nº 384 edição brasil

84
ESPECIAL: VIAGENS A NEGÓCIOS NA AMÉRICA LATINA BRASIL www.americaeconomia.com.br N º 384 FEV./2010 R$ 8,90 DÉCADA DOS TRILHOS N º 384 Fevereiro/2010 AméricaEconomia DÉCADA DOS TRILHOS OS PLANOS DE EMPRESAS E DO GOVERNO PARA RESGATAR O PROTAGONISMO DAS FERROVIAS NO BRASIL CARNAVAL FESTA BILIONÁRIA TELEFÔNICA APRENDENDO COM OS ERROS RECUPERAÇÃO DOS EUA EXCESSO DE OTIMISMO?

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AméricaEconomia: Revista de Economia e Negócios Latino-americana

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Page 1: Nº 384 Edição Brasil

ESPECIAL: VIAGENS A NEGÓCIOS NA AMÉRICA LATINA

BRASIL www.americaeconomia.com.br

Nº 384 FEV./2010 R$ 8,90

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DÉCADA DOS TRILHOS

OS PLANOS DE EMPRESAS E DO GOVERNO PARA RESGATAR O PROTAGONISMO DAS FERROVIAS NO BRASIL

CARNAVALFESTA BILIONÁRIA

TELEFÔNICAAPRENDENDO COM OS ERROS RECUPERAÇÃO DOS EUAEXCESSO DE OTIMISMO?

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4 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

Negócios Telefônica

O desafi o da banda larga

Entrevista

Antonio Roberto Cortes, da MAN Latin America

Carnaval

A festa bilionária

Sede de compra

Cervejas encerram época das grandes fusões

Pegadas ambientais

Empresários neutralizam eventos corporativos

2226283236

Seções Portal

Carta ao Leitor

Cartas

Índice de Empresas

Pistas

Negócio Fechado

Visão Verde

Movimentos

Opinião – Susan Kaufman

Raio X

Capital Aberto

Opinião – John C. Edmunds

I-biz

Clics & Chips

Linha Direta

8 910101213343852587677788182

Debates Haiti

O fl agelo de um país

Recuperação dos EUA

Otimismo exagerado?

Chile elege Piñera

A política internacional do novo presidente

México e a democracia

Uma luta centenária pelo direito de reeleição

44485456

Finanças Jogo das diferenças

Exchange traded funds estão na moda

Entrevista

João Albino Winkelmann, do Bradesco

7274

CAPA A década da ferrovia no Brasil Entrevista: Bernardo Hees, da ALL

1420

ESPECIAL Viagens a negócios Exército silencioso

Mercado de turismo a negócios cresce velozmente

O melhor da América Latina

Viajantes votam em seus serviços e destinos prediletos

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Foto de capa: Daniel K. Trevisan

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8 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

LEIA NO PORTALEDIÇÃO: AINÁ VIETRO ([email protected])

www.americaeconomia.com.br

Siga o site da AméricaEconomia no Twitter: twitter.com/AEBrasil

PORTAL

COPA AQUECE MERCADO DE TELEVISORES A produção de televisores de display de cristal líquido (LCD) crescerá até 70% no Brasil em 2010, por causa da realização da Copa da África do Sul e da preocupação dos consumidores com a conta de energia elétrica, se-gundo a LG Display. A empresa projeta que a venda de aparelhos será de 5,5 milhões de unidades, em 2010.

CARREFOUR ANUNCIA INVESTIMENTO DE R$ 2,5 BI PARA 2010/2011Terceira maior operação do Grupo Carrefour no mun-do, o Carrefour Brasil continua como um dos principais focos de investimento da rede francesa. Para os pró-ximos dois anos (2010 e 2011), a rede anuncia inves-timentos de R$ 2,5 bilhões, maior aporte já realizado pela rede no país destinado à expansão orgânica. Os investimentos serão feitos na inauguração de novas lo-jas, unidades de serviço e aumento da cadeia de distri-buição. A estratégia deve fortalecer a atuação da rede nacionalmente, que já engloba 18 estados, e a consoli-dação da presença nas regiões Norte e Nordeste, onde a empresa inaugurou, apenas em 2009, sete unidades. Entre os planos para a região Norte, está a inauguração de um novo Centro de Distribuição, ainda no primeiro trimestre de 2010. A rede também ingressa no merca-do de comércio eletrônico, no primeiro semestre des-te ano. No último trimestre de 2009, o Carrefour Brasil registrou crescimento de 13,4% em relação ao mesmo período de 2008. No ano, a operação brasileira acumu-lou um crescimento de 14%, apresentando resultados positivos em todos os trimestres.

A gaúcha Camil anunciou em dezembro a com-

pra da chilena Tucapel, maior empresa de bene-

fi ciamento de arroz do Chile, negócio que faz

parte da sua estratégia de inter-

nacionalização na Amé-

rica do Sul. O valor

da aquisição não

foi divulgado.

A Tucapel tem

mais de 50%

de participação

no mercado chi-

leno e faturamento

anual de US$ 70 milhões, além de estar presente

em mais de 80% do varejo no país. A demanda in-

terna do mercado chileno é de 200 mil toneladas

de arroz por ano, segundo a Camil.

Com a aquisição, a empresa brasileira passa a

operar (além do país) no Uruguai e Chile, com

capacidade de produção de 1,8 milhão de tone-

ladas de grãos e faturamento total estimado em

R$ 1,7 bilhão para 2010. Em 2007, a Camil adqui-

riu a uruguaia Saman, também líder naquele país,

com 50% de participação no mercado de arroz

uruguaio, sendo que 91% da produção estão di-

recionados à exportação.

CAMIL COMPRA MAIOR EMPRESA DE ARROZ DO CHILE

EXISTE SEGURANÇA JURÍDICA, ATUALMENTE, PARA INVESTIR NA ARGENTINA?

NÃO82%

SIM18%

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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 9

CARTA AO LEITOR

NAÇÃO AGONIZANTE

N o dia 7 de janeiro, o jornalista chileno Carlos Saldibia retor-

nou a Santiago, depois de uma jornada de 15 dias no Haiti,

onde produziu uma reportagem para AméricaEconomia Bra-

sil sobre a situação do país, considerado o mais pobre do ocidente. A

precariedade das instituições, a miséria da população e a omissão do

Estado, que justifi ca sua falta de ação dizendo-se um país “ocupado”

pelas tropas estrangeiras, desde o princípio, eram o foco da reporta-

gem de Saldibia.

O que não poderíamos imaginar é que, apenas cinco dias depois

do retorno do jornalista ao Chile, um terremoto de proporções gigan-

tescas destruiria a capital haitiana, Porto Príncipe, fazendo Saldibia

subir novamente no avião. O desastre pode ter provocado a morte de

até 200 mil pessoas, segundo estimativas mais recentes. Além da des-

truição que comoveu o mundo, o abalo sísmico deixou uma certeza: a

de que o fl agelo humanitário que assola o país está ainda mais longe

de ser resolvido.

Em “De Novo, Mas Não do Zero”, o jornalista faz uma análise da

dimensão da tragédia e da atuação da missão de estabilização da ONU

no país, liderada pelo Brasil, e discute de que forma a força de paz po-

derá facilitar o caminho da reconstrução.

O início do que promete ser a década de ouro para o setor ferro-

viário brasileiro é o tema de nossa reportagem de capa. Depois de

décadas de abandono, o governo e a iniciativa privada mobilizam-se

para buscar soluções para o gargalo da malha ferroviária. Até 2015, o

investimento público prometido para o setor é de R$ 74 bilhões. Em

um movimento ainda mais ambicioso, outros R$ 150 bilhões devem

ser aplicados, até 2023, em projetos de ampliação da malha ferrovi-

ária, por meio do Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT). O

fato é que, se todas essas promessas se transformarem em realidade,

fi nalmente, veremos o setor dar um salto signifi cativo, benefi ciando

inúmeros setores de nossa economia.

Os riscos que ainda assombram a economia norte-americana; a ex-

pectativa internacional acerca do governo do novo presidente do Chile,

o empresário Sebastían Piñera; o potencial de geração de negócios do

Carnaval brasileiro; e o especial sobre as melhores cidades para viagens

a negócios na América Latina são outros assuntos desta edição.

Aproveite a leitura.

Tatiana Engelbrecht

Diretora de Redação

PUBLISHERJosé Roberto Maluf

CONTEÚDODiretora de Redação Tatiana EngelbrechtEditora Executiva Solange MonteiroDiretora de Arte/Projeto Gráfi co Janaína DinizRepórteres Graziele Dal-Bó e Roberta PregnacaRevisão Assertiva Produções EditoriaisProdução Gráfi ca Eduardo KepplerInfografi a Rodrigo Damati Colaboradores Ainá Vietro (site) e Andre Carvalho (assistente de arte)

COMERCIALIZAÇÃO Gerente de Publicidade Sidney EspósitoExecutivos de Contas Andrea Vieira – [email protected] Nagibe Adaime – [email protected]

MARKETINGElisangela Silva, Rafael Borsanelli, Marcia Leonardi

ADMINISTRATIVO/FINANCEIRODiretor Executivo Eduardo ColturatoGerente Financeiro Edison Arduino

Pré-impressão First PressPeriodicidade Mensal (Fevereiro de 2010)CTP, impressão e acabamento IBEP Gráfi ca

Circulação auditada por

SPRING EDITORA-PRODUTORARua Ferreira de Araújo, 202, 7º andar – CEP: 05428-000 São Paulo/SP – Tel.: 11 3097-7666Site: www.springcom.com.brE-mail: [email protected]

AMÉRICAECONOMIA INTERNACIONALDiretor Elias Selman CarranzaVice-Presidente Executiva Gloria Landabur C.Diretora Internacional de Marketing Mica Selman Diretor Editorial Felipe Aldunate M.Editor Adjunto Rodrigo LaraEditores Adriana Méndez (Cidade do México), Antonio María Delgado (Miami), Eduardo Thomson (Santiago), Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco (Santiago), Karen Correa (Guaiaquil)Diretor de Arte Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografi a Miguel CandiaDiretor de Circulação Marcial DelcortoGerente de Produção Constanza del Río Moreno

AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE(Estudos e Projetos Especiais)Diretor Jaime Contreras SoriaCoordenadora Geral Daniela GonzálezPesquisador Sênior Andrés AlmeidaAnalista Paulina Saavedra

AMÉRICAECONOMIA.COMDiretor de Estratégia Digital Rodrigo GuaiquilEditor Lino Solis de OvandoWebmaster José Fuentes

ESCRITÓRIOSBuenos Aires +5411 4383-8410 Cidade do México +5255 5254-2400 Costa Rica +506 225 6861Lima +511 610-7272 Miami +305 648-9071 Panamá +507 271 5327Santiago +562 290-9400 Uruguai +5982 901 9052

Chairman Robert R. Paradise

BRASIL

ASSINATURAS Central de AtendimentoTel. 55 11 3038-1493, de 2ª a 6ª feira, das 8h às 20h. E-mail: [email protected] Cartas: Rua Butantã, 500 – 2º andar – CEP 05424-000 – São Paulo/SP Valores de assinatura: Por 1 ano: R$ 96,00 / Por 2 anos: R$ 182,00

Pagos em até 5x no cartão de crédito ou em até 3x no boleto bancário (preço válido para as vendas realizadas pela Central de Atendimento e pelo website da revista). Em caso de descontinuação da publicação, a Spring Editora-Produtora Ltda. garante aos assinantes desta publicação a restituição, em reais, da parte do valor já pago correspondente aos exemplares não entregues, devidamente corrigido monetariamente. Ao fazer sua assinatura, exija a credencial do vendedor e pague sempre com cheque, nominal, mediante recebimento da primeira via de nosso pedido de assinatura.

www.americaeconomia.com.br

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Page 10: Nº 384 Edição Brasil

10 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

CARTAS ÍNDICE DE EMPRESAS

Os números referem-se à primeira vez em que as empresas são citadas. OLHO NO BRASILParabéns pela matéria de capa sobre o

governo Lula (“O Brasil depois de Lula”,

AméricaEconomia N° 383, janeiro, 2010).

É uma análise objetiva sobre a situação

brasileira que muitos

se esqueceram de fazer,

em meio ao fervor e oti-

mismo que sacode essa

potência sul-americana.

É pouco provável que o

Brasil cumpra essas ex-

pectativas, pois acho que

elas não estão alinhadas

ao potencial real do país,

dados seus défi cits em infraestrutura,

segurança jurídica e sistema tributário.

ALFREDO HÄRR – MIAMI, EUA

GRATA SURPRESAGostei muito da matéria sobre o desem-

penho do mercado de ações da América

Latina (“Quer diversifi car? Atenção às bol-

sas”, AméricaEconomia N˚ 382, dezembro,

2009). Como não acompanho esse merca-

do com detalhes, não imaginava uma va-

lorização tão alta como a da Bolsa de Lima,

que vocês disseram ser de 132%. Guar-

dadas as proporções em relação à nossa

BM&FBovespa, é bom saber desse salto

de nossos vizinhos. LAÉRCIO GONÇALVES – SÃO PAULO, BRASIL

QUESTÃO DE VALORESSobre a matéria “Mau hábito” (América-

Economia N˚ 383, janeiro, 2010), do es-

tancamento da luta contra a corrupção

na América Latina, considero que as lide-

ranças empresariais deveriam estimular

a criação de um conselho nacional para

defi nir os valores mais importantes que

se deve fomentar nos órgãos de governo,

universidades e empresas, que devem ser

divulgados por meio de campanhas. A

melhor receita para construir uma socie-

dade melhor é semear e fomentar valores

para reverter a corrupção, a criminalidade

e a injustiça que há em nossos países.

RAMÓN BÉJAR – CIDADE DO MÉXICO - MÉXICO

Cartas para a redação: [email protected]

1884 67

AB Inbev 33

Acer 71

Aliante 31

ALL 20

Alps 12

Ambev 31

América Móvil 13, 77

American Express 71

Andrés Carne de Res 67

Anhembi 66

Anheuser-Busch 32

Antarctica 31

Apple 71

Astrid & Gastón 67

Azul 67

Banamex 66

Banco Rendimento 40

Barton G 67

Blackrock 73

BM&FBovespa 21, 73

Bradesco 74

Brahma 31

BrandAnalytics 31

Brasil Telecom 23

Bresler 40

Cablemás 12

Cablevisión 12

Camargo Corrêa 13

Carlyle Group 13

Casapiedra 66

CCU do Chile 33

Ceagesp 39

Cuau. Moctezuma 32

Cervejaria Dominicana 33

Cervejaria Polar 33

Cintra 13

Cisco 79

Cisneros 33

Climatempo 39

CNBC 76

CNEC Engenharia 13

Coinvalores 23

Colferias 66

Compaq 71

Compass Group 73

Copacabana Palace 66

Cosan 19

Couroecol 34

Curtidora Francana 35

CVC Brasil 13

D.O.M. 67

Delano 66

Dell 71, 81

Diálogo Interamericano 55

Diners 71

Discover 71

Eccaplan 36

ECP 35

El Cardenal 67

Enron 76

Euro Pacifi c Capital 50

Eurom. Internacional 33, 41

Femsa 32

Ferronorte 20

Ferrovial 13

Florida Ice & Farm 33

Fortaleza del Real Felipe 66

Four Seasons 66

Fundação Bradesco 79

GE 19

GJP Hotéis e Resorts 13

Google 81

Grand Hyatt 66

Gurovic y Asociados 25

GVT 23

Hack Consultoria 37

Heineken 32

HSBC 42

IHS Global Insight 61

Ilos 16

Intel 79

Intelig 23

Interbolsa 73

Intercontinental 66

ISA 13

Itaú 31

Just-Drinks 33

La Rural 66

LAN Chile 55

León Jimeno 33

Liguria 67

Log. Intermodal (Log-In) 15

Lucent 23

Luksic 33

Mac 71

Magna 71

MAN Latin América 26

Mandarin Oriental 66

Mappin 13

Marabraz 13

Mastercard 71

McKinsey Institute 79

Megacable 12

Mendoza 33

Mercedes-Benz 13, 26

Miami Conv. Center 66

Microsoft 79

Modelo 33

Molson-Coors 32

Movistar 25

MRS Logística 17

Multi 12

Nestlé 40

Nokia 71

Nova Schin 31

NYSE Arca 72

Oi 23, 78

Omni Fruits 40

Orica 42

Packard Bell 71

Parque Arauco 13

PDVSA 42

Petrobras 31

Petrópolis 33

Primo Schincariol 33

Regional 33

Research in Motion 41

Restaurante Rafael 67

SabMiller 32

Scania 26

Scottish & Newcastle 32

Scotwork Brasil 43

Skill 12

Sony 71, 81

SOS Computadores 12

Standard & Poor’s 49

Sucre 67

SulAmérica 66

Telefônica 23

Telmex 12, 13

The Ritz Carlton 66

TIM 23

Toschiba 71

Transamer. Expo Center 66

TV Chilevisión 55

TX Consultoria 62

Tyco 76

Unilever 40

Vale 19

Vésper 23

Visa 40, 71

Vivendi 23

Volkswagen 26

Volvo 26

WebJet 13

Wizard 12

World Trade Center 38, 66

WorleyParsons 13

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12 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

CERCO AO MONOPÓLIO

PUBLICAMOS As operadoras decidiram enfrentar Slim. Enquanto a Tel-mex não tem autorização para oferecer TV a cabo, Cablevisión, Cablevi-sión Monterrey e Cablemás uniram-se à Megacable para oferecer triple play. (“Sob a Sombra de Slim”, AméricaEconomia No 377, julho, 2009)

O NOVO A comissão federal de telecomunicações do México está ana-lisando a aplicação de normas que poderiam desagregar a rede da Telmex. A empresa de Carlos Slim, que domina o setor de telecomunica-ções do país, já foi aos tribunais para apresentar seu repúdio à iniciativa e não descartou ir à Corte Suprema de Justiça.

PISTAS

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DOIS BOLÍVARES PUBLICAMOS A diferença de taxas gera negócios rentáveis para aqueles que po-dem comprar pela taxa ofi cial e vender no mercado paralelo. Um sistema do qual participam corretoras, bancos e até o go-verno, aumentando o risco sistemático da indústria fi nanceira venezuelana. (“En-tre o Dólar e o Bolívar”, AméricaEconomia No 382, dezembro, 2009)

O NOVO O presidente venezuelano Hugo Chávez anunciou em janeiro a desvalo-rização do bolívar forte, estabelecendo dois tipos de câmbio: o primeiro, fi xado em 2,6 bolívares, englobará as importa-ções essenciais, como produtos alimen-tícios e de saúde; o outro, apelidado de dólar petróleo, foi fi xado em 4,30 bolíva-res e será aplicado em setores como os de telecomunicações e automotivo.

EXPANSÃO MÁGICA

PUBLICAMOS Em janeiro, a escola de idiomas Wizard abrirá sua primeira unidade na China. Em 2009, a Wizard expandiu sua rede para o México e para a Colômbia. “Em 2010, também esperamos negociar franquias na América Central”, diz Carlos Martins, presidente da empresa. (“Para Chinês Ler”, América-Economia No 382, dezembro, 2009)

O NOVO Martins mostra que não quer crescer só no exterior. O grupo Multi, controlador das escolas de idiomas Wizard, Skills e Alps, anunciou em janeiro a compra da SOS Educação Profi s-sional, que administra a SOS Computadores. Com a compra, o faturamento do Multi deverá ser de R$ 1,35 bilhão este ano.

MENOS É MAIS

PUBLICAMOS É bom que o Brasil tenha um BNDES que possa manter a eco-nomia respirando em momentos de crise. O grande perigo, diz Márcio Garcia, da PUC-RJ, é usar a crise como justifi cativa para uma expansão descontrola-da. (“Expansão Regional”, AméricaEconomia No 381, novembro, 2009)

O NOVO Esse temor parece não se confi rmar. A projeção preliminar de de-sembolsos do BNDES para 2010 é de R$ 126 bilhões – cerca de R$ 11 bilhões a menos que em 2009, quando registrou aumento de 49% nos desembolsos, ainda que esse montante esteja bem acima do de 2008, de R$ 92 bilhões.

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Page 13: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 13

NEGÓCIO FECHADO

PARQUE ARAUCO A operadora de centros comerciais concordou em vender sua participação de 30% no operador e grupo de desenvolvimento de centros co-merciais argentino Alto Palermo para seu sócio Irsa por US$ 126 milhões. A venda permitirá ao Parque Arauco concentrar su-as operações no Chile, Colômbia e Peru. VALOR: US$ 126 MILHÕES

MERCEDES-BENZ A diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou fi nanciamento de R$ 1,2 bilhão para a Mercedes-Benz expandir a capacidade de produção de sua unidade em São Bernar-do do Campo (SP), desenvolver motores adequados à nova legislação ambiental e novos modelos de caminhões leves e médios. Os recursos também serão desti-nados à modernização do centro de dis-tribuição de peças em Campinas (SP) e a investimentos sociais e ambientais.VALOR: R$ 1,2 BILHÃO

WORLEYPARSONS O grupo aus-traliano fechou um acordo para adquirir a CNEC Engenharia, da Camargo Corrêa, por R$ 170 milhões. A CNEC atua na pres-tação de serviços de consultoria, no ge-renciamento de projetos e em soluções de engenharia, tem cerca de 700 funcio-nários e conta com escritórios no Brasil, Argentina e Peru.VALOR: R$ 170 MILHÕES

CINTRA A divisão da espanhola Fer-rovial que opera estradas concordou em vender 60% de sua fi lial chilena para a colombiana ISA por 209 milhões de euros, segundo estimativas do mercado. O gru-po ISA também terá a opção de comprar os 40% restantes da companhia, que ope-ra 907 quilômetros de estradas no Chile.VALOR: 209 MILHÕES DE EUROS

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AMÉRICA MÓVILA gigante mexicana de telefonia celular América Móvil, do mag-nata Carlos Slim (foto), lançou uma oferta de cerca de US$ 21 bilhões para integrar suas em-presas Telmex e Telmex Interna-cional, em um esforço para am-pliar seus serviços. Se for exitosa, a operação permitirá à América Móvil oferecer serviços integra-dos de telecomunicações nos 18 países em que opera.

VALOR: US$ 21 BILHÕES

MARABRAZ A marca de lojas de mó-veis adquiriu os direitos da rede de de-partamentos Mappin, que faliu em 1999, por R$ 5 milhões, em um leilão judicial. O Mappin funcionava como um magazine, vendendo desde calçados até móveis. Ainda está em estudo se o nome, o foco de negócio e o público-alvo continuarão

os mesmos. Outra tentativa de venda da marca aconteceu em 2007, mas sem su-cesso, por falta de interessados.VALOR: R$ 5 MILHÕES

CARLYLE O grupo internacional de private equity Carlyle Group anunciou a compra de 63,6% do controle da CVC Brasil. O fundador da empresa, Guilherme Paulus, continuará sendo o presidente do Conselho e permanecerá com participa-ção no restante do capital da companhia. A transação envolveu a operadora de via-gens, incluindo a operação de cruzeiros marítimos. As outras empresas controla-das por Paulus, WebJet e a GJP Hotéis e Resorts, não fi zeram parte do acordo.VALOR: NÃO REVELADO

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Page 14: Nº 384 Edição Brasil

14 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

A DÉCADA DA FERROVIA

Governo e empresários mobilizam-se para concretizar a – até agora – lenta melhoria da malha férrea brasileira

MÁRCIA VAISMAN, DE SÃO PAULO

NEGÓCIOS CAPA

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Page 15: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 15

Foto

: Arq

uivo A

NTF

A té há pouco tempo, falar em transporte ferroviário

no Brasil era sinônimo de discussões, defesas e

polêmicas que não desembarcavam em nenhuma

estação. Mas, agora, ao menos aparentemente, isso fi cou para

trás. O governo enfi m prometeu ouvir as concessionárias,

ainda no primeiro semestre de 2010, para tentar resolver de

vez os gargalos existentes na atual malha ferroviária. Além

disso, prevê injetar, por meio do Programa de Aceleração do

Crescimento (PAC), R$ 74 bilhões em projetos de expansão da

linha férrea, até 2015.

Se tal movimento se concretizar, 2011 poderá ser o início

de uma das décadas mais prósperas para o setor. De acordo

com o Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT), até

2023, as políticas públicas referentes ao tema implicam in-

vestimentos de R$ 150 bilhões. Ou seja, mais da metade dos

R$ 290 bilhões previstos para todo o transporte brasileiro, que

busca, como futuro efi ciente e competitivo, a intermodalida-

de. “O quadro de reversão já começou, e nós devemos deixar

prontos projetos e estudos ambientais para os próximos

governos”, afi rma o secretário-executivo do Ministério dos

Transportes, Paulo Sérgio Passos.

Dessa forma, as ferrovias brasileiras voltariam a ser o

principal caminho do transporte de cargas no Brasil, represen-

tando 35% do total, ante 30% do rodoviário, em uma tentativa

de provocar sinergia entre os diferentes tipos de transporte.

