nº 4 - 4º trimestre 2012

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Revista Digital de Cães e Lobos Nº 4 - 4º Trimestre de 2012 Uma Edição do Departamento de Divulgação do: Centro Canino de Vale de Lobos Etologia • Comportamento • Educação • Adestramento Convivência • Psicologia • Veterinária • Estética Artigos - Notícias - Reportagens - Curiosidades

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Revista de Cães e Lobos de propriedade do Centro Canino de Vale de Lobos

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Page 1: Nº 4 - 4º Trimestre 2012

Revista Digital de Cães e Lobos

Nº 4 - 4º Trimestre de 2012

Uma Edição do Departamento de Divulgação do:

Centro Canino de Vale de Lobos

Etologia • Comportamento • Educação • Adestramento

Convivência • Psicologia • Veterinária • Estética

Artigos - Notícias - Reportagens - Curiosidades

Page 2: Nº 4 - 4º Trimestre 2012

Formamos:

Profissionais competentes...

… e donos responsáveis!

Departamento de Formação do:

CENTRO CANINO DE VALE DE LOBOS

Características do Curso

Objectivos do Curso: Formar técnica e cientificamente através da aquisição de conhecimentos sobre Criação Canina, todos os criadores, ou que pretendam vir a sê-lo, na medida em que, este Curso abarca toda esta temática, desde os conceitos de Genética Canina até à entrega do cachorro ao futuro dono.

Início do Curso: Imediato Método de Ensino: Científico Documento fim de Curso: Diploma final de Curso com a qualificação obtida. Tempo médio despendido com o curso: +/- 6 meses ou 500 horas (varia em função da disponibilidade e da aplicação do formando). A quem é dirigido este Curso: Este Curso é dirigido a todos os Criadores Caninos que sintam algumas lacunas no seu conhecimento acerca dos Temas propostos no mesmo. É igualmente dirigido a todos aqueles que pretendam iniciar esta apaixonante e nobre atividade que é a Cria-ção Canina. Perspectivas de conhecimentos adquiridos no final do Curso: Excelente bagagem técnico/científica e conhecimento profundo de todos os mecanismos ligados ao processo de Criação Canina. No final do mesmo, o formando fica em condições de, conscientemente, Criar cães, uma vez que está na posse de formação técnica e científica específica necessária para o fazer.

Estrutura Programática (Resumida) Tema 1 - A Genética Canina Tema 2 - O Período Reprodutivo Tema 3 - A Reprodução Tema 4 - A Gestação Tema 5 - A Patologia da Reprodução Tema 6 - A Alimentação da Cadela gestante Tema 7 - O Parto Tema 8 - A Amamentação Tema 9 - O Desmame Tema 10 - Primeiras etapas do desenvolvimento do Cachorro Tema 11 - Enfermidades do Período neonatal Tema 12 - O Crescimento do cachorro Tema 13 - Desparasitação e Vacinação dos Cachorros Tema 14 - A entrega dos Cachorros Tema 15 - Identificação e Registo dos Cachorros

Curso destinado a todos os criadores, ou potenciais criadores caninos.

http://formacaoccvl.weebly.com/curso-de-psicologia-canina.html

Page 3: Nº 4 - 4º Trimestre 2012

Editorial

Cães & Lobos Edição Nº 1

Página 1

A edição deste trimestre está centrada numa extensa entrevista,

de 10 páginas, que o Prof. Francisco Petrucci-Fonseca, Pres. do

Grupo Lobo, deu à nossa revista. Nesta entrevista nada ficou por

dizer no que ao lobo diz respeito. Convido todos os leitores a

lerem-na com a máxima atenção.

Mais uma vez, a colaboração dos formados e formandos do

Departamento de Formação do CCVL foi de um inestimável valor

ao apresentarem artigos de fundo sobre temas bastantes inte-

ressantes para o grande público.

A Suzette Veiga presenteou-nos com as últimas investigações acerca da ori-

gem e domesticação do cão que poderão abalar os conceitos até agora conhe-

cidos sobre este tema.

Há mais uma estrela na publicidade em Portugal e ela chamasse “Blanca” que

com a ajuda do seu dono, André Moreiras e do treinador Fernando Silva, parti-

cipou num anúncio de uma empresa de mobiliário para o mercado francês.

Também de sua autoria, falou sobre o Seminário dado pelo Dr. Ian Dunbar,

especialista em comportamento canino, no mês de Setembro e organizado

pela escola de treino canino “It’s all about dogs”. Além destas duas colabora-

ções, o André também nos ajudou a compreender porque não devemos utilizar

a palavra “Não” em adestramento canino.

A Paula Leal concluiu a sua pesquisa, iniciado na revista anterior, sobre o tra-

balho e desportos caninos, desta vez dedicado ao segundo tema.

O Tiago Barreto, pela primeira vez a dar a sua colaboração, deixou-nos alguns

trabalhos dos quais queria realçar a ajuda que nos dá para tentarmos com-

preender as capacidades olfativas dos cães e também a história de um cão,

leal ao seu dono e que nem na hora da sua morte o abandonou.

A Anabela Guerreiro lembrou-nos que todos os anos o dia 4 de Outubro é o dia

de homenagearmos os nossos animais e relatou como ela o comemorou este

ano.

A personalidade deste trimestre é o Dr. Konrad Lorenz, prémio Nobel da medi-

cina de 1973, considerado o pai da Etologia moderna e criador do conceito de

“imprinting”.

Boas Leituras.

Sílvio Pereira

Navegue connosco nas ondas da web

Centro Canino de Vale de Lobos

www.ccvlonline.com

Departamento de Formação do CCVL

http://formacaoccvl.weebly.com

Departamento de Divulgação do CCVL

Blogue: http://comportamento-canino.blospot.com

Fórum: http://comportamento-canino.forumotion.net

www.facebook.com/ccvlobos

2

Trabalho e desporto canino (Paula Leal)

6

Compreender o olfato do cão (Tiago Barreto)

7

Caráter, Temperamento e quali-

dades intrínsecas do cão (Sílvio Pereira)

9

Konrad Lorenz (Sílvio Pereira)

10

Blanca, a minha estrela canina (André Moreiras)

11

Dia mundial do Animal (Anabela Guerreiro)

13

Entrevista Prof Francisco

Petrucci-Fonseca - Grupo Lobo (Sílvio Pereira)

22

Novos conhecimentos sobre a

domesticação do cão (Suzette Veiga)

24

O Significado da palavra “NÂO”

em termos caninos (André Moreiras))

26

Lealdade Canina (Tiago Barreto)

28

Seminário do Dr. Ian Dunbar (André Moreiras)

21 - 1º Hosp. Público do Brasil

23 - O seu cão é agressivo?

25 - Máximas

27 - 3º Congresso Ibérico do

Lobo

29 - Livro recomendado

30 - Notícias

31 - Sabia que...

Revista Cães & Lobos

http://revistacaeselobos.weebly.com

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Cães & Lobos Edição Nº 4

Página 2

Caça

A caça continua a ser um desporto, uma paixão, ou mesmo uma forma de arte para muitos e que envolve mais de um milhão de cães. Trata-se de um desporto quer para o cão quer para o dono porque requer uma excelente condição física para poder ser praticada durante muito tempo e sob quaisquer condições atmosféricas, mas também força de carácter, tenacidade e espírito de observação, independentemente das qualidades olfativas indispensáveis a um bom cão e caça. Provas de Field-trial

São provas desportivas muito populares, destinadas a cães de caça do tipo cães de parar. Neste tipo de prova, o cão tem quinze minutos para demons-trar a excelência das suas qualidades de caçador. Deve explorar o território que lhe é atribuído, de cabeça erguida, a boa velocidade, a correr em ziguezague à frente do seu con-dutor. Cada uma das passagens diante do dono deve ser feita a uma distância equivalente ao que os juízes qualificam como “alcance da espingarda”. A extensão da busca de cada lado do condutor varia com a raça do cão e com a amplitude da busca específica da raça.

Desporto

2ª Parte

Desportos Caninos

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Cães & Lobos Edição Nº 4

Página 3

Outros concursos para cães de caça

Como o cão de parar não é, de longe, o único cão de caça, são organizados vários concursos ou competições para ava-liar a qualidade de outras raças. Assim, as provas de trabalho para Retrievers permitem com-parar as qualidades de recolha da caça dos cães apresenta-dos. Por ordem do juiz, o cão é enviado para recolher e tra-zer de volta a caça e recebe uma pontuação pela forma como efetua essa tarefa. Os cães Sabujos de pequena montaria, por sua vez, dis-põem de 2 tipos de provas para serem avaliados: caça ao cabrito-montês e caça à lebre. Nestes concursos, competem matilhas de 3 a 9 cães dependendo da situação.

Finalmente, Terriers e Teckels também podem participar em provas com tocas artificiais, com raposa ou texugo, e, de maneira mais esporádica no caso dos Teckels, até mesmo provas de busca de lebre ou busca com pista de sangue, na ótica da procura da caça ferida.

Provas de trabalho Concursos de cães de pastoreio

O cão pode trabalhar com um grupo de 5 ovelhas. Num tem-po determinado, deve fazê-las passar entre barreiras num cercado e a seguir isolar dois dos animais. Este é um dos exercícios mais difíceis, visto que o cão trabalha com um pequeno rebanho. Pode ainda trabalhar com 2 grupos de 10 ovelhas cada, devendo cada grupo ser trazido de volta individualmente. A seguir, com a totalidade do rebanho, ele faz o mesmo per-curso anteriormente realizado por um único grupo de cinco ovelhas. Para um trabalho com 2 cães são utilizadas 6 ove-lhas. Os dois cães, que não estão autorizados a cruzar-se, conduzem o rebanho até ao pastor, separam-no em dois grupos iguais e, a seguir, cada um conduz o seu grupo até um cercado diferente.

Corridas de galgos O princípio é simples: seis cães numa “starting-box” são sol-tos numa pista em forma de anel, feita de areia ou relva, per-seguindo um falso coelho puxado por um cabo ou por um motor na parte interna do anel.

Desporto

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Cães & Lobos Edição Nº 4

Página 4

Concursos de escavação para cães farejadores de trufas

Desde 1969 que são organizados concursos de busca de trufas para comparar ahabilidade dos cães. O cão deve buscar e indicar com a pata a localização de seis trufas, enterradasnuma área com 25 m de largura, o mais rapidamente possível, sem marcar duasvezes o mesmo lugar (penalização), nem desenterrar e comer a trufa (eliminado).

Competição de ring, pistagem e campo Os concursos em ring e a sua aplicação prática, o concurso de campo, consistem numa série de provas de adestramento em que o cão revela as suas aptidões naturais nas áreas do salto de obstáculos, da obediência, da combatividade e de pistagem. Estas provas são reconhecidas como sendo melhoradoras da espécie canina, ao permitirem selecionar, entre as raças de pastoreio e guarda, as qualidades fundamentais de corrida, dinamismo, aptidão à obediência, estabilidade de tempera-mento e coragem. Por essa razão, os seus resultados cons-tam dos pedigrees dos animais, ajudando os criadores na escolha dos reprodutores com mais capacidades para melho-rar as qualidades da raça em termos de temperamento. Provas de obediência Consiste numa série de exercícios diversificados (junto com e sem trela, buscar objetos, transições, etc.) e outros mais específicos: - Procura com ladrar e conduta do atacante; - A defesa do dono; - Os ataques; - Os ataques parados; - A guarda de objetos. Concursos de pistagem de utilidade Existem sob duas formas: a pista de concurso, com um traça-do convencional e a pistagem de utilidade. Neste último, haverá uma pessoa colocada na situação de uma pessoa perdida. Na verdade, esta atividade pode ser o ponto de par-tida, para intervenções reais, relacionadas com a busca de pessoas desaparecidas.

Desporto

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Cães & Lobos Edição Nº 4

Página 5

Competições desportivas e de lazer

Canicross Neste desporto, o dono corre ao lado do cão num percurso natural marcado. As regras que regem este desporto determinam que a dupla dono-cão percorra uma distância de 7 Km sem paragem. O cão é preso ao seu dono por uma corda ou uma trela regula-mentar atada à cintura. Os juízes, espalhados em todo o percurso, verificam se o dono nunca ultrapassa o seu cão ou não o arrasta atrás de si… Agility Desporto canino recente, mas cada vez mais difundido. Define-se como uma atividade de jogo que consiste em fazer o cão passar por vários obstáculos reunidos num percurso, sem trela nem coleira. Flyball Flyball é uma corrida de revezamento entre duas equipes de quatro cães. Corrida de lado a lado, um cão de cada equipe deve passar por cima de quatro obstáculos, acionar um pedal caixa de flyball, catch (recuperar) uma bola e depois voltar sobre todos os quatro obstáculos para o portão de largada / chegada, onde o próximo cão aguarda ansiosamente. Corridas de Trenó É um desporto de Inverno, muito popular no Ártico, em certas regiões dos Estados Unidos, Canadá, Rússia e, em alguns países europeus. Trata-se de uma competição cronometrada de equipes formadas por cães de trenó que puxam o trenó, e o driver do cão. A equipe que concluir o percurso marcado no menor tempo é o vencedor. Ski-pulka É um desporto que combina ski de fundo e trenó: o esquiador de fundo está preso à sua equipa, composta, em média, por um a três cães que puxam um pequeno trenó carregado. ________________________________________ Autoria: Paula Leal Fotos: Google

Desporto

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Cães & Lobos Edição Nº 4

Página 6

O nariz do cão não só domina a face, mas também o seu cérebro. Na verdade, o cão depende do seu olfato para interpretar o mundo, da mesma forma que as pessoas dependem da visão. Esta forma diferente de perceber o mundo, difícil de imaginar, torna o cão capaz de interpretar tanta informação como nós. Nascido para cheirar. Para se perceber a capacidade olfativa do cão, vamos compará-la ao nariz de uma pessoa. Dentro do nariz de cada espécie, existem uns orifícios, por onde passa o ar. Numa visão microscópica deste órgão revela uma membrana espessa e esponjosa, que contém, a maior parte das células que detetam o odor, assim como, os nervos que transmitem a informação para o cérebro. Nos humanos, a área que analisa os odores é do tamanho de um selo, enquan-to que nos cães seria do tamanho duma folha de papel onde normalmente se escreve. Embora o tamanho desta superfície varie com o tamanho e cumprimento do nariz dos caní-deos, até as raças com o nariz achatado podem detetar muito melhor o cheiro comparativa-mente a nós. A tabela seguinte mostra o número de recetores de odores nas pessoas e nalgu-mas raças. Tabela: Capacidade de deteção de odores nos humanos e nos cães. Espécie Número de recetores de odores Humanos 5 milhões Dachshund 125 milhões Fox Terrier 147 milhões Beagle 225 milhões Pastor Alemão 225 milhões Bloodhound 300 milhões O cérebro do cão é especializado em identificar odores. A percentagem que o cérebro dos canídeos se dedicam a analisar cheiros é quarenta vezes maior ao dos seres humanos. Foi estimado que os cães podem identificar odores 1000 a 10.000 vezes melhor do que nós.

