nº 374 edição brasil

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DUELO DE EQUILÍBRIO EM MEIO À CRISE RANKING AS EMPRESAS MAIS GLOBAIS DA REGIÃO MÍDIA À DERIVA PUBLICIDADE EM BAIXA PROTECIONISMO O PONTO FRACO DE OBAMA A NOVA AGENDA LATINOAMERICANA www.americaeconomia.com.br ABRIL, 2009 BRASIL Nº 374 www.americaeconomia.com.br r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r r ABRIL, 2009 BRASIL MULTILATINAS MULTINACIONAIS vs

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AméricaEconomia: Revista de Economia e Negócios Latino-americana

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Page 1: Nº 374 Edição Brasil

DUELO DE EQUILÍBRIO EM MEIO À CRISE

RANKINGAS EMPRESAS MAIS GLOBAIS DA REGIÃO

MÍDIA À DERIVAPUBLICIDADE EM BAIXA

PROTECIONISMOO PONTO FRACO DE OBAMA

A NOVA AGENDALATINOAMERICANA

www.americaeconomia.com.brABRIL, 2009

BRASIL

Nº 374

www.americaeconomia.com.brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrABRIL, 2009

BRASIL

MULTILATINASMULTINACIONAIS

vs

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Page 3: Nº 374 Edição Brasil

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 3

NESTA EDIÇÃONº 374 / ABRIL, 2009

SEÇÕES

CAPA

:OTH

ERIM

AGES

NEGÓCIOS30 À deriva

O investimento publicitário cai e mídias buscam novo modelo.

34 Irmãos Robin HoodEmpresários mexicanos ajudam os desbancarizados a pagarem suas contas com cartão.

36 EPM não perde o fôlegoSem problemas de liquidez, a Empresas Públicas de Medellín foca-se em sua expansão internacional.

37 Visão verdeO Wal-Mart do México não pensa em tempo feio e tira proveito da energia solar.

38 OpiniãoA crise é um chamado da natureza contra um nível de consumo insustentável, diz Rolando Arellano.

DEBATES

39 OpiniãoFélix Peña defende a necessidade de salvaguardas nos acordos comerciais.

40 Os protegidosO governo de Obama ganha matizes cada vez mais protecionistas.

42 Hernando De SotoEm entrevista, o economista peruano diz que crise econômica tem componente legal e estrutural.

44 Trabalho em duplaA autorregulação pode servir de base para uma melhor regulação externa.

46 Quinta ColunaO populismo fi nanceiro é um risco, de-fende Susan Kaufman.

ESPECIAL WEF

47 A nova agendaA cúpula do World Economic Forum atu-aliza a pauta de debates da região.

52 A crise em númerosRevise o impacto e a história da atual

debacle econômica em cifras.

56 Matemática imprecisaModelos de avaliação de risco só servem

acompanhados do fator humano.

58 OpiniãoA recuperação começa... agora, diz

John Edmunds.

I-BIZ

60 ReplicantesPesquisa com células-tronco acabará com a escassez de órgãos.

62 Clics&ChipsO notebook da Dell que é o mais fi no do mercado.

4 Índice 6 Cartas 8 AE.com10 Memo12 Pistas13 Editorial14 Movimentos59 Capital Aberto63 Interfaces64 Negócio Fechado65 Raio X66 Linha Direta

20 DA AMÉRICA LATINA

MULTILATINASRanking:

AS 60 EMPRESASMAIS GLOBAIS

Nº 374 / ABRIL, 2009

DDDDDDDDDDDDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAMMMMMMMMMMMMÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉRRRRRRRRRRRRRIIIIIIIICCCCCCCCCCCAAAAAAAAAA LLLLLLLLAAAAAAAAAATTTTTTTTTTTTIIIIIIIIINNNNNNNNNNNNAAAAAAAAAAAAAA

RRRRRRRRRRRRaaaaaaannnnnnnnnnnkkkkkkkkkkiiinnnnnnnnggggggggggggggggggggggggggggggggg:::::::::::::::::::

Page 4: Nº 374 Edição Brasil

4 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

ÍNDICE DE EMPRESASOS NÚMEROS REFEREM-SE À PRIMEIRA PÁGINA EM QUE AS EMPRESAS SÁO CITADAS.EXCLUI AS EMPRESAS QUE FIGURAM EM GRÁFICOS E RANKINGS

a-b

ABN-Amor .........................15, 57

Accenture ..................................17

Aerolíneas Argentinas ...............28

AgraFNP ...................................27

Airbus ........................................29

América Móvil ..........................14

American Express .....................18

Apple .........................................62

Aracruz ......................................57

Banamex....................................14

Banco do Brasil .........................18

Banco Santander .......................56

Barclays .....................................59

Bionest Partners ........................61

Bodega Aurrerá .........................37

Boeing .......................................29

Bombardier ...............................29

Bradesco ....................................18

Brightstar ...................................21

Bronco Dilling ..........................14

Bulltick Capital .........................59

c-d

Capital One ...............................34

Cargill........................................26

Carrefour ...................................29

Cemex .......................................20

Centro Médico Nacional 20

Noviembre .................................61

Cinco Telecom ..........................36

Citigroup ...................................14

Comercial Mexicana .................57

Creative Industry

Management ........................17

D&S ..........................................29

Dell ............................................62

Deloitte ......................................32

e-f

Ecosecurities .............................59

Elektra .......................................29

Embraer .....................................28

Empresas Públicas

de Medellín .........................36

Falabella ....................................29

Ferrada Nehme ..........................45

Fitch Ratings .............................36

g-h

G3 ..............................................37

General Electric ..........................8

Gerdau .......................................29

Google .......................................62

Grupo Alfa ................................20

Grupo Bimbo ......................21, 29

Grupo Carso ..............................14

HomeDepot ...............................29

HSBC ........................................26

i-j

IBM ...........................................16

Ibope Mídia Brasil ....................32

Inalca .........................................26

Independência ...........................27

Itaú ............................................15

Itaú-Unibanco ...........................18

JBS-Friboi ...........................20, 26

JP Morgan .................................57

l-m

Laboratório Pfi zer .....................61

Lan ............................................20

Las Chivas de Guadalajara ........34

LG .............................................62

LVA Índices ...............................57

MAPS ........................................57

Mastercard .................................34

Match Consultores ....................65

Medra ........................................61

MGM .........................................59

Mission Motor Co. ....................63

Monex .......................................14

Mpower Móbile.........................35

Mpower Ventures ......................34

MSCI Barra ...............................57

n-o

National Beef ......................21, 26

NeoGama/ BBH ........................32

NetApp ......................................16

Netspend Corp ..........................34

Nokia .........................................17

Norberto Odebrecht ..................21

NovoPayment ............................35

Nuevo Banco Comercial ...........15

Omnilife ....................................34

Orbitel .......................................36

OTPP .........................................36

p-r

Pavco .........................................45

Pollo Campero ..........................20

Proteus Partners.........................61

Rev Latinoamerica ....................35

RiskMetrics ...............................57

s-t

Sadia ..........................................20

Saesa .........................................36

Saks Fifth Avenue .....................14

Sam´s .........................................37

Santander Chile .........................18

Santander ...................................15

Scot Consultoria ........................27

Serious Games Interactive.........15

Siderca .......................................29

Smithfi eld ..................................26

Sodimac .....................................29

Stern Cell Therapy Group .........61

Strategika ..................................45

Sudamericana de Vapores .........20

Swift Armour ............................26

Swift Food Company ................26

Tasman ......................................26

Techint .......................................20

Telmex .......................................29

Tenaris .................................20, 29

The Boston

Consulting Group ................34

Tyson .........................................26

u-v

UNE ..........................................36

Vale .....................................20, 29

Valmer .......................................57

Vectrix .......................................63

Visa ...........................................34

Vitro ..........................................29

Vodaphone .................................36

w-z

Wal-Mart México ......................37

Wal-Mart ...................................29

Water Capital.............................37

Zero Motorcycles ......................63

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®

Page 6: Nº 374 Edição Brasil

[email protected]

Não à legalização Sempre acompanho a sua revista porque me parece oferecer informação fundamental sobre os negócios na América Latina, com um ângulo que ninguém mais dá. Por isso mesmo queria expressar meu desacordo com seu editorial que defende a legalização das drogas (“Guerra perdida”, AméricaEconomia N°373, 15 de março, 2009). Acho que é uma solução duvidosa e cujas consequências podem ser prejudiciais.

Nicolás Errázuriz B.

Santiago, Chile

Sim à legalizaçãoGostei de ler a defesa que a revista AméricaEconomiafez da possibilidade de legalizar as drogas e combater seu consumo através de mecanismos de saúde pública. Acho que é uma posição que deve ser defendida na América Latina, pois a região é claramente o principal campo de batalha de uma guerra civil que não está levando a lugar nenhum e que além disso só mostra perdedores, enquanto o consumo se mantém.

Frank Campbell

Miami, EUA

Futuro do Amazonas Excelente a reportagem sobre o Amazonas (“Celeiro em risco”, AméricaEconomia 373, 15 de março, 2009), sobre os riscos climáticos para toda a região. Acho que é preciso fazer com que a conservação da fl oresta seja uma atividade rentável não apenas na região do Amazonas, mas em todo o mundo (pelo menos a fl oresta nativa). Para isso, se poderia incluir a preservação da selva nativa no mercado de créditos de carbono. Mas que seja já, sem esperar até o substituto do Protocolo de Kyoto, em 2012. Os donos de fl orestas devem ser compensados economicamente pelos serviços ambientais. De outra forma, o desmatamento será inevitável.

Fernando José C.

Córdoba, Argentina

Liderança do BrasilSobre a entrevista ao historiador brasileiro Luiz Alberto Bandeira publicada em seu site (“EUA perderia infl uência na América Latina”, www.americaeconomia.com.br, março de 2009), o historiador – como muitos catedráticos – faz adivinhações no terreno das ciências políticas internacionais.Apesar de ser verdade que na mente dos grandes internacionalistas brasileiros, tenha existido a ideia da “tutelagem” sobre a

América do Sul, não menos certo é que, na prática, tal infl uência tem sido quase inexistente. O Brasil deu as costas ao continente, seja por concentrar-se em seu imenso território e em seus imensos problemas, seja porque a elite sempre preferiu espelhar-se na Europa ou nos Estados Unidos.Exercer infl uência implica compromisso, e hoje esse compromisso se dilui no pântano das ideologias e do darwinismo econômico. Lula tomou decisões interessantes em favor de aproximar-se do restante de seus vizinhos, mas o caminho é longo e os inimigos de sempre (pobreza, corrupção e desigualdade) não foram derrotados.Falar de integração em um continente fi ssurado por rancores históricos, pelas ideologias macilentas e pela corrupção em vez de estabelecer as bases mínimas para tornar o processo integrador de uma realidade é quase falar de conto de fadas.É certo que na Europa as difi culdades foram muitas e tornaram o processo unifi cador uma façanha. Mas em tal continente eles conseguiram superar os antagonismos históricos, as idiossincrasias adversas, as religiões opostas, os idiomas diferentes. Isso signifi cou maturidade, a maturidade que na América Latina estamos condenados a nunca ter.

Roberto Beaumont

Lima, Peru

6 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

CARTASe comentários

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Page 8: Nº 374 Edição Brasil

O S N E G Ó C I O S D A A M É R I C A L A T I N A O N L I N E

QUAL É A SUA APOSTA PARA A COTAÇÃO DO DÓLAR DAQUI A SEIS MESES?

O principal concorrente do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) é o sistema euro-peu DVB – que tem um forte lobby nos países da região. Contudo, o Brasil não está deixando por menos e mantém negociações com o Equa-dor, Chile, Venezuela, Peru, Cuba e Argentina, entre outros, para que seu sistema seja adotado, alegando maior integração da região. Em entrevista ao repórter Marcelo Galli, o mi-nistro das Comunicações Hélio Costa afi rmou que um fator que chamou atenção de peruanos e chilenos é a perspectiva de os empresários brasileiros instalarem fábricas para a monta-gem dos conversores, que custam por volta de R$ 300. O setor já está na torcida, de olho nas oportunidades de mercado nos países latinoa-mericanos.

Primeira cidade que só poderá funcionar com energias renováveis, Masdar está sendo construída a milhares de quilômetros da América Latina. Nos Emirados Árabes, a cidade terá um centro ‘ecomagination’, criado pela General Electric, que desenvolverá soluções comerciais sustentáveis. O presidente da GE Chile, Alex Bottan, explicou que o centro contará com “produtos de energia eólica, solar e outras fontes de energias renováveis que vão alimentar a rede elétrica ‘inteligente’ da próxima geração e tecnologias de purifi cação de água e dispositivos de efi ciência energética”. Tudo isso no meio do deserto.

Para que uma fi lial de uma companhia global seja bem-sucedida, a re-lação com a matriz deve se basear na atenção, no apoio e em recursos do núcleo corporativo. Embora isso possa parecer óbvio, muitas fi liais enfrentam problemas nesse sentido. Cyril Bouquet, professor do Instituto de Mídia Digital, fez uma pesquisa com 283 companhias internacionalizadas. O estudo apontou que, para estas, alguns mercados são mais importantes e concentram o foco das companhias. Por isso, certas fi liais acabam tendo que lutar por apoio e visibilidade. Leia o artigo completo no site.

BRASIL PELA TV DIGITAL

8 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

ENQUETE29%

14%

MENOS VALORIZADO

MESMO PATAMAR ATUAL

MAIS VALORIZADO

57%

AINDA NÃO RECEBE? LEIA O QUE ACONTECE NOS PRINCIPAIS SETORES DA ECONOMIA E DOS NEGÓCIOS REGIONAIS EM SEU E-MAIL. ASSINE.

A SUA FILIAL NO MAPA DO GRUPO?

UMA CIDADE RENOVÁVEL NO MEIO DO DESERTO

Page 9: Nº 374 Edição Brasil

w w w. a s a p - r e p o r t s . n e t

Armando GuebuzaPresidente

s atenções se voltam ao Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) na América Latina – realizado no Rio de Janeiro este mês –, e o presidente

de Moçambique Armando Guezuba espera consolidar uma maior parceria com a região.

Desde a assinatura do tratado de paz em 1992, pondo fim a 16 anos de conflito civil, o sudeste da república africana se tornou um pólo de atração de investimentos vindos de todo o globo. O presidente Armando Guezuba, que chegou ao poder em 2005, colaborou muito para incrementar a estabilidade e a democracia do país, classificando esta última de “um processo que nós temos que defender cuidadosamente”.

O crescimento registrado pelo país tem sido alto – entre 7% e 10% nos últimos cinco anos –, e a futura expansão dependerá de mais investimento estrangeiro em agricultura, turismo e infraestrutura. Mais de 75% dos 21 milhões de habitantes economicamente ativos do país trabalham em agricultura de pequena escala, e 88% das terras produtivas ainda não estão cultivadas. Além disso, há o potencial lucrativo das reservas de titânio que ainda esperam para ser exploradas. “Nossa prioridade agora é atrair investimentos em estradas, energia, hospitais e escolas”, diz Guezuba. Mais além do WEF, que acontecerá no Brasil de 14 a 16 de abril, Guezuba explica que as relações entre seu país e América Latina já são excelentes. “O Brasil possui um grande número de companhias ativas em Moçambique, particularmente nos setores de construção e mineração, como Vale e Odebrecht. Também estão sendo desenvolvidos programas educacionais e de capacitação técnica. O Brasil está instalando um laboratório para produzir remédios para o combate à Aids, e estamos visando a sua experiência para quando comecemos a produzir etanol, num futuro próximo.” Guezuba também tem mantido conversações com a presidente do Chile Michelle Bachelet sobre potenciais parcerias.

Moçambique mostra-se um país atrativo não só por sua política fiscal competitiva e por ter uma base industrial que está crescendo 6% ao ano. Sua localização geográfica como uma porta de entrada dos negócios latinoamericanos à Southern African Development Community – um free trade market de 200 milhões de consumidores potenciais – também o torna extremamente interessante. “Brasil e Moçambique falam o mesmo idioma e possuem muitas coisas em comum, o que constitui uma grande vantagem”, diz o ministro de Indústria e Comércio Antonio Fernando. “Estamos melhorando nossa infra-estrutura e nosso clima de negócios para atrair mais investimentos.”

O embaixador do Brasil Antonio de Souza e Silva comemora que a empresa Vale esteja se posicionando no continente africano, sinalizando que irá “criar milhões de empregos e um intercâmbio de serviços, o que implica salários melhores e maior fortalecimento. E isso se refletirá em outros setores da economia, como o habitacional e de bens de consumo”.

Também é preciso destacar as oportunidades na área de peixes e frutos do mar e processamento de cereais, castanha de caju, que ressurgiu no cenário do país. Filomena Maiópuê, do Instituto de Fomento do Caju (Incaju), conta que “o cajueiro foi eliminado devido à guerra e às pragas, mas desde então administramos uma produção de 90 mil toneladas de material não-processado. Há um imenso potencial de produção de alimentos com base nesse produto.” Atualmente exporta-se caju

para Índia, Europa, EUA e África, e Maiópuè está negociando também com a associação de produtores no Brasil.

O presidente Guebuza e o governo de Moçambique esperam conquistar um substancial progresso nas relações entre as duas regiões até o 2nd Africa-South America Summit, a ser realizado em 2010.

A

MOÇAMBIQUE:ESTREITANDO RELAÇÕES NEGÓCIOS

Os 2,7 mil km da costa de Moçambique contam com extensos recifes de corais.

I N F O R M E E S P E C I A L M O Ç A M B I Q U EMOZAMBIQUE

ZAMBIA

MALAWI

ZIMBABWE

TSWANA

SOUTH AFRICA

MADAG

1

“Um free trade market de 200

milhões de consumidores potenciais.”

Antonio FernandoMinistro de Indústria e Comércio

Instituto de Fomento do CajúRua da Resistência, 1746, 4º andar

Maputo, Moç[email protected] www.incaju.gov.mz

INSTITUTO DE FOMENTO DO CAJU

[Este informe publicitário foi produzido pela ASAP Reports. AméricaEconomía não se responsabiliza pelo conteúdo desta seção.]

Page 10: Nº 374 Edição Brasil

O DESENVOLVIMENTO empresarial na América Latina ganhou sua me-lhor cara nas multilatinas. É um conceito cunhado por AméricaEconomia nos anos 90, para descrever as empresas latinoamericanas que iniciavam

processos de internacionalização e que pouco a pouco foram ocupando o es-paço das multinacionais tradicionais vindas principalmente dos EUA e da Europa. As multilatinas cresceram ainda mais com o boom das matérias-primas que se estendeu desde 2002 a 2008. E muitas delas conquistaram mercados fora das fronteiras latinoa-mericanas.Hoje podemos encontrar empresas nascidas em nossos países operando na Europa, na África e no Sudeste Asiático em uma interessante cor-rida que atraiu investidores de todo o mundo. Aproveitando o interesse dos mercados, muitas delas se supe-rendividaram. Outras apostaram em opções e derivativos cambiais que lhes permitiriam aumentar sua receita

fi nanceira. As apostas lhes garantiram lucros inéditos. Mas a crise gerou uma mudança drástica para muitas. Isso signifi ca que veremos um retrocesso de nossos campeões em nível global? “Não necessariamente: há multilatinas que optaram por uma gestão conser-vadora e que hoje gozam de posições fi nanceiras mais sólidas que as multi-nacionais que lideram em seus setores”, diz Jaime Contreras, o engenheiro industrial que coordenou esta segunda edição do ranking das empresas latinoamericanas mais globais. Para analisar a capacidade dessas empresas para continuar se internacionalizando, decidimos observar como estavam em relação às multinacionais que tradicionalmente fi guram como líderes em seus setores, e quão bem estavam para enfrentar essa crise. “Apesar de haver muitas multilatinas em situação desafi adora, há várias com capacidade de seguir ganhando terreno em relação às multinacionais.” Para estas, o tempo de crise é uma oportunidade que, aproveitada com bom olho e liquidez, pode se transformar em um momento histórico em suas vidas.

SER GLOBAL EM UMA CRISE GLOBAL

FERN

AND

O CA

RRAS

CO C

RUCH

AGA

JAIME: ANÁLISE MULTILATINA

10 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

MEMO

Felipe Aldunate M.Diretor Editorial

DIRETOR Elías Selman C.

