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55 R Dental Press Estét, Maringá, v. 5, n. 3, p. 55-66, jul./ago./set. 2008 Caso Clínico Novo conceito na clareação dentária pela técnica no consultório Fabiano Carlos Marson*, Luis Guilherme Sensi**, Rodrigo Reis*** ReSuMo O objetivo deste trabalho foi avaliar o tempo de decomposição e o pH dos agentes clareadores utilizados na clareação no consultório, em re- lação ao tempo de aplicação. Foram selecionados 4 agentes clareadores e divididos em 4 grupos (n = 5): G1 - Opalescence Xtra Boost (Ultradent); G2 - Whiteness HP Maxx (FGM); G3 - Lase Peroxide Sensy (DMC) e G4 - White Gold Office (Dentsply). A ma- nipulação dos agentes clareadores seguiu as orientações do fabrican- te. Para avaliação da dosagem de peróxido de hidrogênio em relação ao tempo, foi utilizado o método de titulação do peróxido de hidrogê- PaLavRaS-Chave: Clareação dentária. Peróxido de carbamida. Peróxido de hidrogênio. nio com permanganato de potássio preconizado pelo manual de farma- copéia americana (USP) e avaliação do pH do agente clareador através do papel indicador universal de Mer- ck. No teste estatístico de ANOVA, foi observado a hipótese de igual- dade entre os grupos, avaliando o fator decomposição em relação ao tempo. No tratamento clareador de dentes vitais através da técni- ca no consultório com peróxido de hidrogênio, não há necessidade de trocas do agente clareador durante a sessão clínica, quando o agente clareador utilizado mantêm o pH neutro. * Professor doutor de Dentística e Clínica Integrada da Faculdade Uningá. Coordenador do curso de especialização em Dentística da Faculdade Uningá/Maringá e Uningá/Cuiabá. ** Professor doutor de Dentística, Universidade de Baltimore, Maryland, EUA. *** Mestre em Odontologia Restauradora e Biomateriais pela Universidade de Michigan. Doutor em Odontologia pela UFRJ. Professor coordenador de Dentística e Materiais Dentários da FO-UNIGRANRIO.

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55R Dental Press Estét, Maringá, v. 5, n. 3, p. 55-66, jul./ago./set. 2008

Caso Clínico

Novo conceito na clareação dentária pela técnica no consultório

Fabiano Carlos Marson*, Luis Guilherme Sensi**, Rodrigo Reis***

ReSuMoO objetivo deste trabalho foi avaliar o tempo de decomposição e o pH dos agentes clareadores utilizados na clareação no consultório, em re-lação ao tempo de aplicação. Foram selecionados 4 agentes clareadores e divididos em 4 grupos (n = 5): G1 - Opalescence Xtra Boost (Ultradent); G2 - Whiteness HP Maxx (FGM); G3 - Lase Peroxide Sensy (DMC) e G4 - White Gold Office (Dentsply). A ma-nipulação dos agentes clareadores seguiu as orientações do fabrican-te. Para avaliação da dosagem de peróxido de hidrogênio em relação ao tempo, foi utilizado o método de titulação do peróxido de hidrogê-

PaLavRaS-Chave: Clareação dentária. Peróxido de carbamida. Peróxido de hidrogênio.

nio com permanganato de potássio preconizado pelo manual de farma-copéia americana (USP) e avaliação do pH do agente clareador através do papel indicador universal de Mer-ck. No teste estatístico de ANOVA, foi observado a hipótese de igual-dade entre os grupos, avaliando o fator decomposição em relação ao tempo. No tratamento clareador de dentes vitais através da técni-ca no consultório com peróxido de hidrogênio, não há necessidade de trocas do agente clareador durante a sessão clínica, quando o agente clareador utilizado mantêm o pH neutro.

* Professor doutor de Dentística e Clínica Integrada da Faculdade Uningá. Coordenador do curso de especialização em Dentística da Faculdade Uningá/Maringá e Uningá/Cuiabá.

** Professor doutor de Dentística, Universidade de Baltimore, Maryland, EUA. *** Mestre em Odontologia Restauradora e Biomateriais pela Universidade de Michigan. Doutor em

Odontologia pela UFRJ. Professor coordenador de Dentística e Materiais Dentários da FO-UNIGRANRIO.

