notas sobre ambiente, saude e educação

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165 Rev. Eletrônica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015. Universidade Federal do Rio Grande - FURG ISSN 1517-1256 Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Revista do PPGEA/FURG-RS Notas sobre ambiente, saúde e educação: contribuições pós-metafísicas Cleber Gibbon Ratto 1 Luciana Backes 2 Resumo: Partindo de uma análise das condições culturais contemporâneas, notadamente marcadas pela fragmentação dos saberes, desengajamento político e vazio dos projetos existenciais coletivos marcas do capitalismo globalizado o texto discute a validade do sentido de confiança como dispositivo ético de passagem do sentimento de vazio à existência criativa e da vida urbana como clichê à imaginação. Está apresentado na forma de três blocos de notas, a saber: Confiança e subjetividade que recoloca o ambiente como condição ontológica de constituição do humano enquanto instância imaginativa e de criação; Do público ao coletivo em saúde onde são apontadas as condições para a passagem de um projeto de normalização biopolítica à construção da saúde como bem coletivo e valorização da normatividade e; Educação ético-estética no qual se pauta a discussão sobre as possiblidades da educação como dispositivo de desmonte dos clichês existenciais contemporâneos e abertura para afirmação da singularidade. Em última análise, o artigo explora a sintonia entre o paradigma psicanalítico de Donald Winnicott e a afirmação do valor ético e estético da existência humana, numa perspectiva pós-metafísica. Palavras-chave: Donald Winnicott; ambiente; saúde; educação; subjetividade. Abstract: Based on an analysis of contemporary cultural conditions, notably marked by the fragmentation of knowledge, political disengagement and existential emptiness of collective projects brands of global capitalism the text discusses the validity of the sense of trust and ethical device passing feeling of emptiness to existence creative and urban life as a cliché to imagination. Is presented in the form of three notebooks, namely: Trust and subjectivity which places the environment as a condition of ontological constitution of the human body as imaginative and creative; From the public health to the collective are identified where the conditions for the passage of a standardization project biopolitics of health as the construction and enhancement of the collective good and normativity; education ethical-aesthetic agenda in which the discussion about the possibilities of education as a tool to dismantle the clichés and openness to contemporary existential affirmation of uniqueness. Ultimately, the article explores the harmony between the 1 Psicólogo. Doutor em Educação. Professor do Curso de Psicologia e pesquisador do Programa de Pós- Graduação em Educação do Centro Universitário La Salle UNILASALLE. [email protected] 2 Doutora em Educação pela UNISINOS. Professora do PPG Educação do UNILASALLE

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  • 165 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    Universidade Federal do Rio Grande - FURG

    ISSN 1517-1256

    Programa de Ps-Graduao em Educao Ambiental

    Revista Eletrnica do Mestrado em Educao Ambiental

    Revista do PPGEA/FURG-RS

    Notas sobre ambiente, sade e educao: contribuies ps-metafsicas

    Cleber Gibbon Ratto1

    Luciana Backes2

    Resumo: Partindo de uma anlise das condies culturais contemporneas, notadamente marcadas

    pela fragmentao dos saberes, desengajamento poltico e vazio dos projetos existenciais coletivos

    marcas do capitalismo globalizado o texto discute a validade do sentido de confiana como dispositivo tico de passagem do sentimento de vazio existncia criativa e da vida urbana como

    clich imaginao. Est apresentado na forma de trs blocos de notas, a saber: Confiana e

    subjetividade que recoloca o ambiente como condio ontolgica de constituio do humano

    enquanto instncia imaginativa e de criao; Do pblico ao coletivo em sade onde so apontadas

    as condies para a passagem de um projeto de normalizao biopoltica construo da sade

    como bem coletivo e valorizao da normatividade e; Educao tico-esttica no qual se pauta a

    discusso sobre as possiblidades da educao como dispositivo de desmonte dos clichs

    existenciais contemporneos e abertura para afirmao da singularidade. Em ltima anlise, o

    artigo explora a sintonia entre o paradigma psicanaltico de Donald Winnicott e a afirmao do

    valor tico e esttico da existncia humana, numa perspectiva ps-metafsica.

    Palavras-chave: Donald Winnicott; ambiente; sade; educao; subjetividade.

    Abstract: Based on an analysis of contemporary cultural conditions, notably marked by the

    fragmentation of knowledge, political disengagement and existential emptiness of collective

    projects brands of global capitalism the text discusses the validity of the sense of trust and ethical device passing feeling of emptiness to existence creative and urban life as a clich to

    imagination. Is presented in the form of three notebooks, namely: Trust and subjectivity which

    places the environment as a condition of ontological constitution of the human body as imaginative

    and creative; From the public health to the collective are identified where the conditions for the

    passage of a standardization project biopolitics of health as the construction and enhancement of

    the collective good and normativity; education ethical-aesthetic agenda in which the discussion

    about the possibilities of education as a tool to dismantle the clichs and openness to contemporary

    existential affirmation of uniqueness. Ultimately, the article explores the harmony between the

    1 Psiclogo. Doutor em Educao. Professor do Curso de Psicologia e pesquisador do Programa de Ps-

    Graduao em Educao do Centro Universitrio La Salle UNILASALLE. [email protected]

    2 Doutora em Educao pela UNISINOS. Professora do PPG Educao do UNILASALLE

  • 166 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    psychoanalytic paradigm of Donald Winnicott and the affirmation of the ethical and aesthetic value

    of human existence in a post-metaphysical perspective.

    Keywords: Donald Winnicott, environment, health, education, subjectivity.

    Confiana e subjetividade

    Donald Winnicott, psicanalista ingls que viveu entre os anos 1896 e 1971 constitui

    uma das mais importantes contribuies ao pensamento psicanaltico contemporneo. Um

    dos mais citados autores na rea, especialmente quando se trata de pensar o tema do

    ambiente na constituio da subjetividade, Winnicott foi um dos mais clebres integrantes

    e presidentes da Sociedade Britnica de Psicanlise, ao lado de Melanie Klein e Anna

    Freud. Integrou o Crculo de Bloomsbury, do qual fizeram parte, entre outros artistas e

    intelectuais britnicos, Virgnia Woolf, E. M. Forster e Lytton Strachey. Talvez por ter

    vivido de perto as experincias traumticas da Segunda Guerra Mundial, Winnicott foi um

    dos psicanalistas mais fortemente ocupados das vivncias de privao e desamparo

    carcatersticas do sculo XX.

