nova tribuna - edição nº 5

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A INFORMAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADE A INFORMAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADE A INFORMAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADE A INFORMAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADE A INFORMAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADE Ano I - Número 5 Ano I - Número 5 Ano I - Número 5 Ano I - Número 5 Ano I - Número 5 - 10 de fevereiro de 2015 (Especial Maria Aragão - 105 anos) 105 anos do nascimento de Maria Aragão: Nova Tribuna Nova Tribuna Nova Tribuna Nova Tribuna Nova Tribuna Inspirado numa Inspirado numa Inspirado numa Inspirado numa Inspirado numa das trincheiras das trincheiras das trincheiras das trincheiras das trincheiras na qual lutou na qual lutou na qual lutou na qual lutou na qual lutou Maria Aragão, a Maria Aragão, a Maria Aragão, a Maria Aragão, a Maria Aragão, a da comunicação a comunicação a comunicação a comunicação a comunicação popular popular popular popular popular, com seu com seu com seu com seu com seu “T “T “T “T “Trib rib rib rib ribuna do P una do P una do P una do P una do Povo”, o”, o”, o”, o”, nós do nós do nós do nós do nós do jor jor jor jor jornal nal nal nal nal No No No No Nova a a a a Trib rib rib rib ribuna não una não una não una não una não poderíamos deixar poderíamos deixar poderíamos deixar poderíamos deixar poderíamos deixar passar em passar em passar em passar em passar em branco essa data. branco essa data. branco essa data. branco essa data. branco essa data. Neste 10 de Neste 10 de Neste 10 de Neste 10 de Neste 10 de fevereiro de 2015, fevereiro de 2015, fevereiro de 2015, fevereiro de 2015, fevereiro de 2015, nossa homenagem nossa homenagem nossa homenagem nossa homenagem nossa homenagem àquela que fez da àquela que fez da àquela que fez da àquela que fez da àquela que fez da vida seu maior vida seu maior vida seu maior vida seu maior vida seu maior exemplo por um exemplo por um exemplo por um exemplo por um exemplo por um Maranhão livre, Maranhão livre, Maranhão livre, Maranhão livre, Maranhão livre, uma sociedade uma sociedade uma sociedade uma sociedade uma sociedade democrática e democrática e democrática e democrática e democrática e socialista! socialista! socialista! socialista! socialista! Pelos ar elos ar elos ar elos ar elos artig tig tig tig tigos de os de os de os de os de Wagner Baldez e Wagner Baldez e Wagner Baldez e Wagner Baldez e Wagner Baldez e Simei Ribeiro, Simei Ribeiro, Simei Ribeiro, Simei Ribeiro, Simei Ribeiro, nosso grito bem nosso grito bem nosso grito bem nosso grito bem nosso grito bem alto nessa edição alto nessa edição alto nessa edição alto nessa edição alto nessa edição especial: especial: especial: especial: especial: VIV VIV VIV VIV VIVA A A A A A L A L A L A L A LUT UT UT UT UTA E A E A E A E A E OS SONHOS DE OS SONHOS DE OS SONHOS DE OS SONHOS DE OS SONHOS DE MARIA JOSÉ MARIA JOSÉ MARIA JOSÉ MARIA JOSÉ MARIA JOSÉ ARAGÃO! ARAGÃO! ARAGÃO! ARAGÃO! ARAGÃO! VIVA A LUTA E OS SONHOS DE MARIA! Página 4 Página 4 Página 4 Página 4 Página 4 Simei Oliveira Ribeiro: A MAIS QUERIDA DAS MARIAS Página 2 Página 2 Página 2 Página 2 Página 2 Wagner Baldez: MARIA DE TODOS

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Nova Tribuna - edição nº 5 (Especial Maria Aragão - 105 anos)

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A INFORMAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADEA INFORMAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADEA INFORMAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADEA INFORMAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADEA INFORMAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADEAno I - Número 5 Ano I - Número 5 Ano I - Número 5 Ano I - Número 5 Ano I - Número 5 - 10 de fevereiro de 2015 (Especial Maria Aragão - 105 anos)