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Novo conceito na clareação dentária pela técnica no consultório

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INTRoDuÇÃo

Atualmente, há uma grande procura dos pa-

cientes por tratamentos estéticos. Um sorriso

com dentes brancos e alinhados é tão cultuado

pela mídia que passou a ser o desejo de grande

parte da população. Um dos tratamentos mais

solicitados é a clareação dentária, que tem a

finalidade de melhorar a aparência dos den-

tes. Este procedimento pode ser realizado em

dentes vitais, de duas formas: técnica em casa

(supervisionada pelo dentista, que necessita da

colaboração do paciente), ou técnica no con-

sultório (realizada pelo profissional), erronea-

mente denominada técnica a laser 13,16.

Na técnica de clareação dentária no consul-

tório são utilizadas concentrações mais altas,

variando de 30% a 38% de peróxido de hidro-

gênio, em algumas aplicações. No entanto, o

profissional deve ficar atento durante o pro-

cedimento clareador, pois a alta concentração

pode induzir efeitos colaterais, como sensibi-

lidade dentária, irritação gengival e ulceração

nos tecidos moles bucais. Todos os tecidos mo-

les do paciente (gengivas, bochechas, língua e

lábios) devem ser isolados do contato com o

produto clareador. O profissional e sua equipe

também devem se precaver, utilizando luvas,

aventais ou jalecos de manga comprida e ócu-

los de proteção. A grande vantagem da técnica

de clareação dentária no consultório é que os

resultados são alcançados em poucas, porém

longas consultas (de duas a quatro sessões)9,13.

Embora a clareação caseira seja a técnica

mais utilizada, consagrada e estudada há quase

20 anos, alguns pacientes não optam por este

tratamento, pois:

- não querem utilizar o produto clareador

todos os dias, durante o período de 2 a 3 se-

manas;

- não se adaptam à técnica devido à utiliza-

ção da moldeira plástica;

- fator marketing dos meios de comuni-

cação e do dentista em relação à clareação

no consultório, sendo solicitada pelos

pacientes4,11.

Vale ressaltar que, para a correta escolha da

técnica de clareação, é necessária a avaliação

completa do paciente, identificando o estado

bucal através de radiografias, anamnese e exa-

me clínico, visando diagnosticar a causa da al-

teração de cor. O diagnóstico irá nortear o den-

tista na definição de qual plano de tratamento

será mais adequado7,22.

As empresas que fabricam os agentes cla-

readores recomendam que estes permane-

çam, no máximo, por 15 min sobre a superfície

dentária, podendo-se repetir esse processo por

3 vezes na mesma sessão clínica. Contudo, não

há, na literatura científica, uma base consolida-

da deste protocolo. Devido ao surgimento de

novas perguntas sobre a técnica de clareação

dentária, torna-se importante o estudo da efi-

cácia deste procedimento. Dessa forma, este

trabalho tem como objetivo avaliar in vitro a

decomposição do agente clareador, em relação

ao tempo, e verificar os resultados na clínica.

MaTeRIaL e MÉToDoS

Foram utilizados quatro agentes clareado-

res para verificação da decomposição do gel

em relação ao tempo de utilização, compondo

os 4 grupos estudados (Tab. 1). Utilizou-se o

método da USP (United States Pharmacopeia),

que as indústrias de produtos para saúde, cos-

méticos e farmacéuticos utilizam para aferir

o teor e demais propriedades relevantes das

matérias-primas, no caso específico, o peróxi-

do contido nos agentes clareadores.

Foram utilizados 30 corpos-de-prova para

cada grupo avaliado, totalizando 120 corpos-

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de-prova. Para obtenção de cada média e des-

vio-padrão foram utilizados 5 corpos-de-prova

(n = 5), que estão dispostos no tabela 2.

O método utilizado para verificação da con-

centracão do peróxido em relação ao tempo

de aplicação foi a titulação de peróxido de hi-

drogênio com permanganato de potássio. Este

método descreve a dosagem de peróxido de

hidrogênio e aplica-se a amostras que conte-

nham essa substância. O presente método ba-

seia-se na reação de permanganometria, con-

forme a fórmula:

2KMnO4 + 5H2O2 + 4H2SO4 = 2KHSO4 +

2MnSO4 + 5O2 + 8H2O

A mistura do agente clareador seguiu as

normas de cada fabricante (Tab. 1). Após a

mistura do agente clareador, foi pesada ana-

liticamente uma quantidade de amostra, que

continha aproximadamente 20g de peróxido

de hidrogênio, em um béquer de 100ml. Na se-

qüência, foram adicionados 10ml de água des-

tilada e transferida quantitativamente para um

balão volumétrico de 250ml. Transferiu-se 5ml

da solução amostral para um frasco de iodo

de 250ml e adicionados 20ml de ácido sulfú-

rico 2N. Foi feita a titulação com a solução de

permanganato de potássio 0,1N, até que a cor

rosa-pálida persistisse por quinze segundos.

