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  • 8/3/2019 Nosso Lar - Andr Luiz - Francisco Cndido Xavier

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    Coleo: A VIDA NO MUNDO ESPIRITUAL

    NOSSO LAR

    Ditada pelo Esprito:ANDR LUIZ

    Psicografada por:FRANCISCO CNDIDO XAVIER

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    2 Francisco Cndido Xavier

    NOSSO LAR1 livro da coleo A Vida no Mundo Espiritual

    Ditada pelo Esprito:Andr Luiz(primeira edio lanada em 1943)

    Psicografada por:Francisco Cndido Xavier Digitalizada por:L. Neilmoris 2008 Brasil

  • 8/3/2019 Nosso Lar - Andr Luiz - Francisco Cndido Xavier

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    3 NOSSO LAR (pelo Esprito Andr Luiz)

    NOSSO LAR1 livro da coleo:A VIDA NO MUNDO ESPIRITUAL

    Ditada por:ANDR LUIZPsicografada por:

    FRANCISCO CNDIDO XAVIER

  • 8/3/2019 Nosso Lar - Andr Luiz - Francisco Cndido Xavier

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    4 Francisco Cndido Xavier

    Coleo:A Vida no Mundo Espiritual01 Nosso Lar

    02 Os Mensageiros03 Missionrios da Luz

    04 Obreiros da Vida Eterna05 No Mundo Maior

    06 Libertao07 Entre a Terra e o Cu

    08 Nos Domnios da Mediunidade09 Ao e Reao

    10 Evoluo em Dois Mundos11 Mecanismos da Mediunidade12 Sexo e Destino

    13 E a Vida Continua...

    Quando o servidor est pronto,o servio aparece.

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    5 NOSSO LAR (pelo Esprito Andr Luiz)

    ndice

    Novo amigo pag. 5Mensagem de Andr Luiz pag. 9

    1 Nas Zonas Inferiores pag. 112 Clarncio pag. 133 A Orao Coletiva pag. 164 O Mdico Espiritual pag. 195 Recebendo Assistncia pag. 226 Precioso Aviso pag. 257 Explicaes de Lsias pag. 288 Organizao de Servios pag. 319 Problema de Alimentao pag. 3410 No Bosque das guas pag. 3711 Notcias do Plano pag. 4012 O Umbral pag. 4313 No Gabinete do Ministro pag. 4614 Elucidaes de Clarncio pag. 4915 A Visita Materna pag. 5216 Confidncias pag. 5517 Em Casa de Lsias pag. 5818 Amor, Alimento das Almas pag. 6119 A Jovem Desencarnada pag. 6420 Noes de Lar pag. 6721 Continuando a palestra pag. 7022 O Bnus Hora pag. 7323 Saber Ouvir pag. 7624 O Impressionante Apelo pag. 7925 Generoso Alvitre pag. 8226 Novas Perspectivas pag. 8527 O Trabalho, Enfim pag. 8828 Em Servio pag. 9129 A Viso de Francisco pag. 9430 Herana e Eutansia pag. 9731 Vampiro pag. 10032 Notcias de Veneranda pag. 10433 Curiosas Observaes pag. 10734 Os Recm Chegados do Umbral pag. 11035 Encontro Singular pag. 11336 O Sonho pag. 11637 A Preleo da Ministra pag. 119

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    6 Francisco Cndido Xavier 38 O Caso Tobias pag. 12339 Ouvindo a Senhora Laura pag. 12740 Quem Semeia Colher pag. 13041 Convocados Luta pag. 13342 A Palavra do Governador pag. 13743 Em Conversao pag. 14044 As Trevas pag. 14445 No Campo da Msica pag. 14646 Sacrifcio de Mulher pag. 15047 A Volta de Laura pag. 15348 Culto Familiar pag. 15649 Regressando Casa pag. 16050 Cidado de Nosso Lar pag. 163

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    7 NOSSO LAR (pelo Esprito Andr Luiz)

    Novo amigo

    Os prefcios, em geral, apresentam autores, exaltando lhes o mrito ecomentando lhes a personalidade.

    Aqui, porm, a situao diferente.Embalde os companheiros encarnados procurariam o mdico Andr Luiz

    nos catlogos da conveno.Por vezes, o anonimato filho do legtimo entendimento e do verdadeiro

    amor. Para redimirmos o passado escabroso, modificam se tabelas da nomenclaturausual na reencarnao. Funciona o esquecimento temporrio como bno da Divina

    Misericrdia.Andr precisou, igualmente, cerrar a cortina sobre si mesmo. por isso que no podemos apresentar o mdico terrestre e autor humano,

    mas sim o novo amigo e irmo na eternidade.Por trazer valiosas impresses aos companheiros do mundo, necessitou

    despojar se de todas as convenes, inclusive a do prprio nome, para no ferircoraes amados, envolvidos ainda nos velhos mantos da iluso. Os que colhem asespigas maduras, no devem ofender os que plantam a distncia, nem perturbar alavoura verde, ainda em flor.

    Reconhecemos que este livro no nico. Outras entidades j comentaramas condies da vida, alm tmulo...

    Entretanto, de h muito desejamos trazer ao nosso crculo espiritual algumque possa transmitir a outrem o valor da experincia prpria, com todos os detalhes

    possveis legtima compreenso da ordem que preside o esforo dos desencarnadoslaboriosos e bem intencionados, nas esferas invisveis ao olhar humano, emboraintimamente ligadas ao planeta.

    Certamente que numerosos amigos sorriro ao contacto de determinadaspassagens das narrativas. O inabitual, entretanto, causa surpresa em todos os tempos.Quem no sorriria, na Terra, anos atrs, quando se lhe falasse da aviao, da

    eletricidade, da radiofonia?A surpresa, a perplexidade e a dvida so de todos os aprendizes que ainda

    no passaram pela lio. mais que natural, justssimo. No comentaramos, dessemodo, qualquer impresso alheia. Todo leitor precisa analisar o que l.

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    8 Francisco Cndido Xavier Reportamo nos, pois, to somente ao objetivo essencial do trabalho.O Espiritismo ganha expresso numrica. Milhares de criaturas interessam

    se pelos seus trabalhos, modalidades, experincias. Nesse campo imenso denovidades, todavia, no deve o homem descurar de si mesmo.

    No basta investigar fenmenos, aderir verbalmente, melhorar a estatstica,

    doutrinar conscincias alheias, fazer proselitismo e conquistar favores da opinio, por mais respeitvel que seja, no plano fsico. indispensvel cogitar doconhecimento de nossos infinitos potenciais, aplicando os, por nossa vez, nosservios do bem.

    O homem terrestre no um deserdado. filho de Deus, em trabalhoconstrutivo, envergando a roupagem da carne aluno de escola benemrita, onde

    precisa aprender a elevar se. A luta humana a sua oportunidade, a sua ferramenta,o seu livro.

    O intercmbio com o invisvel um movimento sagrado, em funo

    restauradora do Cristianismo puro que ningum, todavia, se descuide dasnecessidades prprias, no lugar que ocupa pela vontade do Senhor.Andr Luiz vem contar a voc, leitor amigo, que a maior surpresa da morte

    carnal a de nos colocar face a face com a prpria conscincia, onde edificamos ocu, estacionamos no purgatrio ou nos precipitamos no abismo infernal vemlembrar que a Terra oficina sagrada e que ningum a menosprezar, sem conhecero preo do terrvel engano a que submeteu o prprio corao.

    Guarde a experincia dele no livro d'alma. Ela diz bem alto que no basta criatura apegar se existncia humana, mas precisa saber aproveit la dignamenteque os passos do cristo, em qualquer escola religiosa, devem dirigir severdadeiramente ao Cristo, e que, em nosso campo doutrinrio, precisamos, emverdade, do Espiritismo e do Espiritualismo, mas, muito mais, deEspiritualidade.

    EmmanuelPedro Leopoldo, 3 de outubro de 1943.

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    9 NOSSO LAR (pelo Esprito Andr Luiz)

    Mensagem de Andr Luiz

    A vida no cessa. A vida fonte eterna e a morte jogo escuro das iluses.O grande rio tem seu trajeto, antes do mar imenso. Copiando lhe a

    expresso, a alma percorre igualmente caminhos variados e etapas diversas, tambmrecebe afluentes de conhecimentos, aqui e ali, avoluma se em expresso e purifica se em qualidade, antes de encontrar o Oceano Eterno da Sabedoria.

    Cerrar os olhos carnais constitui operao demasiadamente simples.Permutar a roupagem fsica no decide o problema fundamental da

    iluminao, como a troca de vestidos nada tem que ver com as solues profundas

    do destino e do ser.Oh! Caminhos das almas, misteriosos caminhos do corao! mister percorrer vos, antes de tentar a suprema equao da Vida Eterna! indispensvelviver o vosso drama, conhecer vos detalhe a detalhe, no longo processo doaperfeioamento espiritual!...

    Seria extremamente infantil a crena de que o simples "baixar do pano"resolvesse transcendentes questes do Infinito.

    Uma existncia um ato.Um corpo uma veste.Um sculo um dia.Um servio uma experincia.Um triunfo uma aquisio.Uma morte um sopro renovador.Quantas existncias, quantos corpos, quantos sculos, quantos servios,

    quantos triunfos, quantas mortes necessitamos ainda?E o letrado em filosofia religiosa fala de deliberaes finais e posies

    definitivas!Ai! Por toda parte, os cultos em doutrina e os analfabetos do esprito! preciso muito esforo do homem para ingressar na academia do

    Evangelho do Cristo, ingresso que se verifica, quase sempre, de estranha maneira ele s, na companhia do Mestre, efetuando o curso difcil, recebendo lies semctedras visveis e ouvindo vastas dissertaes sem palavras articuladas.

    Muito longa, portanto, nossa jornada laboriosa.

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    10 Francisco Cndido Xavier Nosso esforo pobre quer traduzir apenas uma idia dessa verdade

    fundamental.Grato, pois, meus amigos!Manifestamo nos, junto a vs outros, no anonimato que obedece caridade

    fraternal. A existncia humana apresenta grande maioria de vasos frgeis, que no

    podem conter ainda toda a verdade. Alis, no nos interessaria, agora, seno aexperincia profunda, com os seus valores coletivos. No atormentaremos algumcom a idia da eternidade. Que os vasos se fortaleam, em primeiro lugar.Forneceremos, somente, algumas ligeiras notcias ao esprito sequioso dos nossosirmos na senda de realizao espiritual, e que compreendem conosco que "oesprito sopra onde quer".

    E, agora, amigos, que meus agradecimentos se calem no papel, recolhendo se ao grande silncio da simpatia e da gratido. Atrao e reconhecimento, amor e

    jbilo moram na alma. Crede que guardarei semelhantes valores comigo, a vosso

    respeito, no santurio do corao.Que o Senhor nos abenoe.ANDR LUI Z

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    11 NOSSO LAR (pelo Esprito Andr Luiz)

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    Nas Zonas Inferiores

    Eu guardava a impresso de haver perdido a idia de tempo. A noo deespao esvara se me de h muito.

    Estava convicto de no mais pertencer ao nmero dos encarnados nomundo e, no entanto, meus pulmes respiravam a longos haustos.

    Desde quando me tornara joguete de foras irresistveis? Impossvelesclarecer.

