normas sociais e normas linguísticas numa abordagem multidisciplinar

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ISSN 1807-9083 R e v s t a P I u r a I 5 v. 2 n. 1/2 julho/dezembro, 2005 O ciLfeyeVvte fC{LC{ .•... '10 E ~ O X üJ UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIADE CIÊNCIASSócio-EcONÔMICAS E HUMANAS UNUCSEH ANÁPOLlS 2005

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Este artigo se propõe a analisar a questão das normas sociais e norma linguística, a partir de um suporte teórico rnultidisciplinar. As normas sociais referem-se ao modo como sociedade/cultura molda e regulariza os comportamentos individuais. Já a norma linguística constitui-se num construto teórico que nos permite analisar o processo da normatização linguística e esclarecer a relação que há entre tradição gramatical e ideologia. Os usos linguísticas de uma dada sociedade são controlados por forças sociais explícitas e implícitas. As forças explícitas operam, sobretudo, nas instâncias públicas e formais, onde se exige umcomportamento linguístico mais formal e elaborado; já as forcas implícitas operam num contexto social mais privado e informal. É lato que não existe uma divisão descontínua entre uso público (formal) e uso privado (informal) da língua. Existe na verdade um continuum estilístico que vai do informal ao formal. Os usuários de uma língua se movem ao longodesse continuum, de uma extremidade, onde se encontram as formas linguísticas mais vernaculares - as que são usadas espontaneamente pelos falantes -, a outra extremidade, onde se encontram as formas linguísticas mais elaboradas e conservadoras, de acordo com suas necessidades sociocomunicativas.

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ISSN 1807-9083

R e v s t a

P I •u r a I 5v. 2 n. 1/2 julho/dezembro, 2005

Só O ciLfeyeVvte fC{LC{

.•...'10E

~OX

üJ

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

UNIDADE UNIVERSITÁRIADECIÊNCIASSócio-EcONÔMICAS E HUMANAS

UNUCSEH ANÁPOLlS2005

Page 2: Normas sociais e normas linguísticas numa abordagem multidisciplinar

UNIVERSIDADEESTADUALDEGOIÁS - UEGREITOR

JOSE IZECIASDEOLIVEIRA

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADEESTADUALDEGOIÁS - FUEGPRESIDENTE

LUIZJOSÉ DEMACEDO

UNIDADEUNIVERSITÁRIADECIÊNCIASSÓClo-EcONÓMICAS E HUMANASUNUCSEH ANÁPOLlS

DIRETORNELSON DEABREUJÚNIOR

Revista PLURAIS

COORDENAÇÃO EDITORIALCésar Augustos Labre Lemos de FreitasDébora Cristina Santos e SilvaGláucia Vieira CândidoLoçandra Borges de MoraesNildo Silva Viana

CONSELHO EDITORIALDra. Adriana Rosa Carvalho (UEG)Dra. Cláudia C. Lopes Montessoro (UEG)Dra. Cristina Patriota de Moura (UEG)Dra. Débora Cristina Santos e Silva(UEG)Dra. Dulce Portilho Maciel (UEG)Dra. Eliesse dos S T Scaramal (UEG)Df. Eliézer Cardoso de Oliveira (UEG)Dra. EsteJa Najberg (UEG)Dra. Gláucia Vieira Cândido (UEG)Df. Homero Lacerda (UEG)Dra. Magda Ivonete Montagnini (UEG)Dra. Márcia Alencar Santana (UEG)Dra. Maria Lúcia Vannuchi (UEG)Dra Maria Raimunda Gomes (UEG)Dra. Mirza Seabra Toschí (UEG)o. Nildo Silva Viana (UEG)Dra. Nirzí Gonçalves de Andrade (UEG)Df. Robson Mendonça Pereira (UEG)Df. Ronaldo Angelini (UEG)Dr. Waldecy Rodrigues (UEG)

CONSELHO CIENTíFICODf. Antonio Carlos Pinheiro (UFG)Df. Antonio Ozaí da Silva (UEM)Df. Aristides Moysés (UCG)Dr. C. Guillermo A. Ronda Pupo (Universidadde Holguín, Cuba)Dra. Dílamar Candida Martins (UFG)Df. Eliseu Lira (UFT)Dra. Fátima Abdalah (AEU-DF)Df. Gilson Dantas (AEU-DF)Dr. João Pinto Furtado (UFMG)o. José Carlos l.ibâneo (UCG)Dr. José Lima Soares (UCB-DF)Dra.Lana de Souza Cavalcanti (UFG)Dr. Manoel Fernandes (UFC)Dr. Marcos Sílveira (UFPR)Dr. Maria Geralda de Almeida (UFG)Dr. Mario Maestri (UPF)Dr. Muniz G. Ferreira (UFBA)Dr. Pedro Célio A. Borges (UFG)Dr. Pedro Leão da Costa Neto (UFPR)o. Raimundo Alencar Arrais (UFRN)Df. Ruy Moreira (UFF)o. Sadi Dei Rosso (UNB)Dra. Sandra de Fátima Oliveira (UFG)

