notas do tempo -...

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- C/) C/) .J <( w<i w (!) ()o - <( o_ u. <i O < Q. Qo ª z coa: ::>w w a... a... Q. '-- .... ct (!I ;::) 1- a: o Q. OBRA DE RAPAZES, PARA RAPAZES, PELOS RAPAZES Quinzenário - Autoriuldo pelos CTT a circular em ínvófiJÇIO fechado de plástico - Envoi fermé autorisé par les PTT portugals - Autorização N.• 190 DE 129495 RCN 13 de Dezembro de 2003 Ano LX N. 1559 Preço: 0,30 (IVA inclufdo) Propriedade da OBRA DA RUA ou OBRA DO PADRE Fundador. Padre Américo Director. Padre AcOio Chefe de Redacção: Júlio Mandes C. P. N.• 7913 Redacção, Administração, Oficinas Grãficas: Casa do Gaiato - 4560-373 Paço de Sousa Tel. 255752285 ·Fax 255753799 - Cont 500788898 - Reg. O. G. C. S. 100398 - Depósito Legal 1239 Notas do Tempo a ciência livresca. Porém, a inteligência dos que assim pensam, vai percebendo que não é tão inócua como apa- rentavam considerá-la; e de uma convivência aparente- mente pacífica, pa ssam à ofensiva, surda no princí- pio, mas que se vai denun- ciando. Há muito a vamos notando e, agora, perce- bemo-la claramente na sobranceria e falta de res- peito dos Poderes. Limpeza do refeitório da Casa do Gaiato de Benguela. BENGUELA V IM do quintal, de tomar um pouco de frio que me fi zesse sa borear o morninho do quarto onde escrevo. O meu exercício, ali, foi arrancar urtigas do meio das nabiças que semeámos em peque- nino canteiro. Aqui, fecho os olhos e vejo a extensão imensa de uma Nação pejada de «urtigaque lhe roubam a fecundidade. O caminho do Natal O Povo é a reserva de bom senso que, em tempo eleitoral, todos os quadran- tes incensam e os ganhado- res louvam pelo «acerto» da eleição ... Depois, esquecem que pôr-se ao rés dele, em espírito e prática de comu- nhão com ele, seria a maneira de apreenderem algo do senso de que o Povo é a reserva. Seria um modo efectivo que aproximaria da verdade a afirmação, até agora demagógica, de que «O Povo é quem mais ordena». E STOU a escrever no primeiro Domin- go do Advento. E o caminho do Natal. Não me canso de ver multi- dões de farrapos humanos às portas dos cen- tros anti-tuberculose. Deus queira nunca me canse, para não cair na indiferença. É um risco para quem anda metido nesta vida dos pobres, dos doentes e dos miseráveis. Não devia ser assim. caminho do Natal e não queremos outro. Ver as crianças em pele e osso a chupar os peitos secos das mães é muito doloroso. Por isso, a tuberculose avança de braço dado com a malária e outras pandemias, matando suas vítimas inocentes. Como ordena, se não encontra a quem ordenar?! Onde os homens que o escutem, que vão ao seu encontro sem encenações, só com a recta intenção de conhecer melhor para melhor o se rvirem - a A fome mata a gente. A comida que damos aos que vemos no caminho levanta os caídos e tira-os das garras da doença. É o Não podemos celebrar o Natal sem abrir a mão cheia e repartir. Sinto a grande respon- sabilidade dos pais perante os seus filhos a quem nada falta e querem sempre mai s. É Continua na página 4 MOMENTOS Criaditas dos Pobres F UI com um padre amigo visitar as Criaditas dos Pobres e seus Pobres, a Portalegre. Há muito que me atormentava o de- sejo de estar com estas Irmãs que vi- vem a sua num ideal de comunhão com os Pobres, tão ao nosso jeito. A grande aflição de uma das famí- lias, por elas acompanhada, traz-me uma carta e eu mando, para as Irmãs, a respectiva ajuda. Passados dois meses, vem outra carta com idêntica adversidade. Tenho de ir lá. E fui. Ao perto, é que as coisas são. Ao longe, corremos o ri sco de nos enganarmos. São mulheres muito simples; vesti- das à maneira das criadas dos anos 40 que vivem a servir os Pobres ensi- nando-lhes a limpar e arrumar a casa, a fazer a comida e a lavar a loiça, a decorar e a dispor melhor as divisões, a tratar as crianças e os velhos: - a serem criadas por amor e não por qual- quer pagamento. Pessoas consagradas em co munhão plena com a pobreza real das famílias mais atrasadas e carentes. Prestam um serviço social do mais alto nível. Desafiam com o seu testemunho esta cultura técnica, onde se queimam, sem qualquer resultado, tantas actividades burocráticas estéreis. Quando visito os bairros sociais que tão bom serviço poderiam ter prestado às famílias habitantes e vejo os móveis partidos e amontoados, as paredes suj as e riscadas, o chão pejado de lixo encardido, um cheiro repugnante quando os andares não têm vidros par- tidos. Quando encontro as crianças aban- donadas e os pais separados. Quando examino e sinto esta vasti- dão enorme de miséria, lembra-me das Criaditas dos Pobres. Se elas aqui vivessem, como seriam diferentes as famflias, as casas, as crianças e a ale- gria de viver. Quantos sem sequer uma assistente social? ... Quantos? E quantas doutoras desta área gastam o seu tempo a fazer relatórios para inglês ver e a sua car- reira progredir .' Haverá alguma que faça sequer uma sombra do trabalho humano das Cria- ditas dos Pobres? Haverá, com certeza, alguma tente social cristã que encarará o seu trabalho como uma missão, sofrendo a sorte dos mais infelizes e lutando por melhorar as suas vídas; mas encontrar uma, é como achar uma agulha num palheiro. Hoje tudo se burocratizou ... para desgraça dos menos evoluídos e mais infelizes. Como me apetece exaltar esta voca- ção que é, na verdade, uma glória de Deus e da Igreja ... ! E como sofro por a ver tão escon- dida e ignorada! Os próprios serviços Continua na página 4 quem o Povo possa dar cré- dito?! Na sua simplicidade muitos sofrem as lavagens ao cérebro que os aparelhos de propaganda promo- vem ... e acontece-lhes como a nós, há dias: visita- dos por técnicos de limpeza que insistiram teimosa- mente , «ao menos, uma demonstração destes magní- ficos instrumentos num tapete!», e o deixaram man- chado como antes não estava! Dá-se a volta ao espectro, 360° na expectativa de homens livres que, com competência e espírito de serviço, sirvam. Há-os, com certeza, mas que não arris- cam comprometer a sua liberdad e na teia emara- nhada do sistema. A heresia da sociedade de consumo infiltrou-se e gerou uma sociedade de mercenários em que a gra- tuidade foi deixando de ter cotação. A gratuidade é uma con- cepção e uma proposta de vida em que não se acredita. Desvaloriza-se como filoso- fia ingénua , desincarnada, incompetente porque funda no amor ao homem o que as técnicas julgam suprir com O Povo, não. Tem a intui- ção da Verdade e deixa-se atrair por ela. Foi este o ali- cerce que Pai Américo escolheu para a Obra que Deus lhe inspirou. Em toda ela, e sempre, se revelou a pedagogia activa segundo a qual a concebeu e formou: Obra para .. . por .. . de ... Nas Casas do Gaiato, para Rapazes, pelos Rapa zes, dos Rapazes. No Calvário: para Doentes, pelos Doen- tes, dos ·Doentes - e é esta a nota que o faz diferente de todas as obras afins: respei- tar a capacidade da pessoa, pequenina que seja, valo- rizá-la e possibilitar, pelo exercício dela, o sentido de posse de uma casa sua onde acabar os seus dias. Com os Pobres que em múltiplas necessidades nos procuram, nunca a sua coo- peração é dispensada: tem de haver a parte deles para Continua na página 4 TRIBUNA CE COIMBRA Voltar ao Presépio E STAMOS em maré de Natal. A onda da propaganda comercial, forte .e bem direccio- nada, invadiu os espaços físicos disponf- veis e, de fonna avassaladora, os da intimidade, da reflexão profunda, da espiritualidade que esta época · tanto sugere. Ficamos sem espaço nem tempo seguro para ver mais longe e de apreciarmos os verdadei- ros valores, a outra paisagem. O imediatismo e a pressão comercial bloqueiam-nos. Ficamos reféns ... É preciso um grande esforço para voltar a acreditar que tudo o que se está a passar. tem a ver com outra coisa, com outra história que parece esquecida até nas suas referênéias culturais. Quem desce à cidade nesta época confronta-se com tudo o que há de mais exótico e apelativo menos com a mensagem verdadeira do Natal. As luzes das montras, as iluminações das ruas coradas de símbOlos, quase nada dizem do verdadeiro mistério do Natal de Belém; do Natal de Jesus, da Família de Nazaré, que Francisco de Assis cantou com arte e beleza ca nsado das mistificações dos homens e poderosos do seu tempo. É voltar ao Presépio, regressar à contemplação das nossas origens, à matriz cristã que muitos afastam como fantasrpa. Continúa na página 4