Autoria: Tiago Barreto Fotos: Google

Sentidos

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Cães & Lobos Edição Nº 4

Página 7

2ª Parte O TEMPERAMENTO Os seguintes traços de carácter têm uma particularidade comum a todos: que é aquilo a que vulgarmente os adestrado-res chamam “Força de Vontade”, “Tenacidade”, “Alerta”, “Disponibilidade para o Trabalho”, “Irreverência”, etc. Por isso decidimos separá-los das outras características que compõem o carácter, e tratá-los nesta segunda parte do artigo dedicada ao Temperamento canino. • Tempera. Esta definição contempla a intensidade e velocidade de resposta ante estímulos externos de qualquer natureza. Não se deve aplicar este termo como sinónimo de carácter e muito menos de agressividade. Tal como suce-de com a sociabilidade e a docilidade, a educação canina permite acrescentar temperamento aos espécimes adestra-dos. • Vigilância. Representa a particularida-de sensitiva do cão para pressentir algo anormal e potencialmente perigoso, ameaça para ele como individuo e/ou como integrante na matilha (equivalente à família humana). Por vezes associada a grande sensibilidade olfativa e auditiva dos canídeos, a aptidão de vigilância, tipo sexto sentido que permite pré-advertir grandes calamidades naturais – terramotos, inundações, incêndios, tem-pestades – e resolver antecipadamente a guarda e proteção do grupo (congéneres, pessoas e animais a seu cuidado. • Valentia. No campo do comportamento canino, a valentia descreve a capacidade de resistência a uma ação ou fator exter-no desagradável ou agressivo. É condi-ção indispensável para guarda. • Coragem. A palavra “coragem” sinteti-za uma convergência de impulsos para enfrentar positivamente situações de risco, conhecidas ou não, que possam

afetar a integridade física do indivíduo ou do seu grupo comunitário. Esta disposi-ção de luta surge como resposta direta-mente proporcional à sociabilidade e ao temperamento de cada um, sem se con-trapor à docilidade. A coragem opõe-se ao sentimento de fuga – instinto persona-lista – à custa do sacrifício pessoal e, por arrasto, a defesa do conjunto (da matilha ou da família) o exime do medo e consi-derações individualistas. • Agressividade. Nos cães interessa-nos uma reação física e ativa – mas de modo proporcionado e sem exageros – ante um suposto perigo (ameaça territorial, dos seus congéneres e mesmo de todos os seres ao seu cuidado). A agressão obe-decerá sempre a um motivo. Nos cães selvagens este comportamento é primor-dial para obter alimento e, consequente-mente, está relacionado com o instinto predatório e a sobrevivência do mais apto. • Possessibilidade. Diz-se que um cão é possessivo quando, naturalmente, está predisposto a converter-se dono de qual-quer coisa ou de alguém. Deriva – por sublimação – do comportamento predató-rio dos cães selvagens. O apropriar-se de seres ou objetos manifesta-se como expressão de competitividade e afirmação do espaço apreendido. • Combatividade. Este conceito alude à capacidade de lutar com vigor contra um estímulo exterior negativo mal este se manifesta. Verdadeiro “resort” emocional, a combatividade há-de expressar-se com uma firme atitude de luta que, nalguns casos são encarados como esquemas ritualizados de combate e, desencadean-do-se a agressão aberta. Este conceito distingue-se de outras formas de briga porque utiliza os sinais atávicos da espé-cie (posição da cauda, orelhas, pelo eri-çado na cruz, etc.). Autores como Enzo Vezzoli sustentam que frequentemente a combatividade se associa e inclusivamen-te tem origem na possessibilidade.

Etologia

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Cães & Lobos Edição Nº 4

Página 8

do guia se sentem, para eles o castigo consiste numa voz num tom mais áspero. Ao contrário, um cão duro necessitará uma pressão ou um castigo mais expedito. Há quem compare a sensibilidade do ani-mal à sua qualidade. Realmente estes conceitos não estão unidos já que há cães duríssimos não aptos para o trabalho assim como há animais sensíveis de uma qualidade extrema. Portanto, é o adestra-dor que deve adaptar-se à sensibilidade do cão e não o cão ao adestrador. Intrepidez

Qualidade que representa o nível de arrojo ou valentia ante determinados problemas ou obstáculos. Não devemos confundir este conceito com o da conduta defensiva. Um cachorro de cinco meses pode ser muito intrépido sem apresentar atitudes defensivas. Para observar a intrepidez de um cachorro colocamo-lo em cima de uma mesa alta. Quando o chamamos podemos obter uma referência de conduta. No caso de um cão adulto, colocamo-lo num dos lados de uma vala e nós no outro, então observamos como ele resolve o problema. É importante que testemos frequentemen-te o cão em situações novas para ele. A espontaneidade permitirá, dessa forma, uma análise do comportamento do cão uma vez que a aprendizagem não permiti-rá introduzir um fator de variabilidade. Tenacidade Capacidade de resistir ao abandono de uma atividade que apresenta expectativas de satisfazer um instinto. Portanto, a tena-cidade está muito ligada ao nível do instin-to invocado. Como exemplo podemos colocar uma bola à vista de um indivíduo com o instinto de caça bastante desenvolvido. O animal tomará uma atitude expectante e, se lhe impedimos o acesso, teremos o indicador da sua tenacidade controlando o tempo que leva a tentar obtê-la. Têmpera

É a capacidade de adaptação e resposta orgânica do animal perante sucessos ines-perados. As respostas de inquietação, surpresa excessiva ou, inclusivamente medo, quando algo se modifica de forma repentina, no âmbito da sua perceção sen-sorial, denotam, em maior ou menor grau, grau uma possível carência de Tempera-mento no cão. Neste caso, descartamos os modelos de conduta associados ao G.A.S. (Síndrome Geral de Adaptação) ou as reações gerais de

emergência, que leva-nos a supor uma deficiência no seu temperamento. Para observarmos o nível de tempera-mento de um indivíduo podemos efetuar um disparo, introduzir um objeto novo e chamativo no seu meio envolvente quan-do está ausente ou simplesmente, deixar cair um objeto metálico que produza um som alto quando o cão estiver distraído. Estes não são mais que alguns exemplos mas, mão há dúvida que o temperamento pode testar-se de diversas formas. Um cão que lhe falte temperamento pode fazer-se insensível a um estímulo concre-to, por um processo de habituação mas, noutro contexto aparecerá esta deficiência revelando assim as suas limitações. Resolução

É a capacidade de dar solução a um pro-blema que se lhe apresenta num contexto desconhecido. Está estreitamente ligado à “inteligência” do animal. Esta qualidade é fácil de reconhecer em cachorros e jovens que não tenham sido condicionados em excesso. Para testar esta qualidade nos cães deve-se procurar um local afastado para evitar a inibição dos mecanismos do animal ante problemas em contextos novos. Para testar um cachorro pode-se utilizar um recinto vedado e, depois de um passeio, deixa-se solto e à vontade e cha-mamo-lo do outro lado da vedação enquanto observamos a sua reação. Até aqui temos analisado o cão de forma genérica tendo em conta as virtudes e qualidades que o adestrador deve consi-derar quando seleciona um cão para uma determinada função ou quando testa um animal que lhe é entregue para ser forma-do.

Do que foi dito neste artigo deve deduzir-

se que não existem dois indivíduos iguais

e portanto, a manipulação e o método a

seguir no processo de adestramento,

deverá ajustar-se a uma análise individual.

Devemos ter em conta aqueles fatores de

variabilidade que alteram os resultados do

estudo. Enfermidades, doenças, fases

críticas do desenvolvimento psicofísico,

hostilidades ambientais, traumas muito

recentes e inclusivamente, instintos primá-

rios satisfeitos, distorceram em menor ou

maior grau, a perceção do analista.

Com o estudo e a experiência aprofunda-

se o conhecimento do cão e do seu meio

envolvente evitando, desta forma, surpre-

sas e sobretudo, reduzindo ao mínimo, o

fator sorte.

Autoria: Sílvio Pereira

Fotos: Google

QUALIDADES INTRÍNSECAS DE UM CÃO

Sensibilidade e Recuperação A sensibilidade e a capacidade de recu-peração são fatores psicofísicos do ani-mal que o adestrador deve perceber de forma imediata testando ou simplesmen-te, trabalhando com o cão. A sensibilida-de física ou psíquica e o tempo que o cão leva a recuperar de uma situação de con-flito com o seu adestrador, são os fatores determinantes da intensidade com que este poderá aplicar a pressão ou o casti-go. A pressão é entendida como: “força exer-cida sobre o cão, antes ou durante a ordem, para conseguir execução e rapi-dez”. O castigo ou estímulo aversivo é “a consequência negativa que recebe o animal como resultado de uma resposta inadequada”. Em termos coloquiais o castigo será: a correção física ou psíqui-ca que o cão recebe perante uma falta. Como dizíamos antes, é muito importante conhecer o grau de sensibilidade e a recuperação de cada indivíduo. Há cães que só com um olhar

Etologia

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Cães & Lobos Edição Nº 4

Página 9

Considerado o fundador da etologia moderna, o biólogo austríaco Konrad Zacharias Lorenz nasceu em Viena em 1903 e faleceu em 1989.Licenciou-se em Medicina em Nova Iorque e fez um doutora-mento em Zoologia pela Universidade de Viena em 1933. Aí se tor-nou, em 1937, professor de Anatomia Comparada e de Psicologia Animal. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi capturado, sendo pri-sioneiro União Soviética até 1948. De 1949 a 1951, dirigiu o Instituto de Etologia Comparada de Altenberg. Tendo já publicado, em 1927, os resultados de uma importante pesquisa sobre a vida das gralhas no famoso Journal für Ornithologie, descreveu em 1935 o processo de aprendizagem em patos e em gansos jovens, criando o conceito de ”imprinting”. Nos anos 50, dedicou-se ao estudo comparativo de diver-sas espécies animais e do paralelismo entre estas e a espécie huma-na. Os seus trabalhos representaram um enorme contributo para a compreensão do desenvolvimento de modelos de comportamento nas espécies. Em 1973, foi-lhe atribuído, em conjunto com dois outros estudiosos do comportamento animal, Karl von Frisch e Nikolaas Tinbergen, o Pré-mio Nobel da Fisiologia e da Medicina. Imprinting Conceito lançado pela primeira vez pelo naturalista Austríaco Konrad Lorenz (1903 – 1989) Prémio Nobel da Medicina em 1973 e conside-rado o pai da Etologia Moderna. Ele demonstrou que, no trabalho que realizou com gansos, estes seguiriam o primeiro objeto em movimen-to que encontrassem no seu meio envolvente, mal saíssem dos ovos, ocorrendo assim uma ligação social entre o pequeno ser e o objeto ou organismo que eles vissem em primeiro lugar. Foi o caso da experiên-cia realizada pelo próprio Konrad Lorenz que ao criar uma ninhada de gansos cinzentos desde a oclusão dos ovos, os pequenos gansos o tomaram como sua mãe, seguindo-o incondicionalmente e, mesmo depois de se tornarem adultos, manifestaram sempre maior preferên-cia por ele do que pelos outros gansos. O comportamento de um animal, de qualquer animal, é o resultado da interação de dois fatores fundamentais: a genética e o meio ambiente, e em muitos casos é quase impossível separar o aspeto filogenético (Incluído no seu material genético. Herdado) do ambiental. Um dos exemplos mais curiosos dessas influências no referido comportamen-to animal é o chamado “imprinting” (estampagem ou impregnação em português, apesar do termo, em si ser intraduzível). O imprinting é a primeira e mais duradoura forma de aprendizagem. Graças a ela, o animal aprende a ser membro da sua espécie, enquanto estabelece relações com os de outra.

Personalidade

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Agora com 6 meses de idade, vacina da raiva efetuada, desparasitações feitas, dentição renovada e respetivo registo definitivo no Clube Português de Canicultura em meu nome, a Blanca dos Bigodes de Neve já começa a ficar uma linda e grande Schnauzer miniatura branca. A Blanca neste momento já “senta e fica” e “deita e fica” na perfeição, já rebola, faz de morta, faz a vénia, ladra a comando e aprendeu a rejei-tar a comida que está no chão, tudo isto com base no treino positivo atra-vés do uso do clicker. Outra grande aprendizagem é o "Sítio", uma coisa muito simples que faz toda a diferença... o sítio é um tapete amarelo que arranjei para a Blanca que significa local de descan-so, ideal para quando queremos o nosso cão sossegado ainda que seja num sítio estranho... o primeiro treino é em casa e tem tido resultados excelentes. Mas toda esta aprendizagem desde que chegou a minha casa com 7 semanas tinha uma razão de ser.... todas as formações e treinos por mim realizados seriam para cumprir um objetivo maior.... para além de criar uma cadela perfeita, também gostaria de ter a oportunidade de divulgar o meu trabalho enquanto adestrador canino e a Blanca é sem dúvida "a minha estrela". No mês de Agosto de 2012, eu e a Blanca participámos no Summerdog-camp 2012 organizado pela Escola Canina Educacão, e falei com o Fer-nando Silva (uma vez que faz agen-ciamento de animais) que gostaria de ter a oportunidade de ver a Blan-ca trabalhar em cinema, publicidade e telenovelas, pois tinha-a preparado

para ter todo o perfil adequado para trabalhar nessa área. Esse perfil seria o facto de ser extre-mamente sociável com pessoas e crianças, sociável com animais, e devidamente estimulada nos seus instintos por forma a ter uma aprendi-zagem rápida e a responder devida-mente aos comandos solicitados. Foi feito um Casting fotográfico e de simulação de filmagem ainda no Sum-merdogcamp 2012, onde a Blanca ficou aprovada com sucesso e ficá-mos a aguardar essa oportunidade, ficando desse modo concluído o seu agenciamento. Felizmente surgiu essa oportunidade no passado mês de Setembro, e fomos convidados pelo Fernando Sil-va para estarmos presentes nos estú-dios de gravação pois a Blanca iria participar num anúncio de TV. Chegados ao local conhecemos os atores e equipa de filmagem sempre muito simpáticos... o anúncio era para uma campanha publicitária do IKEA de França. Todo o processo de gravações foi bastante longo, cerca de 10 horas de filmagens, entre pequenos intervalos e um período de almoço e posso dizer que muito embora a Blanca ainda só tivesse 5 meses de idade fiquei muito espantado com a capacidade dela em aguentar todo o stress de sucessivas repetições sem quebrar a sua ener-gia. As gravações com a Blanca decorre-ram em 3 situações distintas: 1º – Período da manhã: Gravação de diversos “takes” onde a Blanca Intera-gia com as crianças.

2º – Período da tarde: Fotografia de grupo onde a Blanca teria que estar em “deita e fica” ou “senta e fica” num sofá da IKEA. 3º – Período da tarde (já no final do dia): Gravação a solo da Blanca, em “senta e fica”, em que teria que fazer expressões para as câmaras e even-tualmente ladrar a comando. Por isso, foi fulcral também providen-ciar-lhe uma área de descanso... uma espécie de tenda onde meti o "Sítio" da Blanca lá dentro... ao início foi complicado ela associar o que seria aquilo, mas rapidamente entendeu que era a sua área de descanso e dormiu bastante tempo enquanto não era solicitada nas filmagens. É necessário ter muita experiência e noção de como se desenrola todo o processo de gravações e ângulos de filmagem, bem como ter sensibilidade perante o stress do animal... a ajuda do Fernando Silva foi fulcral neste aspeto pois ensinou-me qual a maneira adequada de nos colocar-mos no local das gravações por for-ma a obtermos o resultado pretendi-do pelo realizador, intervalando esses momentos de trabalho com os perío-dos de descanso da Blanca. E felizmente correu tudo bem, anún-cio para o IKEA de França realizado com sucesso! O lançamento desta campanha publi-citária está previsto para o mês de Outubro e estará futuramente dispo-nível no blogue da Passos Caninos, uma vez que não tenho a certeza se o anúncio será passado nos canais de televisão portugueses.