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS - UEG

Revista

Plurais

v. 2 n. 1/2 julho/dezembro 2005

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Revista Plurais - Anápolis - v. 2, n. 1/2 julho/dezembro 2005Eixo temático: Linguagem, Memória e Identidade

CapaAndré Barcellos

Arte final da capaAndré Barcellos

NormalizaçãoCoordenação Editorial

Produção e arte gráficaMarcos lisita Rotoli

Revisão de textoAna Cleide da Cruz Sales

Débora Cristina Santos e SilvaEuda de Fátima de CastroGláucia Vieire CândidoMaria Raimunda GomesSóstenes Cezar de lima

Shirley El,any Rocha MattosVirgínia Paiva Bueno Saka,

DiagramaçãoKleymilton Carvalho

050P737p

Revista Plurais - Universidade Estadual de Goiás -Unidade de Ciências Sócio-Econômicas e Humanas,-s, n1/2 Anápolis, GO UnUCSEH,2005.

CDU050(817 3 Anápolis)

Periodicidade: Semestral1 Geografia - Peflódicos.2. História - Periódicos.3. Generalidades - Periódicos.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Setorlal da UnUCSEH - Anápolis

Correspondência

UNIVERSIDADE ESTADUA~ Dê cor-sUn CSEH - Unidade Universitária de Ciências Séc:o-~co".6c-,C2S e Humanas - Anápolis

Revista PLURAISAv. Juscelino Kubistschek, 146 - Bairro Jundiaí - Anápoiis-GO

Telefone: (62) 3328-1111 FAX (6~) 3328-1100Caixa Postal 459 CEP 75; 10-390

e-mail: revIstdueg';:- m5~ .com

Page 5: Normas sociais e normas linguísticas numa abordagem multidisciplinar

NORMAS SOCIAIS E NORMA LINGuíSTICA NUMA

ABORDAGEM MULTIDISClPLlNAR

Sóstenes Cezar de Lima'

RESUMO: Este artigo se propõe a analisar a questão das normas sociaise norma lingüística, a partir de um suporte teórico rnultidisciplinar. As

normas sociais referem-se ao modo como sociedade/cultura molda eregulariza os comportamentos individuais. Já a norma lingüística constitui-se num construto teórico que nos permite analisar o processo da

normatização lingüística e esclarecer a relação que há entre tradição

gramatical e ideologia. Os usos lingüísticas de uma dada sociedade sãocontrolados por forças sociais explícitas e implícitas. As forças explícitasoperam, sobretudo, nas instâncias públicas e formais, onde se exige um

comportamento lingüístico mais formal e elaborado; já as forcas implícitasoperam num contexto social mais privado e informal. É lato que não

existe uma divisão descontínua entre uso público (formal) e uso privado(informal) da língua. Existe na verdade um continuum estilistico que vaido informal ao formal. Os usuários de uma língua se movem ao longodesse continuum, de uma extremidade, onde se encontram as formaslingüísticas mais vernaculares - as que são usadas espontaneamente pelos

falantes -, a outra extremidade, onde se encontram as formas lingüísticas

mais elaboradas e conservadoras, de acordo com suas necessidades

sócio-comunicativas.

PALAVRAS-CHAVE: Norma lingüística, gramática, ideologia, variação,

monitoramento .

. Mestrando em lingüística - Linguagem e SOCiedade (UnB) e professor de língua Portuguesa I, 111e IV(UnUCSEH-UEG) e Lingüística (FLA). E-mail: limasostenes@yahoocombr.

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LIMA, Sóstenes C. Normas sociais e norma lingüística numa abordagem multidisciplmar

NORMAS SOCIAIS: UMA VISÃO A PARTIRDEUM

SUPORTESÓCio-ANTROPOLÓGICO

A investigação das normas sociais neste trabalho se fundamenta numa baseteórica interdisciplinar, envolvendo fundamentalmente a Sociologia e a Antropologia.Inicialmente, pode-se dizer que a contribuição da Sociologia consiste em oferecerum suporte teórico para a análise das forças sociais que regulam e regulamentam ocomportamento de indivíduos e grupos numa dada sociedade. Forças como aideologia, o discurso, as relações políticas, a divisão de classe e do trabalho, OEstado, a norma jurídica, entre outras, são determinantes no modo como umasociedade interpreta, normaliza e normatiza os comportamentos. Já contribuição daAntropologia consiste em oferecer suporte teórico para a análise da institucionalização(normalização) e normatização dos comportamentos sociais, a partir da abordagemde um conjunto mais amplo de fenômenos sócio-culturais, ao qual se dá o nome de'cultura' .

