nota tecnica pfdc cam eb no 01 2013[1]

Upload: leila-samira-portela

Post on 02-Mar-2016

23 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    Nota Tcnica PFDC/CAM/EB N 01/2013

    Temas: Direitos humanos dos Calon, Rom e Sinti (ciganos). Atividade. Analise pericial (antropologia). Referncia: Pecas de Informao (P.I.) n 1.00.000.03180/2012-86, de 05/09/2012. PFDC.

    Braslia, 04 de fevereiro de 2013.

    Senhor Procurador Federal dos Direitos do Cidado Adjunto,

    1. Esta Nota Tcnica integra o conjunto das atividades de apoio e assessoria a estaProcuradoria Federal dos Direitos do Cidado, na sua atuao, desde 06.08.20121, pelos direitosdos ciganos (Calon, Rom e Sinti), no Brasil, em parceria com a 6 Cmara de Coordenao eReviso (6 CCR/MPF).

    2. Trata-se de uma primeira aproximao da temtica, por esta assessoria. Esto aquireunidas demandas e sugestes de representantes de associaes dos Calon, Rom e Sinti2 , noBrasil chamados ciganos, denominao externa, diferente do nome unificador Rom, umaautodenominao de alcance transnacional, definida em fruns da diversidade cigana naEuropa e reconhecida pelas Naes Unidas. No Brasil, este nome j encontra lugar em pautas deassociaes ciganas, mas no foi ainda amplamente conhecido e acolhido.

    3. Apresento tambm uma leitura de parte da bibliografia mais recente, principalmenteantropolgica, e sugestes para a continuidade deste trabalho, considerando que a PFDC, com a1 Data do recebimento da Representao da Associao Internacional Mayl Sara Kal, que, juntamente com o ouvidor da

    SEPPIR e membros da comunidade Rom/Kalderach de Aparecida de Goinia/GO, solicitaram a reunio com a PFDC. (Relatriojuntado s pecas de informao em referencia). O MPF e a PFDC tm atuaes anteriores, as quais precisamos ainda conhecer erelatar, por isto refiro-me aqui apenas s atividades deflagradas em face da referida Representao.2 Considero as contribuies oferecidas pelos convidados e pelos participantes da Audincia Pblica sobre os direitos dos assim

    chamados 'ciganos': Calon, Rom e Sinti, promovida pela Comisso de Direitos Humanos e Legislao Participativa do SenadoFederal (CDHLP/Senado), em 12.12.2012, com apoio da PFDC e 6 CCR, assim como as Atas desta Audincia Pblica e de umaoutra, anteriormente realizada, pela CDHLP/Senado, em 2011. SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    1

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    6 CCR, dar seguimento s iniciativas j adotadas, promovendo reunies e audincias comrepresentantes Calon, Rom e Sinti, suas associaes e, ainda, os rgos responsveis pelaspolticas pblicas federais promotoras dos direitos reclamados (educao, acesso justia,sade, cultura, promoo da igualdade racial, comunicao, planejamento e ordenamentourbano, entre outras). 3

    4. Este texto est organizado em trs itens: I. Direitos, demandas e palavras; II.Classificaes, diversidade e unidade: uma leitura de contribuies antropolgicas; III. Notaspelos dilogos interdisciplinar e intercultural.

    I. Direitos, demandas e palavras

    5. Comeo com as expresses e manifestaes dos Calon, Rom e Sinti que compareceram Audincia Pblica da CDHLP/Senado e que responderam a indagaes encaminhadas por e-mailpela PFDC.4 Em seguida apresentarei uma lista de direitos e violaes, traduzindo asdemandas.

    6. Denncias e demandas recebidas pelas instituies do sistema de justia costumam sertraduzidas nos termos do direito. Mas, crescentemente, tm sido apresentadas j nestes termospelas pessoas, organizaes e associaes representantes, luz das experincias de violao emodos prprios de interpretar os direitos humanos. Isto faz parte do regime democrtico e,tambm, da dinmica do direito, se o tomarmos como construo social sempre em curso. Nosespaos em que se tecem polticas pblicas d-se o nome de empoderamento.

    7. Proponho adiante uma traduo provisria, arrolando direitos, pois um dos desafios destaassessoria ser conhecer e considerar melhor as diversas expresses, pontos de vista e

    3 Para uma sntese das recentes participaes de representantes de comunidades ciganas em fruns de formulao de polticas

    pblicas, no plano federal, remetemos ao Estudo de Frans Moonem: Polticas Ciganas no Brasil e na Europa. Subsdios paraEncontros e Congressos Ciganos no Brasil. Recife, 2012, texto que foi importantes para esta anlise, bem assim outros, dabibliografia especializada.4 Agendada a Audincia Pblica da Comisso de Direitos Humanos e Legislao Participativa do Senado Federal, Dr. Luciano

    Mariz Maia encaminhou mensagem a lideranas Calon, Rom e Sinti que constavam de uma relao fornecida pela Secretaria dePolticas para a Igualdade Racial SEPPIR. As indagaes elaboradas pelo Procurador Federal dos Direitos do cidado Adjuntotiveram o intuito de agregar pontos de vista, sugestes e demandas daqueles que no poderiam comparecer Audincia. Emanexo, juntada a relao das respostas recebidas e a lista de quem respondeu. SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    2

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    avaliaes, nos termos prprios, dos Calon, Rom e Sinti com os quais dialogaremos5. Palavrasciganas em contextos de cidadania.

    8. Termos da representao da Associao Internacional Mayl Sara Kali e dosdocumentos que esta associao encaminhou PFDC sero citados ao longo desta Nota, masencontram-se juntados, na ntegra, s peas de informao em referncia. Ainda ser preciso leros inteiros teores dos demais procedimentos do MPF sobre o tema.6

    Manifestaes na Audincia Pblica, respostas a indagaes da PFDC e da AMSK

    9. Neste item, sintetizo manifestaes da Audincia Pblica7 promovida pela Comisso deDireitos Humanos e Legislao Participativa do Senado Federal (CDHLP/Senado), em12.12.2012, com apoio da PFDC e 6 CCR. Reno tambm respostas a uma das indagaesencaminhadas pela PFDC aos Calon, Rom e Sinti e outros convidados, que no puderam vir aBraslia.

    Audincia Publica8

    Sr. Cludio Ivanovitch. Associao de Preservao da Cultura Cigana de Curitiba, Paran. Em 95 eu criei a Associao de Preservao da Cultura Cigana, () no ano de 2000, fizemos o ISeminrio Nacional de Questes Ciganas, em Curitiba, fato indito at ento. Antes do SeminrioNacional, falar de ciganos era um atentado ao pudor (...) () E sentimos que o Estado tem uma grandeignorncia com relao aos ciganos, a ignorncia completa. Lendas e mitos nos atrapalham. () Nsqueremos um povo que est embaixo da tenda, e que o Estado esquece que aqueles ciganinhos que estdebaixo da tenda ele nasce primeiro brasileiro, depois de origem cigana. () Ento, eu acho que se o

    5 No conheo ainda, seno parcialmente, as formas e canais de interlocuo entre instituies governamentais e os ciganos

    que tm recorrido a estas instituies com demandas relacionadas promoo e proteo de direitos. Conhecemos ofuncionamento e participamos de Conferncias Nacionais, modelo adotado pelo poder executivo federal para a participaosocial na construo de polticas publicas. Outros modos de interao entre organizaes do Estado com cidados, de um modogeral, movimentos sociais e diferentes organizaes no governamentais so as audincias publicas, reunies de trabalho,seminrios, trabalhos em Comisses e Grupos, etc.6 As Peas de Informao N 1.00.000.013180/2012-86 incluem um plano de trabalho feito por esta assessoria e nele consta a

    lista dos procedimentos administrativos e aes do MPF encontradas no Sistema nico.7 Do poder pblico, foram convidados para esta audincia Paul Israel Singer, Secretrio Nacional de Economia Solidria, do

    Ministrio do Trabalho e Emprego; Leodegar da Cunha Tiscoski, Secretrio Nacional de Acessibilidade e Programas Urbanos,do Ministrio das Cidades; Maca Maria Evaristo dos Santos, Diretora de Polticas de Educao do Campo, Indgena e para asRelaes tnico-raciais, do Ministrio da Educao (MEC); Ione Carvalho, Secretria da Cidadania e Diversidade Cultural, doMinistrio da Cultura, em representao Sr Mrcia Rollemberg. 8 Lista em anexo. Participaram o Sr. Cludio Ivanovitch (PR), a Sra Marlete Queirs (DF), a AMSK, Associao Internacional

    no Brasil, Sra Lucimara Cavalcante e Sra Elisa Costa, o padre Wallace, da Pastoral Nacional dos Nmades e outros.SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    3

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    caminho, vamos faz-lo, mas estatuto eu discordo, porque eu prefiro a Constituio. Se o caminho oestatuto, vamos faz-lo. () ... de onde surge tanto preconceito? Por que tanta coisa? Lendas e mitoscriados ou imaginados. () E da avana () e vai para escola. (...) Ento, so coisas que no sopossveis. () E esta organizao aqui que a gente est vendo no nossa. A nossa organizao no essa. E a forma, s vezes, se sobrepe ao contedo. Ento, eu espero, porque eu falo por Roms e falopelos meus irmos Calons. E por qu? Porque transito pelos dois mundos. A minha filha casada comum Calon. Ela vai ser uma nova raa. J vai ser uma terceira.

