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Núcleo Estadual do Ministério da Saúde do Rio de Janeiro Divisão de Gestão de Pessoas Programa de Melhoria de Qualidade de Vida PREPARAÇÃO PARA APOSENTADORIA: UMA EXPERIÊNCIA DO NÚCLEO ESTADUAL DO MINISTÉRIO DA SAÚDE NO RIO DE JANEIRO Case preparado pelas funcionárias: Cassiana da Silva Reis, Giovana Gomes Tonelli, Janaína Pereira Cardoso Rodrigues, Lidia Grisolia Fernandes, Maristela Batista Guimarães. Agosto de 2013

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Núcleo Estadual do Ministério da Saúde do Rio de Janeiro Divisão de Gestão de Pessoas

Programa de Melhoria de Qualidade de Vida

PREPARAÇÃO PARA APOSENTADORIA:

UMA EXPERIÊNCIA DO NÚCLEO ESTADUAL DO MINISTÉRIO DA SAÚDE NO

RIO DE JANEIRO

Case preparado pelas funcionárias: Cassiana da Silva Reis, Giovana Gomes Tonelli, Janaína Pereira Cardoso Rodrigues, Lidia Grisolia Fernandes, Maristela Batista Guimarães.

Agosto de 2013

I . Apresentação

Instituição: MINISTÉRIO DA SAÚDE CNPJ: 00394544/0192-85 Ramo de Atividade: Saúde Endereço: Rua México, 128, Centro, Rio de Janeiro/RJ, CEP. 20.031-142 Responsável pela Inscrição: LIDIA GRISOLIA FERNANDES, Assistente Técnico, responsável pelo Programa de Melhoria de Qualidade de Vida, substituta do Chefe de Serviço de Cadastro de Servidores Inativos do NERJ, graduada em Direito e Psicologia, integrante da equipe de Preparação de Aposentadoria. Tel. (021)2240-4518, (021) 2220-2819 E-mail: [email protected]

O Ministério da Saúde é Órgão de Administração Direta da União, com representação no Rio de Janeiro através do Núcleo Estadual no Rio de Janeiro (NERJ). O case apresentado refere-se ao projeto desenvolvido pelo Programa Melhoria de Qualidade de Vida (PMQV), instituido pela Portaria nº 365, de 19/02/2009, que tem por objetivo, dentre outros, criar condições para manutenção do equilibrio biopsicossocial do conjunto dos trabalhadores do Ministério da Saúde. Destaque-se também, que a efetivação de tal programa deve-se mormente ao empenho com que a Divisão de Gestão de Pessoas (DIGEP) do Núcleo do Ministério no Rio de Janeiro vem tratando assuntos relacionados a implementação de medidas que assegurem o bem estar de seus servidores. Claro está, que o ramo de atividade do Ministério da Saúde não poderia ser outro senão a saúde. Porém, o Programa Melhoria de Qualidade de Vida, apoiado por uma gestão incentivadora, entende a saúde em seu sentido mais amplo, não restringindo-a meramente à questão curativa. Saúde, para gestão de pesoas significa possibilitar ao servidor acesso a alternativas para melhorar sua qualidade de vida, e nesse condão se desenvolveu a Preparação Para Aposentadoria. A Divisão de Gestão de Pessoas tem sob sua responsabilidade cerca de 13.000 (treze mil) servidores, que conta diretamente com 300 (trezentos) servidores que desempenham atividades diversas, todas relacionadas a Recursos Humanos, para manutenção de todo o efetivo; ou seja, temos 300 (trezentos) servidores responsáveis pela frequência, folha de pagamento, implementação de políticas relativas a melhoria de qualidade de vida, saúde do trabalhador, etc.; dentre 13.000 (treze mil) servidores que encontram-se cedidos em diversas unidades do SUS (Sistema Único de Saúde). Se o número de servidores ativos já se apresenta como estratosférico, mais surpreendente ainda é o número de servidores aposentados que também tem toda sua vida funcional (alteração de carreira, folha de pagamento, etc) sob responsabildiade do Núcleo, mais precisamente sob a responsabilidade da Gestão de Pessoas: São mais de 23.000 (vinte e três mil) servidores aposentados e 8.000 (oito mil) pensionistas, cuja vida funcional está sob responsabilidade dos mesmos 300 (trezentos) servidores. Assim, para que se tenha um entendimento do case, faz-se necessário situar sua linha de abrangência dentro desse universo gigantesco que ora se mostra.