A institucionalização e o estabelecimento das normas sociais

É sabido que as instituições sociais (vestuário, alimentação, linguagem,etc.) surgem a partir de uma necessidade primária da sociedade, a fim de que elapossa se firmar como tal (BERGER; LUCKMANN, 1995)l Porém, quando oprocesso de institucionalização avança, as instituições passam a fazer parte de umcomplexo de representação simbólica, de modo que elas não servem mais apenaspara atender uma necessidade primária da constituição da sociedade, mas para atendernecessidades que emanam da própria configuração social simbólica. De formaexplicetiva, podemos dizer que num primeiro momento os hábitos alimentares atendema uma necessidade biológica do indivíduo, porém, com o avanço do processo deinstitucionalização social, isto é, a partir do momento em que os hábitos alimentaresadquirem formas materiais tornando-se um produto social, a alimentação passa aexercer outras funções simbólicas como marcação de identidade e classe social dogrupo e do indivíduo, intermediação litúrgica em eventos religiosos, ete.

É dentro de um quadro de referência à sociedade e/ou cultura queconcebemos as normas sociais, já que são elas que oferecem o suporte para manutençãodas instituições sociais, estabelecendo certa regularidade nos comportamentosindividuais. Alvarez (2002, p. 203), fazendo referência ao conceito de norma

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para Durkheim (1978) afirma que "para Durkheim as normas sociais prescrevem aosindivíduos maneiras de agir, de pensar e de sentir que, nâo nascendo espontaneamentenas consciências individuais, interpelam os indivíduos como se viessem do exterior".

É fato bastante óbvio que uma sociedade não é apenas um agrupamentode indivíduos. Ao contrário, a sociedade constitui-se numa rede organizada derelações, a partir da qual diversos comportamentos e julgamentos individuais sãoconstruídos. Como bem ressalta Aléong (2001, p. 147):

A sociedade é mais que uma soma de indivíduos; ela é organizada

segundo princípios ou regras que enquadram e condicionam ocomportamento individual. O princípio base é o da regulação socialque impõe normas sociais ou esquemas de comportamento. Que esse

aparelho de controle seja chamado de cultura ou sociedsde, o fatopermanece essencialmente o mesmo.

Um pouco à frente Aléong (2001, p. 148) aponta os pressupostos apartir dos quais se pode explicar a regularidade dos comportamentos sociais:

I - A organização social de toda sociedade funciona com o auxílio deinstituições que estão no princípio da estrutura social [ ... ]

11- A vida social é constituída de interações constantes entre indivíduos.Ora, a identidade do indivíduo compreende ao mesmo tempo suapessoa e uma identidade social conforme seu pertencimento a camadas

ou, antes, a grupos sociais [ ... ].

111- [O estado] da consciência ou a percepção de si, dos outros eda situação [ ... ] é largamente condicionado pela situação objetiva naqual se encontram os indivíduos.

Os comportamentos sociais podem ser classificados em duas categorias: onormal e normativo, conforme desenvolve Rey (2001). Essa classificação implica ofato de que a sociedade dispõe de instrumentos simbólicos (culturais) que tornamdeterminados comportamentos tão regulares e habituais (o normal), que passam aser encarados pela própria sociedade como sendo a única alternativa, pragmática emoral, à qual o indivíduo pode recorrer no momento de sua interação social (BERGERiLUCKMANN, 1995). Por outro lado, existem outros comportamentos (onormativo) que, por não se encontrarem sedimentados' na prática social, são objetosde normatização por parte da sociedade. Essa distinção entre o comportamentonormal (regular e habitual) e o comportamento normatizado (regulamentado e ideal)aponta para a distinção que se faz entre normas sociais implícitas e normas sociaisexplícitas, discutidas a seguir.

~..

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LIMA, Sóstenes C. Normas sociais e norma lingüística numa abordagem multidisciplinar

NORMAS SOCIAIS IMPLíCITAS E NORMAS SOCIAIS EXPLíCITAS

Segundo Aléong (2001) podemos classificar as normas sociais em duascategorias: normas implícitas e normas explícitas. As normas implícitas se referem àsnormas sociais que se dão convencionalmente, são aquelas normas que resultam deum pacto social que não requer explicitação, são normas que os membros de umasociedade obedecem sem que precisem conhecê-Ias intencionalmente. Já as normasexplícitas são aquelas que resultam de um pacto social intencional. A afirmaçãodesse pacto é confirmada por meio da elaboraçêo material de um código de conduta,onde se encontram as normas de comportamento e, às vezes, as sanções sociaisprevistas para quem desobedecer. Um bom exemplo de normas sociais explícitas sãoos códigos de leis.