Autoria e foto: André Moreiras (dono da Blanca)

Experiências

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Este mês, mais propriamente no passado dia 4 come-morou-se mais um dia Mundial do Animal. E se habitual-mente somos bombardeados com dias alusivos a mil e uma situações, muitas vezes passa-nos completamente ao lado o porquê da criação destes dias específicos, qual o propósito na sua criação e com que objetivo eles existem. A pensar nestas questões este mês debrucei-me na busca das respetivas respostas e na partilha do porquê deste dia mundial que direta ou indiretamente nos toca a todos que temos animais e também aos que não os têm mas que nutrem um interesse e uma curiosidade espe-cial. ORIGEM Tudo começou em Itália mais propriamente em Floren-ça, em 1931, numa convenção de ecologistas, tendo a escolha estado relacio-nada com o facto do dia 4 de Outubro ser o dia de São Francisco de Assis, conside-rado o santo padroeiro dos ani-mais e do meio ambiente, oficia-lização essa, a santo, ocorrida apenas em 1980, pelo Papa João Paulo II. Dotado de ideias vistas com espanto e até mesmo desprezo, este santo, veio para a frente de 800 anos, deixando-nos como ensinamento o correto entendimento de qual o nos-so lugar na ordem criada e que o nosso bem estar deve ser parte integrante em torno do ambiente. Dentro desta celebração, fazemos referência especial aos nossos animais de estimação, cuja lealdade e nobreza engradecem a nossa humanidade. Considera-dos como nossos semelhantes e como eram chamados por Francisco, os nossos "irmãos". Com um gesto de nos dar alegria estão connosco nos momentos de dificul-dade e partilham as nossas vidas, sendo parte integran-te da família; contudo outros seres são abusados e aba-tidos diariamente. Se em todas as consciências estives-sem presentes os ensinamentos de São Francisco de Assis, a vida selvagem não sofreria com os excessos que ocorrem atualmente Assim sendo, o Dia Mundial do Animal tornou-se um dia para lembrar e homenagear a todos os animais e as pessoas que os amam e respeitam. Mais do que uma simples celebração do santo cristão que esteve na ori-gem da criação, este é um dia celebrado por todos. Comemorado de maneiras diferentes por todo o Mundo, sem distinção de nacionalidade, religião, fé ou ideologia política.

OBJETIVO A criação deste dia tem como principal missão, celebrar a vida animal em todas as suas formas, assim sendo os princípios base da sua criação são: - Sensibilizar a população para a necessidade de prote-ger os animais e a preservação de todas as espécies; - Mostrar a importância dos animais na vida das pessoas; Reconhecer os diversos papéis que os animais desempe-nham nas nossas vidas, nomeadamente os domésticos, como companheiros, apoiando-nos e ajudando-nos, con-tribuindo para um sentimento de admiração pela forma como enriquecem as nossa vidas. O objetivo da iniciativa do Dia Mundial dos Animais é o de encorajar todas as pessoas a usar este dia especial para comemorar o seu amor e respeito pelos animais, fazendo algo de especial para realçar a sua importância no Mun-

do. Através de uma maior conscienciali-zação, contribuindo assim para

uma melhor definição dos padrões de bem estar ani-

mal em todo o Mundo. Para além da celebração do san-to São Francisco de Assis, hoje é comemorado por amantes de animais de todas as crenças, nacionalidades e origens. Bên-çãos de animais são realizadas em igrejas, sinagogas e por capelães, bem como encontros

organizados com animais em parques e campos por parte daqueles que não se encon-tram ligados a qualquer tipo de religião. Abrigos de ani-

mais realizam eventos de anga-riação de fundos e dias abertos, grupos faunísticos orga-nizam displays de informação, as escolas trabalham em projetos de sensibilização, indivíduos, grupos de amigos ou colegas de trabalho reúnem-se no sentido de doar alguns bens para instituições de acolhimento de animais ou mesmo apadrinhar um animal do abrigo. Esta iniciativa é pois uma excelente forma de unir todos aqueles que pretendem dar o seu contributo para a mudança, fazendo parte integrante de algo especial - o Dia Mundial do Animal, que não estando ligado a qual-quer individuo, organização ou campanha pertence a todos nós. Lembremo-nos também que de acordo com ponto 1 e 2 da Declaração Universal dos Direitos do Animal - "Todo o animal tem o direito de ser respeitado. E que o Homem enquanto espécie animal, não pode atribuir-se o direito de exterminar os outros animais ou de os explorar, violan-do esse direito".

Acontecimento

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EM PORTUGAL No nosso país, cada vez mais o Dia do Animal é também o mote para um conjunto de iniciativas de angariação de donativos para instituições que acolhem e cuidam de animais abandonados, bem como de ações de sensibilização sobre o bem estar animal, cam-panhas de adoção e o combate aos maus tratos

e ao abandono dos animais, flagelos ainda bem presentes em Portugal. A Liga Portuguesa dos Direitos do Animal já comemora a data há 25 anos e foi pioneira em Portugal a este nível Da minha parte, não no dia 4 mas no fim de semana que suce-deu a este dia, juntamente com os meus 3 colegas caninos lá de casa, fizemos questão de participar no evento alusivo ao dia, no meu concelho. Participando na Cãominhada organizada pela Câmara Municipal com o objetivo não só de proporcionar uma manhã de convívio entre animais e pessoas, como também com a angariação de comida, através de donativos, para a instituição de apoio aos animais abandonados do Concelho. O dia esteve solarengo e os 5km de passeio pelo campo deixa-ram os meus 3 colegas satisfeitos, como podemos verificar nas suas expressões, já no carro, no caminho de regresso a casa.

Participação da Autora na Cãominhada

SÃO FRANCISCO DE ASSIS Protetor dos animais Francisco de Assis nasceu na cidade de Assis, Úmbria, Itália, em 1182. Pertencia à burguesia e dessa condição tirava todos os proveitos. Como o seu pai, tentou o comércio, mas cedo abandonou a ideia por não ter muito jeito para o negócio. Sonhou então com as glórias militares, procurando desta manei-ra alcançar o status que a sua condição exigia. Contudo, em 1206 para espanto de todos, Francisco de Assis abandonou tudo, andando errante e maltrapilho, numa verdadeira afronta e protesto contra a sua sociedade burguesa. Entregou-se totalmente a um estilo de vida fundado na pobreza, na simplicidade da vida e no amor total a todas as criaturas. Com alguns amigos deu início ao que seria a Ordem dos Frades Menores ou Franciscanos. O pobrezinho de Assis, como era chamado, foi uma criatura de paz e de bem, terno e amoroso. Amava os animais, as plantas e toda a natureza

Autoria: Anabela Guerreiro Fotos: Google

Acontecimento

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No final de uma manhã solarenga de uma segunda-feira, ao som dos aviões que se preparavam para ater-rar no aeroporto de Lisboa, o Prof. Francisco Petrucci-Fonseca recebeu-nos no seu gabinete, num dos edifí-cios da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, para nos conceder uma entrevista onde iria-mos falar exclusivamente sobre o Lobo. Foi uma conversa longa, fran-ca, aberta, sem tabus, em que, sem fugir às questões, o tema Lobo foi analisado em todas as suas verten-tes. É assa longa entrevista que vamos disponibilizar a todos os nos-sos leitores. Nota da redação - Devido à exten-são da entrevista, foi colocada a hipótese de a mesma ser disponibili-zada em duas partes portanto, em duas edições da revista, mas devido à importância e oportunidade do tema e para evitar que se perdesse o “fio à meada” e não obtivesse o mes-mo impacto, decidimos apresentar a entrevista, na totalidade, neste número da revista.

GRUPO LOBO

C&L - Como é que surgiu a ideia da criação do Grupo Lobo e com que objetivos?

FP-F - O grupo lobo surgiu da neces-sidade que havia, para nós, os sócios fundadores do Grupo, de dar mais realce à situação em que o lobo se encontrava. Portanto, há vinte e sete anos quando começámos a conversar ,eu e Robert Lyle, chegá-mos à conclusão que, como nós dois gostávamos de lobos, gostaríamos fazer qualquer coisa por eles. Não existia nenhuma entidade especifica-mente dedicada à causa, , havia a

Quercus então, achámos que o Lobo era uma espécie que merecia atenção e decidimos avançar, juntámos um grupo e fundámos esta associação com o objetivo de contribuir para a conservação desta espécie e para a coexistência entre o lobo e as pes-soas. C&L - Em que ano é que foi criado e quais os seus fundadores? FP-F - Foi no ano de 1985. Em rela-ção aos fundadores, basicamente fomos nós os dois, depois arrancá-mos com outras oito pessoas, e como algumas já faleceram não queria estar a citar nomes poderia esquecer-me de alguém. C&L - No ativo então só está o Prof. FP-F - No ativo só estou eu e mais três ou quatro pessoas. C&L - Quais as iniciativas que o Grupo Lobo tem levado a cabo com o objetivo de se dar a conhecer ao grande público? FP-F - Temos estas entrevistas, a nossa ação junto de diversos órgãos de comunicação social, termos procu-rado também dar a conhecer o nosso

trabalho através de ações de divulga-ção junto das escolas, participando em congressos e ações de divulga-ção em exposições caninas, nas fei-ras, por exemplo, na Ovibeja há alguns anos, por causa do nosso pro-jeto do cão de gado. Procuramos rea-lizar também colóquios que possam dar visibilidade ao Grupo e aos nos-sos objetivos. C&L - O Grupo Lobo tem várias ligações, colaborações e apoios de diversas empresas e instituições, nacionais e estrangeiras. Até que ponto isso é uma mais-valia para a organização? FP-F - É uma mais-valia porque, no seguimento da questão que colocou anteriormente, podemos dar a conhe-cer o nosso trabalho, a possibilidade de nós conhecermos o trabalho de outras instituições, portanto, aumen-tar o nosso conhecimento e assim alcançarmos de uma forma mais prá-tica, mais estruturada o nosso objeti-vo e permite-nos ter contatos com pessoas de todo o mundo e conhe-cermos igualmente os projetos de outras instituições.

C&L - Durante a preparação para esta entrevista, observei que rece-bem apoios de duas empresas que constroem e gerem autoestradas em Portugal (Norscut e Ascendi). Não será isso um contrassenso uma vez que todos sabemos que essas estruturas são as que mais contribuem para a destruição dos habitats e ecossistemas destes animais? E, já agora, qual tem sido a contribuição do Grupo Lobo na contestação à construção da bar-

Entrevista

Presidente do Grupo Lobo

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ragem do baixo Sabor, encabeça-da por vários grupos ambientalis-tas, entre eles a Quercus, com a qual mantêm uma ligação institu-cional? FP-F - Nós não recebemos apoios. Eles estavam a construir as estradas e, o que nós fizemos, foi a monitori-zação da população lupina antes, durante e X anos depois da constru-ção. Isto não é um subsídio é um protocolo de trabalho. Nós fizemos o nosso trabalho que foi analisado pela autoridade nacional que é responsá-vel por esta área, o Instituto da Con-servação da Natureza e das Flores-tas, e que foi aceite. Não posso considerar que seja um contrassenso. Eu repito, não é um subsídio, são coisas completamente diferentes. Nós prestamos um traba-lho. Nós somos independentes e apresentamos os fatos, o fato é: há lobos – deixou de haver lobos, há lobos - diminuiu a população de lobos. Referimo-nos a eles e é isso que é público e não queremos estar a ocultar dados e informações. C&L - Têm dados já depois da construção dessas autoestradas se houve ou não grande impacto nas populações de lobos. FP-F - Houve. Há sempre impacto. C&L - Até nas próprias presas em si, não é? FP-F - Mais no lobo até, mas tam-bém nas próprias presas, mas o que nós estamos a acompanhar … as presas junto às autoestradas, têm estado também a aumentar, elas utilizam as passagens que foram construídas para os lobos passarem e o que lhe digo é que não há nenhum contrassenso porque os nossos dados foram estes: chegá-mos lá tínhamos estas, estas, estas e estas alcateias, acabou-se o traba-lho que era o período que estava previsto na lei e por fim existiam esta e esta e esta! Há uma diminuição e os dados são esses, portanto não foi nada ocultado, está tudo preto no branco. Aliás, digo-lhe só mais uma coisa, o Grupo Lobo tem uma posi-

procura por em prática desde a sua fundação: há uma população que é lupina, há conflitos com vários grupos de interesse e nós temos que estabe-lecer uma plataforma de trabalho em conjunto porque entendemos que a discutirmos uns com os outros não vamos a lado nenhum, o trabalho tem que ser construtivo. A única coisa que eu lhe repito é se houver uma infraes-trutura, um grupo de interesse, que ponha em causa e não queira ouvir aquilo que nós temos a dizer avança-mos com tudo aquilo que é possível para que a voz do lobo se faça ouvir. A voz do lobo não somos só nós mas todas as pessoas que se interessam por ele. Esta questão das estradas não tem a ver apenas com as estradas, tem a ver com os parques eólicos que lá estão a ser construídos, tem a ver com as pedreiras que estão a ser exploradas. Em relação à barragem do Baixo Sabor, nós não fomos conta-tados pelos construtores da barragem e nós não concordamos com as bar-ragens nem com a forma como estão a ser construídas, como não concor-damos com uma série de coisas estão a ser feitas no nosso país em relação à utilização da paisagem. Nós entendemos que devia ter sido feito anteriormente o planeamento. Em devido tempo fizemos ouvir a nossa opinião e nós apoiámos, o que não quer dizer que nós não colaboremos com as entidades que estão a cons-truir a barragem. Se vivemos em sociedade e se a sociedade entende que a barragem deve ser feita, nós temos que colaborar de forma que a barragem tenha o menor impacto pos-sível para o lobo, e repito, não é vol-

tando as costas às pessoas que atin-gimos os nossos objetivos, temos é que trabalhar em colaboração com elas. A sociedade, quer queira quer

não queira, aceitou construir a barra-gem, o objetivo agora é que o impac-to seja o mínimo, colaborando de uma forma objetiva.

