noticias da paz

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Mas tal não será possível enquanto as grandes potências ocidentais, com os EUA à cabeça, continuarem a semear conflitos e divisões e a financiar guerras (quando não são eles próprios a travá-las directamente) a fim de colherem os seus frutos: o controlo de mercados e fontes de matérias-primas; o domínio geo-estraté- gico de importantes regiões do globo; e, não menos importante, o condiciona- mento do desenvolvimento das chamadas «potências emergentes», nomeadamente a Rússia e a China. É isso que está em causa actualmente na Síria, onde o conflito em curso só na aparência pode ser considerado uma «guerra civil». Na verdade, o chamado Exército Sírio Livre é formado, armado, treinado e financiado externamente (dos EUA a países da União Europeia, pas- sando pela Turquia, Qatar ou Arábia Sau- dita) e composto em grande parte por mercenários estrangeiros, que têm levado a cabo indescritíveis massacres contra a população civil síria. Caem assim por terra as preocupações com a «democracia», com os «direitos hu- manos» ou com a «defesa dos civis» hi- pocritamente apregoadas pelos responsá- veis desses países para justificar o seu apoio aos grupos armados que operam na Síria. Também as sanções diplomáticas, económicas e políticas contra aquele país do Médio Oriente afectam em primeiro lugar o povo sírio, que garantem querer «libertar». O confessado objectivo destas acções – militares, subversivas ou diplomáticas – é proceder a uma alteração de regime, o que viola abertamente a Carta das Nações Unidas. A acompanhar toda esta opera- ção de desestabilização interna da Síria está uma intensa campanha mediática, que pretende apresentar mercenários como «libertadores» e acusar o governo da Síria pelos massacres perpetrados por grupos armados, apoiados pelo exterior. Esta campanha não pode ser desligada da preparação da opinião pública mundial para um eventual ataque militar contra a Síria. Incendiar toda uma região Como o CPPC repetidamente tem afir- mado, a situação que se vive actualmente na Síria tem tudo a ver com a intenção dos EUA de controlar a sensível e estratégica região do Médio Oriente. Assim, e depois do Afeganistão, do Iraque e da Líbia, é a Síria – país que assume uma via soberana e apoia a resistência árabe e palestina a Israel e aos Estados Unidos – o próximo «obstáculo» a remover. Caso o desfecho seja o ambicionado pelo imperialismo, o alvo que se segue será o Irão, contra o qual está há muito a ser preparada uma guerra, não só no plano militar como no diplomático e, claro, no mediático. Mas é a Rússia e a China, e o condi- cionamento do seu desenvolvimento, que os EUA visam com toda esta desestabili- zação do Médio Oriente, de consequên- cias ainda imprevisíveis para o Mundo. Certamente por se aperceberem disso mesmo, esses dois países estão tão empe- nhados em travar esta estratégia incen- diária. Os sucessivos vetos no Conselho de Segurança de projectos de resolução que permitiam a mudança de regime e mesmo a agressão externa à Síria são disso exemplo. 1 CPPC Notícias da Paz Conselho Português para a Paz e Cooperação Setembro/Dezembro 2012 O direito a viver em Paz O título, «roubado» ao cantor chileno Victor Jara, descreve como nenhum outro o que está em causa actualmente na Síria, no Médio Oriente e um pouco por todo o Mundo: o direito inalienável dos povos a viver em Paz, condição indispensável ao progresso, ao desenvolvimento e à justiça social. Na Síria, no Médio Oriente, no Mundo Mural do CPPC em Lisboa, 25 de Abril

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Setembro 2012

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Page 1: Noticias da Paz

Mas tal não será possível enquanto asgrandes potências ocidentais, com osEUA à cabeça, continuarem a semearconflitos e divisões e a financiar guerras(quando não são eles próprios a travá-lasdirectamente) a fim de colherem os seusfrutos: o controlo de mercados e fontes dematérias-primas; o domínio geo-estraté-gico de importantes regiões do globo; e,não menos importante, o condiciona-mento do desenvolvimento das chamadas«potências emergentes», nomeadamentea Rússia e a China.É isso que está em causa actualmente

na Síria, onde o conflito em curso só naaparência pode ser considerado uma«guerra civil». Na verdade, o chamadoExército Sírio Livre é formado, armado,treinado e financiado externamente (dosEUA a países da União Europeia, pas-sando pela Turquia, Qatar ou Arábia Sau-dita) e composto em grande parte por

mercenários estrangeiros, que têm levadoa cabo indescritíveis massacres contra apopulação civil síria.Caem assim por terra as preocupações

