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nossa américa hoy MEMORIAL DE AMÉRICA LATINA 2013/01 Para quem centrais sindicais? Revista do Memorial da América Latina 01 2013 1º de maio, marco zero do trabalhismo O que é Peleguismo? Pagu nas trincheiras nossa hoy américa Confira em América Latina em São Paulo: dicas do que se tem do México na cidade

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nossa américa hoy

MEM

ORIAL DE AMÉRICA LATINA

2013/01

Para quem centrais sindicais?

Revista do Memorial da América Latina 01 2013

1º de maio, marco zero do trabalhismo

O que é Peleguismo?

Pagu nas trincheiras

nossa

hoyamérica

Confira em América Latina em São Paulo: dicas do que se tem do México na cidade

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MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA

VISITE

Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664 São Paulo, SP, ao lado da estação Barra Funda do metrô

O NOVO

Page 3: Nossa América hoy 1

EditorialJoão Batista de Andrade 05ChicagoAna Maria Cicaccio 06PaguRedação NAH 11Greve de 1917Di Cavalcanti 14Eles não usam Black TieTânia Rabelo 16La hora de los hornosTânia Rabelo 18Golpe de EstadoAlmino Affonso 20Vargas e PerónJosé Luis Beired 24CUT e SindicalismoEduardo Rascov 33Contribuição negocialDaniel Pereira 36Líderes OperáriasAna Maria Cicaccio 38Continente do trabalhoReynaldo Damazio 42O operariado hojeLeonor Amarante 48

1º de maio na culturaTânia Rabelo 55México em São PauloSimone Lozano 62Programação do Memorial 65Imagem da ediçãoPedro Martinelli 66

Chefe, operariado e futebol 53

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DIRETORJOÃO BATISTA DE ANDRADE

EDITORA EXECUTIVA/DIREÇÃO DE ARTELEONOR AMARANTE

ASSISTENTE DE REDAÇÃOMÁRCIA FERRAZ

DIAGRAMAÇÃOEVERTON SANTANADAYANE DA SILVEIRA XISTO (ESTAGIÁRIA)

REVISÃO ELIAS CASTRO (ESTAGIÁRIO)

COLABORARAM NESTE NÚMEROAlmino Affonso, Ana Candida Vespucci, Ana Maria Cicaccio, Daniel Pereira, Eduardo Rascov, José Luis Beired, Luís Avelima, Pedro Martinelli, Reynaldo Damazio, Ricardo Antunes, Ruy Braga, Simone Lozano, Tânia Rabello.

NOSSA AMÉRICA HOY é uma publicação bimestral da Fundação Memorial da América Latina. Redação: Avenida Auro Soares de Moura Andrade, 664 CEP: 01156-001. São Paulo, Brasil. Tel.: (11) 3823-4669. Vendas: (11)3823-4618 Internet: www.memorial.sp.gov.br Email: [email protected]

Os textos são de inteira responsabilidade dos autores, não refletindo o pensamento da revista. É expressamente proibida a reprodução, por qualquer meio, do conteúdo da revista.

GOVERNADORGERALDO ALCKMIN

SECRETÁRIO DA CULTURAMARCELO ARAÚJO

FUNDAÇÃO MEMORIALDA AMÉRICA LATINA

CONSELHO CURADOR

PRESIDENTEALMINO MONTEIRO ÁLVARES AFFONSO

SECRETÁRIO DA CULTURAMARCELO ARAÚJO

SECRETÁRIO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA (em exercício)LUIZ CARLOS QUADRELLI

REITOR DA USPJOÃO GRANDINO RODAS

REITOR DA UNICAMPFERNANDO FERREIRA COSTA

REITOR DA UNESPJULIO CEZAR DURIGAN PRESIDENTE DA FAPESPCELSO LAFER

REITOR DA FACULDADE ZUMBI DOS PALMARESJOSÉ VICENTE

PRESIDENTE DO CIEERUY ALTENFELDER SILVA

DIRETORIA EXECUTIVA

DIRETOR PRESIDENTEJOÃO BATISTA DE ANDRADE

DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS DA AMÉRICA LATINAADOLPHO JOSÉ MELFI

DIRETOR DE ATIVIDADES CULTURAISLUIZ FELIPE BACELAR DE MACEDO

DIRETOR ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO SERGIO JACOMINI

CHEFE DE GABINETEIRINEU FERRAZ

DIRETOR PRESIDENTEMARCOS ANTONIO MONTEIRO

DIRETOR VICE PRESIDENTEMARIA FELISA MORENO GALLEGO

DIRETOR INDUSTRIALIVAIL JOSÉ DE ANDRADE

DIRETOR ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO HENRIQUE SHIGUEMI NAKAGAKI

DIRETOR DE GESTÃO DE NEGÓCIOS JOSÉ ALEXANDRE PEREIRA DE ARAÚJO

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hoyamérica

Capa:Take do filme Trabalhadores: Presente!, de João Batista de Andrade, 1979. foto de Wagner Carvalho, cedida pela Raiz Distribuidora

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EditorialNo leque das comemo-

rações do seu 24º aniversário, em 18 de março, o Memorial da América Latina inaugurou dois projetos que vão agregar valor ao perfil de atividades que desempenha como polo de integração e irradiador da produção artística e cultural dos povos do continente.

Um deles é o que já vem sendo chamado de Novo Me-morial, que tem como objeti-vo transformar suas praças em ponto de encontro de lazer cultural da família paulistana. Além das atrações de todos os gostos e idades, construímos na Praça Cívica um parque infantil, pista de caminhada e circuito de ginástica.

A outra novidade come-ça com estas linhas: a revista Nossa América Hoy, novo pro-duto editorial, impressa em preto e branco, dedicada ao debate atualizado das ques-tões plurais e comuns aos povos latino-americanos. Por isso, será uma publicação bi-

mestral, enquanto Nossa Amé-rica, criada com a inauguração do Memorial em 1989, ligada à sua programação, passará a circular uma vez ao ano.

A cada edição Nossa América Hoy vai abordar um tema relevante e temporal. Nes-te número de estreia, a pauta é inteiramente dedicada ao 1º de Maio e suas influências na vida dos trabalhadores. O episódio que deu origem à data – quan-do, em Chicago, um grupo de operários reivindicou a redução da jornada de trabalho - é lem-brado no texto da jornalista Ana Maria Ciccacio. A comemora-ção do Dia do Trabalho no Bra-sil de Vargas e na Argentina de Perón, é o tema do historiador José Luis Beired.

A editora Leonor Ama-rante entrevistou o cientista político Ruy Guerra e com ele colheu alentado e atualizado panorama do sindicalismo brasileiro e sua cumplicidade com os partidos políticos.

Contribuição negocial, o

que é isso? O jornalista Daniel Pereira recupera e atualiza a história do projeto que surgiu para substituir o imposto sin-dical, mas ainda não saiu do papel. A mulher trabalhadora e suas reivindicações especí-ficas e um texto histórico de Patrícia Galvão, nossa agita-dora cultural Pagu, são outros destaques desta edição. Todas as xilogravuras contidas neste número são de autoria de Ru-bem Grilo.

Na agenda cultural, ofe-recemos dicas de literatura, ar-tes plásticas, cinema, teatro e música alusivas ao 1º de Maio. E inauguramos com o México o roteiro América Latina em São Paulo, que em cada número vai homenagear um país latino-a-mericano. Encerra este núme-ro, Foto da Edição, espaço de-dicado aos fotógrafos e, quem abre a série é Pedro Martinelli, profissional de São Paulo.

João Batista de Andrade é Presidente da Fundação Memorial da América Latina.

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Chicagoestopim

das reivindicaçõesda classe operária

oprimida durante décadase que se alastram

pelo mundo.Ana Maria Cicaccio

1° de maio

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O Dia do Trabalho conti-nua sendo, 123 anos depois da Revolução Industrial, a data mais importante da Humanidade na constante busca por uma socie-dade mais justa. Nem mesmo as incertezas da globalização e da precarização do trabalho parecem abalar o sentido político das co-memorações no 1º de Maio. NES-TE DIA, AS MOTIVAÇõES PARA LEMBRAR A DATA TANTO PO-DEM TER O CARáTER DE LUTO (POR REMEMORAR A ORIGEM DO EVENTO), O DE FESTA (PARA COMEMORAR AS CONqUIS-TAS OBTIDAS) E TAMBÉM O DE LUTA, qUANDO OS TRABALHA-DORES TêM A OPORTUNIDADE DE EXPOR AOS HOLOFOTES DA MíDIA SUAS ATUAIS PAUTAS DE REIVINDICAÇÃO. Afinal, como

observou o historiador britâni-co Eric Hobsbawn (1917-2012), quando esteve no Brasil, há muita injustiça que precisa ser remedia-da. “Mesmo que jamais consiga-mos eliminá-la por completo, se não tentarmos, não seremos se-res humanos, não nos daremos conta do nosso potencial”.

A Revolução Industrial viria a ser o grande divisor de águas. No final do século XVIII, ao mes-mo tempo em que a Revolução Francesa propagava-se em ondas por toda a Europa pregando liber-dade e igualdade, outro tipo de revolução transformava comple-tamente a vida dos britânicos. Re-latos do historiador norte-ameri-cano Marvin Perry registram que após 1760 a Inglaterra vivenciou mudanças muito profundas nos

modos de produção. Novas for-mas de energia, particularmente a do vapor, substituíram a força animal e os músculos humanos. Maneiras melhores de obtenção e utilização de matérias-primas também foram descobertas. Sur-giu a fábrica, forma inédita de or-ganizar a produção e os trabalha-dores, mas também de sugá-los. De 1850 a 1900, a Revolução In-dustrial difundiu-se pela Europa, Estados Unidos e Ásia. Escritores como Balzac (1799-1850), na França, e Dickens (1812-1870), na Inglaterra, documentaram rea-listicamente essa época selvagem da industrialização.

A jORNADA DE TRABALHO EM MEADOS DO SÉCULO XIX CHEGAVA A 12, 14, 16 HORAS DIáRIAS, com no máximo uma

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Michael SchwabAdolph Fischer Samuel Fieldem Louiss Lingg

“Se com o nosso enforcamento vocês pensam em destruir o movimen-to operário - este movimento de milhões de seres humilhados, que sofrem na pobreza e na miséria, e esperam a redenção –, se esta é sua opinião, enforquem-nos. Aqui terão apagado uma faísca, mas lá

hora para refeições. Mulhe-res e crianças eram preferidas aos homens adultos por causa dos baixos salários, como de-nunciou Friedrich Engels em A Situação da Classe Trabalha-dora na Inglaterra. Não havia descanso semanal nem feriados e férias. Salário mínimo, previ-dência social, aposentadoria, li-cença maternidade e 13º salário – direitos conquistados muito mais tarde – eram sequer cogi-tados. A filosofia liberal não ad-mitia que se fizessem leis para os trabalhadores. COM SALá-RIOS INSUFICIENTES, ESTES MORAVAM EM HABITAÇõES SUPERLOTADAS E SUjAS, ou, sendo solteiros ou tendo dei-xado a família no campo, em barracões coletivos com outros do mesmo sexo, sem nenhuma privacidade. Quando perdiam o emprego, também perdiam

o abrigo. EM ALGUNS CASOS, PAGAVAM MULTAS POR ERROS COMETIDOS E ACIDENTES PRO-VOCADOS EM FáBRICAS ONDE ERAM AVILTANTES AS CONDI-ÇõES DE TRABALHO.

Primeiro passo - Nesse insólito contexto, a primeira rei-vindicação dos trabalhadores foi a redução da jornada. “Exigia-se não morrer de tanto trabalhar. A origem do 1º de Maio acha-se di-retamente ligada à luta pela redu-ção da jornada de trabalho”, es-creve Vito Giannotti, metalúrgico, autor de mais de 20 livros (entre eles História das Lutas dos Traba-lhadores no Brasil). Foi um indus-trial, porém, e não um operário, que propôs a fixação da jornada de trabalho em 8 horas diárias, em 1817. Seu nome, Roberto Owen, um socialista utópico, in-glês de nascimento, que sonhava com uma comunidade igualitária.

A luta pela jornada de 8 horas prosperou com o surgi-mento de organizações nacio-nais e internacionais de operá-rios. A Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), fun-dada em Londres em 1864 por operários franceses e ingleses, manteve essa reivindicação sempre em pauta. Em seu 2º Congresso, em 1866, na cidade de Genebra, a Primeira Inter-nacional discutiu em plenário a questão das 8 horas, considera-da tão importante que era vista como “primeiro passo para a emancipação do trabalhador”.

Em 1884, a Federação Americana do Trabalho (Ame-rican Federation of Labor/AFL em inglês), fundada em 1881, promoveu um Congresso de Trabalhadores em Chicago, cen-tro que congregava milhares de operários. Na ocasião, o secre-

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Oscar NeebeGeorge EngelA.R. Parsons August Spies

e acolá, atrás e na frente de vocês, em todas as partes, as chamas crescerão. É um fogo subterrâneo e vocês não poderão apagá-lo!” (trecho da fala de August Spies, um dos líderes do movimento ope-rário de maio de 1886, em Chicago, antes de sua condenação).

tário da entidade, Frank K. Foster, propôs uma greve geral nacio-nal pela jornada de 8 horas. O operário Gabriel Edmonston endossou a proposta e foi além, sugerindo que a partir de 1º de maio de 1886 os trabalhadores considerassem o dia de trabalho de 8 horas como jornada legal, paralisando suas atividades nas indústrias que não acolhessem a decisão daquele congresso. A assembleia votou favoravel-mente e por unanimidade.

