novo colonialismo na África europeus, americanos e ... · muito nos mais jovens. ... de romana de...

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OÁSIS #172 EDIÇÃO A SEDUÇÃO DO FUTEBOL COM CACHORROS, COM ASTRONAUTAS E ATÉ COM SEXO NOVO COLONIALISMO NA ÁFRICA Europeus, americanos e chineses se apoderam das riquezas africanas DE PAI PARA FILHO Carta de Einstein ao pequeno Hans Albert RUPERT SHELDRAKE A delusão da ciência

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Oásis#172

Edição

A SEDUÇÃO DO

FUTEBOLCom CaChorros, Com

astronautas E até Com sExo

NOVO COLONIALISMO

NA ÁFRICAEuropeus, americanos

e chineses se apoderam das riquezas africanas

De pAI pARA FILhO

Carta de Einstein ao pequeno hans albert

RupeRt SheLDRAke

a delusão da ciência

2/40OÁSIS . Editorial

por

Editor

PEllEgriniLuis

D ifícil escapar. até mesmo quem parece não se interessar por fu-tebol, durante as semanas da Copa do Mundo muda de atitude. Ele é hoje o esporte mais popular no mundo todo, e o fascínio

que exerce não mostra sinais de arrefecimento. Pelo contrário, continua a crescer.

Qual será o segredo? Muitos já se debruçaram sobre a questão, sobretu-do o pessoal que estuda os segredos da psicologia dos comportamentos coletivos, mas a questão é vasta, multifacetada, e até hoje ninguém chegou a conclusões definitivas.

Há sérios indícios, no entanto, de que o futebol mexe com camadas muito profundas do inconsciente coletivo, pondo em jogo – literalmente falando – questões, comportamentos, ambições e sonhos que nos acom-panham desde que o mundo é mundo.

Um exemplo: desde sempre, em praticamente todas as culturas e em

A bolA, um corpo esférico, representA o mundo, com todAs As suAs riquezAs e seus vAlores. e quem

não persegue, de AlgumA formA, o sonho fátuo de conquistAr o mundo? de, pelo menos, conquistAr o

“seu próprio mundo”, A suA própriA existênciA?

OÁSIS . Editorial

por

Editor

PEllEgriniLuis

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todos os tempos, a bola, um corpo esférico, representa o mundo, com todas as suas riquezas e seus valores. E quem não persegue, de alguma forma, o sonho fátuo de conquistar o mundo? de, pelo menos, conquis-tar o “seu próprio mundo”, a sua própria existência?

além desse significado subjetivo, o futebol também possui outros, mais objetivos. É o esporte que representa valores por excelência da nossa cultura atual: a competição, a glória da vitória, a luta renhida em busca de um gol, a beleza e a força física, a riqueza fácil, a ascensão social, o aplauso, a juventude, e a lista poderia continuar... nossa matéria de capa, como não poderia deixar de ser, fala um pouco da copa e daquilo que a recheia, o futebol. Mostra algumas ações curio-sas que ele desencadeia. informa, por exemplo, que em Minas gerais prostitutas e prostitutos da capital se reuniram em associação para criar cursos de línguas adaptados às necessidades dos profissionais do sexo que irão prestar serviços aos turistas que, afinal, não vieram aqui apenas pelo futebol, mas também em busca de sexo fácil, bom, bonito e barato. Conhecer os vocábulos específicos do inglês, do italiano, do francês e do espanhol pode ser muito útil aos profissionais do sexo, sobretudo em época de vacas gordas, como é o caso de uma Copa do Mundo.

Há também, nessa mesma matéria, uma galeria de fotos de cachorros de raça pura, cada um representando uma nação, vestindo as camisetas das suas nacionalidades.

E por último oferecemos um vídeo feito há pouco a bordo da nave da iSS (Estação Espacial internacional). Em homenagem à Copa, os astronautas de plantão organizaram uma partida de futebol em gravidade zero. im-pressionante como fazer gol de bicicleta fica fácil quando você não precisa mais se preocupar com o seu peso! Confira

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DOA SEDUÇÃO DO

FUTEBOL Com cachorros, com astronautas e até com sexo

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s mais velhos certamente se lembram quando, há al-gumas décadas, a então jo-vem roqueira italiana Rita Pavone reclamava: Perché, perché, la domenica mi lasci sempre sola, per an-dare a vedere la partita di

pallone! (Por que, por que, você sempre me abandona aos domingos, para ir ver a parti-da de futebol). A resposta à pergunta, Rita, só chegou agora, e é bem simples: É porque,

O

A febre mundial do futebol contagiou até os astronautas em órbita no espaço. por amor ao esporte, um fotógrafo belga clicou cães de raça vestidos como grandes craques. e, em minas gerais, prostitutas foram aprender inglês. tudo é festa na copa do mundo

Por Luis PeLLegrini

para alguns homens, o futebol é ainda me-lhor do que sexo.

Espero sinceramente que homens como esses aí sejam exceções... Mas, com efei-to, para a maioria dos homens parece que o prazer que sexo e futebol proporcionam é quase... o mesmo! Assistir à partida do time que conquistou nosso coração equivale a praticar uma intensa e prolongada ativi-dade sexual. Pelo menos do ponto de vista da endocrinologia isso é coisa que pode ser afirmada. Ambos, sexo e futebol, liberam no organismo os mesmos hormônios, testos-terona e cortisol (o hormônio do estresse). Detalhe: da mesma forma que no sexo, a quantidade dessas substâncias que circulam no corpo aumenta com o desenrolar da par-tida, produzindo os mesmos efeitos. Uau!