O CENTRO DE RECUPERAÇÃO

DO LOBO IBÉRICO

C&L - Fale-nos agora um pouco sobre o Centro de Recuperação do Lobo Ibérico em Mafra e qual o objetivo da sua criação? FP-F - O Centro é um projeto que foi criado pelo Grupo Lobo em 1987, faz agora 25 anos, dois anos depois da criação do Grupo Lobo, mas nós já tínhamos pensado nesse projeto des-de a criação do Grupo, sobre ideias que gostaríamos de por em prática. Esta foi posta em prática mais rapida-mente que o do Cão de Gado porque os fatos e as situações assim o dita-ram. Nós sabíamos que ia sair a Lei do Lobo, sabíamos que havia animais em cativeiro e nós queríamos criar condições para que esses animais estivessem em cativeiro o resto da sua vida de uma forma digna. O Decreto-Lei iria proibir que as pes-soas tivessem lobos em cativeiro uma vez que não tinham condições para os ter. Havia um lobo num apar-tamento, havia um lobo quase num galinheiro, apesar das boas intenções das pessoas, do carinho que elas tinham pelos animais, tudo isso… não os tinham em condições. Nós, de repente, ouvimos de um lobo que estava em cativeiro que era de alguém que queria encontrar um local para esse animal estar. Oferecemo-nos e a partir daí, com o apoio de um senhor que vivia ali perto do Picão em Mafra que se disponibilizou a dar um pequeno espaço enquanto não tínhamos mais condições para rece-ber o Lobo, colocámo-lo lá, o Robert Lyle conseguiu arranjar ali uma estru-tura aos poucos e poucos… estou a falar do Robert Lyle porque o Robert foi a pessoa que ficou mais ligada ao Lobo no Centro, eu fiquei mais ligado aos lobos na natureza e à parte de divulgação. Depois fomos desenvol-vendo o projeto do Centro de Recu-peração do Lobo Ibérico naquele local. Se alguém nos tivesse ajudado,

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no Algarve teria sido no Algarve, ou em Bragança teria sido em Bragan-ça, mas foi aquela a primeira pessoa que se disponibilizou para nos ajudar e, a partir daí, tem vindo a crescer. O Centro tem por objetivo receber lobos que não podem viver em liber-dade, ou seja, lobos que não podem ser soltos, eles iriam muito provavel-mente, muitos deles, serem abatidos. Nós entendemos que aqueles ani-mais deviam ter um resto de vida digno, já que nós, homens, não lhes demos a possibilidade de eles vive-rem em liberdade, e assim servem também de embaixadores aos lobos que vivem em liberdade. C&L - Acha que há vantagens em as pessoas visitarem um santuário de Lobos, principalmente para alterarem a sua opinião e exorci-zar os seus medos em relação a

esta nobre espécie? E, já agora, essas visitas não irão criar algum stress nestes animais normalmente tão tímidos e furtivos, apesar se encontrarem em semicativeiro nos cercados? FP-F – À primeira questão, respondo que acho que é importante porque aqueles animais que estão ali servem de uma forma pedagógica. As pes-soas dificilmente terão possibilidades de ver lobos em Bragança ou em Viseu, portanto ali eles vêm estes animais num ambiente que nós procu-ramos que seja o mais parecido pos-sível com o que eles encontrariam se estivessem em liberdade. E depois, ver um animal num filme ou tentar compreender a descrição num livro é uma coisa e ver um animal ao vivo e no seu habitat com árvores, com arbustos, é outra e os animais não estão em stress porque é como lhe digo: muitos daqueles animais che-gam em más condições, porque esti-veram em cativeiro em situações idênticas àquelas que há pouco referi reportei-me a situações de há 25 anos, mas elas continuam a repetir-se, portanto, muitos que chegam aqui chegam doentes, alguns chegam já

com algumas mazelas físicas, outras psíquicas, e nós ali colocamos os animais em espaços cercados com um hectare e meio, com muito boa cobertura vegetal onde eles se escondem, onde vão ganhando o seu espaço, onde constroem as suas tocas, e os animais chegam ali com comportamentos que são fora do nor-mal, que tiveram condições de cati-veiro muito más, aos poucos e pou-cos vão recuperando, e temos ani-mais que chegavam lá tímidos que não se aproximavam das pessoas

e hoje já aparecem, ontem, por exemplo, durante uma visita, um dos animais que veio de Espanha que estava em cativeiro, na Galiza, o Sabor, sentou-se, deitou-se, descon-traído, portanto esses animais não estão em stress. Aliás, nós seguimos o comportamento dos animais atra-vés de monitorizações diárias para ver como é que eles estão e saber-mos que há animais, por exemplo, que não podem estar junto ao públi-co, já estão habituados aos trabalha-dores, mas se aparece uma pessoa diferente já não se sentem tão à von-tade. Além disso há sempre um período de quarentena e as pessoas não vão aí, agora até temos lá dois. Os que estão nessas condições são os animais mais tímidos, em que o comportamento está a ser recupera-do mas mais lentamente. Posterior-mente, poderão ser postos nos cerca-dos que estão vazios. Esses animais, ao princípio, nem os funcionários podiam ver, agora já se aproximam deles, já estão com os voluntários, brevemente já estarão em condições de ver o público. E esse processo foi idêntico com todos os outros que vie-ram. Portanto, os animais estão des-contraídos.

Prof. Francisco Petrucci-Fonseca

Presidente do Grupo Lobo

PERFIL

Dados Pessoais Nome completo: Francisco José Petrucci Guterres da Fonseca Morada institucional: Centro de Biologia Ambiental, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Edifício C2, 5º Piso, Campo Grande, 1749-016 Lisboa, PORTUGAL Telefone: 217500073 - Fax: 217500073 e-mail: [email protected]

Formação Académica Doutoramento em Ecologia e Sistemática pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Dissertação: O lobo (Canis lupus signatus Cabrera, 1907). Problemática da sua conservação. Outras Competências/Atividades Como professor do Departamento de Biologia Animal, tem sido regente de cadeiras teóricas e práticas que visam a Biologia em Geral, bem como de Mestrados em Con-servação da Diversidade

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C&L - Quantos animais é que o CRLI tem atualmente? E quantos já teve? FP-F - Já teve várias dezenas, talvez uns quarenta. Assim de cor não lhe sei dizer. Agora tem oito, temos a possibilidade de receber mais seis e que ficaríamos com catorze. Nós entendemos que o Centro, entre catorze e vinte animais é o máximo que pode albergar. Uma coisa que fique claro, nós temos uma boa divul-gação, qual é o nosso objetivo, qual é a nossa filosofia? Nós não somos um parque zoológico. Há pouco mencionou que nós somos um san-tuário, procuramos efetivamente ser mais um santuário. Nós temos uma diferença, a nossa filosofia é diferen-te, os animais estão ali porque entendemos que devemos dar-lhes boas condições, não estão ali para que sejam vistos pelo público. Num jardim zoológico têm vários animais para ir substituindo por causa do bem estar animal, são instituições que têm evoluído muito e também são muito rigorosos nesse campo, mas nós ali, os nossos lobos apare-cem se quiserem, se não quiserem não aparecem, lamento imenso e tenho pena que às vezes aparecem visitas que não conseguem ver os animais. Isso também é uma forma das pessoas perceberem que o ani-mal tem um determinado ritmo. Se for ao Jardim Zoológico vê que há animais que têm uma atividade qua-se diurna e a maior parte deles não têm uma atividade diurna. Obvia-mente que o lobo tem uma atividade mais noturna, também porque o homem o obriga a isso.

C&L - Sei que nos últimos anos houve alguns nascimentos no Cen-tro, por casualidade nasceram há poucos meses 3 lobachos de uma progenitora que já tinha nascido no Centro há cerca de 3/4 anos. A per-gunta que lhe queria fazer era se existe algum programa estruturado de criação, ou ela acontece arbitra-riamente? FP-F - Nós não procuramos a criação. Já juntámos machos com fêmeas, já tivemos reprodução e já aconteceu não termos tido reprodução. Já tive-mos dois lobos e vários casais que estão otimamente bem que viveram até aos 17 anos. Não acasalaram, ou se acasalaram não tiveram por algum problema que nós não sabemos, mas nós não procuramos a reprodução, tudo bem, para nós está ótimo, se se reproduzirem está bem, se não se reproduzirem está igualmente bem. Aliás, houve até uma altura que nós fizemos tudo para que não se repro-duzissem, pois como sabe, os caní-deos reproduzem-se com uma facili-dade enorme, mesmo os selvagens, o mesmo não acontece com os felinos que já é mais difícil, conhecemos as dificuldades do Lince cá em Portugal. O lobo, se nós não fizermos nada, e se eles têm uma ninhada de uma média de 6 crias, dois anos depois em vez de termos um casal já pode-mos ter dois ou mais e chegámos à situação de termos que por termo à procriação. Foi o que aconteceu há cerca de 15 anos atrás em que os lobos estavam a reproduzir-se rapida-mente e quando chegámos à capaci-dade máxima, nós não podemos, e estando os animais a reproduzirem-se não temos espaço para receber ani-mais que é um dos nossos objetivos. C&L - É difícil formar ali alcateias? FP-F - Já tivemos ali alcateias. Eles agora estão separados porque entre-tanto morreram os parceiros, morreu o parceiro da Aura, para o Sabor nun-ca tivemos fêmeas para juntar com ele. Já tivemos alcateias de 7, 8 e 9 elementos. Elas são muito dinâmicas e os animais foram morrendo com a idade, naturalmente, às vezes mor-rem mais cedo outros mais tarde.

Apesar da limitação dos cercados, viveram lá bem 9 animais durante bastantes anos, sem problemas, ape-sar de, de vez em quando, termos que retirar um ou outro devido à hie-rarquia, e a maioria deles morreu com muito mais de dez anos de ida-de. O Prado, por exemplo, morreu de velhice. Quando fizemos a necropsia o resultado foi a falência dos órgãos devido à idade e foi ela a ditar a sua lei. C&L - Fale-nos da vossa campanha de angariação de fundos a que deram o nome: “Não deixe os Lobos sem Abrigo” e de que forma tem sido feita a divulgação dessa campanha? E quais os resultados?

FP-F - Neste momento está a termi-nar uma fase da campanha (a entre-vista foi feita antes de terminar a campanha). Nós fizemos uma cam-panha a nível internacional e utilizá-mos uma plataforma de angariação de fundos que é a Crowdfunding, que está muito em voga e está em grande desenvolvimento a nível internacio-nal, para angariar fundos para a aqui-sição dos terrenos do CRLI e esta plataforma resulta de uma parceria entre a Naturlink, um portal Portu-guês, uma empresa Portuguesa e a Indiegogo que é um portal America-no, juntaram-se, fizeram essa parce-ria que é a Naturfunding. Este projeto é o primeiro que foi colocado na Naturfunding, esperemos que vá ser-vir de barómetro uma vez que é um projeto pioneiro que possa servir de guia para outros. Já ultrapassámos, em termos de Crowdfunding o máxi-mo que se tinha conseguido em Por-tugal, já ultrapassámos mais de seis vezes o máximo que se tinha anga-riado em Portugal. Esta é a grande vantagem, em vez de ficarmos limita-dos ao público Português, ficámos limitados a um público oriundo de

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todo o Mundo. E temos tido contribui-ções da Austrália, dos Estados Uni-dos, de Espanha, individuais, empre-sas, obviamente que nós gostaría-mos ter mais participações, um maior montante, mas nós compreendemos que estamos a passar por uma fase difícil, e que o rendimento das pes-soas tem que se dispersar por várias áreas, nós sabíamos isso de ante-mão e por isso mesmo temos esta possibilidade de ter um projeto que vai continuar mesmo depois de aca-bar a angariação de fundos através do Crowdfunding que irá passar para outras atividades e outros eventos que nós vamos realizar. Temos que adquirir o terreno no prazo de cinco anos e agora, por exemplo, iremos fazer um concerto, estamos a juntar artistas plásticos para fazermos um leilão, vamos utilizar uma daquelas chamadas de valor acrescentado, cujo número é o seguinte: Irão haver

uma série de ações, porque diferen-tes ações atingem públicos diferen-tes e nós não podemos parar. Além disso há muitas outras formas de ajuda, por exemplo, há muitas pes-soas que não se sentem seguras em contribuir através de Internet e pedem-nos para fazerem a sua con-tribuição através de transferência bancária, outras que contribuem através de ser pai, ou mãe adotiva de um ou mais lobos, ser sócio do Grupo Lobo, de levar lá a sua escola. Tudo isto são formas de ajuda. Uma das coisas que nós temos que tam-bém ajuda e isso é muito importante e digo-lhe se as pessoas não pude-rem ajudar monetariamente ficamos muito satisfeitos pela visita das pes-soas, pelo interesse das pessoas no lobo, ajuda-nos a atingir os nossos objetivos. O Grupo Lobo não tem única e exclusivamente o CRLI, tem outros projetos. O CRLI faz parte de um universo da ação em que o Gru-po Lobo procura atuar. Dentro da divulgação ambiental o projeto CRLI é o mais importante. Temos outros

te. Temos outros projetos com empre-sas dentro da monitorização e repito, colaboração com Empresas, com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, com associações que por vezes nos perguntam… e depois temos outra coisa que para nós é muito importante que é a divulgação ambiental: são as escolas que que-rem visitar o Centro pedem-nos para ir lá fazer uma ação de dinamização, vamos lá fazer uma palestra e depois por fim aquilo que nos interessa são as ações práticas de conservação, são as ações no terreno em que colo-camos alguma da muita informação que recolhemos na investigação e no trabalho de compreendermos a rea-ção das pessoas ou o que é que leva as a entrarem em conflito com o Lobo.

O LOBO NO MUNDO

C&L - Qual é o estado atual do Lobo no Mundo? FP-F - Há cada vez mais tolerância pelo Lobo apesar de ainda existirem muitas pessoas, que são muito ativas, que não gostam do lobo e entendem que o Lobo deve ser eliminado e ape-sar de haver muitas ações que têm levado a contribuir para que o lobo esteja a recuperar as suas áreas de distribuição, nomeadamente, na Euro-pa Central, na América do Norte, no Sul da Europa, essas ações estão a encontrar uma nova reação negativa da parte de alguns setores, porque o Lobo expandiu-se nos Estados Uni-dos e os agricultores dos estados rurais, Minesota, Montana, etc., não estão nada agrados com essa expan-são. Se nós temos em Portugal e Espanha alguns criadores de gado

que viveram sempre com o Lobo e compreendem que tem que haver um espaço e alguns conseguem arranjar um equilíbrio na sua convi-vência com o lobo, existem outros setores onde o lobo desapareceu e, por exemplo, a forma de criar o gado evoluiu numa direção em que já não se conta com a presença do lobo. Agora o lobo chega outra vez e estas gerações novas de criadores de gado já não têm o saber dos antigos e é este saber que ainda se mantêm cá em Portugal e nalgumas zonas da Península Ibérica, e que permite ain-da alguma coexistência. Repito, há interesses muito fortes, há grupos de pressão muito fortes que têm uma grande capacidade de organização, de lobbys de pressão junto dos deci-sores que em algumas zonas têm feito com que o lobo volte a ser legal-mente caçado: em França, na Suíça, nalgumas zonas aqui de Espanha, nalgumas zonas da América, etc., e infelizmente estamos a voltar a pro-cessos anacrónicos de caça. Se que-rem caçar cacem-nos de uma forma desportiva. Eu acho que o lobo é uma espécie que deve ser protegida, como muitas outras, e devemos pro-curar uma convivência sã com eles. Outra coisa em que o lobo está a tirar benefício é o despovoamento de mui-tas áreas da Europa, indo para as grandes cidades despovoando gran-des áreas do interior e, por exemplo, dizem que o lobo está a chegar à Alemanha também, está a chegar a outros países e onde, de vez em quando já se começa a ver na Áustria onde já se observou um ou outro lobo, é um animal que tem muita capacidade de resistência, por isso é que a perseguição que lhe foi movida durante centenas de anos conseguiu,

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nalgumas áreas, manter-se, noutras não. Já se sabe que ele foi pratica-mente exterminado nos Estados Uni-dos. C&L - Quantas espécies de Lobo existem? FP-F - Tem havido uma grande dis-cussão se existem espécies ou subespécies. C&L - Estamos a falar de espécies: o lobo vermelho, o lobo cinzento, o lobo etíope. FP-F - Exatamente. Essas que aca-bou de referir e depois há uma série de subespécies, como por exemplo ao nível do Canis Lupus Familiaris. Agora há pessoas que chamam ao cão Canis Lupus Familiaris. Eu, por acaso, não corroboro com essa defi-nição para o cão doméstico, entendo que o cão é uma espécie autónoma do lobo mais corretamente chamado Canis Familiaris mas se quisermos ser rigorosos do ponto de vista do investigador científico temos que admitir uma elevada concordância do ADN mitocondrial das duas espécies. Apesar disso, há diferenças entre o lobo e o cão que não são só genéti-cas, e essas diferenças traduzem-se no comportamento, na morfologia, na relação entre as duas espécies. A relação entre o cão e o lobo é dife-rente da relação entre um lobo e outro lobo. Obviamente que há tan-tas coisas diferentes que eu entendo que devíamos considerar espécies diferentes. A Biologia tem estas coi-sas boas que é a possibilidade de trocarmos ideias diferentes. Respon-dendo à sua questão, hoje em dia há o Canis Lupus com as suas várias subespécies, agora foi descoberta uma espécie nova no Egito Canis Lupus lupasta. No outro dia, vi uma fotografia de alguém que também descobriu um lobo em Marrocos. Também se pode dar o caso de a área de implantação poder ser maior do que se pensava. Se considerar-mos o Canis Lupus Lupasta ele pode estar implantado numa área que pode corresponder a todo o Norte de África. Agora a genética é que nos

vai ajudar a determinar essas situa-ções. C&L - Em que situação se encon-tra, em termos de estatuto de con-servação, o Lobo no Mundo? FP-F - Varia. Nalguns países passou de espécie completamente protegida para espécie cinegética. Noutros de espécie protegida para espécie sob controlo. Aqui na nossa vizinha Espa-nha é conforme as regiões, tem lobos completamente protegidos nalgumas regiões, como é o caso do Sul de Espanha, noutras em que é caçado, noutras é mesmo controlado através das instituições noutras em que é aberto à caça. Podemos dizer que, nalguns locais, hoje em dia, o lobo já é novamente um troféu de caça. Nal-guns países do Centro/Leste da Euro-pa o lobo foi sempre uma espécie cinegética, com regras de X animais por ano, de formas de abate, etc., enquanto que nos Estados Unidos há uma quota de abate e os animais são abatidos até atingir essa quota.