    Durante a Segunda Guerra, Winnicott foi nomeado psiquiatra consultor

    do Plano de Evacuao Governamental de uma rea de recepo da

    Inglaterra e, segundo Clare Winnicott, que fazia parte de sua equipe como

    assistente social, o exerccio dessa funo teve um profundo efeito sobre

    ele. Winnicott teve que ver-se frente a frente, em larga escala e de modo

    concentrado, com o desfazimento dos lares, com a desintegrao macia

    da vida familiar e pde observar os efeitos, nas crianas e nos

    adolescentes, da separao e da perda. (DIAS, 2002, P.115)

    Mais que uma abordagem decorrente das revolucionrias formulaes freudianas

    do final do sculo XIX, quando a conscincia humana desalojada de seu lugar de

    soberania, Winnicott constitui um novo paradigma em psicanlise, justo por representar

    uma alterao na ortodoxia freudiana, fazendo incidir suas diferenas justo naquilo que

    constituiu a pedra de toque da institucionalizao psicanaltica ao longos dos anos: a

    sexualidade como fundamento pulsional do humano, o Complexo de dipo como fora

    organizadora da subjetividade e a pulso de morte como fora antinmica instituidora da

    dialtica subjetiva e cultural.

    sobretudo com Zeljko Loparic, um dos mais importantes pesquisadores da

    filosofia da psicanlise, que encontraremos a ideia de que a psicanlise passou por vrias

    reformulaes pelo prprio Freud e seus seguidores, efetuadas no mais das vezes sob

    presso de fatos clnicos. Nas pesquisas de Winnicott, contudo, o paradigma freudiano

  • 167 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    como tal entra em crise, dando lugar busca por um novo paradigma. (2006, p.4) Tal

    variao implica, antes de tudo e de maneira destacada, a afirmao da noo de

    singularidade, um modo de instituio subjetiva que se constitui nas primeiras

    experincias de relao com o ambiente, antes de qualquer significao sexual ou

    representao edipiana. Segundo Naffah Neto (2005):

    Para ele [Winnicott], muito antes de o beb constituir um si prprio, um

    self unificado e coeso, ele j se define por um estilo prprio de estar no

    mundo. Ou seja, o prprio precede o si, designado pela maneira peculiar e nica que cada beb possui de aglutinar uma herana biolgica

    e articul-la de forma viva perante aquele ambiente singular que lhe d

    sustentao. Esse prprio, inicialmente incipiente, fragmentrio, que Winnicott denomina gesto espontneo ou criatividade (no seu sentido

    mais primrio), indica o eixo principal que definir a singularidade

    daquele ser humano durante toda a sua vida e, no melhor dos casos, o

    ncleo de onde ele se desenvolver rumo maturidade. A interao entre

    essa criatividade primria do beb e o seu ambiente acolhedor produz

    experincia, a noo mais fundamental a todo o pensamento de

    Winnicott, j que a partir dela que toda a sua psicanlise ser descrita.

    (p.439, grifos meus)

    nessa perspectiva que o paradigma winnicottiano abre-se como uma nova

    interpretao da contrbuio psicanaltica ao pensar as formas de sofrer no mundo

    contemporneo, especialmente aquelas advindas de uma constante ameaa integridade

    subjetiva, numa sociedade do risco e da insegurana ontolgica (Guidens, Beck & Lash,

    1997; Giddens, 1991). O que est em jogo em nossas formas atuais de sofrer, e que bem se

    expressa nas crises que vivemos, seja naquilo que nomeamos como crise ambiental, crise

    da sade ou crise da educao, a impossibilidade de existir de modo criativo garantindo

    um sentido de continuidade existencial. A noo de risco (acidente, desastre) veio a

    caracterizar as sociedades ocidentais contemporneas. Como sociedade de risco, nossas

    formas de sociabilidade exibem uma infinidade de manifestaes: fala-se em grupos de

    risco, reas de risco, investimentos de risco, comportamentos de risco, e essas so

    expresses que se aplicam s mais diversas condies e situaes. (FIGUEIREDO, 2007,

    p.83)

    A crise ambiental to propalada entre ns, est ancorada basicamente na

    desconfiana em relao s condies de continuidade da existncia no planeta, implicando

    uma sensao quase ininterrupta de medo diante do futuro. A crise da sade, para alm da

    falta de condies infraestruturais de garantia da assistncia sanitria s populaes pobres

    do planeta, revela-se por uma crise de legitimidade diante do grande desenvolvimento

  • 168 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    tcnico-cientfico que no foi capaz de erradicar as marcas histricas da desigualdade

    econmica e social entre os povos. E a crise da educao, por sua vez, cada vez mais se

    apresenta como uma crise de sentido, onde a notvel ampliao do acesso aos

    equipamentos educacionais e s tecnologias correspondentes no acompanha,

    definitivamente, a ampliao das capacidades criativas capazes de oferecer respostas aos

    dramas existenciais crescentes numa cultura cada vez mais individualista, competitiva e

    homogeneizada.

    Na base de tais crises est um colapso generalizado no sentido de segurana

    ontolgica, no mais encontrada nas narrativas metafsicas do ser ou da subjetividade, mas

    diretamente dependente de experincias criativas das coletividades humanas, possveis

    apenas num ambiente favorvel onde o rosto e o olhar do outro (alteridade) so nosso

    nico alento diante do sem-fundo catico do mundo. O que est em jogo, portanto,

    diferentemente da restaurao das agncias histricas garantidoras de segurana (Deus, a

    Igreja, o Estado, o Legislador, o Pai, etc.) a construo francamente humana de

    ambientes de confiabilidade, onde o jogo com o outro nossa nica condio de

    continuidade da existncia e produo de sentido.

    Para Winnicott, quando um problema de integrao existencial no pode ser

    equacionado o que geralmente se relaciona com condies ambientais pouco acolhedoras

    e produtoras de desconfiana e parania o indivduo trava em seu processo de

    singularizao e, ento, adoece, vtima das significaes hegemnicas (clichs) injetadas

    na subjetividade sem o concurso da experincia. O vazio surge como uma espcie de

    resposta regressiva de dependncia que denuncia no a falta de algo j pressuposto ou um

    conflito e/ou fantasia insconscientes (edpicas, por exemplo), mas um movimento de existir

    que no se realizou. Com uma dimenso francamente existencialista, o gesto criativo ou

    espontneo assumido como marca distintiva do humano na psicanlise de Winnicott

    apresentado como condio ontolgica diretamente dependente das condies ambientais.

    do prprio existir, enquanto gestualidade criativa em jogo com alteridades tambm

    humanas, que nos tornamos o que somos. Mas esse existir singular depende diretamente de

    condies ambientais favorveis, acolhedoras da singularidade humana que busca se

    realizar na forma de uma biografia prpria.

