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NO CAMINHO DOS ANJOS, OS JESUÍTAS ENTRINGER, ROGERIO 1 Instituto de Arquitetura e Urbanismo. Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Av. Trabalhador São-Carlense, 400, Centro, São Carlos/SP, CEP 13566-590 [email protected] RESUMO O Caminho dos Anjos no sul de Minas Gerais é uma rota e um itinerário histórico-cultural, turístico e religioso. Fotografias e cartografia mostram a junção entre paisagem natural e paisagem cultural, o enlace entre paisagem, história e arquitetura, e tornam visíveis os indícios da presença de técnicas e tecnologias construtivas da Companhia de Jesus no trecho entre Aiuruoca, Guapiara e Alagoa na primeira metade do século XVIII. Nesse sentido, essa comunicação visa descrever, analisar, levantar questões e apresentar hipóteses de que essa paisagem natural e cultural tais como os muros de pedras da Igreja de Santana de Guapiara (1730) e os túneis escavados para desviar curso de rios nas montanhas do Garrafão, em Alagoa, podem refletir não só a ação colonizadora e evangelizadora dos jesuítas na região, mas também a ação de prospecção do garimpo mercantilista, contraditório aos votos de pobreza e as Constituições da Companhia. Palavras-chave: Rotas e Itinerários culturais; Jesuítas; Arquitetura. 1 Orientador: Gelson de Almeida Pinto

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NO CAMINHO DOS ANJOS, OS JESUÍTAS

ENTRINGER, ROGERIO1

Instituto de Arquitetura e Urbanismo. Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

Av. Trabalhador São-Carlense, 400, Centro, São Carlos/SP, CEP 13566-590 [email protected]

RESUMO O Caminho dos Anjos no sul de Minas Gerais é uma rota e um itinerário histórico-cultural, turístico e religioso. Fotografias e cartografia mostram a junção entre paisagem natural e paisagem cultural, o enlace entre paisagem, história e arquitetura, e tornam visíveis os indícios da presença de técnicas e tecnologias construtivas da Companhia de Jesus no trecho entre Aiuruoca, Guapiara e Alagoa na primeira metade do século XVIII. Nesse sentido, essa comunicação visa descrever, analisar, levantar questões e apresentar hipóteses de que essa paisagem natural e cultural tais como os muros de pedras da Igreja de Santana de Guapiara (1730) e os túneis escavados para desviar curso de rios nas montanhas do Garrafão, em Alagoa, podem refletir não só a ação colonizadora e evangelizadora dos jesuítas na região, mas também a ação de prospecção do garimpo mercantilista, contraditório aos votos de pobreza e as Constituições da Companhia.

Palavras-chave: Rotas e Itinerários culturais; Jesuítas; Arquitetura.

1 Orientador: Gelson de Almeida Pinto

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

A paisagem natural e cultural do Caminho dos Anjos: mapas que

revelam a história da ‘‘Picada da Geruoca”

O Caminho dos Anjos está situado no sul do estado brasileiro de Minas Gerais.

Compreende os municípios de Passa Quatro, São Lourenço, Caxambu, Baependi, Aiuruoca,

Alagoa e Itamonte, e pode ser iniciado por qualquer uma dessas cidades. Foi idealizado e

criado por Alexandre Maciel Gaspar, em 2007. Ele nos concedeu entrevista em 07 de

agosto de 2014: “O Caminho dos Anjos é um lugar de peregrinação aos moldes do Caminho

de Santiago de Compostela e leva esse nome inspirado em Arcanjo Miguel (...) O caminho

foi criado pensando em ser aplicado na região das Missões Jesuíticas do Rio Grande do

Sul”. Ele deixa claro que:

“o Caminho dos Anjos é livre para ser feito por quem quiser, por conta

e risco de quem o fizer. Grupos se montam por si só e hospedam-se

onde quiser. Foi idealizado para difundir e incentivar a compreensão

da sustentabilidade, em face da exuberante natureza dos locais por

onde passa. Essa natureza se mistura com a natureza interna de cada

um que visita. O caminho todo a pé leva em torno de 10 dias, de

bicicleta aproximadamente em 05 dias e de carro ou moto em 02 ou 03

dias” (http://www.caminhodosanjos.org/o-caminho.php).

Cravado em plena Serra da Mantiqueira, o caminho percorre parte do Parque Estadual da

Serra do Papagaio que, segundo o Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF),

abriga um importante remanescente de Mata Atlântica do Estado, possuindo formações

mistas de campos de altitude, matas e áreas de enclave com matas de araucária. Também

concentra as nascentes dos principais rios formadores da bacia do Rio Grande, responsável

pelo abastecimento de centros urbanos da região. Engloba importantes conjuntos

montanhosos das Serras do Papagaio e do Garrafão, apresentando cerca de 50% da área

com declividade acentuada e altitudes acima de 1.800 metros. Situa-se numa área de

rochas ígneas ácidas, representadas por granitos de granulação fina e grosseira. Interliga-

se, geograficamente, com a porção norte do Parque Nacional do Itatiaia, permitindo uma

proteção mais efetiva da flora e da fauna, por compor um conjunto montanhoso contínuo,

legalmente preservado (http://www.ief.mg.gov.br/areas-protegidas/211?task=view).