Hoje, as rodovias corres-

pondem a 58% do total de

cargas transportadas, en-

quanto a malha ferrovi-

ária registra apenas 21%.

Além de a malha ferrovi-

ária ser pequena – 28 mil

km –, há o agravante de

ela ser subutilizada. Se-

gundo a Agência Nacional

de Transportes Terrestres

(ATTT), apenas 10% das

ferrovias, ou 3 mil km, são

plenamente ocupados; 7

mil km são usados abaixo

da capacidade; e 18 mil km

são subutilizados.

Passos admite que,

em termos ferroviários, é

preciso recuperar o tem-

po perdido, uma vez que

o país levou muitos anos

para investir em infraestrutura. “Olhamos para a frente e

percebemos que o Brasil terá de investir em ritmo acelerado,

já que imaginamos um crescimento médio de 5% ao ano, e

esses projetos têm relação direta com a condição próspera do

país”, enfatiza. E não é para menos. As principais mercadorias

transportadas por trem são minério de ferro, com quase 75%

do total, commodities agrícolas, carvão mineral, combustí-

veis e derivados de petróleo e álcool, setores com alto poten-

cial e grandes exportadores.

E adiar ainda mais a ampliação da malha é sinônimo de

prejuízo. Segundo pesquisa divulgada pela Logística Inter-

modal (Log-In), o custo rodoviário deixa de ser competitivo

quando a distância supera os 400 km. Acima disso, transpor-

tar por trem pode custar 30% menos. Sem contar a efi ciência.

Enquanto um caminhão transporta, em média, o máximo de

35 toneladas, apenas um vagão pode transportar 130 tonela-

das, e há companhias como a Vale, que tem composições que

chegam a 320 vagões.

ESTIMATIVAS DIFUSASSe os planos entrarem nos trilhos, até 2015, a malha férrea

deverá corresponder a 35 mil km, um bom avanço, se com-

parados aos atuais 28 mil km, mas ainda aquém do que

representava na década de 60, com seus 38 mil km de trilhos

entrecortando o Brasil. “As ferrovias foram deixadas de lado

e, por isso, não acompanharam o ritmo de crescimento do

país”, admite Passos.

Hoje em dia, já são mais de 17 mil km em estudo e em

andamento, mas a própria assessoria de comunicação do

Ministério dos Transportes admite que é difícil chegar a um

número fechado. Isso porque todos os projetos são discutidos

também em âmbito estadual, e, de acordo com as necessida-

des dos estados, alguns trechos são incluídos nas discussões.

Mas os projetos só têm andamento quando transformados

em medidas provisórias e em leis. O certo é que, desse mon-

tante, as obras de cerca de 5 mil km já estão sendo executa-

das, ou deverão ser licitadas nos próximos meses.

BRASIL 8,5 25,0 3,5 2,3 1,6

CHINA 9,3 169,0 8,3 6,2 11,8

RÚSSIA 17,0 44,0 5,1 14,5 6,0

ÍNDIA 3,0 528,0 21,3 7,7 4,9

EUA 9,1 460,0 24,7 86,6 4,5

CANADÁ 9,0 46,0 5,1 10,8 0,1

COMPARAÇÃO DA DENSIDADEDAS MALHAS (km de via por 1.000 km² de área territorial)

Fontes World FactBook e Banco Mundial. Pesquisa do Instituto ILOS - 2009.

RODOVIASPAVIMENTADAS

ÁREA(milhões de km) FERROVIAS DUTOVIAS HIDROVIAS

AE 384 materia capa.indd 3AE 384 materia capa.indd 3 1/22/10 2:31 AM1/22/10 2:31 AM

Page 16: Nº 384 Edição Brasil

16 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

Algumas, como a Ferrovia de Integração Oeste-Leste, pro-

jetada para percorrer 1.490 km de Figueirópolis, no Tocantins,

até o porto de Ilhéus, na Bahia, estão sendo viabilizadas pelo

PAC. O investimento previsto é de R$ 6 bilhões. Seus primeiros

500 km de extensão devem ser concluídos no primeiro semes-

tre de 2012. E Passos admite que já existem grupos empresa-

riais interessados, como a Bahia Mineração e o Grupo Gerdau.

No entanto, há desconfi ança de alguns especialistas do setor.

Paulo Fleury, CEO do Instituto de Logística e Supply Chain

(ILOS), ainda tem dúvidas sobre a viabilidade dessa ferrovia. “O

projeto é incipiente, porque esse estudo não está concluído.”

Fonte Dados ANTT

ITAQUI

PECÉM

SUAPE

ILHÉUS

VITÓRIA

RIO/SEPETIBA

SANTOS

PARANAGUÁ/S. F. DO SUL

RIO GRANDE

Vilhena (RO) a Uruaçú (GO): 1.227 km

Sta. Fé do Sul (SP) aPorto Murtinho (MS): 750 km

Eliseu Martins (PI) a Estreito (MA): 460 km

Cascavel (PR) a Maracajú (MS): 500 km

Ferrovia do Oeste Catarinense (SC): 500 km

Litorânea (SC): 250 km

CHILE/ ARGENTINA/PARAGUAI

PROJETOSEM ESTUDO3.687 KM

Fonte Dados ANTT

PROJETOSEM ANDAMENTO5.680 KM

Açailândia a Palmas: 720 km

Palmas a Estrela D’Oeste: 1.480 km

Oeste-Leste BA: 1.490 km

Transnordestina: 1.728 km

Alto Araguaia a Rondonópolis: 262 km

ITAQUI

PECÉM

SUAPE

ILHÉUS

VITÓRIA

RIO/SEPETIBA

SANTOS

PARANAGUÁ/S. F. DO SUL

RIO GRANDE

PRIVATIZAÇÃO E GARGALOSOutros projetos da linha férrea para trans-

porte de cargas têm à frente as concessio-

nárias que participaram do processo de de-

sestatização, ainda na década de 1990. “O

planejamento do governo está levando as

indústrias a pensar nos investimentos mais

alinhados ao transporte de mercadorias”,

comenta o diretor-executivo da Associação

Nacional de Transportes Ferroviários (ANTF),

Rodrigo Vilaça.

Para que o futuro seja realmente promis-

sor, a associação aponta fatores que integram

a agenda estratégica do setor e precisam ser

cumpridos, divididos em quatro grupos:

institucional, voltado à regulamentação, à

segurança e à boa comunicação entre gover-

no e concessionárias; sustentabilidade, que

agrega os estudos ambientais dos trechos,

tecnologia e capital humano; tributário; e

de infraestrutura, que se refere à expansão

da malha, intermodalidade e eliminação

dos gargalos, um dos principais problemas

apontados pelo setor privado.

O modal ferroviário ainda é voltado mais

para o transporte de grãos e minérios, que

são produtos não-perecíveis, e de baixo valor

agregado. Um estudo divulgado pelo Insti-

tuto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)

em novembro de 2009, revela o resultado de

uma pesquisa realizada com mais de 20 em-

presários de setores produtivos considerados

usuários potenciais – mas não efetivos – do

transporte férreo. Eles apontaram os seguin-

tes problemas para não utilizar as ferrovias:

65% deles alegaram a indisponibilidade de ro-

tas; 58%, a falta de fl exibilidade das operações

ferroviárias; 50%, a baixa velocidade; 48%, os

custos; e 34%, a indisponibilidade de vagões.

RODRIGO VILAÇA, DA ANTF: PLANEJAMENTO

ALINHADO AO TRANSPORTE DE MERCADORIAS

NEGÓCIOS CAPA

AE 384 materia capa.indd 4AE 384 materia capa.indd 4 1/22/10 2:32 AM1/22/10 2:32 AM

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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 17

Ainda existem outros problemas de défi cit em termos de

infraestrutura. A malha ferroviária brasileira é antiga, tem

problemas de traçado e raios fechados, o que diminui a velo-

cidade dos trens. Quem aponta tais debilidades é o próprio se-

cretário-executivo do Ministério dos Transportes. “Enquanto

a média de velocidade é

de 50 km/h, em alguns

momentos, os trens

chegam a 15 km/h”,

complementa Fleury,

do Instituto ILOS.

Por esse estudo, o

Ipea conclui que são

necessárias 141 obras

de infraestrutura para

melhorar a eficiência

operacional e de com-

petitividade do setor.

Mas não é só por causa

do percurso dos trilhos.

Entre os principais pro-

blemas apontados pela

ANTF que causam di-

minuição na velocida-

de dos trens, estão as

invasões de faixa de

domínio. Ou seja, fa-

mílias que não respeitam a distância mínima entre a cons-

trução de suas casas e a passagem do trem. Ao todo, são 200

mil, provenientes de 434 áreas invadidas, que precisam ser

removidas, além de 12,4 mil passagens de nível dentro das

cidades, que devem ser desativadas, pois também causam

lentidão para esse meio de transporte.

A MRS Logística teve sucesso, há dois

anos, quando fez um acordo com a Pre-

feitura do Rio de Janeiro, o Ministério dos

Transportes e o Ministério das Cidades.

Eles removeram 450 famílias que mora-

vam na margem de segurança da linha

do trem, na favela do Arará. A nego-

ciação, iniciada em 2001, resultou num

investimento total de R$ 31 milhões, dos

quais R$ 6 milhões vieram da MRS, R$ 5

milhões do Ministério dos Transportes e

R$ 20 milhões da Prefeitura.

Vilaça, da ANTF, está otimista quan-

to à solução dos gargalos referentes à

infra-estrutura. Isso porque, ainda no

primeiro semestre, ANTF e associadas,

Agência Nacional de Transportes Terres-

tres (ANTT) e Departamento Nacional

de Infraestrutura de Transportes (DNIT)

apresentarão ao governo propostas para

a solução desses problemas. “Isso tam-

Transnordestina / Logística

EFVM / Estrada de Ferro Vitória a Minas

EFC / Estrada de Ferro Carajás

FCA / Ferrovia Centro -Atlântica

ALL / América Latina Logística / Malha Sul

ALL / América Latina Logística / Malha Norte

ALL / América Latina Logística / Malha Oeste

ALL / América Latina Logística / Malha Paulista

FTC / Ferrovia Tereza Cristina

MRS / Logística

Trecho da Norte Sul

Processo de desestatização: 1996 a 199911 malhas concedidas à iniciativa privada

Com a atuação do governo federal, pode-se atingir 35 mil km de malha ferroviária, em 2015.

Malhas ferroviárias operadas pelainiciativa privada: 28.314 km

TRANSPORTEFERROVIÁRIODE CARGASBRASILEIRO

Foto

s: Di

vulga

ção

AE 384 materia capa.indd 5AE 384 materia capa.indd 5 1/22/10 2:33 AM1/22/10 2:33 AM

Page 18: Nº 384 Edição Brasil

18 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

bém servirá como um dos compo-

nentes para eventual repactuação

dos atuais contratos de concessão”,

explica Vilaça, da ANTF. Com base

nesse encontro poderão ser traça-

das novas metas, além de alter-

nativas ainda mais participativas

da iniciativa privada, tanto econô-

mica como socialmente. “Depois

de uma análise bem detalhada ao

longo desses 12 anos de concessão

da linha férrea, estamos olhando a

nova década com excelentes pers-

pectivas e queremos transformá-la

em uma malha competitiva, inte-

grada, com foco no cliente, trazen-

do segurança e estabilidade jurí-

dica para atrair capital externo”,

revela o executivo.

AS CONCESSÕESEm 1997, quando a Rede Ferroviá-

ria Federal (RFFSA) foi extinta, ela

apresentava prejuízos acumula-

dos ao longo de três anos, no valor

de R$ 2,2 bilhões. De lá até 2008,

o setor gerou um saldo positivo

para as contas públicas de R$ 9,9

bilhões, referentes à arrecadação

de impostos, arrendamento, con-

cessão e Contribuição sobre Inter-

venção no Domínio Econômico

(Cide). De 1997 a 2008, segundo a

associação, os investimentos pri-

vados totalizaram R$ 18,8 bilhões,

a produtividade ferroviária me-

dida por tonelada transportada

por quilômetro útil (TKU) teve um

crescimento de 95,1%, e o volu-

me de cargas transportadas au-

mentou 81,5%, chegando a 459,7

milhões de toneladas. No mesmo

período, o governo federal inves-

tiu R$ 1,0 bilhão.

Entre as principais ferrovias,

estão a Transnordestina, cujas

obras do novo projeto – que a

transformou na nova Transnor-

destina – estão sendo viabilizadas

com recursos do PAC e coordenada

pelo Ministério dos Transportes.

São 1.728 km, saindo de Eliseu

Martins, no Piauí, até os portos de

PLANTAÇÃO DE CANA DA COSAN E MINERAÇÃO DA VALE: FORTE

INVESTIMENTO NO MODAL FERROVIÁRIO PARA ESCOAR A PRODUÇÃO

NEGÓCIOS CAPA

1

2

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Page 19: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 19

Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco. O investimento

previsto é de R$ 5,2 bilhões, e as obras estão em ritmo ade-

quado, segundo balanço divulgado pelo PAC. Boa parte deve

ser concluída até o fi m deste ano. Mas o governo admite estar

revendo prazos para a conclusão de todo o trecho.

Um exemplo de projeto privado em fase avançada é o da

antiga Estrada de Ferro Carajás, cuja concessão foi adquirida

pela Vale e que foi transformada no trecho norte da Ferrovia

Norte-Sul. O antigo trecho de 200 km, que ligava Porto Franco

a Açailândia, ambos no Maranhão, já opera, desde dezembro,

até Colinas do Tocantins, completando 452 km de extensão. O

trecho norte, cujo total é de 720 km, vai até Palmas e deve ser

concluído no primeiro semestre deste ano, com investimento

de R$ 1,63 bilhão.

Além de contribuir para fomentar o agronegócio, o investi-

mento da Vale criará uma logística competitiva para grãos (so-

ja, arroz e milho), carnes (suíno, bovinos e aves), combustíveis

(álcool, biodiesel, diesel e gasolina) e fertilizantes. A ferrovia

contribuirá, também, para o desenvolvimento portuário,

decorrente do crescimento da movimentação de produtos

para exportação. O trecho sul prevê a construção de 1.535 km,

de Palmas até Estrela do Oeste, em São Paulo, com injeção de

capital da ordem de R$ 6,5

bilhões. Apenas em 2010,

a Vale investirá em logís-

tica o equivalente a US$

2,6 bilhões, para suportar

o plano de expansão de

minério de ferro.

Outro exemplo da

necessidade e do poten-

cial das ferrovias brasi-

leiras veio da Cosan, que,

neste ano, fechou um

contrato de compra de

50 locomotivas da GE. O

anúncio foi feito pelo pre-

sidente mundial da GE,

Jeffrey Immelt, em visita

ao Brasil, em janeiro. Na

ocasião, Immelt também

garantiu o investimento,

neste ano, de US$ 12 mi-

lhões para a ampliação

da GE Transportation em

Contagem, Minas Gerais.

A MRS Logística está

em período de silêncio

desde que o atual presi-

dente, o engenheiro Edu-

ardo Parente, assumiu,

após a saída de Júlio Fon-

tana Neto, que ocupava o

cargo fazia uma década. Mas o relatório referente ao terceiro

trimestre de 2009 revela que a companhia está em um mo-

mento promissor. Somente em setembro, teve um recorde

mensal histórico de produção, com 13,2 milhões de toneladas

transportadas, principalmente de minério de ferro e produtos

siderúrgicos. A MRS terminou o trimestre com um caixa de

R$ 71,3 milhões e ebitda de 53,3% no trimestre. O consolidado

do ano não foi fechado

Bem menor, mas de suma importância, por causa de pro-

jetos futuros, a Ferrovia Tereza Cristina mantém-se isolada, de

Imbituba, em Santa Catarina, até a região carbonífera/cerâmi-

ca e metal-mecânica, passando por 12 municípios catarinen-

ses. Ela atende, principalmente, o Complexo Termelétrico Jorge

Lacerda, transportando carvão. Em 2009, foram 2,9 milhões de

toneladas transportadas. Mas os olhos do setor estão voltados

a ela por causa do projeto da Ferrovia Litorânea, que prevê um

trecho de 235 km, en-

tre Imbituba e Ara-

quari, também em

Santa Catarina.

“Em agosto, o

DNIT contratou em-

presas para fazer o

estudo ambiental,

a fi m de viabilizar a

obra”, revela o geren-

te de Divisão Comer-

cial, Carlos Augusto

Menezes. Segundo

ele, os estudos e a licença ambiental devem ser entregues

até o primeiro semestre de 2011. Menezes revela, também,

que as obras devem consumir um total de R$ 17,5 milhões.

O governo ainda não confi rma os detalhes, mas coloca nos

estudos do PAC esse projeto. “Dessa forma, fi caremos ligados

à rede nacional, e a região terá muito a ganhar com isso”, ad-

mite o gerente da Ferrovia Tereza Cristina.

Assim, se de fato o governo atual e o futuro abraçarem o

compromisso, junto da iniciativa privada de executar esses

projetos, o Brasil tem tudo para entrar nos trilhos e ganhar

posições no ranking da competitividade mundial.

9,9bilhões de reais foi

o quanto o setor movimentou de

1997 a 2008

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Page 20: Nº 384 Edição Brasil

20 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

A ORDEM É CRESCER

NEGÓCIOS ENTREVISTA

A ALL é a maior empresa independente de serviços de logística da América Latina. São seis concessionárias,

21,3 mil km de vias – incluindo mais de 8 mil km na Argentina –, 1.095 locomotivas e 700 veículos rodoviários

e centros de distribuição e armazenamento. Em 2009, a queda na produção industrial, a redução de 8% da

safra agrícola e as fortes chuvas do fi nal do ano impactaram diretamente os resultados da empresa, que teve de se

contentar com um aumento de volume transportado aquém do estimado – de 5,8%, para 35.631 milhões de toneladas

por quilômetro útil (TKU) –, e uma queda de ebitda de 8,6% no Brasil, para R$ 1,1 bilhão. Mesmo assim, Bernardo Hees

(foto), um carioca de 37 anos, radicado em Curitiba, afi rma estar otimista para 2010. Em entrevista à AméricaEconomia,

Hees comentou as expectativas de investimento para o setor ferroviário brasileiro.

AméricaEconomia Na sua opinião, qual deverá ser o cenário para o setor ferroviário na próxima década? Bernardo Hees O setor deve ter uma curva de crescimento

espetacular. Projetamos crescimento de 23% ao ano, sendo que

o minério deverá corresponder a metade dessa demanda.

AE Como você avalia a década que passou? Hees Há dez anos, 70% dos ativos encontravam-se não ope-

racionais e os níveis de segurança eram péssimos. Ao longo da

década passada, houve investimento junto dos clientes, cresci-

mento em volume de cargas transportadas e uma história que

já pode ser considerada de sucesso diante de tanto abandono.

Hoje em dia, para cada R$ 1 que a ALL investe, nosso cliente

injeta o mesmo valor. Isso é um indicativo de confi ança, pois

antes ninguém acreditava no setor.

AE Você acha que o fato de as concessionárias precisarem devolver a concessão após um período desestimula os empresários a investir ainda mais no setor? Hees O governo está aberto a discutir a renovação dos

prazos. A Ferronorte, por exemplo, fi cará sob a guarda do

capital privado por 90 anos. As outras têm prazo de 30 anos,

renováveis por igual período. Portanto, nas nossas malhas –

sem contar a Ferronorte – temos ao menos mais meio século

para investir.

AE Com todos os projetos de ampliação, o fato de a malha ferroviária ter trechos administrados por outras conces-sionárias pode ser um empecilho no futuro? Hees O governo está incentivando as expansões das próprias

concessionárias. Uma prova disso é a Ferronorte, que está sob

nossa concessão. Em junho de 2009, iniciamos obras que vão

do Alto Araguaia a Rondonópolis, ambos no Mato Grosso, per-

correndo uma distância de 260 km. Todo o setor quer crescer

e colaborar, para alcançar melhor competitividade. Por isso,

acredito em parcerias.

AE Quais são os gargalos preexistentes para a ALL? Hees Em geral, estamos satisfeitos, pois nem a crise fi nan-

ceira mundial nos prejudicou. Mas é claro que não podemos

ignorar alguns problemas referentes à infraestrutura. Os

principais são as invasões em faixa de domínio e as passagens

de nível nas grandes cidades, que são de responsabilidade do

governo e, portanto, são problemas sobre os quais não temos

autonomia. Mas há uma agenda – elaborada com a Associação

Nacional de Transportes Ferroviários (ANTF) – que será apre-

sentada ao governo ainda no primeiro semestre deste ano.

AE Quais são as perspectivas na Argentina? Hees Fechamos com saldo positivo, mas, em 2009, tivemos a

pior safra dos últimos 50 anos e operamos com 30% de nossa

capacidade ociosa. Em 2010, queremos retomar o crescimento

com a volta do mercado de grãos. Tenho certeza de que qual-

quer cenário será mais positivo que o do ano passado. Nós

acreditamos que a Argentina pode ser, proporcionalmente,

ainda mais produtiva do que o Brasil, porque lá não existem

morros. Mas desde que a economia ajude e a população tam-

bém, porque, sempre que há protestos, eles fecham os trilhos

do trem. E isso afeta nossa escala de entregas.

AE Quais são os próximos passos da ALL? Hees Continuaremos investindo uma média de R$ 700

milhões por ano no desenvolvimento de novos projetos e na

valorização de nosso negócio no médio e longo prazos.

MARCIA VAISMAN, DE SÃO PAULO

FOTO: ROBERTA DABDAB

AE 384 capa entrevista v1.indd Sec1:2AE 384 capa entrevista v1.indd Sec1:2 1/22/10 12:30:26 AM1/22/10 12:30:26 AM

Page 21: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 21

Continuaremos investindo cerca

de R$ 700 milhões por ano em

novos projetos e na valorização de

nosso negócio

AE 384 capa entrevista.indd 3AE 384 capa entrevista.indd 3 1/22/10 12:31:13 AM1/22/10 12:31:13 AM

Page 22: Nº 384 Edição Brasil

22 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

Aumento da concorrência no Brasil faz players investirem no mercado de banda larga em 2010

ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO

NEGÓCIOS TELECOMUNICAÇÕES

SEM VER A BANDA PASSAR Fo

tos:

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AE 384 telefonica V1.indd 2AE 384 telefonica V1.indd 2 1/22/10 12:36:29 AM1/22/10 12:36:29 AM

Page 23: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 23

P ara muitos brasileiros, o ano de

1998 deveria fi car no esqueci-

mento: com três gols a zero e

muita polêmica envolvendo a seleção,

a França tirava a Copa do Mundo de

nossas mãos. Mas não foram apenas

Zidane e Petit que fi zeram calar o Brasil

nesse ano: milhares de paulistanos vi-

ram seus telefones fi carem mudos por

causa de uma expansão de fi os e cabos

para aumentar o número de linhas

telefônicas, resultado da privatização

da Telecomunicações de São Paulo (Te-

lesp), repassada para o grupo espanhol

Telefônica, porém, sem um gerencia-

mento adequado.

“Os anos de 1997 e 1998 foram de

caos,” diz Virgilio Freire, consultor da

área de telecomunicações e ex-presi-

dente de empresas no setor no Brasil,

como a Vésper e a Lucent. “Os serviços

de expansão realizados pela Telefônica

foram feitos de maneira apressada e

foram mal controlados, causando pro-

blemas terríveis para a população.”

Mais de dez anos após a compra da

Telesp, a operadora espanhola ainda te-

ve de tourear problemas relativos à sua

estratégia de expansão no Brasil. Em

2009, foi a vez do produto de banda lar-

ga Speedy. As queixas de consumidores

cresciam em volume tão expressivo que

fi zeram com que a Agência Nacional de

Telecomunicações (Anatel) interviesse

na questão, paralisando as vendas da

Telefônica por cerca de dois meses – o

que também se refl etiu na perda de cer-

ca de 148 mil clientes de banda larga da

empresa, no terceiro trimestre do ano,

em relação ao trimestre anterior.

O fato é que a companhia teve de

reagir rápido, em um ritmo que não po-

derá ser abandonado, daqui para fren-

te, caso a empresa não queira perder

mercado no Brasil. Isso porque, desde

o anúncio da compra da Brasil Telecom

pela Oi, no início de 2008, o ritmo de

consolidações no setor se intensifi cou

– só em 2009, foram cerca de 23 fusões

e aquisições, segundo a KPMG, com

destaque para a conclusão do processo

de aquisição da Intelig pela TIM –, com

novos competidores e uma demanda

maior por investimentos para se man-

ter na frente.

PERDA SENTIDANessa corrida de consolidação, uma das

derrotas mais sentidas para a Telefôni-

ca foi a perda da GVT para a francesa

Vivendi, no fi m do ano passado, em um

Fonte Telefônica.

No de empregados 254,5 mil 87,4 mil 34,3%

Clientes (total de acessos) 268,6 milhões 64,1 milhões 23,9%

Clientes telefonia móvel 205,9 milhões 48,8 milhões 23,7%

Clientes telefonia fixa 41,4 milhões 11,3 milhões 27,3%

Clientes dados e Internet* 14,9 milhões 6 milhões 40,3%

Clientes TV paga 2,5 milhões 509 mil 20,4%

Clientes atacado 3,9 milhões 34,6 mil 8,9%

Brasil % BR/mundoMundo (24 países)

* Clientes do provedor Terra, Speedy e conexões dedicadas a clientes empresariais.