    Sentia me, na verdade, amargurado duende nas grades escuras do horror.Cabelos eriados, corao aos saltos, medo terrvel senhoreando me, muita vez

    gritei como louco, implorei piedade e clamei contra o doloroso desnimo que mesubjugava o esprito mas, quando o silncio implacvel no me absorvia a vozestentrica, lamentos mais comovedores que os meus respondiam me aos clamores.Outras vezes gargalhadas sinistras rasgavam a quietude ambiente. Algumcompanheiro desconhecido estaria, a meu ver, prisioneiro da loucura. Formasdiablicas, rostos alvares, expresses animalescas surgiam, de quando em quando,agravando me o assombro. A paisagem, quando no totalmente escura, parecia

    banhada de luz alvacenta, como que amortalhada em neblina espessa, que os raios deSol aquecessem de muito longe.

    E a estranha viagem prosseguia... Com que fim? Quem o poderia dizer?Apenas sabia que fugia sempre... O medo me impelia de roldo. Onde o lar, aesposa, os filhos? Perdera toda a noo de rumo. O receio do ignoto e o pavor datreva absorviam me todas as faculdades de raciocnio, logo que me desprendera dosltimos laos fsicos, em pleno sepulcro!

    Atormentava me a conscincia: preferiria a ausncia total da razo, o no ser.

    De incio, as lgrimas lavavam me incessantemente o rosto e apenas, emminutos raros, felicitava me a bno do sono. Interrompia se, porm, bruscamente,a sensao de alvio. Seres monstruosos acordavam me, irnicos era imprescindvel

    fugir deles.Reconhecia, agora, a esfera diferente a erguer se da poalha do mundo e,

    todavia, era tarde. Pensamentos angustiosos atritavamme o crebro. Mal delineava projetos de soluo, incidentes numerosos impeliam me a consideraes

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    12 Francisco Cndido Xavier estonteantes. Em momento algum, o problema religioso surgiu to profundo a meusolhos. Os princpios puramente filosficos, polticos e cientficos, figuravam se meagora extremamente secundrios para a vida humana. Significavam, a meu ver,valioso patrimnio nos planos da Terra, mas urgia reconhecer que a humanidade nose constitui de geraes transitrias e sim de Espritos eternos, a caminho de gloriosa

    destinao. Verificava que alguma coisa permanece acima de toda cogitaomeramente intelectual. Esse algo a f, manifestao divina ao homem. Semelhanteanlise surgia, contudo, tardiamente. De fato, conhecia as letras do VelhoTestamento e muita vez folheara o Evangelho entretanto, era foroso reconhecerque nunca procurara as letras sagradas com a luz do corao. Identificava as atravsda crtica de escritores menos afeitos ao sentimento e conscincia, ou em plenodesacordo com as verdades essenciais. Noutras ocasies, interpretava as com osacerdcio organizado, sem sair jamais do crculo de contradies, onde estacionaravoluntariamente.

    Em verdade, no fora um criminoso, no meu prprio conceito. A filosofiado imediatismo, porm, absorvera me. A existncia terrestre, que a mortetransformara, no fora assinalada de lances diferentes da craveira comum.

    Filho de pais talvez excessivamente generosos, conquistara meus ttulosuniversitrios sem maior sacrifcio, compartilhara os vcios da mocidade do meutempo, organizara o lar, conseguira filhos, perseguira situaes estveis quegarantissem a tranqilidade econmica do meu grupo familiar, mas, examinandoatentamente a mim mesmo, algo me fazia experimentar a noo de tempo perdido,com a silenciosa acusao da conscincia. Habitara a Terra, gozara lhe os bens,colhera as bnos da vida, mas no lhe retribura ceitil do dbito enorme. Tivera

    pais, cuja generosidade e sacrifcios por mim nunca avaliei esposa e filhos que prendera, ferozmente, nas teias rijas do egosmo destruidor. Possura um lar quefechei a todos os que palmilhavam o deserto da angstia. Deliciara me com os

    jbilos da famlia, esquecido de estender essa bno divina imensa famliahumana, surdo a comezinhos deveres de fraternidade.

    Enfim, como a flor de estufa, no suportava agora o clima das realidadeseternas. No desenvolvera os germes divinos que o Senhor da Vida colocara emminh'alma. Sufocara os, criminosamente, no desejo incontido de bem estar. Noadestrara rgos para a vida nova. Era justo, pois, que a despertasse maneira de

    aleijado que, restitudo ao rio infinito da eternidade, no pudesse acompanhar senocompulsoriamente a carreira incessante das guas ou como mendigo infeliz, que,exausto em pleno deserto, perambula merc de impetuosos tufes.

    Oh! Amigos da Terra! Quantos de vs podereis evitar o caminho daamargura com o preparo dos campos interiores do corao? Acendei vossas luzesantes de atravessar a grande sombra. Buscai a verdade, antes que a verdade vossurpreenda. Suai agora para no chorardes depois.

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    13 NOSSO LAR (pelo Esprito Andr Luiz)

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    Clarncio

    "Suicida! Suicida! Criminoso! Infame!" gritos assim, cercavam me detodos os lados. Onde os sicrios de corao empedernido? Por vezes, enxergava osde relance, escorregadios na treva espessa e, quando meu desespero atingia o auge,atacava os, mobilizando extremas energias. Em vo, porm, esmurrava o ar nos

    paroxismos da clera. Gargalhadas sarcsticas feriam me os ouvidos, enquanto osvultos negros desapareciam na sombra.

    Para quem apelar? Torturava me a fome, a sede me escaldava. Comezinhosfenmenos da experincia material patenteavam se me aos olhos. Crescera me a

    barba, a roupa comeava a romper se com os esforos da resistncia, na regiodesconhecida. A circunstncia mais dolorosa, no entanto, no o terrvel abandonoa que me sentia votado, mas o assdio incessante de foras perversas que meassomavam nos caminhos ermos e obscuros. Irritavam me, aniquilavam me a

    possibilidade de concatenar idias. Desejava ponderar maduramente a situao,esquadrinhar razes e estabelecer novas diretrizes ao pensamento, mas aquelasvozes, aqueles lamentos misturados de acusaes nominais, desnorteavam meirremediavelmente.

    Que buscas, infeliz! Aonde vais, suicida?Tais objurgatrias, incessantemente repetidas, perturbavam me o corao.

    Infeliz, sim mas, suicida? nunca! Essas increpaes, a meu ver, no eramprocedentes. Eu havia deixado o corpo fsico a contragosto. Recordava meu porfiadoduelo com a morte. Ainda julgava ouvir os ltimos pareceres mdicos, enunciadosna Casa de Sade lembrava a assistncia desvelada que tivera, os curativosdolorosos que experimentara nos dias longos que se seguiram delicada operaodos intestinos. Sentia, no curso dessas reminiscncias, o contacto do termmetro, o

    pique desagradvel da agulha de injees e, por fim, a ltima cena que precedera ogrande sono: minha esposa ainda jovem e os trs filhos contemplando me, no terrorda eterna separao. Depois... O despertar na paisagem mida e escura e a grande

    caminhada que parecia sem fim.Por que a pecha de suicdio, quando fora compelido a abandonar a casa, a

    famlia e o doce convvio dos meus? O homem mais forte conhecer limites resistncia emocional. Firme e resoluto a princpio, comecei por entregar me a

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    14 Francisco Cndido Xavier longos perodos de desnimo e, longe de prosseguir na fortaleza moral, por ignorar o

    prprio fim, senti que as lgrimas longamente represadas visitavam me com maisfreqncia, extravasando do corao.

    A quem recorrer? Por maior que fosse a cultura intelectual trazida domundo, no poderia alterar, agora, a realidade da vida. Meus conhecimentos, ante o

    infinito, semelhavam se a pequenas bolhas de sabo levadas ao vento impetuoso quetransforma as paisagens. Eu era alguma coisa que o tufo da verdade carreava paramuito longe. Entretanto, a situao no modificava a outra realidade do meu seressencial. Perguntando a mim mesmo se no enlouquecera, encontrava a conscinciavigilante, esclarecendo me que continuava a ser eu mesmo, com o sentimento e acultura colhidos na experincia material. Persistiam as necessidades fisiolgicas,sem modificao. Castigava me a fome todas as fibras e, nada obstante, oabatimento progressivo no me fazia cair definitivamente em absoluta exausto. Dequando em quando, deparavam se me verduras que me pareciam agrestes, em torno

    de humildes filetes d'gua a que me atirava sequioso. Devorava as folhasdesconhecidas, colava os lbios nascente turva, enquanto mo permitiam as forasirresistveis, a impelirem me para frente. Muita vez suguei a lama da estrada,recordei o antigo po de cada dia, vertendo copioso pranto. No raro, eraimprescindvel ocultar me das enormes manadas de seres animalescos, que

    passavam em bando, quais feras insaciveis. Eram quadros de estarrecer!Acentuava se o desalento. Foi quando comecei a recordar que deveria existir umAutor da Vida, fosse onde fosse. Essa idia confortou me. Eu, que detestara asreligies no mundo, experimentava agora a necessidade de conforto mstico. Mdicoextremamente arraigado ao negativismo da minha gerao, impunha se me atituderenovadora. Tornava se imprescindvel confessar a falncia do amor prprio, a queme consagrara orgulhoso.

    E, quando as energias me faltaram de todo, quando me senti absolutamentecolado ao lodo da Terra, sem foras para reerguer me, pedi ao Supremo Autor da

    Natureza me estendesse mos paternais, em to amargurosa emergncia.Quanto tempo durou a rogativa? Quantas horas consagrei splica, de

    mos postas, imitando a criana aflita? Apenas sei que a chuva das lgrimas melavou o rosto que todos os meus sentimentos se concentraram na prece dolorosa.Estaria, ento, completamente esquecido? No era, igualmente, filho de Deus,

    embora no cogitasse de conhecer lhe a atividade sublime quando engolfado nasvaidades da experincia humana? Por que no me perdoaria o Eterno Pai, quando

    providenciava ninho s aves inconscientes e protegia, bondoso, a flor tenra doscampos agrestes?

    Ah! preciso haver sofrido muito, para entender todas as misteriosasbelezas da orao necessrio haver conhecido o remorso, a humilhao, a extremadesventura, para tomar com eficcia o sublime elixir de esperana. Foi nesse instanteque as neblinas espessas se dissiparam e algum surgiu, emissrio dos Cus. Umvelhinho simptico me sorriu paternalmente. Inclinou se, fixou nos meus os grandes

    olhos lcidos, e falou: Coragem, meu filho! O Senhor no te desampara.

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    15 NOSSO LAR (pelo Esprito Andr Luiz)Amargurado pranto banhava me a alma toda. Emocionado, quis traduzir

    meu jbilo, comentar a consolao que me chegava, mas, reunindo todas as forasque me restavam, pude apenas inquirir:

    Quem sois, generoso emissrio de Deus?O inesperado benfeitor sorriu bondoso e respondeu:

    Chama me Clarncio, sou apenas teu irmo.E, percebendo o meu esgotamento, acrescentou:

    Agora, permanece calmo e silencioso. preciso descansar para reaverenergias.

    Em seguida, chamou dois companheiros que guardavam atitude de servosdesvelados e ordenou:

    Prestemos ao nosso amigo os socorros de emergncia.Alvo lenol foi estendido ali mesmo, guisa de maca improvisada,

    aprestando se ambos os cooperadores a transportarem me, generosamente.