    O que temos a uma braada de anatomia e de fisiologia e, acrescentado a isto, um potencial para o desenvolvimento de uma

    personalidade humana. Existe uma tendncia geral voltada para o

    crescimento fsico, e uma tendncia ao desenvolvimento na parte psquica

  • 169 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    da parceria psicossomtica; existem, tanto na rea fsica quanto na

    psquica, tendncias hereditrias, e estas, do lado da psique, incluem as

    tendncias que levam integrao ou conquista da totalidade. A base de

    todas as teorias sobre o desenvolvimento da personalidade humana a

    continuidade, a linha da vida, que provavelmente tem incio antes do

    nascimento efetivo do beb [...] (Winnicott, 1988, p.79)

    Experincia nesse contexto definida pelo prprio psicanalista como um trafegar

    constante na iluso, uma repetida procura da interao entre a criatividade e aquilo que o

    mundo tem a oferecer (Winnicott, 1987, p. 38) construindo um sense of trust [sentido de

    confiana] (Winnicott, 1971), que potencializa o gesto criativo do humano na busca por

    existir de modo singular e suprindo o vazio de sentido que est na base de toda ao. Tal

    sentido de confiana no est garantido por qualquer transcedncia metafsica, mas se

    constri na prpria cultura humana, atravs de jogos intercambiveis de oferta e acolhida

    da alteridade. Winnicott recusou explicitamente o naturalismo e o determinismo. [...]

    mudou os pressupostos essenciais da psicanlise tradicional, operando a transio do

    modelo naturalista e objetivante do ser humano, caracterstico da psiquiatria e da

    psicanlise tradicional (Freud, Klein, Bion, Lacan) para um modelo decididamente no-

    naturalista. (LOPARIC, 1999, p. 21)

    Assim, o ambiente aparacer nessa pespectiva psicanaltica como fundo

    inextorquvel da subetividade humana, mais que um fator, elemento ou dimenso. a

    prpria concepo da subjetividade moderna que est em questo numa clara

    ultrapassagem da metafsica da subjetividade oriunda do pensamento de Kant. A

    subjetividade pensada com Winnicott, a partir de sua teoria do amadurecimento humano,

    encontra grande sintonia com a perspectiva existencialista de Heidegger, sobretudo em sua

    postulao do cuidado enquanto categoria ontolgica. Tais aproximaes so largamente

    desenvolvidas por Loparic ao longo de seus trabalhos exploratrios. (Loparic, 1995, 2001a,

    2001b e 2007) Assim:

    h uma diferena filosfica fundamental entre os dois autores: enquanto Freud ainda pensa em termos da teoria da subjetividade, iniciada pelos

    filsofos por volta do sculo XVII e representada paradigmaticamente

    por Kant, Winnicott concebe os seres humanos numa chave terica

    completamente distinta, que em minha opinio tem uma grande afinidade

    com a ontologia fundamental de Heidegger, conforme apresentada em Ser

    e tempo (1927). (LOPARIC, 2001, p.51)

    Assim como em Heidegger, para Winnicott o homem uma emergncia tico-

    esttica do prprio mundo, resultante do cuidado. Concebido aqui o cuidado como ao

    poltica [sorge], espao de construo humana no encontro com o outro, uma tica do

  • 170 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    cuidado implica necessariamente a construo de espaos intersubjetivos. A inevitabilidade

    da angstia, como condio do prprio ser-no-mundo, no coaduna nessa perspectiva com

    a desconfiana ou o medo de existir que paralisa a acontecncia humana. Angustiar-se

    uma condio do prprio existir em meio aos outros. Angustiar-se, aqui, a prpria

    condio do mover-se, do estar vivo, do devir existencial. (RATTO, 2012)

    Diferentemente disso, a desconfiana ou o medo de existir, marca do capitalismo

    globalizado, constituem modos de controle biopoltico que impedem a existncia,

    despotencializam a singularidade humana e nos relegam mera reproduo dos clichs

    existenciais, imagens (modelos) de vida pr-fabricadas pelas grandes mquinas do

    capitalismo atual (miditicas, econmicas, culturais, subjetivas), destinadas ao consumo

    pelas massas. Quanto mais se acentuam a sensao de insegurana e medo no contexto

    ambiental contemporneo caracterizado basicamente pela vida nas grandes cidades

    mais nos vemos privados de experincias efetivamente criativas, aquelas que para serem

    vividas dependem de um ambiente sustentador e confivel, capaz de nos incitar aventura

    (angustiante) do encontro com a alteridade.

    Trata-se, segundo Winnicott, de um espao potencial para emergncia da

    criatividade originria, esse ser-no-mundo e ser-para-a-morte em termos existencialistas,

    que nos caracteriza. Localizei esta importante rea de experincia no espaco potencial

    entre o indivduo e o ambiente, que inicialmente tanto junta quanto separa o beb da me

    quando o amor materno, exercitado ou tornado manifesto em termos de confiabilidade

    [reliability] humana, que de fato d ao bebe um senso de confianca [a sense of trust or of

    confi dence] no fator ambiental. () O espaco potencial entre o beb e a me, entre a

    crianca e a famlia, entre o indivduo e a sociedade depende da experincia que leva

    confianca. Ele pode ser visto como sagrado pelo indivduo na medida em que aqui que

    ele experimenta o viver criativo. (Winnicott, 1971, p.74-75). Na base da constituio

    subjetiva como singularidade existencial, encontra-se um senso de confiana no prprio

    ambiente, uma confiana na possibilidade de existir e ter seu gesto acolhido pelo olhar do

    outro.

    Zigmunt Bauman (2009), ao examinar a questo do medo nas sociedades

    contemporneas, especialmente nos grandes centros urbanos palco privilegiado das

    nossas novas formas de sofrer afirma que o medo reconhecidamente o mais sinistro

    dos demnios que se aninham nas sociedades abertas de nossa poca. Mas a insegurana

    do presente e a incerteza do futuro que produzem e alimentam o medo mais apavorante e

    menos tolervel. (BAUMAN, 2007, p.32 grifos meus) Entenda-se por sociedades

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    abertas as coletividades organizadas em torno do desengajamento e do enfraquecimento do

    lao social. Formas de sociabilidade bastante precrias, marcadas pela partilha de projetos

    fragmentados e fugazes, nada semelhantes a projetos existenciais coletivos que possam nos

    encorajar ao agir criativamente. A algo semelhante Anthony Giddens (1991), fortemente

    influenciado por Winnicott, refere-se ao examinar o desencaixe (ou desengajamento) tpico

    das transformaes do final do sculo XX. Diz ele: Que me seja permitido agora

    considerar o desencaixe dos sistemas sociais. Por desencaixe me refiro ao `deslocamento

    das relaes sociais de contextos locais de interao e sua reestruturao atravs de

    extenses indefinidas de tempo-espao. (p. 29) O ambiente potencialmente sustentador de

    experincias de singularizao existencial parece ser substitudo muito frequentemente por

    ambincias frgeis, pouco convincentes para emergncia de um sentido de realidade e

    confiana que nos faa querer continuar existindo.