Após, os dados obtidos foram aplicados na se-

guinte fórmula:

C =m

V x fc x 1,701 x 100

Onde:

C = concentração (p/p) de peróxido de hi-

drogênio;

V = volume de permanganato de potássio

0,1N utilizado na titulação, em mililitros;

fc = fator de correção da solução de per-

manganato de potássio 0,1N;

m = massa da amostra em miligramas.

Para verificação do pH foi utilizado o papel

indicador universal (Merck). Este papel vem

cortado em tiras impregnadas com reagente

em embalagem que apresenta a escala de co-

res, cada cor indica um pH diferente, que vai

de 1 a 14 (método da USP - United States Phar-

macopeia).

O seguinte procedimento foi utilizado: mis-

turou-se o agente clareador de acordo com as

normas do fabricante de cada produto; em se-

guida, a mistura foi colocada em contato com

o papel indicador; aguardou-se 1 minuto, para

que houvesse tempo de reação entre o papel e

a mistura; e foi comparada a coloração obtida

na tira de papel (Merck) com o padrão da emba-

lagem, obtendo-se o pH do produto.

nome comercial %* fabricante manipulação

G1 Opalescence Xtra Boost 38% Ultradent duas seringas que se acoplamuma contém o peróxido e a outra o ativador

G2 Whiteness HP Maxx 35% FGM mistura da fase 1(peróxido) com a fase 2 (espessante) na proporção de 3 gotas de peróxido para 1 gota de espessante

G3 Lase Peroxide Sensy 35% DMC mistura da fase 1 (peróxido) com a fase 2 (espessante) na proporção de 3 gotas de peróxido para 1 gota de espessante

G4 White Gold Office 35% Dentsply duas seringas que se acoplam uma contém o peróxido e a outra o ativador

Tabela 1 - Características dos grupos amostrais estudados.

* Concentração de peróxido de hidrogênio.

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ReSuLTaDoS

As médias dos valores da decomposição do

gel clareador em relação ao tempo estão suma-

rizadas na tabela 2 e no gráfico 1 e as médias

dos valores do pH do gel clareador na tabela 3.

A análise de variância (ANOVA) foi utilizada

para verificar se existia diferença estatística en-

tre os grupos analisados, aplicada a um nível de

5% de significância e, a partir deste, a hipóte-

se de igualdade entre os grupos foi aceita (p >

0,0002).

CaSo CLÍNICo 1

Paciente do gênero feminino, com 22 anos

de idade, insatisfeita com a coloração dos seus

dentes, compareceu ao consultório solicitando

de tratamento estético. Após exame clínico,

radiográfico e anamnese da paciente, verificou-

se que os dentes eram naturalmente amarela-

dos (Fig. 1, 2).

Foi indicada a clareação dentária na técnica

no consultório, utilizando peróxido de hidro-

gênio a 38% Opalescence Xtra Boost (Ultra-

dent, EUA). A paciente foi esclarecida sobre os

procedimentos a serem realizados, bem como

a respeito dos possíveis efeitos colaterais do

tratamento clareador (sensibilidade dentária

passageira e irritação gengival). No início do

0 min 5 min 15 min 25 min 35 min 45 min

Opalescence Xtra Boost 36,01 ± 6,33 35,91 ± 4,32 35,24 ± 3,99 34,24 ± 3,45 33,47 ± 4,32 33,16 ± 4,78

Whiteness HP Maxx 32,53 ± 2,45 31,08 ± 2,23 30,87 ± 2,01 30,51 ± 2,67 28,96 ± 2,29 29,36 ± 2,98

Lase Peroxide Sensy 35,97 ± 2,56 34,64 ± 1,78 35,01 ± 1,79 34,38 ± 1,89 32,89 ± 2,89 33,64 ± 2,12

White Gold Office 35,39 ± 1,67 34,85 ± 1,78 33,82 ± 2,02 32,56 ± 1,54 31,99 ± 1,99 30,57 ± 1,77

Tabela 2 - Média ± desvio-padrão dos resultados da decomposição do gel clareador em relação ao tempo.

