noções básicas de organização e segurança em laboratório químico

3
Biológico , São Paulo, v.65, n.1/2, p.47-49, jan./dez., 2003 PALESTRA NOÇÕES BÁSICAS DE ORGANIZAÇÃO E SEGURANÇA EM LABORATÓRIOS QUÍMICOS Vera Lúcia Tedeschi Savoy Instituto Biológico Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Proteção Ambiental E-mail: [email protected] O laboratório deve ser visto como um local especial de trabalho, pois o mesmo pode se tornar perigoso, caso não seja utilizado adequadamente. Devido ao tipo de trabalho desenvolvido nos laboratórios os ris- cos de acidentes a que estão sujeitos os laboratoristas são os mais variados possíveis. Os laboratórios devem possuir um manual de segurança contendo normas gerais de segurança e técnicas laboratoriais básicas. O responsável pelo laboratório deve transmitir e orientar os seus colabo- radores quanto aos procedimentos corretos de trabalho e as atitudes que devam tomar para evitar possíveis acidentes. São comuns acidentes por exposições a agentes tóxicos e/ou corrosivos tais como queimaduras, incêndios, explosões e lesões causadas por condições inseguras de trabalho. Na maioria das vezes, o laboratório é montado em local já existente acarretando utilização inadequada dos espaços e mobiliários, disposição incorreta das instalações e falta de equipamentos de proteção cole- tiva e individual. O laboratório não deve ser um local improvisado, mas apresentar condições ideais para se desenvolver um trabalho dentro de padrões de segurança adequados. Os laboratoristas, estagiários e colaboradores necessitam serem orientados sobre as regras e os procedimentos básicos que devem ser implantados e utilizados em laboratórios visando a segurança de todos. É interessante definir os termos mais empregados em segurança de laboratório (SANTORO, 1985). Segurança no trabalho: é o conjunto de medidas técnicas, administrativas, educacionais, médicas e psicológicas que são empregadas para prevenir acidentes, quer eliminando condições inseguras do ambiente, quer instruindo ou convencendo pessoas na implantação de práticas preventivas. Risco: é o perigo a que determinado indivíduo está exposto ao entrar em contato com um agente tóxico ou certa situação perigosa. Toxicidade: é qualquer efeito nocivo que advém da interação de uma substância química com o orga- nismo. Acidentes: são todas as ocorrências não progra- madas, estranhas ao andamento normal do trabalho, das quais poderão resultar danos físicos e/ou funcio- nais e danos materiais e econômicos. Atividades ou operações insalubres: são aque- las que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes noci- vos à saúde, acima dos limites de tolerância fixa- dos em razão da natureza e da intensidade do agen- te e do tempo de exposição aos seus efeitos. (NR 15, CLT). Atividades ou operações perigosas: na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho, são aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem o contato permanente com infla- máveis ou explosivos em condições de risco acentuado. (NR 16, CLT). Os diversos agentes químicos podem entrar em contato com o organismo humano por inalação, absorção cutânea e ingestão, sendo a inalação a principal via de intoxicação. A absorção de gases e vapores pelos pulmões e a disseminação pelo sangue, leva-os a diversas partes do corpo poden- do causar distúrbios no organismo como tontei- ras, vômitos e falta de ar. Já, na absorção cutânea os efeitos mais comuns da ação de substâncias químicas sobre a pele são as irritações superfici- ais e sensibilizações decorrentes da combinação do contaminante com as proteínas. A pele e a sua gordura protetora são barreiras efetivas, sendo poucas as substâncias que podem ser absorvidas em quantidades perigosas. A ingestão geralmente ocorre de forma acidental pelo uso indevido de pipetas ou ao engolir partículas que estejam retidas no trato respiratório, as quais são resultantes da inalação de pós ou fumos. A agressão ao organismo por produtos químicos pode ser minimizada com o uso correto dos equipa- mentos de segurança que são instrumentos que tem por finalidade evitar ou amenizar riscos de aciden- tes. Os equipamentos de proteção individual (EPIs), óculos, máscaras, luvas, aventais etc. são utilizados para a prevenção da integridade física do laboratorista, enquanto que os equipamentos de pro- teção coletiva (EPCs) são equipamentos de uso no la- boratório que, quando bem especificados para as fi- nalidades a que se destinam, permitem executar ope- rações em ótimas condições de salubridade para o operador e as demais pessoas no laboratório. O me- lhor exemplo desses equipamentos são as capelas (VERGA FILHO , 2001).