com a «democracia», com os «direitos hu-manos» ou com a «defesa dos civis» hi-pocritamente apregoadas pelos responsá-veis desses países para justificar o seuapoio aos grupos armados que operam naSíria. Também as sanções diplomáticas,económicas e políticas contra aquele paísdo Médio Oriente afectam em primeirolugar o povo sírio, que garantem querer«libertar».O confessado objectivo destas acções –

militares, subversivas ou diplomáticas – éproceder a uma alteração de regime, oque viola abertamente a Carta das NaçõesUnidas. A acompanhar toda esta opera-ção de desestabilização interna da Síriaestá uma intensa campanha mediática,que pretende apresentar mercenários

como «libertadores» e acusar o governoda Síria pelos massacres perpetrados porgrupos armados, apoiados pelo exterior.Esta campanha não pode ser desligada dapreparação da opinião pública mundialpara um eventual ataque militar contra aSíria.

Incendiar toda uma região

Como o CPPC repetidamente tem afir-mado, a situação que se vive actualmentena Síria tem tudo a ver com a intenção dosEUA de controlar a sensível e estratégicaregião do Médio Oriente. Assim, e depoisdo Afeganistão, do Iraque e da Líbia, é aSíria – país que assume uma via soberanae apoia a resistência árabe e palestina aIsrael e aos Estados Unidos – o próximo«obstáculo» a remover. Caso o desfechoseja o ambicionado pelo imperialismo, oalvo que se segue será o Irão, contra oqual está há muito a ser preparada umaguerra, não só no plano militar como nodiplomático e, claro, no mediático.Mas é a Rússia e a China, e o condi-

cionamento do seu desenvolvimento, queos EUA visam com toda esta desestabili-zação do Médio Oriente, de consequên-cias ainda imprevisíveis para o Mundo.Certamente por se aperceberem dissomesmo, esses dois países estão tão empe-nhados em travar esta estratégia incen-diária. Os sucessivos vetos no Conselhode Segurança de projectos de resoluçãoque permitiam a mudança de regimee mesmo a agressão externa à Síriasão disso exemplo.

1 CPPC

Notícias da PazConselho Português para a Paz e Cooperação

Setembro/Dezembro 2012

O direito a viver em PazOtítulo, «roubado» ao cantor chileno Victor Jara, descreve como

nenhum outro o que está em causa actualmente na Síria, no MédioOriente e um pouco por todo o Mundo: o direito inalienável dos

povos a viver em Paz, condição indispensável ao progresso, aodesenvolvimento e à justiça social.

Na Síria, no Médio Oriente, no Mundo

Mural do CPPC em Lisboa, 25 de Abril

Page 2: Noticias da Paz

2 Notícias da Paz

CPPC em missão à Síria

Conhecera realidade de perto

Odireito a viver em PazNa Síria, no Médio Oriente, no Mundo

Perante isto, que faz o Governo portu-guês? Defende os princípios inscritos naConstituição da República, que pugnapelo respeito pela soberania dos povos epela solução pacífica dos conflitos? Não!Submete-se à estratégia dos EUA e dasgrandes potências da UE, sendo inclusi-vamente um dos mais destacados porta-vozes do reforço das sanções e da agres-são à soberania da Síria.Ainda o massacre de Houla não estava

esclarecido (hoje parece claro ter sido per-petrado pelos ditos «rebeldes») e já o Go-verno português considerava o embaixa-dor sírio acreditado no País persona nongrata, sujeitando Portugal a obscuros e in-confessados interesses económicos e polí-ticos daqueles que não hesitam em recor-rer à guerra para impor os seus desígnios.No início de Agosto, o Ministério dos Ne-gócios Estrangeiros português veio exigira renúncia do presidente da Síria e uma«transição política» no país, a favor doschamados «rebeldes», torpedeando aCarta das Nações Unidas.Inconformado com esta posição das au-

toridades portuguesas, que ao invés de de-fenderem e cumprirem a Lei Fundamentaldo País e a Carta da ONU, as desrespeitamvergonhosamente, o CPPC tem levado acabo um conjunto de acções, em nomepróprio ou em parceria com estruturas epersonalidades, esclarecendo sobre o queverdadeiramente está em causa no conflitosírio. A evolução dos acontecimentos deurazão àqueles que, como o CPPC, semprese bateram contra a desestabilização da-quele país por forças externas e pela de-fesa da sua soberania. As exigências doCPPC são hoje mais actuais do que nunca:•Rejeição de qualquer intervenção mili-tar contra a Síria;•Fim do apoio estrangeiro aos grupos ar-mados que operam no país;•Condenação das acções em curso paradesestabilizar esse país, promovidas porpotências estrangeiras, bem como da cam-panha de intoxicação mediática;•Exigência de investigações completas eisentas aos diversos atentados perpetradosno país e punição dos responsáveis;•Retomada das relações diplomáticasentre Portugal e a Síria;•Recurso ao diálogo, à negociação e à di-plomacia para a resolução pacífica do con-flito, no espírito da Carta da ONU.