    Quando me alavam, cuidadosos, Clarncio meditou um instante eesclareceu, como quem recorda inadivel obrigao: Vamos sem demora. Preciso atingir "Nosso Lar" com a presteza possvel.

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    16 Francisco Cndido Xavier

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    A Orao Coletiva

    Embora transportado maneira de ferido comum, lobriguei o quadroconfortante que se desdobrava minha vista.

    Clarncio, que se apoiava num cajado de substncia luminosa, deteve se frente de grande porta encravada em altos muros, cobertos de trepadeiras floridas egraciosas. Tateando um ponto da muralha, fez se longa abertura, atravs da qual

    penetramos, silenciosos.Branda claridade inundava ali todas as coisas. Ao longe, gracioso foco de

    luz dava a idia de um pr do sol em tardes primaveris. A medida que avanvamos,conseguia identificar preciosas construes, situadas em extensos jardins.

    Ao sinal de Clarncio, os condutores depuseram, devagarinho, a macaimprovisada. A meus olhos surgiu, ento, a porta acolhedora de alvo edifcio, feio de grande hospital terreno. Dois jovens, envergando tnicas de nveo linho,acorreram pressurosos ao chamado de meu benfeitor, e quando me acomodavamnum leito de emergncia, para me conduzirem cuidadosamente ao interior, ouvi ogeneroso ancio recomendar, carinhoso:

    Guardem nosso tutelado no pavilho da direita. Esperam agora por mim.Amanh cedo voltarei a v lo.

    Enderecei lhe um olhar de gratido, ao mesmo tempo em que era

    conduzido a confortvel aposento de amplas propores, ricamente mobilhado, ondeme ofereceram leito acolhedor.

    Envolvendo os dois enfermeiros na vibrao do meu reconhecimento,esforcei me por lhes dirigir a palavra, conseguindo dizer por fim:

    Amigos, por quem sois, explicai me em que novo mundo me encontro...De que estrela me vem, agora, esta luz confortadora e brilhante?

    Um deles afagou me a fronte, como se fora conhecido pessoal de longotempo e acentuou:

    Estamos nas esferas espirituais vizinhas da Terra, e o Sol que nos ilumina

    neste momento o mesmo que nos vivificava o corpo fsico. Aqui, entretanto, nossapercepo visual muito mais rica. A estrela que o Senhor acendeu para os nossostrabalhos terrestres mais preciosa e bela do que a supomos quando no crculo

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    17 NOSSO LAR (pelo Esprito Andr Luiz)carnal. Nosso Sol a divina matriz da vida e a claridade que irradia provm doAutor da Criao.

    Meu ego, como que absorvido em onda de infinito respeito, fixou a luzbranda que invadia o quarto, atravs das janelas, e perdi me no curso de profundascogitaes. Recordei, ento, que nunca fixara o Sol, nos dias terrestres, meditando

    na imensurvel bondade dAquele que no lo concede para o caminho eterno da vida.Semelhava me assim ao cego venturoso, que abre os olhos para a Natureza sublime,depois de longos sculos de escurido.

    A essa altura, serviram me caldo reconfortante, seguido de gua muitofresca, que me pareceu portadora de fluidos divinos. Aquela reduzida poro delquido reanimava me inesperadamente. No saberia dizer que espcie de sopa eraaquela se alimentao sedativa, se remdio salutar. Novas energias amparavam mea alma, profundas comoes vibravam me no esprito.

    Minha maior emoo, todavia, reservava se para instantes depois.

    Mal no sara da consoladora surpresa, divina melodia penetrou quartoadentro, parecendo suave colmia de sons a caminho das esferas superiores. Aquelasnotas de maravilhosa harmonia atravessavam me o corao. Ante meu olharindagador, o enfermeiro, que permanecia ao lado, esclareceu, bondoso:

    chegado o crepsculo em "Nosso Lar". Em todos os ncleos desta colniade trabalho, consagrada ao Cristo, h ligao direta com as preces da Governadoria.

    E enquanto a msica embalsamava o ambiente, despediu se, atencioso: Agora, fique em paz. Voltarei logo aps a orao.Empolgou me ansiedade sbita.

    No poderei acompanhar vos? perguntei, suplicante. Est ainda fraco esclareceu, gentil , todavia, caso sinta se disposto...Aquela melodia renovava me as energias profundas. Levantei me vencendo

    dificuldades e agarrei me ao brao fraternal que se me estendia. Seguindo vacilante,cheguei a enorme salo, onde numerosa assemblia meditava em silncio,

    profundamente recolhida. Da abbada cheia de claridade brilhante, pendiamdelicadas e flreas guirlandas, que vinham do teto base, formando radiosossmbolos de Espiritualidade Superior. Ningum parecia dar conta da minha

    presena, ao passo que mal dissimulava eu a surpresa inexcedvel. Todos os

    circunstantes, atentos, pareciam aguardar alguma coisa. Contendo a custo numerosasindagaes que me esfervilhavam na mente, notei que ao fundo, em tela gigantesca,desenhava se prodigioso quadro de luz quase ferica. Obedecendo a processosadiantados de televiso, surgiu o cenrio de templo maravilhoso. Sentado em lugarde destaque, um ancio coroado de luz fixava o Alto, em atitude de prece,envergando alva tnica de irradiaes resplandecentes. Em plano inferior, setenta eduas figuras pareciam acompanh lo em respeitoso silncio. Altamentesurpreendido, reparei Clarncio participando da assemblia, entre os que cercavam ovelhinho refulgente.

    Apertei o brao do enfermeiro amigo e, compreendendo ele que minhasperguntas no se fariam esperar, esclareceu em voz baixa, que mais se assemelhavaa leve sopro:

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    18 Francisco Cndido Xavier Conserve se tranqilo. Todas as residncias e instituies de "Nosso Lar"

    esto orando com o Governador, atravs da audio e viso a distncia. Louvemos oCorao Invisvel do Cu.

    Mal terminara a explicao, as setenta e duas figuras comearam a cantarharmonioso hino, repleto de indefinvel beleza. A fisionomia de Clarncio, no

    crculo dos venerveis companheiros, figurou se me tocada de mais intensa luz. Ocntico celeste constitua se de notas angelicais, de sublimado reconhecimento.Pairavam no recinto misteriosas vibraes de paz e de alegria e, quando as notasargentinas fizeram delicioso staccato, desenhou se ao longe, em plano elevado, umcorao maravilhosamente azul1, com estrias douradas. Cariciosa msica, emseguida, respondia aos louvores, procedente talvez de esferas distantes. Foi a queabundante chuva de flores azuis se derramou sobre ns mas, se fixvamos osmiostis celestiais, no conseguamos det los nas mos. As corolas minsculasdesfaziam se de leve, ao tocar nos a fronte, experimentando eu, por minha vez,

    singular renovao de energias ao contacto das ptalas fludicas que mebalsamizavam o corao.Terminada a sublime orao, regressei ao aposento de enfermo, amparado

    pelo amigo que me atendia de perto. Entretanto, no era mais o doente grave dehoras antes. A primeira prece coletiva, em "Nosso Lar", operara em mim completatransformao. Conforto inesperado envolvia me a alma. Pela primeira vez, depoisde anos consecutivos de sofrimento, o pobre corao, saudoso e atormentado, maneira de clice muito tempo vazio, enchera se de novo das gotas generosas dolicor da esperana.

    1Imagem simblica formada pelas vibraes mentais dos habitantes da colnia. ( Nota do Autorespiritual)

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    19 NOSSO LAR (pelo Esprito Andr Luiz)

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    O Mdico Espiritual

    No dia imediato, aps reparador e profundo repouso, experimentei a bnoradiosa do Sol amigo, qual suave mensagem ao corao. Claridade reconfortanteatravessava ampla janela, inundando o recinto de cariciosa luz. Sentia me outro.Energias novas tocavam me o ntimo. Tinha a impresso de sorver a alegria da vida,a longos haustos. Na alma, apenas um ponto sombrio a saudade do lar, o apego famlia que ficara distante. Numerosas interrogaes pairavam me na mente, masto grande era a sensao de alvio que eu sossegava o esprito, longe de qualquerinterpelao.

    Quis levantar me, gozar o espetculo da Natureza cheia de brisas e de luz,mas no o consegui e conclu que, sem a cooperao magntica do enfermeiro,tornava se me impossvel deixar o leito.

    No voltara a mim das surpresas consecutivas, quando se abriu a porta e vientrar Clarncio acompanhado por simptico desconhecido. Cumprimentaram me,atenciosos, desejando me paz. Meu benfeitor da vspera indagou do meu estadogeral. Acorreu o enfermeiro, prestando informaes.

    Sorridente, o velhinho amigo apresentou me o companheiro. Tratava se,disse, do irmo Henrique de Luna, do Servio de Assistncia Mdica da colniaespiritual. Trajado de branco, traos fisionmicos irradiando enorme simpatia,Henrique auscultou me demoradamente, sorriu e explicou:

    de lamentar que tenha vindo pelo suicdio.Enquanto Clarncio permanecia sereno, senti que singular assomo de

    revolta me borbulhava no ntimo.Suicdio? Recordei as acusaes dos seres perversos das sombras. No

    obstante o cabedal de gratido que comeava a acumular, no calei a incriminao. Creio haja engano asseverei, melindrado , meu regresso do mundo no

    teve essa causa. Lutei mais de quarenta dias, na Casa de Sade, tentando vencer amorte. Sofri duas operaes graves, devido a ocluso intestinal...

    Sim esclareceu o mdico, demonstrando a mesma serenidade superior ,mas a ocluso radicava se em causas profundas. Talvez o amigo no tenha

    ponderado bastante. O organismo espiritual apresenta em si mesmo a histriacompleta das aes praticadas no mundo.

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    20 Francisco Cndido Xavier E inclinando se, atencioso, indicava determinados pontos do meu corpo:

    Vejamos a zona intestinal exclamou A ocluso derivava e elementoscancerosos, e estes, por sua vez, de algumas leviandades do meu estimado irmo, nocampo da sfilis. A molstia talvez no assumisse caractersticas to graves, se o seu

    procedimento mental no planeta estivesse enquadrado nos princpios da fraternidade

    e da temperana. Entretanto, seu modo especial de conviver, muita vez exasperado esombrio, captava destruidoras vibraes naqueles que o ouviam. Nunca imaginouque a clera fosse manancial de foras negativas para ns mesmos? A ausncia deautodomnio, a inadvertncia no trato com os semelhantes, aos quais muitas vezesofendeu sem refletir, conduziam no freqentemente esfera dos seres doentes einferiores. Tal circunstncia agravou, de muito, o seu estado fsico.

    Depois de longa pausa, em que me examinava atentamente, continuou: J observou, meu amigo, que seu fgado foi maltratado pela sua prpria

    ao que os rins foram esquecidos, com terrvel menosprezo s ddivas sagradas?

    Singular desapontamento invadira me o corao. Parecendo desconhecer aangstia que me oprimia, continuava o mdico, esclarecendo: Os rgos do corpo somtico possuem incalculveis reservas, segundo os

    desgnios do Senhor. O meu amigo, no entanto, iludiu excelentes oportunidades,esperdiando patrimnios preciosos da experincia fsica. A longa tarefa, que lhe foiconfiada pelos Maiores da Espiritualidade Superior, foi reduzida a meras tentativasde trabalho que no se consumou. Todo o aparelho gstrico foi destrudo custa deexcessos de alimentao e bebidas alcolicas, aparentemente sem importncia.Devorou lhe a sfilis energias essenciais. Como v, o suicdio incontestvel.