Testosterona e cortisol sobem

Tais conclusões não saíram da cabeça de algum cientista doido, fanático torcedor do Barça, do Ajax, ou do Corinthians, mas fo-ram obtidas a partir de uma pesquisa séria feita pelo Departamento de Psicologia So-cial da Universidade de Valência, e organi-zada em conjunto com a VU University de Amsterdam durante a partida final da Copa do Mundo de 2010 entre a Espanha e a Ho-landa.

Naquela ocasião, algumas centenas de torcedores foram submetidos à aferição dos seus níveis de testosterona e de cortisol através de amostras de sua saliva colhida em diversos momentos ao longo da partida. Resultado: a testosterona aumentava gradualmente em todos os su-jeitos, enquanto o nível do hormônio do estresse oscila-va sobretudo segundo a idade do torcedor, elevando-se muito nos mais jovens.

A experiência revelou também a existência de uma liga-ção com a “teoria da auto-conservação social”, segundo

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a qual quem possui níveis mais elevados de cortisol vive a expec-tativa da derrota do seu time como uma ameaça à autoestima, e por-tanto com uma forte dose de es-tresse.

Futebol e erotismo: uma relação estreita

Essa ligação entre futebol e prazer erótico é desde sempre coisa bem conhecida também pelos profissio-nais do sexo, e eles nunca precisa-ram de qualquer pesquisa científi-ca para tirar proveito do fato.

Em Belo Horizonte, nos últimos meses, tais percepções tornaram--se objeto de ações bem concretas: a Associação das Prostitutas de

Minas Gerais marcou um golaço antecipado e organizou para suas afiliadas cursos intensivos de inglês (mas tam-bém de francês, italiano e espanhol) nos quais a tônica repousa sobre o vocabulário mais específico das suas prá-ticas profissionais, notadamente os palavrões. Afinal, os turistas estão chegando, e poucos falam português.

Os alunos/as (as classes são mistas e bem ecléticas, para mulheres, homens e travestis) aprendem logo a dizer “Hello, what’s your name?” e também os nomes mais co-muns das genitálias e das diferentes prestações sexuais. Aprendem também, nas diferentes línguas, as principais

Aluna do curso de inglês para prostituras veste a camiseta promocional

expressões verbais que os clientes gostam de bradar ou de ouvir nos momentos culminantes (ou menos) das transações. Afinal, o pró-prio nome do curso já indica que se trata de um “Curso de idiomas para profissio-nais do sexo”. Em tempos de crescente globalização, parece óbvio que um bom treinamento em línguas é, cada vez mais, condição importante para que esses profissionais alcancem bom êxito nas suas atividades no mercado.

Os cursos duraram até as vésperas da Copa do Mun-do mas, devido ao sucesso, continuarão depois dela. Estão sendo frequentados por mais de 300 prostitutas e travestis da capital mineira e arredores.

Ao mesmo tempo, no exterior, várias agências informam que, à parte as pedofilias e coisas do gênero, a prostitui-ção de adultos em si mesma não constitui nenhum crime no Brasil. Cada um é livre para dar ou vender o que lhe pertence. Trata-se de um trabalho, uma profissão, com suas regras, seus riscos, e também com o seu linguajar técnico, feito de termos específicos e de palavrões. Dito isso, pode-se acrescentar que em nenhum lugar do mun-

do prestações sexuais são solicitadas e negociadas usan-do-se termos “limpos”, protocolares, científicos. Libera-do dos sentimentos, o sexo mercenário é pragmático e vai direto ao ponto, usando termos objetivos e vulgares que a ninguém – e isso desde que o mundo é mundo – escandalizam ou ofendem. Já nos muros da antiga cida-de romana de Pompeia, para citar um exemplo, existem graffiti, que chegaram aos nossos dias, do tipo: “Felix felat assibus I”, (Felix chupa por um axe, uma moeda de bronze).

Assim sendo, e hipocrisias à parte, o curso de inglês

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em Belo Horizonte, prostitutas fazem curso de inglês para

trabalhar melhor durante a Copa

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vulgar e de outras línguas é um modo inteligente para que as moças e os rapazes profissionais do sexo em Mi-nas Gerais se mantenham atualizados com as regras do mercado de modo a ampliar a clientela. A Copa do Mundo atrai milhares de turistas de todo o mundo, e pelo menos uma parte deles não deseja degustar apenas a carne de churrascos. Para atendê-los, convém usar uma linguagem mais apropriada. Sem falar no detalhe importante de que, para nossas prostitutas e prostitu-tos, isso pode ser inclusive um modo de salvar a pró-pria vida. Faz muita diferença poder dizer claramente a um cliente “All with condom” (tudo com preservativo) ou apenas “Please, take a shower” (por favor, vá tomar uma ducha)...

Logo do Curso de idiomas para profissionais do sexo

Na copa, camisas com pedigreeA febre criativa despertada pela Copa do Mundo mani-festa-se também em outras áreas. Na da fotografia, por exemplo. Eric Isselée, fotógrafo belga, torcedor de fute-bol e especializado em retratos de animais, decidiu unir as suas paixões, criando algumas divertidas fotomonta-gens.

A galeria abaixo mostra alguns desses trabalhos, nos quais camisas de times da Copa são vestidas por jogado-res um tanto insólitos. Mas não há como negar o fato de que todos eles são figuras emblemáticas de seus respec-tivos países.