    Grosso modo, as condies ambientais da atualidade no parecem favorveis

    construo de um senso de confiana capaz de nos incitar existncia. Vivemos sob os

    signos da insegurana, do medo, da desconfiana em relao a tudo e a todos. O que mais

    amedronta a ubiquidade dos medos; eles podem vazar de qualquer canto ou fresta de

    nossos lares e de nosso planeta. Das ruas escuras ou das telas luminosas dos televisores. De

    nossos quartos e de nossas cozinhas. De nossos locais de trabalho e do metr que tomamos

    para ir e voltar. De pessoas que encontramos e de pessoas que no conseguimos perceber.

    De algo que ingerimos e de algo com o qual nossos corpos entraram em contato.

    (BAUMAN, 2008, p.12)

    nesse sentido que a psicanlise contempornea se v desafiada a pensar novas

    formas de interveno no campo social, para alm da subjetividade privatizada oriunda da

    metafsica moderna, favorecendo condies ambientais capazes de potencializar nossa

    confiana e vontade de continuidade da existncia, em contraste com a pobreza das formas

    de vida propagadas pelo capitalismo globalizado. No se pratica psicanlise no vcuo

    cultural e histrico e muito menos contra as foras da histria. A psicanlise no uma

    seita, e, menos ainda, uma seita conservadora e reformista. preciso apoiar-se nos

    fenmenos e processos da vida da vida cotidiana para operar com alguma eficcia.

    (FIGUEIREDO, 2007, p.85)

    O que tero a ver com isso, a sade e a educao enquanto prticas socias?

    Seremos capazes de imaginar formas de vida efetivamente criativas no ambiente das

    grandes cidades, ultrapassando o clich da vida urbana como misto repetitivo de excitao

    e consumo?

  • 172 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    Do pblico ao coletivo em sade

    A sade enquanto prtica social tem servido tradicionalmente ao esptiro da

    normalizao biopoltica, tpica da modernidade no Ocidente. Marcada por uma nova

    forma de racionalidade no governo das populaes humanas, a Sade Pblica nasce junto

    com o Estado Moderno, buscando produzir homogeneidade social com vistas ao

    estabelecimento de uma nova economia poltica, pautada no gerenciamento de grandes

    massas humanas. Enquanto na cultura da Antigidade a relao entre as condies de

    sade e os fatores sociais no foi priorizada, no Renascimento essa relao ganha

    importncia, marcando a emergncia de uma medicina social. (Rosen, 1983; Foucault,

    1999) Tal fenmeno se deu de diferentes maneiras conforme os pases, compartilhando, no

    entanto, a moderna poltica de normalizao orientada por uma racionalidade

    esquadrinhadora do espao social, com vistas ao controle dos movimentos das populaes.

    Trata-se do nascimento de uma biopoltica. Na Frana e na Inglaterra o propsito foi o

    controle da natalidade e morbi-mortalidade, alm da preocupao com o aumento

    populacional, sem qualquer interveno inicial efetiva ou organizada sobre as condies

    sanitrias. Entretanto, na Alemanha que se desenvolver, por primeira vez, uma prtica

    sanitria objetivando a melhoria das condies de sade da populao. (Foucault, 1999)

    A concepo e operao de uma chamada polcia sanitria transformou-se

    progressivamente numa prtica da administrao pblica, ganhando fora especialmente na

    Alemanha. No comeo do sculo XIX os diferentes estados alemes j haviam incorporado

    todas as atividades para o bem-estar da populao como norma que cabia ao Estado.

    Portanto, com a organizao de um saber mdico estatal, a normalizao da profisso

    mdica, a subordinao dos mdicos a uma administrao central e, finalmente, a

    integrao de vrios mdicos em uma organizao mdica estatal, tem-se uma srie de

    fenmenos inteiramente novos que caracterizam o que pode ser chamada a medicina de

    Estado (FOUCAULT, 1999, p.84)

    Estamos diante de uma reorganizao dos poderes, com o propsito de instituir os

    Estados Modernos em sua funo de propagao da ideologia liberal, elemento chave de

    expanso do capitalismo. Assim, o interesse pela sade da populao, e isso no est muito

    distante do movimento de escolarizao na modernidade, d-se em relao direta com o

    interesse por governo das cidades e instaurao organizada das foras produtivas.

    A necessidade de constituir a cidade como unidade responde a interesses

    polticos e econmicos, na medida em que a cidade se torna um lugar

  • 173 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    importante para o mercado e para a produo, ao mesmo tempo em que o

    aparecimento de uma classe operria pobre (o proletariado) aumenta a

    tenso poltica entre os diferentes grupos que integram a cidade. a

    necessidade de controlar esta concentrao de uma grande populao em

    um s lugar que leva escolha de um modelo de interveno, que

    Foucault (1999) denomina o modelo da peste. Ele considera a existncia de dois grandes modelos de organizao mdica na histria

    europia: o modelo suscitado pela lepra e o modelo suscitado pela peste.

    No primeiro, o doente excludo fisicamente, mandado para fora da

    cidade, em uma tentativa de purificao do espao urbano. No segundo,

    as pessoas permanecem em suas casas, mas so meticulosamente

    observadas e vigiadas, em um esquadrinhamento e controle permanente

    dos indivduos, em um modelo mais prximo revista militar do que

    purificao religiosa. (RAMMINGER, 2008, p.72)

    No Brasil, tal tendncia marca as perspectivas de sade pblica desde a Primeira

    Repblica, na forma de uma medicina sanitria capanhista, higienista, normalizadora e de

    inspirao cientificista. Na Primeira Repblica, em torno desse modelo se estruturou o

    discurso dominante na poltica de sade, simultaneamente s polticas de urbanizao e de

    habitao. Consolidou-se uma estrutura administrativa de sade centralista,

    tecnoburocrtica e corporativista, isto , ligada a um corpo mdico em geral proveniente da

    oligarquia de origem agrria que dominou a Repblica Velha. (LUZ, 1991, p.79) Importa

    destacar que esses traos configuraram o perfil autoritrio que ainda hoje caracteriza, em

    grande parte, o conjunto das instituies de sade pblica e dos sistemas de decises em

    poltica de sade no Brasil. (idem)

    As polticas de sade, de modo geral, instalaram-se sob a influncia terica e

    programtica da medicina social urbana francesa e da medicina de estado alem, mas foi

    sobretudo com a influncia do modelo ingls (decorrente do avano industrial capitalista)

    que se constituram efetivamente como um controle da sade e do corpo das classes mais

    pobres para torn-las mais aptas ao trabalho e menos perigosas s classes ricas ()

    eassistncia mdica ao pobre, controle da sade da fora de trabalho e esquadrinhamento

    geral da sade pblica (FOUCAULT, 1999, p.97)

    Assim, a histria da sade pblica remonta ao modelo fisicalista, biolgico e

    organicista tpico da racionalidade cientfica moderna, onde o modelo da normalidade

    biolgica estatstica constituiu o parmetro hegemnico de julgamento acerca dos limites

    entre sade/doena. A sade , assim como a educao, um campo problemtico,

    complexo, onde diferentes modalidades de discurso, com fundamentos epistemolgicos

    diversos e com origens histricas particulares (BIRMAN, 2005, p.11) entram em

    confronto e disputa.