    Meditei nos problemas dos caminhos humanos, refletindo nasoportunidades perdidas. Na vida humana, conseguia ajustar numerosas mscaras aorosto, talhando as conforme as situaes. Alis, no poderia supor, noutro tempo,que me seriam pedidas contas de episdios simples, que costumava considerar comofatos sem maior significao. Conceituara, at ali, os erros humanos, segundo os

    preceitos da criminologia. Todo acontecimento insignificante, estranho aos cdigos,entraria na relao de fenmenos naturais. Deparava se me, porm, agora, outrosistema de verificao das faltas cometidas. No me defrontavam tribunais detortura, nem me surpreendiam abismos infernais contudo, benfeitores sorridentescomentavam me as fraquezas como quem cuida de uma criana desorientada, longe

    das vistas paternas. Aquele interesse espontneo, no entanto, feria me a vaidade dehomem. Talvez que, visitado por figuras diablicas a me torturarem, de tridente nasmos, encontrasse foras para tornar a derrota menos amarga. Todavia, a bondadeexuberante de Clarncio, a inflexo de ternura do mdico, a calma fraternal doenfermeiro, penetravam me fundo o esprito. No me dilacerava o desejo de reaodoa me a vergonha. E chorei. Rosto entre as mos, qual menino contrariado einfeliz, pus me a soluar com a dor que me parecia irremedivel. No havia comodiscordar. Henrique de Luna falava com sobejas razes. Por fim, abafando osimpulsos vaidosos, reconheci a extenso de minhas leviandades de outros tempos. A

    falsa noo da dignidade pessoal cedia terreno justia. Perante minha visoespiritual s existia, agora, uma realidade torturante: era verdadeiramente umsuicida, perdera o ensejo precioso da experincia humana, no passava de nufrago aquem se recolhia por caridade.

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    21 NOSSO LAR (pelo Esprito Andr Luiz)Foi ento que o generoso Clarncio, sentando se no leito, a meu lado,

    afagou me paternalmente os cabelos e falou comovido: Oh! Meu filho, no te lastimes tanto. Busquei te atendendo intercesso

    dos que te amam, dos planos mais altos. Tuas lgrimas atingem seus coraes. Nodesejas ser grato, mantendo te tranqilo no exame das prprias faltas? Na verdade,

    tua posio a do suicida inconsciente mas necessrio reconhecer que centenas decriaturas se ausentam diariamente da Terra, nas mesmas condies. Acalma te, pois.Aproveita os tesouros do arrependimento, guarda a bno do remorso, emboratardio, sem esquecer que a aflio no resolve problemas. Confia no Senhor e emnossa dedicao fraternal. Sossega a alma perturbada, porque muitos de ns outros

    j perambulamos igualmente nos teus caminhos.Ante a generosidade que transbordava dessas palavras, mergulhei a cabea

    em seu colo paternal e chorei longamente.

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    22 Francisco Cndido Xavier

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    Recebendo Assistncia

    voc o tutelado de Clarncio?A pergunta vinha de um jovem de singular e doce expresso.Grande bolsa pendente da mo, como quem conduzia apetrechos de

    assistncia, endereava me ele sorriso acolhedor. Ao meu sinal afirmativo, mostrou se vontade e, maneiras fraternas, acentuou:

    Sou Lsias, seu irmo. Meu diretor, o assistente Henrique de Luna,designou me para servi lo, enquanto precisar tratamento.

    enfermeiro? indaguei. Sou visitador dos servios de sade. Nessa qualidade, no s coopero na

    enfermagem, como tambm assinalo necessidades de socorro, ou providncias quese refiram a enfermos recm chegados. Notando me a surpresa, explicou:

    Nas minhas condies h numerosos servidores em "Nosso Lar". Oamigo ingressou agora na colnia e, naturalmente, ignora a amplitude dos nossostrabalhos. Para fazer uma idia, basta lembrar que apenas aqui, na seo em que seencontra, existem mais de mil doentes espirituais, e note que este um dos menoresedifcios do nosso parque hospitalar.

    Tudo isso maravilhoso! exclamei.Adivinhando que minhas observaes iam descambar para o elogio

    espontneo, Lsias levantou se da poltrona a que se recolhera e comeou a auscultar me, atento, impedindo me o agradecimento verbal.

    A zona dos seus intestinos apresenta leses srias com vestgios muitoexatos do cncer a regio do fgado revela dilaceraes a dos rins demonstracaractersticos de esgotamento prematuro.

    Sorrindo, bondoso, acrescentou: Sabe o irmo o que significa isso? Sim repliquei, o mdico esclareceu ontem, explicando que devo esses

    distrbios a mim mesmo...

    Reconhecendo o acanhamento da confisso reticenciosa, apressou se aconsolar: Na turma de oitenta enfermos a que devo assistncia diria, cinqenta e

    sete se encontram nas suas condies. E talvez ignore que existem, por aqui, os

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    23 NOSSO LAR (pelo Esprito Andr Luiz)mutilados. J pensou nisso? Sabe que o homem imprevidente, que gastou os olhosno mal, aqui comparece de rbitas vazias? Que o malfeitor, interessado em utilizar odom da locomoo fcil nos atos criminosos, experimenta a desolao da paralisia,quando no recolhido absolutamente sem pernas? Que os pobres obsidiados nasaberraes sexuais costumam chegar em extrema loucura?

    Identificando me a perplexidade natural, prosseguiu: "Nosso Lar" no estncia de espritos propriamente vitoriosos, se

    conferirmos ao termo sua razovel acepo. Somos felizes, porque temos trabalho ea alegria habita cada recanto da colnia, porque o Senhor no nos retirou o poabenoado do servio.

    Aproveitando a pausa mais longa, exclamei sensibilizado: Continue, meu amigo, esclarea me. Sinto me aliviado e tranqilo. No

    ser esta regio um departamento celestial dos eleitos?Lsias sorriu e explicou:

    Recordemos o antigo ensinamento que se refere a muitos chamados epoucos escolhidos na Terra.E vagueando o olhar no horizonte longnquo, como a fixar experincias de

    si mesmo no painel das recordaes mais ntimas, acentuou: As religies, no planeta, convocam as criaturas ao banquete celestial. Em

    s conscincia, ningum que se tenha aproximado, um dia, da noo de Deus, podealegar ignorncia nesse particular. Incontvel o nmero dos chamados, meuamigo mas, onde os que atendem ao chamado? Com raras excees, a massahumana prefere aceder a outro gnero de convites. Gasta se a possibilidade nos

    desvios do bem, agrava se o capricho de cada um, elimina se o corpo fsico a golpesde irreflexo. Resultado: milhares de criaturas retiram se diariamente da esfera dacarne em doloroso estado de incompreenso. Multides sem conta erram em todasas direes nos crculos imediatos crosta planetria, constitudas de loucos,doentes e ignorantes.

    Notando me a admirao, interrogou: Acreditaria, porventura, que a morte do corpo nos conduziria a planos de

    milagres? Somos compelidos a trabalho spero, a servios pesados e no basta isso.Se temos dbitos no planeta, por mais alto que ascendamos, imprescindvel voltar,

    para retificar, lavando o rosto no suor do mundo, desatando algemas de dio esubstituindo as por laos sagrados de amor. No seria justo impor a outrem a tarefade mondar o campo que semeamos de espinhos, com as prprias mos.

    Abanando a cabea, acrescentava: Caso dos muitos chamados, meu caro. O Senhor no esquece homem

    algum todavia, rarssimos homens o recordam.Acabrunhado com a lembrana dos prprios erros, diante de to grandes

    noes de responsabilidade individual, objetei: Como fui perverso!Contudo, antes que me alongasse noutras exclamaes, o visitador colocou

    a destra carinhosa em meus lbios, murmurando: Cale se! Meditemos no trabalho a fazer. No arrependimento verdadeiro

    preciso saber falar, para construir de novo.

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    24 Francisco Cndido Xavier Em seguida, aplicou me passes magnticos, atenciosamente. Fazendo os

    curativos na zona intestinal, esclareceu: No observa o tratamento especializado da zona cancerosa? Pois note

    bem: toda medicina honesta servio de amor, atividade de socorro justo mas otrabalho de cura peculiar a cada esprito. Meu irmo ser tratado carinhosamente,

    sentir se forte como nos tempos mais belos da sua juventude terrena, trabalharmuito e, creio, ser um dos melhores colaboradores em "Nosso Lar" entretanto, acausa dos seus males persistir em si mesmo, at que se desfaa dos germes de

    perverso da sade divina, que agregou ao seu corpo sutil pelo descuido moral e pelo desejo de gozar mais que os outros. A carne terrestre, onde abusamos, tambm o campo bendito onde conseguimos realizar frutuosos labores de curaradical, quando permanecemos atentos ao dever justo.

    Meditei os conceitos, ponderei a bondade divina e, na exaltao dasensibilidade, chorei copiosamente.

    Lsias, contudo, terminou o tratamento do dia, com serenidade, e falou: Quando as lgrimas no se originam da revolta, sempre constituemremdio depurador. Chore, meu amigo. Desabafe o corao. E abenoemos aquelas

    benemritas organizaes microscpicas que so as clulas de carne na Terra. Tohumildes e to preciosas, to detestadas e to sublimes pelo esprito de servio. Semelas, que nos oferecem templo retificao, quantos milnios gastaramos naignorncia?

    Assim falando, afagou me carinhosamente a fronte abatida e despediu secom um sculo de amor.

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    Precioso Aviso

    No dia imediato, aps a orao do crepsculo, Clarncio me procurou emcompanhia do atencioso visitador.

    Fisionomia a irradiar generosidade, perguntou, abraandome: Como vai? Melhorzinho?Esbocei o gesto do enfermo que se v acariciado na Terra, amolecendo as

    fibras emotivas. No mundo, s vezes, o carinho fraterno mal interpretado.Obedecendo ao velho vcio, comecei a explicar me, enquanto os dois benfeitores sesentavam comodamente a meu lado:

    No posso negar que esteja melhor entretanto, sofro intensamente.Muitas dores na zona intestinal, estranhas sensaes de angstia no corao. Nuncasupus fosse capaz de tamanha resistncia, meu amigo. Ah! Como tem sido pesada aminha cruz!... Agora que posso concatenar idias, creio que a dor me aniquiloutodas as foras disponveis...

    Clarncio ouvia, atencioso, demonstrando grande interesse pelas minhaslamentaes, sem o menor gesto que denunciasse o propsito de intervir no assunto.Encorajado com essa atitude, continuei:

    Alm do mais, meus sofrimentos morais so enormes e inexprimveis.Amainada a tormenta exterior com os socorros recebidos, volto agora stempestades ntimas. Que ter sido feito de minha esposa, de meus filhos? Teria omeu primognito conseguido progredir, segundo meu velho ideal? E as filhinhas?Minha desventurada Zlia muitas vezes afirmou que morreria de saudades, se umdia eu lhe faltasse. Admirvel esposa! Ainda lhe sinto as lgrimas dos momentosderradeiros. No sei desde quando vivo o pesadelo da distncia... Continuadasdilaceraes roubaram me a noo do tempo. Onde estar minha pobrecompanheira? Chorando junto s cinzas do meu corpo, ou nalgum recanto escurodas regies da morte? Oh! Minha dor muito amarga! Que terrvel destino o dohomem penhorado no devotamento famlia! Creio que raras criaturas tero

    padecido tanto quanto eu!... No planeta, vicissitudes, desenganos, doenas,incompreenses e amarguras, abafando escassas notas de alegria depois, ossofrimentos da morte do corpo... Em seguida, martirizaes no alm tmulo! Queser, ento, a vida? Sucessivo desenrolar de misrias e lgrimas? No haver recurso

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    26 Francisco Cndido Xavier semeadura da paz? Por mais que deseje firmar me no otimismo, sinto que a noode infelicidade me bloqueia o esprito, como terrvel crcere do corao. Quedesventurado destino, generoso benfeitor!.

