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NOTA DE ATUALIZAÇÃO DO LIVRO MANUAL DO DELEGADO
DE POLÍCIA CIVIL: TEORIA E PRÁTICA
Capítulo I. Subitem 3.1
b. PEC 293/2008: atribui maior independência funcional aos Delegados
de Polícia, alterando o art. 144 da Constituição Federal. A proposta acrescenta
o seguinte texto ao dispositivo constitucional: o Delegado de Polícia "exerce
função indispensável à administração da justiça, sendo-lhe assegurada
independência funcional no exercício do cargo, além das seguintes garantias:
a) vitaliciedade, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial
transitada em julgado; b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse
público; e c) irredutibilidade de subsídio."
Forçoso mencionar, por oportuno, que a PEC 37/10, segundo a qual a
investigação criminal deveria ser de competência privativa das Polícias Federal
e Civil (o que segundo alguns juristas representaria séria limitação ao poder de
investigação do Ministério Público), foi rejeitada no dia 25 de junho de 2013.
A votação e a rejeição da PEC 37 foram marcadas por forte apelo
popular, em razão de diversas manifestações nas principais cidades brasileiras,
que tiveram início em São Paulo com o Movimento Passe Livre, para redução
das tarifas do transporte público, mas que ganharam as ruas, mobilizando o
Brasil, de uma forma apartidária, reivindicando diversas questões, entre elas o
fim da corrupção, melhorias na saúde pública, abando do projeto que versava
sobre cura gay, combate à impunidade, dentre outros temas.
3.2 Lei 12.830/2013: Investigação criminal e garantias ao Delegado
de Polícia
Ao longo dos anos a carreira de Delegado de Polícia civil vem sofrendo
uma reformulação necessária. São muitos os equívocos, que partem da própria
epistemologia da palavra "delegado", pois não há se falar em delegação da
função, mas sim investidura decorrente de aprovação em árduo concurso
público. Os erros passam ainda por uma complicada definição do papel do
delegado no processo de redemocratização do País e culminam em discussões
atuais sobre sua real participação na sociedade, especialmente na área de
segurança pública, tendo em vista ser a primeira autoridade a assegurar os
direitos e garantias constitucionais na seara criminal.
Observa-se uma verdadeira "crise de identidade", o que parece
acompanhar as mudanças do Direito Penal brasileiro.
Assim, o papel do Delegado de Polícia deve ser revisto. Essa autoridade
que outrora era a perseguidora do criminoso, atualmente exerce um papel
decisivo no combate à criminalidade, acompanhando uma especialização que
vem ocorrendo no Brasil e no mundo e que exige cada vez mais do
profissional.
A especialização para o combate a determinadas condutas exige
capacitação e estrutura para o trabalho investigativo, além de assistência e
proteção, v.g., nos crimes de violência doméstica, análise psicossocial dos
envolvidos com o intuito de proporcionar a solução pacífica do conflito, como
exemplo, o "Projeto Mediar", destacando, desta forma, a exigência da
interdisciplinaridade da formação profissional do Delegado de Polícia na
atualidade.
Aliado a esse processo de reestruturação, percebemos que o
enfraquecimento gerado por tal "crise de identidade" tem despertado, em
diversos outros órgãos e instituições, o interesse pela investigação criminal,
cujas consequências nefastas para a segurança pública e o Estado
Democrático de Direito são a descentralização preocupante da atividade
investigativa, abusos de poder em razão da ausência de dispositivos legais
disciplinadores do procedimento, e, finalmente, a nulidade processual
chancelada pelos Tribunais Superiores.
O que se pretende nesse contexto não é abrir discussão quanto à
legitimidade da investigação promovida pelo Ministério Público, Polícia Militar,
entre outros órgãos, mas sim fomentar um debate sobre a real função do
Delegado de Polícia na atualidade, principalmente no que tange aos novos
paradigmas e aos desafios da carreira.