Certifi cado Licitud de Título Nº 4090 . Certifi cado Licitud de Contenido Nº 3346 . AméricaEconomía is a Nanbei Ltd. Monthly publication

VICE-PRESIDENTE-EXECUTIVA Gloria Landabur

DIRETOR EDITORIAL Felipe Aldunate M.EDITOR ADJUNTO Rodrigo Lara

DIRETOR DE ARTE Álvaro Araya UrquizaEDITORES-EXECUTIVOS Solange Monteiro, Juan Pablo Rioseco, Eduardo Thomson

EDITOR BRASIL Dubes SônegoASSISTENTE DE EDIÇÃO Sérgio Spagnuolo

ESCRITÓRIO EDITORIAL BRASIL (55 11) 3063-2049

EDITOR MÉXICO Arly FaundesEDITOR MIAMI Antonio María Delgado

EDITOR DE FOTOGRAFIA Miguel CandiaREPÓRTERES Soledad Gómez, Matías Rodo Yuricevic (Santiago)

CORRESPONDENTES•ARGENTINA Juan Pablo Dalmasso•COLÔMBIA Lucía Valdés •MÉXICO Carolina Solís •PERU Cecilia Niezen•URUGUAI Guillermo Pellegrino

•VENEZUELA Dorothy Kronick •AMÉRICA CENTRAL Ricardo Castillo

•MIAMI Carlos Molina •WASHINGTON Antonieta Cádiz

COLUNISTAS•Susan Kaufman Purcell•Félix Peña•Abraham Lowenthal •John Edmunds •Javier Santiso

DIAGRAMAÇÃO Riffka Schiro-kauer J., Sebastián Caro P. •ILUSTRADORES Soledad Tirapegui, Rodrigo Díaz Carrizo

REVISORA Adriana Casarotti

AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE(estudos e projetos especiais) •DIRETOR Rodrigo Díaz

•SUBDIRETOR Jaime Contreras•COORDENADORA DE ESTUDOS Daniela González

•EDITORA Karin Hernández •PESQUISADOR SÊNIOR Pablo Hernández

AMÉRICAECONOMIA.COM •EDITOR ESPANHOL Eduardo Coronado

•EDITOR BRASIL Mel Bornstein•SUBEDITORMarcelo García•REPÓRTERES Marcelo Galli, Pablo Jamett, Alejandra Clavería

•REDATORES Patricia Zvaighaft, María paz ördenes•TRADUTOR Juan Pardo

•WEBMASTER José Fuentes

DIRETORA COMERCIAL EUA Verónica Lizama • DIRETORA COMERCIAL MÉXICO Juliana Kollinger • VENDAS PUBLICIDADE Jannifer Price (Miami), Rafael

Solís, Tanya Mejía Maya (Cidade do México •DIRETOR DE MARKETING Marcelo Silva Symmes• DIRETORA COMERCIAL CHILE María Alejandra Vigh • VENDAS

CHILE Tibisay Campbell, Paz Lecea • DIRETORA COMERCIAL PERU AlejandraBustamante •EXECUTIVA DE VENDAS PERU Maria Claudia Díaz-Dulanto •GERENTE DE PRODUÇÃO Constanza del Río Moreno •DIRETOR DE CIRCU-

LAÇÃO Marcial Delcorto •GERENTE DE INFORMÁTICA E LOGÍSTICA Óscar Sánchez

• BRASIL•HV2 Comercialização de Mídia•DIRETOR-GERAL Hélcio Vieira

•GERENTE DE PUBLICIDADE Oscar da Silva Alves•GERENTES DE NEGÓCIOS Nícolas Cardoso Slamek

•GERENTE DE MARKETING Denise TerranovaRua Cel. Arthur de Paula Ferreira, 59 - cj 111-

São Paulo - SP - BrasilCEP 04511-060 Tel.: 5511-3846-5588

ESCRITÓRIOS COMERCIAIS • EUA Tel: 305/648-9071•MÉXICO Tel: 5255/5254-2400 Fax: 5254-7510

• ARGENTINA Claudia DassoTel: 5411/4383-8410 - 4383-8416

•CHILE Tel: 562/290-9400 Fax: 341-5687 • AMÉRICA CENTRAL Julio Lemus

Tel-Fax: 502/2261-0278 • PANAMÁ Yadyra de Paz y MiñoTel: 507/271-5327 - 507/66787564

• PERU Patricia Anduaga 511-6107217, María Claudia Díaz-Dulanto 511-6107216

REPRESENTANTES INTERNACIONAIS •ALEMANHA 49211/887-2328 • ESCANDINÁVIA 4755/92-5192 Fax: 92-5190 •

ESPANHA 3491/441-6266 Fax: 441-6549 •FRANÇA 331/4143-7057 • ITÁLIA 3902/670-73383 •

REINO UNIDO 4420/7538-5811 •SUÍÇA 411/269-7070

REDAÇÕES • SANTIAGO 562/290-9400 • CIDADE DO MÉXICO 5255/5254-2400 • BUENOS AIRES 5411/4383-8410 • MIAMI 305/648-9071

AméricaEconomia é uma publicação mensal da Nanbei Ltd. •Impressa na Quebecor World Chile S.A. Publicação periódica•Registro PP09-0011

PRESIDENTE Nils Strandberg CHAIRMAN Robert R. Paradise

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Page 12: Nº 374 Edição Brasil

12 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

SEGUINDO A PISTA

TOQUE DE MIDASPUBLICAMOS: O braço de Eike no setor de energia, a MPX, nasceu na esteira do racionamento de energia de 2001 e hoje tem como meta se tornar a maior empresa privada em geração na América Latina, com capacidade instalada de 10 mil MW. (“Fator ‘X’ à prova”, AméricaEconomia Nº 362, 11 de agosto, 2008.

O NOVO: Mais que energia, a empresa do Midas brasileiro está dando dinheiro. O lucro líquido consolidado da MPX no quarto trimestre de 2008 foi de R$ 121,56 milhões, equivalentes a um aumento de nada menos de 2.105% em relação ao pe-ríodo anterior. Segundo a empresa, tal desempenho é atribuído, principalmente, às aplicações fi nanceiras de parte do valor captado na abertura de capital (IPO) e ao lançamento contábil referente à provisão de ganho com derivativos.

MÁ CONDUTAPUBLICAMOS: A crise está levando novamente a Camargo Corrêa a buscar negócios com os órgãos públicos. Em 2005, somente 20% de seu negócio de engenharia e construção estavam vinculados a projetos estatais. Em 2008, esse percentual foi de 30%, e a tendência é de alta em 2009. (“Plano de obras”, AméricaEconomia Nº 373, 15 de março, 2009)

O NOVO: Indícios de que negócios da Camargo Corrêa com o Estado ultra-passavam a fronteira do ético colocaram a imagem da empresa em risco. Em meados de março, a Polícia Federal brasileira realizou uma operação (batizada de Castelo de Areia) com o objetivo de desarticular uma quadrilha de crimes fi nanceiros e lavagem de dinheiro inserida na Ca-margo Corrêa. Dez pessoas foram presas – e depois libertadas – incluindo quatro diretores da compa-nhia. Os principais crimes investigados são evasão de divisas, operação de instituição fi nanceira sem autorização, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e fraude a licita-ções.

FONTE SECAPUBLICAMOS: No ano passado, a Venezuela

importou US$ 56 bilhões em bens e serviços, e com o preço do barril de petróleo a US$ 40, o

país registrará US$ 28 bilhões em exportações petrolíferas, diz Ricardo Hausmann, diretor

do Centro de Desenvolvimento Internacional da Universidade de Harvard. O país não pode

endividar-se nesse momento, e por isso, se manter o ritmo de gastos, não demorará muito

até esgotar o dinheiro que tem guardado. (“Democrise”, AméricaEconomia Nº 372, 21 de

fevereiro, 2009)

O NOVO: Em um comunicado, o presidente Hugo Chávez declarou no fi nal de março que, devido às ações da Opep, deteve-se a queda do preço

do petróleo e este se estabilizará até “alcançar um preço justo, que eu considero que deve se aproximar dos US$ 80 o barril”. O preço do petróleo, que até agora

fi nanciou os projetos de Chávez, já perdeu US$ 100 desde que chegou à máxima histórica em meados de 2008.

PASSO ATRÁSPUBLICAMOS: Ofi cialmente, o Citi preservará sua longa lista de bancos latinoamericanos. Tratam-se de ativos valiosos, mas a crise permi-tirá que a companhia fi que com eles? (“O vaivém do gigante”, AméricaEconomia Nº 372, 21 de fevereiro, 2009)

O NOVO: Até agora, a empresa conseguiu manter seus bancos (ainda que o Itaú Unibanco já tenha se mostrado disposto a abocanhar o Bana-mex), mas decidiu desfazer-se do controle da Redecard no Brasil para levantar capital. O Itaú Unibanco exerceu a opção de compra de cerca de 24 milhões de ações ordiná-rias, fi cando com mais de 50% dos ativos da companhia, que processa transações com os cartões Mastercard e Diners. Com a operação, na qual foram vendidas 90 milhões de ações, o Citigroup levantou R$ 2,13 bilhões.

Page 13: Nº 374 Edição Brasil

AFP

ACúpula do G-20 em Londres foi criticada por alguns dos partidários da globalização por não ter consegui-

do chegar a um consenso sobre um sistema de fi scalização fi nanceira com soberania multinacional. Não obstante, há quem ache que o debate na capital do Reino Unido pode ser o começo de uma forma de governo econômico-plane-tária: “Continuo insistindo que o G-20 é muito pequeno. Se queremos que o G-20 seja um corpo de governo da globa-lização, necessitamos que some representantes dos países mais pobres”. O autor dessa frase não é Lula, mas Domi-nique Strauss-Khan, cabeça do FMI. Exultante pelo apoio dos governos que aumentaram os fundos da instituição em US$ 750 bilhões, o banqueiro é sufi cientemente audaz para argumentar que o Fundo voltou à vida, não unicamen-te como credor de última instância, mas “também como um criador de política econômica”. O que isso signifi ca? Depois de aclarar que não espera que no G-20 “façam o que nós dissermos”, afi rmou que agora “temos o direito de dizer qual classe de política se pode aplicar”. Sem dúvida o renascimento do FMI abrirá uma luta de poder para esta-belecer quem e como se defi nirá sua linha de ação. Neste contexto, as piadas do presidente Lula sobre o impacto de um FMI forte e fl exível podem ser essenciais para que a transição de uma economia global dominada pelos EUA a uma multipolar não seja um festival de crise permanente.

ENCRUZILHADA EQUATORIANAA menos que haja uma surpresa, Rafael Correa será reelei-to presidente do Equador. O atual mandatário ganhará no primeiro turno e conquistará ampla maioria, ao menos re-lativa, na nova Assembleia Nacional, na complexa eleição que será promovida no país no dia 26 de abril, que elegerá representantes para cerca de mil cargos públicos, entre governadores, prefeitos e congressistas. Ainda que não re-gistre o mesmo resultado que no referendo constitucional, no qual obteve cerca de 80% dos votos, Correa conseguiu

manter boa distância dos candidatos da oposição Lucio Gutiérrez e Álvaro Noboa, com uma paradoxal campanha de reeleição focada na renovação da cara dos políticos – e apoiada por seu programa de TV semanal, que lhe tem valido várias críticas por parte da autoridade eleitoral equa-toriana. A oposição deverá se conformar com a conquista de alguns postos-chave como o do governo de Guayaquil (possível reeleição do atual líder).

Mas, apesar de sua vitória ser quase certa, não existe a mesma certeza sobre o futuro da economia do país. Quan-do se trata da gestão econômica, Correa tem sido generoso em ambiguidades. Mau sinal em um momento no qual os défi cits do país se aprofundam na medida em que o preço do barril de petróleo cai e miguam as remessas dos imi-grantes radicados nos EUA e Espanha. Apesar de ter sido claro em dizer que não se toca na dolarização do país, e ameaçar os que difundam rumores nesse sentido, as autori-dades econômicas reconheceram que têm poucos recursos à mão para enfrentar a atual conjuntura internacional. Por enquanto, seu maior esforço esteve concentrado em restrin-gir as importações, afetando principalmente seus sócios da comunidade andina. Tampouco o governo de Hugo Chávez poderá ser de muita ajuda econômica, num momento em que deverá enfrentar problemas semelhantes em nível do-méstico.

As promessas de revoluções em educação, saúde e moradia que encabeçam sua campanha fi carão vazias de recursos se não se realizar uma mudança de rota em sua gestão estadista, que provoca a desconfi ança dos empre-sários locais – cujas preferências de voto hoje se dividem entre Noboa e Gutiérrez. Se não conseguir gerar vínculos e conquistar a confi ança da comunidade de negócios local e levar a cabo reformas que verdadeiramente fomentem a participação privada em diferentes esferas, o professor de economia se verá sem recursos para concluir sua desejada revolução.

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 13

EDITORIAL

DAS CINZAS

Page 14: Nº 374 Edição Brasil

14 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

MOVIMENTOS

sai às comprasO Magnata

QUEM DUVIDA QUE AS crises são acompanhadas de opor-tunidades precisa revisar as

notícias sobre Carlos Slim – o terceiro homem mais rico

do mundo, com uma fortuna avaliada pela Forbes em US$

35 bilhões. O mexicano não parece amedrontado pela situação atual. “Slim pode

comprar tudo”, afi rma Carlos Nuñez, analista da Monex

Casa de Bolsa. Recentemen-te, ele tem anunciado vários investimentos que suas em-

presas realizarão: o Grupo Carso investirá cerca de US$ 2 bilhões na América Latina;

já o braço de telefonia celular América Móvil, desembolsará

US$ 3 bilhões. Slim também adquiriu 53 mil ações do pro-

vedor de serviços de perfu-ração norteamericano Bronco Drilling, aumentando sua par-

ticipação nessa companhia para 15,67%. E, como se fosse pouco, concretizou a compra de 150 mil ações do nortea-mericano The New York Ti-mes, elevando para 7% sua

fatia nesse grupo editorial. E alista não termina. O mexica-

no também decidiu aumentar em 18% sua participação na cadeira varejista de lojas de luxo Saks Fifth Avenue, e foi

especulado como um dos principais compradores do Banamex caso o Citigroup

decida vender a fi lial mexi-cana. “Está diversifi cado em

tantos setores que pode par-ticipar em alguns mais”, con-clui Nuñez. Quando se trata

da capacidade de compra de Slim, tudo é possível.

SLIM: CARTEIRA RECHEADA

AFP

ARLY FAUNDES B. / CIDADE DO MÉXICO

Page 15: Nº 374 Edição Brasil

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 15

MOVIMENTOS

A EMPRESA DINAMARQUESA Serious Games Interactive inspirou-se em alguns dos confl itos vividos no continente para elaborar seu jogo Global Confl icts: Latin America. Os jogadores

podem viajar à América Latina em seus compu-tadores e virar jornalistas que investigam o as-

sassinato de uma mulher na fronteira entre México e Estados Unidos, a tentativa de homicídio de um políti-

co na Guatemala ou a misteriosa desaparição de uma criança na Bolívia, entre outros acontecimentos. Mikkel Lucas Overby, diretor comercial da Serious Games, explica que “os jogos são extremamente poderosos e podem ser usados principalmente para diversão. Con-tudo, a empresa está convencida que tem um grande potencial para comunicar mensagens específi cas e defender objetivos”. Global Con-fl icts: Latin America busca destacar problemas reais da região, como corrupção, crime organizado, tráfi co de pessoas, poluição, genocídio e confl itos migratórios na Bolívia, Guatemala e México, para que sejam levados em conta e possam ser solucionados “na realidade e na fanta-sia”. O jogo, lançado em novembro de 2008, foi destaque de vendas na Dinamarca, Suécia, Noruega, Grã-Bretanha e Alemanha.

tsas

e Estadco na Guatem

Da realidade à fantasia

PARA OS 40 MIL CLIENTES NÃO-residentes no Uruguai que tenham contas em bancos com sede no país - como Itaú, Santander Nuevo Banco Comer-cial e ABN-Amro -, o paraíso de Montevidéu pode virar um purgatório. Isso se deve aos planos do pré-candidato presidencial José Mujica, do partido Frente Ampla, da situação, favorita nas pesquisas, de eliminar o sigilo ban-cário. “Este já cumpriu uma etapa e hoje não está no mesmo tom de uma política de integração”, diz. Sua porta-voz (e esposa), a também senadora Lucía Topolansky, acrescenta que “sabemos que há pessoas que evadem impostos na Argentina trazendo o dinheiro para cá”. Embora o governo tenha eliminado o uso de sociedades anônimas criadas para receber dinheiro vindo da Argentina e do Brasil, Mujica disse que o Uruguai está sob a mira da OCDE, assim como Panamá, Bahamas e Ilhas Cai-mán. Seu concorrente pela nomeação partidária, o ex-ministro da Economia Danilo Astori, se diz escandalizado. “Um requisito para fazer política seriamente não é semear alarmas com o sigilo bancá-rio. Com isso não se joga”, disse. Há coisas que é melhor manter em segredo.

Problemas no Paraíso

TUDO COMEÇOU COM as .com, .net e .org. Logo depois, seguiram as .edu, .biz, .tv, E agora a Améri-

ca Latina busca operar o posto de correspondente do ciberespaço,

assegurando a terminação .lat. A iniciativa, introduzida recente-

mente na reunião anual da ICANN (Internet Corporation for Assig-

ned Names and Numbers), se faz necessária perante o crescente

número de usuários latinoameri-canos que desejam registrar seus

próprios domínios, mas que tem poucas opções de fazê-lo, diz Os-

car Robles, diretor da NIC México, entidade que administra os domí-nios no país. A adoção da .lat aju-

daria a resolver a severa escassez de nomes disponíveis para serem

inscritos em espanhol, situação que, segundo Robles, é um dos principais motivos pelos quais, no México, só 1% dos usuários

possuem domínios reservados, à diferença da taxa de 10% registra-da em países desenvolvidos. O .lat

não será de uso exclusivo de mexi-canos. A terminação “será cultural,

sem restrição para nenhum país”, conta o especialista.

Domínio .lat?

LISIA GONZÁLEZ / CIDADE DO MÉXICO

ARLY FAUNDES B. / CIDADE DO MÉXICO

RODRIGO LARA / BUENOS AIRES

Page 16: Nº 374 Edição Brasil

16 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

MOVIMENTOS

Estoque até o pescoço

A siderúrgica indiana Arce-lorMittal nomeou seu então vice-presidente, Gerson Alvez Menezes, CEO da ArcelorMittal Ações Longos. O executivo fi cará responsável pelos negócios no Brasil, respondendo também por América Central e o restante da América do Sul. Ele substitui Paulo Geraldo de Sousa, que deixa o cargo este mês.

Depois de 1.432 dias, Gonzalo Alonso deu adeus à Google para perseguir “outros sonhos”. A co-lombiana Adriana Noreña é a nova gerente geral para Chile, Argentina e Colômbia. A executiva já ocupou a direção de vendas e operações online do Google para o Brasil e para a América Latina.

Luís César Verdi foi escolhido para o cargo de presidente da SAP Brasil. Com 27 anos de mercado de TI e seis de companhia, o executivo ocupava anteriormente o cargo de vice-presidente sênior de vendas para grandes empresas na América Latina.

Marcelo Silva, ex-presidente das Pernambucanas, é o novo superintendente da rede varejista brasileira Magazine Luiza. Ele ocupa o cargo deixado por Luiza Helena Trajano, que assumiu a recém-criada presidência da companhia.

Ana Lucia Caltabiano é a nova diretora de recursos humanos da HP Brasil. A executiva está na empresa há cerca de dez anos e já ocupou posições na área em outras unidades na América Latina. Antes de atuar na HP, passou pela Procter & Gamble.

vemvai&

ADRIANA NOREÑA

NÃO SE TRATA APENAS de achar oportunidades em tempos de crise. Trata-se, antes de tudo, de identifi car oportunidades dentro de mercados em crescimento, com ou sem a turbulência fi nanceira global. A norteamericana NetApp, que fornece soluções de gerenciamento de dados em mais de 30 países, vê tal potencial no cenário brasi-leiro, onde planeja aumentar sua participação de mercado de 8% a 12% nos próxi-mos três anos, um grande salto regional em um país que representa cerca de 2% do faturamento total da companhia. “Procuramos ativamente parcerias com distribuido-res e integradores locais”, diz o CEO mundial da companhia, Dan Warmenhoven, em sua sétima passagem pelo Brasil. O executivo não reluta em dizer que os investimen-tos da NetApp no país “provavelmente” aumentarão, assim como a estrutura local, que conta com 25 pessoas. “O Brasil está no nosso Top 10 de oportunidades de cres-cimento, à medida que integra cada vez mais tecnologia e processamento de dados com redução de custos”, afi rma.