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Page 1: Notas do Tempo - portal.cehr.ft.lisboa.ucp.ptportal.cehr.ft.lisboa.ucp.pt/PadreAmerico/Results/OGaiato/J1559... · uma carta e eu mando, para as Irmãs, a ... Deus e da Igreja

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OBRA DE RAPAZES, PARA RAPAZES, PELOS RAPAZES

Quinzenário - Autoriuldo pelos CTT a circular em ínvófiJÇIO fechado de plástico - Envoi fermé autorisé par les PTT portugals - Autorização N.• 190 DE 129495 RCN

13 de Dezembro de 2003 • Ano LX • N. • 1559 Preço: € 0,30 (IVA inclufdo)

Propriedade da OBRA DA RUA ou OBRA DO PADRE AM~RICO

Fundador. Padre Américo • Director. Padre AcOio • Chefe de Redacção: Júlio Mandes C. P. N.• 7913 Redacção, Administração, Oficinas Grãficas: Casa do Gaiato - 4560-373 Paço de Sousa Tel. 255752285 ·Fax 255753799 - Cont 500788898 - Reg. O. G. C. S. 100398 - Depósito Legal 1239

Notas do Tempo a ciência livresca. Porém, a inteligência dos que assim pensam, vai percebendo que não é tão inócua como apa­rentavam considerá-la; e de uma convivência aparente­mente pacífica, passam à ofensiva, surda no princí­pio, mas que se vai denun­ciando. Há muito a vamos notando e, agora, perce­bemo-la claramente na sobranceria e falta de res­peito dos Poderes.

Limpeza do refeitório da Casa do Gaiato de Benguela.

BENGUELA

VIM do quintal, de tomar um pouco de frio que me fizesse

saborear o morninho do quarto onde escrevo. O meu exercício, ali, foi arrancar urtigas do meio das nabiças que semeámos em peque­nino canteiro. Aqui, fecho os olhos e vejo a extensão imensa de uma Nação pejada de «urtigas» que lhe roubam a fecundidade.

O caminho do Natal

O Povo é a reserva de bom senso que, em tempo eleitoral, todos os quadran­tes incensam e os ganhado­res louvam pelo «acerto» da eleição ... Depois, esquecem que pôr-se ao rés dele, em espírito e prática de comu­nhão com ele, seria a maneira de apreenderem algo do senso de que o Povo é a reserva. Seria um modo efectivo que aproximaria da verdade a afirmação, até agora demagógica, de que «O Povo é quem mais ordena».

ESTOU a escrever no primeiro Domin­go do Advento. E o caminho do Natal. Não me canso de ver multi­

dões de farrapos humanos às portas dos cen­tros anti-tuberculose. Deus queira nunca me canse, para não cair na indiferença. É um risco para quem anda metido nesta vida dos pobres, dos doentes e dos miseráveis. Não devia ser assim.

caminho do Natal e não queremos outro. Ver as crianças em pele e osso a chupar os peitos secos das mães é muito doloroso. Por isso, a tuberculose avança de braço dado com a malária e outras pandemias, matando suas vítimas inocentes.

Como ordena, se não encontra a quem ordenar?! Onde os homens que o escutem, que vão ao seu encontro sem encenações, só com a recta intenção de conhecer melhor para melhor o se rvirem - a

A fome mata a gente. A comida que damos aos que vemos no caminho levanta os caídos e tira-os das garras da doença. É o

Não podemos celebrar o Natal sem abrir a mão cheia e repartir. Sinto a grande respon­sabilidade dos pais perante os seus filhos a quem nada falta e querem sempre mais. É

Continua na página 4

MOMENTOS

Criaditas dos Pobres FUI com um padre amigo visitar

as Criaditas dos Pobres e seus Pobres, a Portalegre.

Há muito que me atormentava o de­sejo de estar com estas Irmãs que vi­vem a sua fé num ideal de comunhão com os Pobres, tão ao nosso jeito.

A grande aflição de uma das famí­lias, por e las acompanhada, traz-me uma carta e eu mando, para as Irmãs, a respectiva ajuda.

Passados dois meses, vem outra carta com idêntica adversidade. Tenho de ir lá.

E fui. Ao perto, é que as coisas são. Ao longe, corremos o risco de nos

enganarmos. São mulheres muito simples; vesti­

das à maneira das criadas dos anos 40 que vivem a serv ir os Pobres ensi­nando-lhes a limpar e arrumar a casa, a fazer a comida e a lavar a loiça, a

decorar e a dispor melhor as divisões, a tratar as crianças e os velhos: - a serem criadas por amor e não por qual­quer pagamento. Pessoas consagradas em comunhão plena com a pobreza real das famílias mais atrasadas e carentes.

Prestam um serviço social do mais alto nível.

Desafiam com o seu testemunho esta cultura técnica, onde se queimam, sem qualquer resultado, tantas actividades burocráticas estéreis.

Quando visito os bairros sociais que tão bom serviço poderiam ter prestado às famílias habitantes e vejo os móveis partidos e amontoados, as paredes sujas e riscadas, o chão pejado de lixo encardido, um cheiro repugnante quando os andares não têm vidros par­tidos.

Quando encontro as crianças aban­donadas e os pais separados.

Quando examino e sinto esta vasti­dão enorme de miséria, lembra-me das Criaditas dos Pobres. Se elas aqui vivessem, como seriam diferentes as famflias, as casas, as crianças e a ale­gria de viver.

Quantos sem sequer uma assistente social? ... Quantos? E quantas doutoras desta área gastam o seu tempo a fazer relatórios para inglês ver e a sua car­reira progredir.'

Haverá alguma que faça sequer uma sombra do trabalho humano das Cria­ditas dos Pobres?