O Núcleo Estadual no Rio de Janeiro do Ministério da Saúde tem em sua estrutura uma Divisão de Gestão de Pessoas, que conta com o Programa de Melhoria de Qualidade de Vida, que dentre suas ações desenvolve a Preparação Para Aposentadoria.

1.1 Resumo

O presente resumo trata da Preparação para Aposentadoria, ação vinculada ao Programa de Melhoria de Qualidade de Vida, implementada no Núcleo Estadual do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro, sob a orientação da Coordenação Geral de Gestão de Pessoas, com o intuito de atender ao artigo 28, inciso II do Estatuto do Idoso.

Tal ação visa atingir os servidores que estão próximos à fase da aposentadoria.

Esta ação tem como objetivo fomentar a reflexão sobre o que fazer na aposentadoria, através de dinâmicas vivenciais que levem aos participantes a experimentarem de que forma podem administrar sua vida.

Constitui-se, pois, num processo de formação e informação, que compreende várias etapas: idealização do projeto, sensibilização, oficinas de vivências (com abordagem de temas que se referem aos aspectos: biológico, social, psicológico, espiritual, familiar, legislativo, orçamentário, empreendedor e ocupação do tempo livre) e avaliação dos resultados obtidos nos encontros.

O presente case descreve a ação de Preparação para Aposentadoria, tratando ponto a ponto de sua construção, desde a formação da equipe até a avaliação, obtida junto aos participantes. Palavras-chave: Aposentadoria, Reflexão e Preparação.

Abstract This summary is of Retirement Preparation, action linked to the Program Improvement Quality of Life, implemented in Core State Ministry of Health in Rio de Janeiro, under the guidance of the General People Management, in order to meet the Article 28, section II of the Elderly. This action aims to reach servers that are near retirement phase. This action aims to stimulate reflection on what to do in retirement, through experiential dynamics that lead participants to experience how they can manage their lives. It constitutes, therefore, a process of training and information, which comprises several steps: idealization of the project, awareness workshops experiences (with addressing issues that relate to aspects: biological, social, psychological, spiritual, family, legislative, budget, entrepreneur and occupation of free time) and evaluation of the results obtained in the meetings. This case describes the action Retirement Preparation, treating point to point of its construction, since the formation of the team until the evaluation, obtained from the participants. Keywords: Retirement, reflection and preparation.

II. Introdução

Diversos estudos têm apontado para um envelhecimento da população mundial. Dados de grande relevância vêm desenhando no cenário mundial uma sociedade formada por idosos, com capacidade produtiva, porém relegados a “peso morto”, sem expectativa ou inserção na sociedade. Idosos sem voz e sem vez.

O trabalho institucionalizado inscreve o cidadão na sociedade e sair deste mercado traz implicações diversas para um número cada vez maior de pessoas.

O Brasil, juntamente com os outros países do BRICs (Rússia, India e China) já responde por 40,6% da população mundial de idoso. (Anexo I)

Hoje contamos com mais de 20 milhões de idosos, que representam 10,5% da população brasileira.

A expectativa de vida do brasileiro ao nascer atingiu 72,7 anos, segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em 1992, a população até 15 anos somava 33,8% dos brasileiros; Em 2007, o percentual dos jovens caiu para 25,2%.

Em 1992, as pessoas com mais de 60 anos eram 7,9% do total; Em 2007, o percentual de idosos subiu para 10,6%.

Os brasileiros com mais de 80 anos são 1,6 milhão, o equivalente a 1,4% da população.

“O mundo está se aproximando de uma crise do envelhecimento. Como a esperança de vida aumenta e as taxas de natalidade diminuem, a proporção da população idosa está se expandindo rapidamente, aumentando o peso econômico sobre a população jovem”. (Banco Mundial, 1994)

Deve se assumir que o envelhecimento é uma conquista social e reconhecer

que as experiências, capacidades e recursos das pessoas de idades mais elevadas constituem um patrimônio para a construção de uma sociedade madura, plenamente integrada e humana. (art. 6º da Declaração Política do Plano Mundial de Ação)

Se adequar à nova realidade se faz urgente. Mudanças devem e precisam ser propostas com este fim.

Instituições sérias vêm se preocupando com a questão do idoso e adotando medidas importantes nesse sentido.

