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NOVAS TECNOLOGIAS E O CAPITAL SOCIAL: ASPECTOS RELEVANTES
SANTOS, Luciana Rocha dos; RIBEIRO, Augusto Gonçalves; SILVA, Aline Marcelino dos Santos
Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de
dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4
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NOVAS TECNOLOGIAS E O CAPITAL SOCIAL: ASPECTOS
RELEVANTES
SANTOS, Luciana Rocha dos
Estudante de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem, UENF
RIBEIRO, Augusto Gonçalves
Mestre em Cognição e Linguagem, UENF
SILVA, Aline Marcelino Dos Santos
Estudante de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem, UENF
RESUMO
As tecnologias de comunicação e informação, as redes sociais e os avanços da tecnologia no campo da
internet têm impulsionado uma grande revolução, possibilitando a comunicação entre várias pessoas, de
qualquer lugar e para qualquer lugar, no ciberespaço de modo instantâneo. Múltiplas identidades são
assumidas, e de acordo com o ambiente em que se comunicam, redes de valores pessoais são criadas.
Esses valores incorporam o capital social do indivíduo, ressignificando a sua autoimagem e reputação
no ciberespaço, mas que poderão refletir de forma positiva ou negativa em sua vida pessoal e
profissional. Diante disto, este artigo busca investigar, com base na literatura, qual a importância das
relações estabelecidas nas redes sociais na formação do capital social e suas implicações para o
indivíduo contemporâneo.
Palavras-chave: Ciberespaço, Redes Sociais, Capital Social.
ABSTRACT
Communication and information technologies, social networks and the advances in internet technology
have driven a great revolution, enabling communication between several people from anywhere and to
anywhere in the snapshot mode of cyberspace. Multiple identities are taken on, and according to the
environment in which they communicate, networks of personal values are created. These values
incorporate the social capital of the individual, giving new meaning to his self-image and reputation in
cyberspace, but that will reflect positively or negatively on his personal and professional life. Before
that, this paper investigates, based on the literature, what the importance of the relations established in
social networks in social capital formation is, and its implications for the contemporary individual.
Keywords: Cyberspace, Social Networks, Social Capital.
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INTRODUÇÃO
Grandes transformações sociais ocorreram a partir da evolução das tecnologias. O
momento atual é marcado pela conexão em rede, que altera, não somente a consciência do
espaço-tempo, como também as relações de trabalho, as relações sociais e a forma de pensar.
Vivemos um momento chamado por Castells (2013), de auto comunicação de massa,
caracterizado por redes horizontais de comunicação interativa na internet e ampliadas pelas
redes de comunicação sem fio.
Esse universo interconectado das redes é denominado por Lévy (1999) de ciberespaço,
que se caracteriza, não só pela infraestrutura física de comunicação da internet, como também
toda matéria informacional nela contida, e, que é alimentada continuamente por seus usuários.
O ciberespaço, segundo Noronha e Tavares (2012), pode ser considerado como o espaço
que reúne interações tecnológicas, culturais e sociais conectadas por uma “teia de
computadores”. Nele surge um território de relações sociais e culturais, vinculado por relações
nômades, de maior flexibilidade social.
Cada indivíduo conectado no ciberespaço é um nó, formando o que Castells (1999)
define de sociedade em rede. Essas redes promovem interações até então nunca vistas,
caracterizadas por não ter fronteiras limítrofes, pela interconexão de valores de interesses
comuns e pela compressão do espaço-tempo.
No dia a dia, cada indivíduo faz parte de uma rede social, formada por família, amigos,
trabalho, etc. Essas relações são estendidas para o ciberespaço, através de redes sociais digitais.
Recuero (2012a) descreve que as redes sociais ampliam a construção de valores,
chamado capital social, composto de reputação, suporte social, acesso às informações e etc..
Bourdieu (1983) define o capital social como:
social capital is the aggregate of the actual and potential resources which are
linked to possession of a durable network of more or less institucionalized
relationships of mutual acquaintance and recognition - in other words, to
membership of a group - which provides each of the members with the
backing of the collectivity-owned capital (...) (BOURDIEU, 1983, p. 248-249
apud RECUERO, 2005, p. 3).