NO DIA 1º DE MAIO DESSE ANO, MILHARES DE TRABALHA-DORES SAíRAM EM MANIFESTA-ÇÃO PELAS RUAS DAS CIDADES INDUSTRIALIzADAS DOS EUA, ENTRE ELAS CHICAGO, atenden-do à convocação da AFL de gre-ve geral no país pela redução da jornada de 13 para 8 horas diárias. A convocação condizia com a diretriz da I Conferência

A filosofia liberal não admitia

que se fizessem leis para os

trabalhadores.

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Internacional dos Trabalhadores, realizada em Londres 20 anos antes, recomendando à classe operária adotar essa reivindica-ção como foco de sua luta.

Chicago estava em greve. NA TARDE DO DIA 3 DE MAIO, EM UM CONFRONTO ENTRE GREVISTAS E POLICIAIS, DOIS TRABALHADORES MORRERAM e vários ativistas foram presos. Revoltados, os trabalhadores marcaram um comício (mee-ting) para a noite do dia seguin-te, na praça Haymarket. Cerca de três mil pessoas compareceram, inclusive mulheres e crianças. Quando a chuva e o frio amai-naram e os assistentes já eram menos de 200, surgiu um des-tacamento policial com um con-tingente de 140 homens, e logo explodiu entre eles uma bomba de origem indeterminada. Imedia-

tamente, os policiais abriram fogo contra a multidão. Saldo do con-flito: 6 mortos, 50 feridos e mais de cem trabalhadores presos.

Os acontecimentos de Haymarket desencadearam uma onda de repressão nunca vis-ta em Chicago. Oito dirigentes sindicais – Albert Parsons, Au-gust Spies, Sam Fieldem, Oscar Neeb, Adolph Fischer, Michel Shwab, Louis Lingg e Georg Engel – foram levados a julga-mento, no que ficou conhecido como o processo dos “oito már-tires de Chicago”, acusados do assassinato dos policiais. Cinco deles – Parsons, Spies, Fischer, Lingg e Engel – foram condena-dos à morte por enforcamen-to; Fieldem e Schwab, à prisão perpétua; e Neeb, a 15 anos de prisão. Em 11 de novembro, Spies, Engel, Fischer e Parsons

foram enforcados. Lingg se suicidou na véspera, deixando um bilhete no qual reafirmava suas ideias e dizia que se ma-tava para não permitir que um carrasco a serviço da burguesia encostasse suas mãos imundas no seu corpo. A repercussão é intensa na imprensa, no imagi-nário da população norte-ame-ricana e entre os trabalhadores pelo mundo. Outras memórias, além da histórica proposta de Edmonston e de seu trágico desfecho em Chicago, estão presentes na escolha do dia e do mês para o Dia do Trabalho, ou como querem algumas cor-rentes político-sociológicas, o Dia do Trabalhador.

Ana Maria Ciccacio é jornalista na área de cultura e colabora com as revistas Inovação e Brasileiros.

Os trabalhadores organizadosnão perdiam o foco na luta pelos seus direitos.

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P A G Ua eterna militante

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“Podem aprisionar meu corpo, jamais terão minha alma”

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CHARMOSA, INTELIGENTE, COMUNISTA, jORNALISTA E ES-CRITORA, qUASE NADA ESCA-POU NA VIDA AGITADA DE PATRí-CIA GALVÃO, qUE NASCEU EM 1910 E, MUITO ANTES DE VIRAR PAGU, já SE IMPôS POR ATITU-DES REVOLUCIONáRIAS PARA A ÉPOCA, NA DEFESA DE IGUALDA-DE SOCIAL. Foi a primeira presa política no Brasil. Em 1930 ca-sou-se com o escritor moder-nista Oswald de Andrade. No ano seguinte, ingressou no en-tão Partido Comunista do Brasil (PCB), e, com Oswald e Queirós Lima, passou a editar o jornal panfletário O Homem do Povo que, só teve oito números.

Figura constante nas ma-nifestações políticas, foi presa durante uma greve de estiva-dores em Santos. Em 1933, ao sair da prisão lança o livro Parque industrial - romance proletário, com pseudônimo de Mara Lobo, do qual publicamos

um trecho na página seguinte.No final daquele mesmo

ano, iniciou longa viagem de volta ao mundo, e passou a colaborar para os jornais ca-riocas Correio da Manhã e para o Diário de Nóticias, e o Diário da Noite, de São Paulo. Pagu era uma mulher do mundo. Na China, entrevistou Sigmund Freud, que estava por lá como turista. Foi para a União Sovié-tica, numa viagem de oito dias pela Transiberiana, onde fez vários contatos. Como todo intelectual da época, também sonhava com Paris, onde che-gou em 1934, seguiu alguns cursos na Universidade Po-pular e ingressou no Partido Comunista Francês. Foi presa como militante comunista es-trangeira e repatriada para o Brasil em 1935.

Separou-se de Oswald de Andrade, e naquele mesmo ano, foi novamente detida, e conde-

nada a dois anos de prisão, sob acusação de envolvimento no levante armado promovido no Rio de Janeiro por setores da Aliança Nacional Libertadora (ANL), que agrupava comunis-tas, socialistas e outras corren-tes na luta contra o integralismo e o imperialismo. TRêS ANOS DEPOIS, OUTRA VEz VAI PARA PRISÃO AO SER DETIDA E TORTURADA PELA POLíCIA DE VARGAS, TENDO PERMANECI-DO, NO TOTAL, qUASE CINCO ANOS NA DETENÇÃO. DEIXA O PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL E SEGUE A CORRENTE TROTSkISTA. Em companhia do novo marido, Geraldo Ferraz, integra a redação de A Vanguar-da Socialista junto também com o crítico de arte Mário Pedrosa, Hilcar Leite e Edmundo Moniz.

Seus últimos anos fo-ram vividos em Santos de onde atuou na imprensa paulista, so-bretudo como crítica literária.

Pagu e Oswald de Andrade, marido e companheiro nas lutas políticas, com o filho Rudá, em 1931.

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“O grito possante da chaminé envolve o bair-ro. Os retardatários voam, beirando a parede da fábrica, granulada, longa, coroada de bicos. Resfolegam como cães cansados para não perder o dia (...). O apito acaba num sopro. As máquinas se movimentam com desespero. A rua está triste e deserta (...). Na grande peni-tenciária social os teares se elevam e marcham esguelando (...). Saem para o almoço das onze e meia (...). Pão com carne e banana (...). Na grade ajardinada um grupo de homens e mu-lheres procura uma sombra. Discutem (...). Um rapazinho se espanta. Ninguém nunca lhe dissera que era um explorado. “Rosinha, você pode me dizer o que a gente deve fazer?” Rosi-nha Lituana explica o mecanismo de exploração capitalista. “O dono da fábrica rouba de cada

operação o maior pedaço do dia de trabalho. É assim que enriquece à nossa custa!” “Quem foi que te disse isso?” “Você não enxerga? Não vê os automóveis dos que não trabalham e a nossa miséria?” “Você quer que eu arrebente o automóvel dele?” “Se você fizer isso sozi-nho, irá para a cadeia e o patrão continuará passeando n’outro automóvel. Mas felizmente existe um partido, o partido dos trabalhadores, que é quem dirige a luta para fazer a revolução social.” “Os tenentes?” “Não. Os tenentes são fascistas.” “Então o que?” “O Partido Comu-nista”. Novamente as ruas se tingem de cores proletárias. É a saída da Fábrica (...). A limou-sine do gerente chispa espalhando o pessoal. Uma menina suja alisa o pára-lama com a mão chupada.” (Parque Industrial, 1933).

Trecho do livro Parque Industrial, de 1933

Pagu é detida em 23 de agosto de 1931, durante um comício comunista na cidade de Santos, quando o

estivador Herculano de Souza morre em seus braços e ela passa a ser a primeira presa política do Brasil. Em 1938, novamente presa, é espancada e torturada, sendo libertada somente dois anos depois.

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e a greve de 1917 em São Paulo

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“E A CÉLEBRE GREVE DE 1917? OS BAIRROS DE BRáS E MOOCA SITIADOS!

Lembro-me da estupidez de meus colegas da Academia contra grevistas. LEMBRO-ME DE OSwALD DE ANDRADE COM AqUELE REACIONARIS-MO CATóLICO qUE O DO-MINAVA, qUERENDO FAzER INCURSõES ARMADAS PELA MADRUGADA PARA DESALO-jAR OS GREVISTAS. Lembro-

Trecho retirado do livro

Desenho de Di Cavalcanti

na Coleção do MAC

(Museu de Arte Contemporânea de São Paulo).

me de uma passeata operária até o centro da cidade que foi dissolvida a pata de cavalo pela polícia. Lembro-me do velho Jú-lio Mesquita telefonando para o palácio dos Campos Elísios, ao Dr. Altino Arantes, protestando contra o que se passava diante da redação do “Estado”. Tele-fonou para o Dr. Altino e saiu para a rua com Alfredo Pujol e Ricardo Figueiredo enfrentan-do os policiais. Rapidamente

surgiu um automóvel com o Dr. Oscar Rodrigues Alves. As coisas serenaram na Praça An-tonio Prado. DAS jANELAS DO “O ESTADO DE SÃO PAULO” EU OBSERVAVA AS jANELAS DA REDAÇÃO DO “CORREIO PAULISTANO”, BALUARTE DO PRP, COM CURIOSIDADE. INTERDITAVAM-ME AqUELE SíTIO OS MEUS AMIGOS DA ESqUERDA”.

Di Cavalcanti

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Eles não usam black tie

Eles não usam black tie é a primeira peça teatral de Gian-francesco Guarnieri, escrita e apresentada em 1958 no Te-atro de Arena, sob direção de José Renato. A peça, com forte temática social, marcou época porque se contrapôs ao teatro tradicional na época, o Teatro

Brasileiro de Comédia (TBC), voltado a superproduções e a textos estrangeiros.

Eles não usam black tie – que originalmente se chamava “O cruzeiro lá no alto” e teve o nome modificado por suges-tão de José Renato, como pro-vocação às encenações luxuo-

sas do TBC e ao público deste gênero de teatro.

À beira da falência, o Te-atro de Arena – que surgiu em 1953 como contraposição ao TBC – reergueu-se com o texto de Guarnieri, que foi um sucesso de bilheteria e ficou mais de um ano em cartaz, fato inédito até

TÂNIA RABELLO

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Gianfrancesco Guarnieri e Mirian Mehler na versão original da peça de 1958.

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então para um texto brasileiro. Em um cenário despojado, que retratava o morro e seus mora-dores, os operários, Gianfran-cesco Guarnieri trata de temas importantes, como o movimento grevista e operário da década de 1950 no Brasil e as difíceis con-dições de vida dos trabalhadores brasileiros, fazendo um retra-to fiel das favelas dos grandes centros urbanos e apontando o abismo social entre classe domi-nante e classe dominada. É, por isso, considerada um marco no teatro de temática social. A par-tir daí, outros textos surgiriam na mesma linha, retratando as classes menos favorecidas, com ênfase para a representação dos trabalhadores.

A peça surgiu também num momento de larga eferves-cência cultural no País, conco-mitantemente ao movimento do Cinema Novo, que também con-vocava a arte ao neorrealismo.

A peça é a história do cho-que entre pai e filho com posições ideológicas e morais opostas. O pai, Otávio, é operário, idealista, socialista e revolucionário. Foi preso várias vezes e é líder do movimento grevista no qual se si-tua a peça. Já seu filho, Tião, cria-do longe do morro, na cidade, por causa das constantes prisões do pai, não convive com este mun-do de luta da classe operária e, de volta quando adulto, entra em constantes conflitos ideológicos com o pai e também com a pró-

pria namorada, que engravida. Na greve, com medo de perder o emprego, não adere ao movimen-to, gerando vários conflitos entre ele, seu pai e sua namorada, que por fim o abandona.

O texto de Guarnieri tam-bém rendeu, em 1981, um fil-me do cineasta Leon Hirszman, protagonizado pelo próprio Guarnieri. Naquele mesmo ano, Hirszman recebeu o Grande Prê-mio Especial do Júri no Festival de Veneza, na Itália; o prêmio Grand Coral, no Festival de Hava-na, Cuba, além do Troféu APCA 1982, da Associação Paulista de Críticos de Arte, do Brasil.

Eles não usam Black Tie, peça que será apresentada em montagem especial no auditório Simón Bolívar do Memorial.

Tânia Rabello é jornalista e colabora com a revista Brasileiros.

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La hora de los hornosFilme do diretor argentino Fernando SolanasTÂNIA RABELLO

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La hora de los hornos, filme argentino dirigido por Fer-nando “Pino” Solanas e Octavio Getino, integrantes do Grupo de Cine Liberación, estreou em 1968, nos primeiros anos da di-tadura militar na Argentina. Au-toproclamado subversivo, o do-cumentário foi concebido como um instrumento para estimular a revolução. Por isso, foi filmado e produzido de maneira furtiva.

Pino Solanas, lembra, por exemplo, que 200 latas de filme tiveram de ser enviadas a Roma para que fossem editadas longe de terras argentinas. O filme foi lançado em 1968, na Itália, sur-preendendo o regime do general argentino Juan Carlos Onganía (1966-1970). Logo de cara ga-nhou prêmios no circuito europeu de cinema, entre eles o Grande Prêmio da Crítica na Mostra In-ternacional de Cinema Novo, na Itália. No Reino Unido, foi classi-ficado, em 1974, pelo British Film Institute, entre os dez melhores filmes dos anos 1970.

