nota tecnica pec 74 2015 pec dos precatorios 503581093
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7/24/2019 Nota Tecnica Pec 74 2015 Pec Dos Precatorios 503581093
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NOTA TÉCNICA
Assunto: PEC 74/2015 - Acrescenta parágrafos ao artigo 100 da
Constituição Federal, dispondo sobre o regime de pagamento de
débitos públicos decorrentes de condenações judiciais, e
acrescenta disposições ao Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, instituindo regime especial de pagamento para os
casos em mora.
A propósito da apresentação da PEC 74/2015, a OAB Nacional, por meio
de sua Comissão Especial de Precatórios, vem proferir a seguinte NOTA TÉCNICA, a
fim de contribuir para discussão de tão importante tema no âmbito do Congresso
Nacional.
Apresentação e tramitação da EC 74/2015
A PEC 74/2015 foi elaborada visando acrescentar parágrafos ao artigo
100 da Constituição Federal, que dispõe sobre o regime de precatórios judiciais, bem
como acrescentar dispositivos ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,
instituindo novo regime especial de pagamento para os casos em mora.
A PEC foi apresentada no último dia 25 de junho à Câmara dos
Deputados, sendo imediatamente designado como Relator o Deputado José Maia Filho(SD/PI), tendo entrado em pauta para exame de admissibilidade pela Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) no próximo dia 30 de junho.
Em sua justificativa, os autores da referida PEC sustentam que “...a
presente emenda viabiliza as contas nacionais e a efetiva quitação da dívida histórica
com os credores de precatórios ao mesmo tempo em que garante o cumprimento das
demais obrigações constitucionais, legais e contratuais dos entes federados,
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observando estritamente as diretrizes fixadas pelo Supremo Tribunal Federal no
julgamento da ADI 4.357/DF ” (grifamos).
Nesse julgamento, o STF, ao modular a declaração de
inconstitucionalidade proferida em relação ao art. 97-ADCT, determinou que os
precatórios em mora fossem liquidados em parcelas mensais em quantia suficiente à
quitação dos débitos vencidos até o final do exercício de 2020, impondo elevação, já a
partir de janeiro de 2016, do comprometimento mensal pelos Estados e Municípios cuja
dívida não possa ser quitada nesse prazo mediante os repasses até então realizados.
A fim de garantir o cumprimento desse prazo, o STF determinou a
manutenção do regime de sanção previsto no § 10 do art. 97-ADCT, de modo que a
falta de pagamento da parcela mensal integral implicasse o sequestro de rendas do ente
federado, sanção essa que os vem obrigando, desde o início de vigência da Emenda
Constitucional 62/2009, a realizar pagamentos de forma regular e ininterrupta.
A alteração do corpo permanente da Constituição Federal
A maioria dos Estados e Municípios brasileiros não têm precatórios em
atraso. Essa constatação revela que apenas a menor parte dos entes federados não vem
liquidando, no prazo previsto no § 5° do art. 100 da Constituição Federal, as requisições
de pagamento expedidas pelo Poder Judiciário em decorrência de condenações judiciais.
A PEC 74/2015, sob o pretexto de viabilizar o cumprimento da decisão
do STF, propõe a inclusão no corpo permanente da Carta da República de dispositivos
que claramente desestimula o cumprimento integral dos débitos judiciais, favorecendo a
criação de eventuais passivos pelos entes federados que hoje vêm cumprindo
regularmente seus precatórios e as requisições de pequeno valor (RPVs).
Com o critério adotado pelo § 19 do art. 100, os entes federados poderão
financiar a parcela anual que exceder à média do comprometimento percentual da
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receita corrente líquida nos 5 anos imediatamente anteriores, permitindo que sejam
contraídos financiamentos sucessivos sem nenhum impacto no limite global de
endividamento.
Ora, permitir que entes federados que não têm precatórios em atraso [e
que portanto não estão no regime especial] possam contrair financiamentos anuais e
sucessivos para rolar indefinidamente seus débitos judiciais toda vez que houver uma
pequena variação da média do comprometimento dos últimos 5 exercícios, constitui
medida que não só extrapola os limites da decisão do STF, como não se justifica à luzdo princípio da proporcionalidade.
É evidente o impacto negativo que tal medida poderá ter sobre as contas
públicas, já que tais financiamentos não entrarão no cálculo do endividamento global
dos entes públicos, sem qualquer comprovação da necessidade do financiamento,
situação que poderá ser reiterada em todo ano.