Assim, para Bourdieu (1983) apud Recuero (2005), o capital social pode ser
compreendido como os recursos ligados a uma rede durável de relações, sendo encontrado nas
relações sociais das pessoas.
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Desta forma, com o avanço da tecnologia no campo da internet, o sucesso e a ampliação
das redes sociais, implicam na multiplicidade de identidades, que agregam valor ao capital
social do indivíduo, ressignificando a autoimagem.
Neste sentido, o presente trabalho busca investigar, com base na literatura, a
importância das relações estabelecidas nas redes sociais na formação do capital social e
algumas implicações para o indivíduo contemporâneo.
O artigo está estruturado como a seguir: na Seção 1 apresenta o ambiente da internet e as
novas tecnologias de informação e comunicação; na Seção 2 destaca o capital social e o
ciberespaço; na Seção 3 aponta aspectos relevantes do capital social para o indivíduo; e por fim,
expõe as considerações finais.
1. A INTERNET E AS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO
O surgimento da indústria tipográfica na Europa, a Revolução Industrial, e após, a
criação da internet, marcaram grandes transformações na vida social, mudando hábitos e as
formas de comunicação. A revolução tecnológica cumpriu o papel de romper as fronteiras e
encurtar distâncias num movimento de flexibilização e descentralização de mercados
provocando uma nova organização social, em ritmo acelerado, como apontam Baladeli, Barros
e Altoé (2012).
Transformações proporcionadas pela internet mudaram sensivelmente o plano das
relações sociais. Novas tecnologias surgem a cada dia, e a sociedade imersa nesse universo,
chamado ciberespaço, vive as alegrias de sua rapidez e facilidades, e sofre com os impactos que
dela refletem.
As Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), segundo Castells (2013),
favorecem as democracias e aumentam autonomia da sociedade. Entrar frequentemente em
rede pela internet qualifica as pessoas, quando reforça sentimentos de segurança, liberdade,
influência, autonomia e sociabilidade, pois, a internet incorpora a cultura da liberdade, como
mostra o registro histórico do seu desenvolvimento.
Nesse contexto, de acordo com Souza e Gomes (2008), configura-se a cibercultura, que
é a reunião na internet em torno de centros de compartilhamentos de saber e interesses comuns,
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possibilitada pela comunicação instantânea com o mundo, sem a necessidade de se deslocar
fisicamente.
O sociólogo Manuel Castells chama a isso de sociedade em rede, como registra Costa
(2015), definindo que a internet “é o tecido de nossas vidas neste momento. Não é futuro. É
presente. Internet é um meio para tudo”.
Os mundos da telecomunicação e da informática, destaca Molina (2013), influenciaram
não só as relações de trabalho, mas também a maneira de pensar e agir. O mundo real de hoje é
um mundo híbrido que reúne o online e o off-line. Além disso, o poder da internet influenciou o
acesso aos meios de comunicação de massa, mudando as relações sociais, as relações de poder
e a comunicação entre as pessoas.
Conforme Noronha e Tavares (2012), o espaço público de comunicação, antes
controlado por emissoras de TV, rádio, jornais, editoras e gravadoras; hoje é formado por um
conjunto mundial muito mais amplo e variado. As novas tecnologias influenciam a maneira
como a informação passa a ser produzida e como ela circula, rompendo com a cultura de massa
predominante. Uma parcela da população passa interagir, como numa rede, em que cada
indivíduo é representado por um nó, conectado em várias direções, visto que, no ciberespaço a
comunicação é do tipo “todos para todos”, permitindo a reciprocidade e a partilha da
informação.
A convergência tecnológica da internet alcança TV, rádio e telefones, registram
Noronha e Tavares (2012), assegurando aos cidadãos a entrada em uma fase irreversível, em
ambientes transnacionais. Santaella (2012) destaca, que a convergência dos dispositivos não
está apenas nas conexões entre si, que eles estabelecem, como também nas funcionalidades.