Na Argentina, La hora de los hornos só pôde ser exibido oficialmente em 1973. Em 1989 teve uma reestreia e em 2008 re-editou-se uma versão estendida.

O filme, com extremo espí-rito político e didático, tem qua-tro horas de duração e é dividido em três partes: Neocolonialismo e violência; Ato para a liberação (que se divide em Crônica do Pe-ronismo e Crônica da resistên-cia), e Violência e liberação.

Solanas, que era cineasta publicitário, servindo até então ao

neocolonialismo, com este filme se “converte”, questionando o sistema e a cruel ditadura argen-tina. Solanas e Getino qualificam, ainda, La hora de los hornos como um ato de resistência con-tra a ditadura e uma ferramenta

imagem real de uma criança fa-minta e logo em seguida a de um arranha-céu deslumbrante em Buenos Aires. Além disso, ce-nas irônicas, como o hino nacio-nal argentino cantado por uma cantora de ópera da tradição

O filme revolucionário foi

lançado em 1968 na Itália, mas devido à

censura, só pôde ser exibido oficialmente na

Argentina em 1973.

para discussão, debate e mobili-zação política contra a oligarquia portenha, que sempre usou da violência para impor seu projeto.

No filme, imagens de dife-rentes contextos argentinos são conectadas a fim de revelar as contradições sociais não apa-rentes, quando percebidas de forma isolada. Por exemplo, a

clássica europeia, sobreposto a imagens de cenas de uma briga de faca entre homens famintos e jovens, além de um velho alei-jado à espera de uma prostitu-ta, expõem a contradição entre uma ordem política idealizada e as reais necessidades da maio-ria dos argentinos. Um filme re-volucionário, enfim.

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golpe de Estado No governo de João Goulart as greves

seriam reconhecidas como recursos legais, desde que não descambassem para a anarquia.

ALMINO AffONSO

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Emergência

João Goulart manteve contato direto com o povo durante seu breve governo.

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A emergência popular, que teve grande significado político nos anos 60, projetou-se sobre-tudo no movimento sindical ur-bano. O PAíS ESTAVA CONVUL-SIONADO DESDE A RENÚNCIA DO PRESIDENTE jâNIO qUA-DROS E qUE SE DESDOBRARA NO VETO MILITAR à POSSE DO PRESIDENTE jOÃO GOULART E NA INSTITUIÇÃO DO PARLA-MENTARISMO, VERDADEIRO GOLPE BRANCO.

Nesse contexto, o pro-cesso inflacionário ganhara di-mensões de uma crise social e política, num crescendo incon-tornável. Os dados falam por si mesmos: a inflação chegara a 26,3% em 1960; subira para 33,3% em 1962; logo mais sal-

tara para 54,8%; e em feverei-ro de 1963, precipitara-se para 60%! Justo quando, fazia um mês, João Goulart assumira a Presidência da República, uma vez restaurado o “presidencia-lismo”, conforme a decisão da Consulta Plebiscitária de 6 de janeiro de 1963. O Plano Trienal, dentre vários objetivos, propu-nha-se a duas metas principais interligadas: a manutenção da taxa de crescimento no perío-do de 1957 a 1961, da ordem de 7% ao ano; e a contenção progressiva da inflação. Por um conjunto de fatores (sobretudo políticos), a espiral inflacionária prosseguira. E, em decorrência, o recurso às greves tornou-se inevitável. Como Ministro do

Trabalho, assisti de perto ao im-passe: não havendo espaço para as negociações entre patrões e operários, as greves multiplica-ram-se numa avalanche.

A CONSTITUIÇÃO DE 1946, EM SEU ARTIGO 158, ASSE-GURAVA O DIREITO DE GREVE: “CUjO EXERCíCIO A LEI REGU-LARá”. O Congresso Nacional, por omissão imperdoável, não cumprira a tarefa que lhe cabia. Por outro lado (por conta dessa inércia), os empresários acober-taram-se no Decreto 1.070/46, editado pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra que, a rigor, obs-taculizava a prática de greve. O referido Decreto era inconsti-tucional; mas servia de escudo aos empresários, respaldados

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pelos Tribunais do Trabalho. Para o Presidente João Goulart, diante desse quadro, a opção fora ime-diata: em seu governo as gre-ves seriam reconhecidas como recursos legais, desde que não descambassem para a anarquia. O confronto estava assim incon-trolável; e o conflito social ganhou dimensões políticas.

O IMPORTANTE É qUE, NESSE BECO SEM SAíDA, OS TRABALHADORES FORAM AR-TICULANDO OS “PACTOS IN-TERSINDICAIS”. Vale dizer: a ação conjugada de vários sin-dicatos (de categorias diferen-tes), dando assim redobrado impulso às reivindicações eco-nomicistas, numa pressão so-cial incomparável. Cito alguns exemplos relevantes: “Pacto de Unidade e Ação – PUA”; “Fórum Sindical de Debates de Santos – PSD”, “Pacto de Unidade Inter-sindical – PUI”, que remontava a 1953, respaldando a greve dos 300 mil em São Paulo; e sobre-tudo o “Pacto de Ação Conjun-ta – PAC”, uma ação conjugada sem precedentes, articulando a greve dos 700 mil trabalhado-res em São Paulo, integrando 14 categorias profissionais!

Desta forma, o sindica-lismo urbano passara a ter uma estrutura “dual”: a prevista na CLT (por categoria profissional) e a que se criara com os Pactos Intersindicais. É um momento, a meu ver, da maior importân-cia na história do sindicalismo urbano. Sobretudo porque essa greve – dos 700 mil – além de ser vitoriosa em termos reivindi-

catórios, tivera como resultante histórica a fundação do “Co-mando Geral dos Trabalhado-res – o CGT”! Pode-se ponderar que o CGT formara-se em 1962, durante o IV Encontro Sindical Nacional, realizado em São Pau-lo, com a participação de 3.500 delegados, representando 586 sindicatos, associações e fede-rações. É o que leio no excelen-te livro de Antonio Neto. Mas, pela ação – em confronto aberto com a Federação das Indústrias de São Paulo – considero que a greve dos 700 mil, envolvendo nada menos que 79 sindicatos foi que lhe dera corpo e alma. Com efeito, o CGT foi o embrião das Centrais Operárias que,

àquela época distante, ainda não estavam organizadas em nosso país, num contraste cho-cante com o movimento sindical avançado no Uruguai, na Argen-tina e no Chile.

Outro fato – da maior sig-nificação do sindicalismo urba-

no – foi a greve dos aeronautas, deflagrada em protesto contra a demissão do comandante Paulo Mello Bastos, por ato ilegal do Presidente da Varig – Sr. Ruben Berta. Naquele então, com esse gesto autoritário, fora atingido o presidente do Sindicato Na-cional dos Aeronautas e, como se não bastasse, presidente da Federação Nacional dos Trans-portes Aéreos, Fluviais e Ter-restres. Cabe assinalar: Mello Bastos, por força da lei, tinha a “estabilidade sindical”. Por-tanto, não poderia ser demitido. Salvo se houvesse incorrido em “justa causa”, prevista na CLT e devidamente reconhecida pela justiça do trabalho. Era o que

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estava expresso (e continua vigente) na Consolidação das Leis do Trabalho, em seu artigo 541 e parágrafos.

Essa prerrogativa, como é óbvio, é fundamental para o dirigente sindical. Sem ela, a qualquer pretexto, os empresá-

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rios poderiam demitir o sindi-calista, tão só porque ousasse liderar a luta reivindicatória e, sobretudo, se recorresse ao exercício do direito de greve. Em face dessa hipótese, os trabalhadores ficariam ao de-samparo. COMO MINISTRO DO TRABALHO, EM DECLARAÇÃO à IMPRENSA, EXIGI qUE O PRE-SIDENTE DA VARIG ANULASSE A DECISÃO ARBITRáRIA. Po-rém o Sr. Ruben Berta fez-se de surdo e de mudo. Ato contínuo, em legítimo protesto, os aero-nautas declararam-se em gre-ve. Vi-me na contingência de reconhecê-la legal, sem meios-termos: pois os trabalhadores a ela estavam recorrendo para que a lei fosse cumprida.

A rigor, tendo em vista que os aeronautas defendiam a “esta-bilidade sindical”, a greve ia além de seus próprios interesses; e se tornara uma ação com causa pró-pria: dos portuários, dos operá-rios navais, dos ferroviários, dos petroleiros de Manguinhos, de Duque de Caxias, de Cubatão. No âmbito da aviação a greve alas-trara-se: 100% dos voos da Vasp paralisados; 70% da Panair; 60% da Varig. Os céus ficaram livres para os pardais. Na verdade, tor-nara-se uma greve gigantesca!

Registro essa greve – tal-vez única no gênero – pela sua importância histórica. Não tinha como objetivos: revisão salarial e norma regulamentar. Apenas, tão só, unicamente: a preser-vação da “estabilidade sindi-cal”. Na verdade, aquela greve demonstrara a maturidade do

sindicalismo: pela tomada de consciência de suas prerroga-tivas, pela ação unitária, pela visão social que transcendia o economicismo. Fora instantâ-nea a articulação da greve, de âmbito nacional. E as lideranças – tendo à frente o comandante Paulo Mello Bastos – souberam encontrar a vitória sem vangló-rias. Por sua vez, o Presidente João Goulart, ao dar ordem ex-pressa ao Sr. Ruben Berta para que reintegrasse Mello Bastos

nos quadros da Varig, ilumi-nou o episódio nos seus devi-dos termos: em três dias o País soubera viver uma grande lição de prática democrática. Mas, a emergência popular, que os fa-tos evocados explicitavam, ser-viu de pretexto para a conspira-ção que desaguou no Golpe de Estado de 1964.

Almino Affonso foi ministro do trabalho e da previdência social no governo do presidente João Goulart.

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Vargas e Perón

As presidências dos dois líderes representam uma inflexão no tratamento das questões

trabalhistas ao alterar profundamente a concepção e realização da comemoração do 1º de Maio.

JOSé LuIS BEIREd

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EM 1890, O CLUBE SO-CIALISTA ALEMÃO VORwäRTS – AVANTE – LOCALIzADO EM BUENOS AIRES, CONCLAMOU OS TRABALHADORES DA AR-GENTINA A SE REUNIREM EM PRAÇA PÚBLICA PARA A CELE-BRAÇÃO DO 1º DE MAIO COMO “FESTA UNIVERSAL DOS TRA-BALHADORES”. No Brasil, os operários imigrantes da cidade de Santos também fizeram o mesmo pouco depois e junta-mente com os trabalhadores do Rio da Prata deram início a uma duradoura tradição social. Nos anos seguintes a data foi co-memorada massivamente pelo movimento operário para refor-çar a união dos trabalhadores, recordar suas lutas e apresen-

tar reivindicações. A despeito dos pequenos avanços na área trabalhista, as empresas resis-tiam a reconhecer a legitimida-de da organização sindical e os governos oligárquicos a tratar as relações entre capital e tra-balho como um problema cru-cial da política contemporânea.

As presidências de Getú-lio Vargas e Juan Domingo Pe-rón representam uma inflexão no tratamento das questões trabalhistas ao alterar profun-damente a concepção e realiza-ção da comemoração do 1º de Maio. Os dois líderes chegaram ao poder questionando as es-truturas liberal-oligárquicas e buscaram reconstruir os funda-mentos do poder por meio de

alianças com setores mais am-plos da sociedade. TANTO NA ARGENTINA qUANTO NO BRA-SIL, O ESTADO ASSUMIU UM NOVO PAPEL DE áRBITRO DAS DIVERSAS CLASSES E SEG-MENTOS SOCIAIS EM NOME DA SOBERANIA NACIONAL, DO DESENVOLVIMENTO ECONô-MICO E DA jUSTIÇA SOCIAL. Os trabalhadores urbanos fo-ram reconhecidos como inter-locutores privilegiados, pois eram um segmento essencial para o futuro, cujas reivindica-ções não podiam ser ignoradas por nenhum regime disposto a modernizar a economia e am-pliar os fundamentos da sua le-gitimidade política. Entretanto, a conquista de apoio dos traba-

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Getúlio Vargas e Benedito Valadares, governador de Minas Gerais, em Poços de Caldas em 1942.

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lhadores não dependeu apenas da extensão da cidadania social por meio da melhoria das con-dições materiais de vida, mas também da criação de um novo imaginário político centrado na glorificação dos seus lideres.

O governo Vargas foi pau-tado pela crescente intervenção do Estado no campo da legisla-ção trabalhista e da organização sindical. Com o golpe de 1937, a ditadura do Estado Novo criou instrumentos legais para aprofun-dar o controle burocrático e polí-tico dos sindicatos segundo uma concepção corporativista. A cele-bração do 1º de Maio, rebatizado como Dia do Trabalho, passou a

merecer atenção especial do re-gime, que o transformou em um ritual cuidadosamente organizado para promover a adesão das mas-sas ao regime por meio do seu contato direto com Vargas.

A DATA FOI COMEMORA-DA INICIALMENTE DE FORMA RESTRITA NO PALáCIO DA GUA-NABARA EM 1938. PARA O PRE-SIDENTE, A CELEBRAÇÃO NÃO DEVERIA FICAR LIMITADA AOS DISCURSOS: ANUNCIOU A RE-GULAMENTAÇÃO DO SALáRIO MíNIMO E COMPROMETEU-SE A CADA ANO PRESENTEAR OS TRABALHADORES COM UMA NOVA REALIzAÇÃO SOCIAL. Em 1939, um evento de maior por-

te foi organizado junto ao Palá-cio do Trabalho, reunindo uma multidão na Esplanada do Cas-telo, quando foram anunciadas a criação da justiça do trabalho, de escolas profissionalizantes e de refeitórios populares. Nos anos seguintes a comemora-ção foi realizada no Estádio do Vasco da Gama e no Estádio do Pacaembu (1944), ficando inte-grada a outros festejos oficiais tais como o aniversário do pre-sidente e do Estado Novo. As atividades eram coordenadas pelo Departamento de Impren-sa e Propaganda e pelo Minis-tério do Trabalho, cujo chefe, Alexandre Marcondes Filho,

Partidários de Getúlio Vargas o seguiam em todas as manifestações políticas.