Eric Isselée é um dos fundadores da Life on White, ONG que há oito anos recolhe fotografias de animais de todas as espécies. Parte do dinheiro que arrecada é enviado a diversas sociedades protetoras de animais.

Veja a galeria

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Holanda - spaniel holandês

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galgo espanholFila brasileiro

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Buldogue inglêsBuldogue francês

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staffordshire terrier norte-americanoKelpie australiano

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Chihuahua mexicanoCão corso italiano

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Akita inu JapãoDálmata croata

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Pastor suíço brancoHusky siberiano - rússia

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Dogue argentinoPastor alemão

Isso sim, é um gol de bicicleta!Na estreia da Copa, o entusiasmo que o futebol desperta contagiou também os astronautas de plantão no interior da Estação Espacial Internacional (ISS). O vídeo abaixo os mostra às voltas com vários chutes à bola em am-biente de micro-gravidade. Também esses senhores do espaço acompanham as partidas a 400 quilômetros de distância da superfície, em órbita ao redor da Terra.

Para desejar boa sorte a todas as equipes participantes da Copa, Reid Wiseman e Steve Swanson, norte-ame-ricanos, e Alexander Gers, alemão, improvisaram uma “partida” em gravidade zero cheia de gols de bicicleta.

Os três fizeram questão de afirmar que estarão a postos, torcendo por seus times, na partida entre Estados Uni-dos e Alemanha, dia 26 de junho, na Arena Pernambu-co, em Recife.

Veja aqui o vídeo enviado diretamente da Estação Espacial Internacional

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na gravidade zero, fazer um gol de bicicleta até que fica fácil

um astronauta da iss se prepara para chutar a gol

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NOVO COLONIALISMO NA ÁFRICAEuropeus, americanos e chineses se apoderam das riquezas africanas

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a República Centro-Africana, en-quanto a mídia se concentra nos riscos de um conflito religioso atu-almente em curso entre muçulma-nos e cristãos que se massacram a tiros e machadadas, está em cur-so uma dilapidação das riquezas do país. E tudo acontece longe dos

olhares curiosos dos jornalistas e da maioria dos

N

enquanto a china investe pesado na áfrica, europa e euA justificam o envio de tropas a nações africanas alegando razões humanitárias. estariam pensando nas pessoas ou no controle das matérias-primas e das riquezas guardadas no subsolo desses países? na Argélia e em outros lugares do continente negro há quem tenha sérias dúvidas a respeitoPor: JornAL LA TriBune - ArgéLiA

especialistas em assuntos africanos.

Para o comum dos mortais, a República Cen-tro-Africana é apenas uma vasta área florestal, com uma população muito pobre. Ignora-se, como acontece em geral quando se trata de pa-íses africanos, a existência de grandes riquezas naturais. Este país de seis milhões de habitan-tes transborda de petróleo, diamantes e outros recursos naturais. Tesouros que suscitam a cobiça dos países desenvolvidos.

A França, que se recusou a intervir no país quando o presidente deposto, François Bozi-zé, lhe pediu (em dezembro de 2012), acabou por enviar soldados (em dezembro de 2013), quando a crise em Bangui (a capital) assumiu contornos de guerra religiosa entre a minoria muçulmana, que assumiu o poder pela primei-ra vez em março de 2013, e a maioria cristã, que clama ter sido alvo de genocídio por parte dos rebeldes da Séléka (coligação entre parti-dos políticos e forças rebeldes).

Oficialmente, o presidente francês, François Hollande, alegou razões humanitárias para justificar o envio de 1600 soldados para Ban-gui, onde vive grande número de cidadãos franceses.

Quem chega primeiro às riquezas?

Essa intervenção foi vista por alguns como um

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ato de neocolonialismo por parte da França, tal como as também recentes intervenções no Mali e na Líbia. Outros consideraram que a ação era necessária, para evitar novo genocídio em solo africano, como o de Ruanda, há 20 anos.

A presença francesa na antiga colônia foi saudada por al-guns centro-africanos que consideraram que os soldados franceses em Bangui iriam dar um apoio significativo à missão africana de manutenção da paz no país. Desde a independência, em 1960, ele já passou por seis golpes de Estado.

O caráter supostamente filantrópico da intervenção francesa esconde, no entanto, objetivos econômicos e geoestratégi-cos. Objetivos traçados, no entanto, longe do conceito neo-colonialista avançado por alguns analistas obcecados pela

ideologia, numa época em que nada se sobrepõe ao poder do dinheiro e à guerra já pouco disfarçada pelo controle das riquezas do planeta.

O que está em questão em Bangui não é salvar os centro--africanos de um genocídio étnico-religioso, à semelhança do que também nos tentam fazer crer no Sudão do Sul, na República Democrática do Congo, no Darfur e em outros países africanos. O que está em causa é saber quem vai che-gar primeiro às riquezas do subsolo desses países.

A súbita decisão por parte de Paris de enviar tropas à Repú-blica Centro-Africana visa, efetivamente, obstruir a presen-ça chinesa, que começou a se reforçar na era de Bozizé (no poder entre março de 2003 e março de 2013).

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É isso que justifica a recusa do governo francês em dar su-porte a Bosizé no momento em que ele estava prestes a ser derrubado por uma coligação supostamente heterogênea, a Séléka. Paris, que sempre apoiara Bozizé, abandonou-o de-vido ao namoro cada vez mais assumido desse líder africano com o gigante chinês. A China injetou milhões de dólares na República Centro-Africana para garantir sua presença cada vez maior nos negócios de Bangui.

