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Trabalho apresentado como requisito parcial para conclusão da disciplina Estudo do Consumidor I, ministrada no Departamento de Publicidade e Propaganda, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Prof. Dr. Leandro Leonardo BatistaTRANSCRIPT
Universidade de São Paulo
Escola de Comunicações e Artes
Fernando Carvalho Tabone
No meio do caminho tinha um anúncio
Análise de um anúncio qualquer sob as teorias de persuasão de Solomon na
obra “O comportamento do Consumidor”
Trabalho apresentado como requisito
parcial para conclusão da disciplina
Estudo do Consumidor I, ministrada no
Departamento de Publicidade e
Propaganda, da Escola de
Comunicações e Artes da Universidade
de São Paulo.
Prof. Dr. Leandro Leonardo Batista
São Paulo
Setembro/2012
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Carlos Drummond de Andrade - Revista Antropofagia, 1928.
Relato // Introdução
Na necessidade de definir uma campanha ou anúncio para ser utilizado
como objeto de estudo para este trabalho, resolvi optar pelo caminho mais
simples e objetivo. Decidi que utilizaria como objeto de estudo o primeiro
anúncio que me chamasse atenção em uma revista que carregava em minha
mala: a edição de Novembro de 2012 da Revista Alfa (que tem na capa a foto
do atual técnico do Corinthians, o Tite).
Foliei a revista inteira e não fui atraído por nenhum anúncio. Quando o
plano estava prestes a fracassar, fechei a revista e me deparei com o anúncio
de 4ª Capa: um anúncio da Microsoft sobre o novo Windows 8. Que conquistou
minha percepção.
Após a definição deste anúncio como objeto de estudo, realizei a leitura
da obra “O comportamento do consumidor” procurando identificar, através das
teorias de Solomon, as estratégias adotadas pela Microsoft neste anúncio. O
autor diz que são muitos os fatores que influenciam no Processo de Percepção
de um anúncio, que começa no campo dos Estímulos Sensoriais, passa pelos
campos da Exposição, da Atenção e, por fim, termina no campo da
Interpretação.
Nesta breve reflexão, procuro trazer para discussão alguns fatores que
identifiquei em cada um dos campos como justificativas para o processo de
percepção do anúncio relatado.
As motivações do consumidor e o contexto de mercado da Microsoft
No quarto capítulo de “O comportamento do Consumidor”, o autor
Michael Solomon, apresenta o seguinte relato sobre o processo de decisão do
consumo.
“As forças que impulsionam as pessoas a comprar e usar
produtos geralmente são diretas, (...), no entanto, como demonstram os
vegetarianos radicais, mesmo o consumo de produtos alimentícios
básicos também pode estar relacionado a crenças de amplo espectro no
que diz respeito ao que é apropriado ou desejável”.
Através deste simples relato, o autor demonstra a abrangência dos
motivos que podem envolver a escolha do consumidor, como valores, crenças
e prioridades, etc, que podem ir além das motivações diretas. O autor ainda
ressalta que a identificação das motivações é um fator bastante importante,
uma vez que assegura o cumprimento das necessidades apropriadas por um
produto, que os profissionais de marketing tanto tentam satisfazer.
“os produtos adquirem significado porque são vistos como instrumentos
para auxiliar a atingir uma meta ligada a um valor (...) Alguns
pesquisadores acham conveniente fazer distinções entre valores
culturais de base ampla, como segurança ou felicidade, valores
específicos de consumo, como a compra conveniente ou o atendimento
rápido, e valores específicos de produto, como a facilidade de uso ou a
durabilidade.”
A Microsoft, em um contexto de mercado no qual perde espaço para o
sistema IOS da Apple, no que resguarda aos computadores, e no que diz
respeito aos aparelhos mobiles, sequer consegue fazer frente competitiva aos
sistemas IOS da Apple e Android da Google, neste ano de 2012 promoveu uma
série de novidades. Além do lançamento do Windows 8, lançou seu primeiro
tablete, o Surface, e deu início a um reposicionamento de marca, lançando -
após 25 anos - uma nova logomarca.
É dentro deste contexto, também, que eu visualizo o anuncio. A nova
identidade visual, a nova tablete e o novo sistema operacional, estão todos
presentes no anúncio. Claramente uma intenção da Microsoft, quase que
exagerada, de transmitir os conceitos de inovação e contemporaneidade. É a
empresa empenhando imensos esforços para assegurar que estejam
presentes para o público os valores de base ampla que são essenciais para o
seu negócio. Valores estes que talvez estivessem desgastados depois do
crescimento da competitividade no mercado.
E no campo dos valores específicos, o anúncio traz através da imagem
do tablete e do texto “Seu notebook pode ser um tablete. E vice-versa. (...)” , o
valor conveniência, evidenciando que é um Windows contemporâneo, criado já
pensando em um mercado de nova usabilidade, que cada vez mais valoriza o
tablete em depreciação do notebook.
Estratégias técnicas
Sob os aspectos dos processos de percepção (estímulos sensoriais,
exposição, atenção e interpretação) podemos observar diversas técnicas
específicas, que talvez justifiquem os motivos da minha atenção especial sobre
o anúncio.
A partir do meu relato, é evidente que parte da eficiência do anúncio
esteve nos campo da exposição e atenção, ou seja, no veículo do anúncio, que
revista Alfa, e também na colocação do anúncio na revista, no espaço da 4ª
capa. Este último fator, em especial, proporcionou que tivesse minha atenção
exclusiva ao anúncio por mais tempo, uma vez que se tratava da última página
da revista, ou seja, o último “conteúdo” a ser absorvido. Não é a toa que os
veículos cobram mais caro pelos espaços da 4ª capa, chegando a cobrar as
vezes o dobro ou mais em comparação aos espaços no chamado miolo da
revista.
No campo dos estímulos sensoriais, como se trata de um anúncio
impresso convencional, não se trabalha com sons, odores, gostos ou texturas,
restringe-se somente ao campo das imagens.
O plano de fundo do anúncio é a retratação de um café da manhã,
conclui-se isto a partir dos itens sobre a mesa, como uma caneca, jarra de suco
de laranja e cesta de pães, itens característicos para uma café da manhã, e
também pela visualização de luminosidade nas janelas ao fundo. E percebe-se
também, através do braço vestindo camisa e suéter que segura o tablete com a
mão, que se buscou retratar um executivo. Em otro aspecto, também podermos
observar a larga utilização da cor azul, em diferentes itens na peça, como no
box que envolve o texto e no aparador de prato que está sob o teclado, e
também podemos reparar na utilização de cores de tonalidades fortes nos
ícones do display do tablet e em alguns itens no plano de fundo, como na
caneca, nas almofadas, no suco de laranja, nos pães de queijo amarelados e
nas árvores bem verdes ao fundo .
Partindo para o campo da interpretação, a “manhã” é popularmente
reconhecida como a representação do “novo dia”, da “renovação”, do
“recomeço”, ou seja, talvez, trate-se de uma tentativa de através do plano de
fundo reforçar o conceito de “novo”, e colaborar para interpretação de novidade
e do reposicionamento da marca.
Sobre as cores, no segundo capítulo, Solomon faz as seguintes
observações:
“Evidências sugerem que algumas cores (em especial a
vermelha) ciam sentimento de excitação e estimulam o apetite, enquanto
outras (como a cor azul) são mais relaxantes. Produtos apresentados
contra um fundo azul em anúncios são mais apreciados do que quando
um fundo vermelho é utilizado, e pesquisas em culturas diferentes
indicam uma preferência sistemática pelo azul, sejam as pessoas do
Canadá ou de Hong Kong. A American Express decidiu chamar seu
novo cartão de Blue depois que as pesquisas mostraram que a cor
evoca sentimentos positivos sobre o futuro. A agência associou o azul
como a cor do milênio, pois as pessoas associam com céu e água,
provocando uma sensação de liberdade e paz.
(...)
A cor desempenha um papel dominante no desenho de páginas
da Web, ela direciona os olhos do usuário na página, liga ideias do
design, separa áreas visuais, organiza relações contextuais, cria estados
de espírito e capta atenção. Cores saturadas como verde, amarelo, azul
ciano e laranja, são os melhores tons para captar a atenção, mas não
exagere: o uso extensivo desses tons pode oprimir as pessoas e causar
fadiga visual.”
Como citado anteriormente, o anúncio traz diversos tons fortes,
principalmente nos ícones presentes no display do tablet e em alguns detalhes
no plano de fundo, como no suco de laranja, nos pães de queijo amarelados e
nas árvores bem verdes ao fundo. Talvez, este último parágrafo, justifique a
opção do diretor de arte responsável pela peça em utilizar estes tons, e
também explique a atração que tive pelo anúncio.
Já, a respeito da opção do diretor de arte na predominância do azul, se
explique no primeiro parágrafo. Como o autor diz, a cor azul facilita a
apreciação do anúncio, é mais relaxante e evoca sentimentos positivos sobre o
futuro. E, se lembramos de algumas das principais marcas relacionadas a
tecnologia, repararemos que a cor azul é de fato largamente utilizada.
Conclusão
O exercício de definir o objeto de estudo de modo impulsivo e de ler a obra
somente após escolher o anúncio (mesmo que tendo acompanhado a aula em
sala) proporcionou uma análise bastante objetiva, verdadeira e focada em
entender a construção do anúncio.
Reparei em pontos que não repararia normalmente e pude destrinchar o
anúncio quase que completamente, observando cada detalhe.
Solomon em “O comportamento do Consumidor” oferece parâmetros para
análise e variados exemplos do mercado que enriquecem o processo de
estudo da comunicação publicitária e facilitam a clara interpretação dos fatores.
Se os motivos que apresentei neste trabalho são de fato os motivos que
guiaram os criativos que construíram a peça, é impossível sabermos. No
entanto, observando o anúncio em si e relacionando com as teorias de
Solomon, podemos ao menos realizar suposições sobre os efeitos no
consumidor e conseguimos encarar os processos de comunicação com mais
propriedade e menos subjetivos.