Upload: natacha-blenda-araujo-silva

Post on 08-Apr-2016

226 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Noções básicas de organização

TRANSCRIPT

Page 1: Noções básicas de organização e segurança em laboratório químico

47Noções básicas de organização e segurança em laboratórios químicos.

Biológico , São Paulo, v.65, n.1/2, p.47-49, jan./dez., 2003

PALESTRA

NOÇÕES BÁSICAS DE ORGANIZAÇÃO E SEGURANÇA EMLABORATÓRIOS QUÍMICOS

Vera Lúcia Tedeschi SavoyInstituto Biológico

Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Proteção AmbientalE-mail: [email protected]

O laboratório deve ser visto como um local especialde trabalho, pois o mesmo pode se tornar perigoso,caso não seja utilizado adequadamente. Devido aotipo de trabalho desenvolvido nos laboratórios os ris-cos de acidentes a que estão sujeitos os laboratoristassão os mais variados possíveis.

Os laboratórios devem possuir um manual desegurança contendo normas gerais de segurança etécnicas laboratoriais básicas. O responsável pelolaboratório deve transmitir e orientar os seus colabo-radores quanto aos procedimentos corretos de trabalhoe as atitudes que devam tomar para evitar possíveisacidentes. São comuns acidentes por exposições aagentes tóxicos e/ou corrosivos tais como queimaduras,incêndios, explosões e lesões causadas por condiçõesinseguras de trabalho.

Na maioria das vezes, o laboratório é montado emlocal já existente acarretando utilização inadequadados espaços e mobiliários, disposição incorreta dasinstalações e falta de equipamentos de proteção cole-tiva e individual. O laboratório não deve ser um localimprovisado, mas apresentar condições ideais parase desenvolver um trabalho dentro de padrões desegurança adequados.

Os laboratoristas, estagiários e colaboradoresnecessitam serem orientados sobre as regras e osprocedimentos básicos que devem ser implantados eutilizados em laboratórios visando a segurança detodos.

É interessante definir os termos mais empregadosem segurança de laboratório (SANTORO, 1985).

Segurança no trabalho: é o conjunto de medidastécnicas, administrativas, educacionais, médicas epsicológicas que são empregadas para preveniracidentes, quer eliminando condições inseguras doambiente, quer instruindo ou convencendo pessoasna implantação de práticas preventivas.

Risco: é o perigo a que determinado indivíduo estáexposto ao entrar em contato com um agente tóxicoou certa situação perigosa.

Toxicidade: é qualquer efeito nocivo que advémda interação de uma substância química com o orga-nismo.

Acidentes: são todas as ocorrências não progra-madas, estranhas ao andamento normal do trabalho,das quais poderão resultar danos físicos e/ou funcio-nais e danos materiais e econômicos.

Atividades ou operações insalubres: são aque-las que, por sua natureza, condições ou métodos detrabalho, exponham os empregados a agentes noci-vos à saúde, acima dos limites de tolerância fixa-dos em razão da natureza e da intensidade do agen-te e do tempo de exposição aos seus efeitos. (NR 15,CLT).

Atividades ou operações perigosas: na forma daregulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho,são aquelas que, por sua natureza ou métodos detrabalho, impliquem o contato permanente com infla-máveis ou explosivos em condições de risco acentuado.(NR 16, CLT).