Nesse condão, mediante a cena mundial apresentada, tornou-se imperioso se pensar uma estratégia de atuação para permitir ao servidor público, que tem sua data de aposentadoria limitada aos 70 (setenta) anos, o entendimento de que há outras formas de produção que não somente a Institucional. A possibilidade de integrá-lo em outras relações além das do trabalho é um foco que se tenta ampliar com o Programa de Preparação para Aposentadoria.

Portanto, o trabalho ora apresentado, tem uma inscrição social, na medida em que pretende aquecer as relações dos pré-aposentados para além do trabalho e insere-se ainda numa perspectiva mundial de entender o envelhecimento como uma forma natural e fática de vida.

A Aposentadoria apresenta-se, pois como fonte de inspiração para compreensão de diferentes questões relacionadas ao envelhecimento e é nesse viés que elaboramos nosso trabalho.

Diante deste cenário e com escopo na legislação norteadora da matéria (artigo 28, inciso II do Estatuto do Idoso), estruturamos o Programa de Preparação para Aposentadoria com o objetivo de possibilitar aos servidores do Ministério Saúde, mais precisamente aos vinculados ao Núcleo Regional do Rio de Janeiro, um espaço de reflexão acerca de problemáticas que se apresentam quando da sua aposentação. Promovendo, através de discussão, o aparecimento de caminhos a serem percorridos a partir da aposentadoria e buscando o entendimento de relações que poderiam passar relegadas a um segundo plano enquanto o trabalho se apresentava como escudo para não pensá-las.

Institucionalmente ficou evidenciado que a cada ano o número de aposentados que retornavam ao Núcleo do Ministério no Rio de Janeiro (MS/NERJ) solicitando algum tipo de revisão em seu benefício ou mesmo simplesmente para reclamar de sua aposentadoria crescia substancialmente.

Verificamos ainda, através do recadastramento domiciliar anual que a expectativa de vida do nosso servidor vem aumentando sistematicamente, e que nem sempre este servidor estava preparado para o envelhecimento. (Anexo II)

Vale destacar que o servidor passou a ter uma sobrevida bem maior após a aposentadoria e que não se pensar numa política de sustentação para esse novo cenário seria ignorar a função social de qualquer instituição, que além de perseguir sua excelência no mercado de trabalho não pode se furtar a debruçar seu olhar sobre questões sociais de importância fundamental.

Assim, constatamos que no ano de 2009, 807 (oitocentos e sete) servidores solicitaram sua aposentadoria; destas 43 (quarenta e três) ocorreram pela compulsoriedade, isto é, servidores que completaram 70 (setenta) anos de idade. A aposentadoria compulsória implica, observada a legislação atual, em algumas perdas para os servidores, notadamente no que se refere à paridade salarial. Os processos de revisão de aposentadoria aglomeram-se. Através do recadastramento observamos um número crescente de servidores com idade superior aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, destes, muitos se encontravam em condições precárias, o que lhes impunha o recadastramento domiciliar. Dos servidores recadastrados 2391 (dois mil trezentos e noventa e um) servidores não tinham condição de dirigir-se ao local de recadastramento, solicitando a visita domiciliar, onde era constatada a precariedade de muitos de nossos servidores, que, num lamento quase unânime, reclamavam que a vida tinha mudado muito desde a aposentadoria.

Deste modo, considerando a qualidade de vida do servidor, o Programa de Melhoria de Qualidade de Vida (PMQV), promoveu a ação de Preparação Para Aposentadoria para os servidores do Núcleo Estadual no Rio de Janeiro (NERJ), Ministério da Saúde (MS), atendendo a Lei nº 10.741/03, cap. VI, art. 28, Inciso II, abaixo transcrito:

Preparação dos trabalhadores para aposentadoria, com antecedência mínima de 1 (um) ano, por meio de estímulo a novos projetos sociais conforme seus interesses, e de esclarecimento sobre direitos sociais e de cidadania.( Lei nº 10.741/03, cap. VI, art. 28, Inciso I)

O objetivo da ação de Preparação para Aposentadoria, mais do que atender uma determinação legal, como acima mencionado é antes demonstrar o interesse institucional de se prestar real atenção ao servidor que, prestes a se aposentar, sente-se, por vezes, desorientado, promovendo um espaço de reflexão sobre os novos caminhos e opções que irão se apresentar nessa nova etapa de vida – a aposentadoria.

III. Relato da Experiência da Ação de Preparação para Aposentadoria

A ação de Preparação para Aposentadoria se desenvolve através de Oficinas temáticas.