Haverá, com certeza, alguma a~sis­tente social cristã que encarará o seu trabalho como uma missão, sofrendo a sorte dos mais infelizes e lutando por melhorar as suas vídas; mas encontrar uma, é como achar uma agulha num palheiro.

Hoje tudo se burocratizou ... para desgraça dos menos evoluídos e mais infelizes.

Como me apetece exaltar esta voca­ção que é, na verdade, uma glória de Deus e da Igreja . .. !

E como sofro por a ver tão escon­dida e ignorada! Os próprios serviços

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quem o Povo possa dar cré­dito?! Na sua simplicidade muitos sofrem as lavagens ao cérebro que os aparelhos de propaganda promo­vem ... e acontece-lhes como a nós, há dias: visita­dos por técnicos de limpeza que insistiram teimosa­mente, «ao menos, uma demonstração destes magní­ficos instrumentos num tapete!», e o deixaram man­chado como antes não estava!

Dá-se a volta ao espectro, 360° na expectativa de homens livres que, com competência e espírito de serviço, sirvam. Há-os, com certeza, mas que não arris­cam comprometer a sua liberdade na teia emara­nhada do sistema.

A heresia da sociedade de consumo infiltrou-se e gerou uma sociedade de mercenários em que a gra­tuidade foi deixando de ter cotação.

A gratuidade é uma con­cepção e uma proposta de vida em que não se acredita. Desvaloriza-se como filoso­fia ingénua, desincarnada, incompetente porque funda no amor ao homem o que as técnicas julgam suprir com

O Povo, não. Tem a intui­ção da Verdade e deixa-se atrair por ela. Foi este o ali­cerce que Pai Américo escolheu para a Obra que Deus lhe inspirou. Em toda ela, e sempre, se revelou a pedagogia activa segundo a qual a concebeu e formou: Obra para .. . por .. . de ... Nas Casas do Gaiato, para Rapazes, pelos Rapazes, dos Rapazes. No Calvário: para Doentes, pelos Doen­tes, dos ·Doentes - e é esta a nota que o faz diferente de todas as obras afins: respei­tar a capacidade da pessoa, pequenina que seja, valo­rizá-la e possibilitar, pelo exercício dela, o sentido de posse de uma casa sua onde acabar os seus dias.

Com os Pobres que em múltiplas necessidades nos procuram, nunca a sua coo­peração é dispensada: tem de haver a parte deles para

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TRIBUNA CE COIMBRA

Voltar ao Presépio ESTAMOS já em maré de Natal. A onda da

propaganda comercial, forte .e bem direccio­nada, já invadiu os espaços físicos disponf­

veis e, de fonna avassaladora, os da intimidade, da reflexão profunda, da espiritualidade que esta época

· tanto sugere. Ficamos sem espaço nem tempo seguro para ver mais longe e de lá apreciarmos os verdadei­ros valores, a outra paisagem. O imediatismo e a pressão comercial bloqueiam-nos. Ficamos reféns ...

É preciso um grande esforço para voltar a acreditar que tudo o que se está a passar. tem a ver com outra coisa, com outra história que parece esquecida até nas suas referênéias culturais. Quem desce à cidade nesta época confronta-se com tudo o que há de mais exótico e apelativo menos com a mensagem verdadeira do Natal. As luzes das montras, as iluminações das ruas coradas de símbOlos, quase nada dizem do verdadeiro mistério do Natal de Belém; do Natal de Jesus, da Família de Nazaré, que Francisco de Assis cantou com arte e beleza cansado das mistificações dos homens e poderosos do seu tempo. É urgent~ voltar ao Presépio, regressar à contemplação das nossas origens, à matriz cristã que muitos afastam como fantasrpa.

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Page 2: Notas do Tempo - portal.cehr.ft.lisboa.ucp.ptportal.cehr.ft.lisboa.ucp.pt/PadreAmerico/Results/OGaiato/J1559... · uma carta e eu mando, para as Irmãs, a ... Deus e da Igreja

2/ O GAIATO

Confe~ncia de Pa~o de Sousa DOS ESCRITOS DE S. VI­

CENTE DE PAULO, PRES­BÍTERO - A nossa atitude para com os Pobres não se deve regular pela sua aparência externa nem pelas suas qualida­des interiores. Devemos consi­derá-los, antes de mais, à luz da fé. O Filho de Deus quis ser pobre e ser representado pelos Pobres. Na sua paixão, quase perdeu o aspecto de homem: apareceu como um louco para os gentios e um escândalo para os judeus. Todavia, apresentou­Se a estes como evangelizador dos Pobres: «Enviou-me para evangelizar os Pobres». Tam­bém nós devemos ter os mes­mos sentimentos de Cristo e imitar o que Ele fez: cuidar dos Pobres, consolá-los, socorrê-los e recomendá-los.

Cristo quis nascer pobre, cha­mar para a Sua companhia dis­cípulos pobres, servir os pobres e identificar-Se com os pobres, a ponto de dizer que o bem ou o mal feito a eles o tomaria como feito a Si mesmo. Deus ama os Pobres, e por conseguinte ama também aqueles que os amam. Na verdade, quando alguém tem especial afecto a uma pes­soa, estende também este afecto aos seus amigos e servos. Por isso, temos razão para esperar que, por causa do nosso amor aos Pobres, também nós sere­mos amados por Deus.

Quando os visitamos. pro­curemos compreender a sua po­breza e infelicidade para sofrer com eles e ter os sentimentos de que fala o Apóstolo, quando diz: «Fiz-me tudo para todos». Esforcemo-nos por sentir pro­fundamente as preocupações e misérias dos nossos semelhan­tes; peçamos a Deus que nos dê o espírito de misericórdia e compaixão e que conserve sem­pre em nossos corações estes sentimentos.

O serviço dos Pobres deve ser preferido a todos os outros e deve ser prestado sem demora. Se durante o tempo de oração, tiverdes de levar um medica­mento ou qualquer auxnio a um Pobre, ide tranquilamente, ofere­cendo a Deus essa boa obra como prolongamento da oração. E não tenhais nenhum escrúpulo ou remorso de consciência se, para prestar serviço aos Pobres, tiverdes de deixar a oração. De facto não se trata de deixar a Deus, se é por amor de Deus que deixamos a oração: servir um Pobre é também servir a Deus.

A caridade é a máxima norma, e tudo deve tender para ela; é uma grande senhora: devemos cumprir o que ela manda. Reno­vemos, portanto, o nosso espírito de serviço aos Pobres, principal­mente para com os mais aban­donados. Esses hão-de ser os nossos senhores e protectores.

PARTILHA - Duzentos euros, da assinante 57002, da Senhora da Hora, «pequena oferta dos meses de Outubro e

Novembro que poderão distri­buir como melhor entenderem. As necessidades são sempre muitas e, para os mais idosos, nesta época de Inverno, a conta da farmácia é mais uma dificuldade a juntar a tantas outras. Oxalá que esta peque­na oferta possa ajudar um irmão mais carenciado. No entanto, peço uma oração por alma de meu marido».

Um cheque de I I O euros, da assinante 60788, do Porto, para O GAIATO, «e do remanes­cente utilizem um contributo para as necessidades mais urgentes daqueles que socor­rem. Será uma pequena ajuda para o Natal dos mais caren­ciados. Deus abençoe sempre as vossas imenções».

