não apoiaria pedido de impeachment hoje, daria …ex-prefeito paulistano, ex-ministro de dilma...

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Sem Opção Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Poder - Seção: - Assunto: Política - Página: A10 - Publicação: 30/04/20 URL Original: Não apoiaria pedido de impeachment hoje, daria tempo para o STF apurar Não apoiaria pedido de impeachment hoje, daria tempo para o STF apurar Presidente do PSD nega barganha para apoiar Bolsonaro, mas aprova indicação de nomes por correligionários Gilberto Kassab é contra a abertura de um processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) neste momento. O presidente do PSD crê que a investigação sobre as acusações do ex-ministro Sergio Moro de que Bolsonaro quis interferir na Polícia Federal no Supremo Tribunal Federal deu tempo ao Congresso para avaliar melhor o caso. “Se eu fosse um parlamentar, no dia de hoje, não assinaria um pedido de CPI, daria um tempo para o Supremo”, disse, trazendo também a hipótese de uma Comissão Parlamentar de Inquérito à baila, além de rejeitar a abertura do processo de impedimento agora. Segundo pesquisa do Datafolha divulgada na segunda (27), os brasileiros estão divididos sobre o impedimento: 45% querem o processo e 48%, não. Ele ressalta, contudo, que a judicialização da indicação do amigo da família Bolsonaro Alexandre Ramagem para a PF, suspensa pelo Supremo e anulada pelo presidente, ocorre em momento de "altíssima temperatura". Oráculo do pragmatismo político nacional, Kassab se diz otimista com a ofensiva de Bolsonaro em busca de apoio entre partidos como o seu PSD e os do centrão. Nega ter negociado cargos com Bolsonaro para apoiar o presidente sob ameaça de ver um processo de impedimento aberto, mas afirma que é lícito que parlamentares de seu partido façam sugestões de nomes. O PSD tem 37 deputados, a quinta maior bancada da Câmara. Ex-prefeito paulistano, ex-ministro de Dilma Rousseff (PT) e de Michel Temer (MDB), Kassab falou de planos para as eleições desde ano e de 2022 por telefone, de Brasília. Qual a sua avaliação da crise política, após a saída do ministro Sergio Moro com os ataques ao presidente? - São questões diversas. Ficou claro que havia uma falta de entendimento entre o presidente e o ministro. Existe outro contexto, porque Moro personifica essa força-tarefa importante no combate à corrupção. Isso converge para uma decepção de parte da sociedade, que via nele o simbolismo de que o governo está combatendo a corrupção. O presidente Bolsonaro vai ter de fazer um esforço muito grande para mostrar que isso não era a ação de um ministro, mas de um governo. Muitos políticos veem abuso nessa campanha. O sr. mesmo responde a uma acusação de caixa-dois em São Paulo. O sr. acha que Moro sai do governo como candidato a presidente? - É difícil alguém entender que Moro não tenha prestado bons serviços no Paraná, no campo jurídico. Daqui para a frente, ele vai atuar no campo político. Vai ter de mostrar sua vocação, suas propostas, sua equipe, o partido que ele vai abraçar. Difícil fazer avaliação enquanto não tivermos a definição de seus próximos passos. Qual o impacto político da investigação do caso pelo Supremo? - Ela serviu para acalmar um pouco as instituições. A Procuradoria-Geral, com bastante inteligência e rapidez, acabou dando uma satisfação para a sociedade. Isso, na minha percepção, serviu para acalmar o país. Não é qualquer instituição que está investigando, é o Supremo. E demos a sorte de ter caído na mão de uma pessoa muito experiente, o ministro Celso de Mello. Não que os outros membros do Supremo não contem com o respeito de todos, mas o decano não tem arestas. Isso tudo contribuiu para que o problema fosse colocado no devido lugar, e todos nós esperamos a isenção da Polícia Federal, do Supremo, do Ministério Público, para que tudo seja esclarecido. Moro acusou Bolsonaro de tentar interferir na PF, e o presidente acabou nomeando Alexandre Ramagem , pessoa próxima de sua família. Como o sr. vê isso? - É natural que haja relações entre aqueles que trabalham juntos. O importante é daqui para a frente. Existem cargos que impedem certas relações de intimidade, então minha preocupação é daqui para frente. Não é que eram amigos de infância, são pessoas que conviveram. O caso acabou judicializado, com a liminar do Supremo suspendendo a nomeação, e Bolsonaro teve de recuar. - Tenho dito sempre, ao longo de minha carreira, que confio no Poder Judiciário e no Ministério Público. Vale ressaltar que esta