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A conquista de apoio dos trabalhadores não dependeu

apenas da extensão da cidadania social por meio da

melhoria das condições materiais de vida, mas também

da criação de um novo imaginário político centrado

na glorificação dos seus líderes.27

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conduziu um programa radio-fônico intitulado “Trabalhado-res do Brasil”, expressão forja-da por Vargas para colocar-se como líder da massa operária.

O foco do Dia do Tra-balho não eram os sindicatos e nem a massa de trabalha-dores, mas o próprio Vargas, como parte de uma estratégia de propaganda oficial que vi-sava reforçar o seu papel de líder carismático, paternalista e demiúrgico. Os esforços his-tóricos do movimento operário foram silenciados, enquanto o presidente era apresentado como o líder clarividente que havia outorgado a legislação trabalhista. A “ideologia da ou-torga” – pela qual benefícios e direitos são distribuídos como doações – foi um dos pilares da relação construída pelo Estado varguista com a socie-dade, cujas implicações ainda não foram ainda de todo su-peradas. O seu objetivo prin-cipal, a conquista da lealdade dos trabalhadores em apoio à ditadura, supunha a adesão incondicional dos outorgados, uma vez que não retribuir a dá-diva equiparava-se ao crime. De forma deliberada o 1° de Maio havia sido esvaziado dos significados construídos pelos trabalhadores e se transforma-do em um ritual de reforço da legitimidade de um regime po-lítico e do seu líder.

Na Argentina, o 1º de Maio também foi um evento co-locado a serviço de um regime político durante a presidência

Getúlio em manisfestações públicas no Rio de Janeiro.

Com sorriso carismático,

atraia multidões.

Correligionários de Vargas em um evento no campo do Vasco, no Rio de Janeiro.

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Comemoração do Dia do Trabalho no campo do Vasco da Gama, no Rio de Janeiro, em 1942.

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de Perón. Depois de participar de um governo constituído por um golpe militar, esse oficial do exército alcançou a presi-dência por meio de eleições, sustentado por uma heterogê-nea coalizão e com apoio de amplos setores da classe ope-rária e do sindicalismo. Com um longo histórico de organi-zação, autonomia e politização, o movimento operário argenti-no se destacava por ser o mais numeroso e mobilizado da América Latina. A TAREFA DA ELITE DIRIGENTE PERONISTA FOI COMPLEXA, POIS IMPLI-COU SUBSTITUIR UMA TRA-DIÇÃO ARRAIGADA POR OU-TRA INVENTADA PELO NOVO REGIME. Ao longo dos anos, a celebração foi monopolizada pelo Estado, juntamente com outras cerimônias, transforma-

das em rituais de recriação das fontes de legitimidade política do regime peronista. Uma vez pre-sidente, em 1946 ficou eviden-ciado que Perón era o principal protagonista dos festejos.

No ano seguinte, os afilia-dos da Confederação Geral dos Trabalhadores partiram de vários bairros de Buenos Aires para for-mar uma só coluna encabeçada por Perón, Evita e demais auto-ridades em direção à Praça de Maio, espaço consagrado como lugar de fundação do peronis-mo e de ritualização do contato direto do líder com as massas. Novos protagonistas e ativida-des foram incluídos – escolares, militares, religiosos, funções tea-trais, eleição da rainha do traba-lho, além da participação de Evita na qualidade de intermediária en-tre Perón e o povo.

O esforço de monopoli-zação do evento pelo regime foi crescente por intermédio de medidas autoritárias que foram desde a suspensão da circulação de jornais no 1º de Maio de 1947, até a proibição de celebrações alternativas em 1949 e sua transferência para o dia anterior à festividade patro-cinada pelo Estado. De forma paradoxal, um movimento polí-tico que deveu seu nascimento ao apoio dos trabalhadores e que foi sustentado pelos seus líderes sindicais, uma vez no poder tratou de suprimir toda e qualquer manifestação autôno-ma dessa camada social.

A data tradicional do movi-mento operário argentino perdeu totalmente seu sentido comemo-rativo – de relembrar lutas e con-quistas – para se converter num

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Evita com mineradores, na década de 1940.

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ritual apropriado pelo Estado e controlado nos mínimos deta-lhes para produzir a devoção ao líder e assegurar a continuidade do regime peronista.

EM SíNTESE, A CELEBRA-ÇÃO DO 1º DE MAIO DURANTE O VARGUISMO E O PERONISMO CONSTITUIU UMA RUPTURA EM RELAÇÃO à HISTóRIA CONS-TRUíDA PELAS CORRENTES DO MOVIMENTO OPERáRIO. As prá-ticas e mesmo a memória da co-memoração foram substituídas por outras funcionais aos pro-jetos políticos dos dois regimes. Muitas das medidas governa-mentais tomadas representaram a atualização das relações entre capital e trabalho em face do crescimento urbano e industrial. Em contraposição aos padrões liberal-oligárquicos, as elites po-líticas e militares que patrocina-

ram as mudanças optaram por vias autoritárias, estatizantes e personalistas. Os sindicalistas opositores foram perseguidos e afastados, enquanto os seto-res aliados ficaram relegados a um papel subordinado dentro do pacto populista. No Brasil, os trabalhadores rurais – maio-ria na época – nada tiveram que comemorar no 1º de Maio, uma vez que não foram contemplados com quaisquer direitos. Mesmo no âmbito urbano os benefícios chegaram a um número reduzi-do de trabalhadores formais e sindicalizados. As tradições de mobilização e protesto do movi-mento operário argentino foram domesticadas em nome do ide-al da “comunidade organizada”, metáfora da nação reformulada nos moldes peronistas, ilustrada por um dos lemas com os quais

Perón cobrava a disciplina dos trabalhadores: “de casa para tra-balho, do trabalho para casa”.

Nos dois países os tra-balhadores tiveram perdas e ganhos. Houve inquestionáveis avanços em termos de legisla-ção trabalhista, criação de di-reitos e de valorização do tra-balhador. Outro lado da moeda foi o peleguismo (explicação na página seguinte), a buro-cratização, a dependência do Estado e a construção do mito do poder demiúrgico do líder carismático. Esgotados os dois regimes, o 1º de Maio foi reto-mado pela classe trabalhadora e ganhou novos e inesperados significados.

José Luis Bendicho Beired é historiador da Unesp.

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O casal Perón em comício na capital portenha.

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O qUE É PELEGO?

Em seu sentido original, a palavra pelego (oriunda do espanhol

pellejo) significa a pele do carneiro com a lã, que é normalmente usada

como montaria: posta entre a sela e o corpo do cavalo, a fim de tornar

mais suave o contato entre o cavaleiro e o animal.

E pelego politicamente?A visão de que o sindicalismo anterior a 1964 era pelego ou então populista, era desejável num momento de forte disputa pela hegemonia do movimento operário. As palavras de um militante sindical do pré-64 são bastante esclarecedoras sobre a questão. No dizer de Affonso Delellis, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo entre 1963 e 1964, em um debate entre velhos e novos militantes. As palavras de Delellis não devem ser desprezadas, pois ele é hegemônico nas análises atuais sobre o período que o movimento sindical era, de fato, forte, sendo justamente esse o motivo utilizado pelos setores de extrema direita para o golpe civil-militar de 1964. No entanto, após o golpe, a maioria dos dirigentes combativos foi retirada dos sindicatos, ficando esses nas mãos, em sua maioria, de “pelegos”.(Trecho do artigo Entre a vanguarda e o espontaneísmo: embates pela hegemonia do novo sindicalismo no Brasil de Stanley Plácido da Rosa Silva). Fi

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Quem diria, a classe operá-ria brasileira está exportando sua tecnologia social aos Estados Unidos! O Secretário Adjunto de Relações Internacionais para as Américas da Central Única dos Trabalhadores, Artur Henrique da Silva Santos, acaba de voltar do Tio Sam. É ele quem con-ta: “ESTAMOS INDO AOS EUA ORGANIzAR OS BANCáRIOS. NUNCA TEVE SINDICATO DE BANCáRIOS POR Lá, É MUITO DIFíCIL CRIá-LO. Mas, a partir dos funcionários do Banco do Brasil nesse país, estamos crian-do condições de chamar os fun-cionários de outros bancos para fundar um sindicato”. O próprio

companheiro Artur se admira: “Há dez anos quem diria que isso ia acontecer”.

Mas Artur Santos voltou indignado com o que viu e ou-viu nos dois gigantes do norte: “Nos EUA e Canadá atualmente têm uma campanha contra os sindicatos chamada de ‘direito ao trabalho’. É uma inversão total de valores: Se você quiser trabalhar 14 horas por dia, se quiser trabalhar nas férias, se quiser trabalhar imediatamente após dar a luz, você têm o direi-to ao trabalho e o sindicato não deve se intrometer...”. Durante dez dias de março ele visitou cinco países - EUA, Canadá,

El Salvador, Nicarágua e Hon-duras. Artur cumpriu agenda cheia. No último congresso da CUT, em julho de 2012, decidiu-se que a central sindical abriria um Instituto de Cooperação In-ternacional e lá se foi o sociólo-go formado pela PUC de Campi-nas levar a experiência brasileira continente afora. Artur Santos presidiu a CUT de 2006 a 2012.

Segundo ele, AS DIFICUL-DADES PARA OS TRABALHADO-RES NA AMÉRICA CENTRAL SÃO IMENSAS, POIS OS GOVERNOS E OS SINDICATOS SÃO FRACOS E A DEPENDêNCIA DOS EUA É MUITO GRANDE. El Salvador, por exemplo, tem a carga tribu-

Ao completar 30 anos em agosto de 2013, maior central sindical do país amplia sua

atuação no continente americanoEduARdO RASCOv

CUT dá aula para o sindicalismo dos

Estados Unidos

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tária de apenas 12% do PIB (no Brasil, 35%, taxa semelhante ao dos países ricos). “Ora, um país não consegue fazer política pú-blica e social sem imposto. Mas lá não se consegue cobrar im-posto do empresário e do fazen-deiro”, conta. Nesse país a CUT fez um acordo de cooperação

com a central sindical nativa vi-sando defender o atual governo de esquerda de Mauricio Funes, da Frente Farabundo Martí de Li-bertação Nacional (FMLN).

Como se vê, a CUT acha-se atualmente tão consolidada e poderosa que se dá ao luxo de ir brigar fora do país. “A classe

trabalhadora está muito bem no Brasil, mas tem muito ainda a melhorar. O Brasil e a classe tra-balhadora têm que se organizar de forma internacional, porque principalmente nas Américas e na África as empresas estão se locomovendo e alterando suas bases segundo seus interes-

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ses. Os trabalhadores também têm que se articular”, diz Artur Santos. Nascido há 52 anos na Pompeia, em São Paulo, Artur é um líder de perfil discreto, como aliás seus antecessores Jair Me-neguelli, Vicente Paulo da Silva (Vicentinho), João Felicio e Luiz Marinho, e seu sucessor Vagner Freitas de Moraes, atual presi-dente da CUT. Todos ainda pa-recem descansar sob a sombra do líder fundador, Luiz Inácio Lula da Silva.

FORA DO BRASIL Há UMA CURIOSIDADE MUITO GRANDE SOBRE O RELACIONAMENTO DO MOVIMENTO SINDICAL COM O PRESIDENTE SINDICALISTA E SUA SUCESSORA. Artur cos-tuma apresentar os números da economia brasileira, “40 milhões de pessoas saíram da miséria absoluta; 97% dos trabalhado-res tiveram acréscimo real de renda; 16 milhões de empregos foram criados; ascensão da clas-se C; nível mínimo histórico de desemprego; fortalecimento do mercado interno; enfrentamento da crise de 2008...” Então costu-ma dizer que apesar disso tudo a CUT manteve uma posição de apoio crítico ao governo.

“Nos primeiros seis me-ses do governo Lula ficamos confusos. Havia quem defen-desse que a luta de classes tinha acabado com a conquista do po-der por um presidente operário”, relembra Artur, “mas logo enten-demos que aquele era um go-verno de aliança e, portanto, de disputa, afinal o vice-presidente era um grande empresário”. Era

e é um governo de disputa, com grupos de interesses contraditó-rios. “Cabe ao movimento sin-dical pressionar o governo para que ele cada vez mais atenda as revindicações da classe traba-lhadora. Nós temos independên-cia e autonomia em relação aos governos e partidos, não adian-ta querer cooptar ou influenciar as decisões da CUT. Essa inde-pendência não quer dizer que sejamos omissos em relação às instâncias políticas. Quando tem eleição para governador ou presidente, por exemplo, a CUT discute quem são os candidatos e orienta suas filiadas a apoiar ou não determinada candidatura.”

Artur divide a história da maior central sindical brasileira em três fases bem distintas. Os anos 80 foi o período de afir-mação em que, apesar do en-frentamento da ditadura, houve crescimento. Foram se forman-do chapas de oposições nos sindicatos, conquistando-os e promovendo reformas demo-cratizantes e ampliação da base. Os anos 90 foram um “período de resistência aos ataques aos direitos dos trabalhadores pelas políticas neoliberais e pela lógi-ca de privatizações e terceiriza-ções”. A terceira onda é a atual, quando, “apesar de não se aten-der todas as reinvindicações dos trabalhadores, há um espa-ço de negociação por meio do qual foram incorporadas políti-cas sociais sugeridas por nós.”