GRUPO TELEFÔNICANO BRASIL E NO MUNDO(dados relativos ao 3o trimestre de 2009)

AE 384 telefonica V1.indd 3AE 384 telefonica V1.indd 3 1/22/10 12:37:00 AM1/22/10 12:37:00 AM

Page 24: Nº 384 Edição Brasil

24 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

NEGÓCIOS TELECOMUNICAÇÕES

braço de ferro que

durou mais de dois

meses. Para analis-

tas, a companhia

GVT era vista como

um último target

relevante do setor

já consolidado de

telecomunicações,

re s t a ndo a gor a

apenas players de

menor porte. “Hoje,

olhando para o mer-

cado, você não en-

contra outra GVT,”

diz um analista da

corretora Coinvalo-

res. “Quando uma

operadora é espe-

lho, como é o caso

da GVT, é necessário

sair com toda a in-

fraestrutura, desde

o início. E ela conse-

guiu, de uma forma

muito efi ciente, ren-

tabilizar isso, investindo pesado e, ao

mesmo tempo, entregando resultados.

Além disso, seus serviços são muito

competitivos,” diz. Estratégia diferente

da adotada pela Telefônica no Brasil,

fonte de grande parte de seus proble-

mas, segundo ana-

listas. “Na Telefô-

nica, tudo é tercei-

rizado, o que eu

critico veemente-

mente”, diz Freire.

A GVT atua em

86 cidades de 15

estados, além do

Distrito Federal, 13

deles nos quais a

operadora oferece

todo o seu portfó-

lio de produtos.

Também tem presença em São Paulo e

Rio de Janeiro, mas com oferta apenas

ao mercado corporativo. A empresa

fechou o terceiro trimestre de 2009 com

um faturamento de R$ 442,3 milhões, e

R$ 1,2 bilhão no acumulado dos primei-

ros nove meses do ano passado.

VIRGILIO FREIRE: CRÍTICA AO MODELO DE TERCEIRIZAÇÃO INICIALMENTE ADOTADO PELA TELEFÔNICA

2bilhões de reais

é o quanto a Telefônica planeja investir no Brasil,

neste ano

Foto

s: Di

vulga

ção

Frente ao atual cenário, apontam

os analistas, a Telefônica já não po-

derá mais escorregar quando se trata

de credibilidade do produto para os

consumidores brasileiros. “Em razão

da falta de concorrência, em algumas

áreas e em muitas

regiões, o cliente

não tem a opção

de migração”, afi r-

ma o analista da

Coinvalores. “Mas

onde há opções,

como a portabi-

lidade numérica

mostrou, o cliente

migra de uma for-

ma muito forte.”

Para fazer frente a

esse desafi o, a Te-

lefônica anunciou que, neste ano, prevê

realizar investimentos da ordem de R$

2 bilhões. Uma das novidades previstas

pela empresa era a de lançar, até o fi nal

de janeiro, uma oferta de banda larga

popular para o estado de São Paulo,

por meio de tecnologia sem fio, Wi-

Mesh ou Wi-Fi, com foco, sobretudo, em

comunidades verticais, como os con-

juntos habitacionais da Cohab.

ÁGUAS PASSADASQuanto ao episódio Speedy, a Telefô-

nica defende já ser coisa do passado.

“Foi realizado um conjunto de ações,

de investimentos e de alterações de

procedimentos, seja na rede ou no aten-

dimento e na comercialização. Temos

a convicção de que todas essas ações

colocam a Telefônica em uma posição

extremamente fortalecida para 2010

e para poder aproveitar o potencial de

crescimento desse mercado de forma

bastante competitiva,” afi rma Fernan-

do Freitas, diretor de Relações Institu-

cionais da Telefônica do Brasil.

O fôlego que esse investimento da-

rá à empresa poderá se ver eclipsado

pela ajuda que o Banco Nacional de De-

senvolvimento Econômico e Social (BN-

DES) aprovou para o grupo Oi, de R$ 4,4

bilhões. Os recursos serão destinados

aos planos de investimento das quatro

empresas do grupo (Brasil Telecom Fixa

AE 384 telefonica V1.indd 4AE 384 telefonica V1.indd 4 1/22/10 12:37:54 AM1/22/10 12:37:54 AM

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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 25

e Brasil Telecom Móvel, Oi Fixa e Oi

Móvel) relativos ao período de 2009 a

2011. Mas o grupo pode não ter fôlego

para crescer no mercado de banda

larga, devido à dívida adquirida com

a compra da Brasil Telecom, ocorrida

em 2008, de acordo com o analista de

telecomunicações Virgilio Freire. “Em

minha opinião, a Oi deu um passo

maior que as pernas. Agora, está di-

fícil para deglutir essa compra,” diz,

indicando que, antes de mais nada,

o maior desafio da Telefônica será

aprender com seus próprio erros.

ROUPA NOVAJUAN PABLO RIOSECO,

DE SANTIAGO DO CHILE

Apostar na América Latina para crescer, no ce-nário econômico delicado de 2009, foi uma tarefa complexa para a Telefônica, não apenas no Brasil. Um dos principais movimentos da empresa para ajustar seu rumo à retomada econômica na região em 2010 foi impulsionar uma transformação na América Latina, mudando de vez da marca Tele-fônica para Movistar, sua marca de telefonia mó-vel. Uma medida extrema e trabalhosa como essa, segundo analistas, tem motivos óbvios: apagar a imagem negativa que o serviço da companhia dei-xou em muitos países, apresentando-se como um provedor de telecomunicações integrado, com TV paga, Internet e telefonia móvel e fi xa.

Tal iniciativa teve a partida dada em outubro, começando pelo Chile, com investimento de US$ 11,9 milhões. No Brasil, tal mudança poderia se dar em 2011. Segundo a empresa, a escolha do Chile aconteceu por ser um dos com mais alta penetra-ção de tecnologia, além de ser um mercado me-nor em tamanho e de mais fácil acompanhamento para um processo inicial de mudança. Além disso, é um dos poucos na região em que a supremacia dos espanhóis sobre a América Móvil, do mexica-no Carlos Slim, é clara. “A empresa está indo por

um caminho correto, pois sabe que precisa reunir seus serviços para aumentar a competitividade”, diz Marcelo Melnick, analista da consultoria Gurovic y Asociados, em Santiago.

De qualquer forma, para a Telefônica, 2010 já começou com novos percalços na região. Um de-les na Argentina – onde a empresa prevê investir US$ 500 milhões este ano –, e onde o governo fi -xou uma multa de US$ 27,4 milhões para a compa-nhia, por ferir as regras de defesa da concorrência ao não informar ao organismo antitruste a compra de uma parte da Telecom Itália, sua principal con-corrente no país.

Já na Venezuela, o anúncio de desvalorização do bolívar, que, agora, tem um câmbio diferencia-do para serviços taxados de “não essenciais”, como a telefonia, poderá reduzir o faturamento do gru-po em mais de 4% e o lucro em cerca de 10%, se-gundo analistas.

No acumulado dos nove primeiros meses do ano, a receita da operação latino-americana da Telefônica representou 39,8% do total do grupo – ante 35,1% da Espanha e 24,1% da Telefônica Eu-ropa –, dois pontos percentuais a mais do que em relação ao mesmo período de 2008.

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Page 26: Nº 384 Edição Brasil

26 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

A TODA MÁQUINASOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO

FOTO: KIKO FERRITE

NEGÓCIOS ENTREVISTA

AméricaEconomia A MAN anun-ciou, em janeiro, o aumento da ca-pacidade de produção da fábrica de Resende. De onde esse aumento de demanda chegará primeiro?Antonio Roberto Cortes Nossa ex-

pectativa quanto à retomada da ativi-

dade econômica de uma forma plena é

grande. Estamos nos preparando para

isso. Antes da crise fi nanceira, nós tra-

balhávamos com três turnos cheios e,

agora, estamos retomando a capacidade

A ntonio Roberto Cortes esteve à frente da Volkswagen Caminhões por

mais de dez anos. Por isso, hoje, como CEO da MAN Latin America, po-

de afi rmar com propriedade que o mercado de caminhões é um bom

termômetro da economia brasileira. “Quem compra um caminhão vislumbra

utilização, frete, transporte de riqueza”, diz, revelando um otimismo alinhado

à retomada do crescimento no país, que se refl ete diretamente nos planos da

empresa. Em janeiro, a MAN anunciou a volta do terceiro turno da fábrica em

Resende (RJ), com a contratação de 700 funcionários. Além disso, a companhia

acelera os investimentos para dar início à produção dos primeiros caminhões

MAN no Brasil, da categoria extrapesados, com os quais disputará mercado com

Volvo, Mercedes-Benz e Scania.

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Page 27: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 27

Em 2007, anunciamos um plano de

investimentos de US$ 1 bilhão em

cinco anos, e vamos mantê-lo

de antes da crise, de 72 mil unidades ao

ano. Nós já estamos observando uma

recuperação forte em construção civil,

mineração, logística, transportadores,

de produtos de bem de consumo e do

setor agrícola. Há o incentivo do gover-

no ao PAC e os projetos para a Copa do

Mundo e as Olimpíadas. Além disso, o

Brasil tem uma peculiaridade que nos

deixa mais confortável com essa deci-

são: hoje, a idade média da frota de ca-

minhões, no Brasil, é de 18 anos. E o ideal

seria uma frota de 8 ou 9 anos. Ou seja,

os caminhões brasileiros estão duas ve-

zes mais velhos do que deveriam estar.

Isso não é economicamente viável, nem

para a segurança, nem para os níveis de

consumo, nem para o ambiente, pois

poluem mais.

AE Como foi 2009 para a empresa?ARC No geral, as vendas do setor ca-

íram 11%, enquanto nós registramos

queda de 9%. Nas exportações, a queda

do setor foi de quase 40%, e nós tivemos

redução de 30%. Isso ocorreu porque

nossos principais países exportadores

– Argentina, México e África do Sul – es-

tão sofrendo mais do que nós com essa

crise. Hoje, as exportações representam

15% das nossas vendas.

AE No ano passado, a Volkswagen Ca-minhões foi incorporada pela MAN e se tornou a MAN Latin America. Em que isso mudou o negócio de vocês?ARC Foi importante, pois passamos

a participar do nicho de caminhões

extrapesados, que concentra de 15%

a 20% do mercado de caminhões bra-

sileiro, e que não faz parte do portfólio

da Volkswagen. A MAN não tinha pre-

sença no Brasil, e o objetivo de chegar

aqui, bem como na India, e fazer uma

parceria na China é o de que, daqui a

cinco anos, 50% dos negócios da MAN

estejam fora de Europa.

AE E isso implicou adaptação?ARC Para nós, faz parte da evolução do

negócio. Em 1998, quando começamos,

vendíamos 9 mil veículos ao ano e

detínhamos de 12% a 15% do mercado;

em 2009, vendemos 46 mil e chegamos

à liderança, com mais de 30%. E isso só

foi conquistado em virtude de quatro

pilares. O primeiro é ter produto e, para

tanto, temos uma engenharia no Brasil,

não usamos uma fórmula importada.

O segundo é ter rede que garanta um

pós-venda barato e disponibilidade

de peças em qualquer lugar. O terceiro

foi a construção da fábrica de Resende,

com um modelo totalmente inédito de

produção, chamado consórcio modular,

em que, em invés de nós montarmos

um caminhão, quem monta são nossas

empresas parceiras. E o quarto pilar é

o foco. Com isso, agora, entramos em

um mercado novo, com a marca Volks

permanecendo onde está. Assumindo

que ganharemos em custo, a fabricação

aqui também possibilitará a exporta-

ção para a América Latina, mercado

sobre o qual somos responsáveis.

AE Qual o investimento para fabri-car caminhões e motores MAN no Brasil e qual a previsão de início da produção?ARC Em 2007, anunciamos um plano de

investimentos de US$ 1 bilhão em cinco

anos, e vamos mantê-lo, redirecionan-

do esse investimento. Agora, estamos

acelerando esse processo. Isso signifi ca

que, muito provavelmente, entre o fi nal

deste ano e o início do ano que vem, já

começaremos a fabricação.

AE A MAN tem grande experiência no desenvolvimento de tecnologia para ônibus híbridos usando energia elétrica. Esse seria um modelo viável para o Brasil? ARC Quando você fala em ônibus, você

fala em tarifas, em poder aquisitivo. Se

conseguíssemos uma tecnologia híbri-

da com custo baixo, seria interessante.

Mas isso ainda vai demorar vários anos,

e as prioridades do Brasil são a questão

ambiental e a menor dependência do

petróleo, e acho que isso está no bio-

diesel. Hoje, focamos nosso pessoal de

pesquisa em desenvolver um motor que

rode 100% biodiesel, ou que rode biodie-

sel o máximo possível, com efi ciência.

AE Existe algum fator que poderia ameaçar as estimativas de cresci-mento da MAN?ARC O governo implementou medidas

de incentivo que, na minha opinião, fo-

ram excelentes, que passaram por uma

isenção do IPI para caminhão e redução

do custo fi nanceiro por meio de conces-

são de empréstimo via BNDES: para o

caminhoneiro, a taxa era de 13,5% e caiu

para 4,5% ao ano; para o frotista, caiu de

10,0% para 7,5%. Automaticamente, as

vendas foram retomadas, e essa eu acho

que é a equação do Brasil, de um modo

geral. Medidas como essa não deveriam

ser feitas somente em momentos emer-

genciais, mas no longo prazo, para que

houvesse uma desoneração geral de

impostos e redução da taxa de juros.

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Page 28: Nº 384 Edição Brasil

28 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

FESTA PROFISSIONAL

NEGÓCIOS CARNAVAL

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Page 29: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 29

VERÓNICA GOYZUETA, DE SÃO PAULO

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I magine escolher Nilópolis como

destino de suas próximas férias.

O pacote de quatro dias inclui hos-

pedagem em um hotel fazenda, banhos

nas melhores cachoeiras fl uminenses,

trilhas no Parque Nacional de Gerici-

nó e visitas à Escola de Samba Beija

Flor de Nilópolis, assistindo a shows de

sambistas, conhecendo os processos de

confecção de fantasias, conversando

com membros da velha guarda e respi-

rando a cultura do Carnaval. Fazer um

parque temático do samba pode ser um

sacrilégio para tradicionalistas, mas

quem estuda e trabalha na área consi-

dera um modelo a seguir para desbra-

var parte do potencial de um mercado

que deve movimentar, neste ano, R$ 1,2

bilhão apenas com o desfi le das escolas

do Grupo Especial do Rio de Janeiro.

Só o desfi le do Grupo Especial das escolas de samba do Rio de Janeiro deve movimentar R$ 1,2 bilhão neste ano, em uma festa que tem muito espaço para crescer

A criação de um parque temático

do samba foi uma ideia que surgiu de

Sergio Sessim, prefeito de Nilópolis, ao

perceber que a Beija Flor é a principal

atração e umas das maiores fontes de

renda do município. O Bairro de Ma-

dureira, por exemplo, é outro local com

potencial temático. Ele é o berço de três

escolas de samba – a Portela, a Impera-

triz Leopoldinense e a Tradição –, e já

se está desenhando um projeto para a

criação de um sambódromo popular no

local, que leva a assinatura do designer

austríaco Hans Donner, criador de vi-

nhetas do Carnaval para a Rede Globo,

casado com uma das musas da festa.

“Precisamos identifi car o que existe e

aproveitar seu potencial”, diz Luiz Car-

los Prestes Filho, principal pesquisador

brasileiro da economia do Carnaval.

Autor e coordenador do estudo “A

Cadeia Produtiva da Economia do Car-

naval”, Prestes Filho é o primeiro a ana-

lisar academicamente os números do

Carnaval do Rio. Em 2000, quando ini-

ciou a pesquisa, no Núcleo de Estudos

de Economia da Cultura da PUC-Rio, o

Carnaval envolvia gastos de R$ 416 mi-

lhões. Em 2006, último ano registrado,

esse número chegou a R$ 685 milhões e

gerou 246,5 mil postos de trabalho por

mês, com a mobilização de 470,3 mil

trabalhadores. Para este ano, estima-se

que a festa movimentará R$ 1,2 bilhão.

Esses valores referem-se apenas ao

desfi le das escolas de samba do Grupo

Especial e não contabilizam trabalhos

especializados. Entre eles, há o das arte-

sãs de Barra Mansa, que produzem cer-

ca de 40 milhões de bordados por ano:

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Page 30: Nº 384 Edição Brasil

30 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

ACIMA, DESFILE NO SAMBÓDROMO. À DIREITA,

PRESTES FILHO COM MEMBROS DA ESCOLA

DE SAMBA UNIÃO DO PARQUE CURICICA

52% para as escolas do Rio, 26% para

as agremiações paulistas, e o restante

para o exterior. O negócio gera cerca de

R$ 52 milhões anuais, equivalentes a

4,5% do PIB do município, e vem de uma

atividade quase sempre informal, em

que a evasão fi scal é recorrente. “Temos

de estudar as profi ssões do Carnaval, o

serralheiro, o maquiador etc. Não temos

planejamento dessas atividades, que

hoje, são muito empíricas”, diz Prestes.

“Precisamos pensar quantos operários

devem ser preparados para oferecer

serviço qualifi cado, assim como se faz

na indústria, mas não temos política de

Estado para isso”, diz o pesquisador.

ENORME POTENCIALO Carnaval tem outros dados e cifras

que impressionam, como o da venda de

ingressos. Abertas em janeiro, elas re-

gistraram o recorde de 32 minutos para

esgotar os 12.190 ingressos de arqui-

bancadas especiais e cadeiras individu-

ais, para cada dia de desfi le na Sapucaí.

Isso sem contar os camarotes, que so-

mem na mão de cervejarias, bancos e

multinacionais. Bem como o patrocínio

do tema dos sambas-enredos, negó-

cio que já atraiu até Hugo Chávez. Em

2006, o presidente venezuelano apoiou

a escola de samba Vila Isabel, campeã

naquele ano, levando o tema Simon

Bolívar ao Sambódromo. A ordem dos

especialistas e o desejo das autoridades

é aproveitar esse sucesso e profi ssio-

nalizar o setor, para que ele gere ainda

mais recursos. As possibilidades são

infi nitas e incluem desde patrocínios,

direitos de imagem e de transmissão de

TV a novos investimentos em turismo

e nas profi ssões do Carnaval.

Contrariamente ao modelo temá-

tico, que chama de turismo Cancún,

o consultor e escritor de livros de ges-

tão Ricardo Neves diz que é necessário

aproveitar as características do Car-

naval como um evento espontâneo,

que, na sua visão, atrai um turista que

busca uma experiência de viagem, e

não um modelo pasteurizado. “Há um

novo fi lão, que não é o que está na tela

da Globo. É o Carnaval do exército das

formigas empreendedoras, que deixa

para trás um Carnaval pago apenas

por grandes patrocinadores, em uma

perspectiva que esses patrocinadores

não dominam. É o resgate de uma festa

verdadeiramente popular”, diz Neves,

que é folião em blocos de rua do Rio.

“O Brasil não comercializa, não de-

senvolve e não aproveita o Carnaval

como negócio, como também não faz

com o futebol”, diz o consultor Fernan-

do Prestes Maia , que preside o Instituto

Pensamento Nacional de Bases Empre-

sariais (IPNBE), uma entidade que tem,

entre outros fi ns, a formulação de pro-

jetos de longo prazo para o país. Maia

vê oportunidades de negócio em áreas

alheias ao Carnaval, como alimentação

e bebidas, brindes e acessórios, mas

também acha que os negócios da festa

não precisariam ser sazonais e restritos

ao verão. O empresário cita o caso de

palestras em que a escola de samba

é estudada como modelo de gestão. E

quem melhor para dar uma palestra

que os próprios membros da escola? –

um fi lão que elas ainda não exploram.

1

2

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Page 31: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 31

Para Prestes Filho, o espaço de cres-

cimento de negócios para o Carnaval

se concentra em marcas, patentes, pro-

priedade intelectual e inovação tecno-

lógica, porque áreas como alimentação,

serviços e hospedagem chegam a um

ponto de estabilidade em que não é mais

possível crescer. Na opinião do pesqui-

sador, os latino-americanos não sabem

fazer gestão de marca nem de direitos

autorais, diferentemente dos países do

primeiro mundo, que basearam sua eco-

nomia nesses quesitos. “A Petrobras é a

9ª empresa do mundo, mas não é uma

marca conhecida”, afi rma.

E existe melhor marca do que aque-

la sinônimo de alegria e de festa?

A empresa Aliante, especializada

em eventos para executivos, foi uma das

que colocaram esse bloco na rua. A ideia

não é nova. O economista austríaco-

americano Peter Drucker chegou a pro-

por a escola de samba como modelo de

planejamento, em uma das suas visitas

ao Brasil. O pacote da Aliante “Escola de

Samba Corporativa” é oferecido para

ensinar tópicos como motivação, ge-

renciamento de projetos, disciplina e

espírito de equipe.

A MARCA DO CARNAVALDe fato, são as empresas as que melhor

têm se benefi ciado do potencial da festa

brasileira. “Quem mais tem aproveitado

isso, em termos de marca, é a Brahma,

com seu famoso camarote na Sapucaí”,

diz Eduardo Tomiya, especialista em

marcas e diretor geral da consultoria

BrandAnalytics. Mas ela não está só.

Para este ano, por exemplo, Nova Schin,

Itaú e Petrobras já garantiram seu lugar

como patrocinadores oficiais do Car-

naval de Salvador, na Bahia, pagando,

cada uma cerca de R$ 3,1 milhões. Se-

gundo o Salvador Turismo, órgão do

governo baiano, mais de 200 empresas

disputam espaço nessa festa.

A cervejaria Ambev, dona da Brahma,

considera o Carnaval um dos seus prin-

cipais investimentos de marketing,

junto do futebol e das festas juninas. E

o camarote, que já tem 19 anos de Sapu-

caí, é apenas um ponto na sua rede de

investimentos. A empresa venceu, com

a marca Antarctica, a licitação da Pre-

feitura do Rio para ser a patrocinadora

ofi cial do Carnaval de rua da cidade. “É

uma prova de como o poder público po-

3,1milhões de reais é

o preço da cota de patrocínio, em Salvador

de dar estrutura ao Carnaval

sem tirar a espontaneidade.

Com uma licitação, parceiros

oferecem a estrutura e ajudam

no orçamento público”, diz Thiago

Ely, gerente de Plataforma de Eventos

da Ambev. A empresa investirá R$ 5

milhões para instalar 4 mil banhei-

ros químicos, pagar as diárias de 500

controladores de trânsito, 80 diárias de

UTIs móveis e espalhar sua marca pela

cidade, em galhardetes de sinalização,

guias de blocos e na decoração da Ave-

nida Rio Branco.

A empresa espalha, também, suas

marcas nos carnavais de Salvador, Re-

cife e Olinda e não desiste do investi-

mento – ao contrário, cresce

ano a ano, mais que a infl ação,

ou seja, mais de 5%, diz Ely,

como única pista. “Como con-

tinuamos investindo, pode se

presumir que é um bom negó-

cio”, diz o executivo, que tem

visto um crescimento na pro-

fissionalização do Carnaval.

Ely orgulha-se da ousadia que

a marca teve há cinco anos,

quando levou o DJ FatBoy Slim

para um trio elétrico, em Sal-

vador. Para ele, o desafio do

Carnaval é ousar.

Mas, se as grandes marcas

exploram o Carnaval, por que

não fazer dele uma grande

marca? “Por trás da marca Por-

tela, Beija Flor, Mangueira, há

um valor específi co. Temos de

pensar em propriedade inte-

lectual e Carnaval, garantin-

do a sustentabilidade deste”,

diz o pesquisador, que calcu-

lou que, apenas com a passa-

gem das escolas na Sapucaí,

cantando dez sambas-enredo,

são movimentados R$ 7 mi-

lhões em direitos autorais. “A

marca do Carnaval precisa ser

trabalhada, deixar de ser um

calendário. É necessário posi-

cionar o Carnaval do Rio como

uma marca forte”, concorda

Tomiya, da BrandAnalytics.Foto

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Page 32: Nº 384 Edição Brasil

32 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

J osé Antonio Fernández, presidente

da mexicana Femsa, diz que foram

três os sinais que o fizeram ava-

liar o futuro da divisão de cervejas da

companhia. Todos eles, curiosamente,

são megafusões: primeiramente, a da

Anheuser-Busch com a Inbev; depois,

a da Molson-Coors com a SabMiller; e, a

mais recente, a da Scottish & Newcas-

tle com a Heineken.

