nova tribuna, edição nº 2

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A INFORMAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADE Ano I - Número 2 - De 11 a 17 de janeiro de 2015 Rir pra não chorar... Página 8 MATERNIDADE MARIA ARAGÃO. POR QUE NÃO? Luís Antonio Pedrosa: Segurança pública retrocede com MP 185 do governo Dino Página 6 Página 7 Diogo CabraL: As péssimas mudanças de Dilma na reforma agrária Nova Tribuna Nova Tribuna Nova Tribuna Nova Tribuna Nova Tribuna Sirleane Souza Paiva: EMESERH: SEIS POR MEIA DÚZIA Página 3 Franklin Douglas: Je suis Charlie Página 4 e 5 Decreto do governador Flávio Dino determina que nenhum órgão público estadual seja denominado com nomes de pessoas vivas. Nas redes sociais, cresce apoio à proposta de mudar o nome da Maternidade Marly Sarney (Cohab) para Maternidade Maria Aragão Em “Diário da Faixa”, F. da Cruz narra o sofrimento da faixa governamental na trasnmissão de poder no Palácio dos Leões

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Edição nº 2, de 11 a 17 jan 2015

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A INFORMAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADEAno I - Número 2 - De 11 a 17 de janeiro de 2015

Rir pra não chorar...

Página 8

MATERNIDADE MARIA ARAGÃO.POR QUE NÃO?

Luís Antonio Pedrosa:

Segurançapública retrocede

com MP 185 dogoverno Dino

Página 6

Página 7

Diogo CabraL:

As péssimasmudanças de Dilmana reforma agrária

Nova TribunaNova TribunaNova TribunaNova TribunaNova Tribuna

Sirleane Souza Paiva:

EMESERH: SEISPOR MEIA DÚZIA

Página 3

Franklin Douglas:

Je suis Charlie

Página 4 e 5

Decreto do governador Flávio Dino determina que nenhum

órgão público estadual seja denominado com nomes de

pessoas vivas. Nas redes sociais, cresce apoio à proposta

de mudar o nome da Maternidade Marly Sarney (Cohab) para

Maternidade Maria Aragão

Em “Diário da Faixa”, F. da Cruz narra o sofrimento da faixagovernamental na trasnmissão de poder no Palácio dos Leões

Nova Tribuna - 2

É meu e ninguémtasca!

O PODER DOS BASTIDORES

Diretor de Redação: Franklin DouglasDiretora editorial: Fernanda Nina SaboiaDiretor de Mídias Sociais: Nonato Penha

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NOVA TRIBUNA - A informação como prática da liberdade

Conselho Editorial: Antonio Gonçalves, Haroldo Saboia, Ricarte Almeida Santos,Saulo Pinto, Valdeny Barros, Wagner Baldez, Fernanda Nina Saboia, Nonato Penha eFranklin Douglas (secretário).

E-mail: [email protected] | Blog: novatribuna.wordpress.com | Twitter: @nova_tribuna Fotos, imagens e ilustrações desta edição: capturadas na internet

Provando que vingança é umprato que se come frio, osdeputados Domingos Dutra (ex-PT,atual Solidariedade) e Bira doPindaré (ex-PT,hoje no PSB) nãopermitiram que seus suplentesassumissem nem um dia o mandato,para tristeza de RaimundoMonteiro, suplente de Dutra, eValdinar Barros, suplente Bira. Nemem sonhos, a tribuna do Parlamentopara eles; menos ainda o salário porum mês como deputados.

Convidados por Dino para osecretariado, Dutra e Bira sóassumirão quando concluírem osseus mandatos, em fevereiro... Dinogostou do prato feito, e tambémtirou uma lasquinha: aceitou semresistência a condição dos ex-petistas.

Plágio de veraneio

Maternidade Maria Aragão.Por que não?

O decreto 30.618, de 2 dejaneiro de 2015, editado pelogovernador Flávio Dino, veda aatribuição de nomes de pessoasvivas a bens públicos, emqualquer órgão da administraçãodireta ou indireta vinculada aoEstado do Maranhão.

O decreto atinge em cheioescolas, ruas, pontes, hospitais ematernidades do Sarneyquistão,se colocado em prática.

Para dar consequência aodecreto, já circula nas redes sociaiscampanha pela alteração do nomeda Maternidade Marly Sarney,que fica no bairro da Cohab (em

São Luís, capital maranhense)para Maternidade Maria Aragão.

Médica, Maria tem sua trajetóriareconhecida pelos conterrâneos,que já a elegeram como uma dentreos maranhenses do século XX.