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SemOpção

Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Poder - Seção: - Assunto: Política -Página: A10 - Publicação: 30/04/20URL Original:

Não apoiaria pedido de impeachment hoje, dariatempo para o STF apurarNão apoiaria pedido de impeachment hoje, daria tempopara o STF apurarPresidente do PSD nega barganha para apoiar Bolsonaro, mas aprovaindicação de nomes por correligionáriosGilberto Kassab é contra a abertura de um processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nestemomento.O presidente do PSD crê que a investigação sobre as acusações do ex-ministro Sergio Moro de que Bolsonaro quis interferir naPolícia Federal no Supremo Tribunal Federal deu tempo ao Congresso para avaliar melhor o caso.“Se eu fosse um parlamentar, no dia de hoje, não assinaria um pedido de CPI, daria um tempo para o Supremo”, disse, trazendotambém a hipótese de uma Comissão Parlamentar de Inquérito à baila, além de rejeitar a abertura do processo de impedimentoagora.Segundo pesquisa do Datafolha divulgada na segunda (27), os brasileiros estão divididos sobre o impedimento: 45% querem oprocesso e 48%, não.Ele ressalta, contudo, que a judicialização da indicação do amigo da família Bolsonaro Alexandre Ramagem para a PF, suspensapelo Supremo e anulada pelo presidente, ocorre em momento de "altíssima temperatura".Oráculo do pragmatismo político nacional, Kassab se diz otimista com a ofensiva de Bolsonaro em busca de apoio entre partidoscomo o seu PSD e os do centrão.Nega ter negociado cargos com Bolsonaro para apoiar o presidente sob ameaça de ver um processo de impedimento aberto,mas afirma que é lícito que parlamentares de seu partido façam sugestões de nomes. O PSD tem 37 deputados, a quinta maiorbancada da Câmara.Ex-prefeito paulistano, ex-ministro de Dilma Rousseff (PT) e de Michel Temer (MDB), Kassab falou de planos para as eleiçõesdesde ano e de 2022 por telefone, de Brasília.Qual a sua avaliação da crise política, após a saída do ministro Sergio Moro com os ataques ao presidente? - Sãoquestões diversas. Ficou claro que havia uma falta de entendimento entre o presidente e o ministro. Existe outro contexto,porque Moro personifica essa força-tarefa importante no combate à corrupção. Isso converge para uma decepção de parte dasociedade, que via nele o simbolismo de que o governo está combatendo a corrupção. O presidente Bolsonaro vai ter de fazerum esforço muito grande para mostrar que isso não era a ação de um ministro, mas de um governo.Muitos políticos veem abuso nessa campanha. O sr. mesmo responde a uma acusação de caixa-dois em São Paulo.O sr. acha que Moro sai do governo como candidato a presidente? - É difícil alguém entender que Moro não tenhaprestado bons serviços no Paraná, no campo jurídico. Daqui para a frente, ele vai atuar no campo político. Vai ter de mostrar suavocação, suas propostas, sua equipe, o partido que ele vai abraçar. Difícil fazer avaliação enquanto não tivermos a definição deseus próximos passos.Qual o impacto político da investigação do caso pelo Supremo? - Ela serviu para acalmar um pouco as instituições. AProcuradoria-Geral, com bastante inteligência e rapidez, acabou dando uma satisfação para a sociedade. Isso, na minhapercepção, serviu para acalmar o país. Não é qualquer instituição que está investigando, é o Supremo.E demos a sorte de ter caído na mão de uma pessoa muito experiente, o ministro Celso de Mello. Não que os outros membros doSupremo não contem com o respeito de todos, mas o decano não tem arestas. Isso tudo contribuiu para que o problema fossecolocado no devido lugar, e todos nós esperamos a isenção da Polícia Federal, do Supremo, do Ministério Público, para que tudoseja esclarecido.Moro acusou Bolsonaro de tentar interferir na PF, e o presidente acabou nomeando Alexandre Ramagem, pessoapróxima de sua família. Como o sr. vê isso? - É natural que haja relações entre aqueles que trabalham juntos. O importanteé daqui para a frente. Existem cargos que impedem certas relações de intimidade, então minha preocupação é daqui parafrente. Não é que eram amigos de infância, são pessoas que conviveram.O caso acabou judicializado, com a liminar do Supremo suspendendo a nomeação, e Bolsonaro teve de recuar. -Tenho dito sempre, ao longo de minha carreira, que confio no Poder Judiciário e no Ministério Público. Vale ressaltar que esta