MAS NEM TUDO SÃO FLORES. MAIOR CENTRAL SINDICAL BRASILEIRA, A CUT,

qUE ESTá COMPLETANDO 30 ANOS, DETÉM HOjE 38 % DE TODOS OS TRABALHADORES FILIADOS A SINDICATOS LI-GADOS A ALGUMA CENTRAL SINDICAL. A Força Sindical tem 13%, a UGT, 7%. Depois vêm outras centrais sindicais meno-res. Essa pulverização de sindi-catos e centrais só aumenta. A razão principal desse fenômeno de cissiparidade é a dinheirama do imposto sindical obrigatório, além das diferenças ideológicas. A CUT é contra o imposto sindi-cal desde a sua fundação, em 1983. Mas o fato inegável é que após 12 anos muito próximos do Poder, ela não conseguiu articular apoio para aprovar a reforma sindical no Congresso.

“Continuamos defendendo o fim do imposto sindical obri-gatório”, diz Artur. “Houve um processo de reconhecimento das centrais sindicais e uma parte do dinheiro veio para elas. Nesse acordo um dos pontos era que iríamos acabar com o imposto sindical obrigatório e criar um imposto sobre a negociação cole-tiva, seria um imposto aprovado nas assembleias pelo próprio tra-balhador.” Mas, segundo Artur, as outras centrais sindicais não fizeram nada para mudar isso. Por se tratar de matéria constitu-cional, são necessários os votos de dois terços dos deputados, mas parece que ninguém quer se comprometer. Pelo jeito, nem a CUT nem o Governo Dilma.

Eduardo Rascov é jornalista e editor do site do Memorial da América Latina.

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Projeto de lei do Ministério do Trabalho que

substituiria demais contribuições sindicais

está parado há cinco anos na Casa Civil.

Contribuição negocial, que bicho é esse?

dANIEL PEREIRA

Parece um jogo de pala-vras, mas, por enquanto, contri-buição negocial continua sendo apenas um verbete sem (apa-rentemente) muita importância na atual pauta de reivindicações das centrais sindicais. O impas-se criado tão logo o anteprojeto de lei foi apresentado pelo Mi-nistério do Trabalho atende pelo nome de insegurança jurídica. É o que diz, e ainda prevalece, cin-co anos depois, o parecer jurídi-co do advogado Hélio Ghirardi, do Diap. Ele é taxativo:

Se fosse tributo também seria compulsória e, portanto, não poderia ser recusada. Se a contribuição negocial não está

na Constituição, não é tributo nem compulsória. Assim tem que ser determinada pelas ca-tegorias sindicais. E se cada categoria pode decidir em as-sembleia o percentual que qui-ser, até zero por cento, ela vai trazer exatamente essa questão, a insegurança jurídica.

O anteprojeto do Minis-tério do Trabalho surgiu no mesmo ano em que as centrais foram reconhecidas como re-presentantes legais das classes trabalhadoras do país. De lá para cá, o sindicalismo tupiniquim ganhou musculatura suficiente para promover manifestações de peso como a recente Marcha a Fo

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Brasília. Um “sucesso retumban-te” na opinião do consultor sindi-cal João Guilherme Vargas Neto.

O COMPARECIMENTO à MARCHA, COM 60 MIL TRABA-LHADORES, FOI UMA DEMONS-TRAÇÃO DE FORÇA, UNIDADE E ORGANIzAÇÃO. OS DIRIGEN-TES FORAM RECEBIDOS PELAS MAIORES AUTORIDADES DO GOVERNO DE MANEIRA RESPEI-TOSA E COMPREENSIVA.

Quando menos é mais – O principal ponto de interrogação do projeto continua sendo a inde-finição do teto para a cobrança do novo imposto, inicial-mente estipulado em 1% do salário bruto anual de sindicaliza-dos ou não. A nova fórmula parecia ser muito mais interes-sante, mas não resiste a uma prosaica ope-ração aritmética. To-me-se como exemplo o caso do trabalhador que ganhe 2.000 re-ais/mês. Em março de cada ano, o holerite dele chega com desconto equivalente a um dia de trabalho, que, nesse caso, corresponde a 67 reais, ou 3,33% do seu salário.

A nova mordida substi-tuiria o pagamento das atuais contribuições – sindical, assis-tencial e confederativa -, e re-presentaria 1% do salário bruto anual do trabalhador. Assim, se o salário anual do mesmo traba-lhador é de 24 mil reais ele con-tribuirá com 240 reais.

Segundo Ghirardi, se a contribuição negocial for apro-vada em assembleia vai criar controvérsias e “propiciar uma infinidade de ações no Ministério Público do Trabalho que, infeliz-mente, ajuíza ações civis públicas objetivando reduzir os valores arrecadados pelos sindicatos, di-ficultando o trabalho sindical e a própria representatividade efetiva da respectiva categoria”.

Cenários e pegadinhas – “O Brasil é, hoje, a vanguarda do movimento sindical mundial. Não temos mais o que aprender

com a General Motors”. O ma-jestoso cenário verde-amarelo assim descrito por Vargas Neto, é resultante da conjunção de al-guns fatores que mudaram a cara das relações capital-trabalho no país. Ele destaca os dois princi-pais. “A valorização do salário mínimo, graças à criação de uma política permanente aprovada no Congresso, foi a grande vitória do sindicalismo brasileiro nesse período. Hoje, o ganho real do salário mínimo é de duas ve-

zes e meia maior em relação ao crescimento do PIB. Outro: o desemprego sempre foi o maior adversário do sindicalismo. Hoje, temos superávit de empregos. E mais: fortalecido, o sindicalis-mo ajudou a manter aquecida a economia interna do país na crise mundial e esteve na linha de fren-te no combate aos juros altos”.

Nesse cenário, o ruído produzido por uma informação “antijornalística”, na opinião do consultor sindical Vargas Neto, quase tirou da gaveta o projeto da contribuição negocial. Ao san-

cionar, no dia 15 de março, a lei que regulamenta a pro-fissão de comerci-ário, a presidente Dilma Roussef vetou o artigo (ou seria uma pegadi-nha?) que previa a criação da nova contribuição, ago-ra mais turbinada: se aprovada, tiraria do empregado 1%

ao mês do seu salário “e não so-mente uma vez por ano”, como reza o projeto original.

Quem (o Estadão) deu a notícia fez mau jornalismo ao generalizar um tema que dizia respeito apenas àquela categoria. Até porque, a questão (da contri-buição negocial) ainda não está claramente colocada para as cen-trais – diz Vargas Neto.

Daniel Pereira é jornalista e assessor de imprensa do Memorial da América Latina.

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Com a palavra, as líderes operárias

ANA MARIA CICACCIO

As presidentes das centrais sindicais

CUTe Força Sindical comentam a atual

situação das mulheres

brasileiras operárias.

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No 1º de Maio, as ban-deiras defendidas pelos traba-lhadores (homens e mulheres) em manifestações públicas pelo Brasil têm caráter geral, sem distinção de gênero. No entanto, as centrais sindicais do país – CUT e Força Sindical, entre elas – decidiram levar, no caso da mulher, a questão da igualda-de no mundo do trabalho como uma de suas principais bandei-ras, junto com a luta pelo fim da violência contra a mulher.

Hoje, apesar de maioria na população brasileira (51,3%) e de responder por 43,9% do merca-do de trabalho no país, a mulher ainda recebe 27,7% a menos do que o homem, mesmo estudando mais (61,2% delas têm ao menos o ensino médio completo, contra 53,2% dos homens) e trabalhan-do mais horas semanais (57,1% contra 34,8% dos trabalhadores), segundo dados do IBGE.

“A LUTA DAS MULHERES POR IGUALDADE DE DIREITOS NO MUNDO DO TRABALHO VEM DE LONGA DATA, DE BEM ANTES DE TERMOS ESSE TA-MANHO TODO NO MERCADO”, afirma Rosane Silva, Secretá-ria Nacional da Mulher Traba-lhadora da CUT. O problema é que o projeto já discutido pelas centrais sindicais, em Brasília, que criaria mecanismos de pro-moção da igualdade no local de trabalho, está difícil de entrar na pauta do Congresso Nacional. “O fato de prever algumas punições a empresas parece ser o grande empecilho, mas temos de ven-cer isso”, diz Maria Auxiliadora dos Santos, Secretária Nacional da Mulher da Força Sindical. As mulheres são as primeiras a per-der o emprego em momentos de crise e o trabalho que realizam continua sendo socialmente des-valorizado.

No 1º de Maio, as mulhe-res brasileiras costumam am-pliar seu leque de reivindicações para além do mundo do trabalho. “Se olharmos para trás vemos o quanto caminhamos: aumentou o espaço das trabalhadoras no mercado do trabalho, as mu-lheres estudam mais. Foram criadas a Secretaria de Políticas para Mulheres, a Delegacia da Mulher, a PEC das Domésticas e a Lei Maria da Penha”, enumera Maria Auxiliadora. “No entanto, ao examinarmos o presente ve-rificamos que temos muito a re-alizar para desfrutarmos de um futuro melhor.” Acompanhemos o raciocínio da sindicalista:

“O rendimento médio real por hora no mercado de trabalho da Região Metropolitana de São Paulo subiu mais para as mu-lheres do que para os homens na passagem de 2011 para 2012, conforme levantamento

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realizado pela Fundação Siste-ma Estadual de Análise de Da-dos (Seade) e pelo Departamen-to Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Die-ese). Para as mulheres, o valor por hora ficou em R$ 8,24 em 2012, alta de 5,8% ao verifica-do em 2011. Já para os homens passou a equivaler a R$ 10,70, avanço de 5,2% na mesma base de comparação. No entanto, a pesquisa mostra que essa pe-quena diferenciação no ritmo de crescimento dos rendimentos do trabalho pouco impactou na aproximação entre os rendi-mentos feminino e masculino: em 2011, o rendimento médio por hora das mulheres corres-pondia a 76,6% do recebido pelos homens, proporção que passou para 77% em 2012”, re-corda Maria Auxiliadora.

“Na pauta do que a gente considera uma agenda feminis-ta brasileira, além de igualdade salarial e de oportunidades no mundo do trabalho, temos outros temas, como o da violência con-

tra a mulher no país”, acrescenta Rosane. Mais de 92 mil mulhe-res foram assassinadas no país entre 1980 e 2010, segundo o Mapa da Violência publicado em 2012 pelo Centro de Estudos La-tino-Americanos (Cebela) e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), estan-do quase metade dessas mortes concentradas na última década. Em 2011, o Sistema de Informa-ção de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, registrou 70.270 atendimentos a mulheres vítimas de violência. A maioria delas tinha entre 15 e 29 anos e foi agredida por maridos ou namorados. No ano passado, dez mulheres foram vítimas de maus tratos a cada hora, segundo dados da Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180).

AS MULHERES TRABA-LHADORAS ESTÃO CANSADAS DE SEREM DEPRECIADAS E qUEREM MUITO MAIS. Lutam pela intensificação dos direitos sexuais e reprodutivos para as mulheres, pela legalização e

descriminalização do aborto, implantação de creches públi-cas de qualidade e em período integral por todas as cidades brasileiras, igualdade de res-ponsabilidades familiares para homens e mulheres e ampliação da participação das mulheres na política brasileira.

EMBORA TENHAMOS UMA PRESIDENTA NO COMAN-DO DA REPÚBLICA, A MULHER NÃO TEM AINDA UMA PRE-SENÇA EqUITATIVA NOS CAR-GOS DE CHEFIA NO PAíS, SEjA NA INICIATIVA PRIVADA SEjA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLI-CA, ASSIM COMO NA POLíTI-CA DE UMA MANEIRA GERAL. “Houve um avanço, mas ainda precisamos de muito mais”, confirma Maria Auxiliadora. “Na política foram estipulados 30% de participação feminina. Ok, os partidos estão abrindo para pre-encher esse percentual. No en-tanto, a mulher não tem, durante a campanha, o mesmo tempo de propaganda que é concedido ao homem na TV e no rádio. Falta

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Mulheres pedreiras, em

canteiros de obra, compõem

uma cena recente na

construção civil nas cidades brasileiras.

equidade nas próprias centrais sindicais. Existe a quota de 30% nas diretorias para as mulheres, que eu, como dirigente, sou con-tra, mas que é necessário man-ter até que aumente de fato o número de mulheres nesses car-gos. Em muitos sindicatos, além disso, a mulher ocupa cargos na diretoria, mas não os de decisão. Isso também precisa mudar.”

Paralelamente às questões trabalhistas, tanto Rosane como Maria Auxiliadora respondem às costumeiras críticas de homens e de algumas mulheres ao femi-nismo com a maior tranquilida-de. “O MODELO SOCIALISTA FEMINISTA É UM MODELO DE

IGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES. As pessoas têm uma opinião errada sobre ele por estarem sob a influência do modelo capitalista patriarcal, que oprime as mulheres”, explica Ro-sane. “Somos mulheres feminis-tas, não sexistas”, sintetiza Maria Auxiliadora. “Quando começou a luta das mulheres foi a forma de alguns segmentos levarem para o lado sexista, de mulheres contra homens. Mas a gente sabe que a luta das mulheres só vai avançar com a participação dos homens. A luta é pela igualdade de gêne-ro, buscando o homem para que participe e engrosse essa luta, porque ela é de todos.”.