Cada um que o visita tem propósitos diferentes, uns de peregrinação religiosa outros mística

ou até curiosos fascinados pelo silêncio e a entorpecedora natureza. Uma rota que o turismo

utiliza congregando atrativos naturais e culturais ali presentes, associando-as a estruturas

que dão suporte às viagens. Assim, o caminho vive o turismo que COSTA e GASTAL (2010,

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

p. 12) definem como sendo uma “prática social que agrega a dimensão polissêmica da

paisagem à sua multifuncionalidade, tanto para seus usuários diretos, sua população,

quanto para aqueles interessados em conhecê-la”. Um turismo que proporciona paisagens

que possuem valores e símbolos que transmitem conhecimentos históricos dessa relação

entre o homem e a natureza. O Caminho guarda nas comunidades que o cercam a tradição

e a herança do passado que formou aquele lugar.

O que hoje constitui o Caminho dos Anjos era uma picada conhecida desde o período

colonial. Mapas das Minas Gerais do século XVIII encontrados na seção de Cartografia da

Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, comprovam a existência de antigas picadas e

caminhos que ligavam diversos lugares do sul de Minas, onde já aparecem os trechos entre

Baependi, Aiuruoca (antiga Geruoca, Jeruoca, Jeruoka ou Juruoca), Guapiara (antiga

Gupiara) e Alagoa (antiga A Lagoa de Geruoca ou A Lagoa da Jeruoca).

No mapa intitulado “Mappa da capitania de S. Paulo, e seu sertão em que devem os

descobertos, que lhe forão tomados para Minas Geraes, como tambem o camiho de

Goyazes, com todos os seus pouzos, e passagens”, delineado por Francisco Tosi

Columbina, datado entre 1751 e 1755, destaca-se a cidade de São Paulo, vilas, fortalezas,

arraiais, rios, seus afluentes e trilhas e já é possível identificar o trecho do Caminho dos

Anjos que compreende Aiuruoca (Juruoca) Baependi, Caxambu até Itamonte, retratando em

perspectiva as montanhas do Vale do Matutu e do Garrafão (Figura 01).

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

Figura 01: Detalhe do mapa aquarelado e desenhado com nanquim “Mappa da capitania de S. Paulo,

e seu sertão em que devem os descobertos, que lhe forão tomados para Minas Geraes, como

tambem o camiho de Goyazes, com todos os seus pouzos, e passagens” – Autor: Francisco Tosi

Columbina – Data: 1751 e 1755 – Medida: 65 x 45,2cm em f. 66,5 x 48 cm.

Joaquim José da Rocha (1740-1804) fez dois mapas sobre a região. Um deles, intitulado

“Mappa da Comarca do Rio das Mortes, pertencente a Capitania das Minas Gerais: que

mandou descrever o Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor D. Antônio de Noronha

Governador e Cap. General da mesma Capitania segundo as mais exactas informaçõens /

Jozé Joam. da Rocha o fes” (Figura 02) foi publicado em 1777 e abrange a região sudeste

de Minas Gerais, indicando vilas, capelas, destacamentos de soldados, sítios, fazendas e

caminhos. Tal mapa atesta a existência da Picada da Geruoca entre Jeruoca (Aiuruoca),

Gupiara (Guapiara, distrito de Aiuruoca) e Lagoa da Geruoca (Alagoa), o que corresponde

hoje ao trecho conhecido como Caminho dos Anjos.

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

Figura 02: Detalhe do mapa aquarelado “Mappa da Comarca do Rio das Mortes, pertencente a

Capitania das Minas Gerais: que mandou descrever o Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor D.

Antônio de Noronha Governador e Cap. General da mesma Capitania segundo as mais exactas

informaçõens / Jozé Joam. da Rocha o fes” – Autor: Joaquim José da Rocha (1740-1804) – Data:

1777 – Medida: 50 x 59,5cm em f. 56 x 66cm.

Já o “Mappa da Capitania de Minas Geraes: que mandou fazer o Illmo. e Exmo. senhor D.

Anto. de Noronha, governador e capitão genal. da mesma capitania / Jozé Joaqm. da Rocha

o fez”, também datado de 1777 (aquarelado, desenhado a nanquim) abrange a capitania de

Minas Gerais com a suas divisas, mostrando cidades, comarcas, vilas, paroquias, povoados

e caminhos. A legenda é ilustrada com índio, ave, jacaré, alguns morros e árvores, inclui a

rosa-dos-ventos e relevo representado em forma pictórica. Esse mapa também retrata a

picada existente entre Baependi, Aiuruoca (Jeruoca), Guapiara (Gupiara) e Lagoa da

Jeruoca (Alagoa).