A MAIORIA DOS REPRESENTANTES do setor automotivo do Peru anda com os nervos à fl or da pele. O crescimento forte na venda de veículos nos últimos anos os levou a aumentar os pedidos das matrizes, mas os ventos econômicos mudaram radicalmente e tu-do aponta a que milhares de veículos fi carão parados. Segundo as últimas estimativas da indústria, este ano serão vendidas 70 mil unidades, 50 mil a menos do que o previsto em meados de 2008. Agora, com estoques cheios e com barcos a caminho repletos de veículos provenientes da Europa, Ásia e América do Norte, as con-cessionárias quebram a cabeça para ver como colocar a maior quantidade de carros no mercado sem morrer na tentativa, disse-ram à AméricaEconomia dois representantes automotrizes que pe-diram anonimato. Os analistas acreditam que o Peru está no meio de uma feroz guerra de preços. E que a equação é muito simples: quanto menor o estoque, menores os gastos.

PERU: ESTACIONA-MENTOS ETERNOS

AFP

FERNANDO CHEVARRÍA LEÓN / LIMA

Mais no mesmo

SÉRGIO SPAGNUOLO / SÃO PAULO

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ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 17

MOVIMENTOS

MAIS DE 50% DOS POLICIAIS municipais do México “não estão qualifi ca-dos para exercer efi cientemente suas funções”, devido a baixos níveis de educação, problemas de sobrepeso e transtornos mentais. Segundo um es-tudo realizado pela Auditoria Superior da Federação (ASF), organismo da Câmara de Deputados que audita as contas públicas do país, apenas três de cada dez policiais possuem formação escolar superior ao nível básico. Além disso, poucos policiais se encontram em boas condições de saúde, apresentando um sobrepeso de dez quilos, e mais de 14% registraram al-gum transtorno psicológico, “o que signifi ca um risco a seu entorno social, pessoal ou de trabalho”, diz o relatório. Pablo Monzalvo Pérez, acadêmico diplomado em segurança pública da Universidade Iberoamericana, diz que os dados do estudo não são nenhuma novidade, “a polícia municipal está no nível mais baixo no que se refere a capacitação intelectual ou aca-dêmica, porque os municípios não possuem dinheiro para academias. Os policiais são mal pagos, mal armados e mal capacitados”.

QUANDO OS ESTUDANTES da Uni-versidade de Buenos Aires (UBA)

que concorrerão à fi nal internacio-nal de programação organizada pela

Associação de Máquinas Compu-tadoras (ACM) disseram que mais importante que ganhar é derrotar

os brasileiros, o salão da Accentu-re, seu patrocinador, caiu na risada. Acontece que a rivalidade competi-tiva entre ambos os países agora se põe à prova em um novo campo. Há dez anos, as duas nações disputam palmo a palmo o título de Campeão da América Latina outorgado pelo

evento. Seis para a Argentina, e qua-tro para o Brasil. O pódio mundial? Muito longe. Nos 32 eventos reali-

zados os campeões são os Estados Unidos, com

17 títulos. Mas, desde que o even-

to foi glo-balizado, há

uma déca-da, as uni-

versidades da Europa Oriental e da China dominam

o primeiro lugar.

Ano Universidade

2008 U. de Buenos Aires (Ar)

2007 P.U.C. do Rio de Janeiro (Br)

2006 Inst. Tec. Aeronáutica (Br)

2005 Inst. Tec. Aeronáutica (Br)

2004 U. de Palermo (Ar)

2003 U. de Buenos Aires (Ar)

2002 U. de Buenos Aires (Ar)

2001 U. de São Paulo (Br)

2000 U. de Buenos Aires (Ar)

1999 U. de Buenos Aires (Ar)

CAMPEÕES DA AMÉRICAÚltimos 10 mundiais de programação da ACM

Outro clássicosulamericano

HÁ 15 ANOS, A FINLÂNDIA atravessou uma crise de proporções similares às atuais no mundo. O que foi feito para sair dela? “Triplicou-se o investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D)”, entre outras medidas, afi rma Jorma Routti, ex-assessor do governo fi nlandês em temas de tecnologia e presidente executivo da Creative Industry Management (CIM). “Investimos nosso caminho para fora da recessão”. E este é o caminho que o especialista recomendou em um painel durante a última cúpula do BID, em Medellín, para ser um acelera-dor do crescimento na América Latina. Não que cada país tenha sua própria Nokia, mas sim que invista nos setores onde estão suas forças. Falta muito o que fazer. A região só investe 0,5% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, enquanto o montante na Finlândia é de 4%. Mas há alguns sinais de melhoras. “Estive em uma conferência sobre P&D, recentemente, no Uruguai, da qual o Presidente da República participou. Ele fez um discurso de 40 minutos. Há alguns anos eu não via isso acontecer”, comentou Routti.

É o conhecimento, estúpido!

ROUTTI:P&D + P&D + P&D

BID

/OSC

AR G

ARCE

S

LISIA GONZÁLEZ / CIDADE DO MÉXICO

JUAN PABLO DALMASSO / CÓRDOBA

EDUARDO THOMSON / MEDELLÍN

Segurança “nota zero”

POLICIAIS: ÀS AULAS

Page 18: Nº 374 Edição Brasil

18 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

MOVIMENTOS

Fiel da balança DUBES SÔNEGO / SÃO PAULO

HELADOS: SABORES QUE RINDEN FRUTOS.

EM UMA TENTATIVA de reduzir a subjeti-vidade embutida na avaliação de corre-tores e outros tipos de especialistas, a Associação Brasileira de Fundos de Previ-dência Privada Com-plementar (Abrapp) está trabalhando na criação de um índice de referência para o setor imobiliário, bati-zado IBI-C, em parce-ria com a Fundação Getúlio Vargas. “Sua fi nalidade será criar

uma referência que permita acompanhar a rentabilidade das carteiras imobiliárias”, diz Carla Safady, coor-denadora da comis-são técnica ad hoc de investimentos imobi-liários da entidade. Inicialmente, o objeti-vo é cobrir apenas o mercado de empreen-dimentos comerciais. Mas futuramente, diz Carla, o índice pode-rá ser estendido aos mercados residencial e industrial. A medida

é considerada fun-damental para que o setor possa se ex-pandir transformando ativos imobiliários em fundos mobiliários, através da venda de cotas de fundos do gênero, da mesma forma que acontece em mercados mais líquidos e maduros. De acordo com as previsões da entidade, um piloto do índice deverá fi car pronto este ano, e sua versão fi nal em 2010.

US$ 112 MILHÕES. Esse total será in-vestido pelo Tribunal Superior Eleito-ral (TSE) do Brasil este ano na cons-trução de urnas biométricas, um passo a mais para a modernização das votações que desde 1996 são feitas eletronicamente. A ideia é que 4 milhões de eleitores - de um total aproximado de130 milhões - possam usar o sistema de identifi cação por impressões digitais e foto em 2010. O uso pleno da biometria liberará cer-ca de 1,5 milhão de eleitores recruta-dos para trabalhar como mesários, já que o sistema requer apenas o traba-lho dos funcionários do tribunal. Mas antes é preciso cumprir uma tarefa difícil: concretizar o Registro Único, que reúne em um só documento de identifi cação toda a sorte de papéis que os brasileiros devem portar: o RG, a carteira de motorista e o título de eleitor.

Voto com o dedo

SOLANGE MONTEIRO / SANTIAGO

SAFADY: MENOS SUBJETIVIDADE

ENQUANTO GRANDE PARTE dos bancos norteamericanos e europeus estava em chamas, os bancos latinoamericanos goza-vam de boa saúde no fi m do ano passado, especialmente os que operam no Brasil. Entre os mais rentáveis de todo o continente americano, os bancos Banco do Brasil, Itaú-Unibanco e Bradesco ocuparam os terceiro, quarto e quinto lugares no ranking da em-presa de estudos Economática. O Banco do Brasl registrou ganhos de US$ 3,767 bilhões no ano, en-quanto o Itaú-Unibanco divulgou US$ 3,339 bilhões e o Bradesco, US$ 3,261 bilhões. E quem acredita que as empresas estatais nunca são bem gerenciadas se surpre-enderão ao saber que o Banco do Brasil mostra uma rentabilidade sobre o patrimônio de 32,5% em 2008, seguido de longe pelo Bra-desco e pela American Express dos Estados Unidos, ambos com ROE de 23,6%. Os bancos latinoa-mericanos também chegaram aos quarto e quinto lugares (Santander Chile com 21,8% e Itaú-Unibanco com 21,5%). No ranking também aparecem outros nomes norteame-ricanos, em uma mostra de que no fi m do ano passado nem todos as instituições fi nanceiras do país estavam sendo sepultadas.

Posição Empresa País ROE% 2008

1 Do Brasil Brasil 32,52 Bradesco Brasil 23,63 American Express EUA 23,64 Banco Santander Chile 21,85 Itaú-Unibanco Brasil 21,56 State Street Corp EUA 15,07 Northern Trust EUA 14,68 Santander Serfi n México 12,69 US Bancorp EUA 12,4

10 BB&T EUA 10,6

TOP TEN

FONTE: ECONOMÁTICA

Bancos que não perdem

EDUARDO THOMSON / MEDELLÍN

Page 19: Nº 374 Edição Brasil

www.americaeconomia.com.br

ranking

das melhores

Fechamento: 18 de maio de 2009Publicação: junho de 2009

AméricaEconomia apresenta seu tradicional ranking dasMelhores Escolas de Negócios da América Latina A edição 2009 contém uma análise completa das especialidades ligadas à Administração, incluindo as escolas mais sólidas em:

FinançasMarketingEconomiaEstratégiaR.H.InovaçãoEmpreendimentoAlta direçãoO poder da marca: percepção de

prestígio tanto regional quanto local dos programas de MBA segundo os mais importantes headhunters da América Latina.

Ranking de necessidades locais: as especialidades em negócios mais demandadas pelas empresas.

Ranking Global de Escolas: as melhores opções para um latinoamericano que deseja fazer seu master em negócios fora do continente.

Page 20: Nº 374 Edição Brasil

OTH

ERIM

AGES

EM BUSCA DO EQUILÍBRIO

Não tem sido um ano fácil. Pergunte aos executivos da Cemex que tiveram de iniciar uma campanha de venda de ativos internacionais para cumprir com seus compromissos de fi nanciamento. Ou aos chilenos

da Sudamericana de Vapores, a empresa naval chilena, que procura compradores para uma de suas principais operações para fazer caixa. Ou ainda aos brasileiros da Sadia, o maior produtor de frangos, que por uma aposta equivocada em de-rivativos fi nanceiros registrou perdas de US$ 890 milhões no quarto trimestre de 2008. Pode perguntar até mesmo para os mexicanos do diversifi cado Grupo Alfa. Repartir seus ovos nas cestas de autopeças, petroquímica, alimentos e telecomu-nicações não evitou que tivessem perdas de US$ 670 milhões em 2008, o que deve levar ao corte de 20% nos planos de in-vestimentos para 2009.

A crise fi nanceira global está golpeando as principais cor-porações da região em diversas frentes: reduzindo preços e volumes de vendas, deteriorando mercados e restringindo um mercado fi nanceiro que castiga especialmente as que mais se endividaram para se internacionalizar. Apesar de tudo, há em-presas latinoamericanas que aproveitaram a crise para fortalecer ainda mais a posição global que mantêm em suas respectivas indústrias. Companhias como a aérea Lan, a guatemalteca Pollo Campero e as brasileiras Vale e JBS (Friboi) seguem com suas campanhas de extensão da cobertura geográfi ca.

Por isso, esta segunda edição do Ranking Multilatinas, que busca descobrir quais as empresas mais globais da América Latina, está cheio de movimentos. Esta lista que este ano alcan-çou 60 empresas, determina o quão global é uma companhia levando em conta aspectos como a cobertura geográfi ca (medida pela quantidade de países e regiões em que está presente), a

A crise tem impacto na globalização das grandes multilatinas. No entanto, há aquelas que são capazes de contornar difi culdades e continuar a expansão para novos mercadosFelipe Aldunate M. e AméricaEconomia Intelligence

importância dos mercados estrangeiros em seu negócio (medida pela proporção de vendas, ativos e empregados fora do país de origem) e o potencial de globalização, indicador criado a partir da solidez fi nanceira da empresa, sua posição na indústria à qual pertence e operações de fusão e aquisição que realizou no último ano. Alguns desses indicadores e seus resultados ponderados podem ser vistos nas tabelas das páginas 22 e 23.

Este ano, o primeiro lugar é da Tenaris. A empresa siderúrgica de origem argentina e que concentra as operações de tubos de aço sem costura do grupo Techint, estruturou o negócio mais global da América Latina. Trata-se de uma decisão corpora-tiva que há anos busca concentrar seus ativos em mercados distintos da arriscada Argentina e que transformou a cultura organizacional da empresa. “Nós não nos sentimos latinoame-ricanos”, disse da Itália um dos porta-vozes do grupo que tem sua sede principal em Luxemburgo. Hoje, a companhia opera em 10 países e em cinco regiões geográfi cas diferentes. Além disso, a companhia diversifi ca suas fontes de fi nanciamento. Suas ações são comercializadas nas bolsas de valores de Nova York, do México, da Itália e da Argentina, apesar da comple-xidade que signifi ca estar em tantos mercados de capitais ao mesmo tempo.

Quem aparece em segundo lugar é a já citada Cemex, a cimenteira que empreendeu o maior processo de internaciona-

20 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

MULTILATINASESPECIAL

Page 21: Nº 374 Edição Brasil

BALANÇO CONTRA BALANÇOIndicadores de balanço da média de uma mostra de multi-latinas e multinacionaisFonte: AméricaEconomia Intelligence

VENDA E LUCROMultinacionais versus multilatinasVariação de índices fi nanceiros comparadosFonte: AméricaEconomia Intelligence

LUCRO

VENDAS

-40

-8,8

-20,6

11,9

-2,9

-20 0 20Var.%

MultilatinasMultinacionais

DÍVIDAS E ATIVOSMultinacionais versus multilatinasVariação de índices fi nanceiros comparadosFonte: AméricaEconomia Intelligence

ATIVOS

DÍVIDA

MultilatinasMultinacionais

-20 200

-2,9

3,0

13,8

7,8

Var.%

lização já realizado por uma companhia latinoamericana. Mas essa estratégia foi acompanhada de um forte endividamento. A companhia tem vivido um ciclo negativo principalmente devido aos maus resultados registrados nos Estados Unidos, na Espanha e na Inglaterra, suas operações internacionais mais importantes, mas também as mais afetadas pela crise. A compa-nhia mexicana continua sendo a empresa latinoamericana com presença em maior número de países e regiões, mas perdeu o primeiro lugar no ranking devido ao fato de que sua presença mundial tende a diminuir ao longo deste ano.

Em direção oposta aparece o terceiro colocado no ranking, o Grupo JBS, também conhecido como Friboi, e que após uma série de aquisições em distintas partes do mundo, hoje é o principal produtor mundial de carne bovina com presença em cinco regiões do globo. Apesar de ter uma ambiciosa estratégia de crescimento, a JBS terminou 2008 com melhores resultados que em 2007 e com menores níveis de endividamento. Recen-temente a companhia anunciou o cancelamento da compra da norteamericana National Beef, por US$ 970 milhões, entre ações, dinheiro e dívidas. No entanto, a companhia continua com amplo capital disponível para empreender novos investimentos tanto no Brasil quanto em outros países, assim que a situação melhorar, como anunciou Joesley Batista, seu presidente.

Também entre os Top 10 está a construtora brasileira Norberto Odebrecht, a companhia aérea chilena Lan e o Grupo Bimbo, a panifi cadora mexicana que quer ensinar os chineses a comer pão. Além disso, é preciso incluir a presença da empresa de telecomunicações sem fi o Brightstar. Esta, apesar de baseada em Miami, consideramos latinoamericana por ser fundada por um boliviano, continuar a ter presença latinoamericana importante em seu capital e a uma origem estreitamente vinculada à região. O Brasil, com 26; o México, com 13; e o Chile, com 12, foram os países que mais multilatinas incluíram neste ranking.

CARA A CARAA pergunta relevante, apesar de tudo, é quão bem-preparadas essas companhias estão para enfrentar a crise. Ou melhor dizendo, como estão em comparação com outros competidores globais. Para isso, comparamos os resultados obtidos pelas multilatinas

com uma mostra de multinacionais de outras regiões, que têm indústrias de setores comuns aos nossos. Comparar os resultados e a solidez fi nanceira de nossos campeões corporativos com a mostra formada por tradicionais multinacionais da Europa e dos Estados Unidos dá resultados muito interessantes.

Se levarmos em conta as variações nos resultados durante 2008, por exemplo, observamos que as multinacionais globais (ou só multinacionais), tiveram um melhor desempenho: suas vendas cresceram 11,6%, enquanto as vendas das multilatinas caíram 2,9%. Acontece algo similar, por exemplo, quando se comparam a variação anual dos lucros ou o crescimento dos ativos: em ambos os casos ganham as multinacionais.

Parte dessa diferença se explica pelo atraso com que a crise está chegando à nossa região. Muitas multinacionais já haviam sofrido em 2007 os resultados da desaceleração dos mercados nos Estados Unidos e Europa, enquanto as multilatinas regis-travam recordes graças ao preço das commodities e condições favoráveis ao intercâmbio comercial na região.

Apesar de tudo, também é correto afi rmar que, de modo geral, as multinacionais estão mais diversifi cadas em territó-rios e zonas geográfi cas que as multilatinas, o que as permite contrabalançar eventuais perdas em alguns mercados com os ganhos em outros. De fato, quase todas as multilatinas obser-varam uma forte queda no faturamento e nos lucros no último trimestre de 2008, enquanto algumas multinacionais consegui-ram minimizar as variações em seus resultados, mesmo nos momentos mais complicados da crise.