    Sra Marlete Queirs. DF. Representando a Rede Sujeito de Direitos, composta pela Ananke, deGuarulhos; a Cedro, de Perube, SP; a UCIRN, do RS; a Associao das Mulheres Ciganas; e aAnec, de Braslia.() eu acredito que no questionrio do IBGE tem que constar como constam negros e ndios ciga-nos. Acho que tem que constar sim. Mesmo que faam esses dados minuciosos, mas tem que incluir nes-se questionrio, aquele questionrio que passa nas residncias. () (Estatuto) O Senador tem cobradoessa minuta. Ns at mandamos para o Senador, um anteprojeto para que a gente criasse um comit paraessas polticas pblicas e, a partir da, sair esse estatuto, porque a nossa preocupao, da rede sujeitos dedireitos, com esse comit, que a Internet no alcana os ranchos, que so os ciganos calons, que so osciganos analfabetos, que so os ciganos, que, muitas vezes, esto em lugares que no tem nem luz. ()J foram feitas cartilhas: Ciganos, o direito em suas mos. As cartilhas foram dadas nos acampamen-tos, depois, fizeram CD, simplesmente porque so 98% de analfabetos. Vo fazer o qu com cartilhas?...() Existem, tambm, pessoas no rancho, com 57 anos e ainda sem certido de nascimento. Como eusempre digo, como eu bato nessa tecla, eu sempre falo isso, roma sinnimo de cigano, mas cal, calon,calin tambm so sinnimos de cigano () e so exatamente esses que vivem nos ranchos, abandonados E que o Governo no tem acesso e nem eles acessam o Governo. Eu acho, Senador, que esse estatuto imprescindvel, mas que tambm cheguem s pessoas . Ns estivemos no Ministrio da Sade, teve oencontro nacional onde existia uma portaria do SUS que dizia que os ciganos, os moradores de rua e osciganos nmades podiam ter uma carteirinha do SUS. Acontece que se chega aos postos de sade e exis-te o desconhecimento, e eles no permitem. No tem endereo fixo?:No tem carteirinha do SUS. Issono acontece com um, dois ou trs. Ento tem que ser feito um estudo detalhado, o Governo tem queconhecer, os ranchos tem que se fazer presente () Ento, claro que o preconceito tem de ser com-batido contra todos os ciganos que carregam esse esteretipo de ladro, mas as polticas pblicas tm dechegar aos ranchos, () As polticas pblicas tm de chegar aos ciganos calons. () A fome, a misria,o descaso, a falta de humanidade. L em So Paulo, vi uma calin morrer por diabetes, porque no tinhacondies de ter insulina, porque no lugar onde ela estava no tinha energia. Ento, preciso um estudo,sim, para que se forme esse estatuto, para que ele alcance esse povo, por que, se ele no servir a essepovo, vai servir para quem? () Ento, a soluo formar um comit do Governo junto com os ciga-nos e fazer um estudo, aprofundar, sair dessa histria exatamente folclrica, dessa coisa muito bonita,botar o p na estrada e encarar a realidade sentar, ir a uma festa de calon, num rancho, e ver () umBrasil invisvel, mas que real, e no fantasioso, senhoras e senhores, no . () no mesmo,Cludio? ir aos calons que esto no rancho... (Sr Cludio: L se vive e morre por sua prpria conta erisco.)9

    9 Em anexo, cpia de proposta da ANEC de criao de um Comit para a proposio do projeto de Estatuto.

    SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    4

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    Lucimara Cavalcanti. AMSK/Brasil. Elisa Costa. AMSK/Brasil. Associao Internacional Mayl Sara Kal, e tambm aqui representando a Associao Internacional daCultura Romani Brasil. O IBGE ns consideramos como o rgo mais respeitado internacionalmente.No trabalho que eles fizeram no censo de 2008, faltou o qu? Informao. Como o senhor disse, Sr. Iva-novitch, a ignorncia gera o esteretipo, gera o preconceito e a discriminao. Portanto, eu gostaria delembrar a esta Casa que o trabalho que o IBGE fez foi a pedido desta Casa, desta Comisso, e da Seppir,na poca. () Pesquisa Bsica de Informaes Municipais. Devido a j uma discusso referente s ques-tes ciganas no Brasil. () um levantamento preliminar. () o que falta, Senador, uma conversa...() entre os Ministrios para dar essas informaes, e principalmente as organizaes ciganas destePas, romani, dar as informaes precisas. () o IBGE cortou, dentro da sua linha de pesquisa do territ-rio, porque, para quem no sabe, o IBGE mapeia (...) faz um cerco para se fazer aquele censo. Neste cer-co, havia um acampamento cigano, e eles cortaram o acampamento cigano pelo meio, porque desconhe - cem o que um acampamento cigano. A AMSK inclusive traz aqui dados do MUNIC 2011 que saiuagora, dizendo que ... 29 dos Municpios j tm terrenos destinados aos povos ciganos, em cumprimentoao Programa Nacional de Direitos Humanos. Ento, ns j temos aqui uma ao do IBGE. () (...) OIBGE est no caminho certo. S faltam orientaes de como se colocar no formulrio, para daqui a 10anos, quando vai ter o prximo censo neste Pas... () Quais so as etnias hoje no Brasil dos ciganos,dos povos romani? Eles desconhecem. Eles no sabem que tem Macwaia, eles no sabem que tem Calon,eles no sabem que tem Horhan, eles no sabem que tem Kalderash... () a AMSK Brasil e a Associa-o Internacional da Cultura Romani Brasil consideram esse momento histrico neste Pas. Que se gra-ve, neste Pas, dia 12 de dezembro de 2012 como o incio verdadeiramente de aes concretas contra asviolaes de direitos humanos que ns temos visto, durante este ano de 2012.

    Sra Elisa Costa, Presidente da AMSK Brasil. Ao longo dos anos em relao ao IBGE, a AMSK tem sedesdobrado, com uma equipe de estatsticos prprios pessoas que conseguem fazer isso , tem se des-dobrado nos microdados das MUNIC. () ns nos colocamos disposio sim, porque ns acreditamosnos equvocos () e os equvocos podem ser consertados. () Ns mapeamos de uma forma em quens podemos ajudar. 10 () A gente tem a mania, infelizmente, de julgar, condenar, discutir, brigar, falar.E est correto, vamos solicitar ao Governo. Mas, quando o Governo faz, quando o Governo abre a portae diz assim: Bom dia, boa tarde, boa noite; sente-se e me desculpe porque eu no tenho material; Voctem? Vamos discutir e vamos juntar? Foi o que a Prof. Silvany fez no incio deste ano; foi o que o Mi-nistrio da Educao, por intermdio especialmente da Professora Maria Auxiliadora, fez; foi o que o Dr.Luciano Mariz Maia fez. E a gente no pode esquecer isso nunca. () considerando o decreto presiden-cial que institua, em 2006, o Dia Nacional do Povo Cigano no Brasil, solicitamos que no ano de 2013essa data seja comemorada pelo governo, pelos rgos pblicos, instituies governamentais e sociedadecom medidas de fato que levem melhoria da qualidade de vida das comunidades romani no Brasil, quepassemos a comemor-lo com medidas institucionais e vamos considerar o Brasil ser um pas signatrioda ONU. Solicitamos que o governo brasileiro assuma a sua entrada oficial na dcada de incluso dosRoma, buscando parceria com a Europa, Amrica Latina e Caribe e Estados Unidos, a fim de preencher ecoletar dados que j so de sucessos nesses pases. () na Srvia, em Belgrado, no Congresso MundialRrom, nos dias 20, 21 e 22 de abril, os 26 pases que estiveram ali presentes, por meio de suas respecti-vas associaes, solicitaram o fim da romafobia. Esse um processo que hoje acontece no mundo de for-ma gritante e est acontecendo no Brasil. De modo que ns no podemos mais nos afastar dessa estrutu-ra. E eu tenho visitado no seu Estado e em vrios Estados brasileiros as comunidades, e as demandas des-10

    Ao final a Sra Elisa Costa leu as propostas da AMSK, e as encaminhou posteriormente PFDC, cpia em ane-xo. Entre as sugestes est a de se criar um Observatrio, com participao da PFDC.SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    5

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    se povo so absolutamente diferentes por Estado. Em cada Estado uma realidade; cada etnia uma rea-lidade. Ao Governo peo que, por favor, se desdobre para compreender essa estrutura. O que um Calonprecisa aqui diferente do que ele precisa em Joinvile, que diferente em So Paulo e diferente no Ma-ranho. O que um Rom precisa tambm diferente. Existem Roms em todas as situaes.

    Anna Flvia Schmitt, pedagoga, Paran. A questo do IBGE muito simples. Os ciganos no tmnada contra o IBGE. No unanimidade que o IBGE o algoz dos ciganos, muito pelo contrrio. Aquesto dos ciganos com o IBGE o seguinte. Os ciganos tm medo de serem encontrados, porque tmmedo do Estado. E ciganos esto com medo dos ciganos, de serem mortos, Senador, esta a realidade. Existe uma grande rivalidade secular entre os grupos. () Aqui quem vos fala uma cidad de ori - gem cigana. E foi muito difcil entrar em contato com a CDH. No foi fcil. Eu vim por minha conta pr-pria. (...) O Pe. Tadeu Luiz Fernandes uma pessoa que pode dar muitas luzes, porque ele conhece mui - tas famlias, muitas tribos ciganas. () Existem a gente no pode falar aqui muitos ciganos que en-traram para a vida religiosa em virtude do sacrifcio da vida cigana em si, porque muito difcil ser ciga-no no Brasil e no mundo. Com todo respeito, com todo carinho inclusive no h ningum que resista aum violino judeu, ciganos e judeus so irmos na msica, vamos dizer assim , mas os judeus foram in-denizados na Europa; os ciganos, no. () Como atingir os ciganos que esto nos rinces do Pas? Atra - vs de uma boa articulao junto s cmaras dos vereadores e prpria polcia. A polcia de hoje no apolcia de ontem. Basta a Secretaria Nacional de Direitos Humanos fazer uma cartilha bacana para asforas policiais, conversar com as cmaras dos vereadores para os ciganos que esto nos rinces seremouvidos nas cmaras dos vereadores. a melhor forma, menos dispendiosa, a forma de aproximar o ci-gano do Estado, de ele se sentir menos constrangido, menos ameaado.

    Padre Wallace do Carmo Zanon. Pastoral dos Nmades.

    Sou o Padre Wallace, da Pastoral dos Nmades, e tenho uma experincia com os ciganos por viver acam-pado com eles 4 anos. Ento, isso me deu um conhecimento maior. Mas, ao mesmo tempo, temos que tero cuidado, eu penso, de no generalizar a questo dos ciganos. (...) claro que h lutas que so comunsdos ciganos, mas tambm h coisas que so especficas de cada grupo. () Estatuto da Igualdade, o esta - tuto da questo dos ciganos. Eu acho que tem que ser levado frente. Eu acho que um bom caminho,mas acho que h umas coisinhas que devem vir antes tambm, como, por exemplo,(...) se voc tentar li-gar para o disque 100, voc no consegue fazer uma denncia em relao aos ciganos quando os seus di-reitos so ofendidos. (...) .11 uma questo que est sendo discutida. () Eu penso que o Ministrio daCultura tem uma dvida com os ciganos, primeiro por ter tirado o prmio do Cultura Cigana. Era a formamais fcil que os ciganos tinham de acessar o Ministrio da Cultura. Isso acabou. () E uma outra coisapior ainda, que sujou nosso nome e de muitas pessoas, que ns falamos que seriam 30 prmios, mais 30prmios, e at hoje esses prmios no foram pagos. Ento, uma dvida que o Ministrio da Cultura temcom os ciganos que eu penso que deveria dar uma olhada l. Outra questo que eu acho que deveria sercolocada com muita urgncia a questo da inviolabilidade da barraca . Eu penso que isso a deve ser deextrema urgncia, porque claro que a polcia mudou e tal, tudo bem, mas ainda no respeita os ciganos.() Eu j ouvi policial dizer: delegado, primeiro eu prendo o cigano. Depois vou ver o que aconteceu.Acontece at hoje. (...) Eu penso que uma proposta que deveria sair desta audincia e com urgncia ur-11Esclarecimento da representante da Seppir: Como ns temos dialogado com a SDH, realmente ainda no tem... O Disque 100 novo, o dilogo da pauta tambm novo, j h uma predisposio da Secretaria de Direitos Humanos de dar formao para aequipe do Disque 100 para conseguir incluir essa especificidade. Mesmo assim, a SDH tem acolhido e tem, como eu disse,tentado trabalhar de maneira paliativa os casos que tem chegado, porque ainda no h poltica pblica estabelecida. Mas temocorrido.SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    6