O mapa intitulado “Mappa topografico e idrografico da capitania de Minas Geraes: toda esta

capitania he coberta de mattas e só nas comarcas do Rio das Mortes, Sabará e Ferro tem

manxas de Campo”, de autoria desconhecida e datado de meados do século XVIII,

(aquarelado com nanquim), contém a rosa-dos-ventos e a flor-de-lis e indica rios, cidades,

capelas, fazendas, vilas, paróquias e aldeias, além de mostrar montanhas elevadas e

densas matas que se encontravam na região. A interpretação do mapa nos dá uma ideia da

utilização dos rios como infraestrutura de transporte e como referência geográfica de

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localização, e aqui também sinaliza o trecho do caminho que hoje compreende Aiuruoca

(Jeruoca), Guapiara (Gupiara) e Alagoa (Lagoa de Jeruoca).

Por fim, o mapa intitulado “Região das Minas Gerais com uma parte do caminho de São

Paulo e do Rio de Janeiro para as Minas e dos afluentes terminais do São Francisco”, de

autoria desconhecida, datado de meados do século XVIII (desenhado a tinta ferrogálica),

abrange Minas Gerais, São Paulo e pequena parte do Estado do Rio de Janeiro. Possui

duas folhas, em anexo, onde estão indicadas as distâncias, em léguas e em dias, entre as

localidades de algumas povoações como São João, Juiz de Fora, Ouro Preto, Sabará, São

Sebastião, São Caetano, Furguin. Nesse mapa, o Pico do Papagaio, especialmente a vista

que temos hoje do trecho entre Aiuruoca (em indígena, Casa do Papagaio) e Baependi,

aparece representado no relevo em forma pictórica.

Os mapas aqui referenciados foram feitos por militares e são produtos e resultados da política

de mapear o Brasil, logo após o Tratado de Madrid de 1750, da Guerra Guaranítica e da

expulsão dos jesuítas em 1759. Esses mapas foram produzidos durante o pombalino, um

período divisor de águas na história colonial brasileira, pois punha fim a um ciclo de mais de

200 anos do domínio jesuítico, e implantava uma nova política que inventariava o território

lusoamericano, suas riquezas e fronteiras, para recria-lo e remodela-lo.

Como é possível notar, todos esses mapas representam a paisagem montanhosa da Serra da

Mantiqueira onde o Pico do Papagaio e o Rio Aiuruoca (afluente do Rio Grande que compõe a

Bacia do Paraná) têm predominância exclusiva na paisagem e são referências desde as

primeiras picadas de avanço ao interior do sul de Minas Gerais. Ainda revelam a presença da

igreja na região e as divisas que o estado fazia com São Paulo e Rio de Janeiro,

comprovando a importância histórica do que hoje se constitui o Caminho dos Anjos,

especificamente a Picada de Geruoca. Tal trecho, entre Aiuruoca e Alagoa, configurava-se

como um dos portais de entrada para as minas de ouro e pedras preciosas em gerais.

Prova maior que essa rota e ou itinerário já era tradicional por quem passava pela região

seria o relato de Saint-Hilaire de sua “Segunda Viagem do Rio de Janeiro a Minas Gerais-

1822”. Carvalho (2011, p.13) recorta e relata a passagem do viajante europeu por aquele

lugar dizendo que:

“O rio Ayuruoca, que desce, disseram-me, do morro do Garrafão, corre

rapidamente no fundo do vale, e é, à margem deste rio, entre

montanhas e matas, que fica situada a cidade do mesmo nome. O

resto do vale é cortado por pastagens e capões de mato, pinheiros

majestosos, ora aconchegados uns aos outros, ora esparsos,

distinguem-se pelas formas esquisitas, e cores escuras, entre os

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diversos vegetais que os rodeiam. Para acabar de embelezar a

paisagem, despenha-se uma cascata, a meia encosta de uma das

montanhas que cerca o vale, e espraia-se no meio da floresta sombria

formando uma toalha prateada”.

Ora, se o morro do Garrafão já era conhecido com esse nome desde os tempos de Saint-

Hilaire, isso prova que a lenda de que havia um Garrafão de ouro escondido ou em lagoas

ou em montanhas da região é anterior a 1822.

No Caminho dos Anjos, os jesuítas: o muro de pedra da Igreja de

Santana da Guapiara em Aiuruoca e o túnel do Garrafão no

Engenho em Alagoa

A paisagem cultural do Caminho dos Anjos transmite conhecimentos, valores, crenças, e

lendas que originaram os grupos sociais construídos ao longo de sua história. O que nos

chama a atenção nessa paisagem é a presença dos jesuítas, que de uma forma intensa,

ocupa o imaginário histórico-cultural local. A tradição e a memória, transmitidas por séculos,

sugere que os inacianos estiveram na Guapiara, hoje distrito de Aiuruoca, e no Engenho,

distrito de Alagoa. Quase todo mundo no lugar conhece uma história que envolve os padres.