Gráfico 1 - Resultados da decomposição do gel clareador em relação ao tempo.

0 min (inicial) 45 min

Opalescence Xtra Boost 9 9

Whiteness HP Maxx 7 5

Lase Peroxide Sensy 10 5

White Gold Office 7 7

Tabela 3 - Médias dos valores do pH do gel clareador em relação ao tem-po inicial e final do tratamento clareador.40

40

35

30

2520

15

10

00min 5min 45min35min25min

G1

G2

G3

G4

15min

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tratamento clareador, é primordial a conferên-

cia da cor dos dentes, através da escala de cor,

registrando-a no prontuário. Outra opção é ti-

rar fotografias iniciais para compará-las ao final

do tratamento ou, ainda, clarear inicialmente o

arco superior e posteriormente o inferior.

Para facilitar o procedimento de clareação,

foram utilizados afastador labial (Jon, São Pau-

lo), óculos de proteção, protetor intrabucal

e sugador plástico acoplado à bomba vácuo

de alta potência de sucção. Foi utilizado iso-

lamento relativo da gengiva com o protetor

gengival fotopolimerizável Gingi Dam (Den-

talville, Joinville, Brasil) prevenindo o contato

do gel clareador com o tecido gengival. Após,

foi polimerizado cada dente por 10 segun-

dos, através do LED SmartLite PS (Dentsply). É

de fundamental importância a conferência da

adaptação da barreira gengival, pois, se hou-

ver espaço, o gel clareador escoará e ficará em

contato com a gengiva marginal, promovendo

irritação gengiva e desconforto ao paciente. O

agente clareador utilizado foi o Opalescence

Xtra Boost (Ultradent, EUA), à base de peróxido

Figura 1 - Aspecto do sorriso, onde se observa os dentes naturalmente amarelados

Figura 2 - Vista intrabucal frontal de uma jovem de 22 anos.

Figura 3 - Após a aplicação da barreira para proteção da gengiva (GingiDam,Villevie),foi polimerizado cada dente por 10s. Em seguida foi aplicado o gel clareador Opalescente Xtra Boost (Ultradent) com con-centração de peróxido de hidrogênio a 38%.

Figura 4 - Durante a terceira sessão de aplicação do agente clareador, observa-se que não foi realizada a troca do agente clareador e, também, não foi utilizada fonte de luz auxiliar.

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de hidrogênio a 38%, aplicado sobre a super-

fície vestibular dos dentes no arco superior,

sem aplicação de qualquer fonte de luz (Fig.

3). O paciente foi submetido a 3 sessões de

clareação, com intervalo de 1 semana entre

elas (Fig. 4).

Em cada sessão clínica, foi aplicado o gel de

peróxido de hidrogênio a 38%, que permane-

ceu por 45 minutos. Não foi utilizado qualquer

tipo de fonte auxiliar (luz halógena, LED, LED

+ laser infravermelho, laser ou arco de plasma)

pois a clareação dentária depende do agente

clareador e não da fonte auxiliar3,8,9, ou seja,

não existe necessidade da associação de fon-

te catalizadora. O próprio fabricante do gel

clareador não recomenda o uso de fonte de

luz. A camada de gel aplicada na vestibular dos

dentes superiores foi de, aproximadamente,

1mm de espessura. Com o auxílio de um pincel,

o gel foi movimentado, para liberar eventuais

bolhas de oxigênio e melhorar o contato com

os dentes.

Após os 45 minutos de cada sessão clínica,

o agente clareador e a barreira gengival Gingi

Dam foram removidos. Nas figuras 5 e 6 pode-se

Figura 5 - Vista lateral após a terceira sessão do gel clareador. Figura 6 - Aspecto do sorriso 30 dias após o tratamento clareador.

ver o aspecto final da clareação dentária, após

30 dias do término do tratamento clareador.

CaSo CLÍNICo 2

O tratamento clareador foi realizado da

mesma forma, alterando apenas o gel clareador.

A jovem paciente possuía os dentes hereditaria-

mente amarelados, considerada a melhor indi-

cação para a clareação de dentes vitais (Fig. 7).