OCPPC integrou a delegaçãoconjunta do ConselhoMundial da Paz e da

Federação Mundial da JuventudeDemocrática que visitou a Síriaentre 21 e 26 de Abril. Adelegação, da qual faziam parteos presidentes das duasestruturas internacionais, eracomposta por 29 organizaçõesde 23 países da Europa, Ásia,América, África e MédioOriente. O CPPC esteverepresentado por Filipe Ferreira,da Direcção Nacional.A missão, cujo programa foidefinido pela União Nacionaldos Estudantes Sírios e peloConselho Nacional da Paz sírio,membros das duas estruturasinternacionais, teve comoobjectivos recolher informaçãoacerca da situação que se viviaentão naquele país do MédioOriente e, ao mesmo tempo,expressar a sua solidariedadecom o desejo profundo do povosírio em viver em paz e semingerência estrangeira.Durante os dias em quepermaneceu no país, adelegação visitou cidadesafectadas pelos combates,hospitais e mesquitas e teve eoportunidade de se encontrarcom personalidades das maisvariadas àreas da vida política,social e religiosa síria, bemcomo estudantes universitários esindicalistas.Nesta edição do Notícias da Pazentrevistamos Filipe Ferreira,dirigente do CPPC, que integroua missão conjunta do CMP e daFMJD à Síria. Num tempomarcado por tantadesinformação, em que tantosfalam daquilo que nãoconhecem e não viram, eis umavoz autorizada para falar dasituação que se vive naquelepaís do Médio Oriente.

Entrevista a Filipe Ferreira

Os sírios prezama paz e a soberaniaOO qquuee ppuuddeessttee pprreesseenncciiaarr nnaa ttuuaa vviissiittaa ààSSíírriiaa nnoo ppaassssaaddoo mmêêss ddee AAbbrriill??FFiilliippee FFeerrrreeiirraa: O que mais surpreen-

deu, tendo em conta o que se ouvia emPortugal, foi o dia-a-dia a decorrer comnormalidade: trânsito nas ruas, transpor-tes e serviços públicos a funcionar nor-malmente, cafés e esplanadas muito con-corridos, comércio aberto, mercados comabundância de produtos frescos... A haveralguma perturbação à normal vida quoti-diana não era facilmente visível. Dada aproximidade das eleições parlamentares[que se realizaram a 7 de Maio] havia mui-tas faixas e cartazes pelas ruas, de dife-rentes partidos, anunciando os seus can-didatos. Isto contrasta com a dificuldade que

senti em chegar à Síria, pois o que deviater sido uma viagem simples, com umaúnica escala, quase se tornou uma missãoimpossível. Dois dias antes da partida, acompanhia aérea em que era suposto terviajado cancelou os voos para a Síria, oque obrigou a procurar alternativas, maisdemoradas e com mais escalas. Haviaentão uma clara tentativa para que a rea-lidade desse país, que procuram isolar, nãofosse e não continuasse a ser conhecida.

Page 3: Noticias da Paz

3 CPPC

AA ssiittuuaaççããoo eerraa,, ppoorrttaannttoo,, ttoottaallmmeenntteeddiiffeerreennttee ddaaqquueellaa qquuee aass nnoottíícciiaass ddaavvaammccoonnttaa eemm PPoorrttuuggaall?? FFFF:As notícias relatavam uma socie-

dade revoltada e oprimida, grandes mo-vimentações contra o governo nas ruas. Oque vimos foi um ambiente de normali-dade, em que a esmagadora maioria dapopulação com que contactámos diziaapoiar as recentes medidas do governo.Num momento em que estávamos em Da-masco, as notícias em Portugal relatavamconfrontos e bombardeamentos nessa ci-dade, o que não se verificou.

SSeennttiissttee aass ccoonnsseeqquuêênncciiaass ddaass ssaannççõõeessiimmppoossttaass aaoo ppaaííss??FFFF:Essa é uma das facetas da agressão

dos países da NATO e dos seus aliados àSíria. Estamos a falar de quase 60 paco-tes de sanções impostas ao país, que afec-tam sobretudo o povo sírio, como o con-gelamento de bens de instituiçõesfinanceiras sírias ou a proibição da vendae transporte de gás e combustível utiliza-dos no aquecimento doméstico e na in-dústria. Segundo o que nos foi transmi-tido, estas e outras sanções estão aprovocar a desestabilização da economia,o aumento do desemprego e do custo devida. Há bens de primeira necessidade

cujo preço duplicou. Mas no contacto com organizações de

estudantes ficámos a saber, entre outrascoisas, que o acesso à educação é prati-camente universal: o Ensino Superiorcusta cerca de 10 dólares por ano e há umgrande número de universidades e de es-tudantes universitários. No que respeitaà Saúde, o acesso é gratuito e os serviçosmodernos.