De acordo com o Portal do Patrimônio Cultural, “a Igreja de Santana da Guapiara foi

construída em 1730, por mineradores provindos de Pernambuco que eram devotos de

Sant’Anna, protetora dos garimpeiros, tendo como seus administradores, os Padres

Jesuítas”(http://www.portaldopatrimoniocultural.com.br/site/bensinventariados/detalhe_eau.p

hp?id=1791), que por coincidência também nomeavam Santana suas capelas.

O pesquisador local Gilberto Furriel, em entrevista concedida 16 de julho de 2014, afirma

não conhecer nenhuma referência documentada sobre a presença da Companhia de Jesus

na região, apenas referência oral desconhecida provinda de costumes e lendas locais da

presença dos inacianos na Igreja do Bom Jesus em Liberdade e na Igreja da Guapiara. Por

outro lado, Sebastião Rodrigues Ferreira, 84 anos, conhecido como “Seu Tião Ferreira”, que

vive na Comunidade da Pedra, e é atualmente o morador nascido e criado mais antigo do

Vale do Matutu, confirma que o muro de pedra da Igreja da Guapiara existe antes mesmo

dele nascer e foi construído pelos jesuítas: “depois de muito tempo reviraram até as pedras

porque achavam que os padres tinham escondido ouro nelas. Minha avó (que se estivesse

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viva teria mais ou menos uns 200 anos) contava que os jesuítas lavavam ouro na Guapiara”

(entrevista concedida em 17 de julho de 2014).

Fomos até a Guapiara, a igreja fica localizada próxima às margens do Rio Aiuruoca. Sofreu

reformas que descaracterizaram sua arquitetura original, mas seus muros de pedras podem

corresponder ao período colonial. É um muro autoportante de arrimo, feito de alvenaria

seca, com um tipo de granito e com uma técnica conhecida como cangicado, típica do

período colonial, onde as pedras maiores são calçadas pelas menores (Figura 03) com

alguns trechos com argamassa de barro. O muro cerca a igreja que possui o seu centro, ele

é quadrangular, geométrico, regular, planificado e, de fato, pode corresponder à tipologia de

construção dos jesuítas. Se indiciarmos o signo da quadra planificada, regular e geométrica

vemos que ela foi amplamente utilizada pelos jesuítas durante a renascença e o

maneirismo, de modo a formar uma ou mais quadras. Assim, como diria Holanda (1999), no

caso brasileiro, impõe-se a linha reta e o plano regular como um triunfo da aspiração de

ordenar; e se realmente os jesuítas administraram a vila de mineiros da Guapiara, o quadrado

de pedras entorno da igreja serviria não só como aspiração ao gerenciamento, mas também

como um pátio, típico da arquitetura jesuítica. Consequentemente, teríamos ali um ponto de

encontro, espaço de sociabilidade, lugar de trocas de experiências tão vitais para o

funcionamento da Companhia.

Figura 03: Detalhe das técnicas, tecnologias e materiais construtivos do muro da Igreja de Santana

da Guapiara/MG – Fotografia de Rogério Entringer (Julho de 2014).

A técnica do cangicado, presente na Guapiara (Figura 03) pode derivar dos jesuítas ou de

outros colonos tais como os mineiros, mas deve-se levar em consideração o argumento de

Vargas (2001) de que até 1759 os jesuítas estiveram à frente nas técnicas e tecnologias no

Brasil. A Companhia de Jesus utilizou muitas pedras em suas construções, eles trouxeram a

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tradição construtiva ibérica e interlaçaram com a cultura indígena fundando igrejas, capelas,

colégios, aldeias, casas, pontes, túneis, cidades entre outros. Eram autônomos e

autossustentáveis. Rochas como a gnaisse, o granito, o arenito e a laterita, a alvenaria

irregular ou cantaria, cangicadas ou com argamassas, variando de acordo com a região (ora

o barro ou a argila, ora a areia, a cal de conchas e o óleo de baleia) foram usadas tanto nos

séculos XVI e XVII quanto no XVIII, seja nos litorais ou no interior, do norte ao sul. As

pedras constituíam uma matéria-prima orgânica, econômica e sem custos, resistente e

durável, ideal para solidificar a igreja ou a coroa, que não fazia conta do material construtivo

desde que se perpetuasse a edificação do catolicismo e da colonização.

O modo de produção dos jesuítas dividia-se em escravos africanos ou mutirões indígenas.