Uma Leitora, de Cavada, Rossas, deseja «de todo o cora­ção que tudo corra bem na Obra à qual se dedica. Segue uma embalagem de roupa, e 30 euros, gota de água para tanta gen te pobre. Vou dizer uma coisa: não dou prendas aos meus netos, nem 110s anos, nem no Natal. Todos os Domingos vou ao Lar visitar os idosos. Muitos esteio de vontade, mas outros não. Os filhos servem-se dos pais quando eles já não podem trabalhar. Agradeço a remessa dos volumes do livro 'Pão dos Pobres'. Estou so:i­nha mais o marido que tem 77 anos. Eu com 70, mas com muitas limitações».

«Contribuição nata/{cia», cinquenta euros, do assinante 53241 , do Luso, «que Deus em Seu Amor e pela Sua infinita Bondade e Misericórdia nos assista com o poder do Seu divino Espírito Samo e da Sua Providência».

Habitual oferta, da assinante 31 I 04, de Lisboa, com cheque de 470 euros. «Tenho estado doente e, daí, a minha tardia remessa, por alma dos meus entes queridos».

Assinante 32925, da Guarda, presente com sessenta euros, sendo cinquenta para os nossos Pobres.

Mais cinquenta, da assinante 14493, do Porto, relativos ao mês em curso. disse.

Ainda mais cinquenta ditos, da assinante 34990, da Figueira da Foz, «parti/Ira em acção de graças por uma benesse que Jesus me tem concedido».

Votos de santo Natal e Ano Novo para os nossos Leitores.

Em nome dos Pobres, muito obrigado.

Jú lio Mendes

PA~O DE SOUSA DESPORTO - Já lá vão

uns anos, que a representante da B.B.C. em Portugal, visitou a nossa Aldeia. Segundo li, Pai Américo, <<ap resentou-se de chapéu de palha e de cajado na mão>> - à moda de um Bom Pastor que era, e que é! Depois de alguma conversa, mostrou curiosidade em saber o que é que a senhora inglesa preten­dia. Ela, que pelos vistos se encontrava no primeiro andar

da Casa-Mãe, inquiriu: «Como consegue o senhor Padre Amé­rico prender aqui dentro, tendo sempre as portas abertas ... tantos Rapazes da rua?

Foi então que Pai Américo, com um sorriso nos lábios, a convidou, sem nada dizer, a aproximar-se da janela de onde se enxergava toda a Aldeia.

Ali, a visitante ficou exta­siada e disse:

- Que admirável isto é! - Gosta! - inquiriu Pai

Américo. À sua resposta com um reclinar de cabeça, retor­quiu:

- Pois se gosta, também os Rapazes não querem mais sair daqui!.»

O «Carocha» e o «Piolho», que faziam parte do nosso Grupo Desportivo, também não queriam ir embora, mas a mãe, pelo que me disseram os rapa­zes no treino, levou-os sem e les estarem minimamente in teressados. Oxalá tenham sorte.

Os Iniciados receberam o União Nogueirense F. C. com quem perderam. Estiveram a ganhar por 2-0, todavia, a forte pressão do adversário e alguma falta de concentração dos nos­sos atletas, foi o suficiente para os conduzir ao resultado final de 3-5. Uma derrota com sabor a vitória, pelo excelente com­portamento que todos os atletas tiveram em campo. No final do encontro, era visível o cansaço de alguns dos nossos, pelo tra­balho primoroso que fizeram durante os 90 minutos.

Os Seniores receberam um grupo de Velhas Guardas de Saltar. A quem sabe, nunca esquece! Alguns deles, tinham sido atletas de clubes da 1.• Divisão Nacional. Não corriam muito, nem precisavam, pois, a sua colocação no terreno, era o suficiente. Os nossos, apesar de terem perdido, em nada facili­taram a vida ao adversário. Foi um jogo bem disputado, onde as duas equipas estiveram bem, durante todo o encontro.

Quem é que ainda se lembra do Zé-Tó e do Tó-Zé, os gémeos, os génios da bola, que por aqui passaram?! Não são do meu tempo, mas sei do bom relacionamento que eles têm com alguns Rapazes da gera­ção deles, como por exemplo: Lupricínio, Nelito, «Turbinas», «Vitinho>>, «Caneco», etc. Queremos, agradecer ao Zé­-Tó, o novo equipamento que mandou para o nosso Grupo Desportivo, mais concreta­mente para os Seniores. É bom, bonito e completfssimo, pois até fatos de treino tem. Há irmãos mais velhos, que pelo facto de estarem longe e bem na vida, não se esquecem das suas origens e de quem ainda cá está. Bem-haja e apareçam sempre! Vós, e todos aqueles que por aqui passaram.

Alberto («Resende»)

Tiragem média d'O GAIATO, por edição,

no mês de Novembro, 62.700 exemplares.

MIRANDA DO CO~VO VISITANTES - Recebe­

mos a excursão de Castelo Branco, em nossa Casa, já há algum tempo.

Como todos os anos, esta gente chega por volta das I O horas e participa e ajuda a ale­grar a nossa Eucaristia.

No fim da celebração os nos­sos rapazes descarregaram o almoço e todo o material que trouxeram no autocarro, sobre­carregado. Depois, fez-se uma visita à Casa com as pessoas que pela primeira vez a visita­vam.

Já passava das 12,30 horas quando fomos almoçar tudo aquilo que trouxeram de Cas­telo Branco.

À tarde as pessoas conversa­ram com os rapazes que já co­nheciam há mais tempo e davam carinho aos mais pequenos.

Às 17,30 horas fomos me­rendar juntos. Comemos bas­tantes coisas boas e bebemos vários sumos.

Depois chegou a hora da despedida, certamente a mais difíc il para as pessoas e tam­bém para os rapazes.

ENCONTRO FRATERNO - Realizou-se mais um encon­tro fraterno na casa dos Missio­nários Combonianos onde todo o grupo se encontrou. Eram vinte e cinco elementos.

No sábado fizeram orações e falaram bastante da comunidade.

No Domingo vieram até nossa Casa fazer-nos uma visita.

A nossa Eucaristia foi presi­dida pelo Padre Xavier e Padre João, dos Combonianos, e pelo nosso Padre João. A Eucaristia

·foi bastante cantada. De seguida, todo o grupo foi

ver slides sobre a vida e Obra do Pai Américo. Depois fomos almoçar todos juntos.

Na parte da tarde o grupo fez uma visita a nossa Casa, apesar de quase todos a conhecerem.

Adriano

ITOJAL I BOM SENSO - As mesas

estavam postas, na nossa Capela as flores sorriam de ale­gria, as famflias e as pessoas amigas não ficaram de braços cruzados e os rapazes tratavam de tudo o que se encontrava ao seu alcance. Essa festa realiza­-se todos os anos em nossa Casa, porque o amor continua a transbordar em cada alma onde a porta esteja aberta e nela lareira que sempre ilumina com a chama de glória. Amor de dizer ao Próximo que não está esquecido e que no meio de tantos espinhos ainda sobra um lugar nesta mesa.

Festejámos o aniversário do Rogéri o Paulo, filho dessa famflia que, infelizmente, já partira para o Reino do Senhor. Na Missa cantámos os para­béns, as guitarras soaram alto

13 de DEZEMBRO de 2003

naquele momento alto de ceri­mónia.

POMAR - As nossas laranjeiras estão bem, carrega­dinhas de laranjas, vamos apa­nhando algumas para as nossas refeições e outras para fazer um pouco de sumo natural que sabe sempre melhor bem fresco em cima da mesa.