  • 174 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    Uma marca caracterstica de tal perspectiva a dicotomizao

    subjetividade/ambiente, a fragmentao dos saberes e a supervalorizao da racionalidade

    tcnica. O modelo sanitrio mdico, com a supervalorizao da tcnica em detrimento das

    diferentes formas de produo de sentidos acabou por soterrar uma pluralidade de

    discursos e prticas sociais em torno das questes sanitrias. Em nome da cincia moderna

    vimos marginalizados diferentes segmentos sociais, com a consolidao de prticas

    higienistas que, ao silenciarem dimenses simblicas e histricas na compreenso das

    condies de vida e sade das populaes, nos levaram a crer que no exista uma escolha,

    antes de tudo, poltica, ideolgica e tica nas prticas sanitrias. (Birman, 2005)

    Numa tentativa de ruptura com a tradio naturalista e pretensamente neutra da

    Sade Pblica foi que o movimento da reforma sanitria, no somente no Brasil mas em

    toda a Amrica Latina, coincidente com as lutas populares por abertura democrtica,

    favoreceu a emergncia de um novo campo de saberes da sade no mais da massa

    informe da populao, mas das singularidades culturais, polticas, sociais e econmicas que

    compem as sociedades: o campo da Sade Coletiva. Desse modo, o campo de saberes da

    Sade Coletiva, gestado nas lutas populares das dcadas de 70 e 80 no pas, buscou

    problematizar as concepes e prticas da Sade Pblica, questionando a hegemonia dos

    discursos biolgicos e incluindo as dimenses tica, esttica e poltica na discusso sobre

    as condies de sade da populao, alm de buscar ultrapassar a fragmentao dos

    saberes em especialismos tcnico-cientficos. Nessa esteira, a oposio

    subjetividade/ambiente ser fortemente questionada, buscando-se constituir um campo de

    saberes complexos, onde ecologias ambientais, polticas e subjetivas precisam ser pensadas

    indissociavelmente (GUATTARI, 2005), com importantes repercusses sobre o conceito de

    sade.

    A reforma sanitria implicou a luta no apenas por uma nova organizao dos

    poderes sobre a sade enquanto poltica social, sua defesa como direito de cidadania, como

    tambm uma reformulao na prpria concepo de sade, tributria das epistemologias

    positivistas, do mecanicismo tcnico-cientfico e da razo de Estado investidora dos

    saberes biomdicos. De modo que o lema `Sade, direito de cidadania, dever do Estado,

    implica uma viso desmedicalizada da sade, na medida em que subentende uma definio

    afirmativa (positiva), diferente da viso tradicional, tpica das instituies mdicas, que

    identifica sade com ausncia relativa de doena. (LUZ, 1991, p.88)

    O que se colocou em cena na segunda metade do sculo XX, no mbito das

    questes de sade, foi uma profunda redefinio do fenmeno sade/doena, implicando

  • 175 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    um questionamento radical das epistemologias que sustentam sua compreenso.

    No contexto dessa nova defmio, a noo de sade tende a ser

    socialmente percebida como efeito real de um conjunto de condies

    coletivas de existncia, como expresso ativa - e participativa -do

    exerccio de direitos de cidadania, entre os quais o direito ao trabalho, ao

    salrio justo, participao nas decises e gestes de polticas

    institucionais etc. Assim, a sociedade tem a possibilidade de superar

    politicamente a compreenso, at ento vigente ou socialmente

    dominante, da sade como um estado biolgico abstrato de normalidade

    (ou de ausncia de patologia). (LUZ, 1991, p.88)

    A psicanlise, por sua vez, nascida na aurora do sculo XX, no passa ao largo de

    tais movimentos. Isso se deve ao fato de a psicanlise freudiana ter sido construda nos

    moldes de uma cincia natural e Freud no ter jamais abandonado a idia de assentar as

    suas descobertas na biologia, tendo mantido com essa cincia, em muitos aspectos da

    teoria, um vnculo estreito. (DIAS, 2002, p.136)

    Apesar de reconhecer e reverenciar o mrito de Freud ao superar as hipteses

    organicistas da psiquiatria de sua poca e as posies ambientalistas dos psiclogos

    acadmicos, Winnicott (1983) tem clareza das bases epistemolgicas do pensamento

    freudiano e as aponta com nitidez, encaminhando sua posio diferencial em relao a este.

    Freud a lida com a natureza humana em termos de economia, simplificando

    deliberadamente o problema, com o propsito de estabelecer uma formulao terica.

    Existe um determinismo implcito em todo esse trabalho, a premissa de que a natureza

    humana pode ser examinada objetivamente e que podem ser a ela aplicadas as leis

    conhecidas em fsica. (p. 20)

    justamente esse determinismo biolgico, pressuposto por uma economia

    pulsional presente no pensamento terico freudiano, que Winnicott recusar, ao optar por

    assentar sua psicanlise na experincia clnica direta, distanciando-se dos modelos

    metapsicolgicos. A abertura fenomenolgica do psicanalista ingls permitiu-lhe

    aproximar-se de uma concepo de sade bastante sintnica com as formulaes da campo

    da sade coletiva, afastando-se dos fundamentos mecaniscistas e funcionalistas da tradio

    psicanaltica.