Os diversos agentes químicos podem entrar emcontato com o organismo humano por inalação,absorção cutânea e ingestão, sendo a inalação aprincipal via de intoxicação. A absorção de gasese vapores pelos pulmões e a disseminação pelosangue, leva-os a diversas partes do corpo poden-do causar distúrbios no organismo como tontei-ras, vômitos e falta de ar. Já, na absorção cutâneaos efeitos mais comuns da ação de substânciasquímicas sobre a pele são as irritações superfici-ais e sensibilizações decorrentes da combinaçãodo contaminante com as proteínas. A pele e a suagordura protetora são barreiras efetivas, sendopoucas as substâncias que podem ser absorvidasem quantidades perigosas. A ingestão geralmenteocorre de forma acidental pelo uso indevido depipetas ou ao engolir partículas que estejam retidasno trato respiratório, as quais são resultantes dainalação de pós ou fumos.

A agressão ao organismo por produtos químicospode ser minimizada com o uso correto dos equipa-mentos de segurança que são instrumentos que tempor finalidade evitar ou amenizar riscos de aciden-tes. Os equipamentos de proteção individual (EPIs),óculos, máscaras, luvas, aventais etc. são utilizadospara a prevenção da integridade física dolaboratorista, enquanto que os equipamentos de pro-teção coletiva (EPCs) são equipamentos de uso no la-boratório que, quando bem especificados para as fi-nalidades a que se destinam, permitem executar ope-rações em ótimas condições de salubridade para ooperador e as demais pessoas no laboratório. O me-lhor exemplo desses equipamentos são as capelas(VERGA FILHO, 2001).

Page 2: Noções básicas de organização e segurança em laboratório químico

48 V.L.T. Savoy

Biológico , São Paulo, v.65, n.1/2, p.47-49, jan./dez., 2003

Os produtos químicos podem ser voláteis, tóxicos,corrosivos, inflamáveis, explosivos e peroxidáveis,requerendo cuidados especiais ao serem manipula-dos e armazenados. O estudo do local destinado aoalmoxarifado é de especial importância. Quando sãonegligenciadas as propriedades físicas e químicas dosprodutos químicos armazenados podem ser ocasio-nados incêndios, explosões, emissão de gases tóxicos,vapores, pós e radiações ou combinações variadasdestes efeitos.

As substâncias químicas devem ser armazenadasem locais adequados e, especialmente, destinadospara este fim, permanecendo no laboratório apenas aquantidade mínima a ser utilizada. Os locais dearmazenamento devem ser amplos, dotados de boaventilação, protegidos dos raios solares, com duassaídas, com instalação elétrica a prova de explosões eprateleiras largas e seguras. Os produtos químicosnão devem ser armazenados junto com as vidrariasutilizadas no laboratório.

Os produtos corrosivos , ácidos e bases, devemficar em armários e prateleiras próximo ao chão, sepossível com exaustão; os inflamáveis e explosivosdevem ser armazenados a grande distância de pro-dutos oxidantes e os líquidos voláteis necessitam dearmazenagem a baixas temperaturas em refrigera-dores a prova de explosão. A tabela de classes deincompatibilidade das substâncias deve ser consul-tada a fim de se evitar o armazenamento, lado a lado,de reagentes incompatíveis (FEITOSA & FERRAZ). Osrótulos dos frascos devem ser protegidos e consulta-dos, pois contém as informações necessárias para aperfeita caracterização dos reagentes, bem como in-dicações de riscos, medidas de prevenção para o ma-nuseio e instruções para o caso de eventuais aciden-tes. Os símbolos ou pictogramas são simbologias ade-quadas e reconhecidas internacionalmente que ofe-recem informações sobre os riscos de segurança en-volvidos no uso de produtos químicos e os seus sig-nificados devem ser de conhecimento dos usuáriosdo laboratório de química. As soluções preparadasem laboratório não devem ser armazenadas em ba-lões volumétricos e sim em frascos de vidro devida-mente identificadas e etiquetadas.

Outra fonte de acidentes no trabalho é o transportede frascos contendo produtos químicos. A maneiramais correta de se transportar frascos de grandesdimensões, ou um grande número de frascos ouvidrarias, é com o uso de carrinhos de transporte. Grandesfrascos nunca devem ser transportados em contatocom o corpo do operador. As vidrarias de pequenasdimensões podem ser transportadas em bandejasadequadas, tomando-se cuidado para que não ocor-ram colisões.

Os laboratórios possuem vários tipos de equi-pamentos, entre eles, equipamentos que utilizam

gases sob pressão. Os gases sob pressão podem serclassificados como inertes, inflamáveis, corrosivos,asfixiantes, irritantes e anestésicos. Os cilindros degás pressurizado devem ser manuseados e arma-zenados com cuidado e critério. O código de coresusado em tubulações, válvula (volantes) e no pró-prio cilindro serve para caracterizar os tipos de flui-dos, seu estado de temperatura e suainflamabilidade. Os cilindros devem ser armaze-nados em local separado do laboratório, protegidodo sol e chuva para que as válvulas de redução depressão não sejam danificadas, devem ser fixadoscom cintas metálicas ou com correntes e cadeado eseu transporte deve ser feito com auxílio de um car-rinho apropriado. As tubulações ou conexões de-vem estar isentas de óleos ou graxas evitando as-sim a formação de misturas explosivas com algunsgases, como por exemplo, óxido de etileno. É impe-rativo realizar o teste de vazamento de gás em to-das as válvulas, conexões e uniões de linha utili-zando-se um pincel e solução detergente/água. Omanuseio de cilindros que contenham gases vene-nosos ou tóxicos deve ser feito em local ventilado ecom uso de EPIs, (LEONETTI, comunicação pessoal).

Devido às várias atividades desenvolvidas noslaboratório é interessante um breve conhecimento so-bre o fogo. O fogo é formado pela união de trêselementos: calor, comburente e combustível e estaunião é conhecida como "Triângulo do Fogo" (MUNIZ,2003).

Combustível é o material que alimenta o fogo e com-preende quase todos os materiais que possamos ima-ginar, como por exemplo papel, madeira, gasolina etc.

Comburente é o elemento ativador do fogo, ou seja,que lhe dá vida e intensifica o fenômeno da combus-tão. O oxigênio é o principal comburente.

Calor é o elemento que serve para iniciar a com-bustão.

Os incêndios são subdivididos em quatro classes,a saber:Classe "A" - formado por materiais que queimam emsuperfície e profundidade (madeira, papel, tecido etc.);Classe "B" – líquidos inflamáveis que queimam nasuperfície, tais como álcool, gasolina, querosene etc.;Classe "C" - equipamentos elétricos e eletrônicosenergizados. Ex.: computadores, televisores, motores etc.;Classe "D" – materiais que requerem agentes extintoresespecíficos, tais como, pó de zinco, sódio, magnésio etc.

Os métodos de extinção do fogo, resfriamento, aba-famento e isolamento, visam retirar um, ou mais deum, dos três componentes do triângulo do fogo, poisna falta de um destes componentes o fogo não existirá.Os extintores portáteis de incêndio requerem uma açãorápida e devem ser utilizados para pequenos focosdevido a seu rápido esvaziamento. Os extintores pos-suem cargas diferenciadas e devem ser utilizados

Page 3: Noções básicas de organização e segurança em laboratório químico

49Noções básicas de organização e segurança em laboratórios químicos.

Biológico , São Paulo, v.65, n.1/2, p.47-49, jan./dez., 2003

somente para as classes de incêndio descritas em seusrótulos.

Nunca manuseie produtos químicos sem conhe-cimento. Leia atentamente as informações constantesnos rótulos dos reagentes químicos e consulte asFISPQ - fichas de informações de segurança deprodutos químicos.

A segurança depende de cada um e preveniracidentes é dever de todos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FEITOSA, A C. & FERRAZ, F.C. Segurança em laboratórios. Bauru:Joarte Gráfica e Editora. v.1, 134p.

MUNIZ, A.A Cartilha do bombeiro [on-line]. Rio de Janeiro.Disponível em: <http://www.defesacivil.rj.gov.br>Acesso em: 31 mai. 2003.

Santoro, M.I.R.M. Manual de segurança. São Paulo: Univer-sidade de São Paulo, 1985. 52p.