Se for pra valer, o governoestadual tem uma excelenteoportunidade para rebatizar amaternidade: dia 10 de fevereiro,data de nascimento de Maria.

Nova Tribuna apoia e incentivaa ideia proposta por WashingtonTorreão, no Facebook.

Com a palavra, o secretário deEstado da Saúde, MarcosPacheco, a quem, pelo decreto,cabe a iniciativa.

Mal nasceu e Nova Tribuna jácomeçou a ser plageada. Sem citara fonte, blogueiros utilizammesmos argumentos da ediçãoanterior deste jornal parademonstrar o equívoco da vendada Casa de Veraneio do Governodo Estado. Assim é fácil!

A listaAguarda-se com entusiasmo a

lista de 1.000 “aprovados” aoconcurso para PM, para seremnomeados pelo governo estadual.

Explica-se: 9 em 10 membros dacorporação sabem que essenúmero é irreal. Pelo simples fatode que, para ser aprovado, ocandidato deve passar nas cincoetapas do certame. Só viraexcedente, se passar e nãoclassificar na última etapa: o cursode formação, que dura seismeses.

Cajueiro viveA luta da comunidade de

Cajeiro valeu a pena: revogado odecreto de desapropriaçãoassinado no apagar das luzes porArnaldo Melo. Para ficar melhor nafita, só falta Flávio Dino decretar areservar extrativista para Tauá-mirim

Cima pra baixoO decreto estadual que cria o

Comitê Gestor do Mais IDHesqueceu de convidar entidades eprefeituras dos 30 municipios compior IDH para contribuírem nasações. Começa (bem centralizada) agestão participativa de Flávio Dino...

Nova Tribuna - 3

Por Sirleane de Souza Paiva

Ao analisarmos a última década,constatamos facilmente que osgraves problemas que assolam oSistema Único de Saúde (SUS)foram aprofundados, apesar dasoma dos recursos federais para aárea terem aumentado 200% entre2002 e 2014.

O subfinanciamento do sistemaainda é uma constatação óbvia eparte do problema, mas não oúnico. Os modelos de gestãoequivocadamente implantados vãono caminho da privatização dasações e serviços, através dacontratação de serviços privadosem substituição à rede pública,num f lagrante desrespeito àConstituição Federal de 1988 (CF-

EMSERH: SEIS POR MEIA DÚZIAFlávio Dinomantém empresacriada porRoseana paraprivatizar a saúde

Sirleane de Souza Paiva - professoradoutora do Departamento deEnfermagem da UFMA e diretora doANDES - Sindicato Nacional

88) e à Lei Orgânica do SUS (Leinº 8.080, de 19 de setembro de1990, artigo 8º).

As Organizações Sociais (OS) eas Organizações da Sociedade Civilde Interesse Público (OSCIP), antespresentes em poucos Estados, hojeestão em todos eles, precarizandoo trabalho, burlando o concursopúblico, atendendo preceitosfisiológicos nas contratações e nagestão.

No Maranhão, foram essasorganizações a marca da política desaúde na última gestão RoseanaSarney.

Para agravar esse quadrodeplorável, o governo Dilma põeem pauta as fundações públicas dedireito privado, eivadas dedenúncias em Estados onde foramcriadas, e aprovou a EmpresaBrasileira de Serviços Hospitalares(EBSERH) para administrar osHospitais Universitários, abrindo ocaminho para a criação deempresas semelhantes nos Estadosda federação.

Aqui no Maranhão ela foicriada em 2013, com a alcunha deEmpresa Maranhense de ServiçosHospitalares (EMSERH).

Esses modelos de gestão do SUSsão objeto de uma Ação Direta deInconstitucionalidade (ADIN).Empresas como a EBSERH e aEMSERH são uma nova roupagempara as fundações de direitoprivado, com todos os seus vícios emazelas: ausência de controle socialdo SUS, contratação pelaConsolidação das LeisTrabalhistas (CLT), semestabilidade ao servidor comoprevê o Regime Jurídico Único(RJU) e a CF-88, condiçõesinadequadas de trabalho esalariais, etc.

O governo Flávio Dino,conforme o Diário Oficial do PoderExecutivo do Maranhão, do dia 02de janeiro último, mantém aEMSERH, criada no governoanterior, o que nos faz supor queserá este o modelo de gestão a seradotado no Maranhão, emsubstituição, ou em convivênciapacífica, com o esquema das OS eOSCIP anteiormente existente. Ouseja, trocam-se seis por meia dúzia!