A MAIS CORTEJADA

A venda da Femsa Cerveja à Heineken é um passo decisivo na consolidação do setor na América Latina. Depois, o foco estará nas médias

EDUARDO THOMSON E FELIPE ALDUNATE, DE SANTIAGO

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NEGÓCIOS CERVEJA

“A Femsa Cerveja tinha tudo para

ser uma companhia mundial, mas não

contava com plataforma nem escala”,

comenta Fernández. “E achamos que,

para crescer, ou você compra, ou se jun-

ta, ou vende. Só não pode fi car parado.”

Assim, depois de discussões e fl er-

tes com vários concorrentes, no começo

de janeiro, a Femsa decidiu-se pela ho-

landesa Heineken. Concordou em ven-

der, pelo equivalente a US$ 7,6 bilhões,

sua divisão de cervejas – ofi cialmente

chamada Cervejaria Cuauhtémoc Moc-

tezuma, que produz as marcas Tecate,

Dos Equis, Bohemia e Sol –, em troca de

uma participação de 20% na Heineken.

Os mexicanos tornaram-se, assim, o

segundo maior acionista da holandesa,

depois da própria família Heineken.

A Femsa fi cou livre de dívidas, e com

tempo e dinheiro para se dedicar a duas

outras áreas: à expansão de sua rede de

lojas de conveniência Oxxo e à engar-

rafadora Coca-Cola Femsa. “Além disso,

esse acordo nos permite continuar na

indústria da cerveja, porque vemos va-

lor nela”, comenta Fernández.

Essa venda põe um ponto final à

era das grandes operações na indústria

cervejeira latino-americana, já que os

jogadores de peso independentes desa-

pareceram. Daqui para a frente, serão

as companhias de tamanho médio que

começarão a sentir a pressão para se

associarem a alguma das grandes.

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Page 33: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 33

vejaria Nacional Dominicana (do grupo

León Jimeno), a CCU do Chile (do grupo

Luksic) e a costarriquenha Florida Ice &

Farm (da família Lindo Morales), ainda

que, nas duas últimas, a Heineken te-

nha participação minoritária.

Os casos da Schincariol e da Petrópo-

lis são particulares, já que estas ocupam

o segundo e o terceiro lugares, respecti-

vamente, em participação de mercado

no país, segundo dados do Euromonitor

Internacional. Contudo, segundo Enio

Rodrigues, diretor do Sindicato Nacional

da Indústria da Cerveja do Brasil (Sindi-

cerv), Schincariol e Petrópolis arrastam

passivos tributários suficientemente

complicados para assustar um poten-

cial comprador. “Difi cultariam a com-

pra por parte de um ator internacional,

já que eles costumam ter regras muito

restritas de contabilidade”, comenta Ro-

drigues. “SabMiller e Heineken fi zeram

diligências em empresas da região em

anos anteriores, mas não chegaram a

nenhuma conclusão.”

Atores como a Petrópolis têm es-

paço sufi ciente para seguir crescendo

dentro de seu país. “As fusões e aqui-

sições são simplesmente trocas no jo-

go de xadrez mundial. Para nós, nada

muda. Somos especialistas do mercado

brasileiro e seguiremos fazendo o que

sabemos fazer”, diz Douglas Costa, ge-

rente de Marketing da empresa.

Fora do Brasil, não há muitas opor-

tunidades, ressalta Rodrigues, do Sindi-

cerv. “Em alguns países, poucos atores

têm participações tão altas que difi cul-

tam a entrada”, comenta. “Não vamos

ver outra oportunidade tão atraente

como a Femsa nos próximos três anos.”

No caso da Femsa, segundo Fernán-

dez, a possibilidade de um melhor posi-

cionamento de mercado tornou a ofer-

ta da Heineken ainda mais atraente.

“Havia quatro condições para qualquer

oferta: a primeira, que o valor fosse

atrativo; a segunda, a diversifi cação da

presença geográfi ca do sócio; a terceira,

o potencial de crescimento nos mer-

cados em que se encontra; e a quarta,

fl exibilidade cultural”, diz.

Assim, a associação com a Heineken

coube como luva, já que a holandesa

conta com presença global, operações

com forte potencial de crescimento,

como a China e o Sudeste Asiático, e

entende a cultura da mexicana, já que

é a Heineken USA quem faz a distribui-

ção das marcas Tecate e Dos Equis nos

Estados Unidos.

PRATELEIRAS VAZIASAgora, na América Latina, as grandes

oportunidades de compra estão fi can-

do escassas. Por exemplo, para o grupo

mexicano Modelo se tornar um alvo,

deverá concluir um processo de arbi-

tragem com a AB Inbev sobre a compra

da Anheuser-Busch. A AB tem 50,1% da

Modelo – ainda que não o controle –, e

os donos do Modelo alegam que, em vez

de passar à AB Inbev, eles deveriam ter

opção para recompra destas ações.

Segundo Olly Wehring, editor-che-

fe do site Just-Drinks, outro motivo pelo

qual, em 2010, certamente o mercado

estará mais calmo é que nem todas as

grandes cervejeiras mundiais contam

com muito dinheiro para fazer aqui-

sições. “Elas fi zeram grandes compras

há pouco tempo e estão ocupadas con-

solidando o que têm”, comenta. A úni-

ca grande que contaria com dinheiro

abundante em mãos para fazer com-

pras estratégicas é a SabMiller.

Na América Latina, o que resta são

atores médios. “Mas há bons ativos”,

comenta Fernández, da Femsa. Entre

as médias cervejeiras potencialmente

atraentes, estão as brasileiras Primo

Schincariol e Petrópolis, as venezuela-

nas Cervejaria Polar (do grupo Mendo-

za) e Regional (do grupo Cisneros), a Cer-

16%é a participação da América Latina no mercado mundial

de cerveja

Um dos países com alto nível de

consumo per capita de cerveja na Amé-

rica Latina é a Venezuela, mas Rodri-

gues, do Sindicerv, duvida que players

como SabMiller estejam olhando gru-

pos como a Cervejaria Polar ou Regional

no momento, já que a instabilidade não

permite fazer grandes investimentos.

O mercado latino-americano de

cervejas, segundo o Euromonitor, re-

presentou 16% do volume mundial em

2008. A mesma empresa acrescenta

que a América Latina, junto da região

da Ásia-Pacífico, África e do Oriente

Médio, será o único mercado regional

que manterá ou incrementará sua par-

ticipação no total de volumes cervejei-

ros, entre 2008 e 2013.

E aí está o ponto positivo para os

grandes, como Heineken ou um Sab-

Miller. Com volumes estancados ou em

franco declínio na América do Norte

e Europa Ocidental, por conta da cri-

se mundial, a região compensa essas

baixas. Além de outro fator favorável:

a jovem demografi a da região, já que

se espera que o consumo per capita de

cerveja aumente 6,4 litros, entre 2008 e

2013, acrescenta o Euromonitor.

AE 384 cerveja.indd 3AE 384 cerveja.indd 3 1/22/10 12:33:54 AM1/22/10 12:33:54 AM

Page 34: Nº 384 Edição Brasil

34 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

A empresa recolhe retalhos de couro descartados pelas fábricas de calçados e curtidoras

1

A massa seca naturalmente em moldes

3

O couro é misturado a outros produtos, como bactericida e catalisador, para formar a massa do bloco

2

Arquiteto do interior de São Paulo fabrica blocos usando retalhos de couro descartados da indústria calçadista

P ara quem nasce em Franca, a 400

km da capital paulista, é difícil não

estar relacionado direta ou indire-

tamente com a produção de calçados. A ci-

dade, de cerca de 330 mil habitantes, reúne

760 fábricas de calçados, responsáveis por

25 mil empregos diretos e uma produção

anual próxima dos 30 milhões de pares.

Nem mesmo o arquiteto Emar Garcia

Júnior escapou dessa sina. Primeiro, com

projetos relacionados aos escritórios des-

sas empresas. Depois, com um negócio

resultante de uma inquietação: o grande

acúmulo de retalhos de couro descartados

pelas fábricas de calçados e curtidoras.

“Pensava comigo: preciso fazer algo para

reverter isso, tornar a produção mais sus-

tentável”, conta Garcia.

Há oito anos, ele começou a pesquisar

uma forma de reutilizar esse resíduo. O re-

sultado desse estudo foi o desenvolvimento

de uma massa que, além do couro, inclui

produtos como aglutinantes, bactericidas e

catalisadores, com a qual o arquiteto inves-

tiu, primeiramente, na criação de peças de

design decorativas e que, há quatro meses,

transformou-se também na base para a

fabricação de blocos para construção civil.

“Além de reaproveitar esse material, a seca-

gem dos blocos é feita ao ar livre, evitando

a emissão de gases liberados no processo

industrial em fornos”, explica.

Para garantir matéria-prima, a Coure-

col, empresa de Garcia, negocia associações

com curtidoras e indústrias de calçados.

Atualmente, a Couroecol reúne 5 toneladas

de retalhos de couro ao mês, com as quais

consegue fabricar uma média de 2 mil blo-

GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO

CASA CURTIDANEGÓCIOS VISÃO VERDE

AE 384 visao verde.indd 2AE 384 visao verde.indd 2 1/22/10 12:43:20 AM1/22/10 12:43:20 AM

Page 35: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 35

Prontos, os blocos são usados na construção, unidos com cola PVA

4

Segundo Márcio Morato Galvão, da consultoria ambien-

tal ECP, ideias como a de Garcia ainda são novidade no Brasil,

mas seguem uma tendência já bem explorada nos países

desenvolvidos. “Nos Estados Unidos, por exemplo, há pelo

menos uma década existem os chamados green buildings”,

diz, referindo-se a construções que usam materiais produ-

zidos com resíduos e privilegiam os recursos naturais, com

mais entradas para a luz do dia, por exemplo. “Aqui no Brasil,

esse modelo ainda engatinha.”

Para Garcia, entretanto, isso não parece ser problema. “Há

um défi cit habitacional importante entre os trabalhadores

do setor calçadista aqui em Franca”, diz, afi rmando que esse

nicho é sua prioridade inicial.

Info

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oto:

iStoc

kpho

to

cos. A doação dos retalhos mostrou-se um negócio vantajoso

também para as empresas, já que economizam no descarte

desses resíduos em aterros sanitários. “Hoje, nos cobram R$

76 por tonelada de rejeito. Todos os meses, depositamos entre

5 e 6 toneladas”, diz Ivan Junior de Andrade, diretor da Curti-

dora Francana, primeira empresa parceira da Couroecol. Se-

gundo Andrade, os custos com aterro sanitário representam,

hoje, 3% do faturamento da empresa.

Segundo Garcia, o bloco feito com resíduos de couro ga-

rante um isolamento acústico e térmico de 40%, “e custa o

mesmo que os blocos de concreto, cerca de R$ 1 a unidade”.

Para comprovar a efi ciência do produto, nos próximos meses,

Garcia, com o apoio de quatro empresas doadoras de couro,

começará a construir a primeira casa feita com esses blocos,

de 48 metros quadrados. “Depois, esperamos começar a asso-

ciar nossa produção à demanda”, diz.

O empresário não revela estimativas de faturamento

com o novo produto – em cujo desenvolvimento, conta o em-

presário, colaboraram técnicos do laboratório Falcão Bauer e

da Fundação Vanzolini –, mas afi rma que tudo o que entrar

no caixa da empresa, no começo, “será reinvestido no projeto”.

Entretanto, declara otimismo quanto ao potencial do bloco

no mercado de construção de casas populares. “O custo de

produção de uma casa com esses blocos cai, em média, 30%”,

afi rma. “Para se ter uma ideia, um imóvel com 60 metros qua-

drados, feito com bloco comum, sai por algo entre R$ 18 mil

e R$ 20 mil. Já um fabricado com o nosso custará entre R$ 13

mil e R$ 14 mil.” Isso porque, segundo o arquiteto, o bloco de

couro pesa menos, reduzindo o custo da fundação. “Enquanto

um bloco de concreto pesa até 6 kg, o feito com retalho não

ultrapassa os 2,5 kg. E, quanto mais pesada uma construção,

mais resistente – e cara – tem de ser a fundação.”

5toneladas de

retalhos de couro é a atual capacidade

mensal de processamento

da Couroecol

AE 384 visao verde v1.indd Sec1:3AE 384 visao verde v1.indd Sec1:3 1/22/10 12:42:28 AM1/22/10 12:42:28 AM

Page 36: Nº 384 Edição Brasil

36 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

PEGADAS LUCRATIVAS

Jovens empresários paulistas apostam no mercado de compensação de emissões de carbono em eventosGRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO

BELTRAME: AUMENTO DA DEMANDA DE PROJETOS DEPOIS DA CÚPULA DE COPENHAGUE

NEGÓCIOS PME

O Brasil tem ganhado papel de

destaque na área de eventos.

Embora não existam núme-

ros ofi ciais, estima-se que mais de 300

mil encontros de todos os tipos acon-

teçam no país por ano. Os resultados

para a economia são incontestáveis.

Somente o segmento de grandes feiras

movimentou R$ 3,4 bilhões em 2009,

segundo a União Brasileira dos Promo-

tores de Feiras (Ubrafe).

Mas, ao sentar-se em uma plateia e

ouvir a apresentação de um expositor,

poucos imaginam as toneladas de dió-

xido de carbono que se necessitou emi-

tir para possibilitar a realização de tal

encontro. Exagero de algum ambienta-

lista fanático? Não. Essa preocupação é

tão real que incentivou dois empresá-

rios paulistas a investir na neutraliza-

ção de CO2 em eventos. Há dois anos,

Fernando Beltrame e Ricardo Uchoa

adicionaram mais esse serviço ao rol de

atividades da Eccaplan, consultoria de

desenvolvimento sustentável que, en-

tre outros clientes, atende grandes re-

des varejistas, prestadoras de serviços

para eventos e fabricantes de produtos

de tecnologia da informação.

“Nós somamos tudo o que envolve

o evento, como uso de energia elétri-

ca, ar-condicionado, milhas aéreas dos

participantes, papel, lixo etc. Aí, faze-

mos o cálculo de quantas toneladas de

carbono isso vai gerar e mostramos al-

guns projetos ao nosso cliente, para que

ele possa escolher”, afi rma Beltrame,

explicando que esse cálculo tem como

base o GHG Protocol, ferramenta de

medição de emissões de gases do efei-

to estufa. As compensações são feitas

1

AE 384 carbono.indd 2AE 384 carbono.indd 2 1/21/10 11:36:22 PM1/21/10 11:36:22 PM

Page 37: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 37

EVENTOS CORPORATIVOS:

NICHO DE MERCADO PROMISSOR

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uada

nhim

com a compra de créditos de carbono

na Bolsa do Clima de Chicago, onde a

empresa é registrada.

Um dos principais clientes da Ec-

caplan é o Grupo de Líderes Empresa-

riais (Lide), que iniciou seu programa

de evento neutro em agosto de 2008.

“Já compensamos as emissões de 828

toneladas de gás carbônico. Dessa

forma, nossos eventos subsidiaram a

manutenção de um ano de ativida-

des fl orestais sustentáveis, numa área

equivalente a 210 campos de futebol do

tamanho do Maracanã ou a 1,02 Parque

do Ibirapuera”, diz Ana Lucia Ventorim,

diretora-geral do Lide.

A diretora do Conselho Empresarial

Brasileiro para o Desenvolvimento Sus-

tentável (Cebds), Marina Grossi, lembra

que a compensação de carbono ainda

não é obrigatória no Brasil, mas repre-

senta um mercado promissor. “As me-

tas de redução, embora voluntárias, são

compromissos, e sabemos que a maior

parte dessas mitigações virá das em-

presas privadas.” Portanto, antecipar-

se é um diferencial competitivo para

o empresário disposto a desembolsar

entre R$ 3 mil e R$ 12 mil ao promover

um evento “neutro”de um dia para um

público de até mil pessoas e que não

envolva viagens.

Do outro lado do balcão, quem

desenvolve projetos de neutralização

também colhe bons resultados. Prin-

cipalmente após a Cúpula de Cope-

nhague, que pode não ter surtido o

efeito ideal, mas despertou o interesse

de empresários pelo tema. “Temos 30

clientes fi xos e, depois do encontro na

Dinamarca, mais

de 20 empresas

nos procuraram,

interessadas no

trabalho de con-

sultoria ambien-

tal”, conta Bel-

trame, que não

revela o quanto a

consultoria fatu-

ra anualmente,

mas garante que só a parte de eventos

é responsável por 60% dos lucros da em-

presa – que também trabalha com rela-

tórios de sustentabilidade e programas

de gerenciamento de emissões de gases

do efeito estufa, atendendo a empresas

de outros setores.

CONSCIÊNCIA AMBIENTALUma iniciativa parecida com a da Ecca-

plan tem sido desenvolvida pela gaúcha

Hack Consultoria, de Novo Hambur-

go, que existe desde 1992 e participa

de projetos como gestão de resíduos,

licenciamentos e diagnósticos am-

bientais. Há cerca de três anos, a Hack,

que atende em toda a América Latina,

orientando empresas que atuam em

segmentos como celulose, alimentício

e coureiro-calçadista, resolveu apostar

na neutralização das emissões de gases

de efeito estufa de encontros corporati-

vos. “A maioria dos trabalhos teve como

objetivo promover a compensação e a

consciência ambiental”, explica a ge-

rente administrativa Adriana Hack.

O processo é parecido ao da Ecca-

plan, com a diferença de que a gaúcha

faz a compensa-

ção por meio do

plantio de árvores.

“Nossa empresa

calcula o quanto

deve ser neutrali-

zado e repassa as

orientações aos

responsáveis, mo-

nitorando o plan-

tio”, diz Hack.

Essa é uma preocupação que os em-

presários devem ter na hora de escolher

um projeto, orienta Grossi. “Não adian-

ta só plantar árvores; é preciso saber se

o bioma é o correto e se isso será moni-

torado. Assim como há muita iniciativa

séria, há outras que não são.”

2

3

12 milreais é quanto pode

custar a compensação de um evento

AE 384 carbono.indd 3AE 384 carbono.indd 3 1/21/10 11:36:39 PM1/21/10 11:36:39 PM

Page 38: Nº 384 Edição Brasil

38 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

MOVIMENTOS

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HORIZONTEAMPLO

Crescer em meio à crise fi nanceira mundial não é para qualquer um. E não estamos fa-

lando da China, mas do Qatar, que viu sua economia expandir-se 11%, em 2009, graças

à sua forte atuação no mercado de gás natural. Mesmo com essa performance invejá-

vel, o governo daquele país tem como plano estratégico diversifi car seus negócios e

se tornar menos dependente do setor energético, atraindo investimentos de empresas

ao redor do mundo, sobretudo nas áreas de serviços e transferência de tecnologia.

“Os negócios entre Brasil e Qatar não são tão signifi cativos atualmente”, afi rma Chadi

Abou Daher, gerente regional do World Trade Center no Qatar. O intercâmbio comer-

cial entre o Brasil e o Qatar, em 2009, foi de apenas US$ 220 milhões, ou 0,08% do total

brasileiro. “Isso talvez se deva ao fato de que estão muito longe um do outro”, afi rma

Daher. Para reduzir essa distância e buscar parcerias, Daher visitou São Paulo no fi nal

de janeiro para inaugurar o International Perspectives, uma série de eventos que será

promovida pelo WTC em 2010 com o objetivo de reunir executivos e especialistas in-

ternacionais para debater perspectivas de negócios e intercâmbios de diversos países.

ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO

38 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

AE 384 movimentosa.indd 2AE 384 movimentosa.indd 2 1/22/10 12:22:51 AM1/22/10 12:22:51 AM

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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 39

SER OU NÃO SER O braço de ferro de Martín Redrado pela Presidência do Ban-

co Central não é o único dilema político do governo de Cris-

tina Kirchner. O vice-presidente argentino, Julio Cobos, vem se

consolidando como líder da oposição ao próprio governo que

representa, com pré-candidatura à Presidência. Cobos ganhou

fama ao votar contra o governo, no Senado, quanto à proposta

125, que eleva os impostos às exportações da soja e do milho.

Na Argentina, o único papel do vice-presidente é encabeçar o

Senado, e ele somente tem direito a voto quando há empate.

Agora, o grande debate entre constitucionalistas é se esse voto

decisivo pertence a Cobos ou à vontade do governo. Outro

candidato à sucessão presidencial, o prefeito de Buenos Aires,

Mauricio Macri, afi rma que “Cobos não poderá fi car eternamente

como vice-presidente com o rol de interessado nas eleições de

2011”. RODRIGO LARA, DE BUENOS AIRES

ALÍVIO VERÃO A previsão climática indica uma redução das chu-

vas nos próximos meses, um sinal de alívio para

moradores e comerciantes da capital paulista, que

sofrem com enchentes nos períodos mais quen-

tes do ano. “O fato de São Paulo ter tido grandes

problemas e chuvas muito acima do normal nos

últimos meses não signifi ca que o restante de 2010

será também debaixo d’água,” diz a meteorologista

da Climatempo Josélia Pegorim.

A expectativa de um volume menor de chuvas é

um alívio para empresas como a Companhia de

Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Cea-

gesp). A companhia teve de interromper a comer-

cialização em seu entreposto durante praticamente

um dia inteiro em dezembro, causando enormes

prejuízos aos comerciantes. Para se ter uma ideia,

o entreposto movimenta uma média de R$ 15 mi-

lhões diariamente. ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO

Foto

: Lilia

n Uye

ma

MOTORES LIGADOS As estimativas de crescimento do PIB acima de 5% para este ano animam diversos setores da economia

brasileira. De acordo com projeções da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fena-

brave), o segmento de automóveis e veículos comerciais leves deve comercializar 3,3 milhões unidades em

2010, uma alta de 9,73% em comparação com o ano anterior. Já o setor de caminhões deve negociar 123.885

unidades, um acréscimo de 13,50% em relação a 2009, e o segmento de ônibus deve apresentar crescimento

de 11,50%, o equivalente a 25.196 unidades vendidas em 2010. ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO

AE 384 movimentosa.indd 3AE 384 movimentosa.indd 3 1/22/10 12:23:17 AM1/22/10 12:23:17 AM

Page 40: Nº 384 Edição Brasil

40 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

MOVIMENTOS

MÃOZINHA AO PIB Mesmo que eles ainda convivam com discrimi-

nação e piores condições de vida, o relatório

“Imigrantes e a Economia”, elaborado por David

Dyssegaard, diretor de Pesquisa de Imigração

do Fiscal Policy Institute, afi rma que os imigran-

tes – sobretudo os recém-chegados – signifi cam

muito para a economia dos EUA. Em Miami, re-

presentam 37% dos habitantes e 38% do PIB.

“Surpreende-me o que se passa em Nova York”,

diz Dyssegaard, indicando que o nível de educa-

ção dos imigrantes lá tem aumentado, e estes já

não se concentram apenas em trabalhos como

limpeza e construção. Exemplo disso é que 54%

dos trabalhadores da área de alimentação são

imigrantes. No restante das regiões, os resultados

indicaram que 24% já ocupam cargos gerenciais

e profi ssionais, e 22% são empresários ou pro-

prietários de negócios. Vale destacar que, do to-

tal de estrangeiros que vivem nos EUA, 47% são

latino-americanos. CAROLINA FUENTES, DE SANTIAGO

O SEGREDO ESTÁ NO VERDE Tão verdes como o pistache que se produz no Chile são os lucros da Omni Fruits. Seu dono, Amir Arjmand,

chegou ao Chile no ano 2000 e instalou a Omni Fruits com somente quatro funcionários. Hoje, tem uma planta

processadora na qual trabalham cerca de 50 pessoas e entre seus clientes estão indústrias como Bresler, Nestlé e

Unilever. “O Chile compete com o pistache verde porque há

pouca produção no mundo e, aqui, ele tem ótima qualidade”,

diz Arjmand. Segundo o empresário, o segredo é que o pis-

tache que se produz no Chile matura dentro da casca, con-

servando sua cor natural. E, quanto mais intensa ela for, mais

gostoso será o fruto. O quilo do pistache, no mercado interna-

cional, custa cerca de US$ 8. EVELYN QUEZADA, DE SANTIAGO

Foto

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lgaçã

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BOLIVIANOS NA MIRA Depois de lançar um serviço de remessas para estrangeiros que vivem no

Brasil, no fi nal de 2009 o Banco Rendimento aumentou a aposta nos imigrantes

desbancarizados. O cartão Mi Plata permite ao usuário fazer pagamentos no comércio cre-

denciado à rede Visa Electron e usar a rede PLUS de caixas eletrônicos para realizar saques. Segundo o

banco, o foco inicial do cartão é atender à comunidade de bolivianos que vivem em São Paulo – de acordo

com o Centro de Apoio ao Imigrante, ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), fala-se em

160 mil bolivianos só na capital paulista. “O lançamento do cartão complementa as ações de anistia que estão

sendo feitas. Sem dúvida, será um ganho enorme”, diz o cônsul geral da Bolívia em São Paulo, Jaime Valdívia. O

banco não cobra taxa para compras; já cada retirada em caixa custa R$ 4,90. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO

AE 384 movimentosa.indd 4AE 384 movimentosa.indd 4 1/22/10 12:24:31 AM1/22/10 12:24:31 AM

Page 41: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 41

VENDAS EM MOVIMENTO São muitas as companhias cujas

vendas estão estancadas por

causa da crise, mas a Research

In Motion (RIM), desenvolvedo-

ra da tecnologia Blackberry, é

excessão. A empresa acaba de

divulgar resultados muito acima

das expectativas de analistas, e

grande parte disso se deve ao rá-

pido crescimento do faturamen-

to da empresa fora dos Estados

Unidos. “As operações interna-

cionais estão avançando muito

bem”, disse o presidente execu-

tivo da companhia, Jim Balsillie,

destacando a força de suas ope-

rações na Ásia, Europa e América

Latina. David Añón, diretor de

Mercadotecnia de Canal da em-

presa para a América Latina, diz

que o crescimento de assinantes

e de usuários da tecnologia Bla-

ckberry na região tem sido muito

forte nos últimos tempos, “supe-

rando 25% de um trimestre para

o outro”. Isso se deve, diz Añón, à

inclinação dos jovens por enviar

mensagens de texto e à crescen-

te expectativa do consumidor

latino-americano de que seus

telefones celulares façam muito

mais do que somente receber

chamadas telefônicas. ANTONIO MA-RÍA DELGADO / MIAMI

MARÉ DE IANQUES Os turistas norte-americanos ainda não podem viajar diretamente

a Cuba, mas isso poderá mudar. Um comitê da Câmara dos Depu-

tados dos EUA discutiu, no fi nal do ano passado, um projeto de lei

apresentado pelo governo de Barack Obama que permitiria via-

jar à ilha, e o Ministério do Turismo cubano realizou uma reunião

virtual com executivos de agências de viagens dos EUA. Mesmo

que seja improvável que isso aconteça logo, estudo do Euromo-

nitor International indica as vantagens de tal liberação. Dados da

Sociedade Norte-americana de Viagens mostram que cerca de

835 mil turistas poderiam visitar a ilha anualmente, além dos 960

mil cubanos que

vivem nos EUA

e gostariam de

visitar seus pa-

rentes. O estudo

ainda aponta

que tais viagens

poderiam trazer

lucro anual de

US$ 1,1 bilhão às

empresas de tu-

rismo dos EUA.