As Oficinas são realizadas fora do local de trabalho, preferencialmente em local afastado da área de trabalho, onde o servidor se disponibiliza a participar da “família pepeando”, longe dos conflitos pessoais e profissionais, o servidor mergulha na reflexão acerca da aposentadoria.

Pensar acerca da aposentadoria e suas implicações no próprio local de trabalho não se apresentam como procedimento adequado, posto que, por vezes, o servidor sente-se desestimulado e sem a concentração devida para mergulhar nas questões levantadas no decorrer das Oficinas. Assim, retirá-lo de seu set de trabalho, levando-o a um contato maior com ele mesmo mostrou-se como uma boa alternativa para melhor reflexão sobre as novas frentes e avaliação de suas possibilidades em diferentes temáticas abordadas.

Trabalhamos com um processo de imersão, no qual durante 03 (três) dias consecutivos o servidor é convidado a refletir sobre os aspectos: biológico, social, familiar, orçamentário, espiritual, psicológico, empreendedor e, legislativo, incluindo descoberta de talento, com os quais se confrontará na aposentadoria.

As Oficinas são realizadas na região serrana, município do Rio de Janeiro, por várias constatações: é menos onerosa; o clima ameno é providencial, cercado de montanhas; afastamento da rotina diária. Fatos estes que corroboram para o sucesso de cada evento.

Anteriormente as Oficinas, nos submetemos às etapas fundamentais para a implantação da ação, como: Sensibilização da Instituição; Elaboração do Projeto; Identificação e preparação da equipe através de treinamento; Solicitação de verba à Coordenação Geral de Gestão de Pessoas (CGESP), situada em Brasília; Montagem de processo administrativo, com todas as especificações a serem utilizadas no evento – espaço para locação; translado; equipamento, alimentação, a fim de, após aprovação ser encaminhado a licitação; Sensibilização dos servidores e inscrição de candidatos que se encontrem próximo à aposentadoria (dois a três anos de antecedência); Realização das Oficinas e Acompanhamento dos resultados e redimensionamento das atividades.

Durante todo o processo de implantação a equipe se reúne periodicamente para planejar e definir todas as etapas da ação, que demandam diversas tarefas para cada integrante. No caso específico da Sensibilização dos servidores, que significa apresentar a ação para o público com perfil para aposentar e para as respectivas chefias, quanto ao propósito, justificativa, objetivo, metodologia, toda funcionalidade das Oficinas. Somente a partir deste momento que os servidores se inscrevem para participar das Oficinas. Em primeiro momento, tivemos algumas resistências por motivo dos servidores não entender a proposta da ação, acreditavam que era um incentivo a aposentadoria, ou mesmo que pretendíamos definir o que era melhor para cada um no período da aposentação. Mas a partir da segunda Oficina, as resistências foram diluídas naturalmente, uma vez que os servidores participantes propagaram um boca a boca positivo sobre a Preparação para Aposentadoria. Fato de relevância ímpar para a equipe, uma vez que traduz a aceitação dos servidores no desenvolvimento da ação.

A equipe de facilitadores da Preparação de Aposentadoria é composta por profissionais com formação em Psicologia, Direito, Administração, Letras, Gestão de Pessoas, Serviço Social e Legislação, que torna o debate e a construção bastante rica de saberes, que é compartilhada a todo o momento, com visões diferenciadas de mundo que se complementam a fim de dar um arcabouço teórico e prático a ação.

Todos os servidores que compõem a equipe são lotados no Núcleo Estadual no Rio de Janeiro (NERJ), Ministério da Saúde (MS), e distribuídos em setores diversos, onde atuam em outras atividades, pois a ação de Preparação para Aposentadoria é mais uma das atribuições desenvolvidas por cada um dos participantes.

Como o convite é à reflexão, a metodologia aplicada é a de diferentes dinâmicas para abordar aspectos diretamente ligados à aposentadoria. Dinâmicas estas, apresentadas em dupla, pelos facilitadores, onde o servidor é estimulado a trabalhar diversas questões levantadas pelo grupo acerca dos assuntos apontados. A utilização das dinâmicas foi escolhida por acreditar que este MEIO possa conduzir os participantes a se redescobrir, como propõe Mayer (2007):

“Adota e desenvolvem dinâmicas não como meras técnicas aplicáveis a determinados públicos, mas como meios referenciais e instrumentais de ajuda capazes de levar – pessoas e grupos – a um novo jeito de ver, pensar, compreender, encarar a vida, Isto é, a um novo jeito de ser e proceder.” (MAYER, 2007 p.17)

A intervenção do facilitador na execução das dinâmicas ocorre do modo mais

isento possível, ficando a cargo do servidor o levantamento das diferentes questões e sua relevância, bem como as conclusões tiradas a partir das diversas abordagens.