Estabelecendo uma conexão entre os comportamentos sociais (normal enormativo) e as normas sociais (implícitas e explícltas), pode-se dizer então quequando um comportamento decorre de uma convenção, regularidade e/ou hábitosocial, esse comportamento faz parte de uma norma social implícita. E quando ocomportamento decorre de uma regulamentação e/ou idealização social, essecomportamento faz parte de uma norma social explícita. Desse modo, podemosexernplilicar com o seguinte gráfico:

Norma social implícita Norma social explícita

Comportamento social normal Comportamento social normatizado

A OUEST ÃO DA NORMA LINGuíSTICA

Dentre as várias normas sociais, o presente artigo se propõe a analisar apenasuma delas, a saber, a norma lingüística. Reitera-se aqui a interdisciplinaridede doestudo das normas sociais, acrescentando o fato de que ao enfocar a norma lingüísticauma nova ciência deve ser incluída, a Lingüística. Portanto, o estudo da normalingüística parte de uma base teórica interdisciplinar, que envolve fundamentalmente

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A r tis o

a lingüística (sociolingüística), a sociologia (sociologia da linguagem) e a antropologia

(antropologia lingüística).

É lugar-comum para a lingüística o fato de que toda línguaapresenta variacão.

Essavariação resulta principalmente do fato de que toda sociedade é heterogênea.

Desse modo, pode-se afirmar que os falantes dispõem de um conjunto variável de

formas lingüísticas, que atendem a uma demanda social variável. A teoria da norma

lingüística vem afirmar que a seleção de uma dada forma lingüística num dado contexto

não decorre de uma escolha transparente do falante, mas sim de uma norma ·social.

Dessa forma, podemos "conceber a norma lingüística como o produto de uma

hierarquização das múltiplas formas variantes possíveis segundo uma escala de valores

que incide sobre a 'conveniência' de uma forma lingüística em relação às exigências

da interação social" (ALÉONG, 2001, p. 153).

O estudo da norma lingüística, fazendo uso das contribuições da lingüística,

sociologia e antropologia, estabelece um quadro teórico que explica o julgamento

que o falante e as classese instituições sociais fazem de sua própria língua. Ouando

um falante julga uma dada forma lingüística como errada, esse julgamento não se

explica apenas pela preferência do falante por outra forma lingüística que ele julga

correta. Há na verdade um suporte sociocultural que fundamenta a avaliação do

falante. Essesuporte é o que algumasabordagens dentro da sociologia e a antropologia

chamam de norma. Assim, os julgamentos que os falantes fazem das formas lingüísticas

são na verdade resultado de alguma norma social. Convém ressaltar que as normas

sociais, especialmente as implícitas, não são imposições sociais inexoráveis que anulam

a subjetividade, relegando ao indivíduo uma posição meramente passiva, nem, por

outro lado, são opções de comportamento às quais o indivíduo pode ou não aderir

conforme sua visão moral da realidade social. Nos termos de Bourdieu (1996), as

normassociaissão na verdade um reflexo do mercado das trocas simbólicas. Entendido

assim, um dado comportamento social não ocorre em virtude de uma imposição

social inexorável, em que há atividade por parte da sociedade e passividade por

parte do indivíduo, e nem por livre escolha ou adesão do indivíduo. Como bem

ressalta Bourdieu (1996, p. 37), "toda dominação simbólica supõe, por parte

daqueles que sofrem seu impacto, uma forma de cumplicidade que não é submissão

passiva a uma coerção externa nem livre adesão a valores". A ocorrência de um

determinado comportamento em detrimento de outro se dará sempre em função da

possibilidade de acumularcapital simbólico nessatransação, já que existe umaeconomia

(ou mercado) das trocas simbólicas, paralela à economia das trocas materiais, embora

a possibilidade de acúmulo de capital simbólico não seja algo manejável e calculável

de forma consciente pelo indivíduo. No que diz respeito às trocas simbólicas

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LIMA, Sóstenes C. Normas sociais e norma lingüística numa abordagem multidisciplinar

lingüísticas, Bourdieu (1996, p. 37) afirma:

o reconhecimento da legitimidade da língua oficial não tem nada a ver

com uma crença expressamente professada, deliberada e revogável,

nem com um ato intencional de aceitação de uma 'norma'. Através de

um lento e prolongado processo de aquisição, tal reconhecimento se

inscreve em estado prático nas disposições insensivelmente inculcadas

pelas sanções do mercado lingüístico.