EDUARDO THOMSON, DE SANTIAGO

PRINCIPAISDESTINOS TURÍSTICOSNORTE-AMERICANOS NO CARIBE(em mil pessoas)

Fonte Euromonitor International

Porto Rico 1.205 1.184

Bahamas 1.236 1.760

Jamaica 1.132 1.150

2007 2008

República Dominicana 1.080 1.091

Costa Rica 790 807

AE 384 movimentosa.indd 5AE 384 movimentosa.indd 5 1/22/10 12:25:04 AM1/22/10 12:25:04 AM

Page 42: Nº 384 Edição Brasil

42 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

MOVIMENTOS

APOSTA COMPLICADATrês anos depois de ter se instalado no Equador, a estatal Pe-

tróleos de Venezuela (PDVSA) faz sua aposta no mercado local

de postos de gasolina. Com a inauguração da primeira unida-

de em Quito, no fi nal de 2009 , a petrolífera busca ganhar es-

paço em um mercado já saturado. Ernesto Guerra, presidente

da Associação de Distribuidores de Derivados de Petróleo de

Pichincha, no Equador, conta que os executivos da PDVSA se

apresentaram a empresários interessados em investir em no-

vos postos com a marca venezuelana, bem como a donos de

postos já existentes para lhes convidar a formar parte da rede

PDVSA quando concluírem o contrato com outras redes. Mas

não será uma briga fácil. Desde 1995, com a modernização das

redes no Equador, o número de postos aumentou 145%, para

os atuais 1.090, segundo empresários do setor. A margem de

lucro dessa operação é regulada em dez centavos de dólar

por galão, que deve ser repartido entre os transportadores, a

distribuidora e o posto de gasolina. EVA VALENCIA, DE QUITO

EXPLOSÃO PETROQUÍMICA A empresa australiana Orica está de olho no Peru para iniciar outro grande projeto petroquí-

mico. Trata-se da planta de nitrato de amônio em San Juan de Marco, na região sul de Ica,

que demandará o investimento de US$ 500 milhões. “Forneceremos cerca de 60% da de-

manda local de nitrato de amônio. Isso totaliza umas 250 mil toneladas ao ano das quais

se importa, atualmente, mais de 90%”, diz Robert J. McDonald, gerente geral da Orica

Nitratos Peru. Assim, com a construção dessa planta, que se iniciará em 2011, a empresa

produzirá 300 mil toneladas anuais de nitrato de amônio, permitindo abandonar a im-

portação desse produto para abastecer o mercado interno. NATALIA VERA, DE LIMA

EMISSÃO ZERO Apesar do recente fracasso da Cú-

pula de Copenhague, o meio am-

biente está cada vez mais presente

no coletivo mundial. Na “Pesquisa

de Atitudes sobre a Mudança Cli-

mática 2009”, produzida pelo HSBC

com pessoas de 12 países (incluindo

o México e o Brasil), 65% dos entre-

vistados assinalaram que é impor-

tante alcançar um novo acordo in-

ternacional para reduzir as emissões

poluentes. Além disso, 79% dos en-

trevistados demonstraram interesse

em que se estabeleça um compro-

misso global para alcançar a meta

de reduzir as emissões entre 50% e

80% até o ano de 2050. Os mexica-

nos foram os que mais defenderam

esse compromisso, com 91%; se-

guidos de Hong Kong, com 84%; e

da China, com 82%. Já na Índia esse

percentual foi de 75%; no Reino Uni-

do, de 71%; e nos Estados Unidos,

mais baixo, de 66%. Apesar do im-

pacto da recessão global, sete entre

dez pessoas concordaram que en-

frentar as mudanças climáticas é tão

importante, ou mais, que apoiar sua

economia interna durante a desace-

leração. NATALIA VERA, DE LIMA

AE 384 movimentos.indd 6AE 384 movimentos.indd 6 1/22/10 12:26:35 AM1/22/10 12:26:35 AM

Page 43: Nº 384 Edição Brasil

Nossa mais importante entrega? Um futuro melhor.Na atual economia global, idéias e produtos são compartilhados e as oportunidades surgem mais rápido que nunca. A FedEx ajuda a garantir

que a geração seguinte esteja pronta para um começo promissor ao conectar pessoas, bens e informação ao redor do mundo,

colocando assim, o futuro do continente em boas mãos.

A FedEx faz entregas para um mundo em constante mudança.

experience.fedex.com/education

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FedE

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Page 44: Nº 384 Edição Brasil

34 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

DE NOVO, MAS NÃO DO ZERONão há como prever quando o Haiti poderá se recuperar dos efeitos do terremoto. Mas a coordenação previamente impulsionada pela força de paz da ONU poderá facilitar o caminho

CARLOS SALDIVIA, DE PORTO PRÍNCIPE

COM GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO

DEBATES HAITI

1

A té a tarde de 12 de janeiro, o Haiti vivia em nor-

malidade relativa, comum ao país. Era um estado

comparável a Palestina ou Bagdá. A Polícia Nacional

haitiana encontrava-se espalhada por quase todas as esqui-

nas da capital Porto Príncipe com escopetas automáticas de

grosso calibre e metralhadoras M-16. Efetivos militares da

Minustah (sigla em francês para Missão das Nações Unidas

para Estabilização do Haiti) patrulhavam a região, munidos

de coletes antibala, com grupo sanguíneo escrito à vista de

todos, capacetes e fuzis. Nos setores de afl uência de pessoas,

guardas privados da empresa Blackwater observavam cada

movimento estranho.

Depois do terremoto, porém, cerca de 70% da cidade foi ao

solo. A estimativa de mortos, no fi m de janeiro, já apontava

AE 384 haiti.indd Sec1:2AE 384 haiti.indd Sec1:2 1/22/10 3:37:21 AM1/22/10 3:37:21 AM

Page 45: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 45

MOVIMENTO EM RUA DE PORTO PRÍNCIPE

(ESQ.) E AÉREA DO HOTEL MONTANA

(ACIMA): PREJUÍZOS INCONTÁVEIS

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ruas, já que não há pavimento além das avenidas principais.

O segmento da areia branca para construção estava em seu

auge. Isso explica por que as construções novas eram irregu-

lares e altamente instáveis. Fato que foi alertado, em 28 de

dezembro, por Andrea Loi, braço direito do chefe da missão da

ONU no país, Hebi Anabi, ambos mortos no terremoto, já que

três pequenos tremores de terra sentidos antes do Ano Novo

tinham causado nervosismo no quartel-general da ONU. Dos

três hotéis antes considerados seguros em Porto Príncipe,

Montana, HMG e Le Plaza, apenas o último se manteve em

pé, por um motivo lógico: foi construído por engenheiros

norte-americanos sobre rocha e com blocos de pedra, o que

garantiu que a moradia de diplomatas e militares resistis-

sem, mesmo contíguas ao Palácio do Governo e à Catedral,

que não resistiram ao abalo.

Em Cite Solei, entretanto, fazer uma visita a pé só era per-

mitido com colete antibalas e capacete. “É como uma favela

brasileira”, compara o soldado. Um adolescente se aproxima

e lhe pede dinheiro, desafi ador, misturando creole, algo de

português e inglês, ao que o soldado respondeu: “estamos

aqui só para lhe dar segurança”. E ninguém discorda. Há

cinco anos, quando a quantidade de mortos por roubo era

impossível de determinar e quatro cartéis do narcotráfi co

um número próximo de 200 mil. Somente construções de

rocha do começo do século permaneceram em pé, e uma pe-

quena comunidade que vivia no luxo desapareceu do bairro

nobre de Petion Ville. Afi nal, o debacle humanitário do país,

agora, está ainda mais longe de ser resolvido.

“É uma imagem desalentadora”, diz, inconformado, um

soldado do Exército brasileiro que não quis se identifi car. Há

dois anos, é um dos responsáveis por fazer a guarda em Cité

Soleil, região mais pobre e violenta do Haiti. Pensava que sua

retina já estava vacinada contra cenas de desgraça, pelo con-

vívio diário com tantas imagens de miséria. Mas se enganou.

Diante dos efeitos do terremoto, os cerca de 7 mil soldados

dos 18 países, que formam a missão, comandada desde seu

início pelo Brasil, tiveram de direcionar-se ao resgate de ví-

timas. Para o brasileiro, naquele momento, os cinco anos da

Minustah e os US$ 577 milhões gastos por seu país na missão

pareciam ter ruído com a cidade.

DIFÍCIL ANTES, PIOR DEPOIS Visitando alguns pontos da capital haitiana com o soldado,

antes do terremoto, podia-se notar que, durante o dia, era

possível caminhar normalmente, mas, à noite, o panorama

mudava. Os brancos obedeciam a instruções de não circu-

lar, e os homens da Missão de Paz respeitavam o toque de

recolher às 23h30, monitorados pela política militar noturna

da Jordânia e do Brasil. No Haiti, o sol se põe às 17h30 e cada

chuva costumava deixar inundações em quase todas as

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Page 46: Nº 384 Edição Brasil

46 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

SE NÃO FOSSE O TERREMOTOO bom desempenho do setor agrícola, entre outros setores, como a indústria maquiladora, fez a economia do Haiti expandir-se em 2009. Esti-mativa divulgada pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) em dezembro indicava um crescimento de 2% no ano passado.

Não fosse pelo terremoto, a projeção era de que esse número se repetiria em 2010. Os principais fatores que impulsionaram tal crescimento se-riam uma política mais expansiva para estimular a economia e o cenário eleitoral, com eleições legislativas no começo do ano e presidenciais no fi nal.

O informe ainda indicava que a taxa média de infl ação anual tinha baixado de 14,4% em 2008 para 3,4% em 2009 – por causa da redução dos preços internacionais de alimentos e petróleo. O défi cit em conta corrente caiu de 4,6% para 1% no mesmo período, e o investimento estrangeiro direto (IED) tinha aumentado 24% em relação a 2008, ainda que fosse um montante tímido: US$ 37 milhões. O ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, nomeado, em abril de 2009, enviado especial da ONU ao Haiti, buscou impulsionar a atração de IED ao país, promovendo, em outubro, uma visita ao Haiti de cem empresários de 14 países. Entretanto, a destituição, nesse mesmo mês, da primeira-ministra Michele Pierre-Louis, por acu-sação de malversação de fundos para atender a vítimas dos furacões de 2008, foi considerada um passo atrás nesse esforço.

Hoje, ainda não se pode mensurar os desafi os para a recuperação econômica do país. Em 2008, quando foi vítima de furacões, o Haiti re-gistrou perdas de US$ 900 milhões, relativas a 15% do PIB, segundo o FMI. Mas isso, frente aos desastres provocados pelo terremoto, parece ser café pequeno.

repartiram a capital em setores, tudo era indiscutivelmente

pior. Os sequestros foram reduzidos de 327 mensais, em 2004,

para cerca de 20 ao ano.

“Realmente, a missão liderada pelo Brasil, nesses mais

de cinco anos, conseguiu cumprir questões mais relevantes,

que são a provisão de estabilidade e de condições mínimas

de segurança pública”, diz Antonio Jorge Ramalho, professor

de Relações Internacionais da Universide de Brasília (UnB).

Ramalho, que morou em Porto Príncipe entre 2007 e 2008,

acha que o Exército do Brasil, nesse sentido, “conseguiu medir

o uso da força sem reagir com violência, usando-a dentro das

regras de engajamento estabelecidas”, o que se constituiu em

um diferencial em relação a militares de outros países. “Era a

primeira vez que haitianos viam soldados construírem algo,

distribuir alimentos, brincar com crianças.

TEMPO E ORDEMAgora, quem olha para Porto Príncipe, seja pela TV, seja a olho

nu, não deixa de refl etir sobre o retrocesso que o processo de

recuperação implicará ao de estabilização. “Embora o terre-

moto tenha destruído muita coisa, não se vai sair do zero,

pois a Minustah promoveu uma coordenação maior, mais

troca de informações, e permitiu ao governo haitiano fazer

um projeto. Agora, será preciso revisitá-lo”, diz Ramalho.

Para um assessor europeu de Anabi, o maior desafi o será

a velocidade da recuperação. “Não há dúvida de que tivemos

avanços no processo de estabilização, mas, em cinco anos,

não tínhamos chegado nem à metade do necessário”, diz.

Com o terremoto ainda fresco, e apesar da comoção e dos

acenos de ajuda de todo o globo, os organizadores não tinham

tempo de fazer estimativas, nem de ser otimistas: apenas

de reagir. Uma semana depois do terremoto, com tropas de

reforço desembarcando no país, a ONU ainda não sabia como

organizar um sistema de ajuda que garantisse ao menos

que água e alimentos chegassem aos mais necessitados. “E

vamos ver se essa comoção internacional poderá se conver-

ter em uma colaboração efetiva”, questiona um alto ofi cial

chileno da missão. “Antes do terremoto, o país já era a maior

reunião de ONGs de direitos humanos e ajuda humanitária

que conheci, com mais de 400 delas”, afi rma, questionando

o valor de uma ação tão fragmentada, sobretudo ao atrair

intituições que sequer possuíam registro ofi cial. “Em contra-

partida, há um cemitério de projetos de engenharia, em que

os planos do Programa das Nações Unidas para o Desenvol-

DEBATES HAITI

A ÂNSIA DA BUSCA ENTRE OS ESCOMBROS:

VÍTIMAS PODEM CHEGAR A 200 MIL

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Page 47: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 47

PORTO PRÍNCIPE ANTES DO

TERREMOTO: APESAR DO CERCO

MILITAR, PAÎS VIVIA EM RELATIVA

NORMALIDADE E CHEGOU A CRESCER

2% EM 2009, SEGUNDO A CEPAL

15%do PIB do Haiti foi o

quanto as perdas pelos furacões de 2008

custaram ao país

vimento (PNUD) são uma gota no deserto”, diz, apontando a

falta de foco em planos de infraestrutura no país, que pode

ter colaborado para a intensidade dos efeitos do terremoto.

Ramalho, da UnB, entretanto, defende que será um gran-

de equívoco deixar o calor das emoções contaminar o debate

e culpar a ONU e outras instituições pelos défi cits de infra-

estrutura no Haiti. “O fato de o Estado ser tão frágil difi culta

que ele cumpra suas responsabilidades, e muita gente olha

para a ONU como se ela tivesse que fazer o que o haitiano

não faz”, afi rma. Para o brasileiro, entretanto, “a única falha

da missão até agora foi deixar-se usar pelo governo haitiano,

que se exime de suas responsabilidades, alegando que o país

está ocupado. Há décadas as elites do país usam a presença

internacional como escudo”, diz. E, se essa distorção existe,

neste momento em que a ajuda internacional se fará cada vez

mais necessária, será ainda mais complexo corrigi-la.

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48 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

DIAGNÓSTICO RESERVADOO otimismo ressurge, mas ainda são muitos os riscos que rodeiam a economia norte-americana ANTONIO MARÍA DELGADO, DE MIAMI

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DEBATES ESTADOS UNIDOS

F rank Salvatierra ainda lembra

com desgosto o dia que lhe des-

pediram. O jovem executivo

de um pequeno banco da Flórida já

tinha visto vários de seus colegas se-

rem atingidos pelo rolo compressor da

crise. Sabia que lhe poderia acontecer o

mesmo, ante a rápida deterioração das

condições de negócios no país. Apesar

disso, não conseguiu conter o frio no

estômago quando seu chefe colocou a

mão sobre seu ombro e o chamou para

conversar. Sempre busca ser otimista

em situações como esta, mas vendo

como a situação estava e a difi culdade

com que se deparava para encontrar

um novo trabalho, era difícil manter a

esperança, diz Salvatierra.

Mas o que ele ainda não imaginava

é que essa situação duraria tanto tem-

po. Salvatierra já está desempregado há

quase um ano. Em setembro, quando

suas reservas se esgotaram, teve de

deixar de pagar a hipoteca, e, agora,

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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 49

espera apenas a ordem judicial para

sair da casa e ir, junto de sua mulher e

dois fi lhos, viver com algum familiar.

“É surpreendente como sua situação

pode mudar de um dia para outro”, diz.

“Passei de almoçar diariamente nos

melhores restaurantes da cidade a de-

pender da ajuda do governo para fazer

as compras do mês.”

O executivo é apenas um dos 3,5

milhões de norte-americanos que per-

deram seus postos de trabalho em meio

ao que se afi rma ter sido a pior crise

econômica desde a Grande Depressão.

E, mesmo quando a maior economia

mundial começa a dar sinais de estar

se nivelando, muitos economistas ad-

vertem que a recuperação marcha a

passo lento e por um caminho repleto

de perigos, minando a esperança de

Salvatierra de conseguir um emprego

no curto prazo.

Quão severos são esses riscos? Os

economistas não chegam a um acordo

sobre o tema. Os mais otimistas acham

que, se não houver novas surpresas

pela frente, o clima de negócios pode-

ria dar sinais de melhora na segun-

da metade do ano. Já os pessimistas

acham que os EUA estão à beira de um

período semelhante à Década Perdida

atravessada pelo Japão, e há até os que

afi rmam que a verdadeira crise ainda

nem começou.

PASSOS DE TARTARUGADavid Wyss, chefe dos economistas da

Standard & Poor’s, está no grupo dos

otimistas. Wyss afi rma que o processo

de recuperação já começou, mesmo ad-

mitindo que este ainda é frágil, avança

a passos de tartaruga e que poderia

ser eclipsado a qualquer momento por

algum evento negativo. Que tipo de

evento? Há um grupo óbvio deles, afi r-

ma. Um é o preço do petróleo. Um barril

a US$ 80 não é grande coisa; já a US$

150, patamar em que estava há um ano

e meio, seria sufi ciente para nos levar

de volta a uma recessão.

Outro risco, segundo Wyss, provém

do setor financeiro. Se, por exemplo,

colapsar outra instituição financeira

empresas, incluindo centenas de ban-

cos. Entre os sinais promissores, está o

anúncio de números que indicam que

o matadouro no mercado de trabalho

já começa a decair, além de uma reação

do PIB, com crescimento de 2,2% no ter-

ceiro trimestre de 2009, de acordo com

o último dado anunciado e pequenas

amostras de que o consumidor, que,

nos últimos dois anos a única coisa

que fez foi consumir as próprias unhas,

começa a recobrar o ânimo para abrir

a carteira.

Estima-se que o crescimento do PIB

no terceiro trimestre, em parte atribu-

ído ao programa de estímulo imple-

mentado pela Casa Branca, tenha sido

acompanhado de outro bom percen-

tual para o quarto trimestre, de mais

de 3%, segundo prognósticos de alguns

economistas, o que permitiria à econo-

mia cumprir o requisito informal para

declarar o fi nal da recessão.

E tais expectativas já levam um

signifi cativo número de economistas

a pedir que a Casa Branca e o FED, que,

nos últimos anos, mantiveram as taxas

de juros em níveis baixos, comecem a

aplicar freio às medidas de estímulo,

temendo a volta da infl ação e um ex-

cesso de liquidez que fomente a criação

de grande porte, ou se se produzir um

grande default, talvez no lado das emis-

sões soberanas, isso poderia congelar

os mercados fi nanceiros e nos levar de

novo à lona. E também existe o risco po-

lítico, como a possibilidade de um novo

confl ito no Oriente Médio, uma guerra

comercial ou uma intensificação da

crise orçamentária em nível estatal

nos EUA. Enfi m, qualquer evento que

poderia ser assimilado pela economia

sob condições normais, mas que agora,

dada a sua fragilidade, poderia levar o

país de volta a uma recessão.

Para Kenneth Goldstein, economis-

ta do grupo empresarial The Conference

Board, o risco continua aí, apesar de ser

menor do que o que enfrentávamos há

um ou dois meses. É como um paciente

que acaba de sair da sala de cirurgia:

apesar de não estar totalmente fora de

perigo, a cada dia se reduzem os riscos

de que sofra uma recaída.

Goldstein acrescenta que as últi-

mas projeções econômicas divulgadas

apoiam a teoria de que a tormenta fi -

cou para trás. Esta provocou mais de

15 meses consecutivos de contração

econômica, ocasionando perdas patri-

moniais estimadas em US$ 11 trilhões,

causando o fechamento de milhares de

3%ou mais de

crescimento no quarto trimestre

permitiria declarar o fi m da recessão

nos EUA

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50 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

de outra bolha como a imobiliária, que

desatou a crise. Outros, por sua vez,

pensam que o governo não deve dar

ouvido a essas opiniões. “Isso seria re-

petir os erros cometidos na Grande De-

pressão, quando se pensava que tudo

já havia terminado e se começou a ele-

var as taxas de juros, provocando uma

recessão mais profunda”, diz Michael

Intriligator, professor de Economia da

Universidade de Califórnia (Ucla), em

Los Angeles. “Apesar de isso ter acon-

tecido há mais de 70 anos, continua

sendo um risco.”

Paul Krugman compartilha da

mesma opinião do professor de Econo-

mia. Em uma coluna publicada recen-

temente, o Prêmio Nobel de Economia

advertiu que as recessões costumam

registrar breves momentos de recupe-

ração, que acabam sendo apenas ilu-

sões estatísticas, provocadas por uma

leve recuperação do nível de estoque.

Quando as economias se estancam,

explica Krugman, as companhias se

encontram com um grande estoque e

cortam a produção para poder escoar

a quantidade de produtos sem ven-

der. Uma vez que estes se esgotam, as

companhias retomam a produção, o

que pode se refl etir em um forte cresci-

mento do PIB.

Infelizmente, o crescimento provo-

cado pela recuperação de um nível ade-

quado de estoque acontece apenas uma

vez, salvo se as fontes fundamentais de

demanda, como o gasto do consumidor

e os investimentos de longo prazo, me-

lhorarem, afi rmou Krugman.

LONGO CAMINHO?Intriligator acha que o gasto do con-

sumidor, particularmente em um mo-

mento em que o desemprego ronda

os 10%, ainda não é suficiente para

justificar o otimismo do presidente

Obama, do presidente do Federal Re-

serve (FED), Ben Bernanke, e do diretor

do Conselho Nacional de Economia,

Lawrence Summers.

“Eles estão tentando restaurar a

confi ança das pessoas, defender seu

trabalho, mas, na verdade, nesse sen-

tido a situação está piorando”, diz In-

triligator, que prognostica que a reces-

são poderia durar mais três anos. “Os

EUA estão atravessando um processo

semelhante ao que o Japão passou du-

rante a denominada Década Perdida,

nos anos 1990, quando a economia se

desacelerou e se manteve estancada

por muitos anos.”

Esse tipo de estancamento, em que

até se poderia registrar algum cresci-

mento, ainda que ínfi mo, seria fruto

da alta taxa de desocupação e do

impacto deste sobre a demanda

interna, que, por sua vez, alimen-

ta mais de dois terços da eco-

nomia nacional, característica

que diferencia os EUA de países

como Índia e China, onde as

exportações, e não o consumo

interno, são o principal motor

da atividade econômica.