Assunção (2002, p.128 e 129) diz que:

“a escravidão dos negros foi vista pela maioria dos religiosos como

algo necessário para o bom funcionamento da sociedade colonial e da

conquista portuguesa na América. No plano teórico, a defesa de uma

postura mais humanitária para com o escravo era delineada de forma

precisa e idealizada, pelos jesuítas, em função dos preceitos da

caridade humana e da doutrina cristã. Na prática, a realidade era

outra, envolvidos com os interesses da produção, esqueciam-se das

orientações da fraternidade cristã. A punição e a violência eram os

meios utilizados por estes para realizar o controle social e forçar os

escravos ao trabalho”.

Mas a preferência dos inacianos para o modo de produção era o contato e o trato com os

índios. Furtado (1998, p.69), diz que “os jesuítas desenvolveram técnicas bem mais

racionais que os colonos de incorporação das populações indígenas à economia da colônia

conservando os índios em suas próprias estruturas comunitárias, tratavam eles de conseguir

a cooperação comunitária dos mesmos, uma economia extrativa florestal”. Assim a

tecnologia era coletar e extrair os materiais do próprio lugar e edificar as paredes e em

alguns casos do jeito que as rochas vinham da natureza eram utilizadas na construção. Por

isso a economia jesuítica, seja nos colégios, nas fazendas ou nas reduções, teve seus

alicerces na agricultura e no extrativismo, pois esses eram a base do modo de produção, do

trabalho e da economia dos índios, desde a alimentação, o preparo da lavoura, a plantação

de raízes e grãos, a coleta, a pesca, a caça e a construção da habitação.

A presença dos padres inacianos também permeia o imaginário cultural dos povoados da

Serra do Garrafão, como Alagoa e seu distrito conhecido como Engenho. A prefeitura de

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Alagoa diz em sua página eletrônica que “o Garrafão é um bairro que tem este nome devido

uma lenda, de que deixaram um garrafão de ouro dentro de uma lagoa e até hoje não

encontraram o garrafão, mas um túnel cavado pelos escravos, o charco, o Pico do Santo

Agostinho e muita beleza natural” (http://www.alagoa.mg.gov.br/).

Costa (1994, p.108) diz que:

“a Casa da Fazenda do Garrafão, construída de tijolos, bastante

antiga, segundo informações colhidas ali, situa-se no mesmo local

onde existiu a sede da fazenda dos jesuítas, que deixaram a área

cerca de 1750. Não distante dela existe um túnel cavado na rocha com

um metro quadrado de seção e sessenta metros de desenvoltura, que

teria servido para mover uma roda d’água pelo desvio do rio do

Garrafão”.

Coutinho (2003, p.21) também diz que “o Garrafão era onde os jesuítas exploravam ouro. A

área possui túneis escavados em pedra, riachos e áreas verdes”. Segundo o projeto

“Comunidades da Serra do Papagaio – Gestão Integrada do Parque Estadual da Serra do

Papagaio e seu Entorno”, a Comunidade do Engenho deve seu nome à atividade

mineradora estabelecida na região, ainda no século XVIII, pelos religiosos da Companhia de

Jesus. Pelas redondezas, ainda é possível ver o túnel que foi construído para desviar o

curso do rio e que se tornou atração turística da região

(http://www.serradopapagaio.org.br/comunidade.asp?id=5).

Mas também não há documentação alguma sobre o garimpo jesuítico no Garrafão, por isso

pairam dúvidas sobre a presença dos inacianos na área. Visitamos o túnel (Figura 04) em

janeiro de 2013 e em julho de 2014. Notamos que a fenda aberta na montanha não é natural

e sim feita pelo homem, seu interior tem a forma de arco e por dentro passa um córrego hoje

muito ralo de água. Se o objetivo dessa fenda aberta era transposição de rios do Garrafão,

no século XVIII, somente os jesuítas possuíam alta tecnologia para tal empreitada, sendo

pioneiros na transposição de rios no Brasil colonial, a exemplo de Vila Velha no Espírito

Santo, no qual foi feita a abertura de um canal de aproximadamente 1.500 metros, que,

atravessando um corte no morro de Caçaroca, estabeleceu ligação entre o rio Jucu e o rio

Marinho. Segundo a Revista do Conselho Metropolitano de Desenvolvimento da Grande

Vitória (2012, p.09):

“construído em 1740, tal corte transformou-se numa hidrovia destinada

ao transporte fluvial de mercadorias dessa região para a vizinha baía

de Vitória e provavelmente deu início ao ciclo brasileiro de

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

intervenções em estuários e rios costeiros mediante a construção de

canais artificiais constituindo- se, muito provavelmente, na primeira

transposição de bacias hidrográficas realizada no país”.

Figura 04: Detalhe da entrada do túnel do Garrafão – Engenho, Alagoa/MG – Fotografia de Rogério

Entringer (Janeiro de 2013).