Interesses franceses na África A estratégia chinesa na República Centro-Africana já deu bons frutos, bem como em vários outros países africanos nos quais Pequim conseguiu abocanhar uma boa fatia da ex-ploração dos recursos naturais em troca de uma assistência

ao desenvolvimento local. Essa assistência aconteceu so-bretudo na construção de estradas em regiões remotas e na edificação de escolas e na implementação de outros serviços públicos.

“A França tem interesses na República Centro-Africana. Atualmente, controla a economia do país e de tudo o que se passa nele. A holding francesa Bolloré controla comple-tamente a logística e o transporte fluvial do país. O grupo Castel impera no mercado de bebidas e do açúcar. A mul-tinacional CFAO domina o comércio de veículos. A France Telecom entrou na dança em 2007. O gigante nuclear Areva está presente no país, embora oficialmente ainda esteja em fase de prospeção. A petrolífera Total tem reforçado a hege-monia no controle das reservas e na comercialização

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de petróleo, mas tem de negociar com a camaronesa Tra-dex, especializada no comércio de produtos petrolíferos”, afirmam analistas africanos, entre eles a agência de notícias Bêafrika Sango, órgão de informação independente sediado em Bangui.

O ímpeto da atitude francesa, bem como o envolvimento do presidente dos EUA, Barack Obama, nos acontecimentos de Bangui, são indícios dos grandes interesses econômicos e geoestratégicos que estão em jogo neste momento na Repú-blica Centro-Africana.

No início de dezembro, Washington forneceu apoio logís-tico e financeiro à França e à União Africana, para que a intervenção militar acontecesse; a 10 de janeiro, o então presidente centro-africano, Michel Djotodia, e o primeiro--ministro renunciaram aos cargos, por pressão da França e

do Chade. Essa mesma política desencadeada por potências europeias e os Estados Unidos não se desenrolam apenas na Repúbli-ca Centro-Africana: os vizinhos Sudão do Sul e a República Democrática do Congo passam por crises semelhantes que abalam a estabilidade política e minam a segurança, devido a essa luta renhida pelo controle dos recursos naturais afri-canos.

Nos três países há importantes grupos rebeldes apoiados por países estrangeiros que tanto lhes fornecem ajuda hu-manitária como militar e financeira. A atual guerra civil, que na aparência é um conflito entre cristãos e muçulma-nos, pode durar muito tempo, mantendo a instabilidade em toda a sub-região da África Equatorial.

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DE PAI PARA FILHO Carta de Einstein ao

pequeno Hans AlbertM

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m 1915 Albert Einstein tinha 35 anos, e vivia em Berlim. Sua ex-mulher Milena (de quem ti-nha se separado) vivia em Vie-na com os dois filhos do casal, Hans Albert Einstein e Eduard

“Tete” Einstein.

No dia 4 de novembro, Einstein acabara de completar um artigo científico de duas páginas que iria mudar toda a história da física. Era o capítulo no qual descrevia a te-oria geral da relatividade. Ele aproveita um momento de repouso e decide subitamente

Eem 1915, pouco antes de publicar seus estudos sobre a relatividade, Albert einstein escreveu a seu filho hans Albert, então com 11 anos, uma belíssima carta. nela, ele explica a seu pequeno a importância de fazer todas as coisas com paixãoPor: Luis PeLLegrini

escrever esta carta a seu filho pré-adoles-cente.

Em toda a história da literatura, trata--se, seguramente, de uma das mais belas cartas que tratam da relação entre pais e filhos. Além disso, ela tem relevância uni-versal: Einstein revela a seu filho o segre-do para se aprender qualquer coisa.

Meu caro Albert,

recebi ontem, com muita alegria, a sua carta. Já estava com medo que você não iria me escrever nunca mais. Quando esti-ve em Zurique você me disse que lhe pa-recia estranho quando me apresento ali. Assim sendo, creio que será melhor nos encontrarmos em algum outro lugar, onde ninguém poderá nos perturbar.

Em todo caso, darei um jeito de passar-mos, a cada ano, um mês inteiro juntos, para lhe demonstrar que você tem um pai que pensa muito em você e que te quer muito bem. Comigo você poderá aprender muitas coisas belas e úteis, coisas que ou-tras pessoas não conseguirão lhe ensinar com facilidade.

Aquilo que realizei, trabalhando de modo tão exaustivo, não deverá ser útil apenas

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einstein e sua primeira esposa, Mileva Maric

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aos estranhos, mas também, e especialmente, aos meus meninos.

Nestes últimos dias completei um dos trabalhos mais belos e importantes da minha vida e quando você for um pouco maior eu lhe falarei a respeito.

Fico muito feliz que você sinta paixão pelo piano. Es-tudar piano e praticar marcenaria são, a meu ver, as melhores atividades para a sua idade. São, inclusive, melhores do que a própria escola, porque são muito adequadas a pessoas jovens como você.

Ao piano, toque principalmente as peças que lhe agra-dam, não importa se o professor não as recomenda. Este é o modo mais eficaz para se aprender alguma

coisa: quando nós a fazemos com uma tal entrega que sequer percebemos o tempo que passa.

Às vezes fico tão absorvido pelo meu trabalho que es-queço de comer...

Um beijo para você e para o Tete, do seu papai.

Saudações para a mamãe.