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judicialização, diferentemente da grande maioria, começa numa temperatura elevadíssima.O sr. acha que a discussão do impeachment acaba sendo adiada? - Não é uma discussão qualquer, envolve o presidente.Acho que o Congresso, pelas declarações que eu vejo dos principais líderes, está agindo com sabedoria, manifestando adisposição de aguardar um pouco o andamento das investigações do Supremo.Não que o Congresso não tenha autonomia para fazer sua investigação, sua CPI, convocações. Mas, nesse caso específico, pelascircunstâncias, por estarmos na pandemia, é um gesto de sabedoria.Como presidente do PSD, o sr. está de acordo com isso? - Nossas bancadas têm autonomia. Desde sua fundação, nuncafechamos questão, e também não será desta vez. Cada parlamentar tem direito de se expressar. Se eu fosse um parlamentar,no dia de hoje, não assinaria um pedido de CPI, daria um tempo para o Supremo.CPI ou impeachment? - Qualquer uma das duas.O Planalto tem buscado se aproximar de partidos. O que o sr. falou com o presidente? - A nossa conversa com opresidente é mais fácil porque somos independentes, então alguns parlamentares são mais próximos dele, outros maisdistantes.Há algumas semanas, o ministro Luiz Eduardo Ramos [Secretaria de Governo] me ligou convidando para uma conversa. Elemarcou um café [no dia 15 de abril], inicialmente só nós e o presidente, depois com o líder [do PSD na Câmara] Diego [Andrade,MG] e outros colaboradores, conversamos sobre as preocupações com economia e saúde. Ele quis mostrar que o governo queriao diálogo, e nós aceitamos.O diálogo inclui participação no governo, cargos? - Não. Em nenhum momento foi veiculada menção a cargos. Até porquecomo o partido é independente, ele não participa. Alguns parlamentares do partido, até por conta dessa independência, têm tidocontribuição junto ao governo, sugerindo nomes para alguns cargos. Eu não tenho acompanhado. Não há nenhum problema emrelação a isso.O sr. não aceita que o PSD seja considerado parte do centrão. Por quê? - Se um colega seu nos procura e pergunta senós somos do centrão e a resposta é não, é porque é não. Os outros partidos sabem que não integramos o centrão. Temosconvergências e divergências. É apenas um conceito que o partido tem desde que fomos convidados e não aceitamos fazerparte do grupo.Não é desprezar qualquer que seja o partido, mas é que entendemos que um bloco único precisa de unidade jurídica, integraçãoplena. Isso não existe. Isso enfraquece a imagem do partido. Não tem juízo de valor sobre o centrão.Como o sr. vê a posição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ)? Ele parece ter perdido controle sobreparte da tropa. - Eu entendo que a gestão do Rodrigo é muito boa. Aprovou matérias relevantes, atuou com discernimento esabedoria em crises políticas. Nos últimos tempos, ele se distanciou do governo por dificuldade de diálogo com o presidente ecom o Paulo Guedes (Economia). Em nada desmerece a gestão dele.Bolsonaro é conhecido por ser de difícil trato com o Congresso. Isso muda? - Pelo que eu percebo nas últimas semanas,melhorou bastante a qualidade da relação do governo com o Legislativo. Uma disposição maior para o diálogo, umentendimento em relação a projetos.O sr. é contrário ao adiamento das eleições municipais devido à Covid-19. Já reconsidera a posição? - Sou contrário,o que não significa que, se a pandemia continuar até o fim de junho, nós não precisemos colocar um pouco para a frente, 15 denovembro por exemplo. É muito ruim para a democracia mudar o calendário.Como o PSD está se posicionando para o pleito? - Temos foco nas grandes cidades. Temos o Andrea Matarazzo em SãoPaulo e, como carro-chefe, a reeleição do prefeito Alexandre Kalil em Belo Horizonte. Nós já tínhamos presença forte na Bahia,no Paraná, agora Minas Gerais. Temos na presidência estadual o senador Carlos Viana, trazendo Kalil (ex-PHS), o senadorAntonio Anastasia (ex-PSDB).O sr. sempre foi visto como um grande pragmático, que nunca rejeitou alianças. Como vê o PSD em 2022? - Asalianças vão acontecer cada vez menos. O PSD vai se esforçar para ter candidatos a governador e a presidente. A ExecutivaNacional definiu cinco pré-candidatos que serão levados para as bases.São o líder no Senado, Otto Alencar (BA), o senador Anastasia (MG), o governador Ratinho Júnior (PR), que é candidato àreeleição, mas tem se firmado no plano nacional, e os deputados André de Paula (PE) e Fábio Trad (MS). Temos quadros.Qual o impacto da pandemia sobre o processo político? - Existe uma radicalização muito grande entre quem entende queo isolamento deve ser total e aqueles que têm posição diferente. Eu me associo àqueles para quem o caminho da economiadeve ser ditado por aqueles que são responsáveis pela saúde.Defendo um isolamento mais radical até as primeiras semanas de maio, como [governador paulista João] Doria [PSD] e outrosgovernantes.O sr. vê atores emergindo dessa crise com mais destaque, como Doria? - Eu acho que as eleições presidenciaispassarão a ser discutidas depois das municipais. Há um fato político novo que alguns não enxergam, a grande reforma políticada proibição das coligações no pleito proporcional. Os partidos terão de investir na formação de quadros.Acabou aquela fase de você participar de uma eleição com poucos nomes porque faz parte de uma coligação. Dessa maneira,falar em alianças antes de o partido definir essa estratégia vai ser complicado. Quem quiser inverter a equação vai quebrar acara.Com isso, o pleito de 2018 foi um fenômeno único? - Acho que cada vez mais vai ter uma redução do número dos partidos