    Chegado a essa altura, o vendaval da queixa me conduzira o barco mentalao oceano largo das lgrimas.

    Clarncio, contudo, levantou se sereno e falou sem afetao: Meu amigo, deseja voc, de fato, a cura espiritual?Ao meu gesto afirmativo, continuou:

    Aprenda, ento, a no falar excessivamente de si mesmo, nem comente a prpria dor. Lamentao denota enfermidade mental e enfermidade de cursolaborioso e tratamento difcil. indispensvel criar pensamentos novos e disciplinaros lbios. Somente conseguiremos equilbrio, abrindo o corao ao Sol daDivindade. Classificar o esforo necessrio de imposio esmagadora, enxergar

    padecimentos onde h luta edificante, si identificar indesejvel cegueira d'alma.

    Quanto mais utilize o verbo por dilatar consideraes dolorosas, no crculo da personalidade, mais duros se tornaro os laos que o prendem a lembranasmesquinhas. O mesmo Pai que vela por sua pessoa, oferecendo lhe teto generoso,nesta casa, atender aos seus parentes terrestres. Deve mos ter nosso agrupamentofamiliar como sagrada construo, mas sem esquecer que nossas famlias so seesda Famlia universal, sob a Direo Divina. Estaremos a seu lado para resolverdificuldades presentes e estruturar projetos de futuro, mas no dispomos do tempo

    para voltar a zonas estreis de lamentao. Alm disso, temos, nesta colnia, ocompromisso de aceitar o trabalho mais spero como bno de realizao,considerando que a Providncia desborda amor, enquanto ns vivemos onerados dedvidas. Se deseja permanecer nesta casa de assistncia, aprenda a pensar com

    justeza. Nesse nterim, secara se me o pranto e, chamado a brios pelo generoso

    instrutor, assumi diversa atitude, embora envergonhado da minha fraqueza. No disputava voc, na carne prosseguiu Clarncio, bondoso , as

    vantagens naturais, decorrentes das boas situaes? No estimava a obteno derecursos lcitos, ansioso de estender benefcios aos entes amados? No se interessava

    pelas remuneraes justas, pelas expresses de conforto, com possibilidades deatender famlia? Aqui, o programa no diferente. Apenas divergem os detalhes.

    Nos crculos carnais, a conveno e a garantia monetria aqui, o trabalho e asaquisies definitivas do esprito imortal. Dor, para ns, significa possibilidade deenriquecer a alma a luta constitui caminho para a divina realizao. Compreendeu adiferena? As almas dbeis, ante o servio, deitam se para se queixarem aos que

    passam as fortes, porm, recebem o servio como patrimnio sagrado, namovimentao do qual se preparam, a caminho da perfeio. Ningum lhe condena asaudade justa, nem pretende estancar sua fonte de sentimentos sublimes. Acrescenotar, todavia, que o pranto da desesperao no edifica o bem. Se ama, em verdade,a famlia terrena, preciso bom nimo para lhe ser til.

    Fez se longa pausa. A palavra de Clarncio levantara me para elucubraesmais sadias.

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    27 NOSSO LAR (pelo Esprito Andr Luiz)Enquanto meditava a sabedoria da valiosa advertncia, meu benfeitor, qual

    o pai que esquece a leviandade dos filhos para recomear serenamente a lio,tornou a perguntar com um belo sorriso:

    Ento, como passa? Melhor?Contente por me sentir desculpado, maneira da criana que deseja

    aprender, respondi, confortado: Vou bem melhor, para melhor compreender a Vontade Divina.

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    Explicaes de Lsias

    Repetiram se as visitas peridicas de Clarncio e a ateno diria de Lsias. medida que procurava habituar me aos deveres novos, sensaes de

    desafogo me aliviavam o corao. Diminuram as dores e os impedimentos delocomoo fcil. Notava, porm, que, a recordaes mais fortes dos fenmenosfsicos, me voltavam a angstia, o receio do desconhecido, a mgoa da inadaptao.Apesar de tudo, encontrava mais segurana dentro de mim.

    Deleitava me, agora, contemplando os horizontes vastos, debruado s janelas espaosas. Impressionavam me, sobretudo, os aspectos da Natureza. Quasetudo, melhorada cpia da Terra. Cores mais harmnicas, substncias mais delicadas.Forrava se o solo de vegetao. Grandes rvores, pomares fartos e jardins deliciosos.Desenhavam se montes coroados de luz, em continuidade plancie onde a colniarepousava. Todos os departamentos apareciam cultivados com esmero. A pequenadistncia, alteavam se graciosos edifcios. Alinhavam se a espaos regulares,exibindo formas diversas. Nenhum sem flores entrada, destacando se algumascasinhas encantadoras, cercadas por muros de hera, onde rosas diferentesdesabrochavam, aqui e ali, adornando o verde de cambiantes variados. Aves de

    plumagens policromas cruzavam os ares e, de quando em quando, pousavamagrupadas nas torres muito alvas, a se erguerem retilneas, lembrando lrios

    gigantescos, rumo ao cu.Das janelas largas, observava, curioso, o movimento do parque.

    Extremamente surpreendido, identificava animais domsticos, entre as rvoresfrondosas, enfileiradas ao fundo.

    Nas minhas lutas introspectivas, perdia me em indagaes de toda sorte. No conseguia atinar com a multiplicidade de formas anlogas s do planeta,considerando a circunstncia de me encontrar numa esfera propriamente espiritual.

    Lsias, o companheiro amvel de todos os dias, no regateava explicaes.A morte do corpo no conduz o homem a situaes miraculosas, dizia.

    Todo processo evolutivo implica gradao. H regies mltiplas para osdesencarnados, como existem planos inmeros e surpreendentes para as criaturasenvolvidas de carne terrestre. Almas e sentimentos, formas e coisas, obedecem a

    princpios de desenvolvimento natural e hierarquia justa.

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    29 NOSSO LAR (pelo Esprito Andr Luiz)Preocupava me, todavia, permanecer ali, num parque de sade, havia

    muitas semanas, sem a visita sequer de um conhecido do mundo. Afinal, no fora eua nica pessoa do meu crculo a decifrar o enigma da sepultura. Meus pais mehaviam antecipado na grande jornada. Amigos vrios, noutro tempo, me haviam

    precedido. Por que, ento, no apareciam naquele quarto de enfermidade espiritual,

    para conforto do meu corao dolorido? Bastariam alguns momentos de consolao.Um dia, no pude conter me e perguntei ao solcito visitador:

    Meu caro Lsias, acha possvel, aqui, o encontro com aqueles que nosantecederam na morte do corpo fsico?

    Como no? Pensa que est esquecido?... Sim. Por que no me visitam? Na Terra, sempre contei com a abnegao

    maternal. Minha me, entretanto, at agora no deu sinal de vida. Meu pai,igualmente, fez a grande viagem trs anos antes do meu trespasse.

    Pois note esclareceu Lsias , sua me o tem ajudado dia e noite, desde

    a crise que antecipou sua vinda. Quando se acamou para abandonar o casuloterrestre, duplicou se o interesse maternal a seu respeito. Talvez no saiba ainda quesua permanncia nas esferas inferiores durou mais de oito anos consecutivos. Ela

    jamais desanimou. Intercedeu, muitas vezes, em "Nosso Lar", a seu favor. Rogou osbons ofcios de Clarncio, que comeou a visit lo freqentemente, at que o mdicoda Terra, vaidoso, se afastasse um tanto, a fim de surgir o filho dos Cus.Compreendeu?

    Eu tinha os olhos midos. Ignorava o nmero de anos que me distanciavamda gleba terrestre. Desejei conhecer os processos de proteo imperceptvel, mas no

    consegui. Minhas cordas vocais estavam entorpecidas, com o n de lgrimasrepresadas no corao. No dia em que voc orou com tanta alma prosseguiu o enfermeiro

    visitador , quando compreendeu que tudo no Universo pertence ao Pai Sublime, seu pranto era diferente. No sabe que h chuvas que destroem e chuvas que criam?Lgrimas h tambm, assim. lgico que o Senhor no espera por nossas rogativas

    para nos amar no entanto, indispensvel nos colocarmos em determinada posioreceptiva, a fim de compreender lhe a infinita bondade. Um espelho enfuscado noreflete a luz. Desse modo, o Pai no precisa de nossas penitncias, mas

    convenhamos que as penitncias prestam timos servios a ns mesmos. Entendeu?Clarncio no teve dificuldade em localiz lo, atendendo aos apelos de suacarinhosa genitora da Terra voc, porm, demorou muito a encontrar Clarncio. Equando sua mezinha soube que o filho havia rasgado os vus escuros com o auxlioda orao, chorou de alegria, segundo me contaram...

    E onde est minha me? exclamei, por fim. Se me permitido, querov la, abra la, ajoelhar me a seus ps!

    No vive em "Nosso Lar" esclareceu Lsias , habita esferas mais altas,onde trabalha no somente por voc.

    Observando meu desapontamento, acrescentou, fraterno: Vir v lo, por certo, antes mesmo do que pensamos. Quando algum

    deseja algo ardentemente, j se encontra a caminho da realizao. Tem voc, nesse particular, a lio do prprio caso. Anos a fio rolou, como pluma, albergando omedo, as tristezas e desiluses mas, quando mentalizou firmemente a necessidade

  • 8/3/2019 Nosso Lar - Andr Luiz - Francisco Cndido Xavier

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    30 Francisco Cndido Xavier de receber o auxlio divino, dilatou o padro vibratrio da mente e alcanou viso esocorro.

    Olhos brilhantes, encorajado pelo esclarecimento recebido, exclamei,resoluto:

    Desejarei, ento, com todas as minhas foras... Ela vir... Ela vir...

    Lsias sorriu com inteligncia e, como quem previne, generoso, afirmou aodespedir se: Convm no esquecer, contudo, que a realizao nobre exige trs

    requisitos fundamentais, a saber: primeiro, desejar segundo, saber desejar e,terceiro, merecer, ou, por outros termos, vontade ativa, trabalho persistente emerecimento justo.

    O visitador ganhou a porta de sada, sorridente, enquanto eu me detinhasilencioso, a meditar no extenso programa formulado em to poucas palavras.

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    Organizao de Servios

    Decorridas algumas semanas de tratamento ativo, sa, pela primeira vez, emcompanhia de Lsias.

    Impressionou me o espetculo das ruas. Vastas avenidas, enfeitadas dervores frondosas. Ar puro, atmosfera de profunda tranqilidade espiritual. Nohavia, porm, qualquer sinal de inrcia ou de ociosidade, porque as vias pblicasestavam repletas. Entidades numerosas iam e vinham. Algumas pareciam situar amente em lugares distantes, mas outras me dirigiam olhares acolhedores. Incumbia se o companheiro de orientar me em face das surpresas que surgiam ininterruptas.