    (...) preciso admitir o fato de que o clima da pesquisa neurolgica no

    final do sculo XIX induzia Freud a conceituar a psique humana e seu

    funcionamento nos moldes da mquina; da as suas teorias do aparelho

    psquico, das catexias energticas e das estruturas intrapsquicas atravs

    das quais ele figurou, diagramaticamente, o ego, o id e o superego; e

  • 176 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    mais, o esquema topogrfico do consciente, do pr-consciente e do

    inconsciente. (KHAN, 2000, p. 41)

    no contexto de uma crtica s bases funcionalistas e s pretenses metafsicas da

    psicanlise que Winnicott formula sua singular concepo de sade, na qual o que est em

    jogo, fundamentalmente, o sentimento de continuidade da existncia como viver criativo

    sustentado pelo ambiente, e no a equilibrao de foras pulsionais. Pautado por uma

    ampla experincia clnica com crianas em situao de extrema vulnerabilidade e em meio

    aos psiquiatras de seu tempo, Winnicott, um pediatra de formao, fez de perto a

    experincia da inadequao de se pensar a sade e a doena em termos puramente

    organicistas. Ele parece ter sido, muito cedo, despertado para o fato de que a sade, e mais

    do que a sade, o sentir-se vivo, no pode resumir-se ao bom funcionamento dos rgos e

    das funes, e que separar o fsico do psquico um procedimento intelectualmente

    possvel, mas altamente artificial. (DIAS, 2002, p.112)

    Sua concepo de sade est muito prxima da concepo de normatividade

    oriunda do pensamento de Georges Camguilhem, importante referncia no campo da

    Sade Coletiva. Para Winnicott a sade consiste na condio singular de existncia, onde

    se pode afirmar um modo particular de enfrentar as adversidades e viver criativamente. A

    sade consiste em sentir-se vivo, real e capaz de gestualidade espontnea. Com esse

    horizonte a normatividade enquanto valor existencial ultrapassa o valor na normalidade

    como padro estatstico. Alm disso, uma contemporaneidade os aproxima. Resistindo

    cada um por seu lado durante a Segunda Guerra Mundial, Donald Woods Winnicott e

    Georges Canguilhem jamais se encontraram efetivamente. Enquanto o psicanalista agia

    para proteger crianas em abrigos antiareos ou participava dos debates sobre a criana na

    sociedade britnica de psicanlise, o filsofo lutava nos subterrneos da resistncia e

    preocupava-se com o conceito jurdico de norma e com as doenas da humanidade.

    (ESTELLITA-LINS, 2007, p.384)

    A definio de normatividade em Canguilhem (2006) aponta na direo de uma

    valorao singular da experincia feita por cada organismo vivo, segundo a qual a vida

    ganha um valor prprio, no redutvel aos padres sociais da normalidade. Essa potncia

    normativa de cada organismo vivo consiste na sua potncia de sade, condio de

    adaptao e recriao das normas ante as contigncias que se lhe apresentam. Para

    Canguilhem a vida no indiferente s condies nas quais ela possvel, (...) a vida , de

    fato, uma atividade normativa. Em filosofia, entende-se por normativo qualquer

  • 177 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    julgamento que aprecie ou qualifique um fato em relao a uma norma, mas essa forma de

    julgamento est subordinada, no fundo, quele que institui as normas. No pleno sentido da

    palavra, normativo o que institui as normas (CANGUILHEM, 2006, p.86)

    com Canguilhem e Foucault que encontraremos no mbito da sade coletiva a

    possibilidade de pensar a sade como valor existencial e no apenas como valor estatstico.

    Trata-se de reconectar a existncia humana ao seu carter tico-esttico, devolvendo-lhe a

    potncia criativa e agonstica de construir-se a si prpria, no jogo rduo e interminvel de

    sua prpria ultrapassagem. Tanto para Canguilhem como para Foucault o limite entre o

    normal e o patolgico se torna impreciso, e s quem deveria determin-lo aquele que

    vive a experincia de uma vida (...) Assim, algum se torna doente somente em relao a

    si mesmo, e no em relao a uma mdia ou a alguma freqncia estatstica, ou a algum

    comportamento esperado socialmente. O doente sente sua potncia diminuda em relao a

    si mesmo, e isto que deveria ser o ponto de ancoragem das prticas de sade.

    (RAMMINGER, 2008, pp.89-90)

    Tal perspectiva coaduna com as formulaes da psicanlise ps-metafsica de

    Winnicott, na qual o cuidado aparece como condio da sade, para alm da teraputica

    hermenutica ou estruturalista. Antes de tudo, trata-se de um modo de estar junto, de

    acompanhar, de existir-com-o-outro, sustentando sua capacidade imaginativa de novos

    mundos e novas formas de vida. Nesse sentido, o cuidar aparece como interveno

    teraputica e, normal e patolgico noes cientficas modernas do lugar sade e

    doena, noes comuns, como experincias existenciais.

    Com Winnicott a questo do tratamento psicanaltico recebe um novo alento e novos ares. A reflexo sobre o cuidado materno abre caminho

    para uma ruptura com a ideia consagarda de que os efeitos teraputicos da

    psicanlise consistem na interveno interpretativa (hermenutica ou

    estruturalista). A prtica psicanaltica desde Freud consagra o ato

    psicanaltico como seu padro-ouro. No lugar de uma interpretao que

    desata, ilumina, reorganiza, ressignifica, escande ou pontua, Winnicott

    concebe um processo intensivo e inesgotvel, crescendo por justaposio

    e tecido na continuidade trata-se do cuidar como interveno teraputica. (ESTELLITA-LINS, 2007, p.382-383)

    nesse sentido que as contribuies da psicanlise de Winnicott abrem um

    promissor horizonte para pensar a articulao entre ambiente e sade na cultura atual. O

    mal-estar contemporneo responde, como vimos na seo anterior, ao sentimento crnico

    de desconfiana que marca nossas relaes num mundo desamparado pela falncia das

    grandes concepes metafsicas. Entretanto, tal desamparo no pode significar uma ruptura

  • 178 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    completa com a tradio, mas uma abertura para sua recriao e para o embate com o

    problema crucial da continuidade da existncia, ao modo como Heidegger pensou seu

    prprio tempo. Desde seu encontro com Hlderlin e Nietzsche, Heidegger foi dominado

    praticamente pela ideia de superao da metafsica. Mas isto no deveria significar uma

    ruptura com a tradio mas sim um tomar a si a tarefa do pensamento que ela nos impe.

    (STEIN, 1997, p.60)

    No plano social, os problemas com a seguranca ontolgica tem consequncias

    bastante importantes. V-se a emergncia de uma forte angstia existencial, um sinal de

    alerta que, no raro, se torna contnuo por sobre os sentimentos crnicos de vazio.