É uma preocupação dos facilitadores esclarecer que o PPA (Programa de Preparação para Aposentadoria) não trata de um estímulo à aposentadoria, mas de um olhar sobre ela e suas implicações. O servidor que se inscreve para participar dos encontros não está fadado à aposentadoria imediata, mas a refletir e a se preparar para ela.

É sabido que, seja por força de disposição legal já mencionada (artigo 28, inciso II do Estatuto do Idoso), ou para adequação de uma nova realidade social, a Preparação para Aposentadoria, vem se tornando tema frequente de inúmeros trabalhos institucionais.

O diferencial apresentado em nossa formulação recai justamente na metodologia aplicada. Nossa principal linha de atuação consiste num processo de formação, a partir de experiências relatadas pelos próprios “aposentandos” e não de informação, o que implicaria em elaboração de material técnico, palestras e pontos de vistas definidos acerca de assuntos pertinentes ao processo de aposentação. Aproveitando-nos da metodologia difundida por Paulo Freire, especificamente na Teoria da Comunicação, que partiu do princípio de que a,

“(...) a comunicação é a que transforma essencialmente os homens em sujeitos. Com esta base formulou sua proposição fundamental de que a educação, como

construção compartilhada de conhecimentos, constitui um processo de comunicação porque se gera através de relações dialéticas entre os seres humanos e com o mundo... A comunicação adquiriu em Freire uma dimensão política, em vista do caráter problematizador, gerador de reflexão (consciência crítica) e de transformação da realidade que possui o diálogo (...)” (FREIRE apud BURGOS, 2007 p. 01)

Essa premissa justifica e respalda a abordagem aplicada na ação -

metodologia vivencial grupal - que prioriza a comunicação, que é capaz de transformar os homens em sujeitos. Também permite perceber outras possibilidades até então não pensadas e o compartilhamento com o outro, num constante repensar, que é o exercício do caráter problematizador para atingir a consciência crítica.

A teoria do construtivismo, também enriquece e contribui a metodologia utilizada, quando “foca no aprendizado do indivíduo que acontece como resultado de sua interação com um grupo”. O aprendizado nos encontros é espontâneo, a partir das vivências trazidas pelos participantes que buscam soluções e possibilidades para as questões surgidas em cada debate, fruto da interação do grupo.

As dinâmicas são previamente elaboradas de forma leve e criativa, onde cada detalhe se torna importante, utilizando-se de instrumentos como: poemas, músicas, cenas teatrais, filmes, cartazes e outros, a fim de possibilitar a consciência crítica do grupo em torno das vivências ocorridas no período de aposentadoria. Na elaboração destas, buscamos linguagem acessível para facilitar o entendimento de todos no grupo, para não decorrer em constrangimento, uma vez que a ação atinge servidores de várias categorias funcionais com formações variadas.

Todos os aspectos abordados têm relevância ímpar na aposentação, pois faz parte do cotidiano de cada indivíduo, principalmente nesta nova fase de vida, em detrimento a longos anos dedicados a atividade laborativa que por vezes, fez com que não se ocupassem diretamente com as questões de origem física, mental e social. Logo, descrevemos a importância de cada tema para melhor compreensão da ação de Preparação para Aposentadoria.

A princípio consideramos todos os temas importantes, embora grande número de “pepeandos” (como os pré-aposentandos são chamados carinhosamente pela equipe) é seduzido pela Legislação. Usamos este tema como uma “isca” para conquistarmos candidatos para as Oficinas.

A Legislação é o único tema que tem abordagem informativa, esclarecendo dúvidas de direitos e deveres institucionais, constante na Legislação do Servidor Público Federal (Lei 8112/90) pertinente à aposentadoria, como as Emendas Constitucionais que trouxe alterações no texto original. Inclui-se também informações referentes à licença prêmio, insalubridade, abono de permanência, contribuição previdenciária, entre outras, inclusive como fica os proventos na aposentadoria e quais as gratificações incorporadas na inatividade. A título de informação, o conteúdo da legislação também é repassado aos servidores no momento da Sensibilização, quando apresentamos a Ação de Preparação para Aposentadoria, porém de forma mais reduzida devido ao tempo disponibilizado para

a apresentação. Esta é uma forma de contemplar a todos, inclusive aqueles que por algum motivo não possam participar do evento.