105 anos do nascimento de Maria Aragão:

Nova TribunaNova TribunaNova TribunaNova TribunaNova Tribuna

Inspirado numaInspirado numaInspirado numaInspirado numaInspirado numadas trincheirasdas trincheirasdas trincheirasdas trincheirasdas trincheirasna qual lutouna qual lutouna qual lutouna qual lutouna qual lutouMaria Aragão, aMaria Aragão, aMaria Aragão, aMaria Aragão, aMaria Aragão, addddda comunicaçãoa comunicaçãoa comunicaçãoa comunicaçãoa comunicaçãopopularpopularpopularpopularpopular,,,,, com seu com seu com seu com seu com seu“T“T“T“T“Tribribribribribuna do Puna do Puna do Puna do Puna do Pooooovvvvvo”,o”,o”,o”,o”,nós do nós do nós do nós do nós do jorjorjorjorjornalnalnalnalnalNoNoNoNoNovvvvva a a a a TTTTTribribribribribuna nãouna nãouna nãouna nãouna nãopoderíamos deixarpoderíamos deixarpoderíamos deixarpoderíamos deixarpoderíamos deixarpassar empassar empassar empassar empassar embranco essa data.branco essa data.branco essa data.branco essa data.branco essa data.

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PPPPPelos arelos arelos arelos arelos artigtigtigtigtigos deos deos deos deos deWagner Baldez eWagner Baldez eWagner Baldez eWagner Baldez eWagner Baldez eSimei Ribeiro,Simei Ribeiro,Simei Ribeiro,Simei Ribeiro,Simei Ribeiro,nosso grito bemnosso grito bemnosso grito bemnosso grito bemnosso grito bemalto nessa ediçãoalto nessa ediçãoalto nessa ediçãoalto nessa ediçãoalto nessa ediçãoespecial:especial:especial:especial:especial:VIVVIVVIVVIVVIVA A A A A A LA LA LA LA LUTUTUTUTUTA EA EA EA EA EOS SONHOS DEOS SONHOS DEOS SONHOS DEOS SONHOS DEOS SONHOS DEMARIA JOSÉMARIA JOSÉMARIA JOSÉMARIA JOSÉMARIA JOSÉARAGÃO!ARAGÃO!ARAGÃO!ARAGÃO!ARAGÃO!

VIVA A LUTAE OS SONHOS DE MARIA!

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Simei Oliveira Ribeiro:

A MAIS QUERIDADAS MARIAS

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Wagner Baldez:

MARIA DETODOS

Nova Tribuna - Nova Tribuna - Nova Tribuna - Nova Tribuna - Nova Tribuna - 22222

Diretor de Redação: Franklin DouglasDiretora editorial: Fernanda Nina SaboiaDiretor de Mídias Sociais: Nonato PenhaEx

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NOVA TRIBUNA - A informação como prática da liberdadeConselho Editorial: Antonio Gonçalves, Haroldo Saboia, Ricarte Almeida Santos,Saulo Pinto, Valdeny Barros, Wagner Baldez, Fernanda Nina Saboia, Nonato Penha eFranklin Douglas (secretário).

E-mail: [email protected] | Blog: novatribuna.wordpress.com | Twitter: @nova_tribuna Fotos, imagens e ilustrações desta edição: capturadas na internet

Na homenagem da Favela do Samba (aolado), na peça “A Besta Fera”, da atrizMaria Ethel (acima) no Memorial e napraça Maria Aragão ou no livro daExpressão Popular, Maria José Aragão(10/2/1910-23/6/1991) sempre lembradapor sua trajetória de vida

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MARIA DE TODOSDentre as Marias existentes

neste Estado e alhures, a Dra.Maria José Aragão foi a maisfestejada e admirada por todosnós, já que soube criar, comopoucos, as necessárias condiçõespara receber tal consagração.

Diante disso, conscientizou-seque sua vida não mais lhepertencia, sendo, portanto,propriedade de todos. Assim,entregou-se inteiramente à causade todos, o que lhe causavasubstancial gama de satisfação.Afinal, era comunista e issocorrespondia aos anseios seuse do partido.