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Continente do trabalho

O sociólogo Ricardo Antunes, autor do livro O Continente do Labor, fala da retomada do movimento

sindical da democratização da América Latina.

REYNALdO dAMAzIO

O sociológico Ricardo An-tunes é um dos mais respeitados especialistas sobre questões do trabalho no Brasil e no exterior. Tem obras traduzidas na Itália, Espanha, Argentina, Colômbia e Venezuela. Estudou o movimen-to operário e sindical no ABC paulista nas greves históricas de 1978/80 e hoje pesquisa as transformações dos modos de produção no mundo globalizado e neoliberal, a partir da crítica marxista. Nesta entrevista para Nossa América Hoy, Antunes traça um panorama do papel dos

movimentos operários na Améri-ca Latina, analisa as novas rela-ções de trabalho e defende uma retomada do “sentido de perten-cimento de classe”, temas de seu livro O Continente do Labor (editora Boitempo)

Nossa América Hoy – Em linhas gerais, qual a contribuição his-tórica dos trabalhadores e do movimento sindical para a de-mocratização da América Latina?Ricardo Antunes – Sua contri-buição foi decisiva. Nosso Conti-nente não teve, como nos países

clássicos, uma burguesia autô-noma, nacional e progressista. Ela nasceu como apêndice do processo de acumulação capita-lista no centro e foi sempre cau-datária, dependente e, no melhor dos casos, associada na condi-ção de parceira menor. ASSIM, TODOS OS AVANÇOS SOCIAIS, DE TALHE REFORMISTA OU REVOLUCIONáRIO, ENCON-TRAM IMPULSÃO E SUPORTE NAS FORÇAS SóCIAS DO TRA-BALHO qUE TIPIFICA O qUE DENOMINEI DE “O CONTINEN-TE DO LABOR”. São exemplos: a

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Revolução Antiescravista no Haiti, a Revolução Mexicana de 1910, a Revolução Cubana de 1959, den-tre as experiências de ruptura, e os momentos reformistas como os governos João Goulart, que só ocorreram pela forte pressão popular, no caso brasileiro, pelas reformas de base presentes em vários países da nossa América Latina. Por conta disso, como tanto nos ensinou Florestan Fer-nandes, nossas classes domi-nantes, escravistas, senhoriais, foram sempre prevalentemente contrarrevolucionárias, das quais a sucessão quase infindável de golpes militares é exemplar.

NAH – O que mudou nos modos de produção e no papel social e político da classe trabalhadora de meados do século XX aos dias de hoje?RA – Ensaiamos um período de reformismo “pelo alto” com Vargas, Perón e Cardenas, por exemplo, nos anos 1930, pauta-dos por um desenvolvimentismo nacionalista. Nestes exemplos, as classes populares alternaram suas ações entre a manipulação e a resistência; entre sujeição e revolta; dominação e rebelião. Depois da Revolução Cubana – e em reação a seu significado explosivo – vieram os golpes e o ciclo longo da “modernização capitalista” pela via das ditaduras militares: Brasil, Chile, Argentina, Uruguai, a lista é infindável. A classe trabalhadora, em sentido amplo, por meio dos sindicatos, partidos comunistas e socialis-tas, dos movimentos estudantis

etc., abraçou a luta pela demo-cratização. MAS, NEM BEM ES-SES MOVIMENTOS GANHAVAM DENSIDADE E VEIO A ERA DA DESERTIFICAÇÃO NEOLIBERAL. Chile, Argentina, México, Brasil; o que denominei como era da “desertificação neoliberal” de-sindustrializou nossos países, desorganizou as forças sociais e políticas do trabalho, privatizou acentuadamente as atividades públicas como educação, sanea-

mento, previdência e o tamanho do atoleiro latino-americano hoje é de grande monta.

NAH – Em suas pesquisas, você sempre trabalha muito bem com a dimensão da consciên-cia de classe diante da situação concreta dos modos de produ-ção e dos embates políticos. Nesse sentido, como avalia a visão que os trabalhadores têm hoje das transformações mate-

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riais e simbólicas do trabalho no contexto da globalização e do neoliberalismo? RA – Claro que o sistema de classes ficou mais complexo, há por vezes mais opacidade, mas as classes sociais estão presen-tes tanto nos países capitalistas avançados como no Brasil e tan-tos outros do Sul. E a Europa é parte desse mundo polarizado (e complexo) das forças sociais do capital e do trabalho, hoje em estado avançado de convulsão (veja-se a Grécia, Espanha, Por-tugal, dentre outros, em que vão e vêm as rebeliões, rebeldias e descontentamentos). Tudo isso recoloca um complexo proble-ma para os nossos dias, que é resgatar o “sentido de perten-cimento de classe”, marcado pela opacidade e pela nublagem. Os partidos, por exemplo, es-tão bastante desgastados, para dizer o mínimo, embora não se tenha criado alternativas dura-douras em outras direções. Os movimentos políticos e sociais extra-parlamentares e extrains-titucionais ganham força (indig-nados na Espanha, precari@s in-flexíveis em Portugal, ocupe Wall Stret, nos EUA, dentre tantos ou-tros), que encontram ancoragem na vida cotidiana, nas suas cone-xões com o mundo do trabalho e da vida, mas têm dificuldades em serem longevos e duradou-ros. Se a classe trabalhadora hoje é mais complexa e hetero-gênea do que aquela que vigorou durante o período de expansão do fordismo, o resgate do “sen-tido de pertencimento de clas-

se”, contra as inúmeras fraturas, objetivas e subjetivas, impostas pelo capital, é um dos seus de-safios mais prementes, é hoje seu desafio mais decisivo. Com a expansão do capital em escala global e a nova forma assumida

pela divisão internacional do tra-balho, as respostas do movimen-to dos trabalhadores latino-ame-ricanos assumem cada vez mais um sentido universalizante. A transnacionalização do capital e do seu sistema produtivo obriga

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ainda mais a classe trabalhadora a pensar nas formas internacionais da sua ação, solidariedade e de confrontação. E o neoliberalismo, com sua individualização exacer-bada, sua manipulação desme-surada e sua repressão acentu-

ada tornam o quadro ainda mais difícil e complexo. Mas, quem achava que as lutas haviam de-saparecido, está espantado com a intensidade e amplitude das lu-tas sociais hoje, que acentuam as transversalidades existentes entre

classe, gênero, geração, etnia etc. Praticamente todos os países latino-americanos industrializa-dos implementam processos de downsizing; flexibilização produti-va; desregulamentação da legisla-ção social do trabalho, mesclando aos novos processos produtivos baseados na acumulação flexível, ou no toyotismo, que se desen-volveu no capitalismo ocidental a partir dos anos 1970 e, na Améri-ca Latina, especialmente a partir dos anos 1980. E o processo de reestruturação articula a “supe-rexploração da força de trabalho”, com ramos produtivos dotados de um significativo padrão tec-nológico, intensificando as des-regulamentações, flexibilizações, terceirizações, em suma, aumen-tando a precarização da força de trabalho. Essa combinação foi fortemente ampliada nas últimas três décadas, de que as maqui-ladoras no México e na América Central são exemplares.

NAH – Qual a importância do Brasil ter elegido um operário e militante sindicalista para a pre-sidência, na história recente da América Latina, e quais os des-dobramentos políticos e sociais desta gestão?RA – No plano simbólico, é gran-de. Como digo no livro O Conti-nente do Labor, a vitória eleitoral e política de Lula e do PT teve um significado real e simbólico mui-to expressivo, pois que se tratou, pela primeira vez na história do Brasil, de uma candidatura de origem operária. Mas sua política acabou tendo sentido avesso ao Au

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que dele se poderia esperar: sua política econômica foi generosa para o capital financeiro; a con-centração da terra se manteve inalterada e de fato fortaleceu o agronegócio; o sentido público e social do Estado está sendo, pas-so a passo, desmantelado pelas parcerias público/privadas, forma “branda” das privatizações. ESTA NOVA REALIDADE ARREFECEU O “NOVO SINDICALISMO” E TROUXE INÚMERAS DIFICUL-DADES PARA AS ESqUERDAS. Basta ver o que se passou com o PT: do mais generoso partido de esquerda do Ocidente desde os anos 1980, converteu-se no que Marx denominou como “Partido da Ordem”. Gramsci, na mesma direção, caracterizou processos similares como “transformismo”.

NAH – Outros movimentos so-ciais vêm surgindo no Brasil e na América Latina, como o MST e a onda de ocupações públicas que trouxeram a debate ques-tões estudantis e de gestão lo-cal. Como avalia a contribuição desses movimentos para a crí-tica do sistema capitalista no Continente?RA – As lutas das populações indígenas na América Latina con-tra a “mercadorização” de bens como a água e os recursos ener-géticos são exemplos importan-tes das lutas sociais e políticas do Continente hoje. Isso para não falarmos das lutas urbanas, dos novos proletários da indústria e serviços, dos trabalhadores imi-grantes que migram não só no fluxo Sul-Norte, mas também no

fluxo Sul-Sul e mais recentemen-te Norte-Sul, vivenciando as agru-ras como padecem bolivianos na indústria têxtil de São Paulo, haitianos na agroindústria, entre outros. No Brasil, a ação do MST contra o agronegócio, os transgê-nicos e agrotóxicos, contra a pro-priedade fundiária, fez renascer os embates dos trabalhadores do campo, ampliando o seu signifi-cado. Por isso o MST tornou-se, nos anos 1990, o principal im-pulsionador das lutas sociais re-centes no Brasil. Como disse no livro acima referido, ainda que o MST encontre sua gênese no mo-vimento de trabalhadores rurais, o movimento incorporou traba-lhadores urbanos que pretendiam retornar para o campo, motivados pelo desemprego industrial.

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Reynaldo Damazio é sociólogo e jornalista, autor de Horas perplexas, entre outros livros.

NAH – Em seu livro O Continen-te do Labor (Editora Boitempo, 2011), há um breve panorama do sindicalismo na América La-tina. O que há de inovador nesse quadro e o que ainda traz ele-mentos das velhas estruturas sindicais que se consolidaram ao longo do século passado?RA – O primeiro é o esforço em superar alguns desafios cruciais, como romper a enorme barreira social que separa os trabalhado-res “estáveis” dos terceirizados, precarizados, subproletarizados, em significativa expansão. Os sindicatos devem empenhar-se fortemente na organização sin-dical destes trabalhadores, como procurou fazer recentemente na Argentina, a Central dos Traba-

lhadores Argentinos (CTA). Pro-curar compreender essa nova morfologia do trabalho, o que im-plica em articular as dimensões de classe, gênero, geracional e étnica, como disse anteriormen-te. COMO Há UM SIGNIFICATIVO PROCESSO DE FEMINIzAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA, ISSO OBRIGA OS SINDICATOS A AjUDAREM NA AUTO-ORGA-NIzAÇÃO DAS MULHERES TRA-BALHADORAS, frequentemente excluídas dos sindicatos pelos homens trabalhadores que pre-valeciam na fábrica fordista. Os sindicatos devem procurar des-vencilhar-se de todas as formas de corporativismo e neocorpora-tivismo que privilegiam suas res-pectivas categorias profissionais,

diminuindo ou abandonando os seus conteúdos mais acentua-damente classistas, não só dos corporativismos de tipo estatal, tão forte no Brasil, no México, na Argentina, mas também de um neocorporativismo societal crescentemente assimilado pelo sindicalismo contemporâneo. Algumas experiências do sin-dicalismo de base são também exemplos importantes dessa im-periosa necessidade de retomar a base social dos sindicatos e romper com o burocratismo e o institucionalismo exacerbados.

Trabalhadores de todos os segmentos procuram atualizar-se com as publicações sindicais.

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E COMO ESTá O OPERARIADOHOJE?Ruy Braga, autor do livro A política do precariado: do populismo à hegemonia lulista, comenta a estrutura sindical no Brasil.LEONOR AMARANTE

Nossa América Hoy – O sin-dicalismo brasileiro tem sido mais um fator de mudança ou de imobilismo? Onde está a re-beldia e a agressividade sindical dos anos 70 e 80?Ruy Braga – Para interpretar-mos a dinâmica sindical em um país com as características do Brasil, é necessário levar em consideração, ao menos, três fatores: • O modo de “reprodução do ca-pitalismo tardo-periférico” que se desenvolveu de maneira as-

sociada e dependente de inves-timentos forâneos oriundos do mercado mundial e que por isso mesmo tende a bloquear con-cessões materiais aos trabalha-dores, perpetuando as condições de produção do trabalho barato.• A “ESTRUTURA SINDICAL COR-PORATIVA” qUE, EM TERMOS PRáTICOS, TRANSFORMOU A MAIORIA DOS DIRIGENTES SINDICAIS EM FUNCIONáRIOS PÚBLICOS DE SEGUNDA CATE-GORIA RESPONSáVEIS POR AD-MINISTRAR E PROMOVER POLí-

TICAS ASSISTENCIALISTAS.• A marcante presença de um amplo contingente de “traba-lhadores informais, jovens, desqualificados - ou semi-qua-lificados -, sub-remunerados, inseridos em ocupações degra-dantes e submetidos a altas ta-xas de rotatividade do trabalho”.

Na medida em que a re-produção desse capitalismo tardo-periférico promoveu a “inquietação social” ao invés do consentimento operário à exploração econômica, os tra-

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balhadores mobilizaram-se politicamente a fim de alcan-çar e efetivar a promessa dos direitos da cidadania, a “utopia brasileira”, para usarmos uma expressão de Adalberto Cardo-so, ocupando terras urbanas e rurais, participando de greves consideradas “ilegais” pelo Es-tado, enfrentando a polícia e, naturalmente, pressionando o movimento sindical oficial a in-corporar suas demandas.