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 21

Multilatina Multinacional

Liquidez corrente 1,28 1,04

Estrut. fi nanciamento (Passivo/patr.) 0,62 1,92

Prazos de dívida (dívida cp/dívida lp) 0,89 0,68

Rentabilidade do capital (ROE) 21% 15%

Rentabilidade operacional (ebitda/patr) 42% 23%

MULTILATINASESPECIAL

Page 22: Nº 374 Edição Brasil

COBERTURAGEOGRÁFICA

Rk09

Rk08

Empresa País SetorVendas

2008 (US$ Milhões)

Var.Vendas

%

Lucro(US$

Milhões)

Emprega-dos

Países

1 6 TENARIS ARG Siderurgia 12.131,8 21 2.124,8 23.873 102 1 CEMEX MÉX Cimento 17.581,8 -19 164,7 50.000 333 19 GRUPO JBS (FRIBOI) BRA Alimentos 12.982,6 63 11,1 55.361 114 4 VALE BRA Mineração 30.184,0 -9 9.105,5 62.490 275 12 BRIGHTSTAR EUA Telecom 3.600,0 -16 N.D. 3.500 386 9 GERDAU BRA Siderurgia 17.932,3 4 1.686,1 46.000 147 7 GRUPO ALFA MÉX Autop./Petroq. 8.399,8 -14 -670,0 50.922 168 17 LAN CHI Aviação 4.587,2 30 339,7 15.797 149 3 CONST. NORBERTO ODEBRECHT BRA Engenharia 4.950,0 N.D. N.D. 54.000 34

10 15 PETROBRAS (*) BRA Petróleo 111.967,0 28 14.115,4 74.240 2711 24 AMÉRICA MÓVIL MÉX Telecom 24.988,6 -12 4.345,7 43.000 1712 40 AJEGROUP PER Bebidas 1.090,0 27 N.D. 10.000 1213 10 GRUPO BIMBO MÉX Alimentos 5.951,0 -12 312,3 96.800 1614 5 SUDAMERICANA DE VAPORES CHI Navieira 4.934,9 19 -39,1 7.321 615 11 PDVSA VEN Petróleo 115.446,0 20 N.D. 75.585 916 55 INTEROCEÁNICA CHI Navieira 983,7 35 18,3 2.000 417 13 CENCOSUD (*) CHI Varejo 9.458,8 14 254,5 95.000 518 8 EMBRAER (*) BRA Aeroespacial 5.725,0 17 183,5 N.D. 519 20 CAMARGO CORRÊA CIMENTOS BRA Cimento 1.664,0 N.D. N.D. N.D. 420 37 TELMEX MÉX Telecom 8.972,0 -25 1.458,7 77.500 921 23 GRUPO CAMARGO CORRÊA BRA Eng./Constr. 7.175,1 N.D. N.D. N.D. 1422 48 MEXICHEM (*) MÉX Petroquímica 2.274,7 8 10,2 10.500 1523 22 WEG (*) BRA Máquinas 2.322,2 10 239,8 2.187 4724 30 POLLO CAMPERO GUA Alimentos 350,0 4 N.D. 4.500 1125 31 VOTORANTIM CIMENTOS BRA Cimento 3.257,4 N.D. N.D. N.D. 326 28 CMPC CHI Florestal 2.978,7 -8 205,8 12.567 627 42 GRUPO MODELO MÉX Bebidas 5.448,2 -68 651,7 35.000 628 34 MADECO (*) CHI Florestal 1.069,4 -16 154,5 2.417 529 16 FEMSA MÉX Bebidas 12.146,9 -10 484,9 105.000 930 20 ARCOR ARG Alimentos 2.230,2 21 N.D. 20.500 1631 36 FALABELLA (*) CHI Varejo 6.132,0 7 321,1 58.000 432 47 SONDA (*) CHI Tecnologia 659,4 22 38,5 10.614 633 - DUAS RODAS BRA Alimentos 500,0 N.D. N.D. N.D. 2434 41 P.I. MABE MÉX Higiene 252,0 -37 N.D. 3.500 535 14 GRUMA MÉX Alimentos 3.238,2 -1 -888,6 17.850 1236 39 VIÑA CONCHA Y TORO (*) CHI Bebidas 551,0 3 55,9 551 2237 56 CELCO CHI Florestal/Celulose 3.689,0 3 N.D. 35.000 338 43 SABÓ IND. E COM. DE AUTOPEÇAS BRA Autopeças 346,9 N.D. N.D. N.D. 839 19 GRUPO TACA ELS Aviação 1.000,0 7 N.D. 6.000 540 54 FASA (*) CHI Varejo 1.643,3 -5 1,2 12.367 341 58 METALFRIO (*) BRA Eletrodomésticos 389,8 N.D. -37,6 N.D. 542 74 LUPATECH (*) BRA Engenharia 351,4 N.D. -37,4 2.800 343 38 GRUPO ELEKTRA (*) MÉX Varejo 3.054,3 -15 673,9 37.121 844 32 GRUPO VITRO (*) MÉX Vidro 2.108,7 -18 N.D. 24.442 945 35 TAM (*) BRA Aviação 5.201,3 22 -582 23.871 1146 58 ARACRUZ CELULOSE (*) BRA Celulose 1.923,1 N.D. -1802,9 N.D. 547 53 GRUPO TELEVISA MÉX Mídia 3.468,1 N.D. 564,2 17.600 848 61 RIPLEY CHI Varejo 1.629,8 -14 43,8 20.194 249 26 LABORATORIOS BAGÓ ARG Farmacêutico 540,0 32 N.D. 4.200 1750 18 SADIA (*) BRA Alimentos 5.340,8 10 -1063,3 N.D. 751 50 MARCOPOLO (*) BRA Autopeças 1.241,3 -42 57,5 N.D. 852 21 ANDRADE GUTIERREZ BRA Eng./Const. 4.868,3 N.D. N.D. N.D. 1553 51 CIA. SIDERÚRGICA NACIONAL (*) BRA Siderurgia 7.118,4 10 N.D. 16.000 354 29 GRUPO NAC. DE CHOCOLATES (*) COL Alimentos 1.780,7 7 N.D. 21.100 455 46 BANCO ITAÚ BRA Financeiro 15.275,7 -11 N.D. 108.027 456 - ARTECOLA BRA Química 500,0 N.D. N.D. N.D. 657 62 TIGRE (TUBOS DE CONEX ÃO) BRA Mat. de const. 849,3 N.D. N.D. N.D. 558 - TOTVS (*) BRA Tecnologia 399,3 N.D. 20,6 N.D. 1959 45 GRUPO GLORIA PER Alimentos 820,4 -13 N.D. 1.360 660 33 NATURA BRA Cosméticos 1.548,1 -11 221,7 3.000 9

22 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

MULTILATINASESPECIAL

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Page 23: Nº 374 Edição Brasil

% OPERAÇÕES NO EXTERIOR POTENCIAL DE CRESCIMENTO INTERNACIONAL

Zonas/Regiões

Índicede

Cober-tura

%Vendas

%Invest.

%Trab.

Liquidez(At. Circulante/Pas. Circulante)

Classifi caçãoDívidaPública

ÍndicePosição Setorial

Potencial deCrescimentoInternacional

Índicede

Globalização

5 65,9 85,0 87,0 75,0 1,9 - 70,2 51,1 70,68 92,8 82,9 65,0 65,0 0,4 B-/CWN/-- 90,0 56,1 69,75 66,4 86,3 82,3 69,3 1,7 B+/Negativa/-- 70,0 51,4 68,97 84,8 38,3 49,4 25,1 3,0 BBB+/Estável/-- 75,0 95,0 66,67 95,0 55,6 66,8 78,0 1,0 - 90,0 31,9 61,96 67,2 54,4 60,2 48,5 2,5 BBB-/CWN/-- 62,5 65,0 61,36 78,3 54,3 71,0 52,0 1,1 - 57,0 35,5 58,25 71,4 86,0 72,8 35,0 1,1 - 70,0 30,5 57,47 84,3 69,2 55,0 47,0 1,0 BB/Estável/-- 60,0 28,6 53,66 79,8 30,0 31,0 9,1 1,0 BBB/Estável/-- 70,0 80,7 53,44 64,5 60,9 29,5 52,0 0,8 BBB+/Positiva/-- 51,2 65,5 52,74 55,1 81,0 64,0 76,0 N.D. - 70,0 25,9 50,06 68,2 35,7 56,3 49,0 1,1 BBB/Negativa/-- 60,0 31,2 48,44 57,0 88,0 35,0 68,0 1,8 BB-/CWN/-- 65,0 34,9 48,04 64,5 97,1 5,8 6,9 1,2 BB-/Negativa/-- 35,0 75,1 47,54 53,0 82,0 57,3 55,0 1,1 - 35,0 16,3 46,41 41,4 56,3 54,4 46,0 1,0 AA 44,3 34,2 45,14 56,0 85,0 44,4 11,7 1,5 BBB-/Estável/-- 60,0 33,5 44,21 37,0 49,9 66,4 59,2 1,0 BB/CWN/-- 43,2 18,6 43,83 57,6 3,2 51,0 39,0 1,3 - 65,0 39,4 42,85 66,4 23,8 43,3 18,0 1,0 BB/CWN/-- 38,8 28,8 39,14 62,5 53,0 28,0 65,0 1,0 - 38,2 19,0 38,47 93,1 44,3 19,3 18,0 1,7 - 39,0 24,0 37,96 62,3 80,0 12,8 80,0 1,0 - 45,0 16,4 37,23 42,7 37,0 48,7 33,3 1,0 BBB/Negativa/-- 36,1 20,4 36,32 45,5 71,0 26,9 29,5 2,1 A-/Negativa/-- 45,0 29,0 35,93 54,7 41,2 13,5 2,0 4,1 - 85,0 55,2 35,91 41,4 62,6 16,4 47,0 4,0 - 50,0 38,6 35,83 48,9 36,2 18,8 32,8 0,9 BBB+/Positiva/-- 70,0 44,3 35,66 69,7 15,2 25,0 26,5 1,6 - 80,0 31,1 35,01 37,0 37,8 39,2 32,8 1,1 AA 45,0 28,8 34,93 44,4 56,5 32,9 21,4 2,4 - 50,0 27,3 34,77 83,6 5,0 38,0 7,9 1,0 - 40,0 15,7 34,12 42,0 43,0 45,6 22,9 1,0 - 45,0 16,2 33,57 68,4 71,5 14,5 10,5 0,8 B+/CWN/-- 60,0 24,0 33,47 79,3 72,1 7,5 15,0 1,5 AA- 50,0 21,4 33,21 31,5 89,0 17,0 19,0 2,4 BBB+/Negativa/-- 33,9 29,9 31,23 69,3 43,2 19,8 27,3 1,0 - 31,0 13,6 30,91 28,0 82,0 15,0 75,0 1,0 - 40,0 16,7 30,82 32,5 63,0 24,1 60,5 0,8 - 25,0 13,8 30,74 51,8 23,3 19,1 43,6 2,6 - 33,6 25,1 30,32 42,0 15,2 35,9 24,7 2,2 BB-/Estável/-- 32,3 22,0 29,83 46,0 13,3 26,4 18,5 1,5 - 70,0 30,3 29,45 62,0 55,8 15,0 19,0 1,1 - 25,0 16,6 29,43 72,0 29,7 5,8 14,0 1,6 BB-/Negativa/-- 30,2 27,4 28,74 58,7 43,3 25,6 1,0 0,9 BB/CWP/-- 28,6 15,6 28,53 48,9 14,2 22,0 9,5 2,2 BBB+/Estável/-- 29,8 27,8 27,11 23,8 27,9 30,5 25,7 2,4 A+ 20,0 23,5 26,34 65,1 19,3 0,0 65,0 1,0 - 40,0 15,7 26,23 56,7 42,0 3,7 0,7 1,3 BB/Negativa/-- 60,0 31,3 26,15 57,3 23,7 14,0 24,1 1,5 - 27,2 17,9 25,85 64,0 15,4 9,2 4,9 1,6 brA+/Estável/-- 26,9 25,8 25,33 48,9 22,1 12,8 5,0 1,5 BB+/Positiva/-- 26,5 29,4 25,12 35,4 31,9 27,6 7,6 1,5 - 26,4 18,8 24,91 37,0 9,8 2,5 9,0 1,1 BBB/Estável/A-3 60,0 49,6 24,92 45,5 19,8 28,1 15,6 1,0 - 25,4 12,7 24,91 41,4 16,2 27,3 18,2 1,0 - 40,0 16,4 24,86 70,2 3,3 2,6 9,9 2,1 - 24,6 19,5 22,02 43,8 14,6 15,0 19,0 1,7 - 23,9 17,8 22,03 57,6 4,4 4,4 18,9 1,4 - 50,0 22,4 21,9

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 23

MULTILATINASESPECIAL

Page 24: Nº 374 Edição Brasil

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Page 25: Nº 374 Edição Brasil

Empresa País Setor Liquidez Pa.Tot/Patrim. Curto vs Longo ROE Rent. EBITDADASSAULT

V/SEMBRAER

Fra Aeroespacial 0,95 1,42 3,28 9,2% N.D.

Bra Aeroespacial 1,50 -0,18 -8,13 8,2% 19,3%

SANTANDERV/S

ITAÚ

Esp Financeiro 1,79 15,77 0,15 13,3% 26,6%

Bra Financeiro 1,23 1,95 0,37 42,1% 69,5%

HOLCIMV/S

CEMEX S.A.

Sui Cimento 0,93 1,51 1,16 18,7% 29,7%

Méx Cimento 0,40 1,28 0,70 1,2% 25,6%

SAPV/S

SONDA

Ale TI 0,99 0,94 -13,36 26,0% N.D.

Chi TI 0,99 0,94 0,84 26,0% 0,0%

IBERIAV/S

TAM

Esp Transporte 1,38 3,60 0,57 -1,2% 32,0%

Bra Transporte 1,64 3,83 0,52 -0,7% 29,9%

ANGLO AMERICANV/S

VALE

RU Mineração 1,22 2,33 0,39 45,1% 59,9%

Bra Mineração 3,00 0,21 0,91 22,1% 33,8%

SHELLV/S

PETROBRAS

RU/Hol Petróleo/Gás 1,10 2,19 0,69 20,4% 39,6%

Bra Petróleo/Gás 1,00 0,34 1,34 23,8% 44,9%

MEARSKV/S

CSVA

Din Transporte 0,98 1,17 2,54 11,1% 10,4%

Chi Transporte 1,40 0,29 2,38 -4,7% -11,7%

AT&TV/S

TELMEX

EUA Telecom 0,53 1,75 0,58 13,4% 44,6%

Méx Telecom 1,30 2,57 0,40 51,3% 146,7%

FRENTE A FRENTEComparação de indicadores fi nanceiros de multilatinas e multinacionais selecionadasFonte: AméricaEconomia Intelligence

NO QUADRILÁTEROLiquidez vs ROE em Multilatinas e MultinacionaisFonte: AméricaEconomia Intelligence

1,0-50%

25%

0%

25%

50%

75%

100%

Liquidez Corrente

RO

E

2,0 3,0 4,0 5,0

MultilatinasMultinacionais

O relatório, no entanto, dá vantagem às multilatinas quan-do se analisa a solidez fi nanceira. Tal como mostra o quadro “balanço contra balanço”, as latinoamericanas têm, em média, maior liquidez e melhor estrutura fi nanceira, algo importante em meio a uma crise econômica cuja principal característica é justamente a falta de crédito. Quando comparamos as multilati-nas com multinacionais do mesmo setor em termos de sanidade fi nanceira, as nossas ganham muitas batalhas (quadro “frente a frente”). Algo que pode ser determinante, como disse Marcelo

Bahia Odebrecht, CEO do grupo brasileiro Odebrecht. “Aquelas empresas que conseguirem manter sólidas posições fi nanceiras e disponibilidade de caixa, terão uma grande oportunidade para incrementar sua participação no mercado mundial”, disse o bra-sileiro. “As companhias latinoamericanas devem ver isso como uma oportunidade única para se tornarem competidores-chave do mercado global, ainda que sempre com um olho na liquidez”. É que, nos próximos trimestres, o acesso a capital de giro será a principal vantagem competitiva no cenário mundial.

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 25

RANKING MULTILATINASPara medir o grau de globalização das empresas latinoamericanas, consideramos cinco variáveis principais que conformaram o Índice de Globalização. As três primeiras se relacionam ao conceito “operações no exterior”, que incluem três itens. Em primeiro lugar, as exportações da matriz e as vendas das filiais, bem como o percentual que estas representaram no total da receita da companhia em dezembro de 2008. Em segundo lugar, o número de trabalhadores das filiais sobre o total de empregados da companhia. Depois consideramos o percentual de investimento ou ativos das companhias no exterior sobre o total de investimentos (ou ativos) em dezembro de 2008. Essas três variáveis tiveram peso de 50% no modelo final – respectivamente, 10%, 10% e 30%.A quarta variável é a cobertura geográfica, constituída a partir da análise de quão diversificadas são as operações da empresa no mundo. Foram consideradas oito zonas econômicas, às quais foram dadas uma ponderação segundo o grau de dificuldade que as multilatinas registram para chegar a cada uma. O indicador final teve um peso de 20%.Finalmente, incluiu-se uma variável chamada potencial de crescimento inter-nacional, que teve peso de 30% e que foi constituída por três indicadores. O primeiro é o tamanho da companhia, com 60% de peso; o segundo, a liquidez da empresa, com 20%; e o último, um fator qualitativo (em base 100) de per-cepção que inclui planos de investimento, aquisições recentes e espaços que a empresa possui para crescer no mercado global segundo o setor de atuação, que tem uma ponderação de 20%.Mais informações sobre a metodologia do ranking Multilatinas em www.americaeconomia.com.br

MULTILATINASESPECIAL

Page 26: Nº 374 Edição Brasil

DOMAR A CRISE

Em outro cenário econômico, seria uma verdadeira derrota. Depois de uma batalha judicial nos EUA, no fi nal de fevereiro, a brasileira JBS-Friboi, maior produtora mundial de carne bovina, anunciou que

desistiu da compra da norteamerica National Beef, acertada no início do ano anterior. Em meio a uma crise que vem derru-bando mercados mundo afora desde o fi nal de 2008, porém, a notícia soou mais como uma velha máxima popular: a de que há males que vêm pro bem. Adiantada em um até então exitoso processo de internacionalização, iniciado em 2005, a JBS-Friboi terá a disposição cerca de US$ 900 milhões extras em caixa. E poderá aproveitar novas oportunidades tão logo o mercado melhore.

É algo de que o mercado não duvida. “Sua entrada nos EUA foi uma surpresa para todos, aconteceu de forma extremamente agressiva e inesperada, como nunca havia acontecido”, diz Jim Robb, economista e diretor do The Livestock Marketing Informa-tion Center (LMIC), entidade que analisa e faz projeções so-bre o setor de frigorífi cos dos Estados Unidos, desde 1955. “Eles não voltarão a adquirir outro grande frigorífi co nos EUA, por questões regulató-rias. Mas, não fi caria surpreso se anunciassem a compra de novas empresas na América do Sul, no México, Canadá ou Austrália. Há claramente uma visão de longo prazo”, diz.

A JBS-Friboi é hoje a empresa brasileira mais internacio-nalizada e ocupa posição de liderança também entre as com-panhias mais globalizadas da América Latina, segundo estudo da AméricaEconomia Inteligence. Com 86,3% das vendas no mercado externo, 69,3% dos ativos no exterior e 19,5% de pre-sença global, tornou-se em pouco mais de quatro anos a maior companhia de produtos a base de carne bovina do mundo e a terceira maior produtora de carne suína dos EUA.

É uma história que surpreende pela velocidade dos aconteci-mentos e magnitude dos números. A movimentação da JBS no tabuleiro de xadrez do mercado internacional de carnes começou em 2005, com a compra da Swift Armour, na Argentina, por um

valor estimado em cerca de US$ 300 milhões. O investimento alçou a companhia ao posto de maior produtora mundial de carne industrializada e ampliou seu acesso à União Europeia, que impunha aos exportadores brasileiros cotas quase cinco vezes menores que as argentinas.

Em 2007, embalada pela abertura de capital na BM&F Boves-pa, a companhia deixou de lado os pudores e resolveu entrar no maior mercado mundial pela porta da frente. Por US$ 1,4 bilhão, adquiriu o controle de uma das maiores produtoras de carne bo-vina e suína do país, a Swift Food Company. E, no ano seguinte, já como maior produtora de carne bovina do mundo, adquiriu participação de 50% na italiana Inalca e o controle dos frigorí-

fi cos australiano Tasman, bem como o dos norte-americanos Smithfi eld e National Beef (este depois cancelado), ampliando sua posição em nível mundial e as sinergias e ganhos de escala no mer-cado dos EUA, dominado por Tyson e Cargill.

A rápida internacio-nalização se refl etiu nos números. De 2007 para 2008, a receita líquida da JBS saltou de R$ 14 bilhões para R$ 30 bilhões, com o abate de 10,5 milhões de cabeças de gado, 12,6 milhões de cabeças de suínos e 1,8 milhões de animais de pequeno porte. Uma

produção distribuída em 22 unidades no Brasil, seis na Argentina, 16 nos Estados Unidos, dez na Austrália e dez na Itália.

“Eles hoje detêm uma plataforma internacional que os per-mite escolher entre várias unidades, em diferentes países, a que oferece as melhores condições de competitividade para cada cliente”, diz Pedro Herrera, analista do HSBC nos EUA. “É uma característica que garante fl exibilidade e agilidade, além de acesso a mercados vetados ao Brasil por barreiras comerciais e sanitárias”.

Opinião compartilhada pelo canadense James Henderson, professor de gerenciamento estratégico do Internacional Insti-tute for Management Development (IMD). “Uma companhia global pode se benefi ciar da transferência de melhores práticas

Fechando um agressivo ciclo de internacionalização, a JBS-Friboi desiste da National Beef e se apruma para enfrentar os solavancos do mercadoDubes Sônego, São Paulo

AP

JBS: os caubóis terão que esperar

26 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

MULTILATINASESPECIAL

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e tecnologias entre suas unidades em diferentes países”, diz o acadêmico.

NOVOS DESAFIOSA expansão, porém, trouxe novos desafi os. Alguns deles agra-vados pela crise. “O mercado dos EUA ainda está abaixo do que estava no mesmo período do ano passado, em preços e volumes. E os produtores não estão conseguindo repassar ao consumidor o aumentos dos insumos”, diz Robb, da LMIC. É nos Estados Unidos que a JBS tem hoje quase metade de suas vendas.