    Observamos, igualmente, movimentos individuais e coletivos de entrega indefesa

    (melanclica) e /ou triunfante (manaca) ao incerto e ao desconectado; de tais

    movimentos e na lista vamos do unsafe sex e da promiscuidade aos esportes radicais

    esperam-se, ao que parece, efeitos excitantes, mas no fundo jaz a questo da desconfiana,

    aqui colocada de forma paradoxal: confiar-se ao no-confivel como modo de se defender

    pela via da negao da desconfianca bsica insuportvel num ambiente sem

    sustentao. (FIGEUIREDO, 2007, p.84) Alm disso, podemos nos reportar a outros

    sintomas sociais que desafiam as polticas e prticas da sade e da educao no mundo

    atual: a epidemia dos comportamentos adictos e compulsivos, situados na mesma esteira

    daquilo que se d alm do princpio de prazer. Finalmente, a apatia, a `falta de apetite

    existencial, a pouca disposio para os investimentos afetivos que podem tornar a vida

    mais vibrante e `encantada, do testemunho da mesma desconfiana bsica. No caso, essa

    desconfiana se traduz em uma atitude acomodada e conservadora. Enfim, estamos diante

    de um quadro onde a desproporo entre excitao e continncia se alastra, fazendo da

    desconfiana um dos ingredientes bsicos do mal-estar contemporneo e produzindo (...)

    uma srie de movimentos psquicos: alguns sero as manifestaes da prpria

    desconfiana, enquanto outros figuram como defesas contra ela. (FIGUEIREDO, 2007,

    p.85)

    Desse modo, os velhos e ainda inescapveis temas da sade pblica do lugar a

    uma preocupao com a sade como evento coletivo, envolto em toda a rede de sentidos e

    afetos que lhe constituem. Para alm da gesto biopoltica da normalidade populacional, a

    discusso da sade coletiva abre-se aos temas do mal-estar na atualidade, hoje assumido

    como condio subjetiva e cultural bsica de desamparo e desengajamento. Assim, pensar

    a produo de sade numa perspectiva ps-metafsica no implica recair num

    individualismo esttico exacerbado que abomina toda e qualquer forma de projeto coletivo.

  • 179 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    Antes, implica recriar as condies ambientais, sobretudo as condies de vida nas

    grandes cidades, para que uma imaginao criativa de outros modos de vida e uma

    potncia de normatividade possam emergir.

    Trata-se de recriar o prprio papel do Estado, assumido como garantidor da res-

    pblica, favorecedor do espao da ao poltica, e no apenas como gerente biopoltico das

    liberdades individuais. Numa instigante aproximao entre o pensamento de Foucault e

    Winnicott, com aquilo que compartilham de uma vontade criativa dos modos de vida,

    Mizrahi (2010) aponta na direo dessa necessria reconstruo do papel do Estado na

    contemporaneidade.

    Nesse sentido, podemos entender que o Estado Social no foi apenas um mero instrumento de controle e apropriao das foras vitais, mas

    tambm ofereceu, aqui e ali, um certo lugar para a sua manifestao

    criativa: ajustou-se a certas reivindicaes compartilhadas, permitindo

    aquele interjogo transicional no qual a objetividade das coisas

    parcialmente alterada pela ao dos sujeitos. Ao mesmo tempo, ofereceu

    estabilidade suficiente para que as pessoas exercessem sua capacidade

    crtica na poltica sem medo de abandono ou retaliao. esse o quadro

    que hoje se desfaz, deixando o sujeito, muitas vezes, temeroso demais

    quanto ao prprio lugar para que arrisque o gesto espontneo. (MIZRAHI, 2010, p.201)

    E quando falamos de recriao das funes do Estado, referimo-nos ao jogo

    inesgotvel de recriao humana de suas instituies, historicamente refns da tcnica e da

    racionalidade burocrtica. A sade e a educao so, em grande medida, locus

    privilegiados para pensar a reinveno das prticas e dos modos de existir e conviver. Isso

    implica, entretanto, o reconhecimento da materialidade dos processos envolvidos, para

    alm de qualquer pretenso metafsica. As prticas sociais em sade e educao so

    produzidas por ns, gente de carne e osso, em meio s agruras de um mundo em desalento.

    O que poder a Educao diante disso?

    Educao tico-esttica

    Assim como a sade pblica, a educao na Modernidade tributria do projeto de

    autonomia humana, caracterstico da Ilustrao. A modernidade se define, basicamente,

    pelo advento da razo esclarecida, instituda em movimentos culturais, polticos e

    intelectuais desde o sculo XVI. Nessa esteira, a razo ilustrada pretendeu-se ordem e

    medida de todas as coisas e trabalhou pela consumao de uma forma oficial de

    constituio da verdade, assegurada pelos princpios da tcnica: a Cincia. A cincia

  • 180 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    moderna, por sua vez, corolria da duplicao emprico-racionalista do sujeito (Foucault,

    2002), torna-se a poltica privilegiada de produo das verdades, funcionando a partir da

    como a principal agncia de produo dos saberes. Indicar a razo instrumental como

    marca predominante da modernidade, implica referir-se sua impregnao pelo sonho da

    Aufklrung, do esclarecimento que permite melhor governar.

    Curiosa e ironicamente, o projeto da Ilustrao viu-se subsumido ao imprio da

    tcnica, servio da expanso capitalista.

    Da o formidvel e incessante desenvolvimento da tcnica preso ao crescimento econmico e largamente financiado por ele. Da tambm o

    fato de que o aumento do poder dos homens sobre o mundo tornou-se um

    processo absolutamente automtico, incontrolvel e at mesmo cego, j

    que ultrapassa asa vontades individuais conscientes. simplesmente o

    resultado inevitvel da competio. Neste ponto, contrariamente s Luzes

    e filosofia do sculo XVIII que, como vimos, visavam emancipao e

    felicidade dos homens, a tcnica realmente um processo sem

    propsito, desprovido de qualquer espcie de objetivo definido: na pior

    das hipteses, ningum mais sabe para onde o mundo nos leva, pois ele

    mecanicamente produzido pela competio e no de modo algum

    dirigido pela conscincia dos homens agrupados coletivamente em torno

    de um projeto, no seio de uma sociedade que, ainda no sculo passado,

    podia se chamar res publica, repblica, etimologicamente negcio ou

    causa comum (Ferry, 2007, p.247)

    Diante de uma crise generalizada dos fundamentos metafsicos sobre os quais

    repousavam as mais estimadas crenas educacionais da civilizao ocidental, a Educao

    se v forada a reinventar suas prticas, encontrando justificativa no mais nas pretenses

    civilizatrias universalizantes, mas nas prprias urgncias de um mundo cada vez mais

    desafiador, onde crescem o individualismo e a falta de sentido existencial coletivo. Para

    tanto, precisamos considerar as novas oportunidades de continncia e de ligao que esse

    mesmo regime social engendra. Isso requer observao no preconceituosa e pesquisa.

    Novas subjetividades e novas formas de existencia social, novos dispositivos de

    estimulao e de continncia e no apenas `novas patologias precisam ser conhecidos

    e considerados. (FIGEUIREDO, 2007, p. 85)

    Abdicar dos fundamentos metafsicos que at ento orientavam o projeto

    emancipatrio do homem moderno, entretanto, no dever servir como uma carta de

    alforria para toda e qualquer exigncia de rigor tico, validade coletiva e definio

    programtica. Na educao, especialmente, a necessidade de continuar pensando,

    tensionados por todas as mudanas da racionalidade, muito antes de ser um exerccio

    tranqilizador e sereno, um trabalho rduo de tentar conciliar a necessria justificao da

    ao educativa com um mundo onde os ideais metafsicos de liberdade e emancipao j

  • 181 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    no encontram bases polticas e sociais para sua sustentao. A possibilidade de liberdade

    ou criatividade existencial que se nos oferece se d na condio de prtica agonstica, na

    relao com os outros e em meio s contingncias.