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    gentssima, na linguagem que usa mais a Casa. () a questo do direito de ir e vir e permanecer. Hoje,os ciganos tm muita dificuldade de permanecer nas cidades, so jogados cada vez mais na periferia daperiferia, cada vez mais jogado para os cantos. Isso uma questo. A questo do IBGE. Eu acho que pas-sos foram dados, mas ainda falta muito. Eu acho que ainda falta, no generalizando, por parte do Gover-no, interesse em conhecer o cigano, porque, se voc quer conhecer um pouco o cigano, chama o Clu - dio, ele conhece os ciganos, sabe onde est, no Paran, um por um. Ele sabe. Chama outros ciganos.Ento, eu acho que tem que ouvir um pouco mais os ciganos. (...). Passos tambm eu penso que foramdados. E uma coisa que a gente tambm tem que ter o cuidado, eu penso, de no negar aquilo que j foifeito, tambm no negar as pessoas que j deram um primeiro passo para poder acontecer isso que estacontecendo aqui hoje. Ento, acho que hoje no uma nova era, eu acho que continuidade de algunspassos que foram dados l, como o Cludio comeou l no incio, que veio aqui, que brigou, que falou, eoutras mais pessoas.() Eu acho que a gente deve falar muito pelo grupo a que a gente tem acesso, por-que, seno, a gente corre o risco de generalizar uma coisa que no realidade em outras... Por exemplo,h ciganos que no querem terra; os ciganos do Esprito Santo querem terra. Eles querem terra. Est l,foi feita uma audincia l e eles falaram: Ns queremos terras para trabalhar, para ficar. Ah, o ciganono tem emprego fixo! No h cigano que queira emprego fixo. Ento, quanto a isso, a gente est sem-pre disposio do Governo, do que precisarem da nossa experincia, do nosso trabalho, mas sempreachando que quem deve ocupar as mesas so os ciganos, e no ns.

    Iara Menezes Lima Doutoranda da UFMG.

    (...) a questo territorial muito importante. O Padre Wallace colocou para ns aqui hoje que os ciganoscalons do Esprito Santo querem a terra. Os ciganos calons do Bairro So Gabriel, em Belo Horizonte,que esto l h mais de 20 anos, tambm querem a terra! E por causa da... Bom, so questes de ordempoltica. A gente no pode dizer que o governo, so questes de ordem poltica, mas estamos com umanova rodoviria l e () uma das questes tem sido tirar essa comunidade Calon () E eles vo paraonde? Ento, os ciganos calons do Bairro So Gabriel de Belo Horizonte querem a terra. Se no fossemciganos, com mais de cinco anos de usucapio, j teriam a terra. Mas uma questo... Penso, ento, que muito importante que a questo territorial . Outra a questo burocrtica. Cigano vai procurar traba-lho. Qual o seu endereo? difcil dar o endereo. A, difcil trabalho. L, em Belo Horizonte, essaquesto da escola j est at sendo bem resolvida. As crianas esto na escola, vrias j tm certido denascimento, esto sendo at encaminhadas bem. Mas forma-se uma associao de ciganos. A precisa re-gistrar. Vai no cartrio de pessoa jurdica para registrar a associao, no tem CNP J. Precisa ter endere - o; o ender e o no serve, acampamento. Ento, a questo burocrtica tem que ser repensada em rela - o comunidade cigana. (...). Colocar nos livros didticos: cigano uma etnia que tem que ser respei - tada dentro de suas vrias especificidades. o que eu gostaria de registrar aqui hoje, ressaltando princi-palmente a questo territorial e a burocracia que emperra a formalizao muitas vezes de associaes equesto de trabalho do povo cigano. 12

    Respostas s indagaes da PFDC

    a. Sra Lori Emanoela, do Rio Grande do Sul (Calon). Principais problemas, que exigem atuaodo poder pblico: Infelizmente acesso a sade, precrio, e a desinformao muito grande entre osgadjos e ciganos (ms passado participei de uma formao direcionada a docentes e acadmicos de12

    Tambm pronunciou-se professora da Universidade de Braslia, sugerindo Seppir que considere os estudos feitos pelaantropologia, que j se ampliaram nos ltimos anos. Para os esclarecimentos das autoridades, ver ata em anexo.SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    7

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    universidades aqui do RS, falando sobre nossas especificidades na sade de nossa comunidade).Educao tambm, porque uma das dificuldades a sensibilizao dos gadjos, que discriminam ,excluem nossas crianas, normalmente as crianas que vo para escola, no terminam o primeiro grau. 3entre 5 mulheres so analfabetas. Assim, por ser muito grande o descaso com nossa comunidadealgumas pessoas de minha comunidade desacreditam que o poder publico possa de fato fazer algopor ns. O desrespeito to grande que passei por constrangimento ao entrar numa agencia do Banco doBrasil, na hora de desembarcar em Braslia fui xingada por uma gadjo, a policia nem olha para a gente, eoutra temos medo da policia. Meu filho do meio teve que trocar de escola porque um menino queriabater nele com uma soqueira s porque ele cigano, muito sofrimento.

    b. Sr. Daniel Rolim, de So Paulo SP (Calon). Principais problemas, que exigem atuao dopoder pblico: O reconhecimento, como sendo "ciganos" e assim sendo sermos detentores de direitono s como cidados Brasileiros mas como ETNIA, o que parece que ningum percebeu que osomos ....E isso demanda a falta de ateno dos governos Municipais e Estaduais e a falta de uma politicapublica especifica para a populao cigana que vive em barracas, o que acarreta falta de saneamentobsico em nossos acampamentos estrutura para a sade de nossas crianas e Ancios. () Medicamentoscompramos pois como dificilmente conseguimos fazer a carteirinha do posto quase no conseguimos osmedicamentos ai camos na situao do atendimento se o temos por amizade. Na escola de meu filhoapresentaram um texto no qual o CIGANO apresentado como LADRO........Como fica a cabeadele ??? e esses so os motivos de nossas crianas no frequentarem a escola. Isso sem contar a ocasio que fui preso por levar as mercadoria que fao (sou ourives), a meus clientes etive que fazer uma carteirinha de uma autarquia governamental (SUTACO), para poder transitar comoARTESO com elas e no como O PROFISSIONAL que sou .....

    c. Sr. Nicolas Ramanush Leite, Presidente da ONG Embaixada Cigana do Brasil Phralipen Romane. Principais problemas em relao a polticas pblicas: Eis uma breve lista daschamadas aes polticas, desenvolvidas pela SEPPIR, para as comunidades ciganas, e uma anlisesinttica do que isso representou para a comunidade no sentido prtico em si: SEPPIR lana o primeiro Centro de Referncia Cigana na Regio Nordeste no papel bonitoe importante, na prtica esse Centro se encontra s moscas; 24 de maio - Dia Nacional dos Ciganos institudo para dar visibilidade as etnias e nossaparticipao na construo da cultura brasileira; na prtica nenhuma empresa miditica (jornais, rdiosetc...) do espao ou uma simples nota sobre o fato. E o prprio governo que foi quem instituiu nodivulga a existncia do fato; Cartilha ensina aos ciganos a reivindicar seus direitos e conquistar cidadania dinheiro pblicojogado no lixo os ciganos que necessitam de cidadania so analfabetos em sua maioria; Lderes ciganos levam ao governo reivindicaes de incluso social no existe liderana ciganano Brasil isso inveno de poucos ciganos que militam em causa prpria e ou de no ciganos quedesconhecem nossa realidade; Ciganos podero ser atendidos na rede pblica de sade mesmo sem documentao na prticaisso nunca aconteceu e no ir acontecer. Dizer que cigano necessita de atendimento diferenciado sade, em um pas cujo Sistema de Sade se encontra em caos. Equivale a gerar mais preconceito socialcontra o cigano: pois, o brasileiro, em geral, que depende da Sade pblica est morrendo nas filas porfalta de atendimento!

    SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    8

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    d. Mirian Stanescon Batuli. Kalderash. Presidente da Fundao Santa Sara Kali. Delegada dacomisso de Direitos Humanos da OAB-RJ. Conselheira da Comisso da luta contra IntolernciaReligiosa RJ. Ex-Conselheira da SEPPIR. Principais problemas, que exigem atuao do poderpblico: Na minha opinio a demanda de maior urgncia a inviolabilidade da barraca cigana porqueno s caso de vida e morte, o ultraje, a vergonha e a sensao de desamparo e desesperana que mais uma vez assola meu povo. () O movimento cigano o mais novo movimento em nosso pas , porisso no existe ainda um censo, o que dificulta e muito nosso trabalho , mas, isto tambm est includo noplano de trabalho acima citado ( Propostas aprovadas nas Conferncias Nacionais de Direitos Humanos,na 1 e 2 CONAPIR). s fazer acontecer. () Poucas so as crianas ciganas que frequentam as escolas, principalmente as meninas. Na sade depois de muita luta e aborrecimentos existe tambm umplano de trabalho e no ano passado os ciganos foram includos no carto do SUS. No Ministrio daCultura em 2007 foi criado um prmio de Cultura para os ciganos - Prmio Joo Torres. Onde foramagraciados 20 trabalhos ciganos. No conheo povo mais discriminado, perseguido e ultrajado do que o meu. Se eu fosse descrever casos daria um livro. Aps tomar conhecimento em acampamentosincendiados por policiais em Minas, no Sul e por ltimo em Santo Amaro na Bahia, e ter denunciadotanto na Secretaria Nacional de Direitos Humanos, SEPPIR, e Ministrio da Justia, e no obtendonenhuma ao eficaz, no dia 21 de Novembro, estive no Palcio do Planalto com a Presidente Dilma,entreguei uma Santa Sara Kal que h muito estava devendo a ela e aproveitei para entregar em mosuma carta onde relato as barbaridades, a incompetncia ou no mnimo conivncia de nossas autoridadespara com o Povo Cigano. Nesta carta eu peo urgncia para que se estenda as barracas ciganas o mesmo direito constitucional de inviolabilidade dado as residncias dos gaj s (no ciganos) e paraminha surpresa e felicidade no dia 23 recebi a resposta de nossa Presidenta relatando as providnciastomadas.

    e. Prof. Dr. Srgio Paulo Adolfo, Universidade de Londrina. Paran. Estuda os calon da regio.Principais problemas, que exigem atuao do poder pblico: Documentao, educao e sade;Procuram sempre o SUS e nem sempre so bem atendidos pela sua condio de ciganos. Nenhum dosgrupos tem gua tratada. Os cartrios se recusam a fazer registros de nascimento dos adultos e a polciaentra no acampamento sem nenhuma autorizao.

