nós, os deuses - trecho

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Conhecido mundialmente pela série best-seller O Império das Formigas, que vendeu mais de um milhão de cópias somente na França, Bernard Werber apresenta mais uma trilogia: O Ciclo dos Deuses. Neste primeiro volume, Nós, os Deuses, a história se passa numa estranha escola na Ilha de Aeden, em que os professores são nada mais nada menos que os doze deuses do Olimpo.

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Page 1: Nós, os Deuses - Trecho

Nós, os Deu ses

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Page 2: Nós, os Deuses - Trecho

Do Autor

TrilogiA

o iMPÉrio DAS ForMigAS

As Formigas

Vol. 1

O Dia das Formigas

Vol. 2

A Revolução das Formigas

Vol. 3

TrilogiA

o CiClo DoS DeuSeS

Nós, os Deuses

Vol. 1

O Sopro dos Deuses

Vol. 2

O Mistério dos Deuses

Vol. 3

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Page 3: Nós, os Deuses - Trecho

Bernard Werber

o Ciclo dos Deuses

Nós, os Deu ses

Volume 1

Tradução Jorge Bastos

Rio de Janeiro | 2014

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Page 4: Nós, os Deuses - Trecho

Preâmbulo

Não teriam sido as mais fero zes civi li za ções, e não as mais requin ta das, que dei xa ram suas mar cas na his tó ria huma na? olhando com aten ção, as cul tu ras desa pa re ci das não eram em abso lu to as menos evo luí das. Basta, às vezes, que um chefe inge nua men te se enga ne com as pro mes sas de paz dos adver - sá rios ou, senão, que aca sos meteo ro ló gi cos revi rem o rumo de uma bata lha e o des ti no de um povo intei ro pode se trans - for mar. os his to ria do res do campo ven ce dor sem pre rees- cre ve ram, como bem qui se ram, o pas sa do dos der ro ta dos, jus-ti fi can do sua ani qui la ção. A fór mu la “ danem-se os ven ci dos” liqui da todo e qual quer cons tran gi men to para as gera ções fu- tu ras e encer ra o deba te. encontrou-se, inclu si ve, uma legi ti- ma ção cien tí fi ca para tais mas sa cres, com a “sele ção natu ral” de Darwin e a teo ria da “sobre vi vên cia dos mais aptos”. Assim se fez a his tó ria dos huma nos na Terra, basea da em car ni fi ci nas e trai ções esque ci das. Quem assis tiu a isso? Quem sabe, real men te, o que se pas sou? encontrei ape nas uma res pos ta: “o” ou “os” deu ses, à con-di ção, é claro que “ele” ou “eles” exis ta(m).

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8 BerNArD WerBer

Tentei ima gi nar esses tes te mu nhos dis cre tos. Deuses obser-van do a huma ni da de buli ço sa, como ento mo lo gis tas escru tam for mi gas. Se deu ses exis ti rem, qual terá sido a sua edu ca ção? Tudo evo lui. Como teriam pas sa do da juven tu de à idade madu ra? Como inter vêm? Por que se inte res sa riam por nós? Busquei res pos tas em tex tos sagra dos, indo do livro dos mor tos tibe ta no ao Livro dos mor tos egíp cio, pas san do pelo xamanismo e pelas gran des cos mo go nias dos povos dos cinco con ti nen tes. Todos for ne cem infor ma ções que só muito rara-men te se con tra di zem. Tudo se passa como se exis tis sem, de um lado, uma per cep ção cole ti va da dimen são que nos ultra pas sa, e, de outro, regras esta be le ci das para o jogo cós mi co. Filosofia e ciên cia sem pre se opu se ram. Para mim, no entan to, elas se jun tam no que se pode cha mar “espi ri tua li da de laica”, na qual impor tam mais as per gun tas do que as res pos tas. Quanto ao res tan te, dei livre curso à ima gi na ção. A meu ver, Nós, os deu ses se colo ca como o pro lon ga men to natu ral de meus livros ante rio res Tanatonautas e O império dos anjos. Após a con quis ta do Paraíso e a des co ber ta do mundo ange li cal, era lógi co o nível de evo lu ção supe rior ser, pre ci sa-men te, o dos deu ses... Por essa razão, Michael Pinson, assim como seu estra nho amigo raul razorback, Freddy Meyer, Marilyn Monroe, todos os ex-tanatonautas/ ex-anjos, reu ni dos sob o slo gan “o amor como espa da, o humor como escu do”, estão aqui de volta. Deixei-me levar por esse mundo ima gi ná rio, como num sonho des per to e, à noite, con ti nua va a viver cer tas cenas. Trabalhei ouvin do mui tas tri lhas sono ras de fil mes, sobre-tu do as de O senhor dos anéis, Duna e Fernão Capelo Gaivota. Juntaram-se ainda as nove sin fo nias de Beethoven, Mozart, grieg, Debussy, Bach, Samuel Barber e a sin fo nia Os Planetas,