VISITAS- Temos rece­bido visitas em nossa Casa. Excursões e escuteiros que vêm passar os fins-de-semana, tem sido muito divertido. Espe­ramos que outros agrupamen­tos nos visitem para um desafio de futebol e partilhar outras actividades.

Abílio Pequeno

I SETÚBAL I MAGUSTO- Fizemo-lo

no dia 23 de Novembro. Come­mos muitas castanhas e batata­-doce, sardinha assada, acom­panhadas com sumo. Os rapa­zes brincaram e divertiram-se muito, tendo corrido tudo bem.

BAR- Dois rapazes estive­ram com o sr. Nascimento a tratar da madeira para fazerem o tecto falso. O ti Zé, com dois rapazes, estiveram a tirar o entulho das trazeiras para se melhorar o lado exterior.

ALMOÇO - Um casal de amigos trouxe frangos e outras coisas para o almoço de um Domingo. O Hélder e o Vítor trataram de os assar no nosso forno. O casal Tavares veio almoçar connosco e apreciou muito o trabalho dos nossos cozinheiros.

RAPAZ - O «Monchique» tinha ido passar férias no Verão à sua terra. Ficou lá algum tempo para ver se arran­java algum trabalho. Agora voltou porque não conseguiu arranjar trabalho.

ESCOLA - Os rapazes estudantes têm feito testes para mostrarem os seus conheci­mentos. Os que estão no Lar têm tido notas fracas, apesar de terem professores a ajudá-los. Os rapazes que são do prof. Pedro têm obtido melhores notas e alguns têm sido boas surpresas. Os da Profissional têm andado interessados no seu Curso de Electricidade. Os mais velhos também se vão mantendo interessados nos seus cursos.

Pedro Gomes

I BENGUELA I CATEQUESE - No Sába­

do tivemos a festa da abertura das actividades de catequese. Estivemos reunido~ no salão da nossa Casa. Foi um encontro

muito rico. Estiveram presentes todos os rapazes. O nosso Padre Manuel António, fez o discurso da abertura. Numa lin­guagem simples e profunda falou da importância da Cate­quese na vida da Igreja e na vida das nossas Casas que tam­bém são parte da Igreja. Pediu aos rapazes que levassem a sério a formação cristã e aos catequistas para que fossem fiéis à missão que Deus lhes confiou de instruir os nossos rapazes. A Catequese faz parte da vida das nossas Casas. É o coração delas. No desempenho da nossa missão de «Fazer de cada rapa z um homem» os Padres da Obra preocupam-se com todos os meios de instru­ção catequética que iluminam e fortalecem a Fé e levam a uma participação activa no mistério de Cristo. «A vida religiosa nas nossas comunidades seja o centro. As grandes aflições dos padres da rua tenham aqui a sua origem: Vale mais a alma do que o corpo. Por ela, pela alma dos rapazes, sangrem os padres até ao fim. A nossa Capela. A Missa dominical. O ensino da dolllrina cristã. A prática das orações quotidia­nas. Os Sacramentos: pôr­-lhes a Mesa, chamá-los ao Banquete e chorar se eles não quiserem vir» (Obra da Rua, pág. 10).

Para esta grande missão de evangelização contamos com vinte e dois catequistas, de entre os quais seminaristas e dois leigos para o desenvolvi­mento. Os rapazes estão dividi­dos em dez grupos: Os «Batati­nhas»; o grupo que se prepara para o Baptismo e a primeira comunhão; e o grupo dos mais crescidos para o Crisma.

Zé Luís

I LAR DO PORTO I CONFER ÊNCIA DE S .

FRANCISCO DE ASSIS - As estrelas foram sinais dos Reis Magos e são sinais para a nossa vida de amor. As estrelas são a esperança de melhores tempos para os nossos Pobres terem, neste Natal que se avisi­nha, um Natal de famnia, mas com amor- o Amor do Evan­gelho.

Vamos também ser estre las cintilantes de amor, ajudando a um Natal com mais amor, per­correndo o caminho assinalado pelas estrelas do Presépio.

Por enquanto, nós, vicenti­nos, ficamos esperando pelo oxigénio dos nossos Leitores e Amigos, para podermos pro­porcionar aos Pobres uma feliz ceia de Natal.

É assim que a vigília espera pela Aurora, e tem a certeza que a qualquer momento pode chegar. É bem provável que o mundo materialista, por vezes, não deixe que o nosso coração se abra. Mas também temos a certeza e a consciência de que existe muita gente a pensar no ..

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13 de DEZEMBRO de 2003

SETÚBAL

Pontos de partida para a vitória Q

UANDO o comum dos mortais faz algo que, em cons­ciência, sabia que

não deveria ter feito, tem como reacção normal escon­der-se, não assumir a acção ou tudo fazer para tornar vir­tual aquilo que é real.

Já Caim tivera esse com­portamento, tendência que haveria de ficar impressa nos vindouros; Abel havia sido a vítima.

Entre nó s, nem só de Caim's vivemos; também encontramos atitudes de um que, sendo Abel, nos mostra que é possível ao homem sê-lo, em contraposição a Caim. Não j á como vítima, mas como alguém que sendo frágil, não foge à voz da sua consciência e, feita a asneira, é capaz de assumir as consequê ncias dos pró­prios actos.

Este rapaz de que falo, estava co m um grupo de outros a jogar a bola. Esta, como acaso do jogo, foi

seu semelhante, no seu irmão, que sofre necessidades e com a sua Caridade não vai deixar que tenham uma mesa vazia, mas, sim, recheada de coisas boas.

Por isso, digo-vos, Amigos, do fundo do coração, é neces­sário que o coração esteja bem aberto e acordado, como uma lâmpada com muita chama, do amor ao Próximo.

A nossa esperança não nos permite deixar de trabalhar, com muito amor, em prol dos nossos irmãos mais carencia­dos.

Quanto é triste nós termos uma mesa bem farta e o nosso vizinho ao lado a olhar para uma mesa cheia do nada. Quanta angústia vai naquela gente, os pais a olharem para os filhos e estes para os pais, sem um sorriso de crianças, como ainda existem delas que não sabem sorrir.

Amigos, vamos permitir que as crianças não sorriam? Que o pai não abrace o filho? Que o nosso viz inho do lado fique com uma mesa cheia do nada?

Para vós, Amigos leitores, que o Senhor vos abençoe com muitas estrelas cinti lantes e lâmpadas bem acesas e com o coração aberto - che io de amor.

RECEBEMOS - À Amiga M. Borges desejamos rápidas me lhoras. Recebemos a sua oferta de roupas; Amiga, de Cavada, um vale e roupas; assi­nante 30374, cem euros; vale de cinquente euros, de M. Mar­ques; ass inante 14 700, uma carta cheia de palavras amigas e o seu donativo; ass inante 34788, um lindo postal que diz «Ama e serás feliz»; assinante 7769, ci nque nta euros ma is roupas; anónimo, de Lourosa, quatrocentos euros.

Desejamos um santo e fe liz Natal e que o Ano Novo vos traga muita paz e amor, são os votos os vicentinos.

Casa l Félix

parar acima de um telhado. O nosso Abel e outro rapaz, subiram lá para a recuperar. Entretanto chegou outro mais velho. Vendo-se desco­bertos, ainda tentaram iludi­-lo, mas não o conseguiram.

A notícia chegou-me. E ela só adquiriu verdadeira­mente em mim a sua impor­tância, quando o Abel me disse, durante a refeição, que tinha de ir para o meio da sala como castigo por ter subido ao telhado.