Embora seja razoável se permitir que, em determinadas e excepcionais
situações, sejam flexibilizadas as regras financeiras e orçamentárias para evitar um mal
maior, viabilizando sempre o cumprimento dos débitos judiciais nos prazos previstos
pela legislação, não se pode conceber, em caráter permanente, regra que possa ser
utilizada, na prática, mesmo sem nenhuma necessidade ou ocorrência de circunstância
realmente excepcional.
Dessa forma, ao se admitir que a PEC 74/2015 possa tratar de questões
que não estejam relacionadas ao julgamento da ADI 4.357 pelo STF, a adoção da média
de comprometimento dos últimos 5 anos não se afigura o melhor critério para se
permitir a obtenção de financiamento sem comprometer o limite de endividamento.
Melhor seria se a regra contemplasse situação especial, de súbita
elevação do mapa anual de precatórios, para concessão de tratamento excepcional que
ensejasse, de fato, flexibilização da regra de austeridade fiscal, como a requisição anual
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de precatórios superior a 5% da Receita Corrente Líquida, não incluindo aí as
requisições de pequeno valor, que devem ser liquidadas em até 90 dias.
Dessa forma, o § 19 do art. 100 da Constituição Federal deveria receber a
seguinte redação:
§ 19. Caso o montante total de débitos decorrentes de condenações
judiciais em precatórios, em um período de 12 (doze) meses,
ultrapasse 5% (cinco por cento) da receita corrente líquida do entedevedor, a parcela que ultrapasse esse percentual poderá ser
financiada, excetuada dos limites de endividamento de que tratam os
incisos VI e VII do artigo 52 desta Constituição e quaisquer outros
limites de endividamento previstos, não se aplicando a este
financiamento a vedação de vinculação de receita do artigo 167, IV
desta Constituição.
O novo regime especial: redução do comprometimento orçamentário e a
ausência de sanção
Em relação aos dispositivos que a PEC 74/2015 pretende incluir no
ADCT, ao contrário do que se verifica na justificativa da proposta, objetiva-se
claramente reduzir, a partir de janeiro de 2016, o comprometimento das parcelas
mensais que hoje vem sendo praticado pelos entes federados enquadrados no regime
especial previsto no art. 97-ADCT.
O STF determinou o pagamento da dívida em 5 anos, a partir de janeiro
de 2016, em parcelas mensais que correspondam a 1/60 avos do valor total, de forma a
quitá-la totalmente até o final de 2020. Para isso, o comprometimento mensal deve ser
elevado.
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Entretanto, em vez de aumentar, a PEC 74 reduz o comprometimento
mensal, possibilitando o pagamento, até o final de 2020, pela média dos valores pagos
entre 2010 a 2014 (ADCT, art. 101, caput ), período em que os desembolsos foram bem
menores. Na prática, o fluxo de recursos cairá entre 30% e 40% em relação ao que é
destinado atualmente para essas dívidas.
Esse critério premia o ente federado que, descumprindo a Constituição da
República, comprometeu receita menor do que a necessária para o pagamento dos
precatórios.
Por outro lado, as sanções previstas em caso de inadimplência no § 10 do
art. 97-ADCT, mantidas pelo STF na modulação da decisão proferida na ADI 4.357,
foram intencionalmente omitidas na PEC 74/2015.
Pelo projeto, a única obrigação que Estados, Distrito Federal e
Municípios teriam, a partir do ano que vem, seria desembolsar, mensalmente e até ofinal de 2020, a média do que pagaram nos últimos 5 anos, nem um centavo a mais, não
havendo nenhuma sanção caso deixem de empregar os recursos adicionais previstos na
proposta de forma meramente optativa. E se a PEC 74 não prevê sanção é porque não se
tem nenhuma intenção de pagar.
A única razão que tem levado as entidades públicas a pagar precatórios
nos últimos 5 anos, é o conjunto de sanções previsto no § 10 do art. 97-ADCT ―
especialmente o sequestro de rendas ―, o que levou o STF a mantê-lo como garantia de
que os débitos vencidos serão, de fato, liquidados até 2020 mediante amortizações
mensais correspondentes ao valor total da dívida.
Ao retirar as sanções fixadas pelo STF, deixando ao critério das próprias
entidades devedoras a utilização dos mecanismos de financiamento previstos, é bastante
óbvio que a proposta pretende apenas reeditar um novo calote contra os credores de
precatórios, aplicando um verdadeiro bypass na decisão proferida pelo Supremo.
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Por isso, é fundamental que a PEC 74 mantenha as sanções que, tal como
fixadas pelo STF, garantam, já a partir de janeiro de 2016, a satisfação integral do
pagamento, sob pena de sequestro da diferença mensal correspondente ao valor
necessário à liquidação dos precatórios vencidos até o final do exercício de 2020.