EErraamm vviissíívveeiiss aass tteennssõõeess iinntteerrnnaass??FFFF: Do que pude observar, a Síria é

uma sociedade multiétnica, de grande to-lerância à diversidade. Em todos os lo-cais que visitámos [Damasco e Latakia]a convivência entre etnias e religiões erapacífica. Aliás, a delegação teve oportu-nidade de reunir com líderes políticos ereligiosos que afirmavam que, mais doque uma qualquer identidade religiosa oupolítica, o que unia os sírios era precisa-mente o facto de serem sírios, há um fortesentimento de unidade nacional. De sa-

lientar ainda que as tentativas para que-brar esta unidade incluem assassinatosdirigidos, como o que vitimou o filho maisnovo de um líder muçulmano, tentativafrustrada de instigar divisões religiosas. Em vários encontros que realizámos,

tanto de carácter institucional como emconversas ocasionais com pessoas nasruas, sobressaía precisamente essa uni-dade em torno da defesa da soberania.Mesmo em casos em que era mencionadoalgum descontentamento com a situaçãopolítica e social do país, que deu azo aosprotestos de há um ano atrás, a condena-ção da violência perpetrada pelos bandosarmados era consensual. Tal como a iden-tificação dessa violência e desses bandoscom o exterior. Numa visita a militares fe-ridos, que se encontravam hospitalizados,quase todos se referiram à presença deestrangeiros nos grupos que os atacaram.

QQuuaall oo eessttaaddoo ddee eessppíírriittoo ddooss ssíírriiooss ccoommqquuee ttee eennccoonnttrraassttee??FFFF: Estavam sobretudo revoltados com

as manobras contra o país a partir do ex-terior, com a violência contra populaçõescivis patrocinadas a partir do estrangeiro,com as notícias deturpadas e manipula-das dos media internacionais. Estavamtambém conscientes da necessidade dedefender a sua soberania e integridadeterritorial e confiantes nas alterações po-líticas que se verificam, como a novaConstituição, as eleições, etc...Em muitas reuniões e encontros, e

mesmo por parte de pessoas na rua, sur-giram pedidos como este: «Quando vol-tarem aos vossos países contem a ver-dade, contem o que viram, digam que arealidade síria não tem nada a ver com oque dizem nos canais internacionais!»

Visita a hospital militar

Encontro com estudantes

na Universidade de Latakia

Damasco

Page 4: Noticias da Paz

OCPPC participou na As-sembleia Mundial daPaz, realizada entre 20 e

23 de Julho na capital do Nepal,Katmandu, através da presidenteda Direcção, Ilda Figueiredo. Es-tiveram representados meia cen-tena de países num total de 150delegados e convidados. Sob o lema Fortalecer a luta dos

povos pela paz, contra as guerrasimperialistas, pela solidariedade ea luta contra a opressão, a As-sembleia elegeu os novos órgãosdirigentes do Conselho Mundialda Paz (ver caixa) e traçou as li-nhas de acção para os próximosanos. Das prioridades definidasdestaca-se a intensificação daluta ccoonnttrraa aass bbaasseess mmiilliittaarreess eess--ttrraannggeeiirraass ee ccoonnttrraa aa NNAATTOO, exi-gindo a sua dissolução; pela eellii--mmiinnaaççããoo ddee ttooddaass aass aarrmmaassnnuucclleeaarreess no mundo; pelo ffiimm ddeettooddooss ooss ttiippooss ddee ooccuuppaaççããoo ee iinnggeerrêênncciiaa estrangeiras nos as-suntos internos dos estados; a par da intensificação da ddeennúúnn--cciiaa ddaass vviioollaaççõõeess aaoo ddiirreeiittoo iinntteerrnnaacciioonnaall,, àà ssoobbeerraanniiaa ee aaoo ddii--rreeiittoo ddooss ppoovvooss à autodeterminação e independência.No rico debate travado na Assembleia e na Conferência que

se lhe seguiu foram denunciados muitos dos crimes passados epresentes do imperialismo, ao mesmo tempo que se alertoupara os perigos decorrentes da actual crise e do seu agrava-mento. Por um lado, pelo que pode resultar do brutal agrava-mento das desigualdades em diversos países, incluindo na Eu-ropa; e por outro da ofensiva em curso nos planos militar eideológico, movida pelas grandes potências ocidentais, com osEUA à cabeça, com objectivo de assegurar controlo dos mer-cados, a redefinição de fronteiras e a pilhagem de recursos e ri-quezas naturais em regiões como o Médio Oriente, a Ásia Cen-tral, África, o Mediterrâneo ou a América Latina.