À direita, einstein com sua primeira mulher Mileva e o primogênito Hans Albert

einstein, em 1921, com sua prima else e seu filho mais mais velho, Hans Albert

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Mileva Maric em 1914, com eduard e Hans Albert, os dois filhos que teve com Albert einstein

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Rupert SheldrakeA DELUSÃO DA CIÊNCIA

Palestra banida do TED

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OLu

çã

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o ano passado, o biomédico in-glês Rupert Sheldrake proferiu no TED (www.ted.com) a pa-lestra The Science Delusion (A ilusão da ciência ou, mais pro-priamente, A delusão da ciên-

cia). Poucas semanas depois, o conselho de consultores científicos do TED decidiu banir essa palestra de Sheldrake. A decisão causou estupor, até mesmo nos meios científicos,

N

em conferência polêmica, o biomédico inglês rupert sheldrake denuncia o que chama de “dez dogmas da ciência oficial”, afirmando que eles não são de fato verdadeiros. este é mais um capítulo da revolução de paradigma atualmente em curso no mundo do conhecimento

Por: equiPe VorTex MunDi

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dado o prestígio internacional de que goza o autor, bem como pelo fato de o TED ser um palco mundialmente famoso por seu plura-lismo e apoio à liberdade de expressão.Banir a palestra de um pensador contempo-râneo do porte de Sheldrake foi imediata-mente interpretado como uma indicação de que o seu conteúdo poderia ser contundente e inquietante.

No centro dos debates estão as afirmações de Rupert Sheldrake sobre o que ele chama de “os dez dogmas da ciência”- dez afirma-ções correntes da ciência contemporânea que, na opinião desse cientista, não se sus-tentam como afirmações e deveriam, antes de mais nada, ser tratadas como perguntas, visto que a ciência oficial não tem dados ou comprovações para fazer afirmação alguma seguindo aquilo que poderia efetivamente ser chamado de “processo científico” – ao mesmo tempo em que existem milhares de evidências acumuladas ao longo dos anos que desacreditam a validade dessas afirma-ções.

Aqui estão os dez dogmas da ciência oficial, segundo Sheldrake. Ele afirma que, quando se observa cada uma dessas ideias cientificamente, vê-se que elas não são de fato verdadeiras:

1. A natureza é mecânica, ou assemelhada a uma máquina.

2. Toda matéria é inconsciente.

3. As leis ou constantes da natureza são fixas.

4. A quantidade total de matéria e energia é sempre a mesma.5. A natureza não tem propósito.

6. A hereditariedade biológica é material.

7. Memórias são guardadas dentro do seu cére-bro.

8. Sua “mente” (consciência) está dentro da sua cabeça.

9. Fenômenos psíquicos como a telepatia não são possíveis.

10. A medicina mecanicista é o único tipo de me-dicina que funciona.

Em São Paulo, Paulo Ferreira, escritor e consultor em desenvolvimento organizacional do bem estar humano, dono do interessante site http://destruidordedogmas.

com.br/, comenta a polêmica surgida ao redor do bani-mento dessa palestra de Sheldrake e apresenta ao final de seus comentários alguns links úteis para quem dese-ja se aprofundar no assunto:

“Todas as velhas fronteiras perdem rapidamente a vali-dade. Todas as velhas “certezas” parecem cada vez mais hipóteses construídas sobre pilares muito mais provi-sórios e inconsistentes do que pareciam há alguns anos. A ultrapassada visão de ciência e espiritualidade como “necessariamente polos opostos” perdeu completamen-te a validade. Exatamente como tantos pensadores do movimento universalista ou da espiritualidade contem-porânea vem sinalizando há um bom tempo. Parece que os muitos cientistas começam a enxergar a ilusão desta divisão artificialmente imposta e silenciosamente acei-ta, e resolveram tornar-se parte ativa no debate. Da mi-nha parte, que sejam, finalmente, muito bem vindos!”

Seguem os links originais sobre toda a polêmica:

http://www.collective-evolution.com/2013/04/10/banned-ted-talk-rupert-shel-drake-the-science-delusion/

http://en.wikipedia.org/wiki/Rupert_Sheldrake

http://blog.ted.com/2013/03/18/graham-hanco-ck-and-rupert-sheldrake-a-fresh-take/

E abaixo está o vídeo da palestra de Rupert Sheldrake no TED que provocou tanta celeuma.

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Vídeo da palestra de Rupert Sheldrake no TED

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Tradução integral da palestra Delusão da Ciência, de Rupert Sheldrake

A desilusão da ciência é a crença de que a ciência já enten-de a natureza da realidade em princípio deixando quais-quer detalhes a serem preenchidos. Esta é uma crença mui-to difundida em nossa sociedade. É o tipo de sistema de crenças de pessoas que dizem eu não acredito em Deus, só acredito na ciência.É um sistema de crenças que atualmente está presente em todo o mundo. Mas existe um conflito no coração da ciên-cia entre ciência como um método de inquisição baseado na razão, evidência, hipóteses e investigação coletiva e ci-ência como um sistema de crença ou uma visão de mundo. E, infelizmente, o aspecto de visão de mundo da ciência chega a inibir e constringir a livre investigação que é a pró-pria essência do esforço científico.

Desde o fim do século 19, a ciência tem sido conduzida sob o aspecto de um sistema de crenças ou visão de mundo que é essencialmente a do materialismo. Materialismo filosó-fico. E as ciências são hoje subsidiárias integrais da visão de mundo materialista. Eu acho que, à medida que sairmos dela, as ciências serão regeneradas.