    Gostaramos de fazer algumas consideraes para serem levadas audincia pblica do dia 12. preciso que todos entendamos que os ciganos no Brasil no formam um nico povo. Que a

    diviso entre Rroma e Calons real e no apenas simblica. Sendo assim, algumas polticasdevero ser direcionadas de maneira diferenciada.

    As necessidades dos Calons e dos Rroma so especficas a cada grupo. Apesar de se reconhecerem genericamente como ciganos, tanto uns quanto outros se consideram diferentes entre si.

    Os prprios Rroma enquanto grupo possuem profundas divises entre si em visitas diferentes.Lngua, costumes, mitos etc.

    Os ciganos sedentrios possuem algumas reservas em relao aos nmades e esses em relaoqueles.

    Quanto ao censo cigano, preciso em primeiro lugar saber se eles querem ser identificados como tal. Pela nossa experincia e convvio a maioria deles prefere continuar nainvisibilidade.

    Acampamentos, onde houver, devem ser separados, uma vez que uns no acampam ao lado dosoutros.

    SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    9

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    Como se pode perceber, a questo cigana no Brasil precisa ser melhor discutida e preciso ouviras lideranas e os estudiosos a respeito de muitas questes.

    Quanto a documentao, temos encontrado fortes barreiras por parte dos cartorrios em registrarpessoas adultas, mesmo as que se declaram ciganos. Sabemos que a lei existe mas nas cidades dointerior do Brasil, os cartrios ignoram tal lei, por desconhecimento ou por preconceito.

    f. Sra Monaliza Dantas Carnaba, AMAC Associao Macauense dos Ciganos Calons.Principais problemas, que exigem atuao do poder pblico: Falta de segurana precisamos deproteo. Os reconhecimentos dos nossos direitos e a construo de uma vila cigana em nossa regio.Pssima os mdicos se recusam a atender por preconceito com ns ciganos. tem um mdico aqui quediz que no atende cigano. Sim temos gua tratada, mas moramos em um bairro em Macau que no hsaneamento bsico. O esgoto a cu aberto. J fizemos a denuncia na promotoria pblica daqui. ()Nem todo mundo tem preconceito mais o preconceito ainda existe e podemos sentir na pele tantodesamor com o prximo, pois diante deus todos somos iguais. Caso de preconceito quando os maisvelhos vo a um hospital e o medico se recusa a atend-los por serem ciganos , j aconteceram casos aquiassim. Quando temos necessidade de ter reforo policial e eles sabem que para os ciganos eles serecusam a fazer a ocorrncia. Quando vivamos em acampamento s ramos perseguidos e at expulsos da cidade, mais agora que vivemos em local permanente somos um pouco menos perseguidos mais aindahoje isso acontece, como o caso dos ciganos que ainda vivem em acampamentos.

    g. Sr. Enildo Calon - Associao dos Ciganos de Pernambuco. Comunidade Cigana de Paulista,Pernambuco (Calon). Principais problemas, que exigem atuao do poder pblico: Falta desegurana precisamos de proteo, Os reconhecimentos dos nossos direitos e a construo de uma vilacigana em nossa regio. Pssima (situao dos servios de sade e acesso a medicamentos). Nem todomundo tem preconceito mais o preconceito ainda existe e podemos sentir na pele tanto desamor com oprximo. Quando vivamos em acampamentos ramos perseguidos e ate expulsos da cidade, mais agoraque vivemos em local permanente somos um pouco menos perseguidos mais ainda hoje isso acontece,como o caso dos ciganos que ainda vivem em acampamentos. O poder pblico aqui omisso, poucofaz pelos ciganos. A partir da Escola passamos a ser mais reconhecidos, Mas no somos valorizados pelomunicpio. Quando fundamos a Escola o material escolar veio de Natal, atravs de doaes porque aSecretria de Educao se recusou a dar as cadeiras.

    h. Comunidade Tangar, Rio Grande do Norte. Informaes enviadas pela Professora CarlaAlberta, que tambm enviou Projeto de Pesquisa e Desenvolvimento Cultural tnico do Rio Grande doNorte. Principais problemas, que exigem atuao do poder pblico: Moradia Vivemos em barracas deforma muito ruim. No temos a tranquilidade de ter uma casa. O local pssimo, gua no meio davargem. As barracas so quentes. Os mdicos, quando tem, consultam a gente, mas sempre falta mdicoe muitas vezes precisamos ir a Capital. Os medicamentos quando tem eles do. Mas geralmente no teme temos que pagar do nosso bolso. A gua da encanao, fica uma torneira no meio das barracas paratodos os ciganos usarem. No gua tratada e saneamento bsico .

    i. Comunidade Serra Caiada Rio Grande do Norte - Informaes enviadas pela ProfessoraCarla Alberta. Principais problemas, que exigem atuao do poder pblico: Estamos vivendo dealuguel aqui, muitas vezes a policia quer revistar nossos carros e sofremos ameaa do prefeito que ganhou que diz que vai tirar os ciganos de Serra Caiada. Temos dificuldade para ir ao mdico, porquemuitas vezes no h mdico aqui na cidade e quando sabem que cigano pior. Os medicamentos,

    SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    10

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    muitos ciganos tomam remdio controlado temos que comprar, porque tambm nunca tem para dar. Notemos acesso gua tratada. A cidade nos acolheu muito bem, sofremos apenas ameaa do prefeito queganhou que diz que vai nos tirar daqui. Precisamos ter a proteo da policia, precisamos ter atendimentomdico aqui na cidade, temos que ter um territrio nosso e precisamos urgentemente ter a certeza da prefeitura que no vo nos tirar daqui.

    Clber Lupino HaddadSeguem minhas opinies/sugestes para a audincia pblica:- Preparo de salas especiais de aula para filhos de ciganos, - Preparo de docentes professores para abrir classe preparada para receber os filhos dos ciganos, emUtumbiara, Goias j foi feito isso, mas ainda carece que isso seja feito no pas todo, em todos os Estadose cidades. A adequao curricular aos costumes ciganos, tem como objetivo evitar que os estudantesavancem nas sries escolares com deficincia de aprendizado;- Apoio do governo para inserir professores particulares que sigam junto com as caravanas ciganas a fimde apoiar o progresso dos jovens na educao. Assim como alguns profissionais da sade se deslocam desuas cidades para trabalharem no programa do governo, onde a populao ribeirinha, no Norte, carece deatendimento mdico, o professor que se desloca para seguir a caravana por tempo delimitado de estudo,pode proporcionar o aumento ou crescimento da cultura e educao em nosso pas, provocando aexpanso mental, viso de mundo alargada, e principalmente o raciocnio lgico e cientfico podem serdesenvolvidos. Os ciganos lidam muito com operaes matemticas, principalmente, e sem conhecermatemtica no se pode obter sucesso em comercio algum. Sem educao, no se pode pegar um nibuscorretamente.- tempo de adaptao dos profissionais e voluntrios que se enquadram nos programas do governo paraa educao. Nos EUA, 90% dos ciganos aderiram aos estudos cientficos sem abandonar suas tradies, um aumento dos valores culturais e desenvolvimento da inteligncia apoiado pela maioria dos Bars eKakus.- dar uma oportunidade de profissionalizao a essa etnia. - preciso conscientizar os cls ciganos sobre a importncia em ter esse interesse nos dias de hoje, pois ocigano dos tempos atuais deve lutar pelos seus direitos, mas sem estudos eles certamente desaparecerodo mapa sem defender sua classe tnica.- H necessidade de se fazer uma reunio entre representantes de cls Romani para a conscientizao daunio desse conceito e aceitao dos estudos. Um cigano advogado pode ajudar defender mais o seupovo; um cigano juiz pode ajudar a fazer justia em prol dos ciganos; um vereador cigano pode lutar pormelhores condies dos ciganos em sua cidade; um professor cigano pode ensinar outros; umparlamentar cigano como foi o caso do presidente Juscelino Kubitschek, ou mesmo na bancada dosenado, pode desenvolver melhores caminhos e benefcios para todos.

    Respostas a indagaes da AMSK, entregues na Audincia Pblica

    Nome: Alexsandro Castilho.Etnia: ROM Caldarax.Famlia: Castilho e Iancovitche.Posto ou posio: Chefe de comunidade 250 membros em Aparecida de Goinia e 100 membros emGoinia.Grau de estudo: Superior Teologia (Igreja Evanglica Comunidade Cigana).

    SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    11

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    Localizao e contato: Aparecida de Goinia, 62 3283 9670 e 82061693Qual o pas de origem? Brasil. Descendncia da Grcia e Argentina.Conhece algum idoso de etnia romani que no tenha cidadania brasileira? Sim. (aproximadamente20 pessoas)O que precisamos para vivermos melhor?Se acabasse o Racismo e o preconceito, tenho certeza que todos os que sofrem com isso viveriam bemmelhor.1. Na sade:Seria muito bom se todos que no tem endereo pudessem ter o carto SUS, lei que no esta sendorespeitada pelos rgos que fazem o carto, principalmente em Aparecida de Goinia.2. Na educao:Orientar professoras e educadoras a no fazerem acepo de pessoas nas escolas, pois todo cigano quevai estudar encontra certas dificuldades para se matricular.Qual a sua maior dificuldade para sobreviver?Exercer a funo de vendedor no comercio ambulante.3. Sobre a polcia e a mdia:Para os policias todo o cigano e sinnimo de ladro, a mdia no pode ouvir que UM cigano cometeualgum delito que j faz um sensacionalismo classificando TODOS OS CIGANOS COMO BANDIDOS.4. Sobre o futuro o que espero:H que bom seria se todos os ciganos fossem respeitados como cidados que so, e que no houvessemais perseguies.5. Quais os cursos seriam de ajuda efetiva para a comunidade que vive?Alfabetizao em massa para crianas, jovens e adultos.6. E as documentaes? Existe preconceito nos cartrios de registro?E s saberem que um cigano comea a aparecer, h dificuldades das quis no consigo entender .7. O que pensa da escola na vida dos seus filhos e na sua?Para matricular minhas filhas foi um sacrifcio, e a mais de um ano que elas no vo escola, poissofreram acusaes por serem ciganas, eu fui frente a trancos e barrancos, para o homem cigano e maisfcil.8. Conhecem ciganos que no falam o romans?Muitos.9. Desejam resgatar antigas tradies? Quais?Sim, os trajes, as festas e as danas que j esto quase esquecidas.10. Quando pensa em comunidade, o que pode ser feito para melhorar a vida das pessoas a suavolta?Um bom local para armar as barracas com saneamento bsico, luz e gua.Se pensar em algo, escreva aqui:Eu espero em Deus que tudo o que estamos fazendo junto com os rgos pblicos, que um dia os nossosfilhos e netos tenham uma vida mais digna, sem preconceito e sem perseguies.Aparecida de Goinia, 01/12/2012.Alexsandro CastilhoRepresentante Caldarax Aparecida de GoiniaPresidente da Associao Internacional da Cultura Romani - Brasil Pastor responsvel pela Igreja Assemblia de Deus Comunidade Cigana de Aparecida de Goinia,GO.