Notebooks, tablets, smarphones e TV´s digitais passam a apresentar funções semelhantes,
como acesso à internet, armazenamento, tratamento de imagens, conexão a rede sociais, etc.
Essa comunicação em ampla escala, é chamada por Castells (2013), de
autocomunicação de massa. Para Molina (2013), o conceito de autocomunicação em massa está
relacionado à capacidade de interação entre os sujeitos, formando redes que possibilitam
compartilhar informações, com uma audiência global, através do YouTube, blogs, Facebook,
Twitter ou mesmo do envio de e-mail com vários destinatários.
Desta forma, pondera Molina (2013), existe uma íntima conexão entre as redes virtuais
e as redes de vida em geral, posto que, com a internet as pessoas ganharam poder, através das
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redes sociais. Muitos questionam a qualidade da informação na internet, mas ela materializa no
debate e comentários das pessoas, refletindo o interesse daquele grupo.
Souza e Cardoso (2011) apontam, que uma rede social pode ser definida pelos
elementos: atores e conexão, sendo os atores representados pelas pessoas, instituições ou
grupos; e conexões são formadas pelas interações ou laços sociais.
A análise de redes é o meio para estudar fenômenos, como comportamentos ou
opiniões. De acordo com Souza e Cardoso (2011), as redes são iniciadas a partir de interesses
ou busca de valores entre os participantes. Porém, independentemente da motivação, a
participação em redes sociais envolve direitos, responsabilidades e vários níveis de tomada de
decisões.
Para Recuero (2012a), o conteúdo é influenciado pelo meio, pois, ao que percebemos
hoje, este controla a forma das ações e até mesmo as associações. Deste modo, os meios
influenciam a sociedade independentemente de seu conteúdo. É o que ocorre com os sites de
rede social, que fornecem serviços como: construir um perfil público ou semi-público, controlar
uma lista de usuários e visualizar além da lista de conexões aquelas feitas por outros na rede.
Essas conexões são mantidas, mesmo que o ator não interaja na rede, além disso, um mesmo
sujeito pode ter várias representações dentro da mesma rede, através de vários perfis.
O investimento dos indivíduos na construção de suas redes gera valores, que segundo
Recuero (2012b), atuam como elemento motivador para obtenção desses "recursos sociais" ou
capital social. Pertencer a determinados grupos sociais podem representar vantagens a ser
apropriadas pelo ator e também pelo grupo, como por exemplo, ter acesso à informação.
Repassar ou não uma determinada informação pode ter diversas influências como, reputação,
visibilidade, novidade da informação ou seu impacto. Assim, quanto mais conectados, mais
acesso a informação e maiores as chances de surgirem cascatas informativas.
Neste ambiente diversificado, cada indivíduo desempenha papéis, que Bauman (2005)
descreve como multiplicidade de identidades possíveis, facilitadas pelas redes sociais, que na
internet transformam o sujeito numa modernidade líquida. O indivíduo, conforme Corrêa
(2012), pode construir suas redes, se integrar a outras redes, interagir, influenciar, colaborar,
provocar e até influenciar organizações.
Assim, Silva (1999) define, que a interconexão dos computadores mede com muita
precisão um potencial de inteligência coletiva de alta densidade em tempo real; e a sociedade
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em rede é formada por um grupo de pessoas vinculado por proximidade e por interesses
comuns, que ao entrelaçar múltiplos fluxos, torna-se um instrumento de poder.
2. CAPITAL SOCIAL E O CIBERESPAÇO
A internet fez emergir, destaca Souza e Gomes (2008), uma comunidade virtual,
chamada de ciberespaço, em que os indivíduos se relacionam formando grupo de interesses, de
projetos, de troca, de afinidades diversas, independente da posição geográfica ou das
instituições a que pertencem. Nessa dinâmica, a cibercultura é baseada no vínculo social,
formada por interesses comuns e compartilhamentos de saber das comunidades virtuais
desterritorializadas.