As duas faces da norma lingüística: Normas lingüísticas implícitas e normaslingüísticas explícitas

É fato que, do ponto de vista lingüístico, existe por um lado um conjuntoideal de formas lingüísticas bastante invariáveis e homogêneas, presente no julgamentoideal dos falantes, por força de uma norma lingüística dominante; e, por outro lado,um conjunto real de formas lingüísticas bastante variáveis e heterogêneas, presenteno uso efetivo da língua nos mais variados contextos de fala. De acordo com Aléong(2001, p. 153),

para dar conta simultaneamente da existência de uma norma lingüística

socialmente dominante e da heterogeneidade sistemática dos

comportamentos lingüísticos, convém fazer a distinção entre normas

explícitas e normas implícitas. A norma explicits compreende esse conjunto

de formas lingüísticas que são objeto de uma tradição de elaboração,

de codilicação e de prescrição [ ... ). Quanto às normas implícitas,

trata-se daquelas formas que, por serem raramente objeto de uma reflexão

consciente ou de um esforço de codílícação, nem por isso deixam de

representar os usos concretos pelos quais o indivíduo se apresenta em

sua SOCiedade imediata.

Tradição gramatical e normatização lingüística

A norma lingüística explícita é socialmente dominante pelo fato de sercodificada e consagrada num aparato de referência, a gramática normativa. GramáticaNormativa refere-se, então, a um conjunto de formas lingüísticas prestigiadas eprescritas, que supostamente servem para guiar o uso da linguagem, a fim de que ofalante/escrevente possa "disciplinar a linguagem e atingir a forma ideal da expressãooral e escrita" (CEGALLA, 1990, p. xvii). O componente ideológico de afirmaçõesde gramáticas como essa de Cegalla será analisado mais tarde. Por hora, convém

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abordar o fato de que o estabelecimento de um quadro de referência para o bomuso da linguagem não é um empreendimento novo; é na verdade uma empresafundada em séculos de tradição/ que começou com os gregos. Foi Aristóteles quemlançou a pedra fundamental para a tradição gramatical ocidental/ ao iniciar o estudodas categorias ou classes gramaticais em sua obra Poética. Segundo Casevitz e Charpin(2001/ p. 30) "na análise dos tipos de significados do enunciado, Aristótelesfunda a lógica gramatical/ condição da adequação do enunciado a seu objeto. Todagramática posterior e a retórica lhe são tributárias". Embora tenhamos que afirmarque Aristóteles iniciou uma tradição de estudos da linguagem numa visão teórica edescritiva. Portando, ao se afirmar que toda a tradição gramatical posterior lhe étributária, não se está afirmando que ele tenha sido um gramático.

Outro fator importante a se ressaltar é o impacto do helenismo sobre agênese da normatização lingüística. O domínio geográfico de uso do grego, noimpério macedônico, expandiu bastante. Como afirma Meillet (1965 apudCASEVITZ; CHARPIN/ 2001/ p. 30), "falou-se grego na época helenísticadesde a Sicília até as fronteiras da índia/ desde o Egito até as margens setentrionaisdo mar Negro". Com uma língua em franca expansão geográfica, a diversidade evariação seriam resultados inevitáveis. Foi então que os gregos sentiram a necessidadede fixar sua língua, a fim de que pudesse combater a diversidade/ variação e mudançaoriundas da difusão geográfica. A partir dessa atitude verificam-se duas tendênciasque se opõem:

a norma de um língua correta a ser observada (a ser descrita econservada), a língua dos oradores e escritores 'clássicos, tal como éensinada nas escolas [hoje] e tal como é escrita e, tendência contrária,a evolução da língua falada, sírnplílícedcre e unihcadora. Daí a separação

entre língua escrita (mesmo que contenha numerosos traços de inovação)e língua falada, de conseqüências tão funestas (CASEVITZ; CHARPIN,2001,p.31)

Depois da Grécia, a tradição gramatical se desloca para Roma/ ondeestabelece uma larga tradição normativa no estudo e prescrição do latim culto (escrito!literário), em detrimento do latim vulgar (falado). Em Roma/ surgem os princípiosmais caros à tradição gramatical. Varrão (apudCASEVITZi CHARPIN, 2001, p.36) / um dos primeiros gramáticos latinos, os expõe do seguinte modo:

A latinidade é a observância do falar correto no quadro da língualatina. Ela repousa sobre os quatro elementos a seguir: natureza, analogia,uso, autoridade [ ... ]. [Natureza se refere à constituição natural da

língua, o que estabelece sua imutabilidade e invariância]. Já a analogia,segundo os técnicos, é a sistematização da linguagem oferecida pela

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LIMA, Sóstenes C. Normas sociais e norma lingüística numa abordagem multidisciplinar

natureza, e ela estabelece a separação da língua do homem inculto e dohomem culto [ ... ]. O uso, por seu turno [ ... J tira seu valor doacordo do grande número, de tal modo que o raciocínio teórico, semchegar a aprová-Io, entretanto o admite. A autoridade é o ultimoelemento normativo da linguagem. É quando todos os outros elementosfalecem que se recorre a este, como uma bóia.

Fundada especialmente no princípio da natureza (invariâncie e imutabilidade)e no princípio da autoridade, que atribui aos autores consagrados e clássicos da línguaa autoridade exclusiva de estabelecer os usos corretos, a tradição normativa se consolidana língua latina, e desta irradia seus fundamentos para as línguas neolatinas. Fato essebastante previsível segundo Padley (2001, p. 56)2, já que "dado o prestígio e autilização universal do latim, é inevitável que as primeiras gramáticas das línguas vivassejam calcadas em modelos concebidos para a descrição daquela língua". Data daúltima metade do século Xv, o surgimento das primeiras gramáticas normativas daslínguas neolatinas. Em português, as primeiras gramáticas normativas escritas foram a deFernão de Oliveira em 1536 e a de João de Barros em 1540. De fato, tem sido umaprática corrente, em qualquer língua ocidental com tradição de escrita, a elaboração deum aparato de referência de inspiração greco-Iatina para o bom uso da língua.

Ideologia na constituição da normatização lingüística

Chauí (2003, p. 108-109) apresenta a definição e função da ideologiado seguinte modo:

A ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações(idéias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam eprescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e comodevem pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar, o quedevem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devemfazer. Ela é, portanto, um corpo explicstivo (representações) e prático(normas, regras, preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador,cuja função é dar aos membros de uma sociedade divida em classesuma explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais,sem jamais atribuir tais diferenças à divisão da sociedade em classes apartir das divisões na esfera da produção. Pelo contrário, a função daideologia é a de apagar as diferenças e fornecer aos membros dasociedade o sentimento da identidade social, encontrando certosreferenciais identifica dores de todos e para todos, como, por exemplo,a Humanidade, a liberdade, a Igualdade, a Nação, ou o Estado.

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Do conceito de ideologia e das teorias sociais modernas, depreendemosque, embora os indivíduos de uma determinada classe social julguem os fatos sociaiscomo dados naturalmente, esse fatos partem sempre de um conjunto de idéias evalores que a própria sociedade constrói de acordo com o jogo das relações depoder (BOURDIEU, 1996i CHAUC 2003i FOUCAULT, 1979)

Pode-se constatar a carga ideológica da tradição gramatical desde o períodoclássico latino. Os princípios da natureza (invariâncie e imutsbiliciede), da analogia(comparação do homem culto com o inculto) do uso (boa linguagem presente nafala dos homens cultos) e da autoridade (passado lingüístico glorioso e autoritário)defendidos por Varrão demonstram objetivamente a presença da ideologia naconstituição da normatização lingüística. Para tornar ainda mais claro essa questãobasta que observemos a associação que Varrão faz entre uso culto da linguagem equalidade moral. Ele afirma que embora os usos incorretos da linguagem sejambastante difundidos nem por isso são os legítimos. Para defender essa argumentaçãoele faz uma comparação entre comportamentos morais e comportamentos lingüísticos.

Se chamarmos assim o que faz a maioria, daremos um conselho muitoperigoso, não somente para a linguagem, mas, o que é mais grave, para

a vida. [".] Assim como depilar-se, usar os cabelos cortados emcamadas, beber em excesso no banho, usos muito difundidos em nossacidade, não são o uso, porque todas essas práticas são censuráveis em

alguma medida [". L assim também na linguagem, embora maneiras defalar viciosas estejam comumente difundidas, não é razão para ver nelasa regra da linguagem [" .]. Portanto, para a linguagem, chamarei de usoo acordo das pessoas cultas e, para a vida, o das pessoas honestas

(apud CASEVITZ; CHARPIN, 2001, p. 37).

Percebe-se claramente o total comprometimento ideológico de Varrão coma classe social de prestígio, ao estabelecer que tal como a moral da elite é a únicaaceitável, também é o seu uso da linguagem. Do ponto de vista ideológico, oestabelecimento da exclusividade moral e lingüística da elite é tão forte quanto aatribuição de prestígio moral aos que fazem uso da boa linguagem, de modo que sepode fazer a seguinte dedução: estilo honesto é igual a homem honesto e, porconseguinte, o uso correto da linguagem é o das pessoas moralmente boas.