No aspecto social, os “pepeandos” são estimulados a pensar no papel que exercem atualmente na sociedade, que irá refletir na aposentadoria. Como os amigos conquistados fora e dentro da unidade; a periodicidade que busca estas amizades e o que fazer para mantê-las; qual a importância do contato com o outro na sua vida; afetividade entre outros questionamentos. Deve-se lembrar de que este é um item que compõe o conceito de qualidade de vida, defendido por vários autores. Inclusive, cientificamente comprovado, que a vida social faz bem ao ser humano, principalmente na aposentadoria.

O aspecto familiar busca tratar a questão da perda do espaço no lar em face do tempo dedicado à jornada de trabalho, que permitiu que a composição da família (genitores, cônjuges, filhos, netos, colaterais, agregados) criasse uma rotina diária sem envolver o servidor, que se encontrava dedicada ao trabalho institucional. O retorno deste servidor ao lar, algumas vezes pode gerar conflitos, pois a rotina que estava estabelecida num lar sem o servidor diariamente presente, receberá novo padrão de conformidade.

Os conflitos familiares no período da aposentadoria foram denominados cientificamente como a “Síndrome do marido aposentado”, diagnóstico feito pela primeira vez no Japão. No Incor, em São Paulo, a Dra. Angela Lopes pesquisadora do assunto, conhece muito bem os efeitos - “quando o homem tem problemas com a aposentadoria à mulher também adoece”. Inclusive, identificou as seguintes queixas: aumento de pressão arterial, ansiedade, depressão, dificuldade de se expressar, alterações de pele, úlcera gástrica.

Esta pesquisa está voltada a figura masculina, mas constatamos que a mulher também vivencia estas questões, porém com menos trauma uma vez que está mais incluída na rotina familiar.

O aspecto psicológico trabalha como o indivíduo se vê – “quem sou eu?” – e de como percebe a figura do aposentado a partir do olhar do outro. Qual a influência externa no seu imaginário como trabalhador inativo - aposentado. Lembrando que muitos servidores caem em depressão com a aposentadoria, que pode ter ligação também com a perda de status, fora do mundo do trabalho.

O aspecto biológico retrata o envelhecimento e todas suas implicações. Fatidicamente, o envelhecimento traz mudanças substanciais no corpo físico e mental, que coincide com a aposentadoria. É fato que, atualmente o trabalhador tem uma sobrevida maior após a aposentadoria em face da melhoria de recursos que justificam uma maior longevidade, tais como avanços da medicina e a preocupação com a qualidade de vida. Mas como lidar com essas mudanças? Como ser saudável? E a sexualidade como fica? Entender o envelhecimento do corpo numa sociedade que tem a estética do jovem como premissa de aceitação é um grande desafio. Aposentar remete a ideia de envelhecimento e, possivelmente tal ideia se traduz em grave entrave para se aceitar a aposentadoria. Essas são umas das questões suscitadas neste aspecto.

O aspecto orçamentário provoca o servidor a pensar sobre a necessidade ou não de planejar suas despesas em face da proximidade da aposentadoria, que trará perda salarial. E refletir como será sua aposentadoria a partir da questão financeira, com vistas ao planejamento.

O aspecto espiritual remete a sentimentos bastante internalizados. Nesta abordagem, não fazemos menção à religiosidade, isso fica claro na abordagem inicial, mas com a busca interna a partir de uma crença e a unidade do ser. O empreendedorismo é a mais nova abordagem nas dinâmicas, onde provocamos o grupo a pensar que cada indivíduo pode ser um empreendedor, desde que busque suporte técnico adequado para montar um negócio, que gere lucro, deixando claro, contudo, que este lucro não precisa vir em forma de ganho financeiro, pode traduzir-se, por exemplo, em ganhos emocionais, afetivos. Propomos que criem um negócio minuciosamente planejado; considerando-se o espaço físico adequado, número de empregados, equipamentos principais, valor do investimento, aceitação no mercado, etc. Assim, chegaram a um entendimento que para a implantação de qualquer negócio é necessário buscar assessoramento, a fim de ser satisfatório e evitar frustração. A dinâmica da Descoberta de Talentos pode ser confundida com o Empreendedorismo, mas é descompromissada com a técnica. Pois o servidor muitas vezes, deixa de seguir seus sonhos e aptidões em face de longa jornada de trabalho, e tem oportunidade de retomar antigas ideias na fase da aposentadoria. Até mesmo tentar algo novo, que lhe desperte prazer e satisfação. Este momento também é de festa, onde dançam, cantam, recitam, se vestem com fantasias, entre outros talentos. Para incentivá-los levamos uma “Caixa Mágica”, que constam vários apetrechos onde podem criar livremente alguns personagens. Todos os aspectos abordados nas oficinas estão inscritos no cotidiano de cada indivíduo, independente de sua situação funcional. Porém, na aposentadoria tudo tem uma proporção maior, e o servidor necessita de adaptação a esta nova fase de vida. As questões elaboradas nas dinâmicas, dentro de cada temática, fazem parte da demanda dos nossos servidores quanto às queixas diante da aposentadoria, que culminou na implantação de um programa voltado à preparação para a aposentadoria. Ação esta que demonstra a humanização do serviço público, que hoje se importa também com aqueles que por longos anos serviram a instituição.