As conexões sociais estabelecidas através de redes sociais constituem em capital social
formado pelos recursos mobilizados na rede, como as conexões que os atores possuem,
facilitado pelo pertencimento em uma rede social. A internet é a grande responsável por ampliar
a difusão do capital social, concedendo um senso de comunidade pelo fato de conectar pessoas
e prover fontes de informação. Quadros e Pozobon (2013) defendem, que a estrutura em rede,
também possibilita a ubiquidade, ou seja, “estar” em muitos lugares ao mesmo tempo.
Permitindo a conexão por interesses em comum, independente de local, horário, situação
econômica, religião e raça.
O capital social é um recurso passível de acumulação e transformação em outras formas
de capital, como o econômico e o humano. Está relacionado com as expectativas que o ator tem
de retorno, porém, de acordo com Recuero (2012a), este conceito possui aspectos diversos na
literatura, destacando três elementos, que são: os recursos, a estrutura social, e as ações.
Quadros e Pozobon (2013), apontam uma concepção de capital social pelo número de
atores sociais envolvidos. O capital social individual, em que um indivíduo usa recursos
próprios ou extraídos do grupo para seus interesses particulares; e o capital social coletivo, que
se refere ao uso do capital social por grupos, envolvendo um número maior de atores, com fins
coletivos. Porém, observa que o capital social é um resultado obtido pelas relações mantidas
pelos atores sociais em coletividade.
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Atualmente, há várias definições para capital social, porém, Santos (2003), especifica
duas formas de capital social, estrutural e cognitiva. O capital social estrutural, está relacionado
às instituições, como normas e regras formais, meios, número de associações, e tecnologia
disponível; e o capital social na forma cognitiva, que diz respeito a conceitos abstratos e
subjetivos, como confiança, reciprocidade, solidariedade, atitudes, valores e crenças.
Segundo Santos (2003), para alguns, o conceito de capital social é equivocado, e,
propõe definir o capital social como infraestrutura social, pois não se está falando do capital da
teoria econômica em si, como bens de capital, capital financeiro ou comercial. Verifica que,
diferentemente do capital físico, o capital social é acumulado com o uso e se beneficia disso.
Têm nítidas características de um bem público. Possui alguma semelhança com o capital
humano, mas não se constitui como tal, por exemplo, quando se investe nos estudos.
O capital social de um indivíduo, menciona Santos (2003), é determinado pelo tamanho
da rede de relações que ele pode efetivamente mobilizar, e o volume do capital possuído por
todos na conexão, estando disponível a todos os membros desta rede.
Recuero (2012a) esclarece que a dinâmica do capital social tem duplo aspecto, de um
lado o recurso pessoal que é investido pelos atores na rede com o objetivo de obter benefícios, e
de outro lado está o retorno do investimento ou dos benefícios; mas apenas o retorno ou o
recurso obtido através da rede constitui-se em capital social, como por exemplo, o acesso a
determinadas informações que não estariam disponíveis de outro modo.
Deste modo, Santos (2003) registra, que esse processo de transformação requer um
trabalho específico de tempo, atenção, cuidado, interesse, etc.. O lucro aparece no longo prazo.
Assim, o capital social está fundamentalmente enraizado no capital econômico, mas nunca
pode ser completamente reduzido à forma econômica.
Alguns destacam como efeito negativo, que esses laços na rede dificultam a interação
entre pessoas próximas, privilegiando a interação com atores conectados em detrimento dos
laços fora do ciberespaço. Outros vêem a mediação da internet como facilitadora e
amplificadora dos laços, gerando novos tipos de comunidades virtuais (RECUERO, 2012a).
Isso posto, Recuero (2012a) evidencia, que a qualidade do capital social está
relacionada com a qualidade das conexões, sendo que a motivação para as ações dos indivíduos
na formação do capital social estaria ligada a capacidade de percepção e interesse em
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estabelecê-lo. Entretanto, esses valores são dinâmicos e em mudança constante, não apenas
pelo ambiente, mas também pelos usos que cada grupo ali constrói.