A sentença foi imediata: - Tu não vais para o

meio, porque só vão para lá os que não querem ir!

Acho que ele compreen­deu; e que não deveria vol­tar a subir aos telhados.

Ter consciência da própria fragilidade, e assumi- la, é fazer caminho para vencer os próprios obstáculos.

Outro dos nossos, incapaz de levar a vida escolar com normalidade:

- Eu preciso de alguém que me guarde!

ASSOCIAÇÃO DOS ANTIGOS GAIATOS

DO NORTE

Diz o nosso Povo , com a oportunidade e o bom senso que lhe são característica, que <<quem não aparece, esquece».

Aconteceu ao Rodrigo. Do grupo dos primeiros, não pôde estar presente em 20 de Julho e na reunião de 9 de Novembro. Há tempos, escrevera-nos dan­do a lgum as achegas para o bom funcionamento da Asso­ciação, tanto no que concerne a projectos possíveis como, até, à quotização dos sócios. Foi em Dezembro de 2002.

Telefonou há dias, depois de ler a última crónica n'O GAIA­TO, a pedir informações, que lhe foram dadas, e ficou de nos escrever novamente: <<Não me custa nada ... », disse, depois de lhe explicarmos o motivo.

Como nunca mudou de resi­dência e tinha (tem) a situação do seu contacto regularizada, pensou, como muitos estarão a pensar, que não seria necessá­rio actualizar-se.

Pois bem, para além das ra­zões de que falámos na passada quinzena, o facto de precaver uma avaria no sistema informá­tico assim nos obriga. O apelo que fizemos, foi também neste sentido - minimizar as perdas e obter, por escrito, a vontade de cada um em pertencer à nossa Associação - precisa­mos sentir-lhe a força.

Assim, voltamos a apelar a todos os antigos gaiatos -mesmo a todos - para que sigam o exemplo do Rodrigo (que estava esquecido) e que nos façam chegar os dados necessários junto com fotogra­fia para o cartão de sócio.

Precisamos de todos. A morada: Associação dos

Antigos Gaiatos do Norte, Ave­nida Barão Lourenço Martins,

Todos precisamos; ainda mais nas idades difíceis.

- Para seres um homem tens d e te g uardar a ti mesmo -disse-lhe.

Mas, enquanto não chega­mos lá, vou <UTanjar-lhe um guarda; um companheiro

que com ele faça caminho e o ajude. Há-de resultru·.

É ainda o Advento. Ainda não chegámos à nossa meta. Estes são os bons pontos de partida para alcançar a vitó­ria.

Padre Júlio

CALVÁRIO , Oculos escuros N UNCA fui apologisa de óculos escuros, porque eles

nublam a realidade. Mas há que goste de os usar, sobretudo pessoas importantes. Não sei bem se

são aqueles que tornam as pessoas importantes ou se estas os utilizam para o parecerem.

Há dias, deslocaram-se a esta Casa umas pessoas quali­ficadas, com o intuito de observarem o nosso viver, já que para tal vinham mandatadas. Traziam óculos escuros e natu­ralmente não viram por aqui nada claro: tudo lhes pareceu escurecido. Uma das observadoras resolveu tirar os óculos por uns breves momentos e éxclamo u surpreendid a: -Estou deslumbrada com isto! Mas logo voltou a colocar os seus óculos e de novo tudo lhe pareceu sem cor.

Edifício dos CTT, 4560-373 Paço de Sousa.

Aproveitamos a oportuni­dade para desejar a todos os gaiatos, antigos e actuais, de quaisquer Casa, e a todos os Amigos da Obra da Rua, santo Natal.

Júlio Fernandes

ASSOCIA~ÂO DA COMUNIDADE

~ GAIATO» DE SETúBAL

S. MARTINHO - Foi um dia de arromba. Quem esteve presente sentiu este fes tival. Um dia para recordar, no álbum das nossas memórias. A ale­gria, o bom-senso, o respeito foram e serão palavras de ordem. Como Alguém nos ensi­nou! Vi ve r como temos de estar, é e será sempre o nosso caminho. O Padre Júlio, a con­tas com uma gripe, não pôde estar presente, não a contento enviou os seus embaixadores, os rapazes da Casa do Gaiato; que coisa linda e maravilhosa que tivemos! Na graça de Deus temos tudo, só Amor. No fim da semana seguinte fomos ao magusto da Casa, a alegria dos rapazes era enorme! A presença daqueles que ali passaram os incentivos ao gosto da vida. A presença é o maior testemunho.

FESTA DE NATAL -Continuamos à espera. Estão abertas as inscrições para os fi lhos e netos dos associados, até aos quinze anos. Haverá um responsável pela recolha dos nomes e idades das crianças. É necessário o caro amigo ter a sua quota em dia, e o prazo ter­mina a 14 de Dezembro, não sendo admissível o próprio dia. A festa será a 21 de Dezembro na nossa sede.

César Amante

ASSOCIAÇÃO DOS ANnGOS GAIATOS

DE ÁFRICA .

FALECIMENTO - No passado dia 4 de Novembro, chegava eu a Beja vindo de Amarante, onde fui acompa­nhar o funeral de um familiar, quando, de repente, toca o tele­móvel. Era o Sá Cruz a comu­nicar o falecimento da sua esposa, a sua companheira nos bons e maus momentos. Ao longo de 33 anos de união, aca­bava de ser vítima de doença prolongada. Infelizmente, por motivos profissionais não pude marcar presença físi ca, mas estive lá em espírito.

Lembro-me d e no último encontro de antigos gaiatos de África, onde o casal marcou presença, o Sá Cruz (<<Casa­ca<<) desabafar comigo acerca da doença da esposa, onde lhe notei uma grande preocupação e amargura pelo seu estado de saúde, ao mesmo tempo que demonstrava uma grande com­preensão. Era notória a preo­cupação do Zé em integrar a esposa no grupo para que se senti sse bem. Ainda hoje , quando escrevia es tas linh as tive necessidade de falar com ele e notei -lhe uma amargura tremenda, mas creio que com a sua força vai conseguir trans­por esta barreira.

Foi, pois, com qastante tris­teza que recebi a notícia do desaparecimento desta nossa irmã.

Em meu nome e de todos os antigos gaiatos de África, e nvio um grande abraço de pesar a toda a família enlutada e que não se deixem abater por es ta grande perda que vos aconteceu.

Força Zé! José Luís Pinheiro

O GAIAT0/3

A maioria dos homens da nossa sociedade anda com óculos escuros. Por isso tudo se lhe apresenta negativo. É mesmo isso que nos transmitem quando escrevem; é isso que nos relatam quando falam; é isso que nos segredam quando conversam: nada lhes parece positivo. São os jorna­listas, são os homens do poder e do saber, são os que labu­tam nas fábricas, nos escritórios ou no campo, são as famí­lias e seus filhos.

Ora, só com olhos bem desimpedidos e libertos de esca­mas se pode observar o lado positivo da vida humana e ter gosto de vivê-la. Se algo obscurece os nossos olhos, importa, pois, deitá-lo fora para vermos o mundo de outra maneira. Precisamos todos de purificar o nosso olhar para vermos que há ainda muita coisa boa e bela por esse mundo fora. Se há!

Deus ao criar o mundo viu que tudo era bom. E vê. Mas há homens que só vêm o mal, porque amam, apreciam e lhes covém mais as trevas do que a luz. O Senhor Presidente da República, há tempos, esteve entre nós discretamente. Viu tudo e gostou. Ao partir, com os olhos humedecidos, deu-me um abraço e um «hei-de voltar». Vinha sem óculos escuros. E viu claridade.