    Percebendo me as ntimas conjeturas, esclareceu solcito: Estamos no local do Ministrio do Auxlio. Tudo o que vemos, edifcios,casas residenciais, representa instituies e abrigos adequados tarefa de nossa

    jurisdio. Orientadores, operrios e outros serviais da misso residem aqui. Nestazona, atende se a doentes, ouvem se rogativas, selecionam se preces, preparam sereencarnaes terrenas, organizam se turmas de socorro aos habitantes do Umbral,ou aos que choram na Terra, estudam se solues para todos os processos que se

    prendem ao sofrimento. H, ento, em "Nosso Lar", um Ministrio do Auxlio? perguntei. Como no? Nossos servios so distribudos numa organizao que se

    aperfeioa dia a dia, sob a orientao dos que nos presidem os destinos.Fixando em mim os olhos lcidos, prosseguiu:

    No tem visto, nos atos da prece, nosso Governador Espiritual cercado desetenta e dois colaboradores? Pois so os Ministros de "Nosso Lar". A colnia, que essencialmente de trabalho e realizao, divide se em seis Ministrios, orientados,cada qual, por doze Ministros. Temos os Ministrios da Regenerao, do Auxlio, daComunicao, do Esclarecimento, da Elevao e da Unio Divina. Os quatro

    primeiros nos aproximam das esferas terrestres, os dois ltimos nos ligam ao planosuperior, visto que a nossa cidade espiritual zona de transio. Os servios mais

    grosseiros localizam se no Ministrio da Regenerao, os mais sublimes no daUnio Divina. Clarncio, o nosso chefe amigo, um dos Ministros do Auxlio.

    Valendo me da pausa natural, exclamei, comovido:

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    32 Francisco Cndido Xavier Oh! Nunca imaginei a possibilidade de organizaes to completas,

    depois da morte do corpo fsico!... Sim esclareceu Lsias , o vu da iluso muito denso nos crculos

    carnais. O homem vulgar ignora que toda manifestao de ordem, no mundo, procede do plano superior. A natureza agreste transforma se em jardim, quando

    orientada pela mente do homem, e o pensamento humano, selvagem na criatura primitiva, transforma se em potencial criador, quando inspirado pelas mentes quefuncionam nas esferas mais altas. Nenhuma organizao til se materializa na crostaterrena, sem que seus raios iniciais partam de cima.

    Mas "Nosso Lar" ter igualmente uma histria, como as grandes cidadesplanetrias?

    Sem dvida. Os planos vizinhos da esfera terrquea possuem, igualmente,natureza especfica. "Nosso Lar" antiga fundao de portugueses distintos,desencarnados no Brasil, no sculo XVI. A princpio, enorme e exaustiva foi a luta,

    segundo consta em nossos arquivos no Ministrio do Esclarecimento. Hsubstncias speras nas zonas invisveis Terra, tal como nas regies que secaracterizam pela matria grosseira. Aqui tambm existem enormes extenses de

    potencial inferior, como h, no planeta, grandes tratos de natureza rude eincivilizada. Os trabalhos primordiais foram desanimadores, mesmo para osespritos fortes. Onde se congregam hoje vibraes delicadas e nobres, edifcios defino lavor, misturavam se as notas primitivas dos silvcolas do pas e as construesinfantis de suas mentes rudimentares. Os fundadores no desanimaram, porm.Prosseguiram na obra, copiando o esforo dos europeus que chegavam esferamaterial, apenas com a diferena de que, por l, se empregava a violncia, a guerra,a escravido, e, aqui, o servio perseverante, a solidariedade fraterna, o amorespiritual.

    A essa altura, atingramos uma praa de maravilhosos contornos,ostentando extensos jardins. No centro da praa, erguia se um palcio demagnificente beleza, encabeado de torres soberanas, que se perdiam no cu.

    Os fundadores da colnia comearam o esforo, partindo daqui, onde selocaliza a Governadoria disse o visitador.

    Apontando o palcio, continuou: Temos, nesta praa, o ponto de convergncia dos seis ministrios a que

    me referi. Todos comeam da Governadoria, estendendo se em forma triangular.E, respeitoso, comentou:

    Ali vive o nosso abnegado orientador. Nos trabalhos administrativos,utiliza ele a colaborao de trs mil funcionrios entretanto, ele o trabalhador maisinfatigvel e mais fiel que todos ns reunidos. Os Ministros costumam excursionarnoutras esferas, renovando energias e valorizando conhecimentos ns outrosgozamos entretenimentos habituais, mas o Governador nunca dispe de tempo paraisso. Faz questo que descansemos, obriga nos a frias peridicas, ao passo que, elemesmo, quase nunca repousa, mesmo no que concerne s horas de sono. Parece me

    que a glria dele o servio perene. Basta lembrar que estou aqui h quarenta anose, com exceo das assemblias referentes s preces coletivas, raramente o tenhovisto em festividades pblicas. Seu pensamento, porm, abrange todos os crculos deservio, sua assistncia carinhosa a tudo e a todos atinge.

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    33 NOSSO LAR (pelo Esprito Andr Luiz)Depois de longa pausa, o enfermeiro amigo acentuou:

    No faz muito, comemorou se o 114 aniversrio da sua magnnimadireo.

    Calara se Lsias, evidenciando comovida reverncia, enquanto eu a seu ladocontemplava, respeitoso e embevecido, as torres maravilhosas que pareciam cindir o

    firmamento...

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    Problema de Alimentao

    Enlevado na viso dos jardins prodigiosos, pedi ao dedicado enfermeiropara descansar alguns minutos num banco prximo. Lsias anuiu de bom grado.

    Agradvel sensao de paz me felicitava o esprito. Caprichosos repuxos degua colorida ziguezagueavam no ar, formando figuras encantadoras.

    Quem observa esta colmia imensa de servio ponderei induzido aexaminar numerosos problemas. E o abastecimento? No tenho notcia de umMinistrio da Economia...

    Antigamente explicou o paciente interlocutor os servios dessanatureza assumiam feio mais destacada. Deliberou, porm, o atual Governadoratenuar todas as expresses de vida que nos recordassem os fenmenos puramentemateriais. As atividades de abastecimento ficaram, assim, reduzidas a simplesservio de distribuio, sob o controle direto da Governadoria. Alis, a providnciaconstitui medida das mais benficas. Rezam os anais que a colnia, h um sculo,lutava com extremas dificuldades para adaptar os habitantes s leis da simplicidade.Muitos recm chegados ao "Nosso Lar" duplicavam exigncias. Queriam mesaslautas, bebidas excitantes, dilatando velhos vcios terrenos. Apenas o Ministrio daUnio Divina ficou imune de tais abusos, pelas caractersticas que lhe so prpriasno entanto, os demais viviam sobrecarregados de angustiosos problemas dessa

    ordem. O Governador atual, todavia, no poupou esforos. To logo assumiuobrigaes administrativas, adotou providncias justas. Antigos missionrios, daqui,

    puseram me ao corrente de curiosos acontecimentos. Disseram me que, a pedido daGovernadoria, vieram duzentos instrutores de uma esfera muito elevada, a fim deespalharem novos conhecimentos, relativos cincia da respirao e da absoro de

    princpios vitais da atmosfera. Realizaram se assemblias numerosas. Algunscolaboradores tcnicos de "Nosso Lar" manifestavam se contrrios, alegando que acidade de transio e que no seria justo, nem possvel, desambientarimediatamente os homens desencarnados, mediante exigncias desse teor, sem grave

    perigo para suas organizaes espirituais. O Governador, contudo, no desanimou.Prosseguiram as reunies, providncias e atividades, durante trinta anosconsecutivos. Algumas entidades eminentes chegaram a formular protestos decarter pblico, reclamando. Por mais de dez vezes, o Ministrio do Auxlio esteve

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    35 NOSSO LAR (pelo Esprito Andr Luiz)superlotado de enfermos, onde se confessavam vtimas do novo sistema dealimentao deficiente. Nesses perodos, os opositores da reduo multiplicavamacusaes. O Governador, porm, jamais castigou algum. Convocava osadversrios da medida a palcio e expunha lhes, paternalmente, os projetos efinalidades do regime destacava a superioridade dos mtodos de espiritualizao,

    facilitava aos mais rebeldes inimigos do novo processo variadas excurses deestudo, em planos mais elevados que o nosso, ganhando, assim, maior nmero deadeptos.

    Ante pausa mais longa, reclamei, interessado: Continue, por favor, meu caro Lsias. Como terminou a luta edificante? Depois de vinte e um anos de perseverantes demonstraes, por parte da

    Governadoria, aderiu o Ministrio da Elevao, passando a abastecer se apenas doindispensvel. O mesmo no aconteceu com o Ministrio do Esclarecimento, quedemorou muito a assumir compromisso, em vista dos numerosos espritos dedicados

    s cincias matemticas, que ali trabalham. Eram eles os mais teimosos adversrios.Mecanizados nos processos de protenas e carboidratos, imprescindveis aosveculos fsicos, no cediam terreno nas concepes correspondentes daqui.Semanalmente, enviavam ao Governador longas observaes e advertncias,repletas de anlises e numeraes, atingindo, por vezes, a imprudncia. O velhogovernante, contudo, nunca agiu por si s. Requisitou assistncia de nobresmentores, que nos orientam atravs do Ministrio da Unio Divina, e jamais deixouo menor boletim de esclarecimento sem exame minucioso. Enquanto argumentavamos cientistas e a Governadoria contemporizava, formaram se perigosos distrbios no

    antigo Departamento de Regenerao, hoje transformado em Ministrio.Encorajados pela rebeldia dos cooperadores do Esclarecimento, os espritos menoselevados que ali se recolhiam entregaram se a condenveis manifestaes. Tudo isso

    provocou enormes cises nos rgos coletivos de "Nosso Lar", dando ensejo a perigoso assalto das multides obscuras do Umbral, que tentaram invadir a cidade,aproveitando brechas nos servios de Regenerao, onde grande nmero decolaboradores entretinha certo intercmbio clandestino, em virtude dos vcios dealimentao. Dado o alarme, o Governador no se perturbou. Terrveis ameaas

    pairavam sobre todos. Ele, porm, solicitou audincia ao Ministrio da Unio Divina

    e, depois de ouvir o nosso mais alto Conselho, mandou fechar provisoriamente oMinistrio da Comunicao, determinou funcionassem todos os calabouos daRegenerao, para isolamento dos recalcitrantes, advertiu o Ministrio doEsclarecimento, cujas impertinncias suportou mais de trinta anos consecutivos,

    proibiu temporariamente os auxlios s regies inferiores e, pela primeira vez na suaadministrao, mandou ligar as baterias eltricas das muralhas da cidade, paraemisso de dardos magnticos a servio da defesa comum. No houve combate, nemofensiva da colnia, mas resistncia resoluta. Por mais de seis meses, os servios dealimentao, em "Nosso Lar", foram reduzidos inalao de princpios vitais daatmosfera, atravs da respirao, e gua misturada a elementos solares, eltricos emagnticos. A colnia ficou, ento, sabendo o que vem a ser a indignao doesprito manso e justo. Findo o perodo mais agudo, a Governadoria estava vitoriosa.O prprio Ministrio do Esclarecimento reconheceu o erro e cooperou nos trabalhosde reajustamento. Houve, nesse comenos, regozijo pblico e dizem que, em meio da

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    36 Francisco Cndido Xavier alegria geral, o Governador chorou sensibilizado, declarando que a compreensogeral constitua o verdadeiro prmio ao seu corao. A cidade voltou ao movimentonormal. O antigo Departamento da Regenerao foi convertido em Ministrio.Desde ento, s existe maior suprimento de substncias alimentcias que lembram aTerra, nos Ministrios da Regenerao e do Auxlio, onde h sempre grande nmero

    de necessitados. Nos demais h somente o indispensvel, isto , todo o servio dealimentao obedece a inexcedvel sobriedade. Presentemente, todos reconhecemque a suposta impertinncia do Governador representou medida de elevado alcance

    para nossa libertao espiritual. Reduziu se a expresso fsica e surgiu maravilhosocoeficiente de espiritualidade.