    Nome: Associao de Apoio e Divulgao da Cultura Cigana de Ribeiro Preto

    SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    12

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    Etnia: RomFamlia:Posto ou posio:Grau de estudo: Ensino MdioLocalizao e contato: Ribeiro Preto [email protected] http://www.caravanacigana.comQual o pas de origem: BrasilConhecem algum idoso de etnia romani que no tenha cidadania brasileira? No1. O que precisamos para vivermos melhor?Na sade: A questo de sade no Brasil uma questo precria a todos os brasileiros, e atinge maisdiretamente ainda, aqueles de menor poder aquisitivo. Entendemos que no que se refere ao povo cigano,diante de suas tradies e aspectos culturais, o acesso uma sade pblica e de qualidade fica muitolonge. A sade da mulher cigana, por exemplo, diante dos vrios e diversos mitos que a envolvem, so asmais prejudicadas. Precisamos de integrao entre as minorias e lideranas realmente capacitadas paracobrar o que lhes devido, conforme garante nossa constituio.Na educao: Sem integrao do povo cigano com a comunidade, sem segregao ou classes especiais, aeducao deveria estar para todo e qualquer indivduo. Assim como crianas portadoras de deficinciatem o direito a educao em condies especiais, o aluno de etnia cigana tambm deveria ter condiesespeciais de aprendizado, integrado aos demais alunos no ciganos. No modelo tradicional de ensino, emsala de aula muito se ensina e se fala sobre quilombos, escravido, imigrao japonesa, mas nunca sepronuncia nada sobre o povo rom, ou seja, deixa-se de esclarecer e ensinar suas origens, artesanatos,culinrias, dana, idioma (dialetos) e tantas outras informaes muito preciosas, que acrescentariariqueza cultural desde a base comeando j no ensino fundamental, diminuindo em muito os esteretipose a descaracterizao dessa etnia. Em longo prazo tanto o preconceito quanto a xenofobia diminuiriam,pois s se fantasia em cima do desconhecido.2. Qual a nossa maior dificuldade: Homogeneizao de informaes e propostas. Nem sabemosquantos ciganos existem no Brasil. Correntes polticas usam de informaes deturpadas quando queremreceber nus com o assunto em questo. H ainda a diviso entre os prprios ciganos quanto a suaorigem e etnia.3. Sobre a polcia e a mdia: A polcia mera cumpridora de ordens. Porm como j existe preconceito enraizado quanto etnia rom, a polcia responde com maior agressividade. Por outro lado, sabemos dapassionalidade existente entre os ciganos e realmente diante de vrios e vrios casos enxergamos aviolncia que se evidencia no somente nesse povo, entretanto se acentua pois a origem de tudo j est nopreconceito e forma de enxergar os fatos.Ento, a pergunta : o povo cigano deve se submeter a legislao vigente no pas, ou o pas deve respeitaras leis romani? E os no ciganos? Seriam tambm submetidos a sentena de uma Kris Romani quando deuma pendncia com algum cigano? Ainda que os ciganos tenham seu prprio cdigo de tica e conduta,leis separadas no seria a mesma coisa que segregao?4. Sobre o futuro o que espero: a audincia pblica o marco inicial que se bem dirigido, pode se estarplantando uma semente no presente para no futuro virmos a colher os frutos positivos.5. Quais os cursos seriam de ajuda efetiva para a comunidade que vive?A exemplo do Fundo deSecretariado Cigano da Espanha est sendo efetivado a implantao de cursos tcnicosprofissionalizantes para incluso de mo de obra cigana no mercado de trabalho comum. Entretanto adificuldade se esbarra na vida nmade, pois se sabe que os cursos levam em mdia 1 ano pelo menos paraserem concludos com xito.6. E as documentaes? Existe preconceito nos cartrios de registro? Os cartrios visam lucro esempre vo dificultar o acesso a documentao gratuita tanto para ciganos quanto para no ciganos.

    SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    13

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    7. O que pensa da escola na vida dos seus filhos e na sua? Com o avano de tecnologias inerente quese tenha acesso a elas, quanto mais se afasta delas, mais se fica para trs. Existe verba do Ministrio daEducao, muito mal direcionada e no h quem exija que ela seja direcionada onde necessrio.8. Conhecem ciganos que no falam o romans? Sim vrios.9. Desejam resgatar antigas tradies? Quais? Todas!!! Da arte culinria, a arte da forja, da msica eda dana, do idioma, dos costumes que realmente precisam ser resgatados e preservados. Ningum vivesem uma tradio.10. Quando pensa em comunidade, o que pode ser feito para melhorar a vida das pessoas a suavolta? Essa pergunta muita subjetiva e, portanto mereceria uma resposta ampla. Como no o casopodemos citar a criao de cooperativas de trabalho, cooperativas culturais.Se pensar em algo, escreva aqui: Tudo comea com a conscientizao individual de cada ser humanoque se intitula cigano em ter um objetivo de proteger e reivindicar os direitos a sua etnia. Estabelecer ummovimento de esclarecimento poltico onde se articule eleger membros ciganos no s em rgosgovernamentais como porque no em prefeituras, conselhos tutelares, assemblias legislativas estaduais efederais, senado. Somente com representantes da etnia fielmente comprometidos com a causa poderemosatravs da representatividade e de projetos de leis capazes de derrubar o muro da segregao e dopreconceito. Est mais do que na hora do povo cigano ter seus prprios representantes atuando demaneira mais incisiva para cobrar do poder pblico o que lhe de direito.O5 de dezembro de 2012- Ribeiro Preto So Paulo. Sandra Bernardo. Presidente da CaravanaCigana

    Direitos e violaes

    10. Cabe anotar que os direitos arrolados abaixo, individuais e coletivos, remetem adimenses inseparveis da vida social. Esta perspectiva preside tambm as orientaes dasNaes Unidas na afirmao do carter interdependente dos direitos humanos.

    Direito igualdade e no discriminao. Vivem cotidianamente diversas situaes de discriminaoe manifestaes de ciganofobia. lembrado que os efeitos da discriminao so mltiplos ecombinados, comprometem a sade, a disposio para viver, constituem-se em barreiras ao acessoigualitrio cidadania, aos interdependentes direitos humanos. Ocorrem nos postos de sade, emdelegacias, bancos, escolas. No material didtico do ensino pblico tem livros que expempreconceitos. Operaes policiais desrespeitam-nos, adotando termos do seu repertrio cultural eetnnimos.

    Direitos Culturais direito diversidade cultural, ao respeito aos modos de ser e viver dos gruposque participaram e participam da formao da sociedade brasileira; dever do Estado de valorizar edifundir o conhecimento dessa diversidade. Os desrespeitos incluem aes do poder pblico e de

    SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    14

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    rgos colegiados - Conselhos Tutelares, por exemplo, e policiais -, desconsiderando os modos deser e viver dos calon, Rom e Sinti e suas historias.

    Direito a educao e a sade com respeito aos direitos culturais. Direito de Ir e Vir e Permanecer (liberdade de viajar, morar e pousar, de andar em grupo sem que

    sejam vistos como quadrilha, por isso, de viver em acampamentos e de viver em um lugar fixo)13. Direito de respeito ao domicilio (inviolabilidade) pelos agentes policiais. Direito cidade e moradia adequada (culturalmente adequada: s moradas e aos pousos, por

    exemplo, e no serem deslocados e retirados dos seus locais de moradia e acampamento, 14) e deacesso gua de qualidade.

    Direito assistncia e previdncia social, com respeito aos direitos culturais. Direito ao trabalho, com respeito, apoio e incentivo a seus modos de trabalho, a seus ofcios

    tradicionalmente exercidos, a seus projetos coletivos. Direito segurana pblica (solicitam proteo policial e no so atendidos e so vtimas de abusos

    de autoridades policiais). Direito alimentao adequada (culturalmente adequada). Direito de respeito a seus conhecimentos tradicionalmente construdos e ensinados e formas de

    organizao poltica. etc.

    11. Este modo de sintetizar e traduzir no substitui as palavras dos agentes sociais querequerem ao MPF a defesa dos direitos humanos, que querem apresentar, sem intermediao,suas demandas ao Estado brasileiro.

    12. Importa explicar, tambm, que a antropologia, assim como algumas outras cinciassociais e humanas, cada uma a seu modo, tem tomado como objeto de pesquisa os processos deconstruo de sujeitos, de totalidades e de fenmenos sociais por polticas estatais e deorganismos internacionais. Entre as contribuies desses estudos, chama-se a ateno para asausncias das perspectivas dos sujeitos15 aos quais se direcionam tais polticas pblicas.13

    GOLDFARB, Maria Patricia Lopes. LEANDRO, Suderlan Sabino; DIAS, Maria Djair. O cuidar entre as calin: concepesde gestao, parto e nascimento entre as ciganas residentes em Sousa-PB. RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo,v. 11, n. 33, pp. 851-876, Dezembro de 2012. Dossi. http://www.cchla.ufpb.br/rbse/Index.html SULPINO, Maria Patrcia L.Ser viajor, ser morador: uma anlise da construo da identidade cigana em Sousa-PB. 1999. Dissertao (Mestrado em Antro-pologia Social)-Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1999 (citada por Ferrari, 2010. referencia na Nota 9)14

    Idem.15

    Como exemplo, cito Sprandel a respeito das pesquisas antropolgicas brasileiras que analisaram polticas pblicas paramigrantes e migraes, desde os anos 1970. Para Sprandel, uma leitura detalhada de documentos oficiais sobre a 'questomigratria' e sua 'governana' identifica imediatamente a utilizao de conceitos, categorias e modelos interpretativos onde osujeito parece desaparecer, obscurecido por fluxos, correntes e tendncias migratrias. () Existe, pode-se dizer, um 'migrante'SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    15

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    13. Como escreve Sprandel, temos ento duas tarefas, dois approachs tericos emetodolgicos realizados pela antropologia: com os grupos que estuda e com as categoriasconstrudas sobre estes mesmos grupos. 16

    II. Classificaes, diversidade e unidade: uma leitura de contribuies antropolgicas

    14. Na antropologia sobre Calon e Rom no Brasil, diferentes orientaes tericas, aliadas aexperincias etnogrficas especificas, sustentam interpretaes tambm distintas e prefernciasconceituais. Diferem, por exemplo, nas abordagens sobre diversidade e unidade. So poucos osestudos sobre os ciganos no Brasil, mas se ampliaram na ltima dcada e j representamdiferentes pocas e tendncias da disciplina, combinaes tericas mais ou menos densas. Osautores lidos, at o momento, aproximam-se em alguns aspectos e distanciam-se em outros.