C&L - Já agora por falar nos Esta-dos Unidos, acha que a reintrodu-ção do Lobo no Parque Nacional de Yellowstone, no início da década de 2000, espécie que foi declarada extinta em 1996, foi um êxito? Ou ainda é cedo para tirar ilações? FP-F - Foi um êxito! Até porque ultra-passou as expectativas. O problema é que foi tal o êxito que neste momento ele é controlado fora do parque uma vez que já saiu dos seus limites, as alcateias cresceram muito mais depressa do que era esperado, atra-vés dos modelos que se fizeram. Eles são quase todos monitorizados o que

permite saber onde é que está o gru-po familiar, portanto, isso é um sucesso e até é um sucesso porque os Estados Unidos tem uma coisa chamada Endangered Species Act que obriga o governo federal a pro-mover programas de recuperação de espécies animais e vegetais que estejam ameaçadas de extinção e que obriga o Governo a disponibilizar uma certa verba para desenvolver projetos para recuperar essas espé-cies, para culminar, se necessário na reintrodução dessas espécies, como foi o caso dos Lobos no Parque Nacional de Yellowstone. Portanto, a reintrodução do lobo foi um sucesso. Está, como já disse, a causar proble-mas fora do parque, porque os lobos estão-se a reproduzir muito bem e digo-lhe mais, há essa obrigatorieda-de de reintrodução mas há também a obrigatoriedade de haver um consen-so geral que demorou muitos anos a atingir, entre os conservacionistas, os criadores de gado, o governo, o esta-do, etc., foram precisos muitos, mui-tos anos que culminou com a reintro-dução dos lobos vindos do Canadá. Outra situação que mostra o êxito da Biologia é o exemplo acabado da diferença de haver um predador ou de não haver no ecossistema. Desde que o lobo desapareceu, toda uma cadeia de espécies estava também a desaparecer: vegetais, animais, basi-camente porque tínhamos uma presa que não era controlada e com isso havia espécies vegetais a desapare-cer porque eram mais consumidas numa determinada área. Desde que foi introduzido o lobo, melhor dizen-do, reintroduzido porque na realidade é uma reintrodução, são coisas com-pletamente diferentes. Do ponto de vista biológico uma reintrodução é diferente de uma introdução que é um flagelo que acabam sempre numa desgraça ambiental. Portanto, com esta reintrodução viu-se os veados a diminuírem de número, a utilizarem os espaços de uma forma diferente, espécies vegetais a reaparecerem, vimos espécies animais, insetos, aves, a voltarem porque algumas já tinham desparecido dessa zona, outras populações que lá tinham fica-do quase residuais e portanto, o ba-

Entrevista

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Lanço é bastante positivo. E é tam-bém um sucesso do ponto de vista do turismo que em Yellowstone aumentou imenso o número de visi-tantes. No verão é incrível a quanti-dade de pessoas que vão ao parque para ver lobos. A maioria, senão a totalidade de pessoas que vão lá no inverno é para ver o lobo. O lobo é uma espécie carismática que a sua presença influencia os ecossistemas e influencia muito as emoções, por-que nós também fazemos parte dos ecossistemas. Há pessoas a quem o lobo provoca alguns prejuízos e com-preendem. Já encontrei pastores dizer que são criaturas de deus, se ele me levar uma, duas, três cabe-ças… o grande problema é quando os lobos começam a atingir grandes prejuízos e aí é que as pessoas não compreendem porque parece que eles comem mais do que necessitam e não é verdade, eles armazenam e isso não é sempre, não é constante, mas sabe que na vida uma coisa má é ampliada e às boas não damos o mesmo valor.

O LOBO EM PORTUGAL

C&L - Entre os anos de 2002 e 2003, foi realizado um censo nacional para determinar a situa-ção populacional do Lobo em Por-tugal, uma parceria entre o Grupo Lobo e o Instituto da Conservação da Natureza, onde o Prof. também participou, tendo como conse-quência a produção de um relató-rio técnico bastante completo e pormenorizado. Desse estudo concluiu-se que, nessa altura, habitavam, em território nacional, cerca de 300 exemplares. Passa-dos cerca de 10 anos, consegue

dizer-nos se se mantém essa popu-lação? E as alcateias identificadas mantêm ainda os seus territórios originais, principalmente a norte do rio Douro?

FP-F - Em termos gerais, a popula-ção manteve-se mais ou menos estável. Apesar de não termos números atualiza-dos, e como lhe disse há pouco por causa da construção das autoestradas, há

alcateias que desapareceram e que nós não conseguimos encontrar indí-cios da sua reprodução, portanto, parecem ser alcateias que efetiva-mente desapareceram daqueles locais. Como também lhe referi há pouco, não podemos dizer que única e exclusivamente, foi por causa das estradas, há as pedreiras de extração de granito para exportação, há os parques eólicos, etc. A alcateia da Serra da Falperra, onde estão sedia-das a maior parte das pedreiras, foi uma das que desapareceu e que nós não conseguimos encontrar. Umas outras próximas estão identificadas, mas essa desapareceu. Portanto, há zonas em que as alcateias e número de lobos decresceu, noutras está estável e noutras estão a começar a aparecer, principalmente na zona da raia entre Douro e Tejo, estamos a assistir a um aumento de lobos, por-tanto aquela zona está a ser recoloni-zada. Nós agora vamos começar um projeto, ganhámos um projeto life para monitorizar o regresso do lobo ali e tentarmos criar condições com os criadores de gado para diminuir os conflitos que irão surgir. Estes criado-res não estão habituados à presença do lobo portanto se vem uma ou duas alcateias as coisas começam a ser mais complicadas. Vamos colaborar com os pastores construindo cercas elétricas, doando cães guardadores de gado, etc. Nós estamos a trabalhar já no futuro. Em termos gerais pode-mos dizer que nos núcleos principais que são a zona do Geres, a zona de

Bragança, a população está estável. C&L - O que é que trouxe de positi-vo para o conhecimento da compo-sição da estrutura genética do Lobo que tem o seu habitat em Portugal, o estudo elaborado pela CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéti-cos da Universidade do Porto) sobre a diversidade e estruturação genética das populações de lobo em Portugal, publicada em Dezem-bro de 2007? FP-F - Esse estudo foi muito impor-tante porque é uma das necessida-des que nós temos. Nós vemos um lobo e não sabemos qual a relação que tem com os outros. Um lobo está relacionado, por exemplo, com um a norte do Douro estando este a sul do mesmo rio, significa que há migra-ções do Norte para o Sul, mas tam-bém não nos diz, por exemplo, se atravessou o rio Douro ou se vai por Espanha nem nos diz que se o Lobo que está junto é um lobo da Zona do Norte de Espanha que migrou ou é um filho dele, ou neto que veio dar a um lobo no sul do rio Douro. Portanto todo esse conhecimento é muito importante para nós. E hoje em dia esse conhecimento permite-nos dar valor a aspetos que há uns anos atrás não conheceríamos, pois não dominávamos as técnicas, equipa-mentos, etc. C&L - Em que consiste o programa “Signatus”? FP-F - O projeto Signatus foi designa-do por nós e que engloba todas as ações que desenvolvemos, ou seja, o Programa Signatus é um programa no âmbito do qual nós desenvolve-mos o projeto do Centro Recupera-ção do Lobo Ibérico, começando com a parte de divulgação ambiental embora já tivéssemos ideias defini-das acerca daquilo que queríamos fazer noutras áreas e a pouco e pou-co começámos a alargar e, portanto, o programa Signatus abrange todos esses projetos em que estamos envolvidos.

Entrevista

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C&L - Por esta ser uma revista em que na sua temática também está presente o cão, esta questão é de especial importância. Temos rece-bido informações de que o progra-ma de entrega de cães de Gado aos pastores, para protegerem os seus rebanhos de ataque de Lobos, tem sido um sucesso. Pode confirmar-nos isso? E de que consta esse programa? FP-F - Tem sido um sucesso de tal forma que se tivéssemos mais fun-dos mais cães teríamos dado aos pastores. Este projeto recebe pedidos de informação de várias partes do Globo porque nós não nos limitamos a dar o cão às pessoas, nós entendemos que tem que haver uma relação mui-to grande entre o técnico do Grupo Lobo e o Criador. Nós compramos os cães, principal-mente na região de Castro Laboreiro e também tivemos doações de alguns criadores de cadelas principalmente para entrar no projeto inicialmente. A grande maioria dos nossos cães foram entregues no início do projeto. Já demos quase trezentos cães, Castro Laboreiros, Serra da Estrela, e alguns Rafeiros do Alente-jo. Nós, depois de doarmos o cão, mantemos o contato com o pastor pagando, em função da disponibilida-de financeira, a alimentação e o tra-tamento veterinário que pode ir até um período de dois anos e depois continuamos a manter a relação com o pastor C&L - Quem é que financia essas despesas? No projeto Life, no âmbito da minimi-zação da construção da barragem do baixo Sabor há uma obrigação a que a EDP está vinculada, resultado das negociações com o Instituto da Conservação da Natureza e da Agência para a Proteção do Ambien-te, a de doar cães a pastores da região para minimizarem os prejuí-zos que têm com o Lobo e minimizar mais o impacto que os pastores têm sobre a população lupina. Temos

pertence ao Grupo EDP que no âmbi-to da minimização do impacto da construção dos parques eólicos nos deu um montante para nos ajudar neste projeto. Nós já tivemos outros projetos Life. Vamos juntando, dentro das capacidades do Grupo Lobo para manter este projeto que já existe des-de 1996 e não tem parado. Realmen-te temos trabalhado neste projeto desde essa altura e foi um dos primei-ros que quisemos lançar pois já sabíamos que era necessário traba-lhar, como também sabíamos que era necessário trabalhar com os pastores

como seria necessário trabalhar com os caçadores. Trabalhar, friso a pala-vra trabalhar, colaborar. Só que as pessoas olhavam para nós de uma forma por vezes sarcástica e de uma forma educada tentavam conter os risos, dizendo-nos que não iriamos conseguir. Nós temos cães com os pastores – infelizmente não os podem levar – mas nós levamo-los a exposi-ções e ganham prémios nas várias classes e os pastores ficam muito satisfeitos porque aquele animal dá-lhes mais qualquer coisa. Porque é que eles começaram a deixar de ter estes tipos de cães? Porque era mais uma boca para alimentar e agora não, eles veem o cão a afastar um lobo, veem cães a lutar com lobos, não é essa a ideia mas muitas vezes acon-tece, a ideia é que os lobos se afas-tem devido à presença do cão. Nós continuamos a monitorizar os cães que damos mesmo depois de termi-nar o protocolo com os pastores que é de dois anos. Em relação aos cria-dores, controlamos os acasalamentos através das análises de ADN, falando

tam os nossos concelhos e acham muito bem. O controlo também se estende aos registos camarários e de LOP dos cães, análises de ADN de todos eles, sabemos quem são os pais a mãe, tudo é rigorosamente controlado, somos nós inclusivamen-te que pegamos numa cadela e a levamos ao cão que nós seleciona-mos. Nós é que fazemos tudo. Já houve entidades Americanas que nos escreveram diretamente a solicitar um descente de um determinado cão que trabalha muito bem, e todo o pro-cesso é feito por nós.

C&L - Quais são as suas expetati-vas em relação ao III Congresso Ibérico do Lobo que se irá realizar no último fim de semana de Novembro em Lugo, na Galiza? FP-F - No ponto de vista científico, os Congressos são muito importantes para a troca de experiências e dúvi-das e é muito importante, todos nós na Península Ibérica que trabalha-mos com a mesma população, conhecermos o trabalho que todos fazemos e, conhecermo-nos pessoal-mente, melhora muito o trabalho, a relação, a troca de experiências, etc. Como nos outros anteriores, espero que corra tudo muito bem.

Entrevista

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C&L - Por fim, pedia-lhe que comentasse o vosso slogan: “o Lobo em Portugal tem um passa-do, ainda está presente e merece um futuro”. Esse slogan foi criado por uma rapa-riga que foi minha aluna e depois foi colaboradora do Grupo Lobo. Um dia apareceu com esta frase e, como achámos muito interessante, pedi-mos-lhe se a podíamos utilizar por-que isto é mesmo aquilo que nós pensamos. O lobo faz parte da nossa cultura judaico-cristã que tem uma influência enorme do lobo, é o animal que dá o melhor amigo do homem, o

o cão. Nós não percebemos mas ele está presente connosco através dos nossos cães. Tem uma influência bru-tal na nossa cultura. Como diz esse slogan, o Lobo teve um passado no país, ainda está presente connosco, e é por isso que nós estamos aqui a conversar exatamente para lhe dar um futuro. As mentalidades, felizmen-te, estão a mudar e o lobo, apesar das alterações dos valores e das sociedades, o que nós temos que fazer é que esses valores melhorem a nossa relação com o lobo. Nós temos que deixar às gerações seguintes a natureza, no caso presente o lobo. Nós não podemos ser acusados de

termos destruído um animal como o lobo. Entrevista: Sílvio Pereira Fotos: Grupo Lobo Google

INAUGURADO PRIMEIRO HOSPITAL PÚBLICO VETERINÁRIO DO BRASIL

Cães e gatos já podem ser atendidos gratuitamente no primeiro Hospital Público Veterinário do Brasil, inaugura-do em Tatuapé, zona leste de São Paulo. O Hospital foi uma conquista do vereador Roberto Tripoli (PV – SP) após muitos anos de trabalho junto à prefeitura da cidade para que realizasse esse projeto em benefício da popula-

ção de baixa renda e do movimento de proteção animal. O Hospital fica localizado na Rua Professor Carlos Zagotis, nº 3, no bairro Tatuapé, funciona todos os dias, das 07 às 19h, realiza gratuitamente desde consultas e exames sim-ples a cirurgias oncológicas, além de contar com uma UTI – Unidade de Terapia Intensiva. O Hospital foi implantado através do convênio da Prefeitura de São Paulo com a Anclivepa – SP (Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais), responsável pelos equipamentos e gestão do Hospital. Apesar da medicina veterinária ter avançado muito, milhares de animais domésticos de famílias de baixa renda ainda sofrem e morrem por doenças e ferimentos relativamente simples por falta de tratamento adequado. O vereador e também ambientalista lembra ainda que o Hospital é uma grande conquista para a saúde pública, pois muitos desses animais vivem em contato diário com suas famílias ou pelas ruas da cidade. Mas, como a maioria dos hospitais públicos, o Hospital Veterinário abriu suas portas com superlotação. Todos os dias dezenas de pessoas formam uma fila, desde a madru-gada, para garantir o atendimento de seus animais. Autoria: Karin Pirá