O que fiz em meu livro ‘The Science Delusion’ - intitula-do ‘Science Set Free’ nos Estados Unidos - foi pegar os dez dogmas ou suposições da ciência e transformá-los em perguntas, vendo o quão bem eles permanecem válidos se olharmos para eles cientificamente. Nenhum deles resiste muito bem.Eu vou repassar primeiro quais são esses dez dogmas, e de-pois terei tempo para discutir apenas um ou dois deles um pouco mais detalhadamente.Mas basicamente, os dez dogmas que formam a visão de mundo padrão da maior parte das pessoas educadas em

todo o mundo são, em primeiro lugar: a natureza é mecânica ou maquinal, o universo é como uma má-quina, animais e plantas são como máquinas, nós so-mos como máquinas.Na verdade, nós somos máquinas. Somos meros “ro-bôs desajeitados”, como na incisiva frase de Richard Dawkins, com cérebros que são computadores geneti-camente programados.Em segundo, a matéria é inconsciente, o universo todo é feito de matéria inconsciente.Não há consciência em estrelas, em galáxias, em pla-netas, em animais, em plantas, e nem deve haver em nós, se essa teoria for verdadeira.

Portanto, muito da filosofia da mente nos últimos cem anos tem tentado provar que na verdade nós não somos conscientes coisa alguma.

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ruPerT sHeLDrAKe

Tradução integral da palestra Delusão da Ciência, de Rupert Sheldrake

A matéria é portanto inconsciente, as leis da natureza são fixas. Eis o terceiro dogma.As leis da natureza são as mesmas agora que eram no tempo do Big Bang e assim serão para sempre. Não apenas as leis mas as constantes da natureza são fixas, por isso são chamadas de constantes.

Quarto dogma: a quantidade total de matéria e energia é sempre a mesma. Ela nunca muda em quantidade total ex-ceto no momento do Big Bang, quando tudo expandiu-se em existência a partir do nada dentro de um único instante.

O quinto dogma é que a natureza é despropositada, não há nenhum propósito em toda a natureza e o pro-cesso evolucionário não tem nenhum propósito ou direção.

Sexto dogma: a hereditariedade biológica é material, tudo o que você herda está em seus genes ou em mo-dificações epigenéticas dos genes, ou na herança cito-plasmática. É material.

Sétimo dogma: memórias são guardadas dentro do seu cérebro como traços materiais. De alguma manei-ra, tudo o que lembramos está no cérebro em inter-mináveis proteínas fosforiladas nas extremidades dos nervos. Ninguém sabe como isso funciona, mas ainda assim quase todos no mundo da ciência acreditam que ela deve estar no cérebro.

Oitavo dogma: a sua mente está dentro da sua cabeça.Toda a sua consciência é atividade do seu cérebro e nada mais.

Nono dogma, que decorre do oitavo: fenômenos psí-quicos, como telepatia, são impossíveis.Seus pensamentos e intenções não podem surtir efei-to algum à distância porque a sua mente está dentro da sua cabeça. Portanto, toda a evidência aparente de telepatia e outros fenômenos psíquicos é ilusória. As pessoas acreditam que essas coisas acontecem, mas é só porque não entendem tanto de estatística, são en-ganadas por coincidências ou iludem-se a si mesmas.

E o décimo dogma: a medicina mecanicista é a única

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Tradução integral da palestra Delusão da Ciência, de Rupert Sheldrake

que realmente funciona. É por isso que os governos só fi-nanciam pesquisas da medicina mecanicista e ignoram te-rapias alternativas e complementares. Estas não têm como funcionar mesmo, pois não são mecanicistas, podem pare-cer funcionar, porque as pessoas já melhorariam mesmo ou devido ao efeito placebo. Mas a única que realmente fun-ciona é a medicina mecanicista.

Bem, esta é a visão de mundo padrão, adotada por quase todas as pessoas educadas em todo o mundo, é a base do sistema educacional, do serviço nacional de saúde, do con-selho de pesquisas médicas, governos, é meramente a visão de mundo padrão de pessoas educadas.

Mas acho que cada um destes dogmas é muito, muito ques-tionável, e olhando de perto, eles se desintegram.Vou tomar o primeiro, a ideia de que as leis da natureza são fixas.É resquício de uma visão de mundo mais antiga, de antes dos anos 60, quando a teoria do Big Bang veio à tona. As pessoas achavam que todo o universo era eterno, regido por leis matemáticas eternas.

Quando o Big Bang surgiu, essa hipótese continuou, em-bora o Big Bang tenha revelado um universo radicalmente evolutivo de cerca de 14 bilhões de anos. Crescendo, desen-volvendo-se e evoluindo por 14 bilhões de anos. Crescendo e resfriando-se, com mais estruturas e padrões aparecen-do dentro dele. Mas a ideia é que todas as leis da natureza foram completamente fixadas no momento do Big Bang, como um Código Napoleônico cósmico.

Como meu amigo Terence McKenna costumava dizer, “A

ciência moderna baseia-se em um princípio: mostre um milagre espontâneo e a gente o explica”. E esse milagre espontâneo é o aparecimento de toda a maté-ria e energia do universo e todas as leis que o gover-nam a partir do nada em um único instante. Bem, em um universo em evolução, porque as suas próprias leis não evoluiriam? Afinal de contas, as leis humanas evoluem e a ideia de leis naturais baseia-se em uma metáfora delas. Uma metáfora bem antro-pocêntrica: só humanos têm leis, aliás, só sociedades civilizadas as têm.Como C. S. Lewis afirmou certa feita, “Dizer que uma pedra cai na terra por obedecer a uma lei a torna um homem e até mesmo um cidadão.” É uma metáfora com a qual estamos tão acostumados que nos esque-cemos de que é uma metáfora.