É fato que o nosso Código de Processo Penal de 1941 foi inspirado no
Direito Italiano (de índole eminentemente autoritária, fascista). Entretanto, com
o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, houve o decisivo desenvolvimento
da disciplina dos Direitos Humanos, com a publicação de diversos tratados
internacionais e a criação de organismos voltados para o crescimento de
políticas públicas e, portanto, o que se esperava era uma evolução do direito
penal e do direito processual penal, mas, infelizmente, não foi o que ocorreu,
pois essas disciplinas cresceram em sentido diametralmente oposto ainda por
muitos anos.
Somente com a Constituição Federal de 1988 é que foi abandonado o
Direito Penal Máximo (que dá um tratamento estigmatizante ao criminoso,
tratado como "objeto da investigação") e foi acolhido o denominado Direito
Penal Mínimo, garantista, com o indivíduo sendo tratado como um "sujeito de
direitos".
Todavia, diante da participação efetiva da polícia como braço armado
durante o período ditatorial brasileiro (marcado por torturas e abusos de todas
as ordens), a Instituição Polícia Civil acabou sendo marginalizada pela
Constituição Cidadã de 1988, de modo que não acompanhou a evolução por
que passaram e ainda passavam os direitos penal e processual penal.
O Texto Constitucional de 1988 acabou criando uma desigualdade entre
as instituições responsáveis pela consecução da justiça e as segurança
pública, pois fortaleceu o Poder Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria
Pública e até mesmo a Advocacia, mas pouco trouxe de garantias para a
Polícia Civil.
Criou-se, então, um verdadeiro bolsão de desigualdade entre os
Delegados de Polícia e as autoridades representantes do Judiciário, do
Ministério Público, da Defensoria e da Advocacia.
Diante desse contexto e com o objetivo de conferir prerrogativas ao
Delegado de Polícia é que foi promulgada, no dia 20 de junho de 2013, a Lei
12.830, que versa, fundamentalmente, sobre poderes de investigação da
autoridade policial.
3.2.1 Objeto da Lei
O art. 1° da lei 12.830/13 já deixa claro que ela dispõe sobre a
investigação criminal conduzida pelo Delegado de Polícia. Além disso, a lei
também promove algumas garantias importantes à autoridade policial.
3.2.2. Natureza da função de Polícia Judiciária
Reza o art. 2o da novel Lei que "as funções de polícia judiciária e a
apuração de infrações penais exercidas pelo Delegado de Polícia são de
natureza jurídica essenciais e exclusivas de Estado".
Esse dispositivo apresenta-se como reforço ao § 4° do art. 144 da
Constituição Federal, além de reconhecer a natureza jurídica da atuação do
Delegado de Polícia, questão que vinha sendo debatida em juízo no âmbito
estadual.
3.2.3 Finalidade da investigação criminal
O § 1o do art. 2º da Lei 12.830/12 aduz que, "ao Delegado de Polícia, na
qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal por
meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como
objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das
infrações penais".
Num primeiro momento, reconhece o status de autoridade policial ao
Delegado de Polícia, bem como confere a este atribuição para a condução
da investigação criminal.
Assinala que a investigação criminal, persecução penal extra judicio, se
dará por meio de inquérito policial (artigos 4º a 23 do CPP) ou outro
procedimento previsto em Lei, como o termo circunstanciado de ocorrência,
previsto na Lei 9.099/95, para apuração dos delitos de menor potencial
ofensivo.
Há, por fim, um alargamento da visão dicotômica da finalidade da
investigação criminal, prevista no art. 4º do CPP, cujos escopos seriam a
autoria e a materialidade, para incluir as circunstâncias. E essa alteração é
relevante, pois evidencia a importância do trabalho investigativo realizado pela
autoridade policial, que deve buscar todos os elementos elucidadores do delito,
demonstrando a necessidade de conhecimento jurídico, pois tais circunstâncias
proporcionarão em juízo alicerces decisivos, tanto para acusação quanto para a
defesa, como o reconhecimento de qualificadora, privilegiadora, legítima
defesa, agravante, etc.
3.2.4 Atribuições da autoridade policial
Nos exatos termos do art. 2º, §2o da lei, durante a investigação criminal,
cabe ao Delegado de Polícia a requisição de perícia, informações, documentos
e dados que interessem à apuração dos fatos.
