apenas com parcimônia.
As pirâmides alimentares apresentam uma visão geral dos objetivos alimentares
saudáveis; os profissionais de nutrição devem ajustar os alimentos e planos de refeição
às necessidades calóricas específicas e características únicas físicas, psicológicas e
genéticas dos indivíduos.
REFERÊNCIAS
FREITAS, Elisângela da Silva de; DAL BOSCO, Simone Morelo; SIPPEL, Crislene Aschebrock; LAZZARETTI, Rosmeri Kuhmmer. Recomendações nutricionais na gestação. Revista Destaques Acadêmicos, ANO 2, N. 3, 2010 - CCBS/UNIVATES. Disponível em: http://www.univates.br/revistas/index.php/destaques/article/viewFile/122/80 Acesso em: 28.mai.2012.
MACHADO, Vivian Pupo de Oliveira. Planejamento Alimentar, 2009. Disponível
em: http://www.eteavare.com.br/arquivos/28_179.pdf Acesso em: 03.jun.2012.
PARIZZI, Márcia Rocha; FONSECA, João Gabriel Marques. Nutrição na gravidez e na
lactação. Rev Med Minas Gerais 2010; 20(3): p. 341-353. Disponível em:
http://rmmg.medicina.ufmg.br/index.php/rmmg/article/viewFile/274/258 Acesso em:
28.mai.2012.