Paz no Médio OrienteAtentos ao mo-

mento dramáticoque se vive na SSíírriiaa,os delegados presen-tes aprovaram umaresolução específicasobre este assunto,na qual expressam asua «forte solidarie-dade para com o

povo da Síria na sua luta contra o violento ataque imperialista»actualmente em curso. Aos anti-imperialistas e progressistasde todo o mundo, o CMP apela para que desmascarem a «cam-panha mediática que está a ser organizada» para distorcer arealidade que se vive naquele país e aumentem a pressão sobreos governos dos EUA, dos países da União Europeia e dos seusaliados na região para que estes parem de armar e financiar osgrupos mercenários que levam a cabo actos terroristas na Síria. Os partidários da paz realçam ainda a necessidade de exigir

a abolição de todo o tipo de sanções económicas impostas aopovo da Síria e de intensificar a luta contra a agressão, no-meadamente apoiando o diálogo nacional entre os sírios paraque estes possam ser verdadeiramente senhores do seu des-tino. Numa outra resolução, desta feita sobre o IIrrããoo, rejeita-se ca-

tegoricamente os planos dos EUA, da União Europeia e daNATO de atacar este país sob qualquer pretexto, em particularo seu programa nuclear. Para o Conselho Mundial da Paz, opovo do Irão e só ele deve decidir sobre o seu futuro e a sua li-derança, sem interferências externas de qualquer espécie. Ex-pressando a sua solidariedade para com as forças progressistase defensoras da paz do Irão, o CMP apelou à vigilância quantoaos planos de guerra nos tempos mais próximos. Para além da reafirmação, numa outra resolução, do direito

do povo da PPaalleessttiinnaa ao seu estado independente e soberano,membro de pleno direito da Organização das Nações Unidas, aAssembleia Mundial da Paz defendeu ainda o reconhecimentodo Médio Oriente como Zoonnaa LLiivvrree ddee AArrmmaass NNuucclleeaarreess. Paratal, cumprindo aliás com as disposições do Tratado de Não Pro-

Assembleia Mundial da Paz realizou-se em Julho no Nepal

Solidariedade contra a guerra e a opressão

Page 5: Noticias da Paz

5 CPPC

Assembleia Mundial da Paz realizou-se em Julho no Nepal

Solidariedade contra a guerra e a opressão

liferação de Armas Nucleares, há que desencorajar os paísesnão detentores da arma atómica de a possuir e os países que adetenham a destruir os seus arsenais. Na região, apenas Israeldetém a bomba atómica, muito embora não o reconheça.

Crimes sem castigo

Ao longo dos anos, o imperialismo perpetrou crimes contra ospovos e o seu legítimo direito à paz e a seguir um caminho au-tónomo, cujas consequências ainda hoje se fazem sentir. Numaresolução aprovada na Assembleia denuncia-se que as bombaslançadas por aviões norte-americanos sobre o LLaaooss nas déca-das de 60 e 70 continuam hoje a matar. Naquele que foi o maiorbombardeamento per capita da história, as bombas por explo-dir (estimadas em 80 milhões) mataram desde 1964 mais de 50mil pessoas. A resolução exige que os EUA assumam as suasresponsabilidades e compensem o pequeno país asiático. Também as vítimas do Agente Laranja foram lembrados na

Assembleia Mundial da Paz, tendo sido apoiada a sua luta pelajustiça, que tarda em ser feita. Mais de 35 anos depois do finalda guerra do VViieettnnaammee são ainda muitos milhares de vietnami-tas que sofrem duramente as consequências dos agentes quí-micos lançados pelos bombardeiros norte-americanos. Muitascrianças nascem, ainda hoje, com deficiências profundas. A resolução apela a toda a humanidade (governos, organiza-

ções e indivíduos, independentemente da sua posição política)para que tome medidas imediatas de apoio às vítimas doAgente Laranja, responsabilizando o governo dos EUA e as em-presas fabricantes destas armas. Foi ainda reafirmada a solidariedade com Cuba na sua luta

contra o criminoso bloqueio imposto pelos EUA, com pesadasconsequências para o povo cubano e para o normal desenvol-vimento do país. A libertação dos cinco patriotas cubanos pre-sos nos EUA foi também reclamada, assim como o fecho dabase de Guantánamo e a sua devolução à soberania de Cuba.