Portanto, não é nenhuma surpresa o fato de que a tradição gramatical continueveiculando conteúdos ideológicos. Ainda hoje, em virtude de um investimentoideológico, a gramática normativa é concebida no interior de nossa sociedade como oúnico instrumento lingüístico depositário das formas lingüísticas legítimas (BOURDIEU,1996). A sociolingüística tem provado de forma definitiva o fato de que as línguassão sistemas intrinsecamente variáveis, demonstrando que variação não nega a

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LIMA, Sóstenes C Normas sociais e norma lingüística numa abordagem multidiscipliner

sistematicidade e nem funcionalidade de uma língua (LABOV, 197 Si WEINREICHiLABOVi HERZOG, 1968i TARALLO, 1990). Apesar disso, a normatizaçãolingüística ainda tem como um de seus princípios básicos a defesa da homogeneidadee unificação da língua, sustentado que sem esse princípio a língua torna-se assistemática,caótica e até disfuncional. Isso mostra o quanto a normatização lingüística tem sidousada como instrumento de manutenção e expansão da dominação simbólica, porpartes das classes sociais que detém os meios de produção material e simbólica, e opoder político (BOURDIEU, 1996i GNERRE, 1991)

Ressalta-se o fato de que as formas lingüísticas padronizadas e legítimas sãoexatamente aquelas ligadas à produção cultural clássica armazenada na escrita, cujoacesso é um direito quase exclusivo das classes sociais de prestígio, haja vista asfortes barreiras que um indivíduo não pertencente a elite tem que enfrentar para quepossa ter acesso aos produtos culturais simbólicos. Dessa forma, podem-se apontar,entre outros, os seguintes compromissos ideológicos da normatização lingüística: 1)tentativa exagerada de homogeneização e unificação lingüísticai 2) uso da tradiçãoclássica escrita como base única para padronização lingüísticai 3) fato esse quecoloca a elite em posição de privilégio, já que o acesso à tradição clássica escrita équase exclusivo da elite, além do fato de que as formas lingüísticas padronizadas sãoaquelas que estão mais acessíveis à própria elite, 4) em conseqüência disso, asformas lingüísticas pertencentes às classes sociais inferiores são fortemente rejeitadas eestigmatizadas. Muitos outros compromissos ideológicos da normatização lingüísticapoderiam ser apontados, mas esses são suficientes para comprovar o quanto a tradiçãogramatical tem se fundamentado em preceitos ideologizados.

Norma lingüística e monitoramento

É possível estabelecer uma relação direta entre as duas categorias da normalingüística e os conceitos labovianos de vernáculo e monitoramento. Antes de demonstraressa relação convém fazer uma abordagem introdutória sobre vernáculo e monitoramento.Labov (1975, p. 208) define vernáculo como "o estilo em que um mínimo deatenção é dado ao monitoramento da fala". Sobre o conceito de monitoramentoLabov (1975, p. 208) afirma: "há muitos estilos e dimensões estilísticas que podemser isoladas numa análise. Mas nós achamos que os estilos podem ser classificados aolongo de uma única dimensão, medida pela atenção conleride à fala". Portanto, paraLabov o discurso segue um continuum de monitoramento que vai do mais informal(extremidade do continuum em que nenhuma ou pouquíssima atenção é dada aos

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recursoslingüísticos usados na fala) ao mais formal (extremidade do continuum na qualhá uma forte atenção sobre os recursos lingüísticos usados na fala). É na extremidadedo mais informal que está o vernáculo. Veja o gráfico abaixo:

(- formal) ( + formal)

Vernáculo continuum do monitoramento Não-Vernáculo

Passando ao estabelecimento da relação da teoria da norma lingüística coma teoria variacionista de Labov (1975), podemos afirmar que quanto menos aforça da norma explícita (padronização) incidir sobre o uso lingüístico, mais ele seaproximará do vernáculo. Por outro lado, quanto mais a força da norma explícitaatuar sobre o usuário da língua, mais ele terá que monitorar seu desempenho,distanciando-se assim do vernáculo. Como ressalta Aléong (2002, p. 153) anorma lingüística explícita se impõe "como o ideal a respeitar nas circunstâncias quepedem um uso refletido ou monitorado da língua, isto é, nos usos oficiais, na imprensaescrita e audiovisual, no sistema de ensino e na administração pública" (ALÉONG,2002, p. 1 53). Além disso, também podemos inserir na mesma relação os conceitosde normal e normativo (REY, 2002), em que normal relaciona-se com a normalingüística implícita e com o vernáculo, e normativo relaciona-se com a norma lingüísticaexplícita e com o não-vernáculo. Portanto, ampliando o gráfico do continuum domonitoramento temos:

(- padrão)

(- formal)

(+ padrão)

( +formal)

continuum do monitoramento

Vernáculo

Norma lingüística implícita

O normal

Não-Vernáculo

Norma lingüística explícita

O normativo

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LIMA, Sóstenes C. Normas sociais e norma lingüística numa abordagem multidisc.plinar

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao abordar a questão das normas sociais e da norma lingüística partimosdo pressuposto de que a língua é um fato sócio-cultural, sujeito ao controle dasociedade e/ou cultura. Tal como outros fatos sócio-culturais, a língua estácondicionada a normas. Ao fazer uso da língua, o sujeito não o faz de modoautônomo, consciente e transparente. Oualquer uso lingüística (fala/escrita) estarásujeito a intervenções (normas) sociais, que podem ser de caráter implícito ou explícito.Observa-se que a norma lingüística explícita tem uma forte orientação ideológica, jáque se fundamenta num aparelho regulador (a descrição lingüística prescritiva) queestá sob o controle das classes sociais dominantes (CORBEIL, 2001). Não sepode negar a necessidade social das normas. Alvarez (2002, p. 203), ao fazerreferência ao pensamento de Durkheim, afirma que para este "a vida em sociedadesó seria possível porque os indivíduos se submetem a essas formas estabelecidas deconduta, sem as quais a própria existência da sociedade estaria arneeçeda". Comoenfatiza Rey (2001), nenhuma sociedade vive sem normas, porém a crítica que sefaz da normatização lingüística é que ela tem se tornado um agudo instrumento dedominação simbólica e preconceito lingüístico (BOURDIEU, 1996; BAGNO,1999; 2000; 2003; SOARES, 2002; GNERRE, 1991; MATTOS e SILVA,1995).

Como ficou demonstrado, é possível relacionar a teoria da norma lingüísticaà teoria variacionista de Labov. Segundo Labov (1975) todos os usos de umalíngua podem ser localizados num continuum que vai do uso do menos monitorado(vernacular) ao uso mais monitorado (não-vernacular). Chamamos esse continuumde continuum do monitoramento e atribuímos a ele a seguinte característica: naextremidade esquerda situa-se o uso lingüístico vernacular, ao qual se associa asclassificações tipológicas - formal - padrão, e os conceitos de norma lingüísticaimplícita e de normal. Já na extremidade direita do continuum situa-se o uso lingüísticanão-vernacular, ao qual se associa as classificações tipológicas + formal + padrão eos conceitos de norma lingüística explícita e de normativo.

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SOCIAL NORMS AND LlNGUISTIC NORM IN A MULTIDISCIPLlNARYAPPROACH

ABSTRACT: This erncle proposes to analyze the issue of the social norms and linguistie norm

using a theoreiieal muhidisciplinary support. The social norms reefer to the way the soeiety/culture

molds and regularizes the individual behaviors. The linguistic norm constitutes a theoretical constructthat allows us to analyze the process of linguistie normatization and to elucidete the relation

between grammatieal tradition and ideology. The linguistie uses of a certain community are eontrolledbv explieit and implicit social forces. The explicit forces aet therefore in the publie and formal

environments, where a more formal and elaborate linguistie behavior is dernenced, the irnplicitforces dei in the social environment more private and informal. It is a lact that does not exist a

segmented division between public (formal) and priva te (informal) linguistie uses. Actually, there

is d stvlist«; continuum that goes from the informal to formallanguage use. The language users movethemselves from an extremity, where are the more vernaeular linguistie forms - the ones that are

spontaneously used by the language users - r to the other extremity, where are the more elaboratedand conservator linguistic forms, aecording to their social eommunieative needs.

KEYWORDS: linguistic Norrn. Grammar. Ideology. Variation. Monitoring.

NOTAS

1 O termo 'sedimentação' foi usado aqui conforme o sentido desenvolvido por Berger e Luckmann(1995)2 Segundo Padley (2001, p. 57) a Gramática castellana de Nebrija, escrita em 1492, foi a primeiragramática humanista de uma língua 'vulgar, embora ressalte em nota de rodapé, que "se aceitarmos, contudo,a data de aproximadamente 1450 sugerida por Percival (1 975) para as Regole della lingua Rorentina deAlberti, esta obra, menos importante, é que seria a primeira gramática humanista de uma língua viva"

REFERÊNCIAS

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