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de gustav Holst, no que se refe re aos clás si cos. Pelo lado do rock, Mike oldfield, Peter gabriel, Yes, Pink Floyd. Quando falei de meu pro je to a meu edi tor, ele se entu-sias mou com essa cria ção mundial. resultado: mais de mil pá gi nas, que cons ti tuirão três volu mes. No fim da busca ini ciá ti ca de meu herói: o encon tro com o Criador do uni ver so. Talvez vocês, nesse momen to, também façam a si mes mos a per gun ta: “e eu, se esti ves se no lugar de Deus, o que faria?”

Bernard Werber

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1. eNCi Clo PÉ DiA: No CoMeÇo

... Nada. No começo, não havia nada. Nenhum bri lho per tur ba va o escu ro e o silên cio. Por todo lugar era o Vazio. Era o reino da pri mei ra força. A força “N”: a força Neutra. Mas o Vazio sonha va em se tor nar algu ma coisa. Então, apa re ceu uma péro la bran ca em pleno espa ço infi ni to: um Ovo Cósmico por ta dor de todas as poten cia li da des e de todas as espe ran ças. Esse Ovo come çou a se rachar...

Edmond Wells, Enciclopédia dos sabe res rela ti vo e abso lu to, tomo V.

2. QueM Sou eu?

outrora fui mor tal. em segui da, fui anjo. e agora, o que serei?

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3. eNCi Clo PÉ DiA: No CoMeÇo (con ti nua ção)

... E o Ovo Cósmico explo diu. Isto acon te ceu no ano 0, mês 0, dia 0, 0 hora, 0 minu to, 0 segun do. A casca do ovo pri mor dial partiu-se em 288 peda ços, pela

segun da força. A força “D”, a força de Divisão. Da defla gra ção bro ta ram luz, calor e uma vasta nuvem de

poei ra, espa lhan do-se num sal pi car colo ri do pelas tre vas. Um Novo Universo havia nas ci do. Espalhando-se, as par tí cu las se puse ram a dan çar a sin fo nia

do tempo que come ça va a cor rer...

Edmond Wells, Enciclopédia dos sabe res rela ti vo e abso lu to, tomo V.

4. CHe gA DA

eu voava. Puro espí ri to, atra ves sei o espa ço à velo ci da de do pen sa men to. Deixei o impé rio dos anjos, mas para ir aonde? Planei sua ve men te. À minha fren te, uma luz. ela fas ci na va minha alma. Senti-me como a bor bo le ta atraí da pela chama. Descobri um pla ne ta iso la do no vazio side ral. um pla ne ta com dois sóis e três luas. entrando em sua atmos fe ra, minha alma foi aspi ra da pela super fí cie.