Continuar um percurso heróicoA Assembleia Mundial da Paz elegeu o seu ComitéExecutivo, composto por 40 organizações. Este órgão, nasua primeira reunião, escolheu como presidente oCebrapaz, do Brasil, e como secretário-geral o EEDYE, daGrécia. Assim, Socorro Gomes mantém-se na presidência eThanassis Pafilis na Secretaria-geral. Iraklis Tsavdaridis,também da Grécia (onde está instalada a sede do CMP)permanece como secretário executivo. O CPPC foi reeleito para o Comité Executivo,permanecendo também no Secretariado, continuando aassumir a coordenação da região Europa.Integram o Comité Executivo movimentos e organizaçõesde Chipre, Alemanha, Turquia, República Checa,Espanha, Bélgica, Dinamarca, Palestina, Síria, Egipto,Jordânia, Irão, Israel, Cuba, Estados Unidos da América,Argentina, México, Canadá, República Dominicana,Panamá, Venezuela, Congo, África do Sul, Angola,Senegal, República Democrática do Congo, Madagáscar,Índia, Nepal, Japão, Vietname, Mongólia, Bangladesh,República Popular Democrática da Coreia, Laos eFilipinas, para além dos já referidos Brasil, Grécia ePortugal. O Conselho Mundial da Paz foi criado em 1950, nosegundo Congresso Mundial da Paz realizado em Varsóvia,no qual participam dois mil delegados de oitenta países.Entre os seus membros estavam prestigiados intelectuaiscomo os prémios Nobel Frédéric e Iréne Joliot-Curie, opintor Pablo Picasso, o escritor Jorge Amado ou o poetaPablo Neruda. O físico português Manuel Valadarestambém integrou o primeiro Conselho Mundial da Paz.O nascimento desta estrutura respondeu às necessidadesde uma época marcada pelo início da Guerra Fria e pelasameaças que então pendiam sobre os povos do mundo deeclosão de um novo e ainda mais mortífero conflito. A anteceder a criação do CMP fora lançado aquele queficou conhecido como Apelo de Estocolmo, pela proibiçãoda arma nuclear – que recolheu em todo o mundo mais de500 milhões de assinaturas – e o primeiro CongressoMundial dos Partidários da Paz, realizando em Abril de1949 simultaneamente em Paris e Praga, que constituiu overdadeiro berço do movimento da paz.

Page 6: Noticias da Paz

6 Notícias da Paz

Instrumento de agressão e guerra

Dissolução da NATO é exigência do nosso tempoAsconclusões da cimeira da NATO realizada em Maio

na cidade norte-americana de Chicago dão razãoacrescida a todos quantos continuam a bater-se pela

dissolução desta organização agressiva. Quanto mais a NATOse reforça mais ameaçada está a paz e a segurança no planeta. Estiveram em Chicago, por esses dias, mais de 60 chefes de

Estado e de governo a debater a concretização do novo con-ceito estratégico da NATO, aprovado um ano e meio antes, emLisboa. Como o CPPC então alertou, em nome próprio ou emconjunto com as organizações que com ele compunham a Cam-

panha Paz Sim! NATO Não!, essas alterações visavam, entreoutras questões, generalizar os pretextos «justificativos» parauma intervenção militar da NATO. A agressão lançada contraa Líbia foi um primeiro teste. Com este novo conceito estratégico, visava-se tornar a NATO

mais «eficiente» na resposta às denominadas «ameaças assi-métricas» (a agressão a determinados países soberanos) que,traduzindo, significam o objectivo de garantir o controlo dasfontes e condutas de energia e o domínio do comércio globalpor parte dos potentados económicos dos EUA e seus aliados,sob a capa da «intervenção humanitária», da «defesa dos di-

reitos humanos», da «proliferação das armas de destruiçãomassiva» ou de motivos como a «segurança energética» ou a«pirataria». Em resposta a essas «ameaças», aí está o estabe-lecimento de Forças de Resposta da NATO (FRN), flexíveis,destinadas a intervir rapidamente em qualquer parte do pla-neta.A NATO prontifica-se também a intervir por motivos não mi-

litares, como as «alterações climáticas», a «guerra do cibe-respaço» ou a já referida «segurança energética». Em rigor, oplaneta inteiro passa a ser o espaço de «acção vital» da NATO.

Isto inclui, por exemplo, a Ásia Central, África, Sueste Asiá-tico e, claro está, o Médio Oriente. A avançar a grande velocidade está o chamado «Escudo de

Defesa Antimíssil» (ver caixa), ao mesmo tempo que a aliançanão desiste da opção primeiro ataque, ao contrário de outraspotências nucleares. Em preparação está também o novo sis-tema de Vigilância Terrestre (Alliance Ground Surveillance –AGS) com aviões não tripulados altamente sofisticados para avigilância, por exemplo, do Mar Mediterrâneo. Razões de sobra para que todos nos unamos e exijamos a dis-

solução da NATO.