Não à toa, em recente conferência de apresentação dos re-sultados ao mercado, Joesley Batista, presidente da companhia, fez questão de frisar os avanços nas operações norteamericanas. “Saímos de um Ebitda de US$ 84,5 milhões negativos (quarto trimestre de 2007) para um positivo de US$ 60,4 milhões (quarto trimestre de 2008)”, afi rmou o executivo, ressaltando dados como a ampliação do mesmo indicador na Swift, de US$ 96 milhões, quando foi adquirida, para US$ 370 milhões, atualmente.

Batista destacou ainda o fato de os processos de reestruturação e integração das companhias adquiridas já estarem fi nalizados. E a redução da relação entre a dívida da JBS e seu Ebitda, de 4 vezes para 1,95.

Mas nem todos os problemas se concentram no mercado norteamericano. Na Argentina, por exemplo, há o autoembar-go às exportações de carne imposto pelo governo para evitar o desabastecimento interno, que levou a JBS a perder milhões de dólares no país. A companhia vinha acumulando estoques e, quando veio a cri-se, não conseguiu desová-los, amargando a desvalorização da carne, cotada abaixo do preço de custo com a queda na demanda. No geral, a si-tuação fez com que aumen-tasse o abate de matrizes e provocou a queda do país da terceira para a oitava coloca-ção no ranking mundial de exportadores de carne bovina, em dois anos, diz José Vicente Ferraz, diretor da consultoria AgraFNP. “Tem que voltar aos trilhos. Senão, me mudo para a Argentina pra fazer funcionar”, disse Joesley, na apresentação do balanço de 2008.

INCÓGNITA DOMÉSTICANo mercado brasileiro, há boas e más notícias para a empre-sa.

No grupo das primeiras, estão a fragilização de boa parte dos rivais e o provável surgimento de pechinchas entre os mais afetados. Muitos dos concorrentes da JBS-Friboi foram pegos no contrapé da crise, com grandes dívidas em dólares, alta capacidade ociosa e pouco dinheiro em caixa. O exemplo mais emblemático é o do frigorífi co Independência, um dos cinco maiores do País, que pediu recuperação judicial, vendeu cinco unidades industriais e não descartava vender mais para levantar recursos.

O Independência é um caso de destaque. Mas não é o único. De acordo com estimativas de entidades representativas do setor, apenas os frigorífi cos em situação jurídica semelhante teriam cerca de R$ 700 milhões em dívidas com pecuaristas. “Nas localida-des onde concorrentes fechem unidades, com certeza será mais fácil comprar gado”, diz Alcides de Moura Torres, engenheiro agrônomo e analista de mercado da Scot Consultoria.

Isso em um momento em que a demanda por bois é mais alta que a oferta, afetada nos últimos anos por forte retração nos preços pagos aos pecuaristas. “O setor, no Brasil, é um oligop-sônio. São poucos os grandes compradores de matéria-prima, e muitos os fornecedores”, diz Gílson de Lima Garófalo, professor de economia na PUC-SP. O que facilita a imposição de preços muitas vezes nocivos à sustentabilidade da cadeia produtiva.

Entre 2005 e 2006, considerado o fundo do poço no setor, a arroba do boi chegou a ser cotada a R$ 50. A queda estimulou o abate de fêmeas, a redução do rebanho (hoje estimado em cerca de 170 milhões de cabeças) e a um alongamento do ciclo reprodutivo. Agora, a escassez de matéria-prima tem levado a um aumento nos preços da carne (pouco acima de R$ 75 a arroba - ESALQ/BM&FBovespa) e os frigorífi cos têm que arcar com o custo mais alto num momento em que não podem repassar a conta ao consumidor fi nal para não fragilizar a demanda já em queda. “Quando sobe a renda, as famílias incorporam carne à dieta. Quando cai, ela é substituída”, diz o professor Antônio

Márcio Buainain, do Núcleo de Economia Agrícola do Instituto de Economia da Unicamp.

Por outro lado, com o merca-do internacional desfavorável, a tendência é de acirramento na disputa no mercado interno que, segundo a Associação Brasileira de Frigorífi cos (Abrafrigo), é 70% atendido por frigorífi cos de peque-no e médio portes. “As grandes companhias estão redirecionado suas exportações para o mercado interno e, com isso, devem sentir o peso de impostos como PIS e Confi ns, que não incidem sobre as

exportações”, avalia Péricles Salazar, presidente da entidade.Mesmo com a reabertura de mercados como o chileno, gran-

de consumidor e re-exportador de carne, por conta de acordos bilaterais de comércio que mantém, e as perspectivas de reto-mada das vendas à União Europeia, há outros fatores que pesam negativamente. A queda no preço do petróleo afetou fortemente as encomendas de grandes clientes, como Venezuela, Rússia e países do Oriente Médio. E muitos deles ainda nem pagaram dívidas anteriores à crise.

Mas estes talvez sejam detalhes conjunturais menores para quem, como Joesley, já enxerga luz no fi m do túnel: “Vamos crescer muito mais do que imaginávamos, e de forma muito mais barata. Todos os nossos movimentos são de preparação interna para, quando for o momento, estarmos aptos a crescer e cumprir o business plan”. Nada menos que participação mundial acima de 25% em volume de abates. Uma meta que depende de domarem uma crise que já derrubou outros caubóis.

Estância globalDívida líquida – R$ 3,3 bilhões (1,95 X Ebitda)Receita líquida – R$ 30,3 bilhõesEbitda - R$ 1,15 bilhãoLucro líquido – R$ 25,9 milhõesBois abatidos – 10,5 milhões Suínos abatidos – 12,6 milhõesAbate de animais de pequeno porte - 1,8 milhãoVendas mercado doméstico – 4.465 mil toneladasVendas mercado externo – 1.666 mil toneladasPaíses em que tem unidades de produção – Brasil, Argentina, EUA, Austrália e Itália.

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MULTILATINASESPECIAL

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COMO CRESCER

Fevereiro foi daqueles meses dignos de esquecer para a brasileira Embraer. Nesse período, teve que anunciar

a demissão de 4,2 mil funcionários, 20% de sua força laboral, atiçando o ânimo da opinião pública e dei-xando o presidente Lula de cabelo em pé. Semanas depois, entretanto, anunciou o apoio do BNDES para a venda de aviões à Aerolineas Argentinas, aliviando o panorama de desistências e prorrogações de pedidos, previsível dentro de uma indústria que espera um 2009 magro. E, mesmo em condições delicadas de caixa, confi rmou o anúncio feito em 2008 de investir 148 milhões de euros na construção de fábri-cas em Portugal, em um período de seis anos.

Um contrassenso? Não. Nesse co-quetel da Embraer pode-se encontrar elementos comuns a várias grandes multilatinas que hoje despontam no mercado como líderes. O fato de manter investimentos externos, por exemplo, é uma marca fundamen-tal das empresas globalizadas, que aprenderam a pensar que perenidade, no caso delas, signifi ca tomar deci-sões que extrapolam o contingente doméstico. “Nossa intenção hoje é ter foco na gestão fi nanceira e concentrar os investimentos em projetos que nos trarão benefícios tecnológicos quanto a novos produtos para quando a situação do merca-do voltar à normalidade”, diz Luís Carlos Siqueira, vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores da empresa, lembrando ainda outra linha de montagem que está sendo desenvolvida pela Embraer no Sul da Flórida.

E ter no governo a figura da mão que bate mas também afaga é uma característica que, de certa forma, relembra que a companhia, bem como outras multilatinas da região, tiveram no Estado total apoio para ganhar musculatura dominando o mercado doméstico sem concorrência externa – e, com isso, armando-se de um bom col-chão fi nanceiro para então sair a competir no exterior. “Atualmente, ainda que venha uma grande onda

História de multilatinas indica que o desafi o para uma segunda geração de grandes internacionalizações entre empresas da região será maiorSolange Monteiro

Lula e o primeiro-ministro português:pela internacionalização

AFP

28 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

MULTILATINASESPECIAL

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protecionista, difi cilmente se repetirá o contexto da política de substituição de importações em que empresas como Siderca (Tenaris), Cemex e mesmo Embraer evoluíram”, diz Gabriel Basaluzzo, diretor do mestrado em Finanças da Universidade de San Andrés, em Buenos Aires. “Ainda que Hugo Chávez tente fazê-lo, esse marco de proteção não existe mais, pois é um mercado globalizado. E parece difícil ver uma segunda geração de multilatinas conseguir extrapolar segmentos de nicho e ganhar a escala conquistada por essas grandes.”

Assim, lembra Basaluzzo, a Tenaris que hoje apresenta uma nacionalidade difusa, dividida entre domicílio fi scal em Luxemburgo e escritórios comerciais em Buenos Aires, Méxi-co, Houston e Milão, teve como berço a demanda exclusiva do Estado argentino em suas obras de infraestrutura. “Até meados dos anos 70 tinha um produto ruim, só servia ao governo, até que começou a mudar de paradigma investindo em tecnologia”, conta. Isso foi fundamental, pois no início dos 80, com a crise do petróleo, a companhia pôde ocupar o lugar de muitos playersque abandonaram o mercado. “E, logo nos anos 90, com a fa-cilidade de acesso ao mercado de capitais, puderam começar uma onda de aquisições que lhe possibilitou ampliar o foco à prestação de serviços. Assim, com atenção ao cliente e tempo de entrega mínimo, não houve como competir com ela.” Gustavo Herrero, diretor executivo da Harvard Business School, também destaca o fato de algumas indústrias necessitarem mais do que outras da representação física para conquistar alcance global. “Tenaris, Gerdau, Vale, Elektra são casos que demandam essa presença física que suplanta a própria exportação.”

No caso da Embraer, Andrea Gol-dstein, economista sênior do Centro de Desenvolvimento da OCDE, aponta uma vantagem que a então estatal teve nos anos 70: o fato de que, para entrar no Brasil e em outros países do sul, al-gumas empresas estrangeiras estiveram dispostas a outorgar licenças para utilizar sua tecnologia, já que se tratava de um mercado pequeno. “A Embraer focou sua atividade em relativamente poucas coisas – design, montagem, rede de abastecimento e serviço de pós-venda – e foi se dife-renciando de companhias como a Bombardier por sua forte confi ança em fornecedores que são seus parceiros e dividem o risco em projetos novos, além de outras alianças estratégicas, sem o que ela não estaria no lugar em que está”, diz. “Ter o parceiro desde o primeiro momento de confi guração do projeto traz benefício em diversas dimensões. E o compartilhamento dos recursos fi nanceiros ajuda no desenvolvimento, pois é um setor de capital intensivo, de investimento de longo prazo”, diz Siqueira, da Embraer. Goldstein ainda destaca que “o baixo nível de integração vertical que hoje está se tornando norma na indústria (incluindo rivais maiores como Airbus e Boeing) é devido ao sucesso da Embraer, e por isso sua infl uência tem sido substancial”, diz.

Jaime Alonso Gómez, do Egade (Tec de Monterrey), conta que no México a formação de alianças com players inter-nacionais também se constituiu em um componente-chave para a internacionalização das empresas locais. “Isso apor-tou management know-how, tecnologia dura para empresas

como Vitro, Bimbo, Cemex. Com isso elas fortaleceram sua posição no mercado doméstico e começaram a exportar.” O norteamericano John Bradford McBride Pitts, acadêmico do Itam, vive há 25 anos no México e diz ter podido observar o grande salto dado pelas multilatinas do país. Mas faz sua ressalva. “No México, o acesso de um novo competidor ao mercado interno é difícil. A Cemex o tem limitado através de distintos esforços; a Telmex cobra altas tarifas e tem grande fama por difi cultar a entrada da concorrência. E isso permite o acúmulo de lucro e margens muito elevadas”, afi rma. “E assim, quando o mercado se satura, essas empresas podem pegar o dinheiro e buscar outras praças.” O acadêmico ad-mite, entretanto, que isso não seria possível sem a busca por competitividade e o alto nível de formação dos executivos de tais empresas. “Se de um lado é um mercado protegido, os mexicanos são duros na forma de negociar. Têm um nível de formação de pessoal elevado e por isso conseguem ser efi cazes no exterior.”

E se a tendência no México ainda é por uma indústria in-fante, no Chile a realidade parece ser diferente. Pelo menos para empresas como a varejista Falabella, que além de estar em um segmento de mais difícil internacionalização que outros como o siderúrgico, de telecomunicações ou bancário, já que trata de serviços ao consumidor e de cultura de consumo, teve que aprender com a concorrência internacional direta como melhor se posicionar fora. “No fi nal dos anos 90, Falabella

realizou uma joint venture com a HomeDepot para concorrer com o local Sodimac. Perdeu dinheiro nos três anos em que essa aliança durou, mas ganhou aprendizagem em tecnologia de varejo que a permitiu sair mais competitiva”, conta a chilena Constanza Bianchi, pesquisadora da Queensland University of Technology, na Austrália. “A própria D&S antecipou-se à chegada do Carrefour, buscando os melhores pontos geográ-fi cos para estar frente a frente à rede francesa quando essa chegasse, competir e aprender com ela, mas acabou sendo comprada pelo Wal-Mart”, diz.

Seja como for, o que os analistas concordam é que essas multilatinas guardam em seu DNA as vantagens de saírem de um continente com tantos desafi os. “Sem dúvida elas possuem uma capacidade para redesenhar seus processos de dívida, pois vêm de países que servem de benchmarking para muitas consultorias internacionais”, diz Gómez, do Egade. “Outro elemento é a elasticidade no modelo de negócios para aumentar ou reduzir-se que tiveram que exercitar, depois de viver tantas crises econômicas, com seu patrimônio impac-tado, subindo e descendo.” Algo que Cemex e Embraer, por exemplo, agora terão que provar na prática que sabem fazer. E sair-se melhor que a concorrência.

As grandes multilatinas nasceram sob as asas do protecionismo e das

compras estatais. Hoje, em um mundo globalizado, é difícil que surjam novas

companhias com uma escala similar.

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 29

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NEGÓCIOS PUBLICIDADE

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A DUPLA CRISE DA MÍDIA

A circulação de jornais cai entre 2% e 3% ao ano devido à internet. E o

impacto parece ser maior no rádio e na TV.

Investimento publicitário na América Latina 2008 (US$ milhões)FONTE: ESTIMATIVAS DA ASSOCIAÇÃO ARGENTINA DE AGÊNCIAS DE PUBLICIDADE SOBRE A BASE MONITOR DE MEIOS PUBLICITÁRIOS, IBOPE MEDIA LATINOAMÉRICA (BRASIL) E ASSOCIAÇÃO MEXICANA DE AGÊNCIAS DE PUBLICIDADE

MENSAGEM AO CONSUMIDOR

SEGMENTO ARGENTINA BRASIL MÉXICO

US$ % PARTIC. US$ % PARTIC. US$ % PARTIC.

TV 758,57 45,20 2.635,33 32,09 2.084,20 68,39

TV PAGA 125,57 7,48 598,19 7,28 221,46 7,27

JORNAIS 639,70 38,11 3.839,90 46,76 295,95 9,71

REVISTAS 96,85 5,77 1.011,69 12,32 139,53 4,58

RÁDIOS 57,70 3,44 127,11 1,55 306,27 10,05

TOTAL PAÍS 1.678,39 100 8.212,22 100 3.047,41 100

% DE PARTICIPAÇÃOENTRE OS TRÊS PAÍSES 12,97 63,47 23,56

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Asenhora da banca de jornal não titubeia ao respon-der a minha pergunta.

“Vende-se menos jornais? Não. Diria até que vende-se um pouco mais.” Será que as pessoas querem informar-se sobre a crise? “Não sei. Acho que é mais porque estão em busca de emprego, sabe?” Na esquina da Jorge Luis Borges com a Honduras, em Buenos Aires, Argentina, a notícia da morte dos jornais e o ocaso das revistas é completamente exagerada.

Onde não há exagero, en-tretanto, é na certeza de que o setor mídia e seu irmão gê-meo, o segmento publicitário, encontram-se no umbral de várias mudanças recheadas de incerteza. Desde como conquistar o “jovem digital” aos modelos de negócios na internet que hoje são experi-mentados, ninguém sabe muito bem a qual direção apontar. E a isso se soma a crise mundial, que aumentou brutalmente o caráter de urgência dessa busca, devido à queda no nível de anunciantes.

Que os jornais podem su-

Queda do investimento publicitário e bruscas mudanças nos hábitos da au-diência. Os meios tradicionais buscam uma forma de sobreviver, ainda que sem saber muito bem comoRodrigo Lara Serrano

cumbir a qualquer momento, tal qual dinossauros, é um fenômeno inegável. Ao me-nos nos EUA já é fato. Desde janeiro de 2008, já são cerca de 120 os jornais que fecharam suas portas. A pergunta que

fica é: fecha porque as pessoas migraram para a internet e já não os leem, ou porque os anunciantes já não compram espaços publicitários?

Pablo Maas, professor de Economia de Mídia da Uni-versidade de Buenos Aires (UBA) descarta imediatamente uma das hipóteses. “A circu-lação global dos jornais está aumentando”, diz. É verdade

que “está caindo nos EUA e Europa, mas aumentou muito na Ásia”. Além disso, diz, “se multiplicam os jornais gratuitos”.

Na Argentina, um desses diários gratuitos, o La Prensa, tem tiragem diária de 100 mil exemplares. Seu concorrente El Argentino afirma distri-buir entre 150 mil e 200 mil exemplares por dia. Em 2008

ainda foi lançado o jornal pago Crítica de la Argentina, cuja circulação oscila entre 50 mil e 60 mil exemplares.

A situação do Brasil é

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32 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

NEGÓCIOS PUBLICIDADE

FONTE: PROJETO INTER-MEIOS (MEIO & MESAGEM / PRICEWATERHOUSECOOPERS)

SENHORA TVPARTICIPAÇÃO PORCENTUAL DO GASTO PUBLICITÁRIO NO BRASIL, 2008

TV ABERTA

DIÁRIOS

REVISTAS

INTERNET

RÁDIO

TV PAGA

EXTERNA

LISTAS E GUIAS

CINEMA

60,5%

13,9%

8,4%

4,4%

4,4%

4,0%

2,9%

1,1%

0,4%

Faturamento bruto de publicidade no Brasil, em US$ milhõesFONTE: PROJETO INTER-MEIOS (MEIO & MENSAGEM / PRI-CEWATERHOUSECOOPERS)

COQUETEL MIDIÁTICO

2007 2008

CINEMA 39,8 48,6

LISTAS E GUIAS 257,4 257,6

EXTERNA 279,6 322,3

INTERNET 277,70 414,80

TV PAGA 338,2 440,4

RÁDIO 403,4 497,7

REVISTAS 852,6 1.002,20

JORNAIS 1.630,50 1.893,50

TV ABERTA 5.919,70 6.943,20

TOTAL 9.999,30 11.820,70

Jovens se afastam dos meios gráficos tradicionais, mas circulação de diários gratuítos é crescente.

FONTE: IBOPE URUGUAI

MEIO US$

TV 860

REVISTAS 18

DIÁRIOS 81

EXTERNA 32

TOTAL 991

Investimento publicitário no Uruguai, 2008, em US$ milhões

MENTALIDADE TELEVISIVATV NACIONAL 1.161 40,9

RÁDIO 774 27,2

IMPRESSA 449 15,8

TV REGIONAL 207 7,3

REVISTAS 145 5,1

EXTERNA 54 1,9

TV INTERNACIONAL 50 1,8

TOTAL 2.843 100

Investimento publicitário na Colômbia, 2008, em US$ milhões (%)

VER E OUVIR

FONTE: IBOPE MEDIOS, COLÔMBIA

semelhante. O índice de pe-netração dos jornais (leitores entre 12 e 67 anos) se mantém estável (37%) se forem consi-deradas as medições 2002/03 e 2007/08. Mas não se trata de uma maturidade dourada.

Dora Câmara, executiva do Ibope Mídia Brasil, afir-ma que essa estabilidade se explica pelo “surgimento de novos jornais de preços menores e outros gratuitos, o que garantiu os índices de leitura”. De fato, o investi-mento publicitário, apesar de ter se mantido quase igual entre 2007 e 2008 (R$ 14,8 milhões e R$ 14,9 milhões, respectivamente), em parti-cipação percentual registrou queda de 29% a 26%.

Segundo Maas, é certo que à medida que emerge o con-sumo de internet, os jornais sentem o impacto: a queda de circulação por migração

à internet é de 2% a 3% ao ano. Não obstante, o impacto parece ser maior nas rádios e, inclusive, na TV.