Da forma que foi apresentado, única e exclusivamente para fugir dos
critérios estabelecidos pelo STF, sem nenhuma obrigatoriedade na satisfação dos
pagamentos integrais, a PEC 74 revela-se em um indisfarçável engodo, pois propiciará,na prática, a partir do ano que vem (ano eleitoral), uma substancial redução dos
pagamentos mensais de precatórios, resultando, em pouquíssimo tempo, no aumento da
dívida, criando uma situação ainda mais grave do que a atual, em total desarmonia com
o julgamento da Suprema Corte.
Conclui-se, nesse quadro, que o escopo da proposta, endossada pelos
Deputados que a subscreveram, distancia-se completamente da justificativa apresentadaà Câmara dos Deputados, já que procura escapar das consequências e das sanções
firmadas pelo STF na ADI 4.357.
Assim, a PEC 74/2015, adotando uma versão piorada do art. 97-ADCT,
incorre nas mesmas inconstitucionalidades já declaradas pela Suprema Corte,
merecendo o mais veemente repúdio da Ordem dos Advogados do Brasil.
Alterações propostas pela OAB Nacional
Diante disso, além daquela alteração acima mencionada ao § 19 do art.
100 da Constituição, impõem-se alterações nos seguintes dispositivos a serem
acrescidos ao ADCT, a fim de ajustá-los ao comando normativo fixado na modulação
da ADI 4.357:
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Art. 101. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que, em 25
de março de 2015, estiverem em mora com o pagamento de seus
precatórios, depositarão mensalmente, em conta especial do Tribunal
de Justiça local, sob a única e exclusiva administração deste, 1/12 (um
doze avos) do valor calculado percentualmente sobre suas respectivas
receitas correntes líquidas, apuradas no segundo mês anterior ao mês
de pagamento, em percentual suficiente para a liquidação dos débitos
até 31 de dezembro de 2020, vedada a redução do percentual praticado
em 25 de março de 2015.
§ 1° (...)
§ 2º. Caso a liquidação total dos débitos em mora exija a aplicação de
recursos em percentuais superiores àquele praticado em 25 de março
de 2015 no atendimento de precatórios judiciais, a parcela que
ultrapasse esse percentual poderá ser financiada, excetuada dos limites
de endividamento de que tratam os incisos VI e VII do artigo 52 desta
Constituição e quaisquer outros limites de endividamento previstos,
não se aplicando a este financiamento a vedação de vinculação de
receita do artigo 167, IV desta Constituição.
Art. 102. (...)
Parágrafo único. A aplicação dos recursos remanescentes, por opção a
ser exercida por Estados, Distrito Federal e Municípios, por ato do
respectivo Poder Executivo, poderá ser destinada ao pagamento
mediante acordos diretos, realizados segundo a ordem cronológica,
perante Juízos Auxiliares de Conciliação de Precatórios, com reduçãomáxima de 40% (quarenta por cento) do valor do crédito atualizado,
desde que em relação ao crédito não penda recurso ou defesa judicial,
e sejam observados os requisitos definidos na regulamentação editada
pelo ente federado.
Art. 103. Caso não sejam tempestivamente liberados, no todo ou em
parte, os recursos referidos no artigo 101:
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I – o Presidente do Tribunal de Justiça local determinará o sequestro,
até o limite do valor não liberado, das contas do ente inadimplente;
II – o chefe do Poder Executivo do ente inadimplente responderá, na
forma da legislação de responsabilidade fiscal e de improbidade
administrativa;
III - a União reterá os repasses relativos ao Fundo de Participação dos
Estados e do Distrito Federal e ao Fundo de Participação dos
Municípios, e os depositará na conta especial referida no art. 101;
IV - enquanto perdurar a omissão, a entidade devedora:
a) não poderá contrair empréstimo externo ou interno, exceto para os
fins previstos no § 2° do artigo 101;
b) ficará impedida de receber transferências voluntárias.
Parágrafo único. Enquanto Estados, Distrito Federal e Municípios
estiverem realizando pagamentos de precatórios em conformidade
com o que estabelece o artigo 101, nem eles nem suas autarquias e
fundações por eles mantidas poderão sofrer sequestro de valores,exceto no caso de não liberação tempestiva dos recursos mensais
necessários à liquidação total dos débitos até 31 de dezembro de 2020,
inclusive da parcela prevista no § 2° do artigo 101 caso o ente
inadimplente não venha a obter o financiamento para seu pagamento.
Brasília, 28 de junho de 2015.
Marcus Vinícius Furtado Coêlho
Presidente da OAB Nacional
Marco Antonio Innocenti
Presidente da Comissão Especial de Precatórios