Manifestação em Chicago

Page 7: Noticias da Paz

7 notícias da paz

De Lisboa para ChicagoA 21 de Maio, último dia da cimeira da NATO em Chicago e

ao mesmo tempo que naquela cidade norte-americana milharesde partidários da paz exigiam a abolição da aliança agressiva emilitarista, o CPPC e outras organizações que integraram a Cam-panha Paz Sim! NATO Não levaram a cabo uma acção de rua nabaixa de Lisboa com esta mesma exigência central. Helena Barbosa, da Direcção do CPPC, falando junto ao Ros-

sio, denunciou a confirmação e aprofundamento, na Cimeira deChicago, dos objectivos militaristas e bélicos da NATO, que acu-sou de ser «responsável por guerras injustas e ilegítimas, in-contáveis crimes e por graves violações dos direitos humanos edos povos».Para a dirigente do CPPC, a «existência da NATO é antagónica

à paz mundial, como se tem verificado desde a sua criação em1949». Mas os seus objectivos são também «contrários e in-compatíveis com a Constituição da República Portuguesa, queconsagra, por exemplo, a abolição dos blocos político-militares,bela expressão do desejo do povo português de alcançar e de-fender a paz no mundo».Enumerando as «trágicas» intervenções na Jugoslávia, no Ira-

que, no Afeganistão ou na Líbia, Helena Barbosa acusou a NATOde servir os EUA e os seus aliados «na sua sede de domínio mi-litar, de controlo de recursos naturais e de mercados e de supe-rioridade geoestratégica, em prejuízo de milhares de vidas hu-manas, destruição de países e recursos». Os objectivos ecompromissos da Campanha Paz Sim! NATO Não! estão perfei-tamente actuais e deverão por isso ter continuidade, defendeu adirigente do CPPC.

«Escudo antimíssil»

O que é e por que deve ser combatidoOO qquuee éé oo cchhaammaaddoo ««EEssccuuddoo ddee DDeeffeessaa AAnnttiimmííssssiill»»??É um sistema que está a ser desenvolvido pelos EstadosUnidos da América para detectar e interceptar qualquer tipode míssil (de curto, médio ou longo alcance) lançado dequalquer parte do mundo. O seu objectivo autoproclamado é«destruir mísseis e suas ogivas antes de estes atingirem osseus alvos».

DDee qquuee ccoonnssttaa eessttee ssiisstteemmaa??Fazem parte deste sistema um conjunto de sensores ligadosem rede, incluindo satélites espaciais, e radares terrestres emarítimos para detecção e rastreamento de alvos; mísseisinterceptores terrestres e marítimos vocacionados paradestruir mísseis balísticos; e uma rede de comunicação,comando e controlo que forneça os comandantesoperacionais das necessárias ligações entre os sensores e osmísseis interceptores.

OOnnddee ssee ssiittuuaamm ooss sseeuuss ccoommppoonneenntteess??Os elementos deste sistema são operados por pessoal militardos EUA a partir do seu Comando Estratégico, do Comandodo Norte, do Comando do Pacífico, do Comando Europeu(dos EUA) e das forças estacionadas no Japão. Os EUA têm programas de «defesa» antimíssil com umgrande número de países, incluindo o Reino Unido, o Japão,a Austrália, Israel, a Dinamarca, a Alemanha, a Holanda, aRepública Checa, a Polónia, a Itália e muitos outros. AAgência de Defesa Antimíssil participa activamente emoperações da NATO.

ÉÉ uumm ssiisstteemmaa ddeeffeennssiivvoo,, ccoommoo aalleeggaamm ooss EEUUAA??Só na aparência. Ao ser capaz de interceptar qualquermíssil, o sistema garante, na prática, aos Estados Unidos daAmérica o monopólio deste tipo de armamento. Ao contráriodo que sucede actualmente, os EUA poderiam lançar umataque (inclusivamente nuclear) contra um qualquer país doMundo, ficando a salvo de uma eventual resposta.

QQuuee ccoonnsseeqquuêênncciiaass ppooddee tteerr,, ppaarraa aa ppaazz,, eessttee ssiisstteemmaa??A primeira consequência é, desde logo, o já referidomonopólio nuclear de facto que pode proporcionar para osEstados Unidos da América. Este país, que é o único a terno seu «currículo» a utilização de armamento nuclear (emAgosto de 1945, contra as cidades japonesas de Hiroxima eNagasáqui, sem qualquer interesse militar), nuncaexpressou o compromisso de não utilizar o armamentonuclear em primeiro ataque. Este sistema levará também, e inevitavelmente, à corridaaos armamentos por parte da China e da Rússia, queprocurariam formas de contornar ou neutralizar estesistema. A sua plena entrada em funcionamento significariaum drástico desequilíbrio de forças à escala mundial.