Entratanto, por suaideologia, sofreu brutaisagressões por parte de muitos,inclusive de instituiçõesfalsamente democráticas, comoa Igreja Católica, que, sob obadalar dos sinos, e utilizando-se de amplificadora de suapropriedade, acusou-a, entreoutras coisas, de prostituta.Como foi o caso da Igreja dePedreiras, na ocasião em queMaria visitou o município, aconvita da classe operária paraproferir uma palestra. Porém, alíder comunista assistia a tãodegradante cena com a suacostumeira serenidade, já queacreditava no seu trabalho à favorde todos.

Quando era era abordada arespeito da citada ocorrência,respondia com um sorriso afável,como se dissesse: eles cumpremo dever de servir ao capitalismo.

A verdade é que, em toda sua

Wagner Baldez - Servidor PúblicoAposentado, membro do Comitê deDefesa da Ilha, um dos fundadores doInstituto Maria Aragão.Artigo publicado originalmente em14/2/2010, quando dos 100 anos denascimento de Maria.

Por Wagner Baldez

trajetória, Maria não arrefeceu emmomento algum de seusobjetivos. Criou o jornal “Tribunado Povo”, em favor do qualdispensou as suas energias a fimde que o veículo não deixasse decircular. Além do mais,preocupava-se em vendê-lo nasportas das fábricas, labuta degrande desgaste para ela, pelainterferência dos proprietários,que não permitiam a leitura dojornal pelos operários, porentenderem que poderiainfluenciá-los.

Maria participou de todos osmovimentos de massa: colaborouintensamente com o movimentosindical, transmitindo o seuconhecimento e a experiência aosfiliados a respeito da luta de classe;a convite da CUT do Maranhão,assumiu a função de Tesoureirada Entidade, fundou aorganização que congregava asmulheres, entre outros, tornando-se indispensável nas lutas peladefesa dos injustiçados.

Maria foi uma trabalhadoraque levava em uma das mãos umRamos de Oliveira e, na outra, afoice e o martelo. Possuidora degrande carisma, conquistou até

seus ex-detratores quecompreenderam a dimensão deseu Trabalho Social.

Enfrentou a Ditadura Militarcom altivez, não se deixandointimidar pela arrogância doschefes militares. Após tomaremconhecimento de suas verdadeiraintenções, muitos passaram aadimirá-la.

A conclusão a que chegamos éque Maria viveu para servir aosoutros. Como médica, nuncamercantilizou a profissão,exercendo-a conforme osensinamentos de Hipócrates.Mesmo sem possuir bensmateriais, morreu feliz por teracreditado na beleza e nos efeitossalutares dos seus sonhos, “aúnica coisa que nos pertence”,como dizia Nietzsche - ou entãorecolhimento da afirmação deJosé Luís Borges: “Quem realizaum sonho, constrói uma parcelade sua própria eternidade”.

Ao assistirmos as homenagensa Maria pelo seu centenário denascimento, realizado na própriapraça que leva o seu nome, senti-me dominado por uma carga deemoção, e num monólogo, dizia:lavo a minha alma com as lágrimasda saudade que sinto de Maria,que fazia de todos nóscondôminos de seu maternalcoração.

“Maria participou de todosos movimentos de massa[...] viveu para servir aos

outros.Como médica, nunca

mercantilizou a profissão”

A MAIS QUERIDA DAS MARIAS

É fato que entre nós, o que nãofalta é Maria. A que mais meimpressionou, no entanto,chamava-se Maria Aragão. Papaifalava “a doutora Maria JoséAragão”. Cresci ouvindoreferências elogiosas à doutora; naverdade, as melhores referências.Como dizia um dileto amigo nosso,o doutor Nina Rodrigues: “quandose está diante de Maria, a gentesente que está em contato com umser humano superior”.

Era marxista-leninista. Vou dizerdizer melhor: para nós, Maria erao Marxismo-leninismo. O quetinha suas implicações. Tornava-sedifícil, queixavam-se alguns de seuscompanheiros de jornada política,discutir com ela...