    Essa dimenso francamente tico-esttica da existncia e dos projetos

    educacionais, no entanto, no pode prescindir de um horizonte existencial comum, sob

    pena de recairmos num exacerbado e vazio esteticismo. Conforme afirma Hermann (2005):

    A perspectiva do homem tornar-se criador de leis e costumes, ao produzir

    esteticamente um estilo de vida, traz em si uma tenso constitutiva: por

    um lado, requer a idia de construo e originalidade e com freqncia

    tambm oposio s regras morais, e por outro lado, requer tambm uma

    abertura a um horizonte de significados, uma forma de vnculo social

    (caso contrrio, a autocriao recairia no individualismo exacerbado). O

    reconhecimento dessa tenso condio necessria para no

    permanecermos no exagero da moralidade abstrata ou do esteticismo

    superficial. (p.110)

    nesse sentido que queremos pensar a necessria construo de prticas

    educativas tico-estticas, onde os limites entre crise ambiental, sanitria e educacional

    sejam definitivamente borrados, para dar lugar sade e educao como prticas

    ecosficas (GUATTARI, 2005). E isso implica, necessariamente, uma nova forma de

    conceber o valor do ambiente-mundo, o sem fundo de onde emergimos como conscincia e

    seres de linguagem, para o que contribui de modo bastante frtil o pensamento de Donald

    Winnicott. O reconhecimento da necessidade de um ambiente que, por um lado, resista

    com estabilidade s expresses de vitalidade do indivduo e, por outro, se deixe

    transformar por seus gestos nos permite pensar de outra forma as instituies sociais.

    (MIZRAHI, 2010, p.204) Na perspectiva psicanaltica ora sustentada, v-mo-nos diante do

    desafio de empreender transfiguraes de nossas formas institucionais, dando margem a

    novas prticas e saberes. Assim, a constncia e a permanncia [das instituies] no

    necessariamente congelam a criatividade, mas podem servir-lhe de base e sustentao.

    Com isso, estamos mais livres para pensar as polticas sociais sem temermos, em princpio,

    a sua transformao em prticas que desconsiderem a singularidade, a fluidez e a

    multiplicidade da vida. (idem)

    O trabalho do qual a educao no se pode furtar o do efetivo exerccio do

    pensamento ante a falncia de nossos consolos metafsicos, mas num mundo onde o

    reconhecimento do rosto do outro nossa prpria condio de existncia. J em 1931

    Heidegger comenta que a superao da metafsica inclui a consumao da metafsica e esta

    no implica qualquer retorno a Kant ou Goethe, Plato ou Aristteles. Mas um

  • 182 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    compreender daquilo que hoje . No seu encontro com Nietzsche esta tarefa da superao

    da metafsica se tornou um desafio para pensar de modo radical que toda metafsica

    deveria ser questionada e, com isto, tambm a cincia e mesmo o conceito de verdade.

    (STEIN, 1997, pp.60-61)

    Tal perspectiva no implica, contudo, um desconhecimento do horizonte de

    vida humana comum. Nossa condio de ser-no-mundo nos obriga inalienvel tarefa de

    enfrentar-nos com o olhar do outro, em suas distncias e diferenas. A defesa da

    autonomia da criao do eu como se fosse a autonomia da criao artstica, que no tem

    nenhuma finalidade exceto ela mesma, resulta num processo de estetizao que projeta um

    ideal de vida, mas que exclui a relao com o outro. (HERMNANN, 2008, p.26)

    Em termos winnicottianos, a continuidade de nossa existncia depende

    diretamente de condies ambientais favorveis, sustentadoras, capazes de excitar e conter

    nosso impulso vital. Tais condies, no entando, no esto garantidas a priori, mas se

    constrem, isto sim, no jogo entre estados de inetgrao e no-integrao perptuos, onde a

    diferena e a familiaridade so termos inextorquveis de uma mesma e insolvel equao.

    Com a relevncia dada por Winnicott ao ambiente e sua compreenso a respeito de suas

    funes de facilitao, o autor no nos deixa mais confundir o sofrimento solitrio do

    sujeito em sua doena com o viver criativo e afirmativo. Este ltimo sim desponta como

    resistncia, mas ao mesmo tempo sempre dependente da presena, nem sempre possvel,

    de um outro acolhedor. (MIZRAHI, 2010, p.131)

    Os desafios de uma educao em tempos ps-metafsicos nos faz reencontrar o

    prprio dilema da continuidade do ser em um mundo despedaado. Restamos ns, uns aos

    outros, como possibilidade de afirmar novas formas de vida e novos horizontes para

    continuidade da vida no planeta.

    Uma educao tico-esttica apoiada em estratgias da arte de viver, como ateno aos casos particulares, s emoes e sabedoria prtica,

    pode, como anunciado no incio desse texto, esclarecer a relao

    recproca entre o universal e o particular. Evita uma orientao puramente

    abstrata, sem abandonar princpios universais, pois a educao pressupe

    um processo de insero num mundo compartilhado de valores e crenas,

    sem o qual qualquer dialtica entre individualizao e socializao estaria

    condenada ao fracasso. E atua como limite a uma esttica de si mesmo

    que, centrada apenas em critrios individuais, pode estimular a

    indiferena, o egosmo e a frivolidade. (HERMNANN, 2008, p.26)

    Em tempos de universalizao do acesso educao e sade, assumidas como

    direito do cidado e dever do Estado, estas se apresentam como importantes agncias de

  • 183 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, jan/jun 2015.

    transformao dos nossos modos de existir. Isso se tratarmos as prticas educativas e

    sanitrias como dispositivos potentes para o desmonte dos clichs existenciais

    contemporneos e abertura para a afirmao das singularidades humanas. nestes termos

    que o estudo sobre ambiente, sade e educao constitui um sentido comum, fortemente

    imbricado, que nos d um horizonte e um alento. O encontro com a perspectiva ps-

    metafsica de Winnicott , tambm, uma forma de dar futuro prpria psicanlise em

    tempos de desconfiana quanto s possibilidades humanas de imaginar e recriar-se

    coletivamente. Oferecer-se ao outro como ambiente sustentador e encontrar nele uma

    ancoragem minimamente duradoura para o nosso gesto espontneo, no que mais poderia

    consistir a sade e a educao, como prticas de liberdade, na trrida paisagem do

    capitalismo contemporneo?

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