Uma enquete da Deloitte com 9 mil pessoas em diver-sos países, das quais 1.022 eram brasileiros, descobriu que para 81% o PC era mais relevante que a TV quanto a entretenimento. Na mostra, que incluía participantes dos 14 aos 75 anos, os brasileiros afirmavam passar três vezes mais tempo na internet do que na TV.

Entretanto, isso ainda não provoca mudanças visíveis na TV do País. A participação desta no investimento publi-citário manteve-se estável (50% e 51% em 2007 e 2008)

e aumentou em termos de faturamento.

Luis M. Castro, presidente da Câmara Argentina de Anun-ciantes, estima que – frente a fenômenos semelhantes que podem ser vistos na Argentina

– a contradição é só aparente. “Com atraso, estamos vendo as mesmas tendências gerais que no restante do mundo”, diz. “Apesar de os diferentes segmentos etários demons-trarem comportamentos dis-tintos.”

Para ele, cifras mais, ci-fras menos, é preciso reco-

nhecer que “o público, e em especial os jovens, estão se afastando dos meios gráficos tradicionais”. E, com isso, a publicidade que acompanha essa audiência. Por enquanto, “os meios gráficos continuam

sendo atraentes para um bom número de marcas e suas ativi-dades”, mesmo que “pense que seja necessária uma revisão das estratégias de marketing dos meios gráficos”, no mé-dio prazo.

Apesar de a queda das revistas ser mais pronuncia-da em casos individuais, os jornais estão mais à mercê da publicidade, diz Pablo Maas. “Os diários dependem entre 70% e 80% da receita publicitária, as revistas, 50% e a TV a cabo, 20%.”

Não é estranho, então, que a atual crise golpeie especial-mente os jornais e revistas. “A TV aberta, os jornais e as revistas podem ser os mais afetados. Os menos golpea-dos deverão ser a TV a cabo e as rádios com audiência cativa”, afirma Castro. “A queda real pode ser da ordem de 5%. Mas as expectativas podem mudar, porque é ano eleitoral na Argentina. Um menor investimento do setor privado poderia ser parcial-mente compensado com mais publicidade oficial e dos partidos políticos.”

Em São Paulo, Roberto Mesquita, presidente da Neo-Gama / BBH, afirma que a TV pode sair ganhando, porque “em período de crise sempre há um aumento da aversão ao risco por parte dos anuncian-tes.” E, em função disso, “os meios mais consolidados são os que mais se beneficiam, motivo pelo qual as redes de TV receberam mais investi-mentos no início deste ano: é

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ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 33

FONTE: ASSOCIAÇÃO ARGENTINA DE AGÊNCIAS DE PUBLICIDADE - INFORME OFICIAL DE INVESTIMENTO PUBLICITÁRIO LATINOAMERI-CANO 2008

Investimento publicitárioLeitores de diários em Santiago do Chile, 2008FONTE: AMÉRICAECONOMIA, SOBRE A BASE DO RELATÓRIO DA KMR CHILE

* GRATUITOS, ** VESPERTINO, *** ESTATAL. AS CIFRAS INFERIORES A MIL FORAM ARREDONDADAS

PAÍS INV. 2008US$ MILHÕES

PIB 2008US$ MILHÕES INV. COMO % DO PIB

ARGENTINA 1.678,39 216.932 0,774

BRASIL 8.212,22 874.827 0,939

MÉXICO 3.047,41 852.844 0,357

TOTAIS 12.938,02 1.944.604 0,665

CIRCULAÇÃO MÉDIA CIRCULAÇÃO DOMINGO

2008 2007 2008 2007

LA CUARTA 530.000 511.000 535.000 575.000

EL MERCURIO 386.000 363.000 554.000 590.000

LA TERCERA 327.000 364.000 420.000 487.000LAS ULTIMAS NOTICIAS 368.000 403.000 363.000 575.000

PUBLIMETRO * 367.000 381.000 Não circula Não circula

LA HORA * 280.000 279.000 Não circula Não circula

LA SEGUNDA ** 73.000 73.000 Não circula Não circula

LA NACIÓN *** 29.000 30.000 39.000 Sem dados

TOTAIS 2.360.000 2.404.000 1.911.000 2.227.000

PODER PRODUTIVOLEITURA OBRIGATÓRIA

A venda de anúncios já não é suficiente para financiar a indústria da informação.

um meio que oferece resposta imediata”.

Nesta crise, não acontece o mesmo com jornais e revistas. “Isso se deve à redução do nú-mero de grandes anunciantes, como o setor imobiliário”, diz. Nas revistas, a queda está ligada ao fato de que são um meio que se presta mais à campanhas de construção de imagem de marca, que são ações estratégicas. E hoje os anunciantes querem resultados de curto prazo, práticos.

Aos meios cujo suporte é a internet, por outro lado, a novidade e o tamanho rela-tivamente pequeno ajudam a abrir um espaço no orçamento das empresas. Também os em-purram os que, por enquanto, não sabem se é uma mudança dramática ou uma maquiagem sobre o que já existe: o sur-gimento do “prosumer”, que vem da junção de consumidor e produtor.

“Os paradigmas da pu-blicidade estão mudando”, diz Castro, da Câmara Ar-gentina de Anunciantes. Gradualmente, o consumidor se torna um prosumer”. Isto significa que se espera que a audiência publicitária deixe de ser um “sujeito passivo” para participar em novas fases

de criação da mensagem pu-blicitária: “Esta é a revolução da web 2.0 que antecede a 3.0. O consumidor morreu, viva o prosumidor! Internet, telefonia móvel e todos os modelos intermediários têm de considerar um prosumer com atenção múltipla. Por isso são necessários muitos mais meios para transferir as mensagens das marcas”.

O ponto em que não resta dúvida é que o mix de supor-tes para chegar às pessoas vai mudar.

Tal mutação, entretanto, será protagonizada por aqueles que sobreviverem ao ajuste em curso. No Chile, os dois jor-nais dominantes, El Mercurio e La Tercera, juntos demitiram cerca de 300 empregados. O primeiro ainda desfez, sem aviso prévio, a rede de cor-respondentes internacionais que tinha criado em 1990. Na Argentina, o facão que atin-giu a verba de investimento levou ao fechamento de várias produtoras de cinema espe-cializadas na exportação de

comerciais.É que “as reações são as

tradicionais por parte das agências, das centrais e dos meios: reduzir custo fixo”, diz Castro. “E por parte do anunciante, tornando o pro-cesso de inovação mais lento, recorrendo a atividades táticas de baixo custo e reduzir tam-bém os custos fixos.”

Por trás da sofisticação do debate, “em geral, o nervosis-mo de curto prazo ganha da estratégia”. E não são apenas os investidores em Wall Street que se deixam levar pelas on-das irracionais de pânico.

Como costuma acontecer, o

urgente ofusca o importante. E o que é importante? A sus-tentabilidade dos modelos de negócio dos jornais, revistas, rádios e canais de TV pela internet.

“Assim como a TV não é uma rádio onde se veem os locutores, a Internet não é uma TV no computador ou um diário colado em uma tela”, diz um analista de mídia em Buenos Aires, que pede para não ser identificado devido ao seu conhecimento sobre vários projetos. “O do Clarín, por exemplo, é um desastre: o jornal parece um blog sem hierarquia”.

Pablo Maas coloca o dedo

na ferida ao afirmar que “as pessoas têm certa razão se não querem pagar pela informação publicada na internet: o custo marginal do produtor/ emis-sor para chegar a um leitor novo é zero”. O problema é que “colocar conteúdos de qualidade em qualquer meio é caro”. Então, “o que está em questão é: quem financia a indústria da informação?” Porque, neste momento, o modelo da publicidade não dá abasto. Isso é o central.

Em São Paulo, Mesquita reconhece esse fato. “Todos estão buscando um novo modelo de negócios, mas

ninguém sabe quais serão os modelos vencedores e os modelos perdedores.” Ainda assim, diz, há uma base firme para sobreviver à incerteza. “O que sabemos é que as marcas dos grandes meios de comunicação têm grande força junto ao público consumidor de informação.” Portanto, conclui, “a grande questão é saber se elas conseguirão replicar a força de suas mar-cas como meios específicos (TVs, jornais, revistas, etc) em uma plataforma mais ampla de canais de comunicação. Ou se serão superados pelas marcas emergentes no meio digital”.

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34 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

NEGÓCIOS SERVIÇOS FINANCEIROS

ROBIN HOODCAPITALISTA

Irmãos Sosa: Que os pobres paguem

Omexicano Roy Sosa diz que o negócio tem encaixe per-feito. Dar um cartão com

o logo da Visa a um cidadão que não tem acesso a serviços bancários – nem a cheques, nem a crédito.“Há uma grande massa de cidadãos que não tem acesso a serviços financeiros e que valorizam muito a possibi-lidade de tê-los”, diz Sosa. “É um potencial enorme.”

Ele e seu irmão Bertrand calcularam a dimensão deste potencial. Em 1999, em meio à bolha das pontocom, criaram a Netspend Corp, empresa nos EUA que buscava entregar car-tões pré-pagos e recarregáveis

a quem não possuía conta em banco mas queria comprar pela internet. Convenceram Visa e Mastercard a colocarem seus logotipos no plástico, para que fosse aceito no comércio, e a alguns bancos a receberem o dinheiro com o qual o usuário carregaria seu cartão. Isso, somado a uma distribuição em massa por milhares de pontos-de-venda, permitiu criar um negócio que, em agosto de 2007, teve uma fatia vendida por US$ 700 milhões à finan-ceira Capital One.

Com esse dinheiro no bolso, os irmãos Sosa agora sobem a aposta: querem repetir a experi-

ência e massificar mecanismos como esse em escala global. “Não apenas falamos de cartões pré-pagos, mas de meios de pagamento por telefone celular e outros serviços financeiros que hoje só são usados por uma elite”, diz Roy.

A Mpower Ventures é um fundo de investimento de US$ 50 milhões, aportados pelos dois irmãos e pelo empresário Enrique Vergara, conhecido por ser o dono da equipe de futebol Las Chivas de Guadalajara e dono da Omnilife, empresa de produtos de nutrição que possui uma enorme equipe de vendas diretas. Eles são donos de um

grupo de pequenas empresas distribuídas em diversas regiões geográficas e especializadas em aplicações distintas, como redes de cartões pré-pagos, uma unidade de serviços financeiros avançados e um banco móvel. Todas têm o mesmo objetivo: fazer dinheiro ao entregar fer-ramentas transacionais básicas a quem está fora do radar dos grandes bancos.

O bolo é enorme. Segundo um estudo elaborado pelo The Boston Consulting Group, o nú-mero de transações com cartões no varejo latinoamericano deve mais que dobrar nos próximos oito anos, saindo dos 17,2 mi-

Dois mexicanos criam empreendimento global com o qual buscam fi car ricos fornecendo meios de pagamento aos pobresAntonio María Delgado, Miami

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lhões de transações em 2008 a 33,2 milhões em 2015.

Grande parte desta fatia ficará justamente com quem começar a operar com os sistemas pré-pagos. Por isso, as operadoras de cartões tra-dicionais não querem ficar de fora, e associaram sua marca aos cartões emitidos pelos Sosa. “Neste momento de maior reticência no crédito, há um importante crescimento na América Latina no uso de instrumentos de débito e de cartões pré-pagos”, diz Max Chion, vice-presidente sênior de produtos e soluções da Mastercard na América Lati-na. “Vemos nisto uma grande oportunidade para continuar crescendo na região e chegar a mais consumidores.”

Não são poucos os que buscam explorar esse mesmo nicho. “Através do pré-pago, as pessoas conseguem obter uma identidade comercial”, afirma Anabel Pérez, co-fundadora, presidente e diretora executiva da NovoPayment, empresa que vem operando na Venezuela há quatro anos. “As pessoas que apenas manejam dinheiro, ou as que possuem renda regular, seja um pedreiro ou taxista, têm dificuldades em demonstrar quanto recebem todos os meses, e quanto gastam.”

A LÓGICA DO NEGÓCIOPor enquanto, o grupo Mpower concentra seu ataque através da Rev Latinoamerica, uni-dade de aliança com a Visa e a Mastercard que fornece os cartões pré-pagos para acesso ao caixa eletrônico ou às lojas que aceitam cartões bancários. A lógica do negócio não é de outro mundo: entregar um mecanismo de pagamento di-gital a quem só possui notas e moedas. A comodidade de um cartão ou a possibilidade de pagar com um telefone celular faz com que muitas pessoas

aceitem entregar seu dinheiro à companhia por pagamentos que farão no futuro.

A Mpower recebe uma pequena comissão por essa transação, que a maioria das vezes é cobrada do comércio que faz a venda. Além disso, gera receita com a gestão do efetivo, com os juros da gestão destes recursos. Contudo, a chave para o negócio “está na informação que obtemos destas

pessoas. Sabemos o que conso-mem, onde compram, quando e como gastam... é um dado essencial para construir um histórico de crédito e montar uma companhia de seguros ou qualquer outro serviço finan-ceiro mais sofisticado”, diz o mais velho dos irmãos.

Ele afirma que não entrará diretamente no negócio de em-préstimo de dinheiro, e que seu objetivo é criar uma plataforma que permita captar e entregar

informação e permitir que es-tas pessoas entrem no sistema financeiro. “Nosso negócio é sermos as chaves que vão abrir as portas às novas oportunida-des”, conta Roy.

Para que isso funcione, o importante é ter um grande nú-mero de clientes. É ai que entra Vergara, seu grupo Omnilife e as milhares de vendedoras do grupo. Grande parte destas recebe seus pagamentos da

Omnilife através das vendas de cartões Mpower.

Os dois Sosa e o sócio Ver-gara já estão comprometidos em aumentar o capital da Mpower Ventures em outros US$ 50 milhões. E estão seguros de que há outras aplicações, co-mo a possibilidade de vender fundos mútuos. “É um negócio de elite, que tem altos custos de transação”, explica Roy. “A ideia é baixar os custos com tecnologia e permitir que

as pessoas façam compras de fundos mútuos de US$ 50 a US$ 100.”

Para isso, é fundamental a sua unidade Mpower Mo-bile, que busca transformar o telefone celular em dispo-sitivo para realizar todo tipo de pagamento. “O celular é a única tecnologia que tem sido adotada pela grande maioria em todo o mundo. Mais que a TV e os computadores”, diz Sosa. “Já há 3 bilhões de telefones móveis no planeta e espera-se que para os próximos três ou quatro anos cheguemos a 5 bilhões”. Roy se emociona ao descrever as opções possíveis, como simplificar o envio de remessas internacionais: car-regar um cartão pré-pago no México usando um celular nos EUA.

Um obstáculo que cruzou o caminho foram problemas de demanda com a Netspend, em-presa que eles mesmos criaram, por alguns considerarem que a Mpower estava competindo no mesmo negócio que eles e usando supostos segredos industriais que pertencem à companhia. “A Netspend só opera nos Estados Unidos e a Mpower chega a outros países. Além disso, somos sócios da Netspend, somos seus principais acionistas, não faríamos nada que fosse contra o negócio”.

Por enquanto, o grupo está só começando. Possui 150 executivos trabalhando em distintas unidades. A divisão de cartões pré-pagos, contudo, já move transações de US$ 10 bilhões ao ano, mesmo que Roy não goste de falar quanto isso significa em receita. Não obstante, ele assegura estar no caminho correto e que, em uma reinterpretação do que faz Robin Hood, está certo de que pode ficar rico dando dinheiro de plástico aos pobres.

O grupo MpowerA holding se divide em quatro áreas financiadas pela Mpower Ventures. Redes de pagamento: administram cartões pré-pagos. Distintas empresas por região: Rev Europa, Rev Latin America, Rev Asia Pacífico Serviços financeiros avançados: gera serviços financeiros como Fundos Mútuos para públicos grandes.Empresa: Gratio Capital (só nos Estados Unidos). Tecnologia de pagamento/Banco móvel: laboratório tecnológico que desenvolve tecnologias de pagamento, principalmente focadas em pagamentos móveis. Serve para o resto das companhias.Empresa: Mpower MobileServiços financeiros de detalhe: cadeias de lojas que fornecem serviços bancários básicos em supermercados.Empresa: Mango (só nos Estados Unidos)

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36 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

NEGÓCIOS SERVIÇOS PÚBLICOS

CADA VEZ MAIOR

EPM: Potência internacional

Ogerente-geral da Em-presas Públicas de Me-dellín (EPM), Federico

Restrepo, não sabe o que é problema de financiamento. Em janeiro, quando ainda não tinham anunciado os resulta-dos de 2008 – e não se sabia que o lucro superaria os US$ 520 milhões – a EPM saiu ao mercado colombiano com uma emissão de títulos de 10 anos. A demanda, que chegou a US$ 258 milhões, conven-ceu os executivos a elevar a colocação de US$ 90 milhões a US$ 112,5 milhões.

Além dos bônus, a EPM ainda recebeu um emprés-timo de US$ 450 milhões do BID para o saneamen-to das águas do rio Medell ín. Segundo Restrepo, “os

investimentos em 2009 serão de 1,9 bilhão de pesos colom-bianos (cerca de US$ 800 milhões), mais do que o dobro do investido em 2008”.

Entre os planos está de-senvolver ao máximo, até 2015, seu principal negócio na Colômbia: a geração e distribuição de energia. Aí a empresa alcançará o limite regulatório de 30% de partici-pação em geração e 25% em distribuição no interior do país. E, se quiserem ir adiante, terão que cruzar a fronteira.

Algo que já estão fazendo. Depois de uma fracassada ten-tativa de entrar no Chile com a aquisição da distribuidora Saesa, que depois foi com-prada pela canadense OTPP, Restrepo diz que agora analisa

oportunidades no Peru e no Panamá, onde está construindo uma central de 30 MW que começará a operar em 2011. “No México estamos buscando oportunidades em tratamento de águas residuais, mas o país ainda é muito fechado para re-ceber investidores.” Também tem avaliado oportunidades no Brasil, onde “estão sendo vendidos projetos de geração muito grandes, sobretudo no estado de São Paulo”, diz.

Os planos de internacio-nalização são bem vistos por analistas do setor. Segundo Lucas Aristizábal, da Fitch Ratings, a companhia está em uma boa posição para fazer compras este ano, pois seu nível de dívida é razoável. “Há uma alavancagem de 0,8

Para continuar a crescer no setor de energia, a Empre-sas Públicas de Medellín se vê obrigada a olhar além das fronteiras colombianasPor Soledad Gómez, Santiago

em relação ao Ebitda, o que é bastante baixo para uma companhia verticalmente integrada”, assegura.

Mas isso não significa deixar de lado os projetos na Colômbia. O primeiro na lista é o Porce III, de 630 MW, que entrará em operação no fim de 2010. “Seguido pelo Porce IV, em operação em 2015, e o me-gaprojeto Pescadero Ituango, de 2,4 mil MW, para 2018, no qual a EPM possui 46%.”

Para 2015, a empresa ainda aspira ser prestadora de ser-viços de telecomunicações para os latinos nos EUA e Espanha. Através da UNE, sua filial do setor, já mantém uma pequena operação nos EUA sob a marca Cinco Telecom e dentro de pouco tempo se lançará na Espanha. Por conta de uma aliança da Orbitel (fi-lial da Une que não opera na Colômbia) com a Vodaphone, prestará também serviços de telefonia celular no país.

Mas os serviços não são nada sem um consumidor. Por isso, em abril, vai ser iniciado em Medellín o plano piloto Pagamento Sob Medida. Usando a rede de telefones públicos da UNE, a empresa idealizou um sistema de abono na conta mensal, que permite fazer ligações para outros telefones com um código de usuário. “Assim, evita-se chegar ao fim do mês com uma conta onerosa que não se pode pagar”, diz Restrepo. É uma fórmula de responsabili-dade social que voltará como suculento benefício, segundo Aristizábal, da Fitch Ratings. “A empresa tem um profundo conhecimento de seus con-sumidores e tem conseguido inovar para mantê-los conec-tados, por um lado, e receber pagamentos, por outro”, diz. Uma ajuda que será, sem dú-vida, muito bem-vinda pelos usuários.

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VISÃO [email protected]

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 37

COMÉRCIO SOLAR

TODO DIA, ENTRE AS 11 e as 15 horas, a loja de uma cadeia de serviços mexicana Bodega Aurrerá, em Aguasca-lientes, olha para o sol. Entre estas horas, 95% da energia é obtida de células fotovoltai-cas localizadas na cobertura do estabelecimento, o qual, segundo cálculos da matriz, o Wal-Mart do México, cobre 20% dos requerimentos de energia da loja ao longo de todo o ano.