10%de desemprego nos

EUA ainda é um índice alto para justifi car

qualquer otimismo

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Os economistas também demons-

tram preocupação com a crise fiscal

que a maioria dos estados está sofren-

do. Se esta se agravar, as coisas podem

se complicar ainda mais, já que os esta-

dos se veriam obrigados a aprofundar

os cortes na prestação de serviços que

oferecem, acentuando o desemprego.

Peter David Schiff, presidente da

corretora Euro Pacifi c Capital, acha que

a situação, na verdade, é bem pior que

a descrita por Intriligator, já que, a esse

cenário sensível, ainda é preciso somar

o risco da alta dependência do país do

fi nanciamento externo e a possibilida-

de de que os investidores estrangeiros

incluindo os de China, Japão e vários

outros países percam a confi ança na

capacidade de pagamento dos EUA.

DEBATES ESTADOS UNIDOS

BARACK OBAMA: JUNTO DE

BEN BERNANKE, DO FED, BUSCA

RESTAURAR A CONFIANÇA DO

NORTE-AMERICANO

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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 51

tir a história de Indonésia, Coreia, Hong

Kong, Tailândia e Filipinas, durante a

crise asiática; muitos ainda mantêm a

aposta de que a recuperação econômica

fi nalmente começa a tomar forma.

Entretanto, ainda os mais otimistas

admitem que mesmo com o melhor dos

cenários, o caminho a seguir continua-

rá sendo duro e levará tempo para que

a economia consiga eliminar todos os

desequilíbrios que conduziram à crise.

“Estamos sob observação médica,

e temos um longo período de restabe-

lecimento pela frente”, diz Goldstein.

“Quando se sofre um problema cardía-

co dessa magnitude, não se pode acre-

ditar na possibilidade de jogar tênis

dois dias depois.”

“O problema é que grande parte do

que consideramos crescimento econô-

mico, neste país, na realidade não o foi”,

diz Schiff, que ganhou notoriedade nos

EUA por ser um dos poucos economis-

tas a advertir, durante a época de auge,

que a economia norte-americana se

dirigia a uma crise. “Nós simplesmente

gastamos dinheiro que não tínhamos

e pedimos muito dinheiro emprestado

para fazê-lo. E, eventualmente, tudo

isso tem de colapsar, porque não se po-

de ter uma economia sadia construída

sobre esse tipo de consumo.”

COLAPSO MONETÁRIO“Há um limite sobre a quantidade de

dinheiro que podemos pedir empresta-

do, particularmente quando não se po-

de pagar. Também há um limite sobre

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ESTÍMULO AO CONSUMO: PEÇA-CHAVE

NA RECUPERAÇÃO DA ECONOMIAa quantidade de dinheiro que o mundo

vai nos emprestar por causa do mesmo

motivo, é como uma economia de bo-

lha, é uma economia artifi cial e o que o

governo está tratando de fazer é evitar

que esta desinfl e; está tratando de so-

prar mais ar para dentro”, diz Schiff.

Nesse cenário, que Schiff acha que

poderia acontecer em qualquer momen-

to, nos próximos dois anos, a crise viria

por meio de um ataque sobre o dólar. A

moeda começaria a se desvalorizar, e o

que inicialmente poderia se apresentar

como um retrocesso ordenado do dólar,

eventualmente se converteria em uma

queda desordenada, que conduziria ao

pânico e ao colapso fi nanceiro.

Dito isso, é preciso ressaltar que, ho-

je, são poucos os que concordam que os

Estados Unidos estão próximos de repe-

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Page 52: Nº 384 Edição Brasil

52 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

OPINIÃO

COMÉRCIO NON GRATO

SUSAN KAUFMAN PURCELL é diretora do Centro de Política Hemisférica da Universidade de Miami

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raçã

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A o que tudo indica, 2010 não é um bom ano, nos

Estados Unidos, para se falar de livre-comércio com

a América Latina. Em primeiro lugar, as taxas de

desemprego continuam muito altas no país, acima de 10%,

e o livre-comércio é visto por muitos como redução de postos

de trabalho – pelo risco de estimular empresas norte-ameri-

canas a se realocar no exterior ou permitir que importações

de baixo custo ameacem a sobrevivência dessas. Em segundo

lugar, o Partido Democrata, do presiden-

te Barack Obama, é muito dependente

do apoio sindical, e essas organizações

já deixaram claro que se opõem a novos

tratados de livre-comércio. Em terceiro

lugar – e talvez mais importante –, está

o fato de que 2010 é ano de eleições legis-

lativas. Pesquisas já indicam a possibilidade de os democra-

tas perderem um número signifi cativo de cadeiras, tanto na

Câmara quanto no Senado. Isso já começa a ser comprovado.

O republicano Scott Brown derrotou a democrata Martha

Coakley na eleição especial realizada recentemente, no esta-

do de Massachusetts, para substituir o senador Ted Kennedy,

morto no ano passado.

Com isso, o partido de Barack Obama perde o domínio

no Senado. O crescimento econômico acelerado da China

também contribuiu para a intensifi cação de sentimentos

antilivre-comércio nos EUA. Há uma forte percepção, entre

muitos americanos, de que a China concorre de forma desleal

na economia global, mantendo sua moeda desvalorizada pa-

ra inundar o mercado com exportações baratas. Esse coquetel

desestimulará o Congresso dos EUA a considerar a aprovação

de acordos pendentes com a Colômbia e o Panamá ainda nes-

te ano. Por outro lado, se houvesse uma chance de progredir

em direção a um acordo de livre-comércio com o Brasil, maior

economia da América Latina, o ponto pacífi co de que 2010

será ruim para o comércio perderia validade.

O fato é que tampouco o Brasil se mostra favorável a um

acordo comercial com os EUA. Ao contrário, demonstrou resis-

tência à criação da Área de Livre-comércio das Américas (Alca),

ainda na Presidência de George W. Bush. Mais recentemente,

o país tem demonstrado maior interesse em expandir suas re-

lações comerciais com nações como a China, que tirou o lugar

dos EUA como mercado mais importante para o Brasil.

No entanto, existem alguns sinais de que o país sul-ame-

ricano pode reavaliar sua posição, principalmente por causa

de algumas tendências preocupantes em seu comércio inter-

nacional. Dados recentemente divulgados mostraram uma

queda preocupante, de 22,2%, nas exportações brasileiras. As

vendas externas de produtos manufaturados registraram um

declínio ainda maior, de 27,3%. As exportações para os EUA,

que têm sido o maior mercado para manufaturados brasileiros,

caíram alarmantes 42%. A principal razão para esse declínio

foi a recessão nos EUA. Mas o Brasil também foi prejudicado

pela valorização de 34% de sua moeda frente ao dólar.

Já as vendas do Brasil para a China cresceram 23%. O

problema, entretanto, é que a China comprou principal-

mente minério de ferro e soja, agravando uma tendência à

concentração das exportações em commodities. Em 2009,

de acordo com a Associação Brasileira

de Comércio Exterior, apenas 15% das

exportações do Brasil foram de manu-

faturados com valor agregado, contra

70% de commodities.

O secretário de Comércio Exterior

do Brasil, Welber Barral, prometeu que,

em 2010, o país “investirá fortemente nos EUA”. Ele acrescentou

que, como parte dessa estratégia, o governo irá considerar um

acordo de investimento e de comércio bilateral com o país.

Os EUA teriam muito a ganhar ao responder positiva-

mente a qualquer esforço brasileiro nesse sentido. Por exem-

plo, apesar da queda nas exportações do Brasil para os Esta-

dos Unidos no ano passado, este se manteve como a principal

fonte de importações do Brasil. Na verdade, o superávit co-

mercial dos EUA com o Brasil aumentou, entre 2008 e 2009, de

US$ 1,8 bilhão para US$ 4,4 bilhões. Um progresso em direção

a um comércio mais livre entre o Brasil, um dos países mais

dinâmicos das economias emergentes, e os EUA, a maior

economia de mercado industrializada, promete ser vantajoso

para ambos os países, durante estes tempos difíceis.

Um comércio mais livre entre Brasil e EUA promete ser vantajoso

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54 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

NOVO NO BAIRROPresidente eleito do Chile promete menos política multilateral e mais acordos entre vizinhos

JUAN PABLO RIOSECO, DE SANTIAGO

PIÑERA: POLÍTICA EXTERIOR

FOCADA NA RELAÇÃO COM PERU,

BOLÍVIA E ARGENTINA

O primeiro compromisso inter-

nacional do empresário Sebas-

tián Piñera como futuro presi-

dente do Chile já está agendado: dia 21

de fevereiro ele participará, a convite

da presidente Michelle Bachelet, da

cúpula do Grupo do Rio, na Cidade do

México. De 2010 a 2012, o Chile deverá

assumir a presidência temporária da

organização, o que justifi ca a presença

do novo mandatário no evento.

Observadores internacionais aguar-

dam com curiosidade o primeiro en-

contro de Piñera com os líderes latino-

americanos. Dada a atual fragmentação

ideológica na América Latina, analistas

apostam que este não é o momento mais

propício para a reestreia internacional

da direita chilena, depois de 52 anos sem

ganhar uma eleição presidencial.

A equipe de assessores que, desde

o ano passado, se dedica a elaborar as

linhas da política internacional do go-

verno de Piñera reconhece esse risco

e já determinou a estratégia para os

próximos quatro anos quando o tema

for os países latino-americanos. “O foco

central estará nos três países limítro-

fes: Argentina, Bolívia e Peru”, diz um

dos principais assessores internacio-

nais do novo presidente, que pediu para

não ser identifi cado. A aposta de Piñera

não deixa de surpreender, já que essa

relação é um dos grandes temas pen-

dentes do Chile. Desde a redemocra-

tização, o país demonstrou inserir-se

exitosamente na economia global, mas

até agora não conquistou relações de

confi ança com seus três vizinhos.

Nos últimos anos, o maior avanço

que o Chile conseguiu foi com o Peru.

E parece que isso não mudará. O presi-

dente Alan García foi o primeiro man-

datário estrangeiro a felicitá-lo pela

vitória. As relações comerciais entre as

duas nações se intensifi caram. Entre-

tanto, a demanda que tramita na Corte

Internacional de Haya, lançada pelo

Peru, sobre o limite marítimo entre os

países – e cuja resolução poderá ser co-

nhecida no fi nal do governo de Piñera

–, bem como as eleições presidenciais

no país, em 2011, “poderá dar fi m ao

discurso de boas intenções e ressuscitar

velhas rixas”, diz Rodrigo Álvarez, ana-

lista da Faculdade Latino-americana de

Ciências Sociais (Flacso).

Quanto à Bolívia, apesar das aparen-

tes diferenças entre Evo Morales e Piñe-

ra, “não acho que haverá um rechaço

ideológico”, diz Juan Emilio Cheyre, ex-

comandante do Exército do Chile e dire-

tor do Centro de Estudos Internacionais

da Universidade Católica. “Ao contrário,

a legitimidade, tanto de Morales quanto

de Piñera, faz com que ambos tenham

poder para articular uma política inteli-

gente”, afi rma.

Entre os três vizinhos do Chile, en-

tretanto, será a Argentina o país que

demandará mais tempo de Piñera.

Apesar de ele se sentir politicamente

DEBATES CHILE

Foto

: Migu

el Ca

ndia

mais próximo de líderes da oposição,

como Mauricio Macri, a reativação do

diálogo com a Argentina está dentro

das prioridades do novo presidente. E a

integração energética é um dos primei-

ros temas da agenda.

MARCAR POSIÇÃOSeja como for seu desempenho com

seus vizinhos diretos, o governo de

Piñera tampouco poderá esquecer o

restante da região. O novo presidente

já deixou claro que acha as políticas

multilaterais inefi cazes e sobrepostas.

“O Chile participará, mas não impul-

sionará organizações como o Unasul”,

diz o assessor de Piñera. E, ainda que ele

tenha demonstrado ser pragmático e

aberto em diferentes aspectos, é possí-

AE 384 CHILE 2AE 384 CHILE 2 1/21/10 11:44:26 PM1/21/10 11:44:26 PM

Page 55: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 55

QUEM É SEBASTIÁN PIÑERA

60 anos de idade

Militante do partido Renovação Nacional, ligado à coligação Aliança por Chile, de centro-direita

Formado em Economia pela Universidade do Chile; com mestrado e doutorado na Universidade de Harvard, EUA

Casado com Cecilia Morel, comquem tem quatro fi lhos

Patrimônio de US$ 1 bilhão, segundo a revista Forbes

Acionista do canal de TV Chilevisión, da companhia aérea LAN Chile (participação que prometeu vender antes de tomar posse, em março), e da equipe de futebol Colo Colo

Eleito com 51,8% dos votos, em segundo turno disputado com Eduardo Frei, candidato da situação

vel que tome posições agressivas com

Chávez e seus aliados. “Na direita chile-

na, diferentemente da Concertação, não

há nenhuma simpatia para com ele”, diz

Peter Hakim, presidente do think tank

Diálogo Interamericano, em Washing-

ton. E ele já demonstrou isso dias depois

de ser eleito, ao fazer a primeira crítica

pública à forma como Chávez “pratica a

democracia e seu modelo econômico”.

Paz Milet, professora de Relações

Internacionais da Universidade do Chi-

le, lembra, entretanto, que “na prática,

Piñera quer ver a região como dois blo-

cos, mas há países que fl utuam entre

eles”, destacando a importância de “de-

fi nir qual tipo de vínculo ele escolhe-

rá ter com o Brasil”. Até agora, não se

ouviu muito de Piñera sobre o tema. “O

Brasil é fundamental, não somente por

ser um amigo tradicional, mas porque

está se transformando em uma potên-

cia mundial”, limitou-se a dizer em um

evento realizado no fi nal de 2009.

“A potência econômica do Brasil

é incontestável”, diz Alvarez, da Flac-

so. “Mas é preciso saber como Piñera

quer articular sua posição em relação

à política exterior do Brasil, à visão

desse gigante sobre pontos confl ituosos

no mundo, como o papel dos EUA na

região”, afirma, indicando que, tanto

quanto sua reação a posições extremis-

tas, serão os sinais do governo de Piñera

aos passos de países como o Brasil os

que contarão na hora de avaliar, num

espectro macro, a ação internacional do

novo presidente.

AE 384 CHILE 3AE 384 CHILE 3 1/21/10 11:44:40 PM1/21/10 11:44:40 PM

Page 56: Nº 384 Edição Brasil

56 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

DEMOCRACIA À ESPERAGoverno de Felipe Calderón apresenta projeto de reforma política com pontos que o país discute há um século

DAVID SANTA CRUZ,

DA CIDADE DO MÉXICO

E m 1910, quando as eleições no

México eram consideradas de-

corativas, e o país vivia a di-

tadura de Porfi rio Díaz, o empresário

Francisco I. Madero convocou a popu-

lação mexicana à luta armada, sob o

lema “Nunca mais governos perpétuos

e cidadãos oprimidos; sufrágio efetivo,

não à reeleição”. Durante décadas, os

documentos ofi ciais do governo leva-

ram a insígnia da não reeleição nos pés

de página.

Hoje, 100 anos depois, essa herança

da Revolução Mexicana é um dos te-

mas mais polêmicos dentro do projeto

de reforma política apresentado por

Calderón em dezembro passado e que

inclui, entre outros pontos (ver quadro),

a adoção do sistema de segundo turno

para eleições presidenciais. Em linhas

DEBATES MÉXICO

Foto

: Oria

na El

icabe

/AFP

1 2 4 5Permitir a reeleição de prefeitos e demais representantes, como chefes de delegações, por até 12 anos.

Permitir a reeleição de parlamentares federais por um período máximo de 12 anos. 3

Reduzir o número de senadores de 128 para 96 e de deputados federais de 500 para 400.

Aumentar de 2% para 4% o mínimo de votos para que um partido mantenha seu registro.

Criar a fi gura da “iniciativa cidadã”, para que a sociedade civil proponhaprojetos de lei.

OS 10 PONTOS DA REFORMA POLÍTICA

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Page 57: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 57

REFORMA DO SISTEMA POLÍTICO

MEXICANO INCLUI A POSSIBILIDADE

DE SEGUNDO TURNO PRESIDENCIAL

gerais, alguns itens buscam levar mais

flexibilidade às estruturas de poder

do país. Mesmo assim, analistas são

unânimes em apontar que tal salto

dependerá da maturidade e da visão de

longo prazo dos três principais partidos

do país, o Partido Revolucionário Insti-

tucional (PRI), o da Ação Nacional (PAN)

e o da Revolução Democrática (PRD).

PATERNIDADE EM DISPUTAA reforma do Estado e do sistema po-

lítico do México é um tema de longa

data. A série de mudanças e adendos à

Constituição de 1917 ainda não garan-

tiu a possibilidade de avançar na cons-

trução de maiorias estáveis e dar mais

ferramentas de controle ao cidadão.

Assim, chegar hoje à reforma signifi ca

atravessar um labirinto de egos feridos

pelo desgaste do tempo.

Como costuma acontecer, não são

poucos os que disputam a paternida-

de de uma criança tão importante. A

oposição, por exemplo, considera “pre-

tencioso” atribuir a iniciativa apenas

ao presidente Calderón, a quem acusa

de descartar todas as análises e suges-

tões sobre o tema apresentadas ante-

riormente. A comissão que estudou o

projeto recebeu 6.188 propostas de par-

tidos políticos, ONGs e universidades,

reunidas em um documento. “Mas a ad-

ministração de Calderón ignorou nosso

trabalho”, diz Alberto Aguilar Iñárritu,

que trabalhou como secretário técnico

da Comissão Executiva para a Reforma

do Estado (Cenca), formada por decreto

presidencial em 2007.

Seja como for, para o senador Tomas

Torres, do PRD, de esquerda, “não se de-

ve ter muitas expectativas de que isso

modifi que a estrutura de poder no Mé-

xico”, diz, pois “nenhuma reforma será

sufi ciente até que se eliminem as estru-

turas de poder vigentes – sindicais, de

monopólio e meios de comunicação –,

criadas durante o governo do PRI”.

Já Manlio Fabio Beltrones, líder da

bancada do PRI no Senado, defendeu

que se deveria pensar em modifi cações

no texto, como introduzir a fi gura do

referendo, a revogação do mandato pre-

sidencial e a ratifi cação dos membros

do gabinete pelo Senado.

Mas o problema apontado por mui-

tos analistas é o de timing. Para o Mé-

xico, hoje, o ponto mais importante é a

geração de emprego. Alguns analistas

ainda apontam a iniciativa de Calderón

como um golpe publicitário, por não ter

buscado consenso prévio entre os par-

tidos, além de contar com pontos que

concedem mais poder ao Executivo.

De qualquer forma, apesar de es-

ses cadeados terem sido impostos no

passado para frear o coronelismo e as

ditaduras, em 2010, permitir a reeleição

evitaria que o futuro político de legisla-

dores e prefeitos dependesse de quem

elaborar a lista de candidatos. Alejan-

dro Zapata Perogordo, senador do PAN,

acha que, nesse sentido quem mostra-

ria maior resistência é o PRI – partido

que em 1933 impôs a não reeleição para

legisladores para, dessa forma, poder

repartir o poder político e controlar os

diversos poderes que o compunham.

Hoje, o dissenso dos partidos e uma

indiferença da sociedade levariam ao

risco de que a esperança inicial gerada

pelo projeto se transformasse em uma

mera carta de boas intenções com a

oposição denunciando que o Governo

Federal pretende culpá-la pelo fracasso

dessa iniciativa ou levar a medalha de

ouro por tal conquista. Ninguém disse

que melhorar a democracia seria fácil.

Ainda mais se se trata da complexa

democracia mexicana.

6 8 9 10Incorporar a candi-datura independente para qualquer cargo público que se submeta a eleições.

Permitir que a Supre-ma Corte de Justiça apresente projetos de lei relacionados à sua competência.

Permitir ao Poder Executivo apresentar iniciativas de lei prioritárias.

Permitir ao Executivo vetos parciais ou to-tais em projetos apro-vados no Congresso e ao Orçamento.7

Fixar segundo turno para eleições presidenciais, se um candidato não tiver mais da metade dos votos.

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Page 58: Nº 384 Edição Brasil

58 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

RAIO X

SEDE DE RECURSOSGoverno de Chávez vive o desafi o da queda da arrecadação do petróleo

A US$ 70 o barril, o preço internacional do petróleo

ainda se encontra em níveis historicamente altos,

mas não o sufi ciente para saciar o voraz apetite do

governo venezuelano, situação que pressagia um difícil cená-

rio fi scal para o presidente Hugo Chávez em 2010.

Isso porque o país se encontra em uma grave crise econô-

mica, e o que mais o governo da Venezuela precisaria neste

momento “é conter gastos e encontrar uma boa forma de ad-

ministrar o orçamento com a queda do preço do petróleo”, diz

Roberto Sifón Arevalo, analista da Standard & Poor’s.

A alternativa escolhida por Chávez, entretanto, foi des-

valorizar a moeda, desmembrando-a em duas. Pela cotação

ofi cial, o bolívar forte saltou de 2,15 por dólar para 2,60 para

a importação de bens essenciais de consumo. E há o bolívar

para a aquisição de bens supérfl uos – entre os quais estão

automóveis e produtos eletrônicos –, que passou a ser cota-

do a 4,30 por dólar.

A medida da desvalorização favorece diretamente a es-

tatal Petróleo de Venezuela (PDVSA). Estrela de um país que

concentra suas exportações no petróleo, a PDVSA é geradora

de 95% das divisas que entram na Venezuela, bem como os

cofres do Estado, já que a desvalorização reduziria seus cus-

tos em bolívares. Tais custos têm registrado altas constantes

frente ao forte aumento da infl ação no país e à falta de fl exi-

bilidade do câmbio ofi cial.

Dessa forma, Chávez busca ganhar tempo. Em teoria, seria

imprescindível cortar despesas, mas a queda da popularidade

do presidente e o clima de campanha eleitoral, com eleições

parlamentares no segundo semestre, indicam que a proba-

bilidade de que isso aconteça é baixa. “O governo enfrentará

fortes pressões para aumentar o gasto, e não reduzi-lo”, diz

Maikel Bello, economista sênior da consultoria venezuelana

Ecoanalitica. “As eleições determinarão se o governo garanti-

rá ou não maioria no Congresso.”

Ainda há uma terceira opção para o presidente, que envolve

um maior endividamento, ferramenta que o governo boliva-

riano usou amplamente para sobrelevar as pressões fi scais que

sofreu em 2009. O endividamento interno cresceu de US$ 10

bilhões em 2008 a US$ 14 bilhões em dezembro de 2009, e ana-

listas estimam que essa tendência continuará em 2010.

Não fosse o bastante, o país tenta absorver outra onda

de fechamento de bancos. Em janeiro, foram três, que se

somam à intervenção, em dezembro, de outros oito bancos

pequenos e médios – destes dois foram liquidados e quatro,

estatizados, sob alegação de insolvência ou irregularidades

na origem dos fundos.

DADOS MACROECONÔMICOSDA VENEZUELA

Fontes FMI, Banco Mundial.

POPULAÇÃO (milhões) 25,40 25,90 26,40 27,00 27,50 28,10 28,60

PIB (US$ milhões) 83.442,00 112.800,00 144.128,00 184.251,00 227.753,00 319.443,00 353.469,00

BALANÇO DE CONTA CORRENTE (US$ milhões) 11,80 15,50 25,50 27,20 20,00 39,20 6,40

PIB PER CAPITA (US$) 3.285,10 4.353,50 5.453,20 6.834,20 8.281,00 11.388,30 12.354,30

DESEMPREGO (%) 18,00 15,30 12,20 9,70 8,50 7,40 −

INFLAÇÃO (%) 27,10 19,20 14,40 17,00 22,50 30,90 28,00

SALDO COMERCIAL (US$ milhões) 16.747,00 22.647,00 31.708,00 32.712,00 23.702,00 42.100,00 −

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009(e)

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ANTONIO MARÍA DELGADO, DE MIAMI

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Page 59: Nº 384 Edição Brasil

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Page 60: Nº 384 Edição Brasil

EXÉRCITO SILENCIOSO

Mercado de turismo de negócios cresce a passos grandes

FABIO STEINBERG, DE SÃO PAULO

ESPECIAL VIAGENS A NEGÓCIOS

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Page 61: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 61

U m exército formado de gente que não se conhece e

sequer sabe que atua na mesma causa ocupa em

média 70% dos assentos dos aviões e dos quartos

de hotéis e movimenta uma cadeia de valor que une mais

de 50 segmentos econômicos. Trata-se do setor de viagens

de negócios, que em 2008 gerou uma renda estimada em

US$ 928 bilhões, dos quais US$ 34 bilhões na América La-

tina e US$ 20 bilhões somente no Brasil (9º maior mercado

mundial), segundo estudo do consultor Ken McGill, da

IHS Global Insight. Viajante de negócios é uma expressão

que engloba uma variada gama: executivos e estagiários,

técnicos, consultores, profi ssionais liberais e prestadores

de serviços, entre outros profi ssionais. Em comum, todos

se locomovem a serviço. Ou seja, o percurso é pago pela

empresa – da megacorporação ao micronegócio.