Outro exemplo de transposição de rios está no Rio de Janeiro, são os túneis da Ponte do

Guandu, obra que pertencia a antiga fazenda jesuítica de Santa Cruz localizada no atual

bairro de Santa Cruz, zona oeste da cidade do Rio e que, internamente, também tem a

forma de um arco. Segundo descrição do Livro Histórico IPHAN sob Inscrição: 003, nº

Processo: 0100-T-38 de 05-04-1938, foi edificada pelo padre Pedro Fernandes,

administrador da fazenda entre 1740 e 1752 e tinha a função de regularizar o curso do rio

Guandu desviando parte de suas águas por um canal artificial para o rio Itaguaí, visando

diversos fins, tais como transporte ou mesmo drenagem para a agricultura e a fruticultura.

No entanto, há a possibilidade do túnel do Garrafão ser posterior ao tempo dos jesuítas, pois

encontramos buracos no interior do túnel que podem ter sido causados por bananas de

dinamite. Além de que a antiga história do garrafão de ouro escondido poderia ter motivado

aventuras e exploração diversas.

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De fato a lenda de que os jesuítas escondiam ouro está presente em diversos lugares do

Brasil, como por exemplo, no Rio de Janeiro: quando o Morro do Castelo, símbolo da cidade

colonial, foi posto abaixo pelos novos padrões modernos, acreditaram que poderiam

encontrar ouro escondido, assim como nos famosos túneis de Paranaguá. Mas, o curioso

disso tudo é que as lendas geralmente envolvem lugares onde a presença dos jesuítas era

certa, mas não é o caso da Guapiara nem do Garrafão.

No entanto, deve-se levar em consideração que, quando surgiu na primeira metade do

século XVI, a Companhia de Jesus tinha os requisitos essenciais que interessavam as

monarquias ibéricas. Kitayama e Farias (2008, p.02 e 08) trazem algumas considerações

importantes sobre isso:

“correspondências que datam entre 1538 e 1540, na qual o monarca

português D. João III solicita informações a seu embaixador, D. Pedro

Mascarenhas, em que este é encarregado de ir a Roma solicitar

informações e examinar a nascente Companhia de Jesus, e sua

eventual idoneidade para a missão catequética portuguesa [...] Ora,

podemos perfeitamente entender que D. João III, já possuía uma

intencionalidade, pois queria sondar quais eram as características da

embrionária ordem, assim como também já planejava dar-lhe uma

posição de destaque no processo colonizador português [...] Como

membros da ponta de lança da conquista, eram os primeiros a chegar

nas áreas mais inóspitas e hostis, servindo desde intérpretes e

estudiosos das línguas autóctones, passando por funções de

organização militar, administradores, cronistas, tutores, chegando a

exercer os papéis de engenheiros e arquitetos, demarcando,

desenhando e ajudando a construir fortificações e cidades por toda a

região americana. [...] Fica assim a forte possibilidade de que além de

missionários, os jesuítas terem assumido as funções de prospectores,

servindo de importante elemento na conquista, mas também na

implantação do modelo econômico da colônia, pois os indícios

apontados podem nos levar a crer que estes clérigos foram agentes do

processo civilizador cristão. Com sua grande formação intelectual,

suas grandes capacidades técnicas, seu preparo físico e psicológico,

transformavam os jesuítas em coadjuvantes ideais no desbravamento

e dominação de uma terra desconhecida, que gerou um ciclo de

riqueza enorme para as suas metrópoles.” (grifos nossos).

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Nessa época, lavar ouro significava prospecção do garimpo mercantilista e deveria ser

autorizado e fiscalizado pelo rei, caso contrário, seria clandestino e ilegal, e, embora os

mapas mostrem que existiam ordens religiosas, havia restrições a estas nas regiões das

minas. Mas os jesuítas não eram uma ordem religiosa qualquer, eles não pertenciam ao

clero regular nem ao padroado, portanto, não deveriam ser submetidos à inspeção dos

ordinários, eram independentes e se submetiam apenas ao papa. E como aponta (RINALDI,

2013, p.60):

“Por ordem do rei de Portugal, Francisco Bruza de Espinosa, com o

auxilio do padre jesuíta João de Azpicuelta Navarro, realizou uma

entrada em busca de ouro no ano de 1553. Essa expedição chegou

até Minas Gerais através do Vale do Rio Jequitinhonha e São

Francisco. Posteriormente em 1636 a coroa permitiu por meio de uma

licença regia que os jesuítas partissem em busca de esmeralda no Rio

Doce.”

E mesmo a prática do garimpo ser contraditória aos votos de pobreza, já que os jesuítas só

poderiam viver de esmola real, doações de fiéis ou autossuficiência que o meio natural

proporcionava, sendo incompatível às regras das Constituições da Companhia, o acordo com

a coroa lusitana era que eles fizessem o papel de agentes colonizadores. Portanto, localizar e

beneficiar de forma altamente sigilosa um pouco de ouro e pedras preciosas para o rei não

seria nada absurdo. Eram conquistadores e expedicionários e podem ter estado de forma

oculta e efêmera nas montanhas da região, fazendo sentido então a população local acreditar

que eles pudessem ter lavado ouro na Guapiara e no Garrafão.

E justamente por não haver fontes e documentos, recorremos à fotografia, por ser um meio

que traduz em imagens as palavras, os desenhos, os conceitos, técnicas e tecnologias

construtivas. Diferentemente do texto escrito exprime seus enunciados na forma de textos

imagéticos que são sempre e necessariamente interpretativos e subjetivos. A fotografia é

um discurso visual (MACHADO, 1998) e, segundo Flusser (1985), é o processo que retraduz

textos em imagens. Para Kossoy (2001), a fotografia é um texto informativo, fonte e

documento visual e fornece indicações explícitas e implícitas sobre uma série de temas e

subtemas que constituem e que sempre demandará de uma leitura com enfoque

multidisciplinar. O fotográfico são textos de luz em uma produtividade que nunca se acaba, é

algo que sempre multiplica os sentidos, está sempre mudando, deixando-se suscitar em

outros textos, estando em um constante movimento e metamorfose, um texto plasticamente

inesgotável e com infinitas possibilidades de significação (BARTHES, 2003).

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Além de texto e discurso visual, fotografar é criar conceitos com o ver e o pensar (SAMAIN,

2010); é o que Dubois (2009) considera como sendo uma definição possível de uma

maneira de ser no mundo, como um estado do olhar e do pensamento. A imagem

fotográfica sintetiza no documento um fragmento do real visível dos monumentos

arquitetônicos congelados na escala habitual. As informações multidisciplinares nela

gravadas testemunham a atuação do fotógrafo enquanto filtro cultural organizado estética e

ideologicamente (KOSSOY, 2001).

Assim, a fotografia torna visível a forma de projetar e permite enxergar e apreciar o espaço

arquitetônico projetado e edificado. E se os muros da Guapiara e o túnel do Garrafão vierem

a ser obra dos jesuítas, historiadores da arquitetura e da engenharia, arqueólogos,

antropólogos, etnólogos ou mesmo geólogos, especialistas nos estudos da Companhia de

Jesus no Brasil colonial, podem fazer uso dessas imagens para pesquisar e comprovar o

fato ou a lenda. Carências de documentos mostram as dificuldades de se trabalhar com os

primórdios da arquitetura e da engenharia na colonização do Brasil e, devido ao caráter

desbravador dos jesuítas e reconhecedor das terras dos reis, suas ações construtivas foram

efêmeras e muito dessa memória foi reduzida a oralidades desconhecidas ou vestígios e

indícios arqueológicos.

Conclusão

Por fim, habita no imaginário cultural das comunidades e grupos sociais da região de

Aiuruoca, Guapiara, Vale do Matutu, Alagoa, Engenho e Garrafão a ideia de que os jesuítas

lavavam ouro na região. Mas, não há nada que comprove isso, a não ser indícios como o

muro da Igreja de Santana da Guapiara e o túnel do Garrafão que podem corresponder às

técnicas e tecnologias de arquitetura e engenharia que os padres utilizavam, mesmo assim,

mais formulam hipóteses do que comprovam alguma coisa.

Pode ser que essa memória, que na localidade é passada de geração a geração, teria se

originado de uma confusão cronológica ou outro motivo ainda desconhecido que relacione

garimpo aos padres. Pode ser que o garimpo “era do tempo da escravidão” (que no Brasil

durou até 1888), provável tempo também da avó de seu Tião Ferreira. Considerando que a

escravidão seja sinônimo de antigo, esse antigo pode ter sido associado aos jesuítas que

ocupam forte tradição no folclore ou no ensino da História do Brasil. Então, que os jesuítas

estiveram realmente no Caminho dos Anjos não podemos afirmar, mas, que eles estão nas

crenças, lendas e tradições transmitidas pela oralidade que habitam a sua paisagem cultural

a aproximadamente uns 200 anos, afirmamos plenamente.

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A Companhia de Jesus entre 1549 e 1759, justamente por ser uma Ordem com implicações

globais atendendo a diferentes coroas, andou por toda a América do Sul. Esteve em todo o

território que corresponde atualmente ao Brasil, uma cruz imaginária que em linha reta

compreende de norte a sul, de leste a oeste, do Amapá e Roraima até o Rio Grande do Sul

e do Acre até Alagoas e Paraíba. É evidente então que conheciam a Serra da Mantiqueira,

afinal, ela já aparece representada em um dos mapas de 1756 que integra a cartografia

jesuítica do Rio da Prata publicada pelo padre Guillermo Cardiff Furlong em 1936; sem falar

que alguns caminhos para o sul das minas passavam pela grande e imponente Fazenda de

Santa Cruz, propriedade dos jesuítas no Rio de Janeiro. As regiões serranas, sem sombra

de dúvida, proporcionavam fatores importantes no projeto colonizador, civilizador e

evangelizador que a Companhia tinha para o Brasil. Dentro de uma colonização inicialmente

litorânea foi preciso conhecer, dominar e vencer as serras para que os primeiros jesuítas

conseguissem adentrar o interior e fundar novos lugares e São Paulo é um exemplo disso.

Ocuparam a serra de Ibiapaba no Ceará entre 1655 e 1759 e há relatos também da

presença de inacianos nas serras de Garuva e de Urubici em Santa Catarina.

Mas, além de ouro, o que teria nas montanhas que compreende hoje o do Caminho dos

Anjos que poderia ter interessado os jesuítas? Os índios puris (que habitavam a região

devido a grande quantidade de cachoeiras e nascentes de água que eles consideravam

sagradas - Vale do Matutu em indígena é “cachoeiras e ou cabeceiras sagradas”) para

aldear, “civilizar” e evangelizar? Ou defesa, esconderijo seguro, recursos diversos de

sobrevivência, infraestrutura construtiva como madeira, barro e pedra e as nascentes dos

principais rios formadores da bacia do Rio Grande (afluente da Bacia do Paraná que

levavam para o sul até a Bacia do Prata), todos fatores que auxiliavam no processo de

desbravamento e colonização? Ou o nascente e o poente do sol, o silêncio, o vento, o clima

frio e puro e a visão do alto que favorecem o retiro, o isolamento e a austeridade da alma?

De fato a “natureza do lugar se mistura com a natureza interna de cada um que o visita”, e

isso é marcante nos Exercícios Espirituais Inacianos para potencializar a capacidade de

interiorização e desabrochar o autoconhecimento que leva ao encontro de Deus. Talvez

estivessem interessados nisso, talvez.

Fontes

Cartografia: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro

• Mappa da capitania de S. Paulo, e seu sertão em que devem os descobertos, que lhe forão

tomados para Minas Geraes, como tambem o camiho de Goyazes, com todos os seus

pouzos, e passagens – Autor: Francisco Tosi Columbina - 1751 e 1755, nanquim, 65 x

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45,2cm em f. 66,5 x 48 cm. Coleção Morgado de Mateus. CMM. Referências Catálogo

Arquivo de Mateus, p. 429 - n. 2477. VIEIRA JÚNIOR, Wilson Carlos Jardim; SCHLEE,

Andrey Rosenthal; BARBO, Lenora de Castro. Tosi Colombina, Autor do Primeiro Mapa da

Capitania de Goiás?. Localização Cartografia e Manuscritos 049,05,008 n.03on.

• Mappa da Comarca do Rio das Mortes, pertencente a Capitania das Minas Gerais: que

mandou descrever o Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor D. Antônio de Noronha

Governador e Cap. General da mesma Capitania segundo as mais exactas informaçõens /

Jozé Joam. da Rocha o fes”; autoria de Joaquim José da Rocha (1740-1804), publicado em

1777 aquarelado medindo 50 x 59,5cm em f. 56 x 66cm que abrange a região sudeste de

Minas Gerais, indicando vilas, capelas, destacamentos de soldados, sítios, fazendas e

caminhos. Localização: ARC.030,01,007 Cartografia.

• Mappa da Capitania de Minas Geraes: que mandou fazer o Illmo. e Exmo. senhor D. Anto.

de Noronha, governador e capitão genal. da mesma capitania / Jozé Joaqm. da Rocha o fez

– Data: 1777, aquarelado, desenho a nanquim; medindo 89,2 x 34,5cm - Localização:

ARC.023,04,002on Cartografia.

• Mappa topografico e idrografico da capitania de Minas Geraes: toda esta capitania he

coberta de mattas e só nas comarcas do Rio das Mortes, Sabará e Ferro tem manxas de

Campo”. Autor desconhecido - Data: meados do século XVIII. Medida: 74,5 x 67,5cm em f.

77,5 x 68,8cm. Localização: ARC.023,04,002on Cartografia.

• Mapa da Região das Minas Gerais com uma parte do caminho de São Paulo e do Rio de

Janeiro para as Minas e dos afluentes terminais do São Francisco – Autor desconhecido –

Data: meados do século XVIII. Medida: 56 x 65,5cm. Localização:ARC.030,03,018

Cartografia ARC.030,03,018 Texto a,b Cartografia.

Fotografias

• Figura 03: Detalhe das técnicas, tecnologias e materiais construtivos do muro da Igreja de

Santana da Guapiara – MG – Fotografia de Rogério Entringer - Julho de 2014.

• Figura 04: Detalhe da entrada do túnel do Garrafão – Engenho/Alagoa – MG – Fotografia

de Rogério Entringer – Janeiro de 2013.

Referências Bibliográficas

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

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