Este é o primeiro projeto de energia solar realizado pelo Wal-Mart em grande escala e seus resultados favoráveis têm dado fôlego para que, durante este ano, a empresa inaugure uma de suas lojas Sam’s em Cola de Ballena, Estado da Baixa Califórnia, com iguais características. “O México é uma zona privilegiada em radiação solar”, explica Juan Andrés Ruiz, subdiretor de sustentabilidade e eficiência energética do Wal-Mart. De fato, tanto Aguascalientes como Baixa Califórnia são os melhores lugares para isso, por conta da quantidade de raios solares que recebem durante o ano.

Ambos os projetos são realizados pelo Wal-Mart em conjunto com a empresa de serviços ambientais G3, que, apoiada pelo fundo de capital mexicano Water Ca-pital, fornece a infraestrutura e a tecnologia exigidas para a implantação do abastecimento de energia solar. “É um es-quema de autoabastecimento, segundo as limitações legais no México, e o que vendemos

O Wal-Mart do México utiliza células fotovoltaicas nos tetos de algu-mas de suas lojas para gerar energia Arly Faundes Berkhoff, Cidade do México

é a operação e manutenção do sistema”, diz Miguel Nieto, diretor-geral da G3. Por sua vez, o uso desta fonte alterna-tiva de energia deixa de emitir 140 toneladas de dióxido de carbono ao ano, já que se evita a queima de combustível para geração de energia.

Segundo a empresa, o projeto de células fotovoltaicas de Bodegas Aurrerá teve um custo de aproximadamente US$ 2 milhões. “É uma das tecnologias mais caras”, diz Ruiz. “Contudo, nós esta-

mos tratando de olhar para o futuro e para que possa ser uma fonte potencial de lucros”. Para o especialista em temas sustentáveis, todavia, falta maior apoio por parte do governo com incentivos, como benefícios fiscais que permitam tornar estes projetos mais rentáveis. “Agora, todo o esforço é privado, mas tudo parece indicar que os gover-nos de muitos países vão ter que tomar isto em suas mãos para colocar mais ao alcance das empresas”, acrescenta o

executivo do Wal-Mart.Obviamente, este projeto

depende da intensidade do sol para poder funcionar e por isso há dias em que esta energia natural é mais potente do que em outros. Quanto maior a quantidade de células – painéis policristalinos – maior a opção de captar raios. No caso da Bodegas Aurrerá, as células ocupam a metade da cobertu-ra – voltada para o sul – com 1.056 painéis colocados em 2.173 metros quadrados. As células captam raios solares e geram diretamente a energia, como se fosse uma bateria. Ela se transforma através de conversores utilizados pelo estabelecimento. “Estes dis-positivos são sincronizados com a rede e injetam a energia no sistema central, para que seja usada como se queira”, explica Ruiz, do Wal-Mart. “A energia é usada no momento em que se produz, não é ar-mazenada”.

Usar a energia de maneira direta é muito mais econômi-co do que armazená-la para utilizá-la depois, já que não há exigência de equipamentos para conservar a força. “O re-torno de investimento é muito lento”, enfatiza Ruiz. Uma solução para o problema de custos de energia solar seria au-mentar a escala destes projetos para que, então, o custo fosse menor. É a mesma aspiração dos desenvolvedores do G3, que também buscam contratos de longo prazo, confiando que vão surgir mais e mais interessados em aproveitar o poder solar.

VÍCT

OR

JAQ

UE

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38 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

Ronaldo Arellano

COLUNA / OPINIÃO

Malthus volta ao ataque

bastando as advertências dos ambientalistas, do Nobel a Al Gore, as toneladas de lixo nas cidades ou o impressio-nante porcentual de obesos, parece que a natureza deci-diu falar ao mundo em seu idioma atual, o da economia e das fi nanças.

Isso ainda mostraria que os fi siocratas não estavam tão equivocados quando há 200 anos indicaram que tudo o que não criava riqueza natural era estéril para a socieda-de.

Se vivessem hoje, não estariam eles se referindo a Wall Street, aos bônus lixo e às pirâmides Ponzi?

Não diriam que a base da crise atual é que o consumo dos países ricos se sustenta mais em uma riqueza teórica e especulativa que em sua verdadeira capacidade de gerar valor?

Talvez por isso essa crise afete primeiro os países ricos (que são os que mais consomem), e de forma subsi-diária os países pobres.

Talvez por isso hoje os banqueiros e proprietários de papéis chorem mais que os produtores da agricultura de subsistência.

Talvez isso também explique por que as classes emergentes da América Latina, apesar de golpeadas, resistem melhor que muitos grupos mais sofi sticados de seus países.

Enfi m, tudo isso levaria a uma grande refl exão sobre a forma de superar esta crise. Pois o que hoje vemos é que a maioria espera que isso aconte-ça com a recuperação do con-sumo dos países ricos.

Isso seria não entender que esta turbulência é basicamen-te uma fortíssima chamada de atenção da natureza, recordan-do-nos Malthus e os fi siocratas, nos dizendo que se o consumo exagerado de poucos continuar, as próximas crises já não serão de papel.

Não seria o momento de levar isso em conta, aproveitar – para o seu próprio bem – e reduzir os excessos de uma parte da população? E, assim,

de quebra, orientar os esforços das empresas para que a outra – essa que consome menos que o desejável por falta de oferta – incremente seu bem estar?.

HÁ DUAS GRANDES CORRENTES de pensamento econômico quase esquecidas pelos economistas moder-nos.

Uma, de Thomas Malthus, diz que a população huma-na cresce em progressão geométrica, enquanto os meios de subsistência crescem aritmeticamente.

Outra, dos fi siocratas Quesnay e Turgot, afi rma que a única riqueza válida é a produzida pela terra. A crise econômica de hoje nos mostra que não estavam tão equi-vocados, e que até podem nos ensinar que a saída à crise não é necessariamente pelo caminho que todos queremos ver.

Malthus predisse um dia que a população não teria recursos sufi cientes para subsistir e desapareceria. Uma situação que não aconteceu tal qual como ele pensava porque a tecnologia permitiu produzir mais alimentos e reduziu a taxa de crescimento populacional. Por outro lado, a teoria fi siocrática sofreu um baque quando a revo-lução industrial criou muita riqueza independentemente da agricultura.

Mas não esqueçamos que a defesa central de Malthus não está relacionada ao tamanho da população, mas à relação entre as necessidades dos habitantes e os recursos disponíveis. Portanto, é igualmente problemático que a população de um país passe de 1 mil a 2 mil habitantes, sendo que cada um consome 10 kW de energia, e que um país não altere sua população, mas seus habitantes au-mentem o consumo de energia de 10 kW para 20 kW por cabeça.

Não interpretamos Malthus corretamente. Ficamos tranquilos com o controle populacional e não com o cres-cimento do consumo.

Não é exagerado que um europeu consuma 600% mais energia que um latinoamericano médio?

E como entender que um norteamericano consuma o dobro que um europeu?

Talvez a crise econômica de hoje não seja apenas um problema fi nanceiro e bancário, mas uma defesa da na-tureza contra um nível de consumo insustentável. Não

Presidente da Arellano Marketing, Investigación y Consultoría para Economías Emergentes. Professor da Centrum Católica, Peru.

Esta turbulência é uma chamada de atenção da natureza.Recorda-nosMalthus e os fisiocratas, nos dizendo que, se o consumo exagerado de poucoscontinuar, as próximascrises já não serão de papel.

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Félix Peña

DEBATES OPINIÃO

Diretor do Instituto de Comércio Internacional da Fundação Standard Bank e professor de Relações Comerciais Internacionais da Universidade Nacional de Tres de Febrero, Argentina.

A FALTA DE FLEXIBILIDADE nos acordos comerciais internacionais pode não ser funcional para os países que a utilizam com o objetivo de encarar situações econômi-cas excepcionais. Geralmente, serve para alimentar ten-sões sobre falhas que conduzem à deterioração da efi cá-cia das regras do jogo.

A tensão entre o contratual e a realidade se intensifi ca em momentos críticos da economia global, como ocorre atualmente. A queda da atividade econômica e a perda de empregos geram pressões sociais que conduzem a um protecionismo aberto ou encoberto. Muitas vezes, ele se traduz em práticas que deixam vulneráveis os compro-missos assumidos por um país sobre seu comércio de bens e serviços.

Nos acordos comerciais preferenciais, nos de integra-ção econômica e nos multilaterais globais, as válvulas de escape são geralmente introduzidas para gerar a fl exibili-dade que os países requerem em circunstâncias especiais. Podem ter distintas modalidades. Em geral, são conhe-cidas como medidas de salvaguarda. Elas podem ter três características: ser excepcionais, responder a critérios defi nidos em regras do acordo e demandar procedimentos especiais destinados a evitar abusos e comportamentos unilaterais.

A profundidade da atual crise global e sua incerta evolução está instalando a necessidade de revisar a ques-tão dos mecanismos de salvaguarda ao menos em dois âmbitos: da Organização Mundial do Comércio e do Mercosul.

Nos dois estão sendo observados os inconvenientes que podem produzir a insufi ciência ou, pior, a ausência de válvulas de escape que permitam aliviar pressões exis-tentes, especialmente quando em um país a deterioração do comércio exterior tem impacto excepcional no nível de empregos ou quando a abertura comercial afeta obje-tivos de desenvolvimento de determinados setores produ-tivos.

A relação entre diferentes sensibilidades à abertura dos mercados e às negociações comerciais foi colocada

Salvaguardas nos acordos comerciais

em evidência na Rodada de Doha. A questão das salva-guardas especiais, em relação tanto ao comércio agrícola quanto ao de produtos manufaturados não-agrícolas, é precisamente um dos nós não-desatados nas atuais nego-ciações multilaterais. Incluindo um mecanismo de salva-guarda previsto no GATT – o de seu artigo XVIII/C – em função dos requerimentos do desenvolvimento econô-mico, perdeu a efi cácia prática por conta do alcance dos procedimentos estabelecidos.

Desta forma, faz sentido considerar com atenção as propostas que têm avançado entre especialistas como Dani Rodrik e Richard Baldwin, orientadas a introduzir novas salvaguardas na OMC, seja em função dos efeitos da crise global ou das sensibilidades que possam exis-tir em determinados setores, especialmente no caso dos países em desenvolvimento. Analisá-las deveria ser uma prioridade de todos os interessados em preservar a efi cá-cia do sistema GATT-OMC.

Por sua vez, a re-corrência de confl itos comerciais entre os sócios do Mercosul, tais como os obser-vados nos últimos meses e antes do período 1998-2002, mostra que a ausência de válvulas de escape contribui para gerar custos políticos que poderiam ser atenu-ados.

Observa-se a cren-ça de que uma união aduaneira não pode ter tais mecanismos excepcionais. É difícil encontrar um funda-mento técnico no qual tal crença possa ser baseada.

São confl itos co-merciais que só têm

afetado cerca de 5% do comércio recíproco. Mas o ruído que geram está prejudicando a efi cácia de um processo de integração que tem alto valor político, apesar de suas imperfeições, inclusive para a estabilidade e governabili-dade do espaço geográfi co sulamericano.

Analisar a questão de salvaguardas é, dessa forma, algo prioritário tanto para o bloco Mercosul quanto para a OMC.

O ruído que os conflitos comerciais entre os sócios do Mercosul geram está prejudicando a eficácia de um processo de integração que tem alto valor político, apesar de suasimperfeições, para a estabilidade desta região.

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40 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

DEBATES PROTECIONISMOAP

LIVRE COMÉRCIO NON GRATO

Caminhões expulsos: carrosmexicanos já não são bem-vindos

Carla Hills parecia in-comodada, não apenas pela seriedade com que

falava frente às comunidades acadêmica e política no centro de estudos Diálogo Interame-ricano, mas também por seu tom, que subia com firmeza cada vez que pronunciava a palavra protecionismo. Hills tem motivos para irritar-se, pois, depois de todo o trabalho que a tornou a primeira nego-ciadora do Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte), o acordo hoje está imerso em polêmicas, proble-mas de coordenação, brigas fronteiriças e, ainda, ameaças de revisão.

“Precisamos combater o protecionismo, não podemos fechar os mercados. Desde novembro, 14 das 20 nações que participaram da reunião do G-20 levantaram barreiras protecionistas”, dizia Hills. Desde o fim de 2008, o Equa-dor aumentou as tarifas de 940 produtos; a Argentina impôs licenças em artigos como peças automotivas, têxteis e couro.

Enquanto isso, os EUA têm dado sinais ainda maiores, como o recente término do programa piloto que liberava a entrada de caminhões prove-nientes do México para cobrir trajetos amplos no interior do país. Além disso, em fevereiro deste ano, Washington promul-gou um pacote de estímulo de US$ 787 bilhões que continha a cláusula “Buy American”,ordenando que as empresas usem aço e ferro dos EUA nos programas de reativação. Ambas as medidas foram to-madas no Capitólio.

Para onde foram os veemen-tes discursos do G-20 na capital dos Estados Unidos que pediam para rechaçar o protecionismo e defender o livre mercado? O fato é que a retórica e a prática estão hoje mais distantes do

As vozes protecionistas voltam a soar com força. É a primeira grande prova para a economia globalizadaAntonieta Cádiz, Washington

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que nunca. “Dado o clima global, o

protecionismo na região e ao redor do mundo será um de-safio político permanente para os países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Se a crise continuar durante 2010 e além – o que pode ocorrer –, o comércio será um tema quente e os líderes políticos deverão projetar uma imagem dura que proteja os trabalhadores nacio-nais”, explica Riordan Roett, diretor do programa de estudos latinoamericanos da Universi-dade John Hopkins.

Contudo, há alguns países que parecem distanciar-se deste modelo, devido à extensa conexão comercial que já está estabelecida com os Estados Unidos e o resto do mundo. É o caso do Canadá. Seu ministro de Estado para as Américas, Peter Kent, não vacilou ao assegurar que seu país “é vulnerável à crise atual”.

“Os EUA são nosso maior parceiro comercial e nos preocu-pamos muito quando escutamos vozes protecionistas saindo do Congresso. Temos falado muito diretamente e dissemos que isso é inaceitável. Quando o primeiro-ministro Harper re-cebeu o presidente Obama, este foi um dos temas de alto nível discutido. O protecionismo não fará mais do que aprofundar a crise econômica que enfrenta-mos hoje”, assegura.

Outro exemplo é o Brasil. Durante sua visita a Washing-ton, o presidente Lula chegou falando da eliminação das tarifas “absurdas” sobre as im-portações brasileiras de etanol, especificando que seu país “não quer lutar contra produtores de milho”, e sim formar uma aliança estratégica para elaborar biocombustíveis.

“O protecionismo é uma droga que oferece fôlego tem-porário, mas que gera crises importantes”, disse o presidente

brasileiro, em uma tentativa di-fícil de explicação em um país acostumado a mensagens diretas como “Let’s Protect American Jobs” (protejamos o trabalho dos norteamericanos), promo-vido por grandes organizadores sindicais e ativistas.

PRESSÃO SINDICALDurante os oito anos que o presidente George W. Bush esteve no poder, John Swee-ney, presidente da organização sindical mais poderosa dos Estados Unidos (AFL-CIO) visitou a Casa Branca só uma vez. Contudo, desde a inaugu-ração da presidência de Barack Obama, Sweeney está na lista de visitas semanais da sede do governo.

A influência e longa relação dos democratas com sindicatos é amplamente conhecida. Du-rante a última campanha presi-dencial, a AFL-CIO destinou US$ 53 milhões em publicidade e outras atividades a fim de derrotar o republicano John McCain. Isto além da mobiliza-ção de cerca de 10 milhões de membros como voluntários de diversas iniciativas para ajudar a campanha democrata.

De outro lado, o partido democrata é conhecido por sua férrea defesa dos direitos trabalhistas, tendência que foi demonstrada na coalizão liderada por Nancy Pelosi, quando ganhou a maioria no Capitólio e deteve a ratificação dos tratados de livre comércio com Panamá e Colômbia.

“É interessante que muitos personagens a favor do livre comércio acreditem que a ad-ministração de Obama vá se comportar como a administra-ção de Clinton nesta área”, diz Ted Carpenter, vice-presidente de defesa e política exterior do Instituto Cato. “O sentimento protecionista tem crescido substancialmente. Além disso, o próprio Bill Clinton demons-

trou muita coragem ao resistir a propostas de protecionismo em seu partido.”

“Obama é um fraco defensor do livre comércio e não está disposto a gastar seu capi-tal político nestas medidas”, acrescenta Carpenter. Vários analistas compartilham esta visão e veem com ceticismo medidas que possam favorecer a abertura de mercados, como a ressurreição da Rodada de Doha; uma discussão levan-tada como possível saída para superar a crise.

“Todo mundo está falando

de Doha, mas este será o melhor momento para trazer isto à tona? Os EUA vão acabar com os subsídios à agricultura em meio a uma forte crise econômica? Não, é completamente irreal”, assegura Eric Farnsworth, vice-presidente do Conselho das Américas.

“Tivemos uma oportunidade em Cancún em 2005. Estáva-mos próximos de um acordo e tudo foi arruinado. Aquele era o momento adequado, agora é tarde. Quem no Capitólio vai votar para abrir o mercado a produtos estrangeiros, se ao mesmo tempo as pesso-as perdem seus trabalhos?”, acrescenta.

Outra das opções discuti-da em Washington como um esforço multilaterial para sair da crise é a expansão dos re-cursos e programas do Fundo Monetário Internacional e de outros bancos de desenvolvi-mento (BID, Banco Mundial, etc.), como o centro de estudos Diálogo Interamericano sugere

em seu último relatório. “Estas instituições preci-

sam fazer muito mais para prover financiamento junto às lideranças analítica e polí-tica. Seus esforços devem ser agora mais inovadores que nunca. Enquanto as economias sofrem, é exigido um grande esforço por parte dos Estados Unidos e das nações mais ri-cas do mundo, para assegurar que estas instituições tenham o dinheiro e a flexibilidade operacional que necessitam”, diz o relatório.

Um conselho que, ao que

parece, será difícil de seguir para Washington, sobretu-do quando o Congresso está questionando o manejo admi-nistrativo de instituições como o BID – que registrou perdas de aproximadamente US$ 2 bilhões em 2008 – bem como a viabilidade e a conveniência de uma ampliação substancial na carteira de crédito deste organismo, segundo contam fontes próximas ao banco.

O concreto, contudo, e um ponto no qual todas as opini-ões de analistas e especialistas na região confluem, é que se as medidas protecionistas continuarem, a crise econô-mica não tardará a ficar mais forte na América Latina e no mundo, enquanto as relações políticas se tornam cada vez mais complexas. Um cenário que coloca à prova o mundo “global” e “interconectado”, levantado com orgulho no começo dos anos 1990 e que agora mostrará quais são seus limites.

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À medida que a crise se aprofunda, as relações

políticas se tornam mais complexas.

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42 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

DEBATES ENTREVISTA

O olhar de Hernando De Soto

“ESTA É UMACRISE GLOBAL E

ESTRUTURAL”

RAFA

EL C

ORN

EJO

Quanto tempo acha que a crise econômica mundial vai durar?

Em uma conferência em Moscou, eu e mais quatro expositores tivemos que res-ponder sobre a crise. Pediu-se que levantassem a mão os que acreditassem que ela acabará em 12 meses: somente um de nós o fez. Eu e os demais levantamos a mão para a alternativa de 60 meses.A que se deve tal pessimismo?

Considero que se trata de um fenômeno de ordem legal e estrutural. Se corri-gido, a crise pode ser mais curta, mas os governos estão vendo isso somente como

um problema financeiro e o estão atacando somente com medidas monetário-fiscais. É necessário ampliar o círculo e entender que a solução não está nas mãos de pessoas que conhecem apenas de finanças, mas também de pessoas que entendem de propriedade. Pode explicar melhor?

A economia global de mercado se desenvolve sobre papel. Você não compra e vende maçãs, mas compra e vende um contrato sobre maçãs; primeiro vem o do-cumento, depois o produto. Essa documentação é a que tem garantido tanto sucesso à

economia de mercado, porque permite reconhecer riscos e negociar valores usando apenas fórmulas escritas. A maior parte do crédito não é monetária, pois vem com documentos de propriedade, e os documentos de proprie-dade não se financiam nem se controlam com políticas monetárias, mas com políti-cas de propriedade. E como a maior parte deles não está regida por direito de proprie-dade, os governos já não tem controle. Por isso, enquanto eu não ver que os governos se deram conta disso plenamente, continuarei considerando que

estarão tratando de resolver um problema que requer uma pá usando apenas um palito de dentes. Como medir a gravidade da cri-se?