3. ASPECTOS RELEVANTES DO CAPITAL SOCIAL PARA O INDIVÍDUO
Na obtenção do capital social é importante considerar estratégias de acumulação. Antes,
por exemplo, as conexões eram ponto a ponto. O indivíduo tinha uma lista de e-mails e o
contato ou conexão, acontecia quando o e-mail era enviado. Hoje, com as redes sociais, ao
curtir, seguir, inscrever no canal ou fazer parte de lista de amigos, a conexão se instala
permanentemente. Com isso, mesmo que a pessoa nunca mais entre na rede social, a relação é
mantida pela própria rede social, legitimando a “presença”.
As redes sociais no mundo virtual de hoje, podem ser: Facebook, Instagram, Pinterest,
YouTube, Twitter, LinkedIn, Google+, Skoob, Badoo e outras. Os benefícios dessas conexões
ou associações podem ser: reciprocidade, pertencimento, investimento, visibilidade,
popularidade, reputação, empoderamento, confiança, fama, etc.. O capital social pode ser
formado pelo perfil do indivíduo, comentários, associações, curtidas, seguidores,
demonstrando tipos de interesses e seu grau.
Recuero (2012b) observa que, nas redes sociais existe um número maior de conexões
fracas, formadas por conhecidos, do que conexões fortes, formadas por amigos; porém são as
conexões fracas, as grandes responsáveis pela difusão e visibilidade das ações, no ambiente
online das redes sociais. É importante destacar que muitas vezes, estas conexões são sugeridas
pela rede, mas é o ator quem decide pela associação ou não. Na interação entre os grupos
surgem os elementos do capital social, tais como, respeito, apoio social, popularidade,
reputação e autoridade.
As conexões caracterizam os chamados "mundos pequenos", aponta Recuero (2013),
em que, as conexões-pontes ou laços fracos, conectam os diversos grupos nas redes sociais.
Estas conexões são de fundamental importância para a circulação de informações entre os
grupos sociais. Assim, quanto mais conexões um determinado ator possui, mais próxima sua
rede está de outros atores, mais visíveis estão as mensagens publicadas, e mais capazes são de
serem discutidas, buscadas, replicadas e reproduzidas.
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Além disso, Recuero (2013) elucida que, os sites de rede social também permitem aos
atores criar e manter uma "identidade" que pode ser legitimada pelos demais, gerando valores
como, reputação e autoridade. A face, para o autor, é constituída pelos "valores sociais
positivos" e só pode ser bem-sucedida na medida em que há legitimação do contexto e da face.
As impressões construídas na interação entre os atores, ou projetadas por eles, formam a
visão de quem é o ator e o modo como os outros o percebem. Recuero (2013) define, que os atos
de ameaça a face são aqueles que colocam em risco a face proposta, a reputação. Podemos
considerar como ameaças à “face”, o compartilhamento de mensagens antissociais, textos,
expressões preconceituosas, notícias falsas, comportamentos políticos ou que suscitem o horror
e o ódio, quebrando as normas de interação social.
Assim sendo, a manutenção do capital social é ameaçada quando ocorre a quebra da
polidez ou das normas de conversação, gerando conflitos e ameaças a face, ou seja, a
manutenção da identidade, como descreve Recuero (2013). Entretanto, na ausência de
conversação, há um decréscimo do valor de capital social.
Tais comportamentos extrapolam o pessoal, pois através das redes sociais é possível
analisar o comportamento, bem como pesquisar referências, alcançando inclusive um viés
profissional. Nesse sentido, Patricio (2011) assinala que, para uma empresa ou organização, a
confiança é um aspecto da identidade extremamente importante, visto que, está relacionada
com atividades em equipe, objetivos compartilhados, avaliação de desempenho, liderança e
comportamentos cooperativos em geral. Reforçando que, pessoas com bons relacionamentos
profissionais são propensas a serem promovidas, dispõem de boa mobilidade na carreira e se
adaptam melhor a mudanças de ambiente.
Köpp, Paula e Olbrzymek (2014) alertam que, as redes sociais tornam-se, a cada dia,
uma importante ferramenta no processo de recrutamento e seleção de profissionais, ressaltando
que a criação de um perfil pode significar a inserção indireta no mercado de trabalho.