Fonte: Revista Veja São Paulo 15/08/12 Foto: Ivan Dias

Entrevista

Acontecimento

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Há 40.000 anos houve no continente europeu um grande desafio: o Homem Neandertal contra o Homo Sapiens! O Homo Neandertal vivia há 100.000 anos no continente euro-peu e o Homo Sapiens era prove-niente de Africa e começou emigrar para Europa há 40.000 anos. Conse-guiu-se reconstruir a situação atra-vés dos ossos encontrados e anali-sados com métodos de alta precisão. Os estudos paleantropológicos dei-xam supor que deve ter havido lutas pelos territórios entre as duas espé-cies homoides que viviam em simul-tâneo no mesmo espaço europeu. durante uma grande parte destes anos remotos. Entre os anos 45.000 e 35.000 anos, o Homo Sapiens, o nosso antepassado, expandiu-se claramente, enquanto o Homo Nean-dertal desapareceu progressivamen-te até se dar a sua extinção por com-pleto. Não está esclarecida a razão porque o Homo Neandertal foi extin-to enquanto o Homo Sapiens conse-guiu sobreviver e expandir-se. Exis-tem várias teorias: umas defendem que as alterações climáticas levaram a que o Neandertal não se conse-guisse adaptar, outras que o Homo Sapiens tivesse desenvolvido melho-res métodos de caça e, consequen-temente tivesse expandido progressi-vamente o seu território. Estudos recentes, publicados na “Science Magazine” de Paul Mellars e Jennifer French da Universidade de Cambridge, mostram que o Homo Sapiens era claramente mais eficaz na caça do que o Homo Neandertal. Encontrou-se em inúmeras cavernas espalhadas pelo continente europeu ocupadas pelo Homo Sapiens um maior número de ossos de caça e de caça mais grossa do que nas caver-nas onde vivia o Homo Neandertal. A cientista Mietje Germonpré e a sua equipa do Instituto Belga das Ciên-

cias Naturais fizeram uma descoberta sensacional: Ela conseguiu provar com métodos ADN de alta precisão e analises estatísticas que os crânios de lobos encontrados nas cavernas da época paleolítica eram de facto crânios de cães, já com sinais típicos que distingue o cão do lobo. Alguns destes crânios têm mais de 29.000 anos de idade! Esta descoberta permite reconstruir a pré-história humana num outro con-texto: O Homo Sapiens domesticou o cão muito mais cedo do que até agora era suposto. Também o cientista russo, Nikolai Owodow da Academia Russa das Ciências Naturais, conseguiu identifi-car supostos crânios de lobos, sendo de facto crânios que evidenciam niti-damente caraterísticas de cães primi-tivos. Tal como a americana Pat Shipman, professora no Instituto de Paleontolo-gia de Pensilvânia publicou no “ Ame-rican Scientist” as suas pesquisas sobre este tema indicam que o cão foi domesticado muito mais cedo do que inicialmente suposto e que existia uma ligação profunda entre o cão pri-mitivo e o homem pré-histórico. Como foi possível que o homem do Paleolítico que vivia em cavernas e se alimentava de caça e de frutos selva-gens, utilizando como instrumentos apenas pedras afiadas, começasse a interessar-se pelos lobos que, pouco a pouco, durante um período de vários milhares de anos foram sendo domesticados e se tornaram cães? A vida nessa época remota era cheia de perigos e muito dura. Se faltava a caça, morria-se de fome. Os homens não sabiam conservar os alimentos e a luta pela sobrevivência era constan-te. O homem do Paleolítico morria, em geral, muito cedo. Inicialmente o lobo e o homem eram inimigos e concorrentes na alimenta-

Autoria e fotos: Suzette Veiga

Evolução

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ção. É impossível de reconstituir os acontecimentos dessa época pré-histórica, mas podemos imaginar que os restos de ossos deitados fora atraiam alguns lobos solitários, que não estivessem integrados numa alcateia e que tinham assim alguma dificuldade de caçar sozinhos. Esses lobos rodeavam as cavernas à pro-cura de restos de uma caçada abun-dante. É provável que no início tenha sido o lobo a aproximar-se do homem e não o homem do lobo. Pouco a pouco o homem da caverna começou a aper-ceber-se de que o lobo podia anun-ciar certos acontecimentos, a aproxi-mação de grandes animais selva-gens ou tribos inimigas etc. O lobo foi deixando de ser um inimi-go e tornou-se um aliado, sendo a sua presença tolerada a uma certa distância. A certa altura os lobos que viviam próximo dos humanos tornaram-se animais que dependiam da presença humana. Tornaram-se mais peque-nos e o seu focinho mais curto. Estes lobos que se tinham habituado a viver na proximidade das cavernas passaram a seguir os homens quan-do estes iam caçar, obedecendo a um seu instinto natural. Para o homem desta época tornou-se uma

enorme vantagem em ter a colabora-ção destes lobos nas suas caçadas, os quais ajudavam na perseguição do animal caçado. Conseguiu assim caçar com mais eficácia e mais ani-mais de grande porte, assegurando melhor a sua sobrevivência. Devem ter sido estes os primeiros passos no longo caminho da domesti-cação do cão. Não é fácil reconstituir o momento em que estes lobos pas-sam a ser considerados cães primiti-vos. Em comparação ao lobo, o cão Primitivo tinha um focinho mais curto, o crânio tornou-se ligeiramente mais largo e alguns ossos aumentam na densidade e na largura. O crânio mais antigo identificado até hoje foi encon-trado numa caverna de Goyet na Bél-gica e demostra uma idade de 32.000 anos. Foi precisamente nesta época que o Homem Neandertal desapare-ceu enquanto que o Homem Sapiens conseguiu expandir-se. Tudo isto por-que muito provavelmente houve uma “aliança” entre o homem e o cão. Encontraram-se também indícios que demonstram que o homem pré-histórico teve uma certa adoração pelo cão que o ajudava no sucesso de grandes caçadas. Encontraram-se crânios de cães com ossos metidos na boca, um ritual que existia nos funerais desta época, enterrar o morto

com objetos que lhe pertenciam. Nes-te caso o cão era considerado mais do que um animal de utilidade, mas um aliado estimado. Conclusão destas investigações: sem a ajuda do cão, a evolução do homem dificilmente teria progredido tanto. Nestes recuados tempos, o homem só foi alterando os seus hábi-tos ao longo de milhares de anos pela força das circunstâncias. Hoje em dia, numa época em que tudo muda tão rapidamente, é difícil imagi-nar que o homem tenha levado milha-res de anos até começar a cultivar certas plantas e cereais e que tenha levado tanto tempo antes de começar a capturar animais vivos para os guardar e comer nas alturas em que havia falta de caça. Sem o cão, estes passos teriam sido impossíveis. O cão iniciou-se assim como ajudante indispensável na caça e na guarda dos bens. Só muito mais tarde foram sendo domesticados todos os outros animais. Ao longo deste enorme período de convivência, o cão foi desenvolvendo um tipo de sensibilidade que tinha por finalidade agradar ao homem, já que a sua vida dependia deste. No entan-to, o cão nunca perdeu completamen-te certos instintos característicos dos lobos.

Existem alguns comportamentos que não se devem ignorar. Podem ser o indício de uma atitude agressi-

va. Neste caso, convém pedir ajuda a um profissional, de modo a corrigir o problema.

Se pensa que o seu cão é agressivo verifique os seguintes comportamentos:

• Ladrar excessivo;

• Tendência para rosnar ou morder para proteger a comida;

• Atitude demasiado protetora em relação aos objectos;

• Receio em novas situações ou com pessoas desconhecidas;

• Ataques a outros animais;

• Tentativas de se agarrar às pernas das pessoas;

• Rosna quando vai à tosquia ou ao veterinário;

• Tenta perseguir carros ou bicicletas;

• Foge frequentemente de casa, e fica muito tempo fora.

Conselho

Autoria: Tiago Barreto Foto: Google

Evolução

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Vamos falar de um assunto que a meu ver tem muito interesse.. Muitos donos de cães têm grande resistência em mudar o hábito de dizer (gritar) continuamente a palavra "NÃO" quando os seus cães fazem (ou fizeram) asneiras. Mas porque é que haviam de mudar esse hábito se com os seus filhos funciona perfeitamente? A questão é: Temos de entender o uso da pala-vra "NÃO" em termos caninos (e quais as suas consequências) ao invés de humanizarmos as situa-ções dos nossos amigos de 4 patas. Ora vejamos, num breve exemplo pitoresco... O José e a Maria compraram/adotaram um cão para lhes fazer companhia, esse cão ainda é cachor-ro pois querem acompanhar o seu crescimento e muito felizes vão bus-cá-lo e trazem-no para casa. Chegam com o cão a casa, metem-no no chão da sala e o cão começa a farejar e a andar de um lado para o outro... até aqui sem pro-blemas, é apenas o cão a conhecer o seu novo espaço, mas entretan-to, ele conhece a perna de uma linda mesa de madeira de carvalho na sala que lhe cativa o interesse, e depois de a cheirar começa a mordiscá-la... visto que, sendo um cachorro esta é a

maneira de conhecer o seu meio ambiente. Realmente, sendo cachorrinho não é muito diferente de um bebé humano de dois anos, porém, como não tem mãos usa a boca com mais frequên-cia que uma criança de dois anos. Quando os donos vêm o cachorrinho a morder a perna da mesa de madei-ra de carvalho, o José grita logo.. "Não! Pára com isso!" O cachorrinho muito contente conti-nua a mordiscar a mesa de madeira e finge não ter ouvido. O José reage repetindo essa ordem... "Não.. Nãol!" O cachorrinho não presta a mínima atenção e continua a morder como se nada se tivesse passado. O José já frustrado vai ter com o cachorrinho e afasta-o da mesa sua-vemente.. o cachorrinho não vai de modas, olha para o José, afasta-se uns passos e faz um belo xixi no tape-te persa da sala que tinha sido carís-simo! O José e a Maria gritam.. "Não!" em uníssono... pegam no cachorrinho e levam-no até ao seu quintal, onde o põem no chão enquanto dizem em voz severa.. "Cão mau, ficas aqui e não vais lá para dentro"

A situação é hipotética, mas infe-lizmente acontece. É algo que os donos simplesmen-te seguem por impulso sem terem noção das eventuais consequências que isso pode-rá ter futuramente. Será esta uma atitude dos donos cor-reta ou incorreta?

Em termos de adestra-mento canino verificamos que estes dois donos estão a dar continuamente ordens ao seu novo cão e ele continuamente as ignorou, basta observar.

Ignorou-as justamente porque nin-guém lhe ensinou que aquele com-portamento era errado. Nós (humanos) sabemos perfeita-mente que o uso da palavra "NÃO" significa que um cão deve parar ime-diatamente aquilo que está a fazer, no entanto, na situação que eu relatei o cachorrinho ouviu a palavra "NÃO" quando estava a morder a perna da mesa pelo menos duas vezes sem que nada tenha sido feito posterior-mente para corrigir essa situação. Resultado final: O cão vai aprender a ignorar a pala-vra "NÃO", principalmente se esta

situação se repetir seis vezes por

dia, durante um, dois ou três meses. E claro, este casal fan-tástico ain-da não aprendeu

Autoria: André Moreiras Fotos: Google

Adestramento

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os conceitos de prevenção e redirec-cionamento. Isto é, ainda não aprenderam a ensi-nar ao seu cão aquilo que deveria roer, para depois o poderem elogiar quando ele rói as coisas que deve. Ou seja, quando puseram o cachorri-nho no chão da sala já deveriam ter brinquedos para morder destinados à sua exploração. E mais importante, os cachorrinhos têm a bexiga extremamente pequena e não aguentam as suas necessida-des, cabe a nós "donos" colocar o cachorrinho lá fora (ou no tapete de treino) e esperar até que ele se ali-vie por completo e só posteriormente é que o levamos para dentro de casa ou de uma determinada divisão da nossa casa... após o cachorrinho ter-se aliviado, deveria ter sido elogiado por isso (e eventualmente premiado com um biscoito) para que o compor-tamento que acabou de fazer seja considerada uma experiência positi-va

Então o que ensinaram José e Maria ao seu cachorrinho?

a) A não ouvir/ignorar a ordem "NÃO"

b) As pernas das mesas estão à disposi-ção e são interes-santes para mor-discar. c) A sala

é um sítio tão

bom como os outros para fazer xixi, aliás, até tem um tapete persa fantás-tico! d) O quintal pode ser um sítio bonito, porque é para aqui que as criaturas grandes me levam e depois começam a gritar. Obviamente que o José e a Maria não queriam fazer nada disto, acabou por ser uma reação completamente humana.

Como acontece com tantos outros donos, não se aperceberam de que, se têm um cão, estão a treiná-lo des-de o primeiro segundo. O cenário acima descrito não ensina-rá este cão apenas de uma vez só, mas muitos donos repetem-no ou repetem cenas semelhantes centenas e centenas de vezes, antes de come-çarem um treino de adestramento "formal" adequado aos seus cães. Muito mais se poderia dizer desta conotação negativa da palavra "NÃO", nomeadamente, porque no nosso dia-a-dia a utilizamos diversas vezes e ao condicionarmos essa palavra ao cão como forma de o corri-gir poderemos cair no erro de o cão a associar a uma situação completa-mente errada. (Exemplo de discurso com outra pessoa que poderá fazer confusão ao cão: "NÃO vás por aí") Eu pessoalmente, como adestrador canino, prefiro fazer um som... "Schhhhht!" ou um "Ai Ai", pois não existirá qualquer possibilidade remota do cão ser induzido em erro.

Máximas

“Felizes os cães, que pelo faro descobrem os amigos.” Machado de Assis

"Os cães são o nosso elo com o Paraíso. Eles não conhecem a maldade, a inveja ou o descon-tentamento. Sentar-se com um cão ao pé de uma colina numa linda tarde, é voltar ao Éden onde ficar sem fazer nada não era tédio, era paz." Milan Kundera “Cães amam seus amigos e mordem seus inimigos, bem diferente das pessoas, que são incapa-zes de sentir amor puro e têm sempre que misturar amor e ódio em suas relações.” Sigmund Freud " ... o amor aos cães costuma ser acompanhado por uma certa perda de confiança no homem " Crônica: Homens e cães - Livro: Montanha Russa Martha Medeiros “Sinto pena pelos que não gostam de cães... pelo simples motivo de que nunca saberão o que é realmente ser amado, de verdade... pois nenhum outro ser vivo nos ama incondicionalmente…” Melissa Salles Compilação: Tiago Barreto

Adestramento

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As histórias de animais que nunca abandonaram os donos, mesmo depois da sua morte, tocam qualquer dono. A dedicação presente na histó-ria que se segue elevou os cães a um estatuto de símbolo ou exemplo a seguir. São animais leais que toca-ram todos os que ouviram a sua his-tória. Greyfriars Bobby, um longo luto Os cães da raça Skye Terrier são oriundos da ilha de Skye e são conhecidos pela sua lealdade e compa-nheirismo. Bobby, um cão Skye Terrier ain-da novo, era o fiel companheiro de um polícia chamado John Gray. John e o cão tornaram-se amigos inseparáveis, estavam sempre juntos, espe-cialmente à noite quando o Bobby não arredava do tapetinho ao pé da cama de John, notadamente durante a doença do seu dono, acometido de tuberculose. Esta cumplicidade perdu-rou até o ano de 1858, quando John morreu e foi enterrado no cemitério Greyfriars. Seu cãozi-nho acompanhou o caixão do seu dono até terminar o seu enterro. A partir daquele dia, durante 14 anos, diariamente, Bobby dirigiu-se ao cemitério e permaneceu ao pé da sepultura do seu dono, durante a noite. Mesmo com chuva, frio e madrugadas nevadas, o fiel cãozinho nunca deixou de ir para perto do seu dono, nem a velhice, as doenças e a visão deficiente impediram-no de visitar o lugar que sabia guardar o

que restava de John. E assim foi até sua própria morte em 1872. Bobby foi encontrado morto, deitado sobre o túmulo de John. Mas, onde ficava e o que fazia Bobby durante o dia, após a morte do seu dono? Ora, não lhe faltaram amigos e pessoas que o alimentassem, pois tornara-se um cãozinho famoso e querido devido à sua amizade e leal-dade à memória de John. Além disso,

o Castello de Edimburgo era um dos lugares favoritos de Bobby, resultan-do dessa sua preferência o surgimen-to de uma tradição que ligou o cãozi-nho ao Castelo de Edimburgo: trata-se do disparo de canhão que passara a ser dado diariamente às 13 hrs. Conta a lenda que um capitão de marinha visitou Edimburgo em 1860. Quando voltou a seu lar, informou que tinha visto uma cidade maravilhosa, cheia de construções e monumentos esplêndidos, onde viviam homens

sábios e belas mulheres. Tinha só um problema, ninguém sabia a hora cor-reta do dia. Tinham suficientes reló-gios, mas nenhum deles indicava o mesmo horário. Em 1861, a situação foi corrigida quando os servidores públicos da cidade decidiram que fosse feito um disparo de canhão todos os dias no castelo. Desse modo, todos os cida-dãos poderiam ajustar seus relógios.