Até o momento já realizamos oito oficinas vivenciais, com todos os temas abordados neste trabalho, contando, inclusive, com uma lista de espera que superou todas as expectativas da equipe quanto à aceitação do público atingido. (Anexo III)

A Preparação para Aposentadoria em suma é uma ação que visa um melhor esclarecimento e reflexão sobre o período pós-aposentadoria. Sem a pretensão de apresentar fórmulas mágicas ou messiânicas para se entender todo o processo que cerca o indivíduo que, ao se aposentar, encerra um ciclo de sua vida, e que se vê impelido a enfrentar outro, a ação PPA propõe uma estratégia de conhecimento, de envolvimento e de superação. Conhecer, planejar e arriscar, se apresentam como premissas básicas desta ação.

IV. Resultados Alcançados e Conclusão

A implementação do PPA, tal como hoje é apresentado, iniciou-se em 2010. De modo tímido, com reuniões que visavam sensibilizar servidores e autoridades sobre a importância deste trabalho e sua necessidade frente à sociedade em mudança, iniciamos nossos encontros – as chamadas Oficinas. A principal argumentação era de que evidente estava o descontentamento dos aposentados com sua nova situação; a queixa se refletia no grande número de solicitações de revisões de aposentadorias e de retorno à atividade.

Além do descontentamento relativo à sua situação funcional, o servidor aposentado também demonstrava em seu relato, dificuldades em se ajustar ao cotidiano aposentado, isto é a sua nova vida e suas novas relações sociais. Sem o trabalho para preencher o seu dia, o aposentado relatava que não sabia o que fazer com o seu tempo livre e que o ócio e solidão o estavam excluindo da sociedade.

Não há mágica que possibilite, num curto espaço de tempo, resolver questões tão profundas como as ora apresentadas. Todavia, pensar sobre elas, discuti-las e permitir que os servidores em vias de se aposentar tenham contato direto com tais questões é um grande “primeiro passo”.

O Programa de Preparação para Aposentadoria deu este primeiro passo. Ao se debruçar sobre o servidor no fim de carreira, preocupando-se em resgatar as possibilidades deste servidor ao valorizar a importância que o mesmo teve para Instituição, ajudando-o a traçar metas para quando se aposentar; o que implica de modo contundente no tipo de inserção social que este servidor possa ter a partir da aposentadoria.

De modo sistemático podemos verificar, através de dados obtidos junto aos setores responsáveis pela concessão de aposentadorias do Núcleo Estadual do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro, que as aposentadorias compulsórias caíram de 43 (quarenta e três) em 2010 (ano de inicio do Programa) para 03 (três) em 2011 e 0 (zero) em 2012; do mesmo modo, os pedidos de reversão às atividades relacionadas aos servidores aposentados voluntariamente são quase nulos atualmente. Dados demonstram que, atualmente, um número significativo de servidores em vias de se aposentar busca o Programa para um melhor entendimento acerca do assunto e suas implicações, criando-se inclusive, um banco de dados para futuras convocações para participação do Programa.

Assim, podemos demonstrar como resultado do trabalho em questão não apenas dados subjetivos como o relato de satisfação dos participantes, mas também dados tangíveis de serem medidos como os acima descritos. Longe de ser unanimidade, a Ação de Preparação para Aposentadoria ainda desperta dúvida em alguns, mas ao admitir sua aplicação, a Instituição vem dando sinais de crença cada vez maior na eficácia do Programa e em sua seriedade.