Atualmente, é necessário manter um perfil completo e atualizado, destacando habilidades e
talentos. Além disso, deve-se tomar cuidado com o que é postado, mesmo nas redes sociais
pessoas, pois muitas organizações estão solicitando os links das redes sociais de candidatos em
processo seletivo.
As redes sociais dividem-se por tipo e foco, por exemplo, o Twitter, é empregado como
fonte de informações, o Facebook tem como principal função as relações sociais, o LinkedIn
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tem finalidade profissional; porém é importante ter em mente que, independente do tipo, a
atitude e o comportamento positivo, devem permear em todos os meios.
Santos, Santos e Machado (2015) salientam que, por meio das redes sociais, as ações
conseguem visibilidade, rápida e espontaneamente. Nessa circunstância, oportunidades
profissionais podem ser alavancadas, visto que, o setor de Recursos Humanos (RH) está atento
aos perfis que despontam no ambiente das redes sociais. É sempre importante pensar no tipo de
informação que será compartilhada ou divulgadas, para não comprometer a imagem, e
consequentemente, colocar em risco a possibilidade da seleção.
As empresas de hoje, procuram talentos nas redes sociais, até mesmo pelo baixo custo
dessa operação, sendo também, muito fácil comprovar ou levantar perfis comprometedores da
imagem. Santos, Santos e Machado (2015) revelam que, muitas pessoas, fazem declarações ou
agem contradizendo o que se espera delas profissionalmente.
Estes autores ainda alertam que, somente se destacam, para efeito de contratação, perfis
de pessoas qualificadas, comprometidas com o trabalho, e que não tenham histórico negativo
que possa vir a prejudicar a empresa. Todas as informações são checadas para a contratação,
omissões de informações e perfis sociais na internet, podem decidir uma contratação.
O espaço virtual possibilita observar os usuários a todo o momento, e tudo o que for
postado poderá ser usado contra ou a seu favor. Köpp, Paula e Olbrzymek (2014), citam como
regra de ouro para internet, o seguinte: “Só poste nas redes sociais aquilo que você teria
coragem de publicar em outdoors”. Isto não deve soar como motivação para se evitar as
postagens, dado que, “quem não é visto não é lembrado”, porém, alguns cuidados sempre
deverão ser tomados.
Logo, assim como na vida off-line, nas redes sociais, a liberdade de expressão também
não é ilimitada. Seu desvio pode acarretar consequências, afetando as relações sociais
constituídas, a vida profissional, e até mesmo alcançar o âmbito judicial. Nesse aspecto, se as
conexões entre os grupos forem quebradas, ou ficarem restritas a grupos com opiniões muito
limitadas, não haverá repercussão positiva na rede social, ocorrendo a retração do capital social,
enquanto o que se espera é que haja a ampliação do capital social.
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CONSIDERAÇÔES FINAIS
A evolução tecnológica sempre implicou em grandes transformações, alterando as
formas de comunicação, transporte, produção, realização das tarefas. Com a expansão da
Internet ocorrida nos últimos 25 anos, houve desenvolvimento não só da infraestrutura, como
também das mídias de comunicação, essas transformações avançaram para a realização de
tarefas como pesquisas escolares, entretenimento, operações financeiras, comerciais, formas de
trabalho, formas de se relacionar e também de pensar.
Nesse aspecto, as redes sociais impulsionaram grande revolução, possibilitando a
comunicação entre várias pessoas de qualquer lugar e para qualquer lugar, no ciberespaço, de
modo instantâneo. Múltiplas identidades são assumidas, de acordo com o ambiente em que se
comunica, formando redes de valores pessoais que incorporam o capital social.
Diante disso, o indivíduo, nesses espaços interrelacionais, possui uma identidade, um
“eu” diferente em cada ambiente, como nas relações de trabalho, com a família, na igreja, com
os amigos, etc. A expressão dessas identidades, em suas várias conexões, compõe o capital
social, ou seja, a reputação do indivíduo, que poderá refletir de forma positiva ou negativa,
tanto na vida pessoal quanto na vida profissional.
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