    Lsias silenciou e eu me entreguei a profundos pensamentos sobre a grandelio.

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    No Bosque das guas

    Dado o meu interesse crescente pelos processos de alimentao, Lsiasconvidou: Vamos ao grande reservatrio da colnia. L observar coisas

    interessantes. Ver que a gua quase tudo em nossa estncia de transio.Curiosssimo, acompanhei o enfermeiro sem vacilar.Chegados a extenso ngulo da praa, o generoso amigo acrescentou:

    Esperemos o aerbus.2Mal me refazia da surpresa, quando surgiu grande carro, suspenso do solo a

    uma altura de cinco metros mais ou menos e repleto de passageiros. Ao descer atns, maneira de um elevador terrestre, examinei o com ateno. No era mquinaconhecida na Terra. Constituda de material muito flexvel, tinha enormecomprimento, parecendo ligada a fios invisveis, em virtude do grande nmero deantenas na tolda. Mais tarde, confirmei minhas suposies, visitando as grandesoficinas do Servio de Trnsito e Transporte.

    Lsias no me deu tempo a indagaes. Aboletados convenientemente norecinto confortvel, seguimos Silenciosos. Experimentava a timidez natural dohomem desambientado, entre desconhecidos. A velocidade era tanta que no

    permitia fixar os detalhes das construes escalonadas no extenso percurso. Adistncia no era pequena, porque s depois de quarenta minutos, incluindo ligeiras

    paradas de trs em trs quilmetros, me convidou Lsias a descer, sorridente ecalmo.

    Deslumbrou me o panorama de belezas sublimes. O bosque, em floraomaravilhosa, embalsamava o vento fresco de inebriante perfume. Tudo em prodgiode cores e luzes cariciosas. Entre margens bordadas de grama viosa, toda esmaltadade azulneas flores, deslizava um rio de grandes propores. A corrente rolavatranqila, mas to cristalina que parecia tonalizada em matiz celeste, em vista dosreflexos do firmamento. Estradas largas cortavam a verdura da paisagem. Plantadasa espaos regulares, rvores frondosas ofereciam sombra amiga, maneira de

    pousos deliciosos, na claridade do Sol confortador. Bancos de caprichosos formatosconvidavam ao descanso.2

    Carro areo, que seria na Terra um grande funicular.

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    38 Francisco Cndido Xavier Notando o meu deslumbramento, Lsias explicou: Estamos no Bosque das guas. Temos aqui uma das mais belas regies

    de "Nosso Lar". Trata se de um dos locais prediletos para as excurses dos amantes,que aqui vm tecer as mais lindas promessas de amor e fidelidade, para asexperincias da Terra.

    A observao ensejava consideraes muito interessantes, mas Lsias nome deu azo a perguntas nesse particular. Indicando um edifcio de enormespropores, esclareceu:

    Ali o grande reservatrio da colnia. Todo o volume do Rio Azul, quetemos vista, absorvido em caixas imensas de distribuio. As guas que servem atodas as atividades da colnia partem daqui. Em seguida, renem se novamente,abaixo dos servios da Regenerao, e voltam a constituir o rio, que prossegue ocurso normal, rumo ao grande oceano de substncias invisveis para a Terra.

    Percebendo me a indagao ntima, acrescentou:

    Com efeito, a gua aqui tem outra densidade. Muito mais tnue, pura,quase fludica.Notando as magnficas construes que me fronteavam, interroguei: A que Ministrio est afeto o servio de distribuio? Imagine elucidou Lsias que este um dos raros servios materiais do

    Ministrio da Unio Divina! Que diz? perguntei, ignorando como conciliar uma e outra coisa.O visitador sorriu e obtemperou prazenteiro:

    Na Terra quase ningum cogita seriamente de conhecer a importncia dagua. Em "Nosso Lar", contudo, outros so os conhecimentos. Nos crculosreligiosos do planeta, ensinam que o Senhor criou as guas. Ora, lgico que todoservio criado precisa de energias e braos para ser convenientemente mantido.

    Nesta cidade espiritual, aprendemos a agradecer ao Pai e aos seus divinoscolaboradores semelhante ddiva. Conhecendo a mais intimamente, sabemos que agua veculo dos mais poderosos para os fluidos de qualquer natureza. Aqui, ela empregada sobretudo como alimento e remdio. H reparties no Ministrio doAuxlio absolutamente consagradas manipulao de gua pura, com certos

    princpios suscetveis de serem captados na luz do Sol e no magnetismo espiritual. Na maioria das regies da extensa colnia, o sistema de alimentao tem a suas

    bases. Acontece, porm, que s os Ministros da Unio Divina so detentores domaior padro de Espiritualidade Superior, entre ns, cabendo lhes a magnetizaogeral das guas do Rio Azul, a fim de que sirvam a todos os habitantes de "NossoLar", com a pureza imprescindvel. Fazem eles o servio inicial de limpeza e osinstitutos realizam trabalhos especficos, no suprimento de substncias alimentares ecurativas. Quando os diversos fios da corrente se renem de novo, no pontolongnquo, oposto a este bosque, ausenta se o rio de nossa zona, conduzindo em seuseio nossas qualidades espirituais.

    Eu estava embevecido com as explicaes.

    No planeta objetei , jamais recebi elucidaes desta natureza. O homem desatento, h muitos sculos tornou Lsias o mar

    equilibra lhe a moradia planetria, o elemento aquoso fornece lhe o corpo fsico, achuva d lhe o po, o rio organiza lhe a cidade, a presena da gua oferece lhe a

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    39 NOSSO LAR (pelo Esprito Andr Luiz)bno do lar e do servio entretanto, ele sempre se julga o absoluto dominador domundo, esquecendo que filho do Altssimo, antes de qualquer considerao. Virtempo, contudo, em que copiar nossos servios, encarecendo a importncia dessaddiva do Senhor. Compreender, ento, que a gua, como fluido criador, absorve,em cada lar, as caractersticas mentais de seus moradores. A gua, no mundo, meu

    amigo, no somente carreia os resduos dos corpos, mas tambm as expresses denossa vida mental. Ser nociva nas mos perversas, til nas mos generosas e,quando em movimento, sua corrente no s espalhar bno de vida, masconstituir igualmente um veculo da Providncia Divina, absorvendo amarguras,dios e ansiedades dos homens, lavando lhes a casa material e purificando lhes aatmosfera ntima.

    Calou se o interlocutor em atitude reverente, enquanto meus olhos fixavama corrente tranqila a despertar me sublimes pensamentos.

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    Notcias do Plano

    Desejaria meu generoso companheiro facultar me observaes diferentes,nos diversos bairros da colnia, mas obrigaes imperiosas chamavam no ao posto.

    Ter voc ocasio de conhecer as diversas regies dos nossos servios exclamou bondosamente pois, conforme v, os Ministrios do "Nosso Lar" soenormes clulas de trabalho ativo. Nem mesmo alguns dias de estudo oferecemensejo viso detalhada de um s deles. No lhe faltar oportunidade, porm. Aindaque me no seja possvel acompanh lo, Clarncio tem poderes para obter lheingresso fcil em qualquer dependncia.

    Voltamos ao ponto de passagem do aerbus, que no se fez esperar.Agora, sentia me quase vontade. A presena de muitos passageiros no

    me constrangia. A experincia anterior fizera me benefcios enormes. Esfervilhava me o crebro de teis indagaes. Interessado em resolv las, aproveitei o minuto

    para valer me do companheiro, quando possvel. Lsias, amigo perguntei , poder informar me se todas as colnias

    espirituais so idnticas a esta? Os mesmos processos, as mesmas caractersticas? De modo algum. Se nas esferas materiais, cada regio e cada

    estabelecimento revelam traos peculiares, imagine a multiplicidade de condiesem nossos planos. Aqui, tal como na Terra, as criaturas se identificam pelas fontes

    comuns de origem e pela grandeza dos fins que devem atingir mas importaconsiderar que cada colnia, como cada entidade, permanece em degraus diferentesna grande ascenso. Todas as experincias de grupo diversificam se entre si e"Nosso Lar" constitui uma experincia coletiva dessa natureza. Segundo nossosarquivos, muitas vezes os que nos antecederam buscaram inspirao nos trabalhosde abnegados trabalhadores de outras esferas em compensao, outrosagrupamentos buscam o nosso concurso para outras colnias em formao. Cadaorganizao, todavia, apresenta particularidades essenciais.

    Observando que o intervalo se fazia mais longo, interroguei:

    Partiu daqui a interessante formao de Ministrios? Sim, os missionrios da criao de "Nosso Lar" visitaram os servios de"Alvorada Nova", uma das colnias espirituais mais importantes que noscircunvizinham e ali encontraram a diviso por departamentos. Adotaram o

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    41 NOSSO LAR (pelo Esprito Andr Luiz)processo, mas substituram a palavra departamento por Ministrio, com exceo dosservios regeneradores, que, somente com o Governador atual, conseguiramelevao. Assim procederam, considerando que a organizao em Ministrios maisexpressiva, como definio de espiritualidade.

    Muito bem! acrescentei.

    E no tudo prosseguiu o enfermeiro, atencioso , a instituio eminentemente rigorosa, no que concerne ordem e hierarquia. Nenhumacondio de destaque concedida aqui a ttulo de favor. Somente quatro entidadesconseguiram ingressar, com responsabilidade definida, no curso de dez anos, noMinistrio da Unio Divina. Em geral, todos ns, decorrido longo estgio de servioe aprendizado, voltamos a reencarnar, para atividades de aperfeioamento.

    Enquanto eu ouvia essas informaes, justamente curioso, Lsiascontinuava:

    Quando os recm chegados das zonas inferiores do Umbral se revelam

    aptos a receber cooperao fraterna, demoram no Ministrio do Auxlio quando,porm, se mostram refratrios, so encaminhados ao Ministrio da Regenerao. Serevelam proveito, com o correr do tempo so admitidos aos trabalhos de Auxlio,Comunicao e Esclarecimento, a fim de se prepararem, com eficincia, para futurastarefas planetrias. Somente alguns conseguem atividade prolongada no Ministrioda Elevao e rarssimos, em cada dez anos, os que alcanam intimidade nostrabalhos da Unio Divina. E no suponha que os testemunhos sejam vagasexpresses de atividade idealista. J no estamos na esfera do globo, onde odesencarnado promovido compulsoriamente a fantasma. Vivemos em crculo de

    demonstraes ativas. As tarefas de Auxlio so laboriosas e complicadas, osdeveres no Ministrio da Regenerao constituem testemunhos pesadssimos, ostrabalhos na Comunicao exigem alta noo da responsabilidade individual, oscampos do Esclarecimento requisitam grande capacidade de trabalho e valoresintelectuais profundos, o Ministrio da Elevao pede renncia e iluminao, asatividades da Unio Divina requerem conhecimento justo e sincera aplicao doamor universal. A Governadoria, por sua vez, sede movimentada de todos osassuntos administrativos, numerosos servios de controle direto, como, por exemplo,o de alimentao, distribuio de energias eltricas, trnsito, transporte e outros.