Até agora circularam no mundo, no que se refere a papel bancário e moeda, cerca de US$ 13 trilhões. No que se refere a papéis que estão atados a um bem, seja na forma de ações de bônus ou instru-mentos financeiros, calcula-se que há aproximadamente US$ 170 trilhões em todo o mundo. Mas, nos últimos sete anos, criamos outro tipo de instru-mento em papel que se chama

Hernando de Soto voa frequentemente a países dos cinco continentes como líder do Instituto Liberdade e Democracia (ILD), assessorando reformas legais de diferentes governos e dialogando com destacados líderes mundiais. A experiência acumulada junto com essa milhagem o convenceu de que a crise econômica mundial é, fundamentalmente, de ordem legal e estrutural,

e que as respostas não podem se limitar ao aspecto financeiro. “Estão tratando de resolver com um palito de dentes um proble-ma que requer uma pá”, diz, com preocupação, o economista mais famoso do Peru. De Soto conversou sobre a crise econômica mundial com Cecilia Niezen, correspondente de AméricaEconomia, em sua casa no distrito de Surco, em Lima.

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derivativo, do qual acabamos de perceber a existência. Há aproximadamente US$ 600 trilhões em derivativos em circulação. Eles excedem tranquilamente a produção global e, entretanto, não sabemos quantos são nem onde estão... Esse é o centro do problema.A economia de mercado caiu em uma tremenda informalidade…

Sim, no sentido de que há 200 anos a lei diz (ainda que não esteja escrita dessa forma) que não deve existir nenhum bem que não esteja registrado. Isso foi parte do contrato social quando se pôs fim ao feudalismo, com o pa-trimonialismo. As oligarquias não devem ter direitos que nós não conheçamos. Essa tem sido uma espécie de regra que se rompeu e isso trouxe uma paralisia ao crédito, um problema de credibilidade. Como se recupera a confiança?

No fundo, nunca é uma questão de confiar no mercado. Primeiro é preciso confiar no papel com o qual você faz compras. Acreditar que as condições de valor do ativo são claras e corretas. Hoje não sabemos qual é a quan-tidade desses instrumentos financeiros derivativos e o fato de estarem mal-registrados dificulta determinar quantos são. O que sabemos agora é que há pelo menos US$ 600 trilhões de papéis sobre os quais não temos informação, salvo a que nos querem dar. E não temos forma de avaliar se a informação é correta ou não. O que os responsáveis pelas políticas econômicas devem fazer?

Em primeiro lugar, todas as pessoas que possuem esses ativos devem registrá-los para que possam ser localizados, taxados, comparados e pa-dronizados. Segundo, devem colocá-los em um contexto de direito, ou seja, devem registrá-

los sob determinados padrões, para que sejam comparáveis. Terceiro, as transações têm de estar reguladas sob regras uniformes, nas quais o ato de mentir, de não dizer a verda-de, seja castigado. Que seus efeitos frente a terceiros sejam conhecidos. Não se trata de contratos onde o que importa é apenas a relação entre eu e você. São contratos que afetam uma terceira pessoa.Há interesses que impedem de fazê-lo?

Como os governos veem a crise como um problema financeiro, ficam rodeados de pessoas que, de uma ou outra forma, têm interesses contrários à reforma.E o que pode acontecer?

Acho que era inevitável chegar a esse ponto. Mas, quanto mais tempo demorar, piores ficarão as coisas. Inclu-sive muitos de nossos países que não têm nenhuma relação com os ativos tóxicos, estão sofrendo as consequências, e não temos nenhuma voz sobre a forma como se administra esse problema.Nesse sentido, acha que há um excesso de otimismo nos governos da região?

Não sei se estão otimistas ou não, mas um dos deveres de um governo é administrar expectativas, criar confiança, que é parte importante da eco-nomia e que é uma disciplina muito psicológica. Você acha que as medidas que os governos da região estão tomando são insuficientes?

A ideia de gastar mais e injetar dinheiro na economia é correta, mas se poderia fazer muito mais. No caso do Peru, os bancos têm uma regulamen-tação clara e não se meteram na compra de papéis tóxicos. Se alguém me pergunta onde invisto meu dinheiro, eu digo que é no Peru. O crescimento do Peru é orgânico, e cabe ao país afiançar isso. Agora que

se pode dar conta de que a debilidade do ocidente é legal. Por isso, considero que se pode fazer muito mais. Por exemplo?

Há no mundo uma quanti-dade enorme de investidores que temem comprar papéis do Ocidente e que não sabem qual banco oferece bom dinheiro. Nós não temos esse problema. Este é um momento ideal para criar documentos e oportuni-dades de investimento, fazendo com que nosso papel seja cada vez mais seguro. Nossos países têm bons papéis. Mas boa parte não tem documentos de propriedade tão seguros. Este é o momento de investir fortemente nisso para que esse dinheiro, que não sabe aonde ir no Norte, venha para nossa parte do mundo. Temos recebido pedidos de governos no Instituto, que nos consul-tam para ver como podem começar a desenvolver bons títulos e atrair investimentos. Eles percebem que, até que se recupere a confiança nas indústrias do Norte, o que levará algum tempo, nossos países poderiam tirar proveito, o que significa aperfeiçoar nossos sistemas jurídicos, para que quem venha aqui sinta que está investindo com segurança.O grau de investimento continua sendo uma boa referência para atrair capitais?

A maior segurança para qualquer investimento é o grau de segurança que a proprie-dade lhe outorga, pois essas avaliadoras que estabelecem qual o grau de investimento obviamente resultaram ine-ficazes. Todo esse mercado de derivativos em que alguém está dizendo que é triplo A ou duplo B foi muito menos informativo do que se houvesse existido um bom registro de propriedade que permitisse aceder à informação, de tal forma que se pudesse inferir

qual é o grau de segurança de um investimento. Para comprar a casa do meu vizinho, não trato de saber se ele tem grau de investimento, mas se tem um bom sistema de proprie-dade que possa indicar que há segurança no investimento.Fala-se hoje de mudança do modelo econômico e inclusive da morte do capitalismo. Qual a sua opinião?

O fato de que o modelo vai mal não tem relação com o mercado em si. Deixaram que boa parte do mercado se informalizasse. A propriedade não é somente delimitação de posse; é também um sistema de informação. Quando tudo está registrado e em dia, você sabe o que possui. E hoje não se sabe.Pode-se identificar um modelo alternativo ao capitalismo?

Coréia do Norte? Cuba? Não vejo modelo alternativo. Marx dizia claramente que, apesar de admirar o capitalis-mo, identificava contradições como a tendência à acumulação de capital e a concentração de riqueza. Mas dizia que isso eventualmente levaria à correção do modelo. Também dizia que, quando chegasse a antítese, o novo modelo seria claramente identificável porque seria facilmente descrito, e eu não vejo nenhum país do mun-do que esteja propondo algo diferente. Estamos dizendo “castiguemos os banqueiros que nos levaram a isso, res-trinjamos sua ação”, mas tudo sob o mesmo modelo.E mais controle…

Todos reconhecem que as agências de Estado relaxaram demais, ou que não existem as necessárias. Mas já estão se dando conta de que a au-toridade monetária não basta para controlar. Há um vazio regulatório, mas ainda não é possível determinar por onde fechar as brechas. Mas, que o Estado necessita readequar-se, é uma conclusão óbvia.

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DEBATES ÉTICA CORPORATIVA

PARA JOGAR LIMPO ROD

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Éuma brincadeira, mas muito sem graça: “Não há remédio”, dizem hoje

no Chile os vendedores de produtos farmacêuticos. O comentário se deve à recente descoberta de um acordo entre grandes redes de drogarias e os laboratórios farmacêuticos para subir os preços de mais de 200 medicamentos. Agora, deputados chilenos propuseram modificar a lei para que este tipo de conduta entre empresários termine na cadeia.

Mas essa não foi a única proposta que brotou do es-

cândalo. Outra foi criar uma farmácia estatal onde o público possa comprar medicamentos a preços praticamente de custo. Assim, o delito cometido por essas empresas, que por anos têm dominado o comércio de fármacos a torto e a direito, poderá custar-lhes parte do mercado. Além da confiança dos clientes: roubar dinheiro de um doente é mais feio do que tirar doce de criança.

Sabe-se que a indignação e a desconfiança do consumidor podem arruinar uma indústria. Por que, então, a história se

repete de tempos em tem-pos? O consenso é de que se trata de algo mais sistêmico: os incentivos, em posições oligárquicas, são muito sucu-lentos para que os empresários resistam a cruzar o limite do ético. É por isso que ninguém mais acredita que se deva dar às empresas a autonomia para fixar as regras de concorrência em seu negócio.

É certo que a autorregula-mentação privada efetiva pode evitar a imposição de normas pesadas e punitivas da parte do Estado, mas isto só ocorre

quando há uma instituição su-ficientemente sólida e vigilante em ambas as partes. “O que vou lhe dizer é muito estranho”, conta o advogado colombiano e professor da Universidade dos Andes, Marino Tadeo Henao. “Mas a autorregulação funciona bem quando há uma boa regulamentação.” Parece paradoxal, mas não é. Isso acontece “porque as empresas estão dispostas a autorregular-se quando sabem que, se não o fizerem, outro o fará”. E, diz o colombiano, quando há um vazio regulatório e as autori-

Regulamentação pública e autorregulamentação empresarial não são exclu-dentes, dizem especialistas. Precisamos de ambasSoledad Gómez

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dades deixam de se preocupar, a iniciativa privada relaxa seus padrões. E é ai que aparecem as tentações.

Foi o que ocorreu no merca-do financeiro norteamericano, britânico e alemão nos últimos anos. Como exemplo, vale lembrar a amostra do CFA Ins-titute, encarregado de outorgar o cobiçado título de Chartered Financial Analyst, que impõe a seus alunos e graduados um dos padrões éticos mais restritos do mundo financeiro. Como explica Rubén Dinamarca, para quem apresenta o título da CFA, “o Padrão de Ética Profissional inclui certas condutas que são exigíveis aos graduados e alu-nos”. As penalizações podem alcançar a perda do título. As instituições financeiras mais importantes do mundo são regidas por padrões que imitam os códigos da CFA. E, ainda assim, ocorreu o turbilhão. É que nem as mais estritas autorregulações funcionam quando a regulação não opera adequadamente.

Segundo Dinamarca, um dos problemas que fez o mundo financeiro entrar em colapso é que, “tal como está estruturado o mercado de empréstimos hi-potecários, os incentivos não eram os adequados para evitar o problema que se desatou. E, por outro lado, a regulamen-tação em vigor para os ativos subprime tampouco era a mais adequada”.

UM PASSO ADIANTEMas em muitas atividades a regulamentação externa é deficiente ou tarda a chegar. Por que não prevenir? “Deve-se avançar na autorregulação porque ela se move no ritmo da regulação e permite melhorar ou assentar bases para uma nova”, diz a advogada Nicole Nehme, sócia-fundadora da Ferrada Nehme, especialista em questões de livre concor-

rência. Não se trata de deixar que as companhias imponham suas próprias regras, mas que os padrões do setor privado complementem as normas e regulamentações do Estado, explica.

A advogada concorda com Henao que os empresários são quem melhor conhece sua ativi-dade, bem como os vícios e más práticas que têm que controlar. Por isso, dentro das próprias associações é que surgem algu-mas das melhores medidas de supervisão. “A autorregulação efetiva pode adiantar-se e criar um bom marco de vigilância, com um órgão independente que seja mais efetivo que uma regulação difícil e pesada”, assegura Nehme.

A resposta política pode ser evitada mediante uma efetiva autorregulação, seja para um setor ou uma só empresa. “O que as empresas mais querem evitar é que haja alguém mais que os regule, porque sempre há normas que podem preju-dicá-los”, conta Henao. Mas este dano potencial não vem só de agentes políticos ou do Estado. A mudança de regras entre companhias poder ser igualmente nociva, e por isso as negociações entre empresas frequentemente são regidas por códigos de boas práticas.

Existe, quase sempre, um obstáculo difícil no caminho autorregulatório: os que estão em uma posição de domínio geralmente optam pelo critério de curto prazo de não ceder poder. Por exemplo, a Associa-ção de Indústrias Fornecedoras do Chile, a Agip, busca desde 2005 chegar a um acordo de autorregulação com as redes de supermercado.

Segundo Vasco Costa, presidente da Agip, foi ela-borado um documento que se baseia em práticas de nível internacional, “para dar um marco de maior flexibilidade e

livre concorrência”. Contudo, embora tenha aprovação de entidades antimonopólio e de mil empresas fornecedoras, os cinco operadores de serviços que concentram o mercado chileno ainda não adotaram essas regras. Mas Costa não dá trégua. “Insistiremos no acordo entre as empresas. Enquanto não conseguirmos, continuaremos recorrendo às autoridades nos casos em que houver abuso de poder”.

“À medida que o mercado se torna mais complexo, há necessidade de respostas. De certa forma, ao criar um código de autorregulação, as indústrias se consolidam e ganham credi-bilidade”, diz Paul Venturino, sócio da agência de comunica-ção chilena Strategika.

Enquanto há um lei que regulamenta a imprensa, há outra contra o uso de infor-mação privilegiada; não há normas precisas sobre o com-portamento das agências a respeito da informação de seus clientes. “Em geral, quando uma fala de autorregulação, outra se refere a âmbitos mui-to específicos, porque as leis ou autorregulações públicas cobrem parte importante dos mercados”, assegura Nehme. Já Venturino sabe que não será fácil conseguir um acordo, porque as agências não estão agrupadas em grêmios, e por isso iniciaram conversas com a Faculdade de Comunicações da Universidade Católica para legitimar a iniciativa.

TRANSPARÊNCIAMas nem tudo é negativo na experiência latinoamericana.

Um dos casos de maior êxi-to aponta justamente à livre concorrência e à transparên-cia. “São proibidos subornos diretos e indiretos.” Assim está escrito no acordo firmado pelas empresas fabricantes de tubos na Colômbia, quando propuseram terminar com as práticas de corrupção em 2005. Em 20 páginas, as empresas agrupadas na Associação Colombiana de Engenharia Sanitária e Ambiental, a Aco-

dal, que representam mais de 90% das vendas do setor ao Estado, detalharam os vícios que pretendiam eliminar de seu negócio. O pacto, asses-sorado pela filial colombiana da Transparência Internacio-nal, teve tanto sucesso que os membros da Acodal estão exportando os métodos.

Pedro Nel González, gerente de contratos e licitações da Pavco, foi um de seus precur-sores. “Tivemos vários anos de trabalho, o implementamos na Argentina, também fui ao Equador para poder divulgá-lo lá e também o grupo Amanco está atualmente trabalhando no Brasil para poder implementar um pacto semelhante”, diz. Desde o começo do acordo os sócios contam com um comitê independente, que pode levar suas queixas diretamente à vice-presidência da República. “Isto tem gerado uma concor-rência mais leal, mais aberta e preços mais baixos”, assegura Gonzáles.

É o mesmo que dizer be-nefícios para todos. Ao con-trário do que ocorre quando a autorregulação é ruim ou inexistente.

Código de conduta dá credibilidade à iniciativa privada.

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Diretora do Centro de Política Hemisférica da Universidade de Miami.

Susan Kaufman Purcell

DEBATES 5a COLUNA

UMA DAS PRINCIPAIS DIFERENÇAS entre os siste-mas políticos dos Estados Unidos e da América Latina é a maior institucionalização das distintas camadas demo-cráticas nesse país. Muitos analistas culpam os problemas políticos na América Latina à insufi ciente institucionali-zação de seus sistemas políticos, o que leva ao surgimento de movimentos populistas e à ausência de um consenso generalizado sobre as regras do jogo político. Isto expli-ca porque os governos na América Latina repetidamente “mudam o modelo” – alternando entre um forte apoio ao papel do Estado na economia e uma sorte de laissez-fairecapitalista.

Contudo, nas últimas semanas, muitas das característi-cas destes sistemas políticos debilmente institucionaliza-dos apareceram nos Estados Unidos, justamente quando o país sofre uma crise econômica e fi nanceira sem prece-dentes. As instituições políticas sólidas enfrentam proble-mas de alta complexidade que requerem soluções rápidas.

Como resposta à crise surgiram propostas claramen-te populistas, que abrangem uma sensação de injustiça e injúria generalizadas. Ao contrário do populismo latinoa-mericano, que geralmente inclui a mobilização de classes mais baixas, o populismo norteamericano sustenta-se na classe média. Sua ira aponta principalmente ao Governo Federal, o qual, segundo os afetados, estaria favorecendo pessoas cuja conduta temerária, e às vezes criminal, tenha causado a crise. Entre os acusados estão algumas institui-ções de Wall Street, como bancos e empresas de seguros. Também estão, contudo, milhões de pessoas que compra-ram casas que não podiam pagar e agora recebem ajuda do governo, enquanto quem se comportou responsavel-mente talvez não receba ajuda nenhuma.

A raiva populista também se explica porque a solução proposta pelo governo incluiria gastar bilhões de dólares aportados por contribuintes, criando um enorme défi cit que terá que ser coberto por futuras gerações. O problema aumentou pela falta de transparência de parte do governo, que não revelou muitos detalhes sobre como o dinheiro será gasto. Além disso, percebeu-se que o governo apro-

Populismo norteamericano

veitou a crise para “mudar o modelo”, que de um capita-lismo impulsionado pelo setor privado passou a um tipo de “socialismo europeu” – caracterizado por maior gasto governamental, burocracia, altos impostos, menor cresci-mento econômico e menor competitividade global.

Como resposta ao populismo, o Congresso apresentou projetos de lei que, se aprovados, afetarão o Estado de Direito ao penalizar retroativamente um grupo específi co: os executivos de alto cargo da seguradora AIG, que rece-beram enormes bônus, apesar de a empresa ter requisita-do bilhões de dólares em fundos do governo e de muitos deles terem trabalhado em divisões da AIG que teriam causado os problemas em questão.

Inicialmente as instituições políticas dos Estados Uni-dos se viram compelidas a conter estas “reações” tanto do público como de partes do governo. Mas, eventualmente, os vários contrapesos incluídos no sistema político nortea-mericano começaram a levar a uma conduta mais modera-da. O presidente Obama – que inicialmente havia se opos-to a bloquear o pagamento de bonifi cações aos executivos, já que eram completamente legais, e que depois se uniu

à massa ensandecida ao dizer que os prêmios eram escanda-losos – por fi m tratou de apazi-guar os ânimos e alcançar uma solução legal moderada. Ao mesmo tempo, o secretário do Tesouro, Tim Geithner, revelou um novo plano para solucionar o problema dos ativos tóxicos nos balanços dos bancos, que contribuíam para a falta de con-fi ança no sistema fi nanceiro e impediam um aumento na dis-ponibilidade de crédito.

E os membros mais mode-rados da bancada democrata no Congresso puseram em dúvida a sensatez de implantar leis pu-nitivas retroativas. Além disso, começaram a revisar os enor-

mes programas de gastos propostos pelo executivo – tanto nos planos de resgate como nos programas de educação, seguros de saúde e outras propostas do governo. E frente às críticas de que o governo estava fazendo coisas demais ao mesmo tempo, o que prolongava a crise, a administra-ção respondeu ao atrasar algumas dessas coisas.

Por fi m, pode ser que saiam algumas reformas necessá-rias na crise, como uma maior regulação de instrumentos fi nanceiros que pouca gente entende, menores salários e bonifi cações excessivas para executivos do setor privado e maior transparência do governo. Por outro lado, esta crise está longe de terminar. Tomara que as soluções propostas sirvam para fortalecer em vez de debilitar as aclamadas instituições políticas dos Estados Unidos.

Pode ser que saiam algumas reformas, como uma maior regulação de instrumentos financeiros que pouca gente entende.

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WEFESPECIAL

A nova agenda

Acrise mudou todas as prioridades. O sincronismo que marcou a queda dos mercados fi nanceiros em todo o mundo, juntamente à forte contração do comércio global,

colocaram economistas, políticos, empresários e líderes da região em busca de caminhos para neutralizar seu impacto na América Latina. Mas a incerteza se intensifi ca e o pulso econômico do globo deu sinais de piora. O capítulo latinoamericano do World

Economic Forum, que este ano é realizado no Rio de Janeiro, debