novos aspectos fisiopatológicos envolvidos no transtorno obsessivo-compulsivo (toc)

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Autor: ¹ Marcus Deminco ¹ Escritor, Psicólogo, Dr.h. c. (Brazilian Association of Psychosomatic Medicine); Professor de Educação Física; Practitioner e Tutor em Programação Neurolinguística (Brasil). E-mail: [email protected] RESUMO OBJETIVO: consultar em periódicos científicos eletrônicos os conceitos etiológicos mais utilizados para definir a fisiopatologia do Transtorno Obsessivo- Compulsivo (TOC), a fim de, posteriormente, descrever os mecanismos responsáveis por sua classificação entre os estados patológicos associados à hiperativação do Eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal (HHA). MÉTODOS: revisão não sistemática em fontes de dados secundários. CONCLUSÕES: embora o TOC ainda seja considerado um transtorno idiopático, de características heterogêneos, a hipótese na qual sugere um funcionamento anômalo no circuito cortico-estriato-tálamo-cortical, possivelmente em virtude da falta de intervenção inibitória do Núcleo Caudado desencadeie excesso da atividade talâmica, retroalimentando os pensamentos invasivos e/ou os comportamentos repetitivos originários do Córtex Órbito-Frontal, gerando níveis patológicos de ansiedade que, através da Amígdala, elevam a atividade do Eixo HHA. ___________ Palavras-Chave: Transtorno Obsessivo-Compulsivo, fisiopatológica, Eixo Hipotálamo- Hipófise-Adrenal, núcleo caudado, tálamo, córtex órbito-frontal. NOVOS ASPECTOS FISIOPATOLÓGICOS ENVOLVIDOS NO TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO (TOC)

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OBJETIVO: consultar em periódicos científicos eletrônicos os conceitos etiológicos mais utilizados para definir a fisiopatologia do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), a fim de, posteriormente, descrever os mecanismos responsáveis por sua classificação entre os estados patológicos associados à hiperativação do Eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal (HHA). MÉTODOS: revisão não sistemática em fontes de dados secundários. CONCLUSÕES: embora o TOC ainda seja considerado um transtorno idiopático, de características heterogêneos, a hipótese na qual sugere um funcionamento anômalo no circuito cortico-estriato-tálamo-cortical, possivelmente em virtude da falta de intervenção inibitória do Núcleo Caudado desencadeie excesso da atividade talâmica, retroalimentando os pensamentos invasivos e/ou os comportamentos repetitivos originários do Córtex Órbito-Frontal, gerando níveis patológicos de ansiedade que, através da Amígdala, elevam a atividade do Eixo HHA.

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  • Autor: Marcus Deminco

    Escritor, Psiclogo, Dr.h. c. (Brazilian Association of Psychosomatic Medicine); Professor

    de Educao Fsica; Practitioner e Tutor em Programao Neurolingustica (Brasil).

    E-mail:

    [email protected]

    RESUMO

    OBJETIVO: consultar em peridicos cientficos eletrnicos os conceitos

    etiolgicos mais utilizados para definir a fisiopatologia do Transtorno Obsessivo-

    Compulsivo (TOC), a fim de, posteriormente, descrever os mecanismos responsveis

    por sua classificao entre os estados patolgicos associados hiperativao do Eixo

    Hipotlamo-Hipfise-Adrenal (HHA). MTODOS: reviso no sistemtica em fontes

    de dados secundrios. CONCLUSES: embora o TOC ainda seja considerado um

    transtorno idioptico, de caractersticas heterogneos, a hiptese na qual sugere um

    funcionamento anmalo no circuito cortico-estriato-tlamo-cortical, possivelmente em

    virtude da falta de interveno inibitria do Ncleo Caudado desencadeie excesso da

    atividade talmica, retroalimentando os pensamentos invasivos e/ou os comportamentos

    repetitivos originrios do Crtex rbito-Frontal, gerando nveis patolgicos de

    ansiedade que, atravs da Amgdala, elevam a atividade do Eixo HHA.

    ___________

    Palavras-Chave: Transtorno Obsessivo-Compulsivo, fisiopatolgica, Eixo Hipotlamo-

    Hipfise-Adrenal, ncleo caudado, tlamo, crtex rbito-frontal.

    NOVOS ASPECTOS FISIOPATOLGICOS ENVOLVIDOS

    NO TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO (TOC)

    mailto:[email protected]://pt.wikipedia.org/wiki/T%C3%A1lamohttp://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3rtex

  • 1. Introduo

    Atualmente, estima-se que, somente no Brasil, mais de 4,5 milhes de pessoas

    possuam algum tipo de transtorno psicolgico. Dos transtornos emocionais, os

    transtornos de ansiedade so os problemas psiquitricos mais frequentes em servios de

    atendimento primrio, e os mais comuns na populao em geral. De acordo com a

    Associao Brasileira de Psiquiatria, ao menos um quarto da populao mundial sofre

    de algum dos subtipos inseridos nos transtornos de ansiedade. Do ponto de vista da

    sade pblica, a prevalncia dos transtornos mentais similar dos distrbios

    cardiovasculares, incluindo hipertenso (FREADMAN, 1983 apud BERNIK, 2003).

    Segundo a 4 edio do Manual de Diagnstico e Estatstica das Perturbaes

    Mentais (DSM-IV), o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) um transtorno de

    ansiedade crnico, caracterizado pela presena de obsesses e/ou compulses, que

    consomem ao menos uma hora por dia, e causam sofrimento ao paciente e/ou aos seus

    familiares. O Cdigo Internacional de Doenas, entretanto, em sua 10 edio (CID-10),

    embora apresente os mesmos critrios diagnsticos, exige que as obsesses e/ou

    compulses estejam presentes na maioria dos dias por um perodo de no mnimo duas

    semanas. Tanto no DSM-IV quanto no CID-10 no existem diferenas nos critrios para

    o diagnstico de crianas, adolescentes e adultos.

    Obsesses so pensamentos, ideias, impulsos e imagens mentais recorrentes,

    intrusivos e vivenciados como desagradveis e como prprios do individuo,

    ocasionando ansiedade ou mal estar, um estado de angstia patolgica, que

    consomem muito tempo e interferem negativamente nos relacionamentos e

    atividades do portador. Compulses so comportamentos ou atos mentais

    repetitivos, realizados para diminuir a angstia causada pelas obsesses,

    obedecendo a regras rgidas, forando o individuo a agir contra sua vontade e

    podem ter a finalidade a evitao de uma situao temida. (APA, 1994 apud

    LAMBERT, 2006).

    Jenike, Baer e Minichiello (1986 apud BARLOW e DURAND, 2008)

    observaram que as obsesses mais comuns em uma amostra de cem pacientes foram a

    contaminao (55%), os impulsos agressivos (50%), o teor sexual (32%), as

    preocupaes somticas (35%) e a necessidade por simetria (37%). Sessenta por cento

    dos que participaram da amostra apresentaram obsesses mltiplas. Leckman et al.

    (1977 apud ibidem) analisaram os tipos de compulses em grupos grandes de pacientes

    e descobriram que verificar, ordenar e arrumar, alm de lavar e limpar eram as

    principais categorias dos rituais.

  • FIGURA 1: Modelo Funcional do TOC

    FIGURA 2: Modelo Cognitivo do TOC

  • 2. Prevalncia, Comorbidades e Caractersticas Especficas Idade e ao Gnero.

    Embora, h cerca de uns 15 anos, o TOC tenha sido considerado como um

    transtorno de prevalncia bastante rara, em virtude dos estudos da dcada de 1950 que

    apontavam para uma prevalncia de cinco pacientes para cada 10.000 pessoas (ou

    0,05%) (DEL-PORTO, 2011). Atualmente, no entanto, o TOC j ocupa o quarto lugar

    dentre os transtorno psiquitrico mais comum, ficando atrs apenas das fobias, do abuso

    de substncia e da depresso maior (JENIKE, RAUCH, CUMMINGS, SAVAGE e

    GOODMAN, 1996 apud Ibidem).

    Estima-se que nos dias de hoje, o Transtorno afete entre 2 a 3% da populao

    geral. A idade mdia de seu incio ocorre no final da adolescncia ou por volta dos 20

    anos. Os homens geralmente desenvolvem a doena aos 17,5 anos de idade, enquanto a

    idade mdia de incio para as mulheres mostra-se um pouco superior 19,8 anos

    (RASMUSSEN e EISEN, 1990 apud LAMBERT, 2006).

    De acordo com os dados da Organizao Mundial de Sade (OMS), at o ano

    2020 o Transtorno Obsessivo-Compulsivo estar presente entre as dez maiores causas

    de comprometimento por doena. Assim sendo, o TOC representa desde ento, um

    transtorno de extrema importncia para a sade pblica. Alm de bastante frequente, o

    Transtorno apresenta tambm altas taxas de comorbidades com outros transtornos

    psiquitricos. Em uma pesquisa avaliando 8.580 indivduos, Torres e colaboradores

    encontraram 114 portadores de Transtorno obsessivo-compulsivo, e destes, 62% tinham

    alguma comorbidade. Essas taxas chegam a 89%. (DINIZ et al., 2004).

    O TOC pode estar associado com Transtorno Depressivo Maior, outros

    Transtornos de Ansiedade (Fobia Especfica, Fobia Social, Transtorno de Pnico),

    Transtornos Alimentares e Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsiva. Existe

    uma alta incidncia de Transtorno Obsessivo-Compulsivo em indivduos com

    Transtorno de Tourette, com estimativas variando de 33 a 50 %. A incidncia de

    Transtorno de Tourette no Transtorno Obsessivo-Compulsivo menor, com estimativas

    variando entre 5 e 7%. Vinte a 30% dos indivduos com Transtorno Obsessivo-

    Compulsivo relatam tiques atuais ou passados.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Comorbidade

  • TABELA 1: resumo dos principais estudos sobre comorbidade no TOC ao longo da vida.

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462001000600006#TAB01

  • Gonzalez (2011) afirma que os fatores genticos esto provavelmente

    implicados na etiologia do transtorno. Os estudos realizados sugerem que h diferentes

    subtipos de TOC: TOC com histria familiar positiva para TOC, TOC espordico e

    TOC associado com tiques. Os estudos de gmeos mostram uma alta concordncia de

    TOC entre gmeos monozigticos. Em alguns estudos de famlias observou-se um

    maior risco para TOC entre os familiares de pacientes com TOC. Os estudos de anlise

    de segregao sugerem o envolvimento de um gene de efeito maior na etiologia do

    transtorno. Rasmussen e Eisen (1990 apud LAMBERT, 2006) destacam ainda que, se

    uma pessoa em sua famlia nuclear sofre de TOC, existe a chance de 23% (quase 1 em

    4) de que voc desenvolva o transtorno.

    Numa reviso da literatura realizada por Rasmussen e Tsuang foi encontrada

    uma concordncia de 63% de TOC em 51 pares de gmeos MZ. A taxa de

    concordncia de TOC entre gmeos DZ de aproximadamente 22%. Em um

    estudo onde se ampliou o diagnstico englobando-se TOC e pacientes com

    sintomas obsessivos e compulsivos que no preenchiam critrios diagnsticos

    para TOC, foi observada uma taxa de concordncia de 87% para gmeos MZ

    contra 47% para gmeos DZ. (CAREY, 1981 apud GONZALEZ, 2011).

    Nurnberger e Berrettini (1998 apud DAL-FARRA, 2004) ressalvam a existncia

    de uma pequena evidncia sobre a herana gentica do Transtorno Obsessivo-

    Compulsivo, embora os estudos sejam pouco conclusivos, constituindo-se apenas na

    possibilidade de que alteraes de ordem gentica na Serotonina possam estar ligadas ao

    transtorno. Contudo, as implicaes e as inferncias a respeito das alteraes

    bioqumicas no apenas no caso especfico do TOC e a contrapartida destas sobre o

    comportamento podem conduzir o debate para a seguinte questo: a diminuio ou

    aumento de neurotransmissores ou outras substncias no organismo se constituem na

    causa dos problemas ou simplesmente representam as consequncias de disposies

    psquicas?

  • FIGURA 3: modelo das causas do Transtorno Obsessivo-Compulsivo.

    (adaptado de BARLOW, 2008. p.185)

  • 3. Aspectos Neuroqumicos e Fisiopatolgicos do TOC.

    As vias de Glutamato so necessrias para estabelecer a comunicao entre as

    regies do Crtex rbito-Frontal e o Ncleo Caudado, e entre o Tlamo e o Crtex

    rbito-Frontal. As vias de Gaba so encontradas entre o Ncleo Caudado e o Globo

    Plido e entre o Globo Plido e o Tlamo. Embora no seja uma parte especfica da

    comunicao dos transmissores entre as estruturas do circuito, a Dopamina atua como

    um neuromodulador no ncleo caudado, e a Serotonina no Globo Plido. (FIGURA 4).

    FIGURA 4: neuroqumica do TOC. (Adaptada de Jenike, Rauch et al.,1998)

  • (1) GLUTAMATO

    Principal neurotransmissor excitatrio do sistema nervoso. atua em duas classes de

    receptores: os ionotrpicos e os metabotrpicos. Os receptores ionotrpicos de

    glutamato do tipoN-metil D-Aspartato NMDA so implicados como protagonistas em

    processos cognitivos que envolvem a destruio de celulas.

    (2) DOPAMINA

    Neurotransmissor inibitrio derivado da tirosina. Produz sensaes de satisfao. Os

    neurnios dopaminrgicos podem ser divididos em 3 subgrupos quanto as funes: 1

    regula os movimentos: uma deficincia de dopamina neste sistema provoca a doena

    de Parkinson, caracterizada por tremuras, inflexibilidade, e outras desordens

    motoras, e em fases avanadas pode verificar-se demncia; 2 o mesolmbico, funciona

    na regulao do comportamento emocional; 3 o mesocortical, projeta-se apenas para o

    crtex pr-frontal.

    (3) SEROTONINA

    Derivado do triptofano, regula o humor, o sono, a atividade sexual, o apetite, o ritmo

    circadiano, as funes neuroendcrinas, temperatura corporal, sensibilidade dor,

    atividade motora e funes cognitivas. Atualmente vem sendo intimamente

    relacionada aos transtornos do humor, ou transtornos afetivos e a maioria dos

    medicamentos chamados antidepressivos agem produzindo um aumento da

    disponibilidade dessa substncia no espao entre um neurnio e outro. Tem efeito

    inibidor da conduta e modulador geral da atividade psquica. Influi sobre quase todas

    as funes cerebrais, inibindo-a de forma direta ou estimulando o sistema GABA.

    (4) GABA

    Principal neurotransmissor inibitrio do SNC. Est presente em quase todas as

    regies cerebrais. Est envolvido com os processos de ansiedade. Seu efeito ansioltico

    seria fruto de alteraes provocadas em estruturas do sistema lmbico, inclusive a

    amgdala e o hipocampo. A inibio da sntese do GABA ou o bloqueio de seus

    neurotransmissores no SNC, resultam em estimulao intensa, manifestada atravs de

    convulses generalizadas.

    TABELA 2: os principais neurotransmissores envolvidos no TOC.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Receptor_(bioqu%C3%ADmica)http://pt.wikipedia.org/wiki/NMDA

  • FIGURA 5: o hormnio liberador de Corticotropina (CRH) na hipfise estimula a liberao do

    hormnio Adrenocorticotropina (ACTH) na circulao sistmica. O ACTH atinge o crtex das

    glndulas adrenais estimulando as clulas a produzirem e liberarem glicocorticoides. Que, por

    sua vez fazem o feedback negativo tanto na hipfise como no hipotlamo. (GUIZZO, 2009).

    TABELA 3: estados associados hiperativao, hipoativao ou a disfuno do eixo HHA

  • Estudos como PET (Positron Emission Tomography) e SPECT (Single Photon

    Emission Computed Tomography) revelaram que as pessoas com Transtorno Obsessivo-

    Compulsivo possuem atividade cerebral diferente das outras pessoas sem o Transtorno.

    As pesquisas indicam a existncia de uma comunicao prejudicada entre o Crtex

    rbito-Frontal, o Ncleo Caudado e o Tlamo. O Ncleo Caudado, localizado entre o

    Tlamo e o Crtex rbito-Frontal, no funciona adequadamente, fazendo com que o

    Tlamo se torne hiperativo, enviando sinais de preocupao interminveis para o

    Crtex rbito-Frontal que corresponde, elevando a ansiedade. (FIGURA 6). (KNEIPP,

    2010).

    FIGURA 6

    Para Holsboer (2000 apud JUREMA, 2011) de maneira geral, as alteraes no

    Eixo HHA parecem ser dependentes do estado, tendendo a melhorar com a resoluo da

    sndrome depressiva. De fato, estudos prvios tm descrito um feedback negativo

    prejudicado do Eixo HHA, levando hipercortisolemia, como ocorre na depresso

    melanclica. Alm da depresso melanclica, uma srie de outras condies pode estar

    associada ao aumento e ativao prolongada do Eixo HHA, incluindo anorexia nervosa,

  • com ou sem desnutrio, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, pnico, ansiedade,

    alcoolismo ativo crnico, abstinncia de lcool e narcticos, diabetes mellitus mal

    controlado e hipertiroidismo.

    Outro grupo de estados caracterizado pela hipoativao do sistema do estresse,

    em vez de ativao contnua, na qual a secreo cronicamente reduzida do fator

    liberador de corticotrofina (CRF) pode resultar em hipoativao patolgica e feedback

    negativo ampliado do Eixo HHA. Pacientes com Transtorno de estresse ps-traumtico,

    depresso atpica ou sazonal e sndrome de fadiga crnica recaem nessa categoria.

    Similarmente, pacientes com fibromialgia possuem excreo de cortisol urinria livre

    diminuda e frequentemente queixam-se de fadiga. Pacientes com hipotireoidismo

    possuem uma clara evidncia de hiposecreo de CRF.

    A hiperatividade do Eixo HHA na depresso maior um dos achados mais

    consistentes em psiquiatria. Um percentual significativo de pacientes com

    depresso maior demonstrou maiores concentraes de cortisol (o

    glicocorticoide endgeno em humanos) no plasma, urina e no lquido

    cefalorraquidiano (LCR); uma resposta exagerada de cortisol ao hormnio

    adrenocorticotrfico (ACTH); e um aumento das glndulas pituitria e

    adrenal. (NEMEROFF, 1996 apud Ibidem).

    Englert (2006) adverte que quando o eixo HHA muito ativo e os nveis de

    Corticotrofina (CRH) no crebro so, ao mesmo tempo, altos demais, os sinais no nervo

    vago so bloqueados. Esse nervo, uma avenida importante do sistema nervoso

    autnomo, controla as contraes do estmago e o trato digestivo (Tambm envia

    impulsos nervosos ao corao e aos msculos). Um exemplo clssico da reao desses

    rgos provocada por estresse a paralisao da digesto aps uma cirurgia. Tambm

    pode intensificar fobias e ataques de pnico. Pacientes com agorafobia (medo de lugares

    abertos) ou claustrofobia (medo de espaos fechados) produzem muito pouco Hormnio

    Adrenocorticotrfico (ACTH) aps receber CRH como tratamento.

    Soravia (2006 apud GRAEFF, 2011) salienta que, tanto o eixo HHA como o

    eixo simptico-adrenal ativado pela ansiedade antecipatria. Na ansiedade aguda, a

    ativao do eixo HHA adaptativa, j que, entre outras coisas, os corticoides parecem

    reduzir o medo percebido, prejudicando a recuperao da memria de informaes que

    eliciam emoo. Na ansiedade crnica, no entanto, a ativao de longo prazo do eixo

  • HHA pode se tornar prejudicial, j que os corticoides dificultam os mecanismos de

    resilincia no hipocampo.

    4. Tlamo, Ncleo Caudado & Crtex rbito-Frontal.

    FIGURA 7: Tlamo, gnglios da base e algumas estruturas relacionadas

    Vilela (2009) explica que todas as mensagens sensoriais, com exceo das

    provenientes dos receptores do olfato, passam pelo tlamo antes de atingir o crtex

    cerebral. Esta uma regio de substncia cinzenta localizada entre o tronco enceflico e

    o crebro. O tlamo atua como estao retransmissora de impulsos nervosos para o

    crtex cerebral. Ele responsvel pela conduo dos impulsos s regies apropriadas do

    crebro onde eles devem ser processados. O tlamo tambm est relacionado com

    alteraes no comportamento emocional; que decorre, no s da prpria atividade, mas

    tambm de conexes com outras estruturas do sistema lmbico (que regula as emoes).

    Suas principais funes:

  • Integrao Sensorial;

    Integrao Motora.

    O tlamo recebe informaes sensoriais do corpo e as passa para o crtex

    cerebral. O crtex cerebral envia informaes motoras para o tlamo que

    posteriormente so distribudas pelo corpo. Participa, juntamente com o

    tronco enceflico, do sistema reticular, que encarregado de filtrar

    mensagens que se dirigem s partes conscientes do crebro. (Ibidem).

    Os gnglios da base, que no passado se acreditava estar implicados apenas no

    comportamento motor, so, na verdade, importantes em inmeras outras funes

    psquicas como o processamento de vivncias cognitivas. Estudos recentes utilizando

    imagem de ressonncia magntica mostraram tendncia a diminuio do ncleo

    caudado em pacientes com TOC. De forma confluente, estudos com neuroimagem

    funcional, sugerem a implicao de um circuito cerebral envolvendo o crtex rbito-

    frontal, o giro cngulo, o ncleo caudado e o tlamo na patofisiologia do TOC. Entre as

    diversas hipteses formuladas a partir desses achados, especula-se que um dficit no

    funcionamento do ncleo caudado levaria a uma filtragem inadequada de preocupaes

    que ento estimulariam o crtex rbito-frontal a desencadear aes adaptativas: as

    compulses. (MIGUEL FILHO, 1995).

    O crtex rbito-frontal tem o papel de regular nossas habilidades de inibir,

    avaliar e agir com informao emocional e social, dependendo da tarefa a ser decidida,

    alguns fatores desses pode ser mais importante que outros. Se nossa habilidade de

    processar qualquer informao est prejudicada, a tomada de deciso ficar alterada,

    possuindo uma relevncia para processar, avaliar e filtrar informaes sociais e

    emocionais. (GAZZANIGA, 2006 apud DA SILVA, 2011).

  • 5. Concluses

    Segundo Barlow (2008) a tendncia de desenvolver ansiedade como base em

    pensamentos compulssivos adicionais pode ter os mesmos precursores biolgicos e

    psicolgicos generalizados que a ansiedade em geral. Gazzaniga (2006 apud DA

    SILVA, 2011) destaca que o sistema lmbico ampliado em um circuito neural que

    juntos invocam um papel em diferentes tarefas emocionais, onde formado pelo

    hipocampo, hipotlamo, giro do cngulo, amgdala, tlamo, ncleos somatossensorial e

    crtex rbito-frontal.

    Ainda este autor, ressalva que a amgdala possui o papel de processar o

    significado emocional dos estmulos e gera reaes emocionais e comportamentais

    imediatos. Interagindo com outros sistemas da memria, particularmente o de memria

    hipocampal, quando existem eventos explcitos ou declarativos das propriedades

    emocionais dos estmulos de fundamental importncia para aquisio e expresso do

    aprendizado emocional adquirido na resposta condicionada aversiva, existe dois modos

    principais de interao da amgdala com a interao da memria declarativas

    dependentes do hipocampo.

    Valendo-se, portanto, destas afirmativas e considerando o modelo de

    funcionamento anmalo do circuito cortico-estriato-tlamo-cortical, onde o Ncleo

    Caudado, o Tlamo e o Crtex rbito-Frontal no funcionam adequadamente, exigindo

    que o Tlamo se torne hiperativo enviando sinais de preocupao interminveis ao

    Crtex rbito-Frontal, este estudo sugere que, os pensamentos invasivos e/ou os

    comportamentos repetitivos originrios do Crtex rbito-Frontal, sem a interveno do

    Ncleo Caudado, geram nveis patolgicos de ansiedade que, atravs da Amgdala,

    elevam a atividade do Eixo Hipotlamo-Hipfise-Adrenal (HHA). (FIGURA 8).

  • FIGURA 8: esquema hipottico da Hiperativao do Eixo HHA

  • 6. Referncias

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