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Caí. Surpresa: faltava-me sus ten ta ção. A gra vi da de me puxa va. embaixo, o ocea no se apro xi mou, vindo rápi do ao meu encon tro. Durante a des ci da, solidifiquei-me. Minha pele se opa ci-fi cou. Primeiro meus pés, em segui da as per nas, os bra ços e o rosto. onde havia um invó lu cro trans lú ci do, pas sou a ter uma pele rosa da e opaca. Meus dedos dos pés sen ti ram um cho que. Com gran de rebu li ço, rompi o espe lho tur que sa. estava sob a água. era frio, gru den to, desa gra dá vel. eu sufo ca va. Asfixiava-me. o que esta va acon te cen do? Precisava de... ar. Debati-me. Devia subir com urgên cia. A água sal ga da fazia arder meus olhos. Cerrei as pál pe bras. Fiz um esfor ço. emer gi, enfim, à super fí cie, engo li uma enor me quan ti da de de ar e, ali-via do, con se gui man ter a cabe ça fora da água. eu res pi ra va! Veio-me, de iní cio, uma sen sa ção de pâni co, que se tor nou, em segui da, quase agra dá vel. esvaziei os pul mões e os enchi nova men te de ar. Aspiração, expi ra ção. isso me lem bra va a pri mei ra baforada de ar de meu últi mo nas ci men to huma no. o ar, a droga ori gi nal à qual é impos sí vel não recor rer. Meus alvéo los pul mo na res se infla ram como se cada um fosse uma peque na bexi ga. Abri os olhos e per ce bi o céu. gostaria de voar alto, em dire ção às nuvens, mas era pri sio nei ro da gra vi da de. Sentia a carne ao redor de minha alma, e ela pesa va. Senti a rigi dez dos ossos, a sen si bi li da de da pele, e uma ideia apa vo-ran te me inva diu. Tive medo. eu não era mais um anjo. Teria vol ta do a ser um “huma no”?

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5. eNCi Clo PÉ DiA: No CoMeÇo (con ti nua ção)

... Poucos segun dos tinham pas sa do, e algu mas des sas par tí cu las se aglo me ra ram, leva das pela ter cei ra força.

A força “A”, a força da Associação. As par tí cu las Nêutrons, repre sen tan do a força Neutra, se

liga ram às par tí cu las Prótons, car re ga das posi ti va men te, para for mar um núcleo. As par tí cu las Elétrons, car re ga das nega ti va men te, gra vi ta ram ao redor desse núcleo, dando-lhe per fei to equi lí brio.

As três for ças jun tas tinham encon tra do seus luga res e dis-tân cia, para for mar uma enti da de mais com ple xa, pri mei ra repre sen ta ção do poder de Associação: o Átomo. A par tir daí, a ener gia se trans for mou em maté ria.

Foi o pri mei ro salto evo lu ti vo. Essa maté ria, no entan to, sonha va em ter aces so a um

está gio supe rior. Foi como apa re ceu a Vida. A Vida era a nova expe riên cia do Universo, e ela ins cre veu

em seu cora ção a marca daque las três for ças (Divisão, Neutralidade, Associação) que a com pu nham, usan do suas três ini ciais: D.N.A.

Edmond Wells,

Enciclopédia dos sabe res rela ti vo e abso lu to, tomo V.

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6. NA CArNe

Como é difí cil vol tar a ser mate rial tendo sido um puro espí ri to. Como pesa. eu tinha esque ci do. Por baixo da carne, senti agitarem-se ner vos, tubos e sacos gar ga re jan tes. Senti bater o cora ção, a sali va refres car a gar gan ta. experimentei deglu tir. Bocejei com exa ge ro, mos tran do meus den tes novos em folha. Tossi repe ti da men te. Testei o maxi lar. Apalpei-me. De fato, esta va empos sa do de um corpo, como quan do era um huma no mor tal na Terra. e esta va ouvin do com meus ouvidos e não mais com a alma. Já que não era mais capaz de voar, nadei. Que meio de loco-mo ção difí cil! É lento e can sa ti vo. Afinal, à distância, dis tin gui uma ilha.

7. eNCi Clo PÉ DiA: No CoMeÇo (fim)

... Mas a Vida não era o resultado final de expe riên cia para esse uni ver so recém-nascido. A pró pria Vida sonha va em che gar a um está gio supe rior. Começou, então, a pro li-fe rar, diver si fi car-se, ten tar expe riên cias com for mas, cores, tem pe ra tu ras e com por ta men tos. Até o momen to em que, de tanto expe ri men tar, a Vida encon trou o ca di nho ideal para dar pros se gui men to à sua evo lu ção.

O Homem. Colocado numa estru tu ra ver ti cal com pos ta por duzen tos

e oito ossos, o Homem era uma cama da de gor du ra,

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uma rede de veias e mús cu los envol vi da por uma pele espes sa e elás ti ca. O Homem, além disso, era dota do, em sua parte supe rior, de um sis te ma ner vo so cen tral com desem pe nho bas tan te par ti cu lar, plu ga do em recep to res visuais, audi ti vos, táteis, gus ta ti vos e olfa ti vos.