Em pacientes mais idosos, a clareação dentária

responde mais lentamente, devido à menor per-

meabilidade do dente, necessitando de mais

sessões, ou dias de tratamento, para se obter

um bom resultado.

Para a clareação dos dentes vitais, foi utiliza-

do o isolamento relativo da gengiva e a prote-

ção do paciente da mesma maneira do caso clí-

nico 1. O agente clareador utilizado foi o White

Gold Office (Dentsply, Brasil) à base de peróxido

de hidrogênio a 35%, aplicado sobre a superfície

vestibular dos dentes a serem clareados, simul-

taneamente nos arcos superior e inferior.

O gel clareador é composto de duas seringas,

uma contendo o peróxido de hidrogênio e outra

o ativador. A mistura do gel clareador seguiu as

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Figura 7 - Dentes naturais vitais amarelados.

Figura 8 - Aspecto após aplicação do gel clareador White Gold Office (Dentsply) sobre a face vestibular dos dentes, permanecendo por 45 minutos sem remoção do agente cla-reador.

Figura 9 - Observa-se os itens fundamentais para a clareação dentária no consultório: afastador labial, protetor lingual, óculos de proteção e sugador de alta potência.

normas do fabricante, acoplando as duas bisna-

gas e misturando o peróxido com o ativador por

20 vezes. O mesmo foi aplicado, com a ponteira,

sobre a superfície vestibular dos dentes a serem

clareados (Fig. 8, 9). Nenhuma fonte de luz foi

aplicada.

A paciente foi submetida a três sessões de

clareação com peróxido de hidrogênio a 35%,

com uma aplicação do gel clareador em cada

sessão clínica, com duração de 45 minutos em

cada consulta, o intervalo entre as sessões foi

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de 7 dias. Para que haja uma maior estabilidade

da cor na técnica no consultório, é necessário

que se realize de duas a três sessões clínicas, ou

a associação das técnicas (caseira e consultório).

A paciente foi monitorada, evitando-se o conta-

to do gel com a gengiva, e consultada quanto ao

desconforto ou sensibilidade.

Com auxílio de um pincel, o gel foi movi-

mentado, para liberar eventuais bolhas de oxi-

gênio e melhorar o contato com os dentes. Para

remoção do gel clareador, foi utilizada a cânula

aspiradora, evitando o contato do gel com os

tecidos marginais (Fig. 10).

Ao final de cada sessão, foi aplicado flúor neu-

Figura 10 - Remoção do agente clareador White Gold Office com sugador endodôntico, após aplicação.

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Figura 12 - Aspecto laterais do sorriso.

Figura 11 - Aspecto frontal do sorriso após o tratamento clareador.

tro incolor por 10 minutos, com o objetivo de

evitar a sensibilidade dentária e a remineraliza-

ção do esmalte. Não há necessidade de polimen-

to dos dentes, a fim de evitar a desmineralização

e o desgaste no elemento dentário. O aspecto

final após as 3 sessões clínicas pode ser visto nas

figuras 11 e 12.

DISCuSSÃo

No surgimento da técnica de clareação

dentária no consultório, foi preconizada a as-

sociação de fontes auxiliares de energia (luz

halógena, arco de plasma, LED, LED + laser infra-

vermelho, e laser) com o objetivo de acelerar a

reação de oxi-redução do gel clareador25. Porém,

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vários trabalhos realizados em ambiente labo-

ratorial ou clínico comprovaram que o impor-

tante no resultado final da clareação é o agen-

te clareador utilizado, o tempo de aplicação e

o número de sessões clínicas, e não a fonte de

luz10,12,13-20,22,23. A utilização das fontes auxiliares

de luz é apenas mais uma promessa milagrosa,

(dentre tantos outros mitos já lançados no mer-

cado odontológico).

A indicação padrão do tempo de aplicação dos

agentes clareadores, na técnica no consultório,

é de, no máximo, 15 minutos, porém, não há na

literatura uma base consolidada sobre este pro-

tocolo. Verifica-se, através dos resultados, que a

decomposição do agente clareador em relação

ao tempo é mínima, sem diferença estatística,

ou seja, os agentes clareadores avaliados pro-

movem clareação após 15 minutos17,18.