É com muito prazer que trabalhamos com a Preparação para Aposentadoria. Indo na contra mão das prioridades institucionais, que, via de regra, enxerga no novo a possibilidade de agilizar a produção e consequentemente auferir algum tipo de lucro; trabalhamos com o “velho”, aquele que a Instituição muitas vezes entendeu como um peso. Damos a ele a oportunidade de se redescobrir e de se reinserir na sociedade, elevamos sua autoestima, através de sua própria observação e, ainda

proporcionamos a Instituição o tão esperado “lucro”, que vem em forma de maior contentamento dos servidores e diminuição do número de processos que buscam o retorno à atividade.

Ao trabalhar com aqueles que estão chegando ao fim da linha Institucional, dando-lhes o espaço para pensar acerca das diversas opções que lhes podem aparecer a partir da aposentadoria, também elevamos o conceito de que os vínculos institucionais nunca morrem (pelo menos dentro das Instituições Públicas). É como se a Instituição estivesse agradecendo ao servidor pelos anos de serviços prestados, reconhecendo seu valor e acreditando que a sociedade ainda pode recebê-lo como elemento produtivo.

Paradoxalmente a modernidade do mundo, a população mundial envelhece e é natural que cada vez mais o idoso aposentado tenha que se manter alinhado com as tendências mundiais. Saber-se atuante, saudável, inserido social e familiarmente e conhecendo suas limitações e possibilidades, faz desse idoso um individuo mais afinado com o mundo em que vive.

Diferente do que se entendia sobre aposentadoria, o aposentado não está inativo. Ao contrário, está cada vez mais atuante e buscando seu espaço. É isso que o Programa de Preparação para Aposentadoria propõe; que se abra essa perspectiva para todo servidor que esta prestes a se aposentar, que ele pense sua aposentadoria como mais uma etapa de sua vida e não como o fim dela.

V. Referenciais Bibliográficos

BRASIL. Estatuto do Idoso. Brasília, 2003.

BRASIL. Ministério da Saúde Portaria nº365/09. Brasília, 2009.

BULGACOV, Yara Lucia Mazziotti, et al. Programa de Preparação para a

Aposentadoria: uma política de desenvolvimento humano. Curitiba In: Interação,

1999.

BURGOS, Carlos Crespo. Paulo Freire e as Teorias da Comunicação. 2007

Disponível em <www.acervo.paulofreire.org> Acesso em 17/05/2012.

FRANÇA, Lucia. Envelhecimento dos trabalhadores nas organizações: estamos

preparados? In: Propostas multidisciplinares para o bem-estar na aposentadoria.

Orgs. Lucia França e Daizy Stepansky. Rio de Janeiro: Quartet: FAPERJ, 2012.

MAYER, Canísio. O poder da transformação: dinâmicas de grupo. Campinas-SP:

Papirus, 2007.

MORAGAS, Ricardo Moragas. Aposentadoria: uma oportunidade de vida. São

Paulo: Paulinas, 2009.

NERI, Anita Liberalesso (org). Idosos no Brasil: vivências, desafios e expectativas na

terceira idade. São Paulo: Editora Perseu Abramo, Edições SESC-SP, 2007.

SOARES, Dulce Helena Penna, COSTA, Aline Bogoni. Aposent-Ação: aposentadoria

para ação. São Paulo: Vetor, 2011.

Sites utilizados:

www.ibge.com.br

www.pt.wikipedia.org/wiki/construtivismo

www.infoescola.com/educacao/construtivismo

www.crmariocovas.sp.gov.br/dia

Anexo I

Fonte: www.ibge.com.br

Anexo II

DEMONSTRATIVO DE ATENDIMENTO DO

RECADASTRAMENTO DOMICILIAR POR FAIXA ETÁRIA

IDADE 2005 2006 2007 2008 2009 2010 TOTAL

Até 59 12 29 64 100 140 102 447

60 a 69 20 53 101 154 204 165 697

70 a 79 47 159 324 490 618 496 2.113

80 a 89 77 198 453 790 1.009 861 3.388

90 a 99 20 75 150 280 404 354 1283

A partir de 100 anos

01 01 03 12 16 20 53

Total 177 515 1.095 1.826 2.391 1.997 8.001

Fonte: Recadastramento domiciliar/Serviço de Cadastro de Servidores Inativos

Anexo III

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

2010 2011 2012 2013

Resultados da Ação de Preparação para Aposentadoria

Nº de participantes

Banco de espera

Vagas oferecidas

Fonte: Preparação para Aposentadoria/Ministério da Saúde