Nova Tribuna - 4

Por Franklin Douglas

J e s u i s C h a r l i e

“Uma sociedade livre éjustamente aquela que suporta oexcesso”. Eis a síntese perfeitaelaborada por Daniel Cohn Bendit(Folha de São Paulo – 8/1/2015),acerca do atentado à redação dosemanário Charlie Hebdo.

Sim, se, de fato, a linha editorialdo periódico francês ultrajava asreligiões – e isso despertou a ira deseus algozes no islamismoextremista –, sua postura críticatambém incomodava opensamento único neoliberal esocial-liberal no qual conservadorese “socialistas” francesestransformaram a cena política doberço das ideias da revolução quemudou o mundo ocidental, a partirde 1789. Foi essa coragem de nãotemer o isolamento que tornouCharlie Hebdo, desde 7 de janeiro,um símbolo da liberdade deexpressão.

Liberdade de expressão que nãose confunde com a liberdade deimprensa. Já ideologizando atragédia a seu favor, a grande mídiatenta passar que é esta a que seencontra em perigo, ofuscandoaquela. A liberdade de imprensareserva apenas aos donos da mídiaa manifestação de suas ideias. Aliberdade de expressão é a quegarante que todos possamosmanifestar nosso pensamento – nolimite do respeito à vida e àdignidade humana.

Tal como essa questão, temostambém em disputa o rumo doenfrentamento ao islamismoterrorista. Se a cada açãocorresponde uma reação, os atosterroristas são fruto da política

xenófoba, antimulçumana e de umnacionalismo conservador queatribui à imigração de estrangeirospobres para a Europa a culpa por suacrise econômica. E não à essênciaautodestrutiva do próprio sistemaque tanto neoliberais quanto social-liberais, a partir da adesão da centro-esquerda francesa às teses domercado, recusaram-se a combater.

Ao igualar o “7 de janeiro”francês ao “11 de setembro”estadunidense, extremistas dedireita e fundamentalistas islâmicosencontram-se na mesma posição: ade que só resta a barbárie para asalvação do mundo!

Nem um, nem outro. Eis aconsequência que faltou à crítica doHedbo: um outro mundo é possível,

Nova Tribuna - 5

sem fundamentalismo religioso,sem pensamento único econômico,desde que seja sob uma alternativalibertária e socialista.

O equívoco da crítica de Charlie

em hipótese alguma legitima seuextermínio de forma tão violenta.Como alertava Millôr Fernandes,“fiquem tranquilos os poderososque têm medo de nós: nenhum

humorista atira para matar”, poisa crítica só dói quando faz rir –parafraseando Ziraldo. Os quatrochargistas, dentre os 12 mortos e11 feridos no atentado ao Hebdo,definitivamente não estavam entreos poderosos deste “admirávelmundo novo”...

Mais do que um “meme” deinternet, a necessária solidariedade

ao povo francês é um alerta a todaa humanidade. Sem deixar dedespertar a análise crítica sobre oacontecimento, por isso reforcemoso “Je suis Charlie”!

Franklin Douglas - jornalista eprofessor, doutorando emPolíticas Públicas (UFMA)

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Segurança Pública do novogoverno e a simbologia da MP 185

No dia da posse, oGovernador Flávio Dinoanunciou um conjunto demedidas, sobressaindo dentreelas a Medida Provisória nº 185,que autoriza a representaçãojudicial de membros da PolíciaMilitar, Corpo de BombeiroMilitar e Polícia Civil pelaProcuradoria Geral do Estado.

Isso significa que os membrosde tais corporações serãodefendidos pelo órgão derepresentação judicial do Estadodo Maranhão, quandoacionados judicialmente. Anorma especifica que a defesaserá possível nessas condiçõesquando o policial estiver agindono cumprimento do deverconstitucional, legal ouregulamentar.

A medida provisória,anunciada no primeiro dia deGoverno, é estranha etecnicamente inconsistente.

Ela pode funcionar como umaceno, para um novo referencialde atuação das polícias, queimplique mais confrontos einter venções beligerantes,significando um retrocesso, emtermos de controle da letalidadee da arbitrariedade policiais.

No duro contexto darealidade das condições detrabalho dos operadores dosistema de segurança públicamais parece uma tentativa dedesvio do debate essencial.

Sustento que existe aqui um

problema de constitucionalidade

formal e material na referida

Luís Antonio Pedrosa - advogadoe ativista dos direitos humanos,

mestrando em Direito (UFMA).

Medida Provisória. Do ponto devista formal, porque houveusurpação de iniciativa daAssembleia Legislativa, visto queas atribuições da PGE são fixadaspor lei complementar. Do pontode vista material, porque viola oprincípio da razoabilidade,especialmente nos aspectos daadequação e necessidade.