Na clareação dentária, quando empregada a

técnica no consultório, é preconizado o uso de

agente clareador em alta concentração (peróxi-

do de hidrogênio de 35% a 38 %), o que pode

promover alterações na morfologia dos tecidos

e nas estruturas dentárias5,24. Porém, os dados

referentes às alterações morfológicas dos te-

cidos dentários são conflitantes, em função da

grande variedade de metodologias utilizadas,

bem como da diversidade dos agentes clarea-

dores, tempo de aplicação, suas concentrações,

pH do agente clareador e marcas comerciais

utilizadas1,24. Entretanto, os efeitos adversos ve-

rificados in vitro não são encontrados quando

realizados in situ ou in vivo11,12.

A maior preocupação na indicação das

técnicas de clareação é a possibilidade da

desmineralização do esmalte dentário. Alguns

géis clareadores possuem pH ácido, o que pode

favorecer essa desmineralização. Os agentes

clareadores avaliados neste estudo, inicialmen-

te, possuíam pH próximo ao neutro ou básico,

fator importante, pois as soluções clareadoras

com pH ácido podem promover alterações na

topografia e permeabilidade do esmalte e maior

sensibilidade dentária2,21. O pH neutro ou bási-

co dos agentes clareadores pode minimizar as

alterações na estrutura dentária e os efeitos co-

laterais, como sensibilidade dentária e irritação

gengival3,21.

Neste estudo foi verificado que, após um cer-

to tempo da manipulação do agente clareador,

o pH ficou ácido. Por isso, esses materiais devem

ser removidos em até 25 minutos após sua ma-

nipulação. Os géis clareadores que mantêm o

pH básico ou próximo do neutro podem ser uti-

lizados, sem troca, sobre o elemento dentário,

permanecendo sobre a estrutura dentária por

até 45 minutos.

CoNCLuSÃo

O gel clareador utilizado na técnica no con-

sultório é estável, em relação à sua decomposi-

ção, até 45 minutos após a sua aplicação.

Para um melhor resultado na técnica no con-

sultório, é necessário que se realize, no mínimo,

duas sessões clínicas.

Na clareação dentária pela técnica no con-

sultório não há necessidade do uso de fontes

ativadoras.

O gel clareador não precisa ser trocado de 15

em 15 minutos na mesma sessão clínica, para

agentes clareadores que até 45 minutos mante-

nham seu pH acima do pH crítico.

Enviado em: maio de 2008Revisado e aceito: junho de 2008

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Fabiano Carlos Marson, Luis Guilherme Sensi, Rodrigo Reis

65R Dental Press Estét, Maringá, v. 5, n. 3, p. 55-66, jul./ago./set. 2008

The aim of this work was to evaluate the decom-

position time and pH of in-office bleaching gels

and their relation to the application time. Four

bleaching gels were selected and divided in the

following experimental groups: G1 - Opalescence

Xtra Boost (Ultradent); G2 - Whiteness HP Maxx

(FGM); G3 - Lase Peroxide Sensy (DMC) and G4 -

White Gold Office (Dentsply). The manipulation

of the bleaching gel followed the manufacturers’

instructions. The method for evaluation of the

hydrogen peroxide dosage, in relation to time,

followed the USP recommendations, whereas the

evaluation of pH was completed through Merck’s

universal indicating paper. ANOVA indicated that

the hypothesis of equality between the groups

was true, evaluating the factor decomposition

in relation to time. Therefore, there’s no need to

replace the bleaching gel during in-office bleach-

ing sessions as long as the used gel keeps its

neutral pH.

KEY WORDS: Dental bleaching. Carbamide peroxide. Peroxide hydrogen.

Abstract

New concept for the in-office bleaching technique

REfERênciaS

1. AL SHETHRI, S.; MATIS, B. A.; COCHRAN, M. A.; ZEKONIS, R.; STROPES, M. A. Clinical evaluation of two in office bleaching products. oper. Dent., Seatle, v. 28, no. 5, p. 488-495, Sept./Oct. 2003.

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Novo conceito na clareação dentária pela técnica no consultório

66 R Dental Press Estét, Maringá, v. 5, n. 3, p. 55-66, jul./ago./set. 2008

Fabiano Carlos MarsonAv. São Paulo, 172, sala 721, Edif. Aspen Park Trade CenterCEP: 87.013-040 - Centro - Maringá / PRE-mail: [email protected]

Endereço para correspondência

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