    Aqui, em verdade, a lei do descanso rigorosamente observada, para quedeterminados servidores no fiquem mais sobrecarregados que outros mas a lei dotrabalho tambm rigorosamente cumprida. No que concerne ao repouso, a nicaexceo o prprio Governador, que nunca aproveita o que lhe toca, nesse terreno.

    Mas, nunca se ausenta ele do palcio? interroguei. Somente nas ocasies que o bem pblico o exige. A no ser em

    obedincia a esse imperativo, o Governador vai semanalmente ao Ministrio daRegenerao, que representa a zona de "Nosso Lar" onde h maior nmero de

    perturbaes, dada a sintonia de muitos dos seus abrigados com os irmos doUmbral. Numerosas multides de espritos desviados ali se encontram recolhidas.Aproveita ele, pois, as tardes de domingo, depois de orar com a cidade no GrandeTemplo da Governadoria, para cooperar com os Ministros da Regenerao,atendendo lhes os difceis problemas de trabalho. Nesse mister, priva se, s vezes,de alegrias sagradas, amparando a desorientados e sofredores.

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    42 Francisco Cndido Xavier Deixara nos o aerbus nas vizinhanas do hospital, onde me aguardava o

    aposento confortador.Em plena via pblica, ouviam se, tal qual observara sada, belas melodias

    atravessando o ar. Notando me a expresso indagadora, Lsias explicoufraternalmente:

    Essas msicas procedem das oficinas onde trabalham os habitantes de"Nosso Lar". Aps consecutivas observaes, reconheceu a Governadoria que amsica intensifica o rendimento do servio, em todos os setores de esforoconstrutivo. Desde ento, ningum trabalha em "Nosso Lar", sem esse estimulo dealegria.

    Nesse nterim, porm, chegramos Portaria. Atencioso enfermeiroadiantou se e notificou:

    Irmo Lsias, chamam no ao pavilho da direita para servio urgente.O companheiro afastou se, calmo, enquanto eu me recolhia ao aposento

    particular, repleto de indagaes ntimas.

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    O Umbral

    Aps receber to valiosas elucidaes, aguava se me o desejo deintensificar a aquisio de conhecimentos relativos a diversos problemas que a

    palavra de Lsias sugeria. As referncias a espritos do Umbral mordiam me acuriosidade. A ausncia de preparao religiosa, no mundo, d motivo a dolorosas

    perturbaes. Que seria o Umbral? Conhecia, apenas, a idia do inferno e do purgatrio, atravs dos sermes ouvidos nas cerimnias catlico romanas a queassistira, obedecendo a preceitos protocolares. Desse Umbral, porm, nunca tiveranotcias.

    Ao primeiro encontro com o generoso visitador, minhas perguntas no sefizeram esperar. Lsias ouviu me, atencioso, e replicou: Ora, ora, pois voc andou detido por l tanto tempo e no conhece a

    regio?Recordei os sofrimentos passados, experimentando arrepios de horror.

    O Umbral continuou ele, solcito comea na crosta terrestre. a zonaobscura de quantos no mundo no se resolveram a atravessar as portas dos deveressagrados, a fim de cumpri los, demorando se no vale da indeciso ou no pntano doserros numerosos. Quando o esprito reencarna, promete cumprir o programa deservios do Pai entretanto, ao recapitular experincias no planeta, muito difcilfaz lo, para s procurar o que lhe satisfaa ao egosmo. Assim que mantidos so omesmo dio aos adversrios e a mesma paixo pelos amigos. Mas, nem o dio

    justia, nem a paixo amor. Tudo o que excede, sem aproveitamento, prejudica aeconomia da vida. Pois bem: todas as multides de desequilibrados permanecem nasregies nevoentas, que se seguem aos fluidos carnais. O dever cumprido uma portaque atravessamos no Infinito, rumo ao continente sagrado da unio com o Senhor. natural, portanto, que o homem esquivo obrigao justa, tenha essa bnoindefinidamente adiada.

    Notando me a dificuldade para apreender todo o contedo do ensinamento,

    com vistas minha quase total ignorncia dos princpios espirituais, Lsias procuroutornar a lio mais clara:

    Imagine que cada um de ns, renascendo no planeta, somos portadores deum fato sujo, para lavar no tanque da vida humana. Essa roupa imunda o corpo

  • 8/3/2019 Nosso Lar - Andr Luiz - Francisco Cndido Xavier

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    44 Francisco Cndido Xavier causal, tecido por nossas mos, nas experincias anteriores. Compartilhando, denovo, as bnos da oportunidade terrestre, esquecemos, porm, o objetivoessencial, e, ao invs de nos purificarmos pelo esforo da lavagem, manchamo nosainda mais, contraindo novos laos e encarcerando nos a ns mesmos em verdadeiraescravido. Ora, se ao voltarmos ao mundo procurvamos um meio de fugir

    sujidade, pelo desacordo de nossa situao com o meio elevado, como regressar aesse mesmo ambiente luminoso, em piores condies? O Umbral funciona, portanto,como regio destinada a esgotamento de resduos mentais uma espcie de zona

    purgatorial, onde se queima a prestaes o material deteriorado das iluses que acriatura adquiriu por atacado, menosprezando o sublime ensejo de uma existnciaterrena.

    A imagem no podia ser mais clara, mais convincente.No havia como disfarar minha justa admirao. Compreendendo o efeito

    benfico que me traziam aqueles esclarecimentos, Lsias continuou:

    O Umbral regio de profundo interesse para quem esteja na Terra.Concentra se, a, tudo o que no tem finalidade para a vida superior. E note voc quea Providncia Divina agiu sabiamente, permitindo se criasse tal departamento emtorno do planeta. H legies compactas de almas irresolutas e ignorantes, que noso suficientemente perversas para serem enviadas a colnias de reparao maisdolorosa, nem bastante nobres para serem conduzidas a planos de elevao.Representam fileiras de habitantes do Umbral, companheiros imediatos dos homensencarnados, separados deles apenas por leis vibratrias. No de estranhar, portanto,que semelhantes lugares se caracterizem por grandes perturbaes. L vivem,agrupam se, os revoltados de toda espcie. Formam, igualmente, ncleos invisveisde notvel poder, pela concentrao das tendncias e desejos gerais. Muita gente daTerra no recorda que se desespera quando o carteiro no vem, quando o comboiono aparece? Pois o Umbral est repleto de desesperados. Por no encontrarem oSenhor disposio dos seus caprichos, aps a morte do corpo fsico, e, sentindoque a coroa da vida eterna a glria intransfervel dos que trabalham com o Pai,essas criaturas se revelam e demoram em mesquinhas edificaes. "Nosso Lar" temuma sociedade espiritual, mas esses ncleos possuem infelizes, malfeitores evagabundos de vrias categorias. zona de verdugos e vtimas, de exploradores eexplorados.

    Valendo me da pausa, que se fizera espontnea, exclamei, impressionado: Como explicar? Ento no h por l defesa, organizao?Sorriu o interlocutor, esclarecendo:

    Organizao atributo dos espritos organizados. Que quer voc? A zonainferior a que nos referimos qual a casa onde no h po: todos gritam e ningumtem razo. O viajante distrado perde o comboio, o agricultor que no semeou no

    pode colher. Uma certeza, porm, posso dar lhe: no obstante as sombras eangstias do Umbral, nunca faltou l a proteo divina. Cada esprito l permanece otempo que se faa necessrio. Para isso, meu amigo, permitiu o Senhor se erigissem

    muitas colnias como esta, consagradas ao trabalho e ao socorro espiritual. Creio, ento observei , que essa esfera se mistura quase com a esfera

    dos homens.

  • 8/3/2019 Nosso Lar - Andr Luiz - Francisco Cndido Xavier

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    45 NOSSO LAR (pelo Esprito Andr Luiz) Sim confirmou o dedicado amigo , e nessa zona que se estendem os

    fios invisveis que ligam as mentes humanas entre si. O plano est repleto dedesencarnados e de formas pensamento dos encarnados, porque, em verdade, todoesprito, esteja onde estiver, um ncleo irradiante de foras que criam,transformam ou destroem, exteriorizadas em vibraes que a cincia terrestre

    presentemente no pode compreender. Quem pensa, est fazendo alguma coisaalhures. E pelo pensamento que os homens encontram no Umbral os companheirosque afinam com as tendncias de cada um. Toda alma um m poderoso. H umaextensa humanidade invisvel, que se segue humanidade visvel. As misses maislaboriosas do Ministrio do Auxlio so constitudas por abnegados servidores, noUmbral, porque se a tarefa dos bombeiros nas grandes cidades terrenas difcil,

    pelas labaredas e ondas de fumo que os defrontam, os missionrios do Umbralencontram fluidos pesadssimos emitidos, sem cessar, por milhares de mentesdesequilibradas, na prtica do mal, ou terrivelmente flageladas nos sofrimentos

    retificadores. necessrio muita coragem e muita renncia para ajudar a quem nadacompreende do auxlio que se lhe oferece.Interrompera se Lsias. Sumamente impressionado, exclamei:

    Ah! Como desejo trabalhar junto dessas legies de infelizes, levando lheso po espiritual do esclarecimento!

    O enfermeiro amigo fixou me bondosamente e, depois de meditar emsilncio, por largos instantes, acentuou, ao despedir se:

    Ser que voc se sente com o preparo indispensvel a semelhanteservio?

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    46 Francisco Cndido Xavier

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    No Gabinete do Ministro

    Com as melhoras crescentes, surgia a necessidade de movimentao etrabalho. Decorrido tanto tempo, esgotados anos difceis de luta, volvia me ointeresse pelos afazeres que enchem o dia til de todo homem normal, no mundo.Incontestvel que havia perdido excelentes oportunidades na Terra que muitasfalhas me assinalavam o caminho. Agora, porm, recordava os quinze anos declnica, sentindo um certo "vazio" no corao. Identificava me a mim mesmo, comovigoroso agricultor em pleno campo, de mos atadas e impossibilitado de atacar otrabalho. Cercado de enfermos, no podia aproximar me, como noutros tempos,reunindo em mim o amigo, o mdico e o pesquisador. Ouvindo gemidos incessantesnos apartamentos contguos, no me era lcito nem mesmo a funo de enfermeiro ecolaborador nos casos de socorro urgente. Claro que no me faltava desejo. Minha

    posio ali, contudo, era assaz humilde para me atrever. Os mdicos espirituais eramdetentores de tcnica diferente. No planeta, sabia que meu direito de intervircomeava nos livros conhecidos e nos ttulos conquistados mas, naquele ambientenovo, a medicina comeava no corao, exteriorizando se em amor e cuidadofraternal. Qualquer enfermeiro, dos mais simples, em "Nosso Lar", tinhaconhecimentos e possibilidade