Esse dispositivo é de grande valia no sentido de dar maior celeridade e
autonomia ao Delegado de Polícia na condução do inquérito, pois, na prática,
há resistência por parte de diversos órgãos e instituições no fornecimento de
documentos e dados que interessem à investigação.
Com o novo panorama legal, independentemente de autorização judicial,
poderá o Delegado de Polícia requisitar imagens de sistema de câmeras de
segurança de determinado estabelecimento público ou privado, a apresentação
de contrato ou cheque, dados de funcionários, etc.
Na mesma linha, a Lei 12.683/12 alterou o diploma legal da Lavagem de
Dinheiro, Lei 9.613/98, para tornar mais eficiente a persecução penal dos
crimes referidos, trazendo uma importante ferramenta ao Delegado de Polícia
em seu art. 17-B, in verbis: "A autoridade policial e o Ministério Público terão
acesso, exclusivamente, aos dados cadastrais do investigado que informam
qualificação pessoal, filiação e endereço, independentemente de autorização
judicial, mantidos pela Justiça Eleitoral, pelas empresas telefônicas, pelas
instituições financeiras, pelos provedores de internet e pelas administradoras
de cartão de crédito."
Como bem pontua Renato Brasileiro de Lima, "embora colocado na Lei
de Lavagem de Capitais, este dispositivo pode ser invocado para a apuração
de qualquer delito, especialmente as infrações penais antecedentes. Não teve
o legislador a intenção de limitar seu escopo à lavagem de capitais e nem teria
razão para fazê-lo, já que o tipo penal de branqueamento depende de uma
infração independente".1
Esse também é o nosso entendimento e, concatenando ambos os
1
LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de Processo Penal, volume único. 1.ed. Niterói: Impetus, 2013, p. 728. 1
Idem.
dispositivos, temos que a autoridade policial, independentemente de
autorização judicial, poderá ter acesso exclusivamente aos dados cadastrais
do investigado, contendo as seguintes informações:
1. qualificação pessoal: nome, nacionalidade, naturalidade, data de
nascimento, estado civil, RG, CPF;
2. filiação: indicação do nome dos pais e
3. endereço: local de residência e de trabalho.
E o Delegado de Polícia poderá requisitar tais informações junto aos
órgãos da Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras, pelos
provedores de internet e pelas administradoras de cartão de crédito.
Entendemos que os dados cadastrais não estão sujeitos à cláusula de
reserva de jurisdição, diversamente da interceptação telefônica, proteção a que
se refere o art. 5º, inc. XII da Constituição Federal. Afinal, se empresas de
concessão de crédito ou mesmo pessoas jurídicas que assinam determinados
serviços têm fácil acesso aos dados cadastrais de clientes ou potenciais
clientes, não se pode negar este mesmo acesso às autoridades públicas,
independentemente de prévia autorização judicial.2
3.2.5 Avocação e Redistribuição
O § 4o do art. 2º da Lei 12.830/13 afirma que "o inquérito policial ou
outro procedimento previsto em lei em curso somente poderá ser avocado ou
redistribuído por superior hierárquico, mediante despacho fundamentado, por
motivo de interesse público ou nas hipóteses de inobservância dos
procedimentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a
eficácia da investigação".
O escopo primordial do referido parágrafo é tentar diminuir a
ingerência política no trabalho policial, embora a Lei 9.784/99, que dispõe
sobre o processo administrativo, já pudesse ser invocada como fundamento
para eventual questionamento frente ao superior hierárquico, pois o art. 15 da
lei assevera que a avocação temporária de competência atribuída a órgão
2
Manual de Redação da Presidência da República. 2ª ed. ver. e atual. Brasília, 2002, site: www.planalto.gov.br.
inferior hierarquicamente somente é permitida em caráter excepcional e por
motivos relevantes devidamente justificados.
A nova lei exige fundamentação do despacho, consentânea com o
art. 50 da Lei 9.784/99.
3.2.6 Remoção do Delegado de Polícia
Uma das principais garantias constitucionais dos magistrados e
membros do Ministério Público é a chamada inamovibilidade. Prevista nos
artigos 95, inc. II e 128, § 5º, "b", da CF, garante a permanência da autoridade
na comarca formalmente lotada, salvo por motivo de interesse público,
reconhecido por decisão na maioria absoluta dos seus membros.
A Lei 12.830/13 chancela que a remoção do Delegado de Polícia
dar-se-á somente por ato fundamentado.
Trata-se de uma inamovibilidade mitigada, pois não possui a força
jurídica de garantia constitucional, bem como não prevê a decisão como
atribuição de um órgão colegiado. Porém, avança no sentido de conferir maior
estabilidade e tranquilidade ao Delegado de Polícia, especialmente em crimes
contra a Administração Pública, empresas de renome na cidade de lotação,
entre outras circunstâncias.
3.2.7 Indiciamento
O indiciamento privativo, previsto no § 6o do art. 2º da Lei em
comento, destaca que tal atribuição é prerrogativa do Delegado de Polícia, que
deverá promovê-lo por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do
fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias,
demonstrando, mais uma vez, o perfil jurídico da atuação do Delegado de
Polícia.
3.2.8 Peculiaridades do cargo: tratamento protocolar
Por fim, o art. 3o da Lei 12.830/13 prevê que "o cargo de Delegado
de Polícia é privativo de bacharel em Direito, devendo-lhe ser dispensado o
mesmo tratamento protocolar que recebem os magistrados, os membros da
Defensoria Pública e do Ministério Público e os advogados", grifos nossos.
O bacharelado em Direito é um consectário lógico da natureza
jurídica da atuação do Delegado de Polícia, exigindo-se do profissional
conhecimento amplo da esparsa legislação penal brasileira, pois é, geralmente,
o primeiro operador do Direito a analisar o fato concreto e realizar a adequação
típica.
No tocante ao tratamento protocolar, encontramos a mesma
exigência na Lei Orgânica do Ministério Público, Lei 8.625, art. 31, inc. I, na Lei
Orgânica da Defensoria Pública da União, Lei Complementar 80/94, art. 44, inc.
XIII, bem como no Estatuto da Ordem dos Advogados, Lei 8.906/94, art. 6º,
parágrafo único.
Todavia, importante não se reduzir o tema tratamento protocolar
que deverá ser dispensado às autoridades policiais a um simples "Vossa
Excelência", conforme preceitua o Manual de Redação da Presidência da
República.3
Mister a observação dos diversos dispositivos pertinentes nas
legislações específicas de cada carreira.
A Lei Complementar 35/79, Lei Orgânica da Magistratura Nacional,
art. 33, inc. I, a Lei Orgânica do Ministério Público, Lei 8.625, art. 40, inc. I, na
Lei Orgânica da Defensoria Pública da União, Lei Complementar 80/94, art. 44,
inc. XIV, preveem que tais autoridades serão ouvidas como testemunha ou
ofendido, em qualquer processo ou inquérito, em dia, hora e local
previamente ajustados com o Juiz ou a autoridade competente.
O Estatuto da Ordem dos Advogados, Lei 8.906/94, dispõe em seu
art. 6º que "não há hierarquia nem subordinação entre advogados, magistrados
e membros do Ministério Público, devendo todos tratar-se com consideração e
respeito recíprocos". O mesmo tratamento deve ser garantido ao Delegado
de Polícia.
E no art. 7º, inc. VIII, o direito de dirigir-se diretamente aos magistrados
nas salas e gabinetes de trabalho, independentemente de horário previamente
marcado ou outra condição, observando-se a ordem de chegada, condição que
promoveria eficiência e celeridade no trâmite das representações junto ao
Poder Judiciário. No inciso XVII do mesmo artigo, garante o direito de "ser
publicamente desagravado, quando ofendido no exercício da profissão ou em
razão dela". Novamente, insistimos: o delegado também deve fazer jus a
essas prerrogativas, sob pena de flagrante violação ao art. 3° da Lei
12.830/13.
Sem dúvidas observamos avanços significativos com o novo diploma
legal em relação à atuação do delegado de polícia: natureza jurídica da função,
atribuição para a condução do caderno investigativo, indiciamento privativo,
poder requisitório, inamovibilidade mitigada, tratamento protocolar, entre outros
pontos relevantes. Porém, o próximo passo é ainda mais importante: fazer
valer todas as conquistas.
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