Ao mesmo tempo em que esta tradição começou, Bobby ficou amigo de um soldado nos quartéis do caste-lo, seu nome era Scott, que apresentou a Bobby aos seus amigos e todos deram as boas-vindas ao novo camarada pelu-do. Uma das respon-sabilidades do sar-gento Scott era a de ajudar a disparar o canhão e Bobby sem-pre o seguia às ram-pas do castelo para ser testemunha da ação. Imediatamente após o disparo, Bobby se dirigia a um restau-rante chamado "The Eating House", onde o dono regularmente lhe dava o seu almo-

ço. O que fez dele uma atração diária. Uma multidão frequentemente reunia-se nas portas do cemitério ou do res-taurante para esperá-lo. Bobby não perdia tempo com a comida. Nem bem terminava, corria para o cemité-rio para se sentar pacientemente ao lado da sepultura de John Gray. O cãozinho é uma parte querida da história de Edimburgo, a sua coleira e o seu prato são preservados na Casa Huntly, o museu dedicado à

Autoria: Tiago Barreto

Comportamento

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história da cidade. Após a morte de John Gray, Bobby não tinha dono oficial. Era amado e regularmente alimentado pelas famí-lias e comerciantes situados ao redor do cemitério, mas ninguém tinha pago a sua licença, motivo pelo qual, mais dia menos dia, seria levado pela carrinha até ao canil. O Sr. James Brown que tratava do cemitério, contou como encontrou Bobby deitado sobre o túmulo, à manhã seguinte do enterro. Como era proibido a permanência de cães no cemitério, o Sr. Brown perseguia o cãozinho até tirá-lo dali, mas na manhã seguinte ele voltava. Uma e outra vez Bobby foi afugentado ate que o Sr, Brown ficou com pena e permitiu que ficasse.

Ainda nos dias de clima mais horrível, Bobby não abandonava sua posição, e com frequência latia naqueles que tentavam convencê-lo de que ficasse em suas casas. Felizmente para Bobby, o prefeito da cidade, Sir William Chambers era um amante dos cães. Como chefe do município, era um homem poderoso e quando o assunto da licença de Bobby surgiu, pediu para conhecer o

cãozinho. Sir William ficou encantado com ele e decidiu pagar por sua licença indefinidamente. Ele deu uma coleira a Bobby, a que se encontra hoje no museu, e um prato de bronze com a seguinte inscrição: "Greyfriars Bobby do Prefeito, 1867, autorizado". A área da cidade antiga por onde Bobby passeava e agora se encontra sepultado, tem muitos exemplos de belos monumentos dos séculos XVII e XVIII. Um ano após a morte de Bobby, a Baronesa Burdett Coutts mandou esculpir uma estátua e uma fonte para comemorar a vida de um cão devoto e a história de uma amizade que superou a morte. A estátua está a poucos passos do cemitério e atrás dela, há um pub que leva o nome do cãozinho em sua honra.

Túmulo de John Gray

Sepultura de Bobby

Lápide

III Congresso Ibérico do Lobo

Dias 24 e 25 de Novembro de 2012 em Lugo - Galiza - Espanha. Para mais informações e inscrições consulte o Site Oficial do evento em:

www.iiicongresolobo.org

Evento

Comportamento

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Nos passados dias 07, 08 e 09 de Setembro o Dr. Ian Dunbar, veio a Portugal a convite da Escola Canina “It's All About Dogs” de Cláudia Estanislau, dar um seminário acerca de trei-no e comportamento canino. Foi um seminário muito interessante e eloquente, o Dr. Ian Dunbar conseguiu explicar de uma forma simples e muito sim-pática todas as grandes dúvidas dos donos e dos profissio-nais da área de treino canino. Resumidamente, foram abordadas no seminário as seguintes temáticas: 1º dia - Treino sem Trela com Luring e Recompensas Uma vez que a técnica de luring permite-nos prever precisa-mente quando é que o cão irá efetuar um comportamento desejado, o treino através de luring e recompensa permite-nos começar a associar o comando verbal ao comportamento desde o primeiro treino, permite-nos ensinar sinais gestuais em cerca de 12 tentativas, permite-nos implementar esque-mas de reforço diferenciais desde o segundo treino e permite-nos ensinar sinais verbais para vários comportamentos ao mesmo tempo. 2º dia - Preveja e Previna Problemas de Comportamento e Temperamento Como prever e prevenir tudo o que pode correr mal durante a adolescência – os muitos problemas de comportamento e temperamento que se criam enquanto cachorros, usualmente só se manifestam mais tarde – necessidades nos locais erra-dos, destruição, ladrar excessivo, ansiedade por separação, medos e agressão a humanos e outros cães. Existe grandes deficiências na educação básica dos cachorros que levam à drástica diminuição da qualidade de vida de muitos cães e dos seus donos ou para muitos cães pode mesmo levar à morte. 3º dia - Comportamento Social Canino e o seu relaciona-mento com a Dominância no treino de cães “Dominância” é certamente o tópico mais confuso no treino e comportamento dos cães. Uma interpretação errada do com-portamento dos lobos foi aplicada aos cães e em seguida uma série de mal entendidos no comportamento entre cães foi extraordinariamente extrapolado para o treino e as interações humano-caninas. As noções erradas das hierarquias suposta-mente físicas e dominantes são muitas vezes usadas

Autoria: André Moreiras

Evento

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Quem é Ian Dunbar

O Dr. Ian Dunbar é um veterinário, comportamen-talista animal e escritor. Recebeu o diploma de veterinário e uma Honra Especial em Fisiologia e Bioquímica do Colégio Real Veterinário da Univer-sidade de Londres e recebeu também um Doutora-mento em comportamento animal do Departamen-to de Psicologia da Universidade de Califórnia em Berkeley, EUA, onde passou dez anos a investigar a comunicação olfactiva, o desenvolvimento do comportamento social hierárquico e agressão nos

cães domésticos.O Dr. Dunbar é membro do Colégio Real de Cirurgia Veteri-nária, da Sociedade de Etologia Aplicada, da Sociedade Veterinária America-na de Comportamento Animal, da Associação Médico-Veterinária da Califór-nia, da Associação Médico-Veterinário Sierra e da Associação de Treinadores de Animais Domésticos – APDT - (fundada por ele). O Dr. Dunbar juntou-se à Sociedade Veterinária de Etologia (agora chamada de Sociedade Internacional de Etologia Aplicada) há mais de 35 anos, sendo que na altura era o único membro especializado em problemas de comporta-mento de cães e gatos. Mais tarde esteve envolvido no estabelecimento da SVE Americana (hoje em dia conhecida como Sociedade Veterinária Ameri-cana de Comportamento Animal).Escreveu numerosos livros, incluindo “How to teach A New Dog Old Tricks”, o “Good Little Dog Book” e uma série de livros pequenos acerca de comportamento – cada livro focando-se num pro-blemas comportamental frequentemente encontrado no cão. Gravou mais de onze DVDs acerca de treino e comportamento de cachorros e cães, incluindo o “SIRIUS® Puppy Training”, “Training Dogs with Dunbar” e “Every Picture Tells a Story”. Todos estes vídeos ganharam vários prémios. Por mais de trinta anos que o Dr. Dunbar dá seminários a veterinários e clu-bes de cães. Na realidade desde 1986 ele já efectuou mais de 800 dias de seminários e workshops para treinadores e veterinários por todo o mundo. Existem poucos treinadores actualizados que não foram fortemente influen-ciados pelos jogos, treino e perspectiva divertida do Dr. Dunbar. No campo dele, não há comparação com o trabalho desenvolvido pelo Dr. Dunbar. Não existe outra pessoa com as suas qualificações, experiência e capacidades no mundo do treino e comportamento canino , campos nos quais o Dr. Dunbar desempenha um papel predominante há mais de 25 anos.

como justificação (e desculpa) para o uso de punições físicas e dolorosas durante o treino de cães e especial-mente quando se tentam resolver problemas de agressão e lutas. Esta visão simplista do comporta-mento dos cães é um insulto aos cães. Os cães domésticos vivem juntos e desenvolvem sofisticadas e complexas estruturas sociais e os cães que habitam sozinhos precisam de ter competências sociais impecá-veis para conhecer, relacionar e conhecer cães completamente des-conhecidos que encontram todo o tempo (na verdade as competências sociais humanas comparativamente são muito mais fracas). Mais pertur-bante, a aplicação desmedida do domínio físico (por parte dos huma-nos) no treino tem tido um impacto extremamente negativo na qualidade de vida dos cães e dos seus donos. Mas mais importante que tudo, o Dr. Ian Dunbar ensinou a conhecermos melhor o nosso cão e a sabermos respeitá-lo. Os cães são os nossos melhores amigos, temos de aprender a ser melhores donos conhecendo por completo todas as necessidades do nosso cão por forma a podermos treiná-lo de uma forma simples, ade-quada e positiva. O cão tem que gostar da nossa com-panhia e de treinar (brincar) connos-co, e assim sendo dever-se-á excluir quaisquer métodos aversivos de trei-no com punição física e dolorosa.

Livro recomendado

Título: O Filósofo e o Lobo Autor: Mark Rowlands Editora: Lua de Papel

Sinopse No dia em que Mark Rowlands comprou um Lobo, teve a sua pri-meira grande lição sobre a espécie: os lobos não gostam de ficar sozinhos. Ao regressar a casa encontrou-a completamente des-truída. Começava assim a estranha amizade entre um professor de filoso-fia, misógino e alcoólico, e o seu imponente Lobo de 70 quilos. O Filósofo e o Lobo é uma história real de uma amizade de doze anos entre um homem e um lobo. É um ensaio sobre o que nos separa (e aproxima) dos animais, é um tratado sobre a lealdade. Mas é também, acima de tudo, uma narrativa comovedora, pun-gente, sobre o que significa ser-se humano - e sobre o que pode-mos aprender com os lobos.

Evento

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Notícias

Cães enterrados vivos são resgatados

Uma denúncia alertou a RSPCA (The Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals) - Sociedade Britâni-ca de Proteção aos Animais - para eventuais maus tratos de animais por parte de um casal que se dedicava à cria-ção de cães. Através de uma investigação local, deu-se a descoberta de duas crias recém nascidas, enterradas no jardim. Os agentes da RSPCA tentaram resgatar os animais a tempo de os salvar, contudo a desidratação e o sofrimen-to em que se apresentavam impossibilitaram o salvamen-to, tendo sido abatidos poucos minutos depois. Para além das crias, mais de vinte cães da raça Stafford-shire Bull Terrier foram encontrados no local em condi-ções precárias, presos em pequenas jaulas, sem quais-quer condições sanitá-rias apresentando tam-bém um estado de saú-de débil. James Perks de 74 anos e a sua mulher Lorraine de 49, foram condena-dos a uma pena de pri-são de 25 semanas por crueldade animal. Revista Sábado, Julho 2012

Cão não abandona dono que morreu

há seis anos

El Capitan - é um pastor ale-mão que chegou à familia Guzman em 2005. Um ano depois o seu dono faleceu. Na semana seguinte o cão fugiu de casa e para surpresa da família foi encontrado no cemitério local, em Concórdia, na Argentina, onde per-manece há seis anos. "Durante o dia vagueia, mas às seis em ponto regressa sempre ao local onde o dono está enterrado, deita-se no topo da campa e aí permanece toda a noite", revela o diretor do cemitério. O veterinário local explica que apesar de nunca lhe ter sido mostrado o local onde estava o dono, o cão tê-lo-á encontrado através do alfato: "São capazes de detetar pessoas enterradas a dez metros de profundidade." O cão divide o se tempo entre o cemitério e a casa de família. mas regressa sempre para a companhia do seu dono antes do anoitecer. Revista Sábado, Setembro 2012

Uma casa para o Ol Boy

U cão foi encontrado nas ruas de Singapura, esfomeado, desidratado e incapaz de se mover. O grupo de ativistas batizaram-no de - Ol Boy - e tenaram salvar-lhe a vida, con-tudo os esforços fora em vão.

Resgatado e levado para o veterinário, todos os esforços foram feitos para salvar o animal, mas a deteção de uma infeção generalizada deixou claro que este cão não tinha hipótese de sobreviver. Porém, o grupo de ativistas tomou uma decisão diferente do esperado e em vez de abater o animal, optaram por levá-lo para casa e cuidar dele até à hora da sua morte. A ideia foi de dar, pela primeira vez na vida deste cão, carinho e afeto que durante a sua vida de maus tratos nunca teve. “Ficámos a seu lado e tentávamos confortá-lo sempre que gemia e uivava de dor", disse um dos ativistas. O grupo que criou e mantem o site www.saveourstreetdogs.com, dedicado ao salvamento de cães vadios nas ruas de Singapura, realizou um fune-ral a Ol Boy com todas as honras e publicou o vídeo na Internet, na esperança que a sua história alerte a socie-dade para os maus-tratos dos animais de rua. Revista Sábado, Agosto 2012

Chamou a polícia após receber telefo-

nema do cão

Um homem chamou a polícia após receber um telefone-ma do cão. Foi isso mesmo que aconteceu, segundo um relatório da polícia de Orem, no estado norte-americano do Utah. A história, no entanto, é mais simples do que à pri-meira vista parece. Bruce Gardner temeu que a sua casa pudesse estar a ser assaltada quando o seu telemóvel tocou e do outro lado ouviu apenas sons estranhos, como coisas a bater e a raspar. Este norte-americano contactou, de seguida, a polícia, que ao deslocar-se a sua casa encontrou tudo em ordem, inclusive o cão, Maya. Bruce percebeu, depois, que teria sido Maya a telefonar para si, ao pressionar a tecla de repetição da última cha-mada enquanto brincava com o telefone sem fios. Revista Sábado, Outubro 2012

Buraka Som Sistema lançam videoclip de sensibilização para o abandono

O novo videoclip dos Buraka Som Sistema quer chamar a atenção para o problema dos animais abandonados, pois em tempo de crise, há cada vez mais cães e gatos entregues nas associações e canis municipais. Foi lançado este mês, a propósito do Dia do Animal. SIC, Outubro 2012

Compilação: Anabela Guerreiro

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Sabia que...

... O olfato canino é um milhão de vezes mais sensível que o humano.

Sua vantagem está no tama-nho da membrana nasal e da quantidade de células dos recetores olfativos. Enquanto nos humanos a membrana tem um tamanho de cerca de 165m³, a canina tem aproximadamente 2.290 cm³. Isso faz com que um pastor alemão tenha cerca de 220 milhões de recetores contra o...

A bióloga Silvia Ribeiro foi galar-doada com o 2º lugar no Prémio Terre de Femmes 2011, um justo

reconhecimento ao empenho e trabalho que tem desenvolvido no “Programa Cão de Gado”, iniciado em 1996 pelo Grupo Lobo. Este Programa tem por objetivo fomentar a utilização de méto-dos de proteção do gado, socialmente aceites e ambien-talmente sustentáveis, que permitam a redução dos pre-juízos causados pelos lobos nos animais domésticos e, desta forma, o aumento da tolerância das comunidades rurais para a presença deste predador ameaçado. s 5 milhões dos humanos.