    15. Moonem e Teixeira17 enfatizam a diversidade dos grupos tnicos externamente reunidossob o nome ciganos, que por falta de outro usado, com muitas ressalvas. O que os diversosgrupos possuem em comum seria a mesma historia de discriminao, preconceitos e excluso.Ambos entendem, conforme os compreendi, como estranhas aos diferentes grupos asdenominaes unificadoras j em pauta.

    16. Fazito18 e Ferrari, embora tambm considerem a diversidade no Brasil e alhures, domaior ateno a relaes, redes e performances pelas quais se fazem identidades em diferentesescalas. Estes autores, diferenas parte, entendem identidade em chave de agncia. Ambosquestionam abordagens que reificam os conceitos de sociedade, grupo e cultura, como se fossem

    genrico, algo como uma subespcie do 'pobre' genrico, tambm objeto de convenes, tratados, relatrios e avaliaesinternacionais. A ausncia da perspectiva do sujeito uma das chaves para a crtica da antropologia brasileira aos chamadosestudos migratrios, traduzida na j clssica () A inveno da migrao (...). Os autores alertam para o risco de reunirmoscomo um conjunto de fenmenos da mesma natureza (no caso as migraes) situaes que so pensadas, vividas e narradas deforma diversa pelas pessoas que so o suporte dos conceitos construdos (no caso, os migrantes). SPRANDEL, Mrcia Anita.Fronteiras/Artigos. Algumas observaes sobre fronteiras e migraes. Acesso em fev. 2013. 16

    SPRANDEL, M. A. Op. Cit. 17

    TEIXEIRA, Rodrigo Corra. Histria dos ciganos no Brasil / Rodrigo Corra Teixeira Recife Ncleo de Estudos Ciganos,2008, 127pp.18

    REZENDE, Dimitri Fazito. 2006. A identidade cigana e o efeito de "nomeao": deslocamento das representaes numa teiade discursos mitolgico-cientficos e prticas sociais. Rev. Antropol. vol.49 no.2 So Paulo July/Dec. 2006.REZENDE, DimitriFazito de Almeida. 2000. Transnacionalismo e Etnicidade. A Construo Simblica do Romanesthn (Nao Cigana).Dissertao de Mestrado - Depto de Sociologia e Antropologia da Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas da UniversidadeFederal de Minas Gerais. rea de Concentrao: Sociologia da Cultura. B H. FFCH/UFMG. FERRARI, Florncia. O MundoPassa: Uma Etnografia dos Calons e suas relaes com os brasileiros. Tese de Doutorado. Departamento de AntropologiaSocial. Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas. Universidade de So Paulo. So Paulo, 2010. SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    16

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    dados preexistentes s relaes sociais. Mas cada um segue caminhos prprios. Ferrari chega aincluir, na sua crtica, a abordagem de Fredrick Barth. Fazito combina diferentes tradiestericas, incluindo a barthiana. Em Ferrari, o entendimento terico coincide com a teorianativa, ou, podemos entender assim, a perspectiva terica da autora sobre etnicidade dialogacom a teoria Calon. Para os Calon que estudou, ela nos diz, a calonidade da ordem do fazer,no do ser.

    A calonidade no configura uma lista de atributos, mas um processo de fazer-se, ummodo de agir em construo, continuamente reinventado e incompleto, por definio.Nesse sentido, a calonidade ela prpria performativa, quero dizer, definida na, e pelaperformance, o que no se confunde com a formulao de uma identidade calon atualizadaem mltiplas performances.19

    17. Dentre os estudos sobre ciganos no Brasil, mais recentes, Ferrari destaca a dissertao deSulpino20 pela ateno dada ao modo como os Calon conceituam sua mobilidade eespacialidade seu viajar e seu morar. Tambm menciona as contribuies de Fazito a estetema. Ferrari questiona os usos, na antropologia, da dicotomia sedentarismo/nomadismo, recursoconceitual que considera inadequado, luz da sua etnografia.

    18. Tambm para Martin Fotta, que fez pesquisa recente entre os Calon na Bahia, adicotomia nomadismo/sedentarismo simplifica as relaes entre o passado e o presente,reduzindo o passado a um ponto de comparao idealizado e indiferenciado21. Ao mesmotempo em que opera esta reduo, a dicotomia repousa sobre observaes descontnuas demanifestaes exteriores da espacialidade (vida em caravana versus vida em casa), isto , sobremaneiras no relativas de estar no espao. Fotta tambm v uma alto grau de porosidadeentre o que outros designam como nomadismo e sedentarismo dos ciganos, avaliandoque esta dicotomia no mais se sustenta. A fluidez e instabilidade dos locais de residncia dosCalon, segundo Fotta, mesmo onde h s casas, ou parcialmente casas e tendas, sugerem umarelao com o espao mais complexa do que estes conceitos permitem descrever.22

    19 FERRARI, Florencia. Op. Cit. p. 19.

    20 SULPINO, Maria Patrcia L. Ser viajor, ser morador: uma anlise da construo da identidade cigana em Sousa-PB. 1999.

    Dissertao (Mestrado em Antropologia Social)-Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1999 Apud Ferrari,2010. 21

    Fotta, M. 2012. On ne peut plus parcourir le monde comme avant: au-del de la dichotomie nomadisme/sedentarit. InBrsil(s) Sciences Humaines e Sociales. Revue du Centre de Recherches sur le Brsil contemporain (CRBC) L'cole de Hautestudes em Sciences Sociales (EHEESS). N 2, 2012. ditions de La Maison des Sciences de L'Homme. 11-36. P. 4. Traduoinformal minha. 22

    Idem. P. 14. Traduzi.SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    17

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    19. Este pesquisador defende uma continuidade histrica no modo de ocupao do espaoentre os Calon. Recorrendo a documentos antigos e a sua etnografia, atento ao uso calon doespao e suas razes para se instalar e para partir, ele argumenta que este modo no mudou denmade para sedentrio. Quando os Calon evocam suas viagens eles o fazem no para remet-las a um passado, mas para caracterizar a pessoa calon, e tambm os ciganos.

    O que mais importa para um calon no a verdade factual dos acontecimentos histricos(caracterstica de uma atitude que v a histria como um saber transcendental), a ao, nopresente, como pessoa moral23

    Os fatos histricos e etnogrficos que exploro neste artigo mostram que a diviso dosCalons brasileiros em 'sedentrios' ou 'nmades', seja agora ou no passado, longe de ser umadescrio fiel de suas prticas, uma objetivao de categorias socio-cientficas. A relaodos calon com o espao resiste a essas classificaes, rebelam-se contra elas.... por trs das fachadas de suas casas, os Calons preservam um mundo estruturado segundoseus princpios especficos, os lugares onde vivem e os momentos de se deslocaremrespondem a complexas exigncias de relaes de parentesco e de oportunidades, osreagrupamentos e as disperses provocadas pela violncia e comportamentos dos indivduosde hoje exigem flexibilidade.24

    20. Fotta lembra que este argumento crtico no novo, citando Piasere, autor italiano quequestiona o termo povos peripatticos, apoiado pela ideia de que a mobilidade dos povosciganos tem bases econmicas e ecolgicas. Para Piasere este termo inadequado, porcontradizer os fatos etnogrficos observados25. Descrevendo a maneira como os calons pensamo espao e o movimento, em relao com sua concepo de pessoa, Fotta observa, de incio,que eles opem a agitao calma, associando a primeira a sade e vida, enquanto a segunda relacionada m sade e assombrada pela morte26. S a morte fixa e nela no h abertura aofuturo, s os mortos ficam parados. Um lugar onde nada acontece considerado como imvel(parado), sem futuro ou mesmo morto.

    Neste quadro, os homens calons se definem como audaciosos homens de ao,capazes de negociar com os perigos e apreender as ocasies passageiras. Os Calonbaianos () evocam s vezes esta capacidade como a arte de fazer o futuro. 27

    23 Idem, p. 14. Traduzi.

    24 Idem, p. 26. Traduzi.

    25 Idem, nota de rodap n 22, p. 26.

    26 Idem, p. 27.

    27 Fotta confirma as observaes de Ferrari no sentido de que h sempre escalas de 'velocidades' possveis e de

    'modos de desterritorializao'. p. 6.SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    18

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    21. Assim, so exemplos da diversidade disciplinar. Mas, ainda que distintas, todas asabordagens procuram desafiar entendimentos de senso comum. Entendo que as crticas aosessencialismos no so novas, as solues e os caminhos indicados para evit-los quediferem28. Na antropologia, e isso no de hoje, parte as diferenas, no privilgio de umnico modelo terico o esforo para dar conta das relaes e das conexes extralocais, e paraevitar a objetivao de recortes da realidade filtrados pela cultura do pesquisador. Ademais, nomundo atual, torna-se cada vez mais importante no ignorar as articulaes e trocas entre escalas locais, regionais, nacionais e internacionais -, que se intensificam.

    22. Considerando as iniciativas poltico-culturais dos ciganos e a participao destes emespaos pblicos de exerccio de cidadania, demandando reconhecimento, podemos destacar queas vises da e para a unidade, desde os diferentes pontos de vista, pem em evidncia umasrie de controvrsias classificatrias e disputas em torno das suas histrias e memrias.Noto que as iniciativas de organizao e mobilizao no plano nacional no so novas, asassociaes possuem j uma histria de interlocuo com os rgos do Estado, de proposio deaes para acesso a direitos. Mas os autores aqui citados concordam que os ciganos so menosorganizados e mobilizados em relao a outros movimentos sociais.

    23. Entre as associaes que expe objetivos de unificao da pauta dos Calon, Rom e Sinti,e de articulao transnacional, tomamos conhecimento, mais diretamente e at o momento, dostrabalhos da Associao Internacional Mayl Sara kali (AMSK), que representou a esta PFDC.

    24. A AMSK formada por mulheres descendentes de roma no Brasil, conforme seapresentam publicamente. Uniram-se com recursos prprios, conforme informaram-mepessoalmente, para criar esta associao que denominam internacional porque, conforme asentendi, procuraram dialogar com outras organizaes com objetivos semelhantes na AmricaLatina, em Portugal, por exemplo. Preocupam-se com educao, sade e o direito nodiscriminao, visitam comunidades e dialogam com autoridades, elaboram relatrios sobre assituaes quanto a sade, educao, discriminao, etc. Viajaram a pases europeus, ondebuscaram conhecer as organizaes, aes, polticas pblicas, pesquisadores e os movimentos decultura romani. Procuram dialogar e colaborar com rgos pblicos para a construo depolticas pblicas.