Explico: o objetivo explicitadoda MP é socorrer policiaishipossuficientes ou oferecerguarida judicial para casos deatuação dentro do deverregulamentar.

Ocorre que para os casos depobreza já existe a DefensoriaPública e para o outro caso anorma cria confusão entreadvocacia de Estado e advocaciade agentes públicos, ferindo aautonomia e a independênciafuncional de Procuradores doEstado. A distinção foicorroborada pela PEC 82, deautoria do próprio Flávio Dino,

Por Luís Antonio Pedrosa

quando era deputado federal.Ainda existe a hipótese de

inconstitucionalidade materialpor conter nítida tendência emabolir direitos fundamentaismateriais, de forma indireta,como é o direito à vida. A ameaçaao direito à vida e a integridadefísica estão aqui presentes, diantedo interesse público de conter osíndices de letalidade e regular ouso da força pelas policiais.

Para além do populismo penalpresente em medidas como essas,continuaremos a lutar pelareforma do sistema de segurança,caminho mais curto para atenderos anseios dos operadores dosistema e da própria população,que reclama por maior eficiênciano combate à criminalidade.

Diogo Cabral - Advogado daComissão Pastoral da Terra (CPT).

Nova Tribuna - 7

Por Diogo Cabral

O ano de 2014 se encerrou sobataques constantes aos direitos dostrabalhadores rurais do Brasil. Emespecial, quilombolas e índiossofreram verdadeiros ataques, quandoda tentativa da bancada ruralista devotar e aprovar a PEC 215, noCongresso Nacional.

No plano judiciário, por duasvezes entrou em pauta o julgamentoda ADI 3239, movido pelo PFL(atual DEM), no STF, que visa tornarinconstitucional o decreto 4.887/2003,que regulamenta os procedimentos detitulação dos territórios quilombolas.Em 2015, a ADI será julgada!

Nessa direção, ao nomear KátiaAbreu como Ministra da Agricultura,numa aliança mais sólida e profundacom grileiros de terra, assassinos delavradores e escravocratas, apresidente Dilma acenou que acontra reforma agrária realizada peloseu governo será consolidada.

Os números e açõesgovernamentais em 2014, bem comoo aumento substancial da bancadaruralista indicam bem que, se em2015 os movimentos sociais docampo não forem capazes deconstruir uma agenda comum eautônoma face ao governo,REFORMA AGRÁRIA será um tematal somente da memória.

No apagar das luzes de 2014, Dilmadecretou tão somente 22 imóveis quepoderão ser desapropriados para reformaagrária.

Na mesma direção, o governo,através do Incra, publicou, emDiário Oficial do dia 01.12.2014, aPortaria nº 83, que torna maisdemorado, complexo e burocráticoos processos administrativos voltadospara a obtenção de imóveis rurais parafins de reforma agrária (a portaria criauma pré-vistoria antes da vistoria, porexemplo).

Associados a essas medidasdrásticas, os recursos públicosdestinados ao INCRA para realizaçãodas políticas públicas de reformaagrária são cada vez mais escassos e osnúmeros consolidados indicam umadiminuição vergonhosa!

Segundo dados do próprio Incra,Dilma desapropriou 186 imóveis parafins de reforma agrária, garantindo oassentamento de 75.335 famílias em4 anos, ao passo que FHCdesapropriou 3.539 imóveis,assentando 540.704 famílias.

Em relação às comunidadesquilombolas, em 2014 não houve umúnico decreto publicado pelaPresidente Dilma, a fim de garantir atitulação dos territórios étnicos.

Por outro lado, centenas dessascomunidades, em todo o país,enfrentam violentos conf litos emrazão de grilagem de terra, expansãodos monocultivos, pecuária bovina eoutros.

No Estado do Maranhão, asituação dos conf litos agráriosenvolvendo quilombos é tão graveque motivou a ocupação, duranteuma semana, por mais de 55comunidades quilombolas, dostrilhos da Estrada de Ferro Carajás/Vale, na cidade de Itapecuru-Mirim. Aotérmino da ocupação, com a presença

“Tá” na hora da virada!As (péssimas) mudanças de Dilmana reforma agrária

de representantes da Secretaria Geral daPresidência da República, do Incra, daFundação Cultural Palmares, da Seppir,foi garantido o incremento das políticaspúblicas para titulação dos territóriosquilombolas, bem como a publicação,em Diário Oficial, ainda em 2014, dosdecretos das ComunidadesQuilombolas de Charco (São VicenteFérrer) e Santa Rosa dos Pretos(Itapecuru-Mirim). O ano acabou e maisuma vez a presidente Dilma mentiu paramilhares de quilombolas, com suasfalsas promessas.