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Tradução integral da palestra Delusão da Ciência, de Rupert Sheldrake

Em um universo em evolução, eu acho que a ideia de hábi-tos é muito melhor.

Acho que os hábitos da natureza evoluem, as regularidades dela são essencialmente habituais. Esta ideia foi apresen-tada no início do século 20, pelo filósofo americano C. S. Pierce. E trata-se de uma ideia que vários outros filósofos têm alimentado, uma ideia que eu mesmo cheguei a desen-volver em uma hipótese científica, a hipótese de ressonân-cia mórfica, que é a base destes hábitos em evolução.

De acordo com esta hipótese, tudo na natureza tem uma espécie de memória coletiva.

Ressonância ocorre na base da semelhança. À medida que um jovem embrião de girafa cresce no útero da mãe, ele sintoniza com a ressonância mórfica de gi-rafas passadas, baseia-se na memória coletiva, cresce como uma girafa, se comporta como uma girafa por-que toma como base essa memória coletiva. Precisa ter os genes certos para formar as proteínas certas, mas, na minha opinião, genes são superestimados. Eles respondem apenas por proteínas produzidas pelo organismo, e não pelo perfil, formato nem com-portamento. Cada espécie tem uma espécie de memó-ria coletiva, até mesmo os cristais.

Essa teoria prevê que se você produzir um novo tipo de cristal, pela primeira vez, da primeira vez que você o produzir não haverá um hábito pré-existente. Uma vez que haja cristalização, da próxima vez que você o produzir, haverá influência dos primeiros cristais sob os segundos em todo o mundo, por ressonância mór-fica, a cristalização será um pouco mais fácil.Da terceira vez, haverá influência dos primeiros e se-gundos cristais.

Há de fato uma boa evidência de que novos compos-tos ficam mais fáceis de se cristalizar mundo afora, bem como esta teoria prevê.Ela também prevê que, se você adestrar animais para aprender um truque novo, por exemplo, ratos apren-dem um truque novo em Londres,em todo o mundo, ratos da mesma raça aprenderiam o mesmo truque mais rapidamente, por causa dos que o aprenderam aqui. E, surpreendentemente, já há evi

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dências de que isso acontece de verdade.

Seja como for, em poucas palavras, essa é minha hipótese de ressonância mórfica, tudo depende de hábitos em evolu-ção e não de leis fixas.Mas quero dedicar também alguns momentos às constantes da natureza, porque estas são, mais uma vez, consideradas constantes. Coisas como a constante gravitacional, a velo-cidade da luz são chamadas constantes fundamentais. Será que são realmente constantes? Bem, quando passei a me interessar por essa questão, tentei descobrir. Elas são pu-blicadas em manuais de física. Manuais de física listam as constantes fundamentais existentes e dizem seus valores. Mas eu queria ver se elas mudavam, então recorri a volu-mes antigos de manuais de física. Fui à Biblioteca do Escri-tório de Patentes aqui em Londres, o único lugar que achei que guarda os volumes antigos, normalmente, quando os novos valores saem, as pessoas jogam fora os antigos.

Quando pesquisei, descobri que a velocidade da luz caiu entre 1928 e 1945 em cerca de 20 quilômetros por segun-do. É uma queda enorme porque foram dados com erros de eventuais frações, pontos decimais de erro. E ainda assim, em todo o mundo houve queda e todos encontravam valores muito semelhantes entre si, com pequenos erros. Então, em (1945) 1948 ela voltou a subir, e as pessoas começaram a obter valores muito semelhantes novamente.

Fiquei tão intrigado com isso e não consegui entender nada,então fui encontrar com o Chefe de Metrologia, do La-boratório Britânico de Pesos e Medidas, em Teddington.Metrologia é a ciência por meio da qual se mede constantes.Perguntei a ele sobre isso, o que você acha dessa queda na

velocidade da luz entre 1928 e 1945? E ele disse: “Oh não!”, “você descobriu o episódio mais embaraçoso da história de nossas ciências”.Eu disse, a velocidade da luz pode na verdade ter caí-do, o que teria implicações surpreendentes.E ele disse: “não, não, claro que não poderia realmen-te ter caído, é uma constante!”

Oh, bem, então como você explica o fato de que todo mundo estava praticamente observando que ela es-teve muito mais lenta naquele período? Seria porque estavam forjando resultados para obter o que acha-vam que outros estariam obtendo e, portanto, a coisa toda foi produzido apenas nas mentes dos físicos?“Não gostamos de usar a palavra forjar”.Eu disse, então qual você prefere?