Essa dinâmica que repro-duz a tutela do Estado sobre os sindicatos em condições capi-talistas tardias transformou o sindicalismo brasileiro em, para empregarmos uma conhecida expressão de José Albertino Rodrigues, um fator de mudan-ça e de imobilismo. Em suma,

um movimento sindical pressio-nado por bases submetidas a baixíssimos salários, péssimas condições de trabalho e pou-ca proteção social, é obrigado a negociar com as empresas e com o governo pequenas concessões materiais a fim de responder à pressão social que vem “de baixo”. Ao mesmo tem-po, ele é incapaz de ultrapassar os limites da estrutura sindical, pois, basicamente, depende dela para sobreviver e, assim, age permanentemente como um agente de moderação das demandas dos trabalhadores.

O CICLO GREVISTA DE 1978-1980 NO ABC PAULISTA PARECEU ROMPER COM ESSE PADRÃO. Afinal, as lideran-ças políticas do “novo sindica-

lismo”, tendo Lula da Silva à frente, foram presas pela dita-dura militar e o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo passou por uma intervenção do regime. Em termos globais, podemos dizer que houve uma descontinuidade da relação da estrutura sindical com o movi-mento dos trabalhadores. No entanto, é preciso levar em con-sideração que essa descontinui-dade foi efêmera e logo a buro-cracia sindical de São Bernardo reconciliou-se com a estrutura, isto é, com o aparelho de Estado brasileiro do qual é o produto.

Olhando retrospectivamen-te, a rebeldia do final dos anos 1970, era menos da burocracia sindical – que, digamos clara-mente, nunca desejou promover

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e liderar greves –, mas das bases metalúrgicas, sobretudo, aque-le grupo formado pelos setores mais dominados e explorados das fábricas, isto é, os “peões”. Procuramos analisar a formação, a transformação e a precipitação da insatisfação operária com os salários e as condições de tra-balho no ABC no livro A política do precariado: do populismo à hegemonia lulista. E a conclusão é uma só: os peões do ABC expli-cam a liderança de Lula, mas Lula não explica a rebeldia e o ativismo dos peões do ABC.

Guardadas as diferenças, e estas são realmente grandes, hoje em dia um movimento grevista mais agressivo, cujas características globais asseme-lham-se àquelas encontradas no ABC no final dos anos 1970, começa a se insinuar no recente ciclo grevista das grandes obras do PAC: Jirau, Santo Antônio, Belo Monte, Suape, Comperj etc.

NAH – Como a classe operária brasileira consegue fazer um de seus representantes presidente da nação?RB – Durante muito tempo, Lula da Silva encarnou a pulsão ple-beia reformista alimentada por um movimento social florescente que buscou institucionalizar di-reitos da cidadania e cuja origem social pode ser bem localizada naquilo que Antonio Gramsci chamou de “bom senso” popu-lar. Ele alinhou-se a esse instin-to de classe, orientando-se por essa pulsão plebeia que deita raízes profundas na forma como

as relações de produção capita-listas reproduzem-se no Brasil. É isso que eu chamo de “política do precariado”. Daí sua populari-dade, como liderança sindical e como político profissional.

APóS A TRANSFORMA-ÇÃO DO PT EM UMA MáqUINA ELEITORAL, A VITóRIA ELEI-TORAL DE 2002 CRISTALIzOU ESSA IMAGEM EM UM PRESI-DENTE qUE TEVE A FORTUNA DE PILOTAR O ESTADO BRA-SILEIRO DURANTE UM CICLO ECONôMICO EXPANSIVO MUI-TO FAVORáVEL. O crescimento econômico e o fortalecimento de políticas públicas distributi-vistas somaram-se, finalmente, à fusão da alta burocracia sin-dical com o aparelho de Estado, consolidando aquilo que chamo de “hegemonia lulista”, isto é, uma relação social entre o con-sentimento passivo dos setores populares com o consentimento ativo das direções sindicais.

Parece-me que o sucesso internacional dos governos de Lula da Silva deve-se, sobretu-do, à combinação do momento econômico favorável com a con-solidação de, para utilizarmos a expressão popularizada pelo cientista político André Singer, um “reformismo fraco”. Ou seja, a combinação de crescimento econômico com desconcentração de renda entre aqueles que vivem do trabalho tornou-se muito se-dutora. Em especial, levando-se em consideração o atual contexto econômico internacional no qual predomina uma forte tendência de aumento das desigualdades.

NAH – Com a descentralização das indústrias e a migração constante de trabalhadores hou-ve um esmorecimento do movi-mento sindical?RB – Evidentemente, os anos 1990 foram muito difíceis para o movimento sindical brasileiro, em especial, se pensarmos na

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Basta comparar a definição de salário mínimo presente na Constituição de 1988 com o valor

do salário mínimo nacional para termos uma rápida noção da distância

existente entre a intenção e a realidade.

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Leonor Amarante é curadora e editora da revista Nossa América Hoy.Fo

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conjuntura econômica marcada pelo desemprego de massas. As empresas promoveram um ace-lerado ciclo de reestruturação produtiva que terceirizou, flexi-bilizou e precarizou o trabalho. Dois efeitos sobre o movimento sindical são mais salientes: re-cuo nas taxas de sindicalização e desmanche do militantismo de base em favor de um prag-matismo de cúpulas sindicais. Progressivamente, o movimen-to sindical foi abandonando a organização de suas bases nos locais de trabalho em favor de um projeto político orientado pela eleição de seus dirigentes a cargos políticos.

A eleição de Lula da Silva em 2002 coroou esse movimen-to que amadureceu nos anos 1990. A tese muito comentada, mas nunca totalmente explici-tada pelos sindicalistas, foi a de que somente com a conquista do governo federal o movimento iria readquirir sua força para enfren-tar as empresas em benefício dos trabalhadores. No entanto, esses dirigentes foram absorvidos pelo aparelho de Estado e pelos fun-dos de pensão, transformando-se em verdadeiros administrado-res do investimento capitalista no país. Ou seja, eles não represen-tam mais os interesses históricos dos trabalhadores, mas, sim, os interesses particulares de uma burocracia sindical que rapida-mente transforma-se em uma burguesia de Estado.

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e futebolChefe, operariado

“Quem negará ao futebol esse condão da catarse circense com que os velhos sabidos de Roma

lambuzavam o pão triste das massas? Não podendo xingar o patrão que o rouba, o operário xinga os juízes da partida e procura espancá-los,

como se o bandeirinha mais próximo fosse o procurador da prepotência do árbitro”.

Oswald de Andrade

Villa x Atlético, 1912

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O football foi introduzido no Brasil pelos ingleses, no final do século 19 e foi adotado pelas escolas americanas e inglesas no País, como o Mackenzie College, e no Clube Paulistano, ambos em São Paulo, e no Rio Cricket como disciplina de educação física. Até os anos 20 era praticado por uma elite que não permitia a entrada de jogadores negros e pobres. E o operariado estava longe dos estádios.

Ao lado, times do Botafogo de Futebol e Regatas em 1910, e do Sport Club Corinthians em 1914.

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de Maio refletiu na na cultura mundial

A classe operária vai ao paraísoDiretor: Elio PetriPaís de origem: ItáliaAno: 1971

O filme retrata a luta entre ca-pital e trabalho por meio da vida de Lulu Massa, um operá-rio vivido pelo ator Gian Maria Volonté. Lulu Massa trabalha duro para conseguir um bônus, garantido pelo sistema de co-tas institucionalizado pela fá-brica, que intensifica a produção e a exploração da mão de obra. A atitude de Lulu Massa, que se transforma num “operário-padrão”, desperta, porém, a antipatia dos colegas. No entanto, após perder um dedo num acidente de trabalho, Lulu Massa revê seus conceitos, adotando uma atitude crítica ao modelo de exploração e contestando o modelo de cotas, que inclui aí uma greve dos operários.

Cinema, teatro, literatura, artes plásticas e música produziram obras

memoráveis ao longo dos tempos. Pinçamos algumas delas.

TÂNIA RABELLO

CINEMA

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Norma RaeDiretor: Martin Ritt

País de origem: Estados Unidos

Ano: 1979

Em 1978, em uma cidade do Alabama, no Sul dos Estados Unidos, a maioria da população é ocupada em uma indústria têxtil, com péssimas condições de trabalho e sem sindicato formado para defender seus interesses. A histó-ria dos operários começa a mudar quando o sindicalista Reuben Warshowsky (Ron Leibman) chega à cidade, torna-se amigo de Norma Rae (Sally Field) e começa a influenciá-la para que se engaje na luta sindical, apesar de todos os riscos envolvidos.

A luta do povo Diretor:Renato TapajósPaís de origem: Brasil Ano: 1981

Partindo do enterro do operário Santo Dias, assassinado pela polícia num piquete de greve, um casal de moradores da periferia de São Paulo participa de diversos movimentos: luta contra a carestia, movimento de favelas, movimento da saúde. Documentário sobre as diversas lutas dos movimentos populares em São Paulo, no período 1978 - 1980, produzido pela Associação Popular de Saúde. Prêmio Glauber Rocha de Melhor Filme na Jornada Brasileira de Curta Metragem, Salvador, Bahia.

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Tempos modernosDiretor: Charles ChaplinPaís de origem: EUAAno: 1936

O “Vagabundo”, famoso personagem de Charles Cha-plin, tenta sobreviver em meio ao mundo moderno e industrializado. Trata-se uma forte crítica ao capitalis-mo e ao conservadorismo norte-americano. No filme, Chaplin tenta passar o momento histórico da máquina tomando o lugar do homem e a ascensão do consu-mismo.Tempos modernos retrata um trabalhador de fábrica que tem um colapso nervoso por trabalhar de forma repetitiva e quase escrava. O filme foi censurado na Alemanha e na Itália por suas críticas à social-democracia.

ABC da GreveDiretor: Leon HirszmanPaís de origem: BrasilAno: 1990Iniciado em 1979/1980 por Leon Hirszman e concluído em 1990 pela Cinemate-ca Brasileira, o diretor filmou no ABC paulista durante os anos de 1979 e 1980 as greves do Sindicato dos Metalúrgicos, comandado pelo então metalúrgico e agora ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva. ABC da Greve documen-ta a classe operária em confronto com os empresários e o regime militar que vigorava no Brasil na época.

Santo e jesus, metalúrgicosDiretores: Claudio Kahns e Antonio Paulo FerrazPaís de origem: BrasilAno: 1978-1983

“O assassinato de um operário, Nelson Pereira de Jesus, ocorrido em São Paulo em 1978, provoca uma investigação sobre os motivos e as condições de trabalho numa fábrica do bairro do Brás. Santo Dias, líder operário que tabalha no mesmo local narra os fatos que envolvem a morte de Nelson e dá sua visão política sobre a situação dos trabalhadores do Sindicato dos Metalúrgicos e outras questões. Em 1979 Santo Dias também é morto em um piquete por um soldado da Polícia Militar.”

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Braços cruzados, máquinas paradas Diretor: Roberto Gerwitz e Sergio ToledoPaís de origem: Brasil Ano: 1978

Três chapas disputam a direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, o maior da América Latina, com 300.000 associados, e presidido por um “pelego”, desde o golpe militar de 1964. Em meio às eleições, eclodem as primeiras greves operárias que iriam mudar o país. “Braços Cruzados, Máquinas Paradas” revela, em narrativa envolvente, como funciona a estrutura sindical brasileira, de inspiração fascista. É também o primeiro documentário de longa-metragem sobre as chamadas “greves espontâneas”, ocorridas em São Paulo, 10 anos após a decretação do AI-5. Tais greves, que culminaram em um amplo movimento social que traria de volta a democracia ao país, estão na base dos acontecimentos que levaram à eleição do primeiro presidente operário da América Latina.

Greve!Diretor: João Batista de AndradePaís de origem: BrasilAno: 1979

Documento histórico e crítico de João Batista de Andrade, narra os principais aconteci-mentos da greve dos meta-lúrgicos do ABC paulista, em março de 1979, contextua-

lizando os acontecimentos com o momento político brasileiro. Naqueles dias o sindicato esteve sob intervenção, e Luiz Inácio Lula da Silva (que mais tarde viria a se tornar presidente do Brasil) e outros dirigentes haviam sido afastados. Entrevistas com o interventor do sindicato, com operá-rios, cenas de seu cotidiano e das assembleias.

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ARTES PLáSTICAS

Tarsila do Amaral, de volta de uma viagem à União Soviética, após ser presa em consequência de seu interesse pelo socialismo, inicia uma fase de teor social, representado nesta obra de 1933. Além de ter estado na União Soviética, no Brasil, a pintora brasileira participava de reuniões do Partido Co-munista Brasileiro. Assim, tanto a política quanto a temática do trabalho fizeram parte de ambas as obras. No início dos anos 1930, o Brasil passava por intensa industrialização, migração de trabalha-dores e consolidação do capitalismo industrial, além de uma classe de trabalhadores marginalizada e explorada. É isso o que retrata o quadro – operários sérios, extenuados, sem um sorriso sequer.