... O biólogo Inglês Rupert Sheldrake, da Universidade de Cambridge, acredita que os

cães têm uma conexão telepática com seus donos, embora a existên-cia de telepatia seja descartada pela maioria dos cientistas. Numa das suas experiências, uma mulher é monitorada enquanto está a fazer compras, assim como seu cão, que perma-neceu em casa. Num momento aleatório, o cientista pede à mulher que volte para casa. Onze segundos depois, na sua sala o seu cão levanta-se e vai para a porta. Ele fica lá até á chegada da sua dona. Sheldrake acredita que os cães e seus donos estão conectados à distância, ao que nome de campo amórfico, uma espécie de elástico invisível. A maioria dos cientistas rejeitou as teorias do pesquisador, dizendo que o comportamento animal pode ser explicado por hábitos ou ansiedade.

... Joana Bessa, do Instituto de Ciências Biomédi-cas Abel Salazar (ICBAS), da Universidade do Porto,

diz que os cães também são contagiados pelo bocejo dos humanos e reagem mais se for o seu dono, uma característica que pode refletir empatia e ser útil na seleção dos animais para ajudar em determinadas situa-ções.

... Pela primeira vez, neurologistas dos EUA foram capazes de gravar imagens do cérebro de um cão acordado através de uma ressonância magnética.

Os cientistas treinaram animais especialmente para aprender a tolerar os exames dentro do tomógrafo durante a captura da imagem. Os pesqui-sadores esperam descobrir como pensam os cães e qual o segredo de sua comuni-cação com os humanos. O estudo está sendo realizado por pesquisadores da Universidade Emory, em Atlanta, Geórgia.

... A raça mais pequena é o Chihuahua, cujo

peso aceite é 0,9-2,75 Kg. O Museu de His-tória Natural da Cida-de do México tem o esqueleto de um Chi-huahua completamen-te desenvolvido medindo apenas 18 cm de comprimento total. Não há um peso atribuído a este cão, que foi apresentado em 1910, mas estima-se que, pelos seus ossos, não poderia ter pesado mais de 500g.

... Cães que viajavam no Titanic também são lem-brados. Está a decorrer na Universidade de Wide-ner, na Pensilvâ-

nia, uma exposição que aborda uma parte da his-tória até hoje pouco fala-da. Esta exposição abor-da a presença de 12 cães que viajavam no fatidico navio quando este se afundou, faz 100 anos. Dos 12 cães a bordo, só 3 sobreviveram ao naufrágio, dois Spitz Alemães e um Épagneul Pequinês, e é principalmente sobre estes e sobre o que lhes aconteceu que a exposição mais se foca. Concluiu-se que se salvaram devido ao facto de serem pequenos e da sua presença nos botes salva-vidas não por em questão a sobrevivência de nenhum passageiro.

... O cão possui duas glân-dulas próximas ao ânus responsáveis pela libera-

ção de uma substância de cheiro muito desagradável (pelo menos do ponto de vista humano). Essas glândulas têm um papel muito importante no reconhecimento entre os cães. A atitude do cão em cheirar o ânus de outros cães significa um "aperto de mão" entre eles.

Compilação: Vanessa Correia

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Cães & Lobos Edição Nº 1

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Formamos:

Profissionais competentes...

… e donos responsáveis!

Departamento de Formação do:

CENTRO CANINO DE VALE DE LOBOS

Curso destinado a todos aqueles que nutrem uma paixão pelos cães e por todos os mecanismos que têm a ver com o seu comportamento. Nesta situação enquadram-se os Adestradores

caninos, os Veterinários e os Tratadores, mas fundamentalmente é destinado a todos aqueles que, não tendo formação nesta área, têm como sonho trabalhar com cães, não só lúdica como

profissionalmente. Este Curso tem a vantagem de ser composto no máximo por 4 formandos.

Primeiro curso administrado em Portugal com base nas últimas investigações científicas desenvolvidas na área da aprendizagem canina

Presencial

Estrutura Programática do Curso

Módulo 1 (teórico)

1.1 CONHECER O CÃO 1.1.1 Conhecer como funciona um cão

1.1.2 O Carácter num cão

1.1.3 O Temperamento num cão

1.1.4 A Comunicação canina

1.1.5 Os Instintos Básicos caninos

1.1.6 Conhecer o cão que se vai adestrar

1.2 MÉTODOS DE ADESTRAMENTO 1.2.1 Métodos de Adestramento

1.2.2 Traçar objetivos

1.2.3 Escolher o melhor método de Adestramento 1.2.3.1 Em função do cão

1.2.3.2 Em função do dono

1.2.3.3 Em função dos objetivos

1.2.4 As várias fases do Adestramento

1.3 CONDICIONAMENTO OPERANTE 1.3.1 Definição

1.3.2 O que é o Clicker

1.3.3 O treino com Clicker

1.4 O ADESTRADOR 1.4.1 Exigências Físicas

1.4.2 Exigências Mental 1.4.3 Ética profissional

Módulo 2 (prático)

2.1 O ADESTRAMENTO EM OBEDIÊNCIA SOCIAL 2.1.1 Material de adestramento

2.1.1.1 Material de contenção

2.1.1.2 Material de assistência

2.1.1.3 Material didático

2.1.2 Postura corporal do adestrador

2.1.3 Desenvolvimento da motivação do cão

2.1.4 Condicionamento e aquisição de hábito

2.1.5 Exercícios de Obediência Básica

2.1.5.1 Exercício de andar ao lado

2.1.5.2 Exercício de sentar 2.1.5.3 Exercício de deitar 2.1.5.4 Exercício de deitar e ficar quieto

2.1.5.5 Exercício de chamada

2.2 SOCIABILIZAÇÃO

2.2.1 Sociabilização intraespecífica

2.2.2 Sociabilização interespecífica

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Entrevista Cães & Lobos Edição Nº 1

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Formamos:

Profissionais competentes...

… e donos responsáveis!

Departamento de Formação do:

CENTRO CANINO DE VALE DE LOBOS

Módulo 3 (prático)

3.1 ADESTRAMENTO EM GUARDA E DEFESA 3.1.1 Determinar as aptidões do cão

3.1.2 O Figurante (Homem de ataque) 3.1.2.1 Vestuário

3.1.2.2 Equipamento

3.1.2.3 Formação

3.1.3 O trabalho de motivação

3.1.4 O treino técnico das mordidas

3.1.5 O treino da inibição da mordida (larga)

3.1.6 O treino da fuga do figurante

3.1.7 O treino da busca do figurante 3.1.8 O treino do ataque surpresa ao guia

3.1.9 O treino do ataque longo

Módulo 4 (teórico)

4.1 COMPORTAMENTOS ANÓMALOS E DESVIANTES 4.1.1 Agressividades

4.1.1.1 Definição e tipologias

4.1.1.2 Tratamento 4.1.1.3 Prevenção de agressividade por complexo de controlo

4.1.2 Micção ou defecação inadequadas 4.1.2.1 Definição 4.1.2.2 Tratamento

4.1.3 Ansiedade por separação 4.1.3.1 Definição

4.1.3.2 Tratamento

4.1.4 Fobias 4.1.4.1 Definição

4.1.4.2 Tratamento

4.1.5 Manias Maternais

4.1.5.1 Definição

4.1.5.2 Tratamento

4.1.6 Hiperatividade e hiperexceptibilidade

4.1.6.1 Definição 4.1.6.2 Tratamento 4.1.7 Comportamentos estereotipados 4.1.7.1 Definição

4.1.7.2 Tratamento

4.1.8 Ingestão Inadequada 4.1.8.1 Alimentação Estranha

4.1.8.2 Coprofagia 4.1.8.3 Objetos 4.1.9 Síndrome de Disfunção Cognitiva 4.1.9.1 Definição e Sintomas 4.1.9.2 A importância de um Diagnóstico Correto 4.1.9.3 Prognóstico

4.1.9.4 Tratamento

Curso intensivo de formação de monitores de adestramento científico canino (presencial)

Curso destinado a todos aqueles que nutrem uma paixão pelos cães e por todos os mecanismos que têm a ver com o seu comportamento. Nesta situação enquadram-se os Adestradores caninos, os Veterinários e os Tratadores, mas fundamentalmente é destinado a todos aqueles que, não tendo formação nesta área, têm como sonho trabalhar com cães, não só lúdica como profissionalmente

Características do Curso

Tipo de Curso: Curso presencial ministrado em sistema intensivo de 15 dias de duração, com uma carga horária lectiva diária de 4 horas,

incluindo as componentes prática e teórica.

Início do Curso: A combinar com o formando

Local das Aulas: Campo de Trabalho do Centro Canino de Vale Lobos – Vale de Lobos - Sintra

Método de Ensino: Científico

Quantidade de Alunos por Curso: 1

Documento fim de Curso: Certificado com informação detalhada sobre as avaliações intercalares e finais e matéria leccionada

Estrutura Programática do Curso Módulo 1 (teórico)

Módulo 2 (prático) Do Curso de duração normal

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Cães & Lobos Edição Nº 4

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Entrevista Cães & Lobos Edição Nº 4

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Publicidade

Adestramento Canino

Anabela Guerreiro

- Treino e Avaliação de Comportamento Canino

- Pet-sitting

Visite-nos em: http://mydogcenter.blogspot.com/

Email: [email protected]

Telef. 966 159 407

Zona: Algarve www.pipinhaecompanhia.net

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Cães & Lobos Edição Nº 4

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Entrevista Cães & Lobos Edição Nº 4

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Publicidade

Visite-nos em: www.adestramentoresponsavel.com

Email: [email protected] Telef. (21) 3435 4776 / (21) 9262 5111 Atendimento na zona sul do RJ. Para outras localidades atendimento via Skype.

Brasil Érika Rocha.

Obediência Canina

Problemas Comportamentais

Atendimento ao Domicilio

Fone: (32) 3331-2284 ou (32) 8876-2653.

Barbacena - MG

BRASIL

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Ficha Técnica

Cães & Lobos Edição Nº 4

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Propriedade:

Centro Canino de Vale de

Lobos

www.ccvlonline.com [email protected]

Edição:

Dep. Divulgação do CCVL

http://Comportamento-

canino.blogspot.com

Revista Digital de Cães e Lobos

Editor:

Sílvio Pereira [email protected]

Colaboraram nesta Edição:

Anabela Guerreiro, André

Moreiras, Karim Pirá, Paula

Leal, Suzette Veiga, Tiago

Barreto, Vanessa Correia

Paginação e execução gráfica:

Sílvio Pereira

Nota:

Todo o material publicado

nesta edição é da exclusiva

responsabilidade dos seus

autores.

_________________________

Página web:

http://revistacaeselobos.weebly.com

Cães & Lobos Nº 4

Colaboradores Anabela Guerreiro

[email protected]

André Moreiras

[email protected]

Karim Pirá

[email protected]

Paula Leal

[email protected]

Suzette Veiga

[email protected]

Tiago Barreto

[email protected]

Vanessa Correia

[email protected]

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Formamos:

Profissionais competentes...

… e donos responsáveis!

Departamento de Formação do:

CENTRO CANINO DE VALE DE LOBOS

Curso destinado a todos os proprietários que queiram adestrar os seus cães em casa (portanto, no seu território) evitando assim as sempre stressantes e por vezes

traumatizantes idas às escolas de treino canino.

Características do Curso

Início do Curso: Imediato Método de Ensino: Científico Documento fim de Curso: Diploma final de Curso com a qualificação obtida. Tempo médio despendido com o curso: De 2 a 4 meses ou 200 horas (varia em função da disponibilidade e da aplicação do aluno).

A quem é dirigido este Curso: Com este Curso o dono dispensa as sempre angustiantes e traumáticas idas às escolas de treino, uma vez que o cão aprende no seu próprio território, portanto, qualquer pessoa está em condi-ções de frequentar este curso, a única limitação prende-se com a obrigatoriedade de possuir um cão (seja ele de que raça for) uma vez que numa das fases do Curso terá que aplicar na prática, as técnicas que vão sendo estuda-das.

Perspectivas de conhecimentos adquiridos no final do Curso: Excelente bagagem técnico/teórica e conheci-mento profundo do aspeto funcional do cão, assim como uma identificação da interação dos mecanismos da apren-dizagem com os vários tipos de condicionamento. No aspeto prático adquire-se um conhecimento básico dos princípios gerais do Condicionamento Operante assim como a utilização do clicker como instrumento fundamental no moderno treino científico canino. Resumindo, o formando fica perfeitamente preparado não só para poder treinar o seu cão positivamente mas tam-bém para compreender a sua linguagem, o seu carácter, a sua personalidade e o seu temperamento.

Módulo 1 (teórico)

1ª Parte - Conhecer o Aspeto Funcional do Cão

2ª Parte - O Carácter e o Temperamento num Cão

3ª Parte - A Comunicação Canina

4ª parte - Os Instintos

5ª Parte - Condicionamento Operante

6ª parte - Descobrir o Clicker

Estrutura Programática (resumida)

Módulo 2 (prático) 7ª Parte - O Adestramento em Obediência Social

8ª Parte - Motivar e Condicionar o Cão

9ª parte - Exercícios de Obediência Básica

10ª Parte - Sociabilização

http://formacaoccvl.weebly.com/curso-on-line-de-adestramento-positivo-canino.html

Page 40: Nº 4 - 4º Trimestre 2012

Formamos:

Profissionais competentes...

… e donos responsáveis!

Departamento de Formação do:

CENTRO CANINO DE VALE DE LOBOS

Características do Curso

Objetivos do Curso: Formar técnica e cientificamente através da aquisição de conhecimentos sobre a identifica-ção, diagnóstico, tratamento e prevenção dos Comportamentos anómalos, desviantes e patológicos dos cães que vivem integrados na sociedade humana. É um Curso abrangente uma vez que é transversal a todos os Problemas Comportamentais dos canídeos domésticos.

Início do Curso: Imediato Método de Ensino: Científico Documento fim de Curso: Diploma final de Curso com a qualificação obtida. Tempo médio despendido com o curso: +/- 3 meses ou 200 horas (varia em função da disponibilidade e da apli-cação do formando).

A quem é dirigido este Curso: Este Curso é dirigido a todos os Adestradores Caninos que sentem dificuldades na interpretação e tratamento destas patologias cada vez mais presentes na interação dos cães com os seus donos e o meio envolvente. Mas também a todos os interessados na temática do Comportamento Canino e nas alterações causadas por via da domesticação.

Perspetival de conhecimentos adquiridos no final do Curso: Excelente bagagem técnico/científica e conheci-mento profundo de todos os mecanismos ligados ao processo de interpretação, diagnóstico, tratamento e preven-ção das Patologias do Comportamento. No final do mesmo, o formando fica em condições de, conscientemente, resolver todos os problemas ligados à área Comportamental.

Tema 1 - Como Funciona um Cão Tema 2 - O Carácter Tema 3 - O Temperamento Tema 4 - A Comunicação Canina Tema 5 - Os Instintos Básicos de Sobrevivência Tema 6 - Os Condicionamentos Tema 7 - As Agressividades Tema 8 - Ansiedade por Separação

http://formacaoccvl.weebly.com/curso-de-psicologia-canina.html

Estrutura Programática do Curso (Resumido)

Tema 9 - Síndrome de Disfunção Cognitiva Tema 10 - Fobias Tema 11 - Manias Maternais Tema 12 - Hiperatividade e Hiperexcitabilidade Tema 13 - Comportamentos estereotipados Tema 14 - Ingestão Inadequada Tema 15 - Eliminação Inadequada