Esse grupo poderoso não mobiliza apenas a clássica

trilogia agência de viagens/companhia aérea/hotel e

respectivos fornecedores – entre telefonia, alimentação,

sistemas de reservas e demais prestadores de serviços. Ele

também promove um impacto positivo sobre uma vasta

rede de itens como aluguel de carros ou táxi; infraestru-

tura aeroportuária; seguro de saúde e de vida, vestuário e

equipamentos de viagem; celulares, notebooks e câmeras

fotográfi cas; serviços de tradução, livros e jornais; cartões

de crédito e refeições rápidas; empresas de eventos e lojas

duty free etc. Com tanto movimento, não surpreende a

acirrada disputa por conquistar viajantes e suas empresas,

que querem se defender dos gastos supérfl uos. “Viagens de

negócios são o terceiro maior custo de uma empresa, logo

depois de salários e tecnologia da informação”, diz Francis-

co Leme, presidente da Favecc, associação que congrega 25

das maiores agências de viagens corporativas brasileiras.

Nem sempre foi assim. Quando a economia não era

globalizada, a internet restringia-se ao mundo acadêmico

e mobilidade nas comunicações era conceito futurista, via-

jar a trabalho se traduzia num ato elegante e raro, restrito

a poucos. A preparação

para uma viagem de

negócios não passava

de rotina relegada às

secretárias, que trans-

mitiam os requisitos

do chefe à agência,

certamente escolhida

não por concorrência,

como hoje, mas por-

que provavelmente o

gerente era primo da

mulher do diretor da empresa. Eram épocas românticas,

onde terno e fl euma ajudavam a encarar o esnobismo dos

passageiros de primeira classe. Esse modelo não resistiu às

pressões de consumidores cansados de pagar por produtos

caros como resultado desse tipo de luxo corporativo.

20bilhões de dólares

é o quanto as viagens a negócios

movimentam no Brasil

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Page 62: Nº 384 Edição Brasil

ESPECIAL VIAGENS A NEGÓCIOS

A partir dos anos 70, inicialmente nos Estados Unidos,

a popularização das viagens de negócios fez surgir agên-

cias especializadas nesse público com necessidades tão

diferentes das do viajante de lazer. Aí nasceu o protótipo

do que mais tarde ganhou o nome de TMC (travel manage-

ment company). Na prática, as ex-agências tiveram de se

reinventar, diante da nova realidade de custos e agilidade,

deixando de lado a intermediação para assumir a função

de consultoria. Simples troca de nomenclatura? Não.

Entre outros fatores, isso signifi cou também que as então

chamadas contas corporativas deixaram de ser remune-

radas por comissão, paga pela companhia aérea ou hotel, e

passaram a receber fees da empresa compradora. No Brasil

de hoje, as não mais de 30 TMCs em um universo de 13 mil

agências movimentam quase US$ 5 bilhões, o que repre-

senta 90% de toda a renda do segmento de viagens no país.

Em paralelo, surgiu uma parafernália de ferramentas ge-

renciais, acordos operacionais e processos voltados a obter

economia de escala e controle sobre despesas.

DE TUDO UM POUCOAlém da constelação de atividades envolvidas a partir da

hora em que um profi ssional coloca os pés fora da empre-

sa, hoje, viagem de negócios é um termo genérico, que ser-

ve para tudo: reuniões com clientes, convenções, expan-

são de mercados, treinamento de vendas, atualização de

tecnologias, manutenção de equipamentos, entre outros.

Na falta de melhor explicação, vamos convencionar que a

expressão defi ne qualquer gasto externo realizado por um

empregado a serviço da empresa, desde que legítimo.

Aqui entra em cena o protagonista que deu agilidade

ao processo: o cartão de crédito empresarial, meio de

pagamento que aposentou o dinheiro, com inúmeras

vantagens como eliminar adiantamentos para viagem,

o rastreamento das despesas realizadas e a defi nição pela

empresa de parâmetros de valores e estabelecimentos

autorizados. Mas faltou avisar à maioria das empresas da

região suas vantagens. “Somente um entre quatro fun-

cionários porta esse tipo de cartão”, afi rma o especialista

Walter Teixeira, da TX Consultoria. Nesse caleidoscópio de

atividades e pagamentos frenéticos em velocidade e vo-

lume, brota, enfi m, a carreira já existente em economias

maduras e em plena ascensão nas demais partes do mun-

do: o “travel manager”, ou gestor de viagens. É ele quem

administra e controla as políticas da empresa, adaptadas

à cultura da empresa e que atendam à adequada relação

custo-benefício. Por exemplo, ele defi ne qual a categoria de

hotel que a empresa está disposta a reembolsar para alo-

jar um diretor, ou se pode consumir vinho nas refeições.

Ou se um funcionário menos graduado está autorizado

a comprar um guarda-chuva ao enfrentar um temporal

durante a viagem.

25%dos viajantes

a negócios têm cartão de crédito

empresarial

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Page 63: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 63

EQUILÍBRIOUma boa gestão de viagens de negócios, segundo especia-

listas, só traz benefícios. Pela sua importância econômica,

poderia ganhar mais atenção das empresas, fornecedores,

players e governos. A própria função do gestor é, em geral,

restrita às multinacionais. “Democratizando essa ativida-

de, todos só têm a ganhar”, responde Vivianne Martins,

presidente da ABGEV, que reúne os gestores de viagens

brasileiros, e da Academia de Viagens Corporativas.

Ela tem razão. Em primeiro lugar, ganham as empre-

sas. A vasta maioria, em especial as pequenas e médias,

ao ignorar os benefícios dessa atividade, deixa de reduzir

custos e operar de forma mais produtiva. Além de bons

acordos fi nanceiros, essa prática permite um sofi sticado

controle do desperdício: reembolsos de gastos não efetua-

dos, trechos de bilhetes não voados, hotéis pré-pagos não

utilizados, entre outras ações. Em segundo lugar, ganha

o viajante, que sai de casa para jornadas quase sempre

solitárias, em locais desconhecidos. Ele precisa de infor-

mações de qualidade e atualizações sobre as melhores

ferramentas de trabalho e quesitos de segurança nos des-

tinos. Terceiro, os fornecedores também lucram. Como

nem todos se integraram ao universo de viagens de

negócios, deixam de oferecer um serviço à altura

das exigências e especificidades dos que viajam

a trabalho. Quem melhor entendeu essa questão

foram os hotéis que se especializaram em receber

profi ssionais, ao proporcionar condições e conforto

térmico e acústico, segurança, higiene e alimenta-

ção, espaço adequado para realizar eventos e reu-

niões, com equipamentos e pessoal treinado. Outro

bom exemplo são ferramentas de produtividade, como

o self booking, que permitem ao viajante fazer reservas

através do notebook sem abrir mão das regras de viagem

da empresa, garantindo economias de até 10%.

Para quem quer conhecer melhor o assunto, há insti-

tuições voltadas à formação e atualização de profi ssionais

como as da NBTA (National Business Travel Association),

com representação no México e no Brasil – este, por meio

da ABGEV e complementado pela Academia de Viagens

Corporativas. “Com o desenvolvimento das economias e

a expansão dos negócios na América Latina, as viagens

de negócios estão em pleno crescimento. À medida que

o mundo percebe a região como um mercado global

competitivo, a NBTA, junto às lideranças da indústria,

busca oferecer educação especializada e oportunidades

de desenvolvimento profi ssional para gestores de viagens

locais”, afi rma Michael W. McCormick, diretor executivo

e COO da NBTA. Além disso, anualmente, NBTA e ABGEV

realizam na capital paulista o LACTTE, encontro desti-

nado a profi ssionais e fornecedores da região. O próximo

será realizado no início de fevereiro, e as informações

estão em www.abgev.org.br.

A iniciativa privada mostra que está fazendo a sua

parte. Quanto aos governos, se pretendem estimular

essa indústria e a visita de homens de negócios em suas

cidades, devem estabelecer condições bastante diferentes

das oferecidas ao turista comum. Alguns já entenderam

isso, como a São Paulo Turismo. Outros ainda precisam

percorrer um longo caminho para perceber que viagens

de negócios e de lazer, como água e azeite, não costumam

dar boa mistura.

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Page 64: Nº 384 Edição Brasil
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Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 65

O LADO BOMDO TRABALHOAMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE

ESPECIAL VIAGENS A NEGÓCIOS

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PARTICIPANTES DA PESQUISA

Fonte AméricaEconomía Intelligence

100

0

200

300

C laudia de la Rosa é uma prova concreta de como

o estresse de uma viagem a negócios pode fazer

alguém perder a cabeça. No fi nal do ano passado,

seu chefe saiu atrasado para pegar o avião de Miami para

Honduras. Claudia, inconformada, decidiu fazer uma liga-

ção anônima e enviar um e-mail às autoridades do Aero-

porto Internacional de Miami, advertindo a existência de

uma bomba no voo da American Airlines. Enquanto uma

equipe especializada adiava a decolagem para inspecionar

a aeronave, a polícia investigava o IP de origem do e-mail,

resultando na prisão de Claudia. “O atraso foi por minha

culpa, e queria ganhar tempo”, argumentou, em reporta-

gem divulgada na mídia da Flórida.

Guardadas as proporções, não são poucos os que en-

louquecem quando o assunto são viagens de negócios.

Entre troca de hotéis, perdas de malas e horas perdidas

em salas de espera, a vida do viajante geralmente é mais

complexa do que parece.

Por outro lado, só quem dribla esses inconvenientes

sabe o lado bom de conhecer pessoas e lugares, colecionar

histórias e provar sabores diferentes. Por isso, a América-

Economía Intelligence apresenta a segunda edição da pes-

quisa* sobre o melhor da América Latina para o viajante

de negócios. Trata-se de uma reunião de preferências ex-

pressadas por nossos leitores sobre itens que vão de servi-

ços a passeios. A pesquisa contou com a opinião de 1,3 mil

leitores, de 17 países, além da assessoria de especialistas.

O TRIUNFO DE MIAMIDas alternativas escolhidas por viajantes a negócios da

América Latina, Miami – que sempre incluímos em nos-

sos estudos – por sua sinergia com o mundo dos negócios

latino-americanos – se destaca entre as favoritas.

Um bom indicador do grau de satisfação que Miami

produz como destino é a boa percepção que há a respeito

de seu aeroporto. Uma percepção que, certamente, refl ete

as mudanças em infraestrutura que se encontram em ple-

no desenvolvimento, fruto de um plano de investimento

de mais de US$ 6,2 bilhões (de 2003 a 2011), equivalente

em cifra aos investimentos no Canal do Panamá. Contu-

do, essa preferência poderá se ver afetada pelo retorno de

uma cultura aeroportuária de extremo controle.

Os diversos itens que

incluímos em nossa pes-

quisa também colocam

Santiago e Buenos Aires

bem posicionadas em vá-

rias categorias, além de

um (ainda) tímido mer-

gulho dos executivos de

alguns países no univer-

so brasileiro.

Além da informação

sobre as cidades-destino

que foram foco dessa in-

trodução, o especial conta

com uma grande quanti-

dade de dados sobre ou-

tros aspectos relevantes

associados às viagens de

negócios.

Bon voyage!* Veja metodologia da pesquisa em www.americaeconomia.com.br

AE 384 viagens pesquisa.indd 3AE 384 viagens pesquisa.indd 3 1/22/10 2:14 AM1/22/10 2:14 AM

Page 66: Nº 384 Edição Brasil

Fonte AméricaEconomía Intelligence

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MELHOR HOTEL (%)

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ESPECIAL VIAGENS A NEGÓCIOS

Fonte AméricaEconomía Intelligence

MELHOR ESPAÇO PARA EVENTOS (%)

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ESTADIA

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Page 67: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 67

Fonte AméricaEconomía Intelligence

MELHOR RESTAURANTE (%)

Azul(Miami)

Sucre(Buenos Aires)

El Cardenal(Cidade do México)

Barton G(Miami)

Liguria(Santiago)

Astrid & Gastón(Lima)

Andrés Carne de Res(Bogotá)

1884(Buenos Aires)

Rafael(Lima)

D.O.M.(São Paulo)

4

4

5

5

6

7

7

13

14

27

Fonte AméricaEconomía Intelligence

MELHOR DRINQUE (%)

Caipirinha(Rio de Janeiro / São Paulo) 64

Masato(Bogotá) 2

Grappamiel(Montevidéu) 2

Seco(Cidade do Panamá) 2

Canelazo(Quito) 3

Fernet Clásico(Buenos Aires) 10

Pisco sour chileno(Santiago) 14

Pisco sour peruano(Lima) 40

Tequila(Cidade do México) 41

Mojito(Miami / Cuba) 48

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Page 68: Nº 384 Edição Brasil

OS MELHORES ANFITRIÕES ESTÃO EM: (%)

Bogotá

Rio de Janeiro

Lima

São Paulo

Santiago

Buenos Aires

Montevidéu

Cidade do Panamá

Cidade do México

Quito

45

29

23

17

16

14

14

13

12

9

Fonte AméricaEconomía Intelligence

ESPECIAL VIAGENS A NEGÓCIOS

DESTINO

Fonte AméricaEconomía Intelligence

MELHOR REGIÃO DE NEGÓCIOS (%)

Puerto Madero (Buenos Aires) 49,6

Brickell (Miami) 45,6

Avenida Paulista (São Paulo) 37,5

El Golf (Santiago) 26,3

Polanco (México) 21,8

San Isidro (Lima) 17,0Avenida 100 (Bogotá) 12,9

Escalante (San José) 3,2Las Mercedes (Caracas) 3,1

AE 384 viagens pesquisa.indd 6AE 384 viagens pesquisa.indd 6 1/22/10 2:18 AM1/22/10 2:18 AM

Page 69: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 69

Fonte AméricaEconomía Intelligence

ATRAÇÃO QUE VALE CONHECER (%)

Edifício Colpatria(Bogotá) 3

Monumento do Ipiranga(São Paulo) 5

La Mitad del Mundo(Quito) 13

El Ángel de la Independencia(Cidade do México) 14

Obelisco(Buenos Aires) 19

Pão de Açúcar(Rio de Janeiro) 22

Bayside Market Place(Miami) 23

Canal do Panamá(Cidade do Panamá)

Cristo Redentor(Rio de Janeiro) 60

55

Fonte AméricaEconomía Intelligence

NA AMÉRICAOS PAULISTAS SÃO PREFERIDOS POR:

Argentinos 23,2

Peruanos 21,6

Colombianos 21,0

Mexicanos 20,0

Paraguaios 20,0

%O percentual toma como base a totalidade de entrevistadosda nacionalidade referida, e não o total listado na tabela; todasas respostas são de escolha múltipla

NO BRASILOS EXECUTIVOS CONSIDERAM MELHORESANFITRIÕES OS HABITANTES DE:

Santiago 32,2

Lima 22,0

Bogotá 19,5

Cidade do México 17,8

Montevidéu 16,1

%

OS CARIOCAS SÃO PREFERIDOS POR:

Paraguaios 44,0

Norte-americanos (EUA) 38,5

Peruanos 37,5

Bolivianos 34,9

Uruguaios 34,4

%

NA AMÉRICA

Foto

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Page 70: Nº 384 Edição Brasil

EMBARQUE TRANQUILO MELHOR AEROPORTO DA AMÉRICA LATINA (%)

Fonte AméricaEconomía Intelligence

12Arturo Merino Benítez

[Pudahuel]Santiago

12Benito JuárezCidade do México

8GuarulhosSão Paulo

7TocumenCidade do Panamá

7Jorge ChávezLima

6Ministro Pistarini [Ezeiza]Buenos Aires

Antônio Carlos Jobim [Galeão]

Rio de Janeiro

3El DoradoBogotá

2CarrascoMontevidéu

1Mariscal SucreQuito

0El AltoLa Paz

1Juan SantamaríaSan José

0Silvio PettirossiAssunção

1Simón Bolívar

[Maiquetía]Caracas

*Miami International AirportMiami 30

5

Fonte AméricaEconomía Intelligence

MELHOR ATENÇÃO A BORDO (%)

Continental 3

Outras 8

Varig 4

Mexicana 5

American Airlines 5

Taca 5

Lufthansa 6

Avianca 6

Air France 6

Aeroméxico 7

Copa 10

TAM 14

LAN 22

ESPECIAL VIAGENS A NEGÓCIOS

*Por sua sinergia com o mundo dos negócios latino-americanos, Miami é sempre incluída em nossos estudos. *Empresas que voam na América Latina.

EMBARQUE

1

AE 384 viagens pesquisa.indd 8AE 384 viagens pesquisa.indd 8 1/22/10 2:19 AM1/22/10 2:19 AM

Page 71: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 71

54,7%Visa

MELHOR CARTÃODE CRÉDITOPARA EXECUTIVOSEM VIAGEM DE NEGÓCIOS

23,7%

AmericanExpress

19,6%MasterCard

1,8%Diners

Discover 0,1%Magna 0,2%

Fonte AméricaEconomía Intelligence

MELHOR TELEFONE CELULARPARA UMA VIAGEM A NEGÓCIOS 2020

37% 15

8

Blackberry9000 bold Outros

I Phone 3Gs Blackberry Storm

Nokia N97

Fonte AméricaEconomía Intelligence

Fonte AméricaEconomía Intelligence

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8

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HP/Pavilion

Lenovo/Thinkpad

Packard Bell/Easy Note 2%

Toshiba 2%

Sony Vaio 2%

Mac 1%

Apple 1%

Acer/Spire

Compaq/Presario

Dell

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MELHOR LINHA DE NOTEBOOKSPARA UMA VIAGEM A NEGÓCIOS

ACESSÓRIOS

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Page 72: Nº 384 Edição Brasil

72 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

EDUARDO THOMSON, DE SANTIAGO, COM ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO

Os exchange traded funds atraem os investidores, mas muitos ainda não identifi cam seus riscos

B ernard Taradash não quer saber de

gás natural. A experiência desse ad-

ministrador californiano, que traba-

lha na Oppenheimer Funds e, no ano passado,

apostou no gás, não foi das melhores.

Comprar gás natural não é algo que

qualquer um possa fazer. Mas comprar um

exchange traded fund, ou ETF, que replique

o preço do gás natural está ao alcance de to-

dos. Esses ETFs são fundos de investimento

cotados em bolsa que replicam o desempe-

nho e a composição de índices, commodities

e outras canastras de ativos de um ou mais

países. Os ETFs são cotados livremente e ofe-

recem alta liquidez: podem ser comprados

ou vendidos dentro de uma mesma sessão,

diferentemente da maioria dos fundos mú-

tuos e outros fundos.

O ETF escolhido por Taradash foi um cha-

mado U.S. Natural Gas Fund, cotado na bolsa

eletrônica NYSE Arca. Esse fundo compra

contratos futuros de gás natural para entrega

no mês posterior. À medida que esses contratos vencem, são

vendidos para a compra de outros contratos.

Mas ele não contava com o contango. Essa palavra, que

mais parece proveniente de fi lmes de western ou de ação, iden-

tifi ca um fenômeno de mercados fi nanceiros muito específi co:

quando o preço de um ativo futuro, ou seja, em que sua entrega

se pactua para vários meses ou mais de um ano, é superior

ao preço do mesmo ativo para entrega imediata, também co-

nhecido como preço spot. É uma anomalia, já que o comum é

encontrar preços melhores quando a compra é antecipada.

Mensalmente, à medida que os contratos futuros que o

ETF de gás natural tinha em sua carteira venciam, era preciso

ir ao mercado comprar novos contratos, mas o ETF continua-

va perdendo dinheiro. De fato, estima-se que, no ano passado,

FINANCAS INVESTIMENTOS

JOGO DAS DIFERENÇAS

esse fundo perdeu US$ 1,5 bilhão em valor, segundo estimati-

vas da empresa Morningstar.

“Os ETFs, às vezes, não replicam 100% do que se estima-

va”, comenta Taradash. É uma lição que ele nunca esquecerá,

e que todas as pessoas que pensam hoje em investir em ETFs

deveriam levar em conta, sobretudo na medida em que sua

popularidade aumenta. Nos EUA, por exemplo, eles já chegam

a representar entre 25% e 40% do volume diário de transações

de ações. Eles oferecem vantagens evidentes, como maior li-

quidez e menos comissões do que muitos fundos mútuos – ao

simplesmente replicar um índice e não tratar de “ganhar” do

mercado, economizam o salário de muitos administradores

de fundos. Entretanto, nem todos estão conscientes dos riscos

envolvidos nesse investimento.

AE 384 ETFs.indd 2AE 384 ETFs.indd 2 1/22/10 12:04:42 AM1/22/10 12:04:42 AM

Page 73: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 73

FESTA LATINAA América Latina não está alheia a essa euforia. Segundo Da-

niel Gamba, diretor para a América Latina da administradora

de fundos Blackrock, dona da marca iShares, maior emissor de

ETFs do mundo, esses títulos estão se tornando cada vez mais

importantes na região. “No fi nal de 2008, os ETFs da iShares ad-

ministravam US$ 11 bilhões em ativos provenientes da Amé-

rica Latina”, diz Gamba. “Fechamos 2009 com US$ 17 bilhões,

dos quais US$ 3 bi correspondem a novos fl uxos de capital.”

Os investidores institucionais da região, como admi-

nistradoras de fundos de pensão (AFPs), estão encantados

com os ETFs. As AFPs peruanas participaram ativamente no

projeto de um ETF de iShares que replica o índice MSCI Perú.

Já a Interbolsa lançou um ETF, em Nova York, que imita o

desempenho das 20 principais ações colombianas. E, agora,

estão medindo o interesse de bancos privados e investidores

qualifi cados no México, diz Gamba. “Recentemente, fi zemos

uma lista dupla de 25 iShares, em Santiago do Chile, e em

Nova York, como parte de um plano de promoção para atrair

clientes da banca privada.” O Vanguard Funds, emissor

de ETFs norte-americanos, rival da iShares, também está

buscando aumentar sua oferta desses instrumentos para a

região. Um porta-voz comentou que eles têm 29 ETFs na Cida-

de do México e em Nova York, estão estudando listar alguns

ETFs deles em Santiago, e já contam com autorização para

que as AFPs invistam em 29 deles.

Nessa história, o Brasil confi gura um caso à parte. Por ser

um mercado já tão atraente para investidores estrangeiros,

registra poucos ETFs domiciliados no país. Na BM&FBovespa,

os quatro ETFs disponíveis movimentaram, em 2009, R$ 4,578

bilhões, com 82,17

milhões de cotas

em 59.460 transa-

ções. O paradoxal

é que o ETF iSha-

res MSCI Brazil é

um dos maiores

do mundo, com

US$ 11 bilhões em

ativos, mas está

listado em Nova York, não no próprio Brasil.

“O que falta, aqui, é as pessoas conhecerem o ETF e sabe-

rem que ele é uma oportunidade de investir em renda variá-

vel, permitindo que se monte uma carteira diversifi cada, por

meio de uma única operação. Isso ainda não é uma coisa fa-

miliar para os investidores”, diz Adriana Sanches, gerente de

produtos de renda variável da BM&FBovespa.

“Daqui para a frente, o nosso trabalho é listar

novos ETFs, pois, ao longo de 2010, eu tenho

certeza de que serão lançados novos fundos

como esse. Temos recebido demanda de ban-

cos para isso”, diz.

A LETRA PEQUENAPor enquanto, o interesse dos investidores

latino-americanos tem se concentrado, prin-

cipalmente, nos ETFs mais simples, ou seja,

que replicam índices acionários. Estes não

estão 100% isentos de riscos, já que existe

um tracking error (erro de acompanhamento)

inerente. Mas o mundo dos ETFs está se tor-

nando complexo, e isso implica riscos mais

altos. Como exemplo dessa complexidade,

começam a surgir ETFs alavancados, ou seja,

que usam compras a crédito para aumentar

seus retornos em até três vezes.

O problema é que também podem ma-

ximizar as perdas. Outro exemplo são os

ETFs “inversos”, ou seja, que ganham se o

ativo replicado perde valor, e vice-versa. Há ETFs que fazem

operações exclusivamente no curto prazo, apostando que

o valor das ações que formam sua carteira cairá. E há até

ETFs que prometem não replicar um índice como o S&P 500,

mas fazer uma administração ativa, com o que pretendem

superar o rendimento do mercado. Em resumo, há ETFs para

todos os gostos.

Jimena Llosa, diretora de Estratégia de Investimento da

Compass Group, explica que, ultimamente, os ETFs alavanca-

dos têm gerado controvérsias e que os órgãos reguladores, nos

Estados Unidos, estão começando a alertar os investidores

sobre esses instrumentos. A moral da história, afi nal, é: antes

de investir em um ETF, vale à pena ler as letras pequenas e

entender bem em que, na verdade, se está investindo.