O desafio está colocado! Osadversários são claros e armados até osdentes! Mais de 1.000 ocorrência deconflitos agrários em 2014, váriosassassinatos de liderançascamponesas,impunidade, concentraçãofundiária, grilagem de terra, despejos,persistência do trabalho escravo.

É obrigação dos movimentossociais do campo retomar as ocupaçõesdos latifúndios, de autodemarcar osterritórios quilombolas, de enfrentar ogoverno federal e sua ofensiva violenta,que ataca e viola frontalmente osditames constitucionais e os direitosdos trabalhadores rurais.

Chegou a hora da virada! Já chegade tanto sofrer!

Rir pra não chorar...

Pensei em escrever um diário.Refleti. Muita presunção. Afinal,não teria uma coisa a registrar jáque, em sendo um ser sem vida,sequer ser sou. Objeto, com certeza.Porque não um ser inanimado? Ficosem resposta. O certo é sei que eusou a Exma. Sra. FaixaGovernamental. Imponente,discreta, com as cores da bandeirado meu Maranhão.

Mesmo inanimada, tenho ocondão de transferir o poder, deconferir a força do Poder de Estadoàquele que tiver a honra de mereceber. Embora não tenha vida, tivemuitas vidas, pois reencarno em cadapersonagem a quem a Históriaconfere a distinção de me portar atiracolo.

Gosto do que faço. Afinal, minhasimbologia é tal que chego mesmo aadquirir uma auréola, uma luz,tamanha a capacidade que tem opoder de irradiar energia e… atrairadeptos. Mas isto é outra história.Ou, melhor, serão outras e outrashistórias que relatarei à medida quefor possível a um objeto, como eu,uma simples, embora portentosafaixa, fazer.

Confesso que cheguei a este 11de janeiro de 2014, já muitocansada. À rigor, desde dezembro fuisubmetida a uma rotina estafante.

Queridos leitores e leitoras, nãopodeis imaginar a sobrecarga detrabalho que tive para, no lapso detempo de menos de vinte dias,conferirem legitimidade àaposentadoria vitalícia degovernador a um personagem que,sem renunciar a um Poder (oLegislativo), assumiu a chefia EMCARÁTER DEFINITIVO deoutro Poder (o Executivo), com o

único fito de livrar a DigníssimaGovernadora e Filha do que grandehonrar de transferir-me (logo eu, estasingela FAIXA) do seu seio jáentediado de quatro mandatosao portentoso e estufado peito donovel e ávido Dignitário, oGovernador da Mudança.

Fiquei ultrajada, confesso! Nãomerecia tanto. Afinal, sempre mecomportei a devida discrição exigidaa minha pacata (embora por vezesatribulada) vida de FAIXAGOVERNAMENTAL.

Pior foi ter que passar vinte diasaguentar tocar os telefones, fixos,celulares, e ouvir repetidos:

- Já paguei, governadora! Voupagar, governadora! Assinei,assinei!!!

- Sim, sim, Dr. Jorge! Já passei ojamecão em todos os convênios queme trouxeram! Ah! Os contratosrenovei -os todos. Todos.Absolutamente todos!

- Uma palavra, por favor,governadora! O Dr. Jorge desligouhá pouco o telefone e não merespondeu. Quem vai mesmo assinaro decreto da minha aposentadoria degovernador?

Tô tendo um trabalhodesgraçado! Já viajei adoidado pratodo o canto. Fiz tudo que mepediram, até inaugurar como Joaquinzão, o Ginásio CostaRodrigues. Muitos disseram que eunão o fizesse porque seria umverdadeiro rabo de foguete. Joaquimme convenceu (“que nada, Arnaldo,vamos lá; esta inauguração é o nossoPASSAPORTE PARA AMUDANÇA. Tu não imaginacomo o W.R é forte com o Juiz”).

- Governadora? Governadora?Lá a ligação caiu de novo! Que m...esta operadora. Ou será que foi elaque desligou!? Afinal, o que estoufazendo aqui? Quem é que vaiassinar a minhaaposentodadoriiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiia???

Sim, não descansei neste ano de2015.

Imaginem que o MeritíssimoSenhor Juiz-Governador, ouGovernador-Juiz (não sei aindacomo ele gosta mais de ser tratado)em cujo proeminente busto revivi efui reencarnada, em um canto daPraça Pedro II, em 1º de Janeiro,ainda não desencarnou de mim...

Diário da Faixa (I) Por F. da Cruz