notas sobre gaza...notas sobre gaza / joe sacco; tradução alexandre boide. — são paulo :...

8
NOTAS SOBRE GAZA Tradução Alexandre Boide JOE SACCO

Upload: others

Post on 04-Feb-2021

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • NOTAS SOBRE GAZA

    Tradução

    Alexandre Boide

    JOE SACCO

  • Copyright © 2009 by Joe Sacco

    Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

    Título originalFootnotes in Gaza

    PreparaçãoCris Siqueira

    RevisãoAndressa Bezerra da Silva

    Marise Leal

    ComposiçãoLilian Mitsunaga

    [2010]

    Todos os direitos desta edição reservados àeditora schwarcz ltda.

    Rua Bandeira Paulista 702 cj. 3204532-002 — São Paulo — sp

    Telefone: (11) 3707-3500Fax: (11) 3707-3501

    www.companhiadasletras.com.br

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

    Sacco, JoeNotas sobre Gaza / Joe Sacco; tradução Alexandre Boide.

    — São Paulo : Companhia das Letras, 2010.

    Título original : Footnotes in Gaza.isbn 978-85-359-1717-8

    1. Conflito árabe-israelense - Histórias em quadrinhos 2. Conflito árabe-israelense - 1948-1967 - Palestinos - Narrativas pessoais 3. Egito - História - Intervenção, 1956 - Histórias em quadrinhos 4. Egito - História - Intervenção, 1956 - Palestinos - Narrativas pessoais - Histórias em quadrinhos 5. Entrevistas - Faixa de Gaza - Khan Younis - 6. Entrevistas - Faixa de Gaza - Rafah 7. Khan Younis - História - Século 20 - Histórias em quadrinhos 8. Massacres - Faixa de Gaza - Khan Younis - História - Século 20 - Histórias em quadrinhos 9. Rafah - História - Século 20 - Histórias em quadrinhos 10. Repórteres e reportagens 11. Violência - Faixa de Gaza - Rafah - História - Século 20 - Histórias em quadrinhos i. Título.

    10-07300 cdd-070.4499569409531

    Índice para catálogo sistemático:1. Conflito árabe-israelense: Faixa de Gaza :

    Reportagens em quadrinhos : Jornalismo 070.4499569409531

  • KHAN YOUNIS

  • Com certeza, meu amigo Mark tinha se dado bem.

    VOCÊ SE DEU

    BEM! Um ótimo salário como jornalista da ONU!

    Um apartamento de alto padrão em Jerusalém Ocidental, com uma varanda gigantesca!

    Uma vista incrível da—

    Vai começar tudo de novo

    !

    O celular dele!

    Está tocando sem parar desde que ele foi me buscar no Ben-Gurion!

    Outra crise!

    Hebron!

    Será que é seguro—??

    Será que é conveniente—?

    Será que o chefe ainda—?

    Por causa da e

    mboscada que—

    UM FIO DE ESPERANÇA

    3

  • Vou correndo

    até o carro da

    Christin

    e.

    COMO VAI, QUERIDA?

    Ele desliga.

    ..

    mas o ce

    lular toc

    a de nov

    o!

    A ligação é

    encerrada

    ...

    e ele l

    ogo te

    m que

    fazer

    outra!

    Ele deslig

    a, o celu

    lar toca!

    Ele atend

    e, desliga

    !

    Toca d

    e novo

    !

    E de nov

    o!E de

    nov

    A Christine da Reuter

    s.

    Não nos vemos desde—

    E agora fomos a

    um lugar qualquer

    para encontrar os

    amigos jornalistas

    dela.

    Eles estão sacudindo a poeira do dia, virando os primeiros drinques da noite, e tendo a velha conversa hermética de sempre sobre trabalho.

    Onde você

    esteve hoje

    ?

    Hebro

    n? A emboscad

    a?

    Quanto

    s morto

    s?

    Como isso a

    feta o—?

    4

  • E de nov

    Eles balançam

    a cabeça.

    Reviram os olhos.

    É sempre a mes

    ma coisa.

    O que tem no cardápio?

    Garçonete!

    Eles poderiam usar a mesma matéria do mês passado — ou até do ano passado — e quem perceberia?

    Incursões!

    Assassinatos!Atentado

    s!

    Porque já escreveram tudo que podiam sobre a Segunda Intifada, já fotografaram o choro de todas as mães, já citaram todos os porta-vozes mentirosos, já descreveram todas as humilhações — e para quê?

    Dois mortos!

    Cinco mortos!

    Vinte mortos!

    Uma semana atrás!

    Um mês atrás!

    Um ano atrás!

    Cinquenta anos atrás.

  • Mark chega

    atrasado, trazendo consigo o toque incessante do celular.

    Mas o assunto não é a emboscada.

    Ele está organizandoa festa!

    Você pode vir?

    Vai ter

    gente

    de toda

    parte!

    A festança de amanhã!

    Diplomatas!

    Funcionários da ONU! Banqueiros internacionais!

    Está todo mu

    ndo lá!É um acont

    ecimento!

    E não é só uma

    festa!E o amanhã já

    chegou!

    A CNN!

    O Financial Times!

    A Newsweek!

    Americanos!

    Holandeses!

    Britânicos!

    E, de forma surpreendente e talvez

    sem paralelos

    nesta temporada de pizzarias bom

    bardeadas e campos

    de refugiados destruídos por trator

    es, árabes descolados

    de Ramallah e judeus moderninhos de

    Tel Aviv comem a

    mesma salada e curtem juntos o so

    m do jazz pós-bop.

    Suecos!

    Austra

    lianos!

    Franceses!

  • As morenas bonitas que curtem a batida da música são palestinas ou israelenses?

    Eu não faço ideia, e um palestino que também está encantado com a cena fala comigo como se eu fosse uma plateia imaginária de amigos judeus...NÓS NÃO

    QUEREMOS JOGAR VOCÊS

    NO MAR.

    VAMOS CURTIR

    JUNTOS, CARA.

    Ahhh, até mesmo nas entranhas do conflito mais indissolúvel do mundo existe um fio de esperança a que se agarrar!

    Enquanto isso, o meu fio de esperança está quebrando.

    AS NOTÍCIAS

    NÃO SÃO NADA

    BOAS.

    O sujeito do Centro de Apoio à Imprensa Estrangeiradiz que o meu pedido de credencial foi rejeitado.

    O QUE VOCÊ FAZ NÃO SE ENCAIXA NA CATEGORIA DE COBERTURA EM TEMPO REAL.

    “Cobertura em tempo real”?

    Acho queele tem razão.

    O mundo já se esqueceu do que aconteceu na semana passada, e eu quero desenterrar uma história de meio século atrás? Ainda assim, ele disse que eu poderia tentar entrar em Gaza sem uma credencial de imprensa. Tudo ia depender dos soldados que controlam a passagem de Erez.

    O fio de esperança se regenera!

    E em Erez, a porta de entrada par

    a

    a Faixa de Gaza, eles m

    e

    deixam passar.