Operários e Segunda ClasseTarsila do AmaralAno: 1933

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LITERATURAO livro dos abraçosAutor: Eduardo GaleanoEditora: L&PM

Neste livro, que é resultado das andanças pelo mundo do autor uruguaio – célebre pelo livro As veias abertas da América Latina –e seu olhar sobre a vida e a construção das cidades, há um capítulo em que o autor está em Chicago, EUA. E questiona, no artigo intitulado “O 1º de Maio nos Estados Unidos”, a total indiferença dos norte-americanos em relação à data, justamente no país que motivou a comemoração. Escreve Galeano, após constatar que seus amigos norte-americanos não sabem mostrar o local onde foram enforcados, em 1886, os operários que o mundo inteiro saúda a cada Primeiro de Maio. “Não foi erguida nenhuma estátua em memória dos mártires de Chicago nem na cidade de Chicago. Nem estátua, nem monolito, nem placa de bronze, nem nada”, indigna-se Galeano, que continua: “O primeiro de maio é o único dia verdadeiramente universal da humanidade inteira, o único dia no qual coincidem todas as histórias e todas as geografias, todas as línguas e as religiões e as culturas do mundo; mas nos Estados Unidos o Primeiro de Maio é um dia como qualquer outro. Nesse dia, as pessoas trabalham normalmente, e ninguém, ou quase ninguém, recorda que os direitos da classe operária não brotaram do vento, ou da mão de Deus ou do amo.”

Primeiro de maioOrganizadora: Marisa LajoloEditora: Imprensa Oficial do Estado

Este livro reúne textos e poesias de vários autores sobre o Primeiro de Maio, incluindo aí um texto do modernista Mário de Andrade. Além dele, Lourenço Diaféria, Carlos Vogt, Monteiro Lobato – no qual a organizadora é especialista –, Nilza Amaral, Olavo Bilac e Oliveira Silveira. No site da Imprensa Oficial do Estado, a resenha do livro comenta: “Nada mais justo, portanto, do que celebrar o Dia do Trabalho, compartilhando o trabalho de alguns trabalhadores com outros trabalhadores: os que escreveram os textos deste livro, os que fizeram e cortaram o papel que compõe suas folhas, os que operaram as máquinas que o multiplicaram e muitos outros mais”.

Contos novosAutor: Mário de Andrade

Neste livro, um conto, “Primeiro de Maio”, conta a história de “35”, um operário se preparando para a data. Eis um trecho do conto: ” Uma indecisão indiscreta o tornou consciente de novo que era o Pri-meiro de Maio, ele estava celebrando e não tinha o que fazer. Bom, primeiro decidiu ir na cidade pra assuntar alguma coisa. Mas podia seguir por aquela direção mesmo, era uma volta, mas assim passava na Estação da Luz dar um bom-dia festivo aos companheiros trabalhadores. Chegou lá, gesticulou o bom-dia festivo, mas não gostou porque os outros riram dele, bestas.

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MÚSICA

Construção – Chico Buarque (1971)

Fábrica – Renato Russo (1986)

Cidadão – Lucio Barbosa (1992)

Admirável Gado Novo – Zé Ramalho (1979)

Linha De Montagem – Chico Buarque (1980)

Classe Operária – Tom Zé (2003)

Vida De Operário – Bezerra Da Silva (1988)

Pedro Pedreiro – Chico Buarque (2000)

Operário Vida Viola – Chico Rey e Paraná (1983)

Primeiro de maio – Milton Nascimento e Chico Buarque (1977)

A Vida De Operário – Teixeirinha (1991)

Subúrbio Operário – Mau (1997)

Vida De Operário – Falcão e Ex (1990)

Músicas inspiradas no 1º de maio

Gonzaguinha, João e Elis Regina no show em 1º de maio de 1979, em São Bernardo do Campo

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Coma MéxicoMonte seu roteiro para experi-mentar ou saborear a rica co-mida que vem do México, com dois dos mais conceituados restaurantes especializados da capital paulistana.

HabañeroO nome do restaurante vem da pi-menta Habañero, de origem cuba-na. Foi fundado em fevereiro de 2007, em Santana. Seu foco é a baixa gastronomia das Américas, com ênfase na culinária mexicana. Por ser temático se diferencia dos demais – atendimento descon-traído, comida típica etc. Seu chef, Reginaldo Bernardino Lima, trabalhou por 22 Anos no Hotel Ca’d’Oro e tem conhecimentos em cozinhas internacionais. Entre os pratos principais, ele sugere fajitas e quesadillas. Serviço: Rua Alfredo Pujol, 1765 ( Esquina com Rua Maria Curupaiti)Fone: 2950-8219 / 3586-0973

ObáEmbora seja um restaurante de comida caseira dos quatro cantos do mundo, como seus donos se definem, a cozinha mexicana é o seu forte. O cardápio foi inspirado nas expe-riências dos sócios e do Chef Henrique Benedetti em diversos países. Surpreende ao harmoni-zar o tempero original de pratos clássicos do México, do Brasil, da Itália e da Tailândia.Serviço: Endereço: Rua Melo Alves nº 205Jardins – Zona SulTeléfone: 3086-4774

América Latina em São Paulo

Beba MéxicoExistem diversas opções de bares para se saborear tequila e outras bebidas mexicanas, além de petiscos saborosos de sua culinária

A cada edição a revista Nossa América Hoy foca um país da região.

Abrimos a série com o México.SIMONE LOzANO

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Bar SíSeñor– HigienópolisDestaques para os tacos, “que-sadillas”, “burritos” e outros clássicos da culinária mexicana, além de lanches e porções com um toque “tex-mex”. A casa tem decoração rústica e clima de bar no jantar. As “fajitas” aparecem em quatro versões, como a de filé-mignon.Serviço: Endereço: Rua Arman-do Penteado, 18 - Higienópolis -São Paulo - SPTelefone: (11) 3476 2538Site: http://www.sisenor.com.br/

Peppers BarTem vários ambientes, inclusi-ve área ao ar livre. As paredes são coloridas e decoradas com objetos trazidos de viagens ao México. Para petiscar, os tradicionais tacos acompanha-dos de molhos especiais. Além de cervejas mexicanas, também oferece drinks diferentes, como uma releitura de Margarita com licor de diversos sabores. Serviço:Rua Domingos de Moraes, 2330 Vila MarianaTel: (11) 5573-4733

Visite MéxicoVá ao Museu Nacional de AntropologiaUm dos lugares mais fascinan-tes da capital mexicana, espaço emociona seus visitantes pelo modo como trata o passado das civilizações pré-colombianasQuem vai ao México precisa conhecer o Museu Nacional de Antropologia, um monumental espaço construído para res-gatar objetos e a história das populações que ali viveram antes da chegada de Cristóvão Colombo. O museu é consi-derado o maior da América Latina e um dos mais visitados do planeta. São quatro edifí-cios instalados no Bosque de Chapultepec. Recomenda-se seguir o roteiro de acordo com a disposição dos prédios e das salas. Assim, aprende-se, nas primeiras salas, uma intensa e interessante viagem ao tem-po. É tão detalhado que se vê, a princípio, os mamutes que

conviviam com os ancestrais latino-americanos. Seguem-se objetos de antigas civilizações e informações sobre a ocupa-ção populacional da região, as primeiras cidades etc.Serviço:Avenida Paseo de la Reforma com rua Gandhi, s/nº, do Bos-que de Chapultepec, De terça a domingo, das 9h às 19h. www.mna.inah.gob.mx.

Confira também o Museu Frida kahlo

O Museu Frida Kahlo, também

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conhecido como a Casa Azul, localiza-se na rua Londres, 247, bairro de Coyocán, Cidade do México. Trata-se da antiga re-sidência da famosa pintora me-xicana, sendo a casa onde ela nasceu, em 1907, viveu grande parte de sua vida e morreu, em 1954. A Casa Azul foi constru-ída em 1904, três anos antes do nascimento da pintora e foi convertida em museu em 1958, quatro anos após a morte da artista e, naturalmente, em sua homenagem. O museu possui fotografias, antigos pertences, móveis etc. de Frida e de seu marido, Diego de Rivera (tam-bém pintor), com quem teve um conturbado casamento. Ademais, o Museu Frida Kahlo é decorado com arte popular mexicana e reúne algumas obras do casal de pintores, sobretudo quadros de Frida.

México na telaTrês grandes filmes contam a história mexicana ou de seus ricos personagens e servem como forma divertida de apren-der mais sobre aquele país.

Frida (2002)Frida Kahlo (Salma Hayek) foi um dos principais nomes da história artística do México. Conceituada e aclamada como pintora, teve também um casa-mento aberto com Diego Rivera (Alfred Molina), seu compa-

nheiro também nas artes, e ain-da um controverso caso com o político Leon Trostky (Geoffrey Rush) e com várias outras mulheres. Dirigido por Julie Taymor. Elenco: Salma Hayek, Alfred Molina, Diego Luna. Gênero: Drama. Nacionalidade: Canadá/México/ EUA

Pancho Vila (2003)Janeiro, 1914, Forte Lee, Nova Jersey, capital mundial do cinema. O diretor D.W. Griffith (Colm Feore) fica sabendo que o revolucionário mexicano Pancho Villa (Antonio Banderas) está oferecendo os direitos exclusivos ao estúdio de cinema que tiver interesse em filmar seu exército revolucionário em ação contra as forças federais do despótico presidente do México, Victoriano Huerta (José Concepción Mací-as). Dirigido por Bruce Beres-ford. Com Antonio Banderas, Eion Bailey, Alan Arkin. Gênero: Aventura. Nacionalidade: EUA.

Amores brutos (2000)Marco do cinema mexicano, o filme entrelaça, em um aci-dente de carro, várias histórias pessoais: Octavio, o dono de um cão de rinha, que sonha em fugir com a cunhada Susana; Daniel que abandona a esposa para viver com a modelo Vale-ria Maya e um mendigo, Chivo, que busca voltar à família. Direção de Alejandro González Inárritu. Com Gael García Ber-nal, Dagoberto Gama. Gênero: drama. País de origem: México.

Leia MéxicoO búfalo da noiteDe Guilhermo ArriagaEditora GriphusConta a história de um triângulo amoroso, à beira da loucura, da morte, da destruição. Gregório, um adolescente extremamente sensível, para quem a realida-de é algo insuportável, decide acabar com sua vida, e desen-cadeia o desespero e a angústia nas vidas de Tânia, sua ex-noiva e de Manuel, seu melhor amigo - marcados pelos sentimentos de culpa e traição. A Cidade do México é o cenário onde es-tes personagens buscam uns aos outros para sobreviver ao desespero que os invade. O fan-tasma de Gregório os empurra para o abismo, a desafiar todas as convenções sem temer pagar o preço por fazê-lo.

Informações consulares

Consulado Geral do México em São Paulo, SPRua Holanda, 274, Jardim Europa.Cep: 01446-030Telefone: (0xx11) 3576-5400 Fax: (0xx11) 3576-5408 [email protected]://portal.sre.gob.mx/saopaulo/

Simone Lozano é publicitária e chefe da Divisão de Estratégias de Marketing do Memorial da América Latina.

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Dia do Trabalhotema da programação

do Memorial Para comemorar o dia 1º

de Maio e prestar sua home-nagem à classe trabalhadora, o Memorial da América Latina elaborou uma programação es-pecial para este mês. Cinema, teatro, artes plásticas, cada uma dessas linguagens artísticas abordarão o tema, que, no pas-sado, despertou movimentos acalorados no mundo, particu-larmente na América Latina. Até 26 de maio, por exemplo, a GA-LERIA MARTA TRABA apresen-tará uma exposição iconográfi-ca da luta dos trabalhadores no Brasil, contando por meio de textos, poesias e fotos os fatos mais marcantes da história do dia 1º de Maio e das mobiliza-ções operárias. Organizada em parceria com a Imãfotogaleria, paralelamente, a mostra expõe obras de fotógrafos como o carioca José Roberto Ripper, cujo olhar se notabilizou por captar cenas de desrespeito aos direitos humanos. Do cinema, entram em cartaz alguns expo-entes da produção nacional e internacional, como o emble-mático e premiado LA HORA DE LOS HORNOS, DOS ARGENTI-NOS FERNANDO SOLANAS E

OCTAVIO GETINO, de 1968, que estreou oficialmente em 1973 por conta do cenário político e documenta o neocolonialismo e a violência no país durante a ditadura militar do general Juan Carlos Onganía Carballo. Caso também de A CLASSE OPERá-RIA VAI AO PARAíSO, PRODU-ÇÃO DE 1971, DE ELIO PETRI, ITáLIA, em que um operário “padrão”, depois de um aciden-te na fábrica, passa a confron-tar o rígido sistema de metas adotado pela corporação. E de outro importante título da cine-matografia, o francês A NóS A LIBERDADE, DE RENÉ CLAIR, 1931, sobre a história de dois amigos, presidiários, que con-seguem fugir, um se torna dono

de uma linha de montagem, o outro operário, e ambos deci-dem-se pela liberdade absolu-ta num desfecho inusitado. Da área teatral, chega ao palco do Auditório Simón Bolívar, entre outras peças, um dos ícones da dramaturgia dos anos 1950 no Brasil, ELES NÃO USAM BLACk TIE, qUE GIANFRAN-CESCO GUARNIERI ESCREVEU EM 1958 PARA O TEATRO DE ARENA, uma reflexão sobre as difíceis condições da vida ope-rária, e que traça um panorama acurado do abismo social que marcou a sociedade brasileira.(Para conferir a programação completa, dias e horários das sessões, consulte o folder e o site do Memorial ).

Cena do filme A Nós a Liberdade, de René Clair, 1931.

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Imagem da edição

Foto de Pedro Martinelli registrada em 1º de maio de

1971, no jogo entre Palmeiras e Guarani,

no campo do Palmeiras

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Nossa A

mérica hoy

leia

www.memorial.org.br

a nova revista do novo Mem

orial

OnLine