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Tradução integral da palestra Delusão da Ciência, de Rupert Sheldrake

Ele disse: “bem, preferimos chamar de bloqueio intelectu-al.”Então, se isso estava acontecendo, como podemos ter tanta certeza de que não acontece hoje? E os valores obtidos hoje em dia são também produzidos por bloqueio intelectual?Ele respondeu: “não, sabemos que este não é o caso.”Eu disse, e como sabemos?E ele: “bem, resolvemos o problema”. Eu perguntei, mas como?Ele disse: “Bem, nós fixamos a velocidade da luz, por defi-nição, em 1972”.Mas ela ainda pode mudar.Ele disse: “Sim, mas nunca saberemos, porque definimos o

medidor nos termos da velocidade da luz, portanto as unidades mudam com ela”.E ele então aparentou estar muito satisfeito, eles ha-viam resolvido o problema.Mas, eu disse, o que dizer sobre Big G?A constante de gravitação conhecida no meio como Big G, escrita com G maiúsculo, a constante gravi-tacional universal de Newton. Tem variado mais de 1,3% nos últimos anos.E parece variar de um lugar para outro e de tempos em tempos.E ele disse: “Bem, há possibilidade de erros, e infe-lizmente há erros muito grandes com Big G. Eu disse então: e se estiver realmente mudando, talvez esteja mudando mesmo. Aí fui olhar como eles fazem: o que acontece é que eles a medem em diferentes laborató-rios, obtendo valores diferentes em dias diferentes e, em seguida, tiram uma média.

E então outros laboratórios de todo o mundo fazem o mesmo e chegam a uma média bastante diferente. Então, o Comitê Internacional de Metrologia se reúne a cada 10 anos mais ou menos e tira a média dos la-boratórios de todo o mundo para concluir o valor de Big G.Mas, e se Big G estivesse, na verdade, flutuando? E se mudar? Já existem evidências de que, na verdade, ela muda ao longo do dia e no decorrer do ano.E se a Terra, ao passo que se move pelo ambiente ga-láctico, passa por trechos de matéria escura ou outros fatores ambientais que possam alterá-la? Talvez este-jam todos mudando juntos.

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E se esses erros estiveram subindo juntos e baixando jun-tos? Há mais de 10 anos venho tentando convencer meteo-rologistas a olhar os dados brutos. Na verdade, agora estou tentando persuadi-los a colocar online na internet, com as datas e as medidas reais, e ver se está tudo correlacionado, ver se todas sobem em um certo tempo e descem em outro.

Se for o caso, podem estar flutuando juntas, ou nos diria algo muito, mas muito interessante. Mas ninguém fez isso, não fizeram porque G é uma constante. E é perda de tempo procurar alterações.

Vejam, aí está um exemplo muito simples de como um pressuposto dogmático inibe a investigação.Eu por minha vez acho que as constantes podem variar consideravelmente. Bem, dentro de limites estreitos, mas todas podem estar variando.E acho que há de chegar o dia quando revistas científicas como Nature terão bole-tins semanais sobre as constantes tipo reportagens sobre a bolsa de valores nos jornais. Nesta semana, Big G subiu ligeiramente, a carga do elétron caiu, a velocidade da luz manteve-se estável, e por aí vai.Esta é apenas uma área onde acho que pensar menos dog-maticamente pode vir a abrir caminhos. Uma das maiores áreas é a natureza da mente, é o problema menos resolvi-do, como Graham acabou de explicar.

A ciência simplesmente não consegue lidar com o fato de que somos conscientes. Não consegue lidar com o fato de que nossos pensamentos não parecem estar dentro de nos-sos cérebros. Nossas experiências não parecem estar todas dentro do nosso cérebro.

A imagem que você tem de mim agora não parece es-tar dentro do seu cérebro.

No entanto, a posição oficial é que há um pequeno Rupert em algum lugar dentro de sua cabeça, e tudo o mais nesta sala está dentro de sua cabeça. Suas ex-periências estão dentro de seu cérebro. Eu sugiro, na verdade, que a visão envolve uma projeção exterior de imagens, o que você vê está na sua mente, mas não dentro de sua cabeça.

Nossas mentes se estendem para além dos nossos cé-rebros no simples ato de percepção.Acho que projetamos imagens que estamos vendo, e tais imagens tocam o que estamos olhando. Se eu olhar para você pelas costas e você não souber que estou ali, eu poderia te afetar? Você poderia sentir o

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Tradução integral da palestra Delusão da Ciência, de Rupert Sheldrake

meu olhar? Há uma grande quantidade de evidências de que as pessoas sentem.A sensação de estar sendo observado é uma experiência ex-tremamente comum, e uma pesquisa experimental recente, na verdade, sugere que ela é real. Também parece aconte-cer com animais.

Acho que isso provavelmente evoluiu no contexto das rela-ções predador-presa. Presas que sentem o olhar do preda-dor teriam mais chances de sobreviver do que as que não podem.Isso levaria a uma nova forma de pensar sobre as relações ecológicas entre predadores e presas, e também sobre a ex-

tensão de nossas mentes.

Ao olharmos para estrelas distantes, acho que nossas mentes expandem-se no sentido de tocá-las e, literal-mente, se estendem ao longo de distâncias astronômi-cas diferentes. Não estão apenas dentro de nossas cabe-ças. Agora, pode parecer surpreendente que este é um tema de debate no século 21.

Sabemos tão pouco sobre nossas próprias mentes que onde as nossas imagens estão é hoje em dia um tema de debate caloroso dentro do campo de estudos da cons-ciência. Não tenho tempo para tratar de nenhum outro desses dogmas, mas cada um deles é questionável.

Se forem questionados, novas formas de pesquisa, no-vas possibilidades, se abrem. E acho que, à medida que questionarmos estes dogmas que têm impedido a ciên-cia há tanto tempo, a ciência passará por uma reflores-cimento, uma Renascença.Acredito totalmente na importância da ciência. Passei toda a minha vida como um cientista pesquisador, toda a minha carreira. Mas acho que ao ir além destes dog-mas, ela pode ser regenerada. Se tornará interessante novamente, e espero, uma afirmação da vida.Obrigado.

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