Padre Baptista

DOUTRINA

O Evangelho é Vida!

<'JEU sou uma simples rapariga operária. Encon· ~ trei, há seis meses, atirada para um canto

da rua, uma mulher ainda nova, pois só conta trinta e um anos, a morrer de fome e na mais horrenda misé­ria que se pode imaginar. Tinh a essa criatura um filhinho de seis anos e meio. Como rapariga cristã, não me foi possível ficar de braços cruzados diante de semelhante espectáculo; trateí de meter a mãe no hospital onde se encontra ainda com poucas esperanças de cura e tomei o pequenino para minha casa, julgando que seria ape­nas por um mês, pois que eu, pobre, a vi ver de um modesto ordenado e do qual sustento a minha mãe, não podia com encargo tão grande. Julgava eu ter mais ou menos facilidades de o inter­nar em alguma Casa de Caridade. E nganei-me redon­damente; todos me fecham a porta, dizendo que não pode ser. Que fazer? A mãe em perigo de vida; e eu, sem poder aguentar tão grande encargo, terei de entregar a criança à rua? Não. Confio.»

GOSTO muito da premissa e da conclusão: «Como sou rapariga cristã, não me foi pos­

sível ficar de braços cruzados». Muito bem! É assim mesmo! Também não foi possível ao samari­tano, naquele tempo, ficar de braços cruzados; e tomou conta do espoliado, obra de ladrões; fez pre­cisamente como esta operária. Até aqui, tudo está na regra. Onde a rapariga se enganou, e «.redonda· mente» como ela própria confessa, foi em supor que todas as instituições e pessoas que se dizem, sejam efectivamente cristãs. Não são, não senhor.

SE não estou em erro, foi na cidade de Antioquia que começaram a dar o nome de cristãos aos

Discípulos de Jesus. Tinham uma vida tão forte que os romanos, também fortes, os atiravam aos leões, a ver se lhes davam fim. Eram cristãos. Viviam a Vida do seu Mestre. A Força vinha-lhes de dentro. Não podiam ficar de braços cruzados diante das necessi­dades dos seus irmãos. Nem fórmulas nem frases - Vida. O Evangelho é Vida!

ORA a queixa que vem na carta, a dizer que dodos me fecham a porta», é sinal de

morte. As sociedades apostaram. Os cristãos são frascos vazios. As chamadas Casas de Caridade vivem das suas rendas, por isso mesmo dizem que não pode ser - e o Mundo está em chamas!

~-.r',/

(Do livro Pão dos Pobres - 4. o vol.)

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4/ O GAIATO

ENCONTROS EM LISBOA

Vem Senhor Jesus! V EM Senhor Jesus»!

« Sabes, meu Jesus, logo que, nas nossas Igrejas, a liturgia começa a recordar este grito secular

do Teu povo, o coração como que se desanicha e começa a pulsar, em alta frequência, deixando que despertem todas as emotividades e afectividades controladas ao longo do ano. Sinto-me fragilizado com as vidas que passam na minha vida que nem sei por onde começar a falar conTigo.

«Vem Senhor Jesus»! A aproximação do Teu nascimento desperta os sonhos

que a rotina do dia-a-dia, ao longo do ano, procura enquistar. Sonhos de humanidade, porque Te tomaste humano. Sonhos de vencer as embrulhadas que a vida tece, porque Tu estás no meio de nós. Sonhos de partilha para uma vida humana mais fraterna e justa. Sonhos de paz a começar no nosso coração e a irradiar à nossa volta. Sonhos de eternidade, por­que Tu apontas o Além à nossa humanidade fechada sobre si mesma e sobre os seus pequenos horizontes.

«Vem Senhor Jesus»! Quero preparar-me para este encontro único com o Teu

nascimento, neste ano de 2003. Um ano que me foi dado e

Benguela Continuação da página

verdade que e les são o futuro da Nação. É verdade também que a felicidade dos filhos está na comunica­ção do que têm com os que mais precisam. Quem dera. os pais caminhassem por esta via e ajudassem os seus filhos a crescer na comu­nhão dos bens.

Assisti, há momentos, a uma cena encantadora. Eram cinco crianças senta­das em roda. Uma delas tira um bolo pequenino do embrulho e fá-lo passar pela mão de todas. Nenhuma ficou sem nada. No fim, houve uma salva de palmas. Não eram irmãs de sangue. Que importa? Ficaram feli­zes. Foi o mais importante.

São de tal modo delicadas as feridas das crianças que nascem na nudez de tudo o

que havemos de lançar mão de todos os meios para as salvar. Precisamos também das tuas mãos. Precisamos também das mãos dos teus filhos. Vai-se a tranquili­dade da nossa casa quando sabemos e não fazemos.

Andei pelo hospital com uma mãe doente. Morreu, há poucos dias. Os filhos esta­vam à minha espera no fim da Eucaristia de Domingo. Que fazer? A mãe era o único sustento da casa. Vamos à procura da melhor solução que não é o interna­mento na Casa do Gaiato. Vieram pela mão da tia e hão-de ir para casa da tia que gosta muito deles. Agar­ramo-nos ao grande valor humano da familia alargada. É verdade que a Ana tem filho s, tpas está disposta a receber mai s, mesmo que não sejam fruto directo do

não volta. Começo a reunir aqueles que gostaria de levar até junto de Ti, de Tua Mãe e de José. São tantos que, às vezes, não sei se cabem em Teu coração, dado que temos sempre a mania de medir as coisas pela nossa pequenês. Há dias, dei comigo mergulhado no sofrimento, porque parecia que o mundo, à minha volta, era só de destroços de vidas sem esperança, caídas para o abismo e que constantemente nos batem à porta. No entanto, existem tantas coisas boas, gente boa, certinha, com vidas heróicas.

«Vem Senhor Jesus»! Aqui vou eu em direcção ao Teu Presépio com todos

estes que diariamente me estão confiados. No meio de espe­ranças e desânimos vão caminhando e só uma visão de futuro nos dá força para ultrapassar os desafios do dia-a-dia. Junto com estes, quero levar-Te também aqueles que por aqui passaram. Muitos se encontram bem na vida com que sonharam, alguns aparecem-me ou vou tendo notícias de sonhos desfeitos.

«Vem Senhor Jesus»! Levo também os Pobres que diariamente nos batem à

porta, com vidas de sofrimento onde seria necessário inves­tir tanto para se poder vislumbrar uma esperança. Aconte­cem dias em que já não sou capaz de ouvir histórias das suas vidas. Sinto-me completamente incapaz de dar solução e isso atira-me para um enorme desencanto.

«Vem Senhor Jesus»! Que o Teu Natal não passe em vão ... Tantas esperanças!

seu sangue. A alimentação fica por nossa conta. Quando todos damos as mãos não fica problema por resolver! Estaremos vigilantes para que a tuberculose não entre.

É o nosso caminho do Natal. Quem dera seja tam­bém o vosso! Se assim for, encontrar-nos-emos juntos do Menino-Deus, no Presé­pio, a agradecer a revelação da nossa grandeza, quando nos ajoelhamos para levantar os meninos caídos. Aprende­mos esta lição para a vida com a experiência do Filho de Deus que se fez Homem.

Apresentaram-nos mais dois tuberculosos em estado adiantado. Eram casos quase perdidos. Um jovem e outro mai s velho. E agora? Já são outros. Não lhes falta a comida nem os medicamentos. Dá gosto olhar para os seus rostos. Entrai nesta aventura. Parti­cipai, do lugar onde estais. A Caridade, o Amor, não conhece barreiras nem dis-

Padre Manuel Cristóvão

tâncias. A pouco e pouco ireis descobrindo, em vos­sas vidas , o alcance da vocação semeada no cora­ção de toda a criatura. Nin­guém é para si.

Peço desculpa por trazer estes temas das crianças com fome, da tuberculose, do paludismo e outros para lei­tura em dias próximos do Natal. Incomodam, por certo. Os grandes meios de comu­nicação social falam doutra maneira. É ·a maneira do mundo que deixa o mais importante no escondido e apresenta o que agrada aos sentidos. Não estou contra o mundo. Quero estar bem dentro do mundo, juntamente convosco; levantar bem alto a voz daqueles que ficam perdidos e esquecidos no meio do barulho das grandes fes tas. Vamos dar-lhes o lugar que lhes pertence, na vida de cada um de nós.

Votos de Natal cheio de Paz e Alegria!

Padre Manuel António

Momentos Tribuna de Coimbra Continuação da página 1

Continuação da página 1

Voltar ao Presépio para exorcizar o tédio que os sacos da fartura semeiam frequentemente nos corações em busca de sentido e de felicidade. Voltar ao Presépio para nos deixarmos convencer da ternura do nosso Deus e do Seu amor infinito. Voltar ao Presépio para read-

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13 de DEZEMBRO de 2003

MOÇAMBIQUE

Duas vertentes N A última crónica desta terra, não pude evitar

um sentimento que inevitavelmente tradu­zia uma reflexão sobre o que muitas vezes

assoma ao meu espírito. Certamente nas horas mais difíceis ou até mais dolorosas de quem assume a tarefa de educar em simultâneo um número tão grande de rapazes, cada um com seus problemas, por vezes com raízes tão profundas e manifestações tão marcantes, sobre que eles não são capazes de dialogar, tinha em mim a necessidade de dizer o que me vai na alma. Não posso esquecer aquela palavra de Pai Américo: «Eu vivo a angústia da Obra que criei».

Apesar de os exames de fim de ano, terem dei­xado alguns muito contentes, isso não exprime mais que uma certa amnistia e uma política de avestruz que o Governo adoptou, tendo em vista o fracasso de outros anos. Para nós sobra a insatisfação e o desaire no empenho que mantivemos todo o ano e um redo­brar de esforços na insistência por um ensino apri­morado e recebido com entusiasmo, o que não é entendido por todos.

Relançando um olhar sobre quantos foram ampa­rados por esta Casa do Gaiato no currículo escolar, desde os que nas Creches deram os primeiros passos, ou subiram à segunda classe, passando aos adultos que retomaram seus estudos da secundária até os que se preparam para exame da décima segunda, quase che­gámos ao número dois mil. Mas esperamos sempre mais daqueles que, nas melhores condições de espaço físico, de professores e de acompanhamento fora da Escola, podem aproveitar melhor.

Este ano todo o empenho dos mais responsáveis desta Casa teve duas vertentes, qual delas a mais importante. Esta olhando ao futuro e a outra procu­rando, no presente, minimizar de várias maneiras a fome, nas famílias.

Com apoio do Programa Mundial de Alimenta­ção, da Caritas Nacional, do Pro Salus de Espanha, Ecos do Sur, da Galicia e da Obra da Rua, muito se fez nas Aldeias. Além de distribuição de alimentos, houve cursos de culinária para confecção de refeições à base do que se desperdiça, como a casca da banana, aproveitamento de vegetais desidratados ao sol e guar­dados para posterior utilização. Limpeza dos quartei­rões da Aldeia com aproveitamento do lixo reciclável, um para adubação, outro para confecção de utilidades para venda. Hortas comunitárias de mandioca e batata-doce. Muitas delas feitas no nosso terreno, com plantas criadas nos viveiros das Creches e com água fornecida por nós. Os cursos de costura funcionaram todo o ano. Pena foi não podermos comprar máquinas de costura, para que as alunas com melhor aproveita­mento pudessem, de imediato, ter um ganha pão.

Tudo isto somado ao que na área da sanidade, com mais de três centenas de latrinas quase concluí­das, só este ano; cursos de prevenção de malária e da cólera com desinfecção das casas e recolha de lixo, cursos para gestantes, de líderes comunitários, de res­ponsáveis de sectores de saúde, de prevenção de HIV e acompanhamento aos que já contraíram o vírus, estudo da hepatite endémi ca, aperfeiçoamento do Pessoal de Saúde e monitoras das Creches, que já se vinha fazendo, são um contributo, dado com muito amor e respeito por este Povo que, nas condições em que vive, é para nós o Outro, que espera em nós, mas na realidade, Aquele de Quem tudo nos vem.

Padre José Maria encarregados da promoção das voca­ções religiosas, na Igreja, tão pouco ou quase nunca falam delas, e as apresentam como modelo a seguir por quem se querentregar a Deus!

No meu tempo de jovem aparecia sempre nas reflexões e nos livros e nas revistas o exemplo do Padre Damião. Aquele Homem que deu a sua vida aos leprosos e morreu de lepra no meio deles. Apetecia então perguntar, mas não haverá mais nin­guém que dê a sua vida com heroís­mo semelhante por esse mundo além e essa Igreja vastíssima?

quirirmos a confiança em nós e nos outros: estamos sempre a tempo de recomeçar, Deus está à nossa espera e vai connosco. Vamos de novo começar pelo Presépio, pela magia que dimana das personagens paradig­máticas que o compõem. Falemos de cada uma às crianças que de olhos arregalados tudo devoram. Só depois, o Pai Natal e outras histórias de encantar. Pois que a his­tória verdadeira é esta: Jesus de Nazaré é Deus que nos ama e que em cada Natal nos recorda o que devemos saber em cada dia da nossa vida: que só o amor vale.

Notas do Tempo

Haveria sobrenaturalmente, mas ele era a bandeira.

Por vezes, vamos atrás de bandei­ras ao arrepio do Evangelho esque­cendo que as coisas e as pessoas grandes são sempre as mais peque­ninas.

Padre Acílio

Padre João

PENSAMENTO

O fundamento do Cris­tianismo é a renúncia.

PAI AMÉRICO

Continuação da página 1

que o remédio alcançado seja também verdadeiramente deles. Em toda esta dinâmica não há benfeitores nem beneficiados. Há a fraternidade cristã a equilibrar direitos e deveres.

E também em relação ao Povo se verifica a fórmula que retrata a Obra da Rua. Porque ela é para « OS mais caídos e abandonados» do Povo, da porção dele que pode alguma coisa, desde o princípio a assumiu como sua e participa nela, garantindo a sua subsistência: Obra do Povo, para o Povo, pelo Povo.

Por isso que pertencemos a um Povo pobre e sacrificado que espontânemente reparte da sua suficiência o preciso para fazer a nossa, é por estes que devemos nivelar­-nos - que a nossa vida seja suficiente e digna na modéstia, tal qual a deles.

Por opção, quaisquer cinco estrelas estão fora dos nossos horizontes. Basta-nos a alegria tranquila que nos vem da comunhão com o Povo. E também a de nunca termos pesado em qualquer desequilíbrio das Finanças Públicas.

Padre Carlos