21 de Maio, Lisboa

Page 8: Noticias da Paz

8 Notícias da Paz

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Actividade intensa e diversificadaA denúncia da situação que se viveactualmente no MMééddiioo OOrriieennttee,particularmente na Síria, ocupougrande parte das atenções do CPPCnos últimos meses. Nasmanifestações do 25 de Abril e do1.º de Maio, os activistas do CPPClevaram faixas onde se podia ler PelaPaz! Não à Guerra no Médio Oriente.Entretanto, na sequência da visita àSíria de um seu dirigente (verpáginas 2 e 3), o CPPC promoveuuma série de debates e sessõespúblicas sobre a situação que se viviaentão nesse país do Médio Oriente.A CCoonnssttiittuuiiççããoo ddee AAbbrriill ee aa PPaazz deu omote a três debates – em Lisboa, noPorto e em Coimbra – ondeparticiparam, para além de dirigentesdo CPPC, diversas personalidadesdas mais variadas áreas deintervenção e representantes deorganizações sociais, que partilharamos seus pontos de vista acerca daactualidade da luta pela paz e o queela representa hoje. O CPPC ttoommoouu ppoossiiççããoo sobre osmais variados assuntos: para além deacompanhar a par e passo a evoluçãoda situação na Síria, solidarizou-secom os presos políticos palestinos;repudiou o golpe de Estado noParaguai; saudou o povo venezuelanopor ocasião de mais um aniversáriodo nascimento de Simón Bolívar erecordou a derrota do nazifascismo naSegunda Guerra Mundial e o seusignificado. O CPPC esteve aindarepresentado no CCoommbbooiioo ddooss 11000000,iniciativa internacional que reuniuperto de um milhar de jovenseuropeus (entre os quais uma centenade portugueses) que visitaram oscampos de concentração deAuschwitz/Birkenau, e que foipromovida em Portugal pela URAP.

Acampamento pela Paz

Adirecção nacional do CPPC tomoua iniciativa de propor a convoca-ção de uma Assembleia da Paz

para o dia 20 de Outubro, em Lisboa. Talreunião, a realizar quase um ano depois daanterior assembleia, está prevista nos esta-tutos do CPPC e propõe-se a apreciar o re-latório e contas anuais, relativos ao primeiroano de mandato dos actuais corpos dirigen-tes, bem como debater medidas para o re-forço do CPPC e da dinamização da activi-dade dos seus núcleos e comissões de paz.

Após a assembleia, realizar-se-à umaconferência, para qual serão convidados,além dos aderentes do CPPC, outras perso-nalidades e organizações, visando a parti-lha de análises sobre as questões mais pre-mentes da solidariedade e da Paz eCooperação entre os povos.Serão oportunamente anunciados mais

elementos sobre a assembleia e a conferên-cia, desde logo o local e o horário, bemcomo o lema sobre o qual se desenrolarão ostrabalhos.

A albufeira do Maranhão, em Avis, vol-tou a receber, nos dias 27, 28 e 29 deJulho, a terceira edição do Acampamentopela Paz, promovido pela Plataforma Ju-ventude do Futuro é com a Constituição doPresente. O CPPC marcou presença nestes três

dias, onde mais de 250 jovens provenien-tes de diversos locais do País puderam des-frutar das inúmeras actividades que com-punham o programa do acampamento:teatro, desporto e um muito participado de-bate com o tema A Derrota no Nazifascismoe a Luta pela Paz, conduzido por Ivo Serra,da URAP, e com a participação do resis-

tente antifascista José Pedro Soares. No sábado à noite, no jantar que reuniu

todos os participantes no acampamento,intervieram Helena Casqueiro, da direc-ção do CPPC, e o presidente da CâmaraMunicipal de Avis, Manuel Coelho.

Dia 20 de Outubro de2012, em Lisboa

Assembleia da Paz e Conferência

Os bombardeamentos nucleares norte-americanos das cidades japonesas de Hiros-hima e Nagasaki foram uma vez mais recordados pelo CPPC, 67 anos depois. Num co-municado emitido no dia 6, lembra-se as 250 mil mortes provocadas no imediato ou nosdias subsequentes e as sequelas graves que permanecem, como a proliferação de doen-ças cancerígenas e as malformações genéticas, devidas à exposição à radiação e a subs-tâncias radioactivas.Desde então para cá, recorda-se, os povos do mundo têm-se mobilizado para impedir

que algo de semelhante se venha repetir. O Apelo de Estocolmo pela proibição das armasnucleares, lançado em Março de 1950 pelo movimento da Paz, recolheu mais de 500milhões de assinaturas.

Não esquecer Hiroshima e Nagazaki