Mas chegou mesmo o tempo queninguém mesmo queria polemizarcom Maria: primeiro, porque eramá politica, pois àquelas alturas, elajá era um consenso; depois, porquetodos reconheciam: Maria eraMaria, e pronto. Afinal, eram anosde luta e coerência - umpatrimônio! Maria tornou-se maiorque a política.

Pôde ainda gostar por algumtempo aquela confortável emerecida posição. No fundo,deliciava-se com tudo aquilo, poisera sapeca. Parece que estou a verseus olhinhos que mais pareciamdois meninos travessos a querersaltar de seu rosto enrrugado!Maria era fada madrinha. Apenascom uma diferença: era de carne eosso. Explica-se: seduziu-seirremediavelmente pela vida.Tinha o corpo de jacarandá, com acasca grossa de quem havia semantido firme à sucessão doscataclismas, “Jacarandá!” Dá! E

Simei Oliveira Ribeiro - Servidorapública.Artigo publicado originalmente em14/2/2010, quando dos 100 anosde nascimento de Maria.

umas gozadas! Certa vez estava comRosilda, uma enfermeira a quemdedicava alguma admiração.Rosilda era naturista, daquelas quede tão ciosas chegam até a serranzinzas. Maria saiu com esta: “ -Rosilda, tu não gostas de comer,não gostas de beber, não gostas dedançar... Rosilda, tu gostas detrepar?”

Sim, porque dizia nomes feios;muitos. Em verdade, não eramnomes feios; antes eram nomesditos por Maria. Quem será capazde esquecer suas famosas e sonoras“porras”?

Encontrei Maria em Brasília.Eoncontro, aliás, que até hojeenche-me o coração de gratidão.Não era casca grossa, era maternaltambém - este, mais um de seusencantos. “ - Vou apagar a luz quefaz mal à vista ler de noite”. Achoaté que me ofereceu um leitinhoquente.

O que não tinha era paciênciapara besteiras. Fazia logo um muxo-muxo, fechava as grossassobrancelhas num “V” invertido, erespondia com um direto de fazernêgo se arrepender de ter recebidoalgum dia de Deus-Paia a dádiva depoderabrir a boca! Nessa hora, aprofessora de alfabetização que umdia fora, falava mais alto, compalmatória e tudo...

Sentada à sala de residência dodeputado Haroldo Saboia, emBrasília, pude deleitar-me com suaslongas e calorosas histórias, que meremetiam ao prazer e privilégio dever a cara da História, seus risos eexpressões. E mais que isso: fizeram-reencontrar-me com a força e abeleza, não da velhice, mas daancestralidade.

Por ocasião do derrame que

Por Simei Oliveira Ribeiro

abreviou seus dias entre nós, fuivisitá-la no hospital e, entrando noseu quarto, dirigi-me àacompanhante e a inquiri, em vozbaixa, sobre a saúde da enferma.Vinha de um grave quadro, masouvia. E ao perceber nosso tom devoz, exclamou: “ - Ora ‘porra’, nãoprecisam falar baixo que eu sei oque está me acontecendo”. Aacompanhante, constrangida,tentava contornar a situação, e eufeliz, por reconhecer ser aindaaquela Maria a que todosconhecíamos.

Deitada no leito do hospitalSanta Casa de Misericórdia, elaestendia a mão, num esforçodramático quão profundamentecomovente em levantar-se: “-Deem-me a mão, eu preciso melevantar”. Era como se fosse seuúltimo desejo. Foi-se sem realizá-lo,o que de resto, só evidenciava oquanto distante dela estavam aspessoas que a rodeavam. Eu ficoimaginando a humilhação e osofrimento que então não lheacometia de depender de um filhada puta qualquer para se levantar!

Não morreu, não, que não erabesta. Apenas perdeu carne e osso.Continuou a fala madrinha.

Uma vez ela me disse: “ - Todomundo usa essa expressão(referindo-se à ‘mulher da vida’) deforma depreciativa. Eu não: acholinda!”

À Maria, minha melhorhomanegem pelos seus 100 anos denascimento.

Maria José Aragão, mulher davida!