Com o Homem, a Vida pôde des co brir a expe riên cia da Inteligência. O Homem cres ceu, pro li fe rou, con fron tou-se com outros ani mais e com seus seme lhan tes.

Ele os Dominou. Ele os Negligenciou. Ele os Amou. A Vida, no entan to, sonha va em ter aces so a um outro

está gio supe rior. E pôde come çar a seguinte expe riên cia: A Aventura da Consciência. Ela se ali men ta va ainda e inces san te men te com essas três

ener gias pri mor diais: A Dominação. A Neutralidade. O Amor.

Edmond Wells,Enciclopédia dos sabe res rela ti vo e abso lu to, tomo V.

8. uMA ilHA

Cheguei à praia. Tudo em mim doía. Todos os meus ossos. Todos os meus mús cu los. Todas as minha jun tas. Caí, esgo ta do por ter nada do tanto tempo. Sentia frio e tos sia. ergui a cabe ça para saber onde esta va. era uma praia de areia clara e fina, cober ta por uma espes sa bruma, dei xan do entre ver ape nas

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tron cos de coquei ros. Mais adian te, pelo maru lho das ondas, ima gi nei penhas cos abrup tos entran do mar aden tro. eu tre mia, sem for ças e per di do. Voltava, insis ten te, à per gun ta que aca len-tara toda a minha vida: “Mas, afi nal... O que estou fazen do aqui?” odores mari nhos e vege tais che ga ram a mim, repentina-mente. eu tinha esque ci do que podia chei rar com o nariz. Mil aro mas me envol ve ram. o ar morno esta va satu ra do de iodo, de per fu mes flo rais, pólen, relva e espu ma do mar. Também de coco, bau ni lha e bana na. um sabor ado ci ca do se acres cen ta va a eles, tal vez o do alca çuz. Abri bem os olhos. estava numa ilha, num pla ne ta iso la do. No hori zon te, não distinguia mais terra algu ma. Além dos ve- ge tais, have ria outra forma de vida ali? uma for mi ga res pon deu à per gun ta, esca lan do meu dedão do pé. Apenas uma. Peguei-a, para olhá-la bem de perto. ela agi ta va as ante nas, ten tan do des co brir o que esta va acon te-cen do, mas eu sabia que dis cer nia ape nas uma forma gigan tes ca e ro sa da. — onde esta mos? As ante nas se inclinaram ao som da minha voz. Para ela, eu era uma mon ta nha morna, cujo res pi rar per tur ba va seus recep-to res olfa ti vos. Devolvi a for mi ga à areia, e ela se foi, em zigue- za gue. Meu mes tre edmond Wells era um espe cia lis ta nes ses inse tos. Poderia, tal vez, me ensi nar como me comu ni car com eles. Mas eu esta va sozi nho ali. Foi quan do um urro ras gou o ar. um urro huma no.

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9. eNCi Clo PÉ DiA: DiAN Te Do DeS Co NHe Ci Do

O que mais assus ta o Homem é o Desconhecido. Assim que o Desconhecido, mesmo que adver so, é iden ti fi ca do, o Homem se sente mais segu ro. Mas “não saber” dis pa ra seu pro ces so de ima gi na ção. Em cada um surge seu demô nio inte rior, o “pior de si”. Acre di tando enfren tar as tre vas, ele enfren ta os mons tros fan tas ma gó ri cos do seu incons cien te. No entan to, é no momen to mesmo em que o ser huma no encon tra um fenô me no novo não iden ti fi ca do que seu espí-ri to fun cio na melhor, em seu mais alto nível. Ele man tém o foco. Mantém-se des per to. Com todas as suas facul da des sen so riais, ele pro cu ra com preen der para repre sar o medo. Descobre, em si, talen tos insus pei tos. O des co nhe ci do o fas ci na e exci ta ao mesmo tempo. Ele o teme e, simul ta nea-men te, o dese ja, na expec ta ti va de o cére bro con se guir encon trar solu ções para se adap tar. Enquanto ino mi na da, qual quer coisa dis põe de gran de poder de desa fio para a huma ni da de.

Edmond Wells, Enciclopédia dos sabe res rela ti vo e abso lu to, tomo V.

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