11bilhões de dólares é quanto o MSCI Brazil

tem em ativos

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Page 74: Nº 384 Edição Brasil

74 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

BENDITA CRISEFINANCAS PRIVATE BANKING

SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO

FOTO: ROBERTA DABDAB

S e há um setor que não pode reclamar dos efeitos da crise fi nanceira

é o de private banking brasileiro. Enquanto no mundo a fragilidade

dos bancos e escândalos como os de Bernie Madoff e Allen Stanford

eram motivo de pânico, os bancos brasileiros registraram uma corrida de

donos de fortunas em busca de menos risco. “A gente virou cofre”, diz João

Albino Winkwelmann, novo diretor do Bradesco Private Banking, em entre-

vista à AméricaEconomia.

AméricaEconomia Como foi o perí-odo de crise para o setor? João Albino Winkwelmann A gente

virou cofre. O mundo private não gosta

de divulgar números, mas o volume

de captação foi três vezes maior que a

média usual, e com outra característica:

90% de todas as alocações eram CDBs

(Certifi cado de Depósito Bancário), renda

fi xa. Os clientes não queriam ações, não

queriam fundo, não queriam multimer-

cado. Só a partir de maio, junho, é que

isso começou a passar.

AE Quanto o private do Bradesco cresceu e qual a previsão para 2010? Winkwelmann A gente cresceu muito,

próximo de 30%, em 2009. Em 2008, fo-

ram 36%. Para 2010, tentaremos repetir

30%, ainda que seja mais difícil. 2008 foi

um ano excepcional, com muitas fusões

e aquisições, IPOs... Todo dia você abria o

jornal e via: família tal vende sua empre-

sa, empresa tal está fazendo um IPO, e

isso gerou muito evento de liquidez.

AE O que mudou no cliente private depois da crise? Winkwelmann Hoje, diferentemente

do que acontecia no passado, ele ques-

tiona mais, quer saber quais os riscos,

quer evidências. Outra novidade, trazi-

da até pela maturidade alcançada pelo

nosso private, é que agora a gente fala de

sucessão a qualquer momento, tempo e

prazo, com qualquer cliente. E envolver a

família desde cedo é bom também para

nós, pois você cativa. Senão, a tendência

natural é o fi lho querer fazer diferente

do que o pai fazia, mudando de banco.

AE E o medo já passou por completo?Winkwelmann Agora, já se volta a

aplicar em ações. Com juros a 8,75%, o

cliente busca a posição no fi nal do mês

e vê 0,60% de rendimento. E o brasileiro,

que já viveu com altas taxas de infl ação

e juros, não consegue fi car quieto: aceita

mais volatilidade na carteira e abre mão

da liquidez. Um exemplo é a atual de-

manda pelos fundos imobiliários. Neles

o dinheiro fi ca preso por quatro, seis, até

oito anos, mas, no fi nal, a promessa de

retorno é de 150% a 200% do CDI (Cer-

tifi cado de Depósito Interbancário). O

segredo está em diversifi car.

AE O que se aprendeu com a crise? Winkwelmann A crise consolidou

bancos brasileiros como grandes players

no segmento private. Porque nos deu a

oportunidade de mostrar o que fazemos

para um público que jamais considerou o

Bradesco uma opção. Não deixamos nada

a desejar, e temos o diferencial de não ser

só um private: temos um banco por trás

dele, com uma variedade de produtos

fi nanceiros. Por isso achamos que vamos

crescer 30% em 2010, enquanto a previ-

são do mercado em geral é de 20%.

AE 384 bradescoAA V1.indd 2AE 384 bradescoAA V1.indd 2 1/22/10 12:01:16 AM1/22/10 12:01:16 AM

Page 75: Nº 384 Edição Brasil

22 - 24 March 2010, Sheraton Rio HotelRio de Janeiro, Brazil

6th Latin Petroleum Strategy Briefing 22rd March 2010

16th Latin Upstream 23rd - 24th March 2010

The Hague Tel: + 31 70 324 6154 Fax: + 31 70 324 1741

Johannesburg: Tel: +27 11 880 7052 Fax: +27 11 880 1798

Rio de JaneiroTel: +55 21 2435 5408Fax: +55 21 2435 5408Mobile: +55 21 8435 5408

Group Managing DirectorBabette van [email protected]

Sponsors/ExhibitionSonika [email protected]

Brazilian RepresentativeVirginia de [email protected]

RegistrationTanya [email protected]

MarketingJerry van [email protected]

Silver Sponsor Venue SponsorBronze Sponsor

th

Latin Upstream Oil & Gas-LNG: JV-Partners & Competitors

Page 76: Nº 384 Edição Brasil

76 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

EM BUSCA DA PRÓXIMA BOLHAO setor imobiliário chinês dá mais sinais de reaquecimento

EDUARDO THOMSON, DE SANTIAGO

S empre que se deixa uma bolha

financeira para trás, analistas

do mundo todo começam a es-

pecular qual será a próxima. Uma bo-

lha é basicamente um desalinhamento

entre as percepções sobre o valor de um

ativo e o valor subjacente apropriado, e

as apostas de muitos economistas são

de que o setor imobiliário chinês está

mostrando sinais de tal desconexão.

James Chanos, administrador do

hedge fund Kynikos Associa-

tes, com sede em Nova York,

foi quem disparou o alarme.

Chanos, que ficou famoso ao

denunciar irregularidades em

empresas como Enron e Tyco

International – e obteve lucros

ao realizar operações no curto

prazo com as ações dessas com-

panhias, apostando que cairiam

no futuro –, ganhou as man-

chetes ao afi rmar que a China

entraria em colapso em breve.

“É Dubai, mas multiplicado por

mil, ou pior”, disse, à rede CNBC.

Quem nega a possibilidade

de bolha alega que não há exces-

so de crédito hipotecário e que

as pessoas, na China, compram

bons imóveis à vista. Toda bolha se

defi ne pela alavancagem excessiva, ar-

gumentam. Sem crédito excessivo, não

há bolha, e se acaba a discussão.

Mas nem sempre foi assim. Patrick

Chovanec, economista norte-america-

no da Universidade de Tsinghua, em

Pequim, afi rma que algumas bolhas de

grandes dimensões, como a “Mania das

Tulipas”, de 1637, ou a do “Mar do Sul”,

de 1720, não foram causadas por exces-

so de crédito, mas por investidores que

colocaram seu dinheiro em commo-

dities ou empresas cujos negócios eles

praticamente não conheciam.

E, diz Chovanec, o mercado imobi-

liário chinês é alavancado, mas de for-

ma diferente. Com a crise hipotecária

nos EUA, foram os compradores de ca-

sas que solicitaram (e receberam) hipo-

tecas que depois não poderiam pagar,

simplesmente contando que o valor

das casas continuaria subindo. Depois,

esses empréstimos foram revendidos,

distribuindo o risco por todo o mundo,

com os resultados que já conhecemos.

Em contrapartida, muitos chineses

compram à vista porque, ao ter poucas

opções, adquirem casas como reserva

FINANCAS CAPITAL ABERTO

de valor e investimento. Mas as cons-

trutoras se endividam. Elas não o fazem

diretamente, porque a lei não permite,

mas por meio de suas matrizes, que rea-

lizam o aporte de capital. E esses níveis

de dívida estão crescendo.

No caso dos bens com fi ns comer-

ciais, o risco é maior, porque as cons-

trutoras buscam ganhar dinheiro com

o aluguel. Entretanto, a quantidade

de propriedades com fi ns comerciais

vazias na China é incrível.

Chovanec cita o exemplo de

um projeto imobiliário, em Pe-

quim, chamado Pangu Plaza,

composto por cinco torres de

escritórios e um shopping center

construído dois anos antes das

Olimpíadas, e que ainda está

praticamente vazio.

Felizmente, o governo chi-

nês está reagindo e passou a es-

tabelecer restrições mais seve-

ras ao crédito hipotecário. Para

pessoas que não vivem no país,

é relativamente difícil apostar

no setor imobiliário chinês. Al-

gumas opções são os exchange

traded funds (ETFs) listados em

Nova York (veja gráfi co).

Chovanec não chega a acusar a

existência de uma bolha de fato, mas

alerta que existem riscos crescentes.

Contudo, para que haja esse risco, as

pessoas têm de começar a acreditar que

essa bolha existe, e as declarações de

pessoas como Chanos acabam se con-

vertendo em outro fator de risco. Sinais

de uma profecia autocumprida?

MONTANHA RUSSA NA CHINADESEMPENHO DA BOLSA E DO SETOR IMOBILIÁRIO

ETF imobiliário na China Índice ações FTSE/Xinhua 25

20

40

60

80

100

120

AE 384 Capital Aberto.indd 2AE 384 Capital Aberto.indd 2 1/21/10 11:41:28 PM1/21/10 11:41:28 PM

Page 77: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 77

OPINIÃO

PLANO DE ATRAÇÃO

Ilust

raçã

o: Sa

mue

l Cas

al

O ano que apenas começou pode ser muito bom

para vários países latino-americanos. Os fl uxos de

capital desempenharão um importante papel ao

determinar as taxas de crescimento da atividade econômica.

E, certamente, tais fl uxos terão impacto dominante sobre os

preços dos ativos fi nanceiros, de empresas locais e no merca-

do imobiliário.

Investidores de portfólio em todos os lugares do mundo

questionam suas convicções mais arraigadas. A velha di-

ferenciação entre os países industrializados e os países em

desenvolvimento, que décadas atrás lhes serviu como bússo-

la, falhou nos últimos dez anos. Os mercados de renda fi xa e

variável dos países industrializados registraram perfomance

aquém da desejada durante esse período. Já os mercados

emergentes, conhecidos por sua volatilidade, passaram a ser

mais estáveis e atraentes. Agora, o maior medo dos investido-

res é acreditar demais da conta na metamorfose dos merca-

dos emergentes. Buscam, ansiosos, por sinais de revitalização

das economias industriais.

Entretanto, essas economias se mostram cada vez mais

velhas. Suas dívidas ameaçam qualquer perspectiva de recu-

peração rápida. E essa sombra permanente faz os investidores

voltar sua atenção a regiões anteriormente inexploradas.

Hoje, a América Latina é vista como uma região diversifi cada

e merecedora de uma análise cuidadosa.

Evidentemente, o país que os estrangeiros

estudam mais de perto é o Brasil. Estão

fascinados com ele.

Depois, os investidores estrangeiros

de portfólio voltam seu radar para o Peru,

a Colômbia, o Chile e o México. Eles gostam da Argentina e

planejam tirar férias lá, mas hesitam em comprar ações ou

bônus do país. Fazem pequenas compras de ações no Peru,

aproveitando-se do exchange trade fund (ETF) que está listado

na Bolsa de Nova York. Comentam a possibilidade de comprar

bônus colombianos, mas não encontram uma maneira fácil

de fazê-lo; analisam o mercado do México e, depois, compram

algumas ações da América Móvil.

Entre os aspectos positivos dos principais mercados fi-

nanceiros latino-americanos – Brasil, Peru, Colômbia, Chile e

México –, os estrangeiros sempre destacam a baixa quantidade

de dívida pública como proporção do PIB. Citam, também, a

melhoria na proteção dos direitos dos acionistas minoritários e

o crescimento da participação local nos mercados de ações e bô-

nus. Suas posições são mais fortes quando uma grande parcela

da classe média de um país detém ações e bônus emitidos local-

mente. Eles também citam a composição etária da população. A

taxa de crescimento da população nessas nações tem diminuí-

do; portanto, a proporção de dependência está melhorando.

O desafi o para esses cinco países é

decidir quanto investimento estrangei-

ro querem atrair. Eles podem permitir o

ingresso de investimentos estrangeiros

para fortalecer suas moedas e aumen-

tar os preços de ativos. Essa política favorece os titulares de

ações e bônus e os proprietários de imóveis, enfraquece os

incentivos para a exportação e fortalece os incentivos para

a importação, principalmente de bens de consumo de luxo.

Ela gera riqueza, mas não empregos. Essa política é arriscada

porque a entrada de investimento estrangeiro é notoriamen-

te instável. Os investidores estrangeiros estão muito suscetí-

veis ao pânico. No fundo, eles sabem como são ignorantes em

relação ao que está realmente acontecendo nos países onde

seus investimentos estão localizados.

Para os investidores locais astutos, o desafi o consiste em

medir o quanto de dumb money é investido em seus merca-

dos locais, e que o dumb money vai comprar depois. Ondas

de dumb money criam oportunidades, mas essas ondas de

repente podem virar hostis.

JOHN C. EDMUNDS é doutor em Administração pela Universidade de Harvard, professor do Babson College e coautor de Wealth by Association

Investidores estrangeiros estão

fascinados pelo Brasil

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Page 78: Nº 384 Edição Brasil

78 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

I-BIZ

INOVAÇÃO BÁSICAPrograma desenvolvido no Brasil mostra que buscar o modelo de educação ideal para as gerações futuras é muito mais que garantir um computador por criança

1

JUAN PABLO DALMASSO, DE CÓRDOBA

N a porta do colégio estadual José Leite Lopes, no Rio

de Janeiro, há ansiedade e euforia. Com 470 alunos,

neste ano a escola deverá receber cerca de 2 mil

adolescentes em busca de uma vaga na instituição.

O colégio é o resultado bem-sucedido de uma experiência

que começou em 2007, quando a Secretaria de Educação do

Estado do Rio de Janeiro aceitou o convite do Núcleo Avança-

do em Educação (Nave), um centro de pesquisas em tecnolo-

gia e educação subsidiário da empresa de telefonia Oi, para

criar um colégio secundário especializado em tecnologias

digitais com certifi cação em programação multimídia, jogos,

e conteúdos para a TV digital. Além disso, o colégio deveria

utilizar essas competências para trabalhar o currículo tra-

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Page 79: Nº 384 Edição Brasil

Fevereiro, 2010 AméricaEconomia 79

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respectivamente, tinham a mesma defi ciência.

A iniciativa da Nave não é a primeira e nem a última em

inovação educacional. A Fundação Bradesco começou, em

2004, um processo de troca tecnológica nas 40 escolas de

nível primário e médio que atende pelo Brasil. Com o apoio

do laboratório de mídia do Instituto Tecnológico de Massa-

chussets (MIT) e de provedores como Intel e Cisco, a Fundação

adotou o conceito de um laptop por aluno, “como uma aposta

na mobilidade e no trabalho cooperativo”, segundo Nivaldo

Marcusso, superintendente e diretor de Inovação da Funda-

ção Bradesco. O programa da Fundação introduziu a robótica

nas aulas, como ferramenta pedagógica que ajuda o

docente a ditar as matérias tradicionais.

Quase todos os alunos das escolas Bradesco al-

cançaram uma média considerada satisfatória pelo

sistema de avaliação de exame da educação básica

do Brasil. 60% deles ultrapassaram a média em

línguas, e 20%, em matemática, enquanto o planeja-

mento ofi cial estima que, somente em 2012, 60% dos

alunos do país alcançarão essa meta.

MAIS DO QUE HARDWARE E SOFTWAREO detalhe é que a tecnologia não parece ser o ponto

primordial nesse processo. “Claro, a excelência é pro-

duto da inovação permanente, e nós temos desenvol-

vido, em todos estes anos, um portfólio de mais de

180 técnicas pedagógicas”, diz Marcusso.

Reforçando essa ideia, nos colégios Fontan, na

Colômbia, a proposta foi transformar o docente em

tutor que diagnostica o nível do aluno e confecciona

um plano de estudo sob medida. Para isso, oferecem

os elementos essenciais da malha curricular até que o aluno

possa criar um mapa conceitual do tema, aprofundando-se

nas matérias por sua conta, até conseguir um nível de exce-

lência e passar à lição seguinte.

“A tecnologia é só um facilitador”, diz Francisco Moisés,

diretor da área de Educação da Microsoft para a América Lati-

na. “Além de ser um motivador para os jovens, permite mon-

tar um sistema de serviços comunicacionais, pedagógicos e

burocráticos para o estudante”, afi rma. A Microsoft é quem

fornece a plataforma de CRM com a qual os colégios Fontan

estão gerenciando a complicada massa de informação de

seu sistema de educação personalizada, e estruturando seu

sistema para transferi-lo a terceiros.

Entretanto, todo esse potencial de inovação requer docen-

tes competentes, e isso não é fácil de obter. Qual o caminho

para chegar a eles? Mudar o status da docência, com bons sa-

lários iniciais e políticas de recrutamento entre os melhores

universitários, capacitação permanente e intercâmbio entre

pares, tem dado bons resultados no curto prazo onde tem sido

implementado, segundo o McKinsey Global Institute.

Mas essa será outra transformação radical, para a qual

nosso sistema público de ensino precisa se preparar.

dicional, por exemplo, aplicando a matemática e a lógica à

programação e desenvolvendo conteúdos multimídia para

explicar a história ou a geografi a.

“É evidente que o meio natural destas gerações é o digital.

Enquanto nos preocupamos em como manter a atenção dos

alunos, eles fi cam até nove horas na frente de um videogame

sem perder a concentração”, diz Samara Weiner, diretora

do Nave. “Além disso, a tecnologia nos permite trabalhar

competências, como o desenvolvimento de projetos. Pode-se

incentivar o trabalho cooperativo, dando mais autonomia ao

aluno frente ao professor”, acrescenta.

A escola ainda não tem uma avaliação ofi cial, dado ao

pouco tempo do programa, mas alguns indicadores são sig-

nifi cativos. Apesar de atender comunidades de classe média-

baixa e baixa, a escola Nave só registrou a desistência de três

alunos. No Rio de Janeiro, o índice de abandono na escola

secundária pública é de 55%, e a média brasileira é de 50%, de

acordo com um informe da Unesco apresentado em 2010.

A Nave também está trabalhando com a Secretaria da

Educação de Pernambuco. E, dependendo do resultado do

programa em 2011, o modelo começará a se expandir por

mais colégios. “A plataforma estará à disposição do sistema

educacional em geral”, acrescenta Samara.

MUDANÇA NA FORMAPesquisa do McKinsey Global Institute (MGI) com 112 escolas

que se submeteram a reformas educacionais no mundo apon-

ta que uma maneira diferente de dar aulas é o único fator que

faz melhorar a qualidade da educação. E, sem dúvida, essa é

uma dívida pendente na região. O exame internacional em

ciências Pisa 2006 registrou que 60% dos estudantes brasilei-

ros e colombianos não alcançavam o nível mínimo aceitável

de competências, e 55% e 50% dos argentinos e mexicanos,

ESPAÇO NAVE (À ESQ.): PROGRAMA ESTIMULA TRABALHO COOPERATIVO.

ACIMA, ALUNOS DA FUNDAÇÃO BRADESCO: MÉDIA ALTA EM AVALIAÇÃO

2

AE 384 ibiz.indd 3AE 384 ibiz.indd 3 1/22/10 12:07:33 AM1/22/10 12:07:33 AM

Page 80: Nº 384 Edição Brasil

CLICS & CHIPS

FINA ESTAMPAO Vostro V13, da Dell, caracteriza-se

pela fi nura – tem uma espessura

de 16,5 mm e pesa a partir de

1,59 kg. Destinado aos pequenos

empreendedores e profi ssionais

liberais que precisam de mobilidade

e privilegiam o desempenho, o

notebook vem com processador

Intel Core 2 Solo SU7300, 4 GB de

memória, HD de 500 GB ou 250 GB

FDE (com criptografi a total) e tela

LED de 13,3 polegadas. Custa

cerca de R$ 2.499.

www.dell.com.br

NA DISPUTAO Google entrou na guerra dos smartphones ao lançar o Nexus

One, que funciona com o sistema operacional Android. O aparelho,

com 11,5 milímetros de espessura e 130 gramas de peso, tem uma

tela de 3,7 polegadas sensível a toque e uma câmera fotográfi ca de

5 megapixels. Embora não esteja disponível para os consumidores

brasileiros, o aparelho pode ser adquirido nos Estados Unidos a um

valor sugerido de US$ 529.

www.google.com/phone

OLHA O PASSARINHOA Sony traz ao mercado a câmera

fotográfi ca Alpha 850, com uma nova

geração de sensores CMOS Exmor™ e

processadores de imagens BIONZ™.

Com 24,6 megapixels e sensor de 35

mm, o equipamento foi projetado para

oferecer altíssima qualidade de imagem,

e tem uma função para realizar tomadas

contínuas de foto em alta velocidade,

com imagens de até três quadros

por segundo. A Alpha 850 tem preço

sugerido de R$ 10 mil.

www.sony.com.br/alpha Foto

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80 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

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Page 81: Nº 384 Edição Brasil

ÁFRICA 2010A Copa já começou

BRASÍLIAPanetone e futebol

LIGA DOS CAMPEÕES

TONY HAWK

JULIO CESARO HEXA ESTÁ NAS MÃOS DELE

LIBERTADORES O BRASIL NUNCA ESTEVE TÃO POR

CIMA NA BRIGA PELA AMÉRICAO BRAASIILL NNNUUUNNNNCCCAAAAAA EEEEEESSSSSSSSTTTTTTTTEEEEEEEVVVVVVVVEEEE TTÃÃOOOO PPPPPOOOORRRRRR

CCIMMAA NNNNAA BBBBRRIIGGAA PPEEELLLAAAAAA AAAAAAAMMMMMMMMÉÉÉÉÉÉÉÉRRRRRRIICCCAA

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Page 82: Nº 384 Edição Brasil

82 AméricaEconomia Fevereiro, 2010

LINHA DIRETA

XAMÃS METEOROLOGISTAS

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SOLANGE MONTEIRO, DO RIO DE JANEIRO

A expectativa de ver a chegada do Ano Novo das

praias do Rio de Janeiro inebria qualquer turista.

Esquemas especiais de trânsito, montagem de ce-

nários, ambulantes amontoados nas ruas para oferecer fl ores

brancas e amarelas; preparativos que se repetem e em si já

confundem os incautos. Entretanto, um dos fatores aparen-

temente impossíveis de programar – além de balas perdidas

– é a chuva. E a chegada de 2010 parecia não escapar desse

destino: as previsões do tempo davam 90% de certeza de que

os 2 milhões de moradores e turistas estimados para a festa

em Copacabana teriam de se molhar, a menos que mudassem

os planos e decidissem ver a pirotecnia pela TV.

Mas chegou a meia-noite, e nada de chuva.

Sorte? Não. A razão, segundo a Prefeitura do Rio, veio das

mãos do Cacique Cobra Coral, um índio que, garantem seus

discípulos, é a reencarnação do físico e astrônomo italiano

Galileu Galilei e do lenhador, agricultor e ex-presidente dos

Estados Unidos Abraham Lincoln. Isso graças à fundação ca-

pitaneada pela médium Adelaide Scritori, responsável por in-

corporar o Cacique sempre e quando há demandas ofi ciais.

Digo “ofi ciais” porque a Fundação Cacique Cobra Coral

(FCCC) trabalha com base em convênios fi rmados com admi-

nistrações públicas. O fato, na realidade, não é novo. Sempre

que a circunstância justifica, as autoridades recorrem à

fundação para administrar os imponderáveis climáticos.

Em 2007, por exemplo, um subsecretário da Prefeitura de São

Paulo solicitou ajuda à médium e às forças da umbanda para

deter a chuva durante o desembarque do papa Bento 16 na

cidade. E não choveu. Em 2009, notas publicadas no site da

FCCC dão conta de que a entidade trabalhou – em Madri e

em Copenhague – em um lobby espiritual para que o Brasil

ganhasse o direito de hospedar as Olimpíadas de 2016.

E nem o senador Arthur Virgílio (PSDB) escapou à tenta-

ção. Em novembro, chegou a convocar ofi cialmente a FCCC a

uma audiência da Comissão de Ciência e Tecnologia para pe-

dir seu parecer sobre o apagão ocorrido naquele mês, fato que

deixou 50 milhões sem luz elétrica. Por causa da má repercus-

são da ideia, o pedido foi rápida e gentilmente cancelado.

O sincretismo religioso e o misticismo são parte do DNA

dos brasileiros e, entre outros, dão vida a algumas das mais

ricas manifestações culturais e anímicas do continente.

Já a intenção de sincretizar política e religião, entretanto,

está longe de resultar em algo bom. Isso

porque é inútil buscar motivos sobrena-

turais em falhas naturais, humanas. Por

exemplo, enquanto, em Copacabana, os

abraços eram salpicados de champanhe,

na região de Angra dos Reis o excesso de

chuva resultou em 52 mortes, fruto de

uma urbanização desordenada, que agu-

çou os efeitos do El Niño.

O refl exo do El Niño na região soma-

se a outros eventos não menos sérios na

América Latina, como o frio extremo e a

morte de crianças na cordilheira perua-

na, inundações catastrófi cas nos pampas

úmidos argentinos, seca nas planícies

da Venezuela. E, enquanto nos bastamos

elevando preces aos céus, meteorologis-

tas nos EUA se esmeram em enviar saté-

lites às alturas e termômetros fl utuantes

aos mares para sondar, minuciosa e in-

cansavelmente a mínima mudança de

temperatura, vento e umidade.

AE 384 linha2.indd 2AE 384 linha2.indd 2 1/22/10 12:13:35 AM1/22/10 12:13:35 AM

Page 83: Nº 384 Edição Brasil

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Page 84: Nº 384 Edição Brasil

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