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e, com isso, todos vão querer ter candidato a presidente. Vai ser difícil surgir um candidato de uma hora para outra. Não queBolsonaro tenha feito isso, ele estava em campanha havia quatro anos. Mas diria que no mundo político foi uma surpresa aeleição dele. Esse tipo de surpresa vai ser mais difícil.Nomes de fora da política, como o do apresentador Luciano Huck, ficam como? - Ele pode ser convidado por umpartido, mas não vai se filiar num gesto de um dono de partido. Não haverá mais pequenos partidos. Só haverá médios egrandes. Ninguém consegue ser dono de um partido assim, apenas um bom líder. O Huck pode participar de um processo dediscussão que poderá ou não acolhê-lo.Como o sr. vê a esquerda nesse processo? - O PT mostrou que é um partido. Enfrentou e enfrenta uma crise e teveresultado bastante satisfatório em 2018. Na esquerda, o PSOL está consolidado e tem um grande líder que representa essa ideiaradical de esquerda, o Guilherme Boulos.Na direita, teremos o partido do presidente [Aliança pelo Brasil, ainda em formação], que vai chegar a 2022 elegendo umabancada de 50 deputados federais. Seja porque é governo, seja porque a direita tem o seu espaço.O resto não deve ser mais do que sete ou oito partidos [hoje são 30 com representação na Câmara].O financiamento público sofre questionamentos. Ele veio para ficar? - O financiamento privado não deu certo. Defendoque não volte e, se voltar, as empresas não vão doar porque o financiamento foi criminalizado. A doação individual tem seuslimites e, evidentemente, há aqueles sem recursos. A pergunta não é o que vai fazer com o Fundo Eleitoral. Se não houvereleições, é evidente que o fundo não será usado. Se houver, o fundo precisa continuar.As campanhas deste ano não serão mais baratas, já que haverá restrições de movimentação e aglomeração aindaem vigor? - Vai ter que ter criatividade, mas tem de ter um mínimo de campanha. Nem todas as regiões do país têmcandidatos com acesso a tecnologia. O contato com o eleitor, o corpo-a-corpo é importante. Por isso não afirmo que haveráeleições, eu espero que tenha. Se eu fosse parlamentar, esperaria até o último momento até definir.RAIO-XGilberto Kassab, 59Economista e engenheiro civil, Kassab foi secretário de Planejamento de São Paulo (1997-8, governo Celso Pitta, PPB e PTN),deputado federal (1999-2005), vice-prefeito (2005-6, governo José Serra, PSDB) e prefeito (2006-13) de São Paulo, ministro dasCidades (governo Dilma Rousseff, PT, 2015-16) e da Ciência e Tecnologia (governo Michel Temer, MDB, 2016-18). Foi do PL, PFL,DEM e, em 2011, fundou o PSD, que preside. É secretário licenciado da Casa Civil paulista (governo João Doria, PSDB).

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