    28 Barth e outros tericos da etnicidade tambm constroem suas teorias desejando superar concepes reificadas.

    SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    19

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    25. Na cartilha Um Brasil Romani: Um programa da AMSK/Brasil em parceria comSEPPIR/SECONT, Associaes e Sociedade Civil29, consta que Rom a terminologia aceita eadotada pela ONU, para designar os ciganos; que Romany ou Romani a lngua e a cultura, eRom a grande nao30. informado que essas terminologias foram aceitas e definidas no ICongresso Rom, na Inglaterra 1971. O objetivo da cartilha dar conhecimento eentendimento bsico sobre a grande etnicidade, representada pelas comunidades Rrom noBrasil 31.

    26. Dirigindo-se aos gestores pblicos, os autores da cartilha afirmam que no se pode maisusar o esteretipo para denominar quem e quem no cigano, desta feita, a nomeao deve-sea autodeclarao..

    Para tanto, os gestores precisam saber que existem hoje no Brasil trs grandes grupos: os Calonou Kalon, os Rom (divididos em 7 grupos no Brasil dados no oficiais) e os Sinte(Manouche). So distintos em vestimentas, comportamento, profisses e em variao de lngua.Os grupos no mantm uma harmonia conjunta, isso s ocorre quando a ameaa contra a etniacomo um todo, ao contrrio disso, a disputa pelo verdadeiro guardio das tradies permaneceacirrada.

    27. Retomando os antroplogos que estudam os Calon, Rom e Sinti no que toca discussosobre unidade e diversidade, Moonem, como dito, destaca sua preocupao com o respeito diversidade, enfatizando que cigano um termo genrico inventado na Europa do Sculo 15,e que ainda hoje adotado, apenas por falta de outro melhor.

    Os prprios ciganos, no entanto, costumam usar autodenominaes diferentes. 1. Os Rom, ouRoma, que falam a lngua romani; so divididos em vrios subgrupos, com denominaesprprias, como os Kalderash, Matchuaia, Lovara, Curara e.o.; so predominantes nos pasesbalcnicos, mas a partir do Sculo 19 migraram tambm para outros pases europeus e para asAmricas. 2. Os Sinti, que falam a lngua sint, so mais encontrados na Alemanha, Itlia eFrana, onde tambm so chamados Manouch. 3. Os Calon ou Kal, que falam a lngua cal,os ciganos ibricos, que vivem principalmente em Portugal e na Espanha, onde so maisconhecidos como Gitanos, mas que no decorrer dos tempos se espalharam tambm por outrospases da Europa e foram deportados ou migraram inclusive para a Amrica do Sul.32

    29 Material base Programa Brasil Romani. AMSK/Brasil Cartilha /Gestores. Pesquisa da AMSK/Brasil em comunidades

    Lovari, Calon e Kalderash, nos Estados de Gois, Alagoas e Santa Catarina. Associacao Mayle Sara Kali - AMSK/Brasil.Braslia, DF. 30

    O link indicadoo: http://global.britannica.com/EBchecked/topic/250432/Rom. D acesso a parte do verbete Rom daEncyclopedia Britannica On Line. No texto inicial, de livre acesso desta enciclopdia, Rom consta como plural de Rom.31

    Grifei.32

    MOONEM, Frans. Polticas ciganas no Brasil e na Europa. Subsdios para encontros e congressos ciganos no Brasil [segundaedio revista e ampliada] Recife 2013. SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    20

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    28. Moonem entende como rom-centrismo certo ponto de vista, adotado por ciganos eciganolgos, que implica em generalizaes sobre o que seria o autntico, verdadeiro ou falsoser cigano, estendendo-se para todos um modelo ideal, baseado em autoimagensparticulares.

    Este rom-centrismo, dos prprios ciganos e dos ciganlogos, faz Acton falar at deromlogos que, em lugar de analisarem as diferenas entre os grupos ciganos, apresentam ummodelo ideal como se os ciganos formassem uma totalidade homognea. Segundo estesocilogo, A grande falha da literatura sobre ciganos, oficial e acadmica, asupergeneralizao; observadores tm sido levados a acreditar que prticas de gruposparticulares so universais, com a concomitante sugesto que [os membros de] qualquer grupoque no tm estas prticas no so verdadeiros ciganos (Acton 1974: 3; 1989: 89).

    29. Este antroplogo lamenta os interminveis debates, entre os ciganlogos, sobre quem cigano autntico e quem no . Debates, por sinal, estreis, porque definir quem e quem no cigano , de fato, uma tarefa impossvel porque no existem critrios objetivos universalmenteaceitos ou aceitveis, e pergunta quem ento cigano? 33

    Nossa prpria definio: cigano cada indivduo que se considera membro de um grupotnico que se auto-identifica como Rom, Sinti ou Calon, ou de um de seus inmerossubgrupos, e por ele reconhecido como membro 34

    30. E mesmo esta definio ele a avalia como pouco prtica para quem pretende realizarum censo cigano. Isto porque nem os prprios ciganos sabem definir quem cigano. NoBrasil, muitos Rom-Kalderash, por exemplo, costumam negar a ciganidade dos Calon. Almdisso, continua, porque muitos ciganos, por causa dos preconceitos e da discriminaoanticigana, preferem esconder ou at negar a sua ciganidade.

    31. Poder-se-ia ponderar que so problemas distintos. Um, de cunho heurstico, do campo daetnicidade, tratando-se de considerar fronteiras e processos tnicos, o outro, um problema dedefinio especificamente colada a um objetivo de quantificao, tpica de uma pesquisacensitria, individualizada, com o fim de subsidiar polticas pblicas. Mas esta distino no simples, isto no tudo. Estes dois problemas nem sempre esto separados, trata-se de um33

    Idem. O tamanho deste grupo no importa; pode ser at um grupo pequeno composto de uma nica famlia extensa; podetambm ser um grupo composto por milhares de ciganos. Nem importa se este grupo mantm reais ou supostas tradiesciganas, se ainda fala fluentemente uma lngua cigana, ou se seus membros tm caractersticas fsicas supostamente ciganas.34

    Idem. Moonem enfatiza a diversidade interna e conclui: Em comum todos eles tm apenas uma coisa: uma longa Histria dedio, de perseguio, de discriminao pelos no-ciganos, em todos os pases por onde passaram, desde o seu aparecimento naEuropa Ocidental, no incio do Sculo.SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    21

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    campo de discusso mais complexo, que envolve muitos atores. Posso apenas, no momento,afirmar a necessidade de avaliarmos se o censo a contagem individualizada e apoiada naautodeclarao - o modo mais adequado para o conhecimento que se quer - urgente eimportante como condio para o planejamento de polticas pblicas direcionadas acomunidades especficas, no a contingentes populacionais. Outros tipos de pesquisa poderiamser mais indicados para que essas polticas alcancem os ranchos, as coletividades que delasprecisam, com urgncia.

    32. Sobre o uso, por ciganlogos e por ciganos, de categorias que pertencem ao acervoterico-metodolgico da antropologia, questo que se relaciona com as classificaes eexplicaes da diversidade e da unidade, feitas desde as perspectivas dos diferentes atores,encontra-se em Moonem a seguinte crtica:

    No Brasil comum ciganos e no-ciganos falaram de cls ciganos. (...) No bem assim.Basta consultar um bom dicionrio ou um manual de antropologia. () Todos os dicionriose manuais de antropologia deixam claro que os ciganos Rom, Sinti ou Calon, Kalderash,Moldowaia ou Mathiwia, no constituem cls, mas grupos ou subgrupos tnicos.

    Tambm no verdade que os ciganos constituem uma nao dentro de outra nao, comoafirma Stanescon (2007: 35). Ela deveria saber que os ciganos nascidos no Brasil provavelmente a totalidade dos brasileiros ciganos so cidados brasileiros, e se consideramcomo tais. Uma nao uma unidade poltica, um grupo de pessoas com territrio prprio,com um governo prprio, s vezes (mas nem sempre) com lngua, cultura, organizao sociale econmica diferenciadas de outras naes. Em parte alguma do mundo existe uma naocigana. Romanesthn, imaginada por meia dzia de ciganos europeus, seria uma naotransnacional e sem territrio prprio.

    33. Posso observar que palavras utilizadas nas cincias sociais como conceitos podem estarnas auto-explicaes dos diferentes sujeitos em estudo. Contrapor definies tericas a noesnativas, auto-identificaes, ainda que para contribuir, pode significar a excluso destasltimas do conjunto de fenmenos de etnicidade a estudar. Podem haver autoimagens tnicas,nacionais, patrimoniais e regionalistas essencialistas, muitas delas contestadas pelos prpriosgrupos em disputa. Caberia pesquis-las e interpret-las em suas situaes histricas, comoparte de processos sociopolticos, ou, conforme Pierre Bourdieu, das lutas por classificaes.

    34. Dimitri Fazito tem contribuies a este respeito, inspirado pelas teorias a que recorre:Para ele,

    SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    22

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    no devemos ignorar a perspectiva dos prprios ciganos e sua capacidade de construiruma comunidade utilizando-se, simbolicamente, de elementos essencialistas como aabsoro e reinveno das tradies locais e epocalistas como a fabricao de umaidentidade integrada transnacionalmente atravs da conquista do espao pelas redes defraternidade (parentesco e afinidade experimentados no romanes). A tradio culturalcigana abarca ambos os aspectos epocalista e essencialista, tornando possvel ajustaposio de elementos ambguos e aparentemente incoerentes. So smbolos queestabelecem as leis locais, concebendo ao mesmo tempo as interpretaestransnacionais, e vice-versa. 35

    35. De acordo com Fazito, os chamados 'ciganos' parecem possuir uma autonomia comum,uma identidade compartilhada e uma comunidade imaginada fraternalmente. No constituemgrupos tnicos no sentido tradicional que estamos acostumados a tratar, mas novas formassociais de organizao da experincia. (...) Assim, a noo de comunidades transnacionaisparece-me ser importante para uma compreenso sobre os ciganos, procurando acomodar seuhibridismo s tendncias contemporneas do embate cultural36.

    O termo cigano, em princpio, remete a uma representao externa (prpria do imaginriogadjo), assimilada pelo indivduo (cigano) para se pensar a si mesmo visando a elaborao desua autoimagem. Mas esta autoimagem, que se forma atravs de esteretipos prprios doimaginrio gadjo, tambm adaptada pelos ciganos atravs de suas experincias cotidianas.Em outras palavras, deparamo-nos com um processo complexo onde as representaes nosremetem a universos culturais distintos, confrontando diferentes esteretipos negociadosdentro de um contexto definido pelo contato intertnico. () Procuro expressar a ideia deque os ciganos elaboram suas experincias de contato a partir da articulao de discursos eprticas previstos ou esperados. Assim, cada gesto, cada expresso facial, entonao davoz, alm do contedo discursivo de cada frase, esto encadeados em uma rede deprevisibilidade e expectativas que determina a performance individual em cada contexto.(...) O cigano quem sofre a dominao e, portanto, ele quem deve lutar contra asexpectativas do outro. 37

    36. Conforme o entendi, Fazito se refere a performativas invenes de tradio, no sentre os Rom que conheceu, mas tambm considerando as relaes entre estes e os Calon, emBelo Horizonte. Este autor, entretanto, por vezes identifica esta comunidade imaginada comum sentido de unidade que j vivido, compartilhado. Outras vezes, ele a avalia como umapossibilidade, um horizonte a alcanar. Cabe explicar que mencionei, acima, as articulaesextralocais das organizaes poltico-culturais que atuam pelos direitos dos Rom, Calon e Sinti

    35 FAZITO, Dimitri. 2000. Op. Cit. p. 78/79 Grifei.

    36 Idem.

    37 Idem. Grifei.

    SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    23

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    no Brasil, o que mais restrito do que a abordagem de Fazito. Ele nos fala de um sentido depertencimento a uma comunidade transnacional compartilhado por grupos ciganos noBrasil, no somente adotado por algumas de suas associaes. um tema que requer ainda maisestudos e pesquisas.

    37. Para tratar de comunidades transnacionais Fazito recorre a Benedict Anderson e UlfHannerz38, destacando que estas comunidades se caracterizam pela interconectividade entrepolos, aparentemente opostos ou concorrentes, como o local e o global.

    Em outras palavras, o processo de construo das comunidades transnacionais, como oRomanesthn, implica a justaposio de diferentes formas simblicas e experincias ouprticas sociais. () ... cada vez mais estas comunidades locais passam a ser imaginadas ereinterpretadas em um ciclo de contemporaneidade e cosmopolitanismo (ou o movimentogeral da histria contempornea). Parece ocorrer uma fuso entre elementos essencialistas(tradio local) e epocalistas (experincias cosmopolitas), produzindo uma nova forma deinterao simblica, a comunidade transnacional. 39

    38. O movimento Rroma Europeu, numa primeira compreenso, ainda a ser melhorinstruda, j encontra ecos no Brasil e outros pases fora da Europa. No mbito europeu, aslongas histrias de interao incluem desde sempre relaes transnacionais, podemos dizerassim. As barreiras comuns da discriminao e a atual situao econmica e poltica, quealimenta e acirra todas as formas de discriminao, so fatores de peso na compreenso deste ede muitos outros movimentos socioculturais. Na viso da AMSK, a ampliao de casos deciganofobia est acontecendo tambm no Brasil.

    39. De um modo geral, os chamados novos movimentos sociais, em especial aqueles quemilitam pelos direitos humanos e preocupam-se com diversidade cultural, tm como uma desuas caractersticas comuns uma crescente articulao local/nacional/regional e internacional. Osnovos estilos de mobilizao poltica e cultural, as novas formas de comunicao permitidaspela tecnologia digital, alimentam as redes transnacionais.

    38 HANNERZ, Ulf. Fluxos, fronteiras, hbridos: palavras-chave da antropologia transnacional. Mana [online]. 1997, vol.3, n.1,

    pp. 7-39. ISSN 0104-9313. 39

    Idem, 165 e 166. (363)SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    24

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    40. Vale trazer um pouco mais da pesquisa de Ferrari. Considerando sua experinciaetnogrfica entre Calons no estado de So Paulo e suas referencias tericas, Ferrari observa queo problema que ronda as dificuldades com essas classificaes a seu ver, como j dito, reside nanoo de grupo social. 40

    H um mal-estar longamente discutido por pesquisadores de ciganos em usar o termogenrico e universalizar suas observaes. A renncia de generalizar visaria evitar areificao de esteretipos, obrigando os autores a se reportar apenas a um grupo. Mas seriao caso de nos perguntarmos onde exatamente comea e termina esse grupo, e se mesmo deum grupo que se trata. Cada etnografia faz um esforo em delimitar, definir um grupo,multiplicando ressalvas para que o que dito ali no ultrapasse as fronteiras do recorteproposto. E, no entanto, e este o ponto, as etnografias se conectam por todos os lados. Aciganidade atravessa as formaes fechadas descritas pelos etngrafos . Como entodescrever esse fenmeno local, conectado a outros, sem reduzi-lo a generalizaes quealimentam esteretipos? Creio que o problema encontrado por esses antroplogos se deve emgrande parte concepo de grupo social, moeda corrente na antropologia da segundametade do sculo XX, que est subjacente em suas pesquisas, o que dificulta reconhecer apossibilidade de deslocamento entre pontos de vista em distintas escalas, e produzindoconexes entre eles.

    41. No pretendo entrar, aqui, nesta discusso terica sobre o conceito de grupo, quepressupe certa histria das teorias da disciplina. Entendo que outras histrias so possveis,outros percursos podem ser traados, nos quais podemos encontrar questionamentossemelhantes, com solues diferentes, como mencionei antes. Interessa-me aqui anotar queFerrari, assim como Fazito e tambm Sulpino, procuram aprimorar a capacidade que aantropologia tem cultivado - e alguns dos autores criticados tambm o tentaram -, de afastarnoes redutoras e evitar transferir categorias culturais ocidentais e modernas a outras vises demundo e formas de socialidade. 41

    42. Ferrari se disps a compreender as relaes calon/gadje. Observa que interpretaesbaseadas em diferentes modelos tericos descrevem realidades sociais mais ou menos fixas,com fronteiras mais ou menos permeveis42. De sua parte, ela se prope a descrever como os40

    FERRARI, Florncia. O Mundo Passa: Uma Etnografia dos Calons e suas relaes com os brasileiros. Tese de Doutorado.Departamento de Antropologia Social. Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas. Universidade de So Paulo. SoPaulo, 2010. p. 92 . Grifei.41

    Gostaria de destacar apenas uma passagem em que a autora nos lembra de um dos mestres que marcaram a disciplina: Leachacredita que o modo de descrever que produz grupos ou unidades discretas. Se o problema do observador for definir aultima unidade, seu trabalho incuo, ou infinito, pois sempre resta algo a ser diferenciado. O que permanece constante nessasdiferentes escalas justamente a capacidade de se diferenciar. A descrio que se vale da noo de grupo como unidadedefinitiva permanece cega a todo o resto: a todas as outras escalas e pontos de vista que permitiriam ver em campo mais do queum grupo. Idem. p 96.42

    Idem. pp 66- 69. SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    25

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    calon pensam esta relao, partindo da critica a modelos que introduzem categorias e formas depensar exteriores. O que importa para sua pesquisa como os calon (por ela estudados)conceitualizam os gadjes e sua relao com eles. Sua inteno , em suas palavras, Mais doque propor uma teoria do mundo calon, desejo apreender uma teoria calon do mundo.

    Os calon falam portugus e chibi, um repertrio lexical derivado do romani, lngua falada porciganos no leste europeu, incorporado gramtica do portugus, permitindo criar umacomunicao ininteligvel ao gadje. () Como os calon, os ciganos ingleses tambm parecemreconceitualizar os termos do ingls, que lhes serve como lngua de base. () H muitasformas de ser gadje entre os calon. Um gadje no se define por uma essncia, mas antes umsujeito em relao, passvel de transformao. Um gadje que empreende o processo de 'virar'calon est sempre em processo, um movimento constante que jamais se efetiva totalmente. 43

    43. Sua pesquisa a leva a refletir sobre a calonidade como performance, como os Calonse fazem, em relao e em contraponto aos brasileiros (no ciganos), at porque elaargumenta que os calon com os quais conviveu no se entendem como tendo uma essncia,anterior e fora das relaes que mantm com os gadjes, que os concebem ciganos. Segundoela, a calonidade est relacionada a prticas. Entre os Calon que realizou seu estudo,

    a calonidade no pensada em termos de sangue ou hereditariedade. A calonidade deveser, antes, produzida, o que significa mostrada, isto , expressa de modo que sejacompartilhada pelos demais... a diferena entre os calon e o gadje esta associada ao gnero.O controle sobre o corpo feminino aparece como o grande divisor entre as duas moralidades, agadje e a calon. A vergonha do homem depende da vergonha de 'suas mulheres', a esposa, afilha, e sua ao foca-se no controle destas. () por meio de uma performance femininaadequada que se constri o ethos calon. 44

    44. Uma concluso da tese de Ferrari que o conceito chave para expressar a diferena como gadje o de vergonha, no sentido calon, especifico45. Ela busca compreender o modelo desocialidade calon em oposio ao gadje, considerando inclusive como se faz possvel e comoacontece o virar gadje e o virar calon.

    Fazer-se gadje ou fazer-se rom/calon consiste em um processo, no qual a incompletude umaspecto constitutivo, que pode durar geraes, sem necessariamente se concluir. O processo devirar aqui mais interessante do que a transformao no outro propriamente dita, porque

    43 Idem. pp 21, 36 e 44. Grifei.

    44 Idem, pp 40 e 43.

    45 Para Ferrari, vergonha no um trao contrastivo, muito ao contrario: um valor no percebido pelos gadjes, s aparente

    aos calon que conhecem a vergonha. Idem. p. 309.SAF Sul Quadra 04 Lote 03 Bloco B Sala 303 CEP: 70.050-900 Braslia/DF Telefones: 3031-6000 3031-6001 Fax: 3031-6106 e-mail:[email protected].

    26

  • MINISTRIO PBLICO FEDERALPROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADO

    nesse processo que podemos testemunhar negociaes e conceitualizaes a respeito do que ser um calon em relao ao gadje. 46

    45. No capitulo final, sobre a relao com o Estado, Ferrari conclui sua tese entendendo queos calon nos apresentam um modo de ser que exerce uma recusa pratica e ativa dosmecanismos do Estado. (...) Os calon guardam um valioso segredo: sabem que, se o Estado condio de socialidade, a submisso a ele no mandatria. Isto me remete ao que disse o Sr.Cludio Ivanovitch na Audincia Publica da CDHLP/Senado: esta organizao aqui que agente est vendo no nossa. A nossa organizao no essa. E a forma, s vezes, se sobrepeao contedo.

    46. Sobre organizao para a interlocuo com as instituies do Estado responsveis porpolticas pblicas para acesso pleno a direitos sociais, econmicos e culturais, cabe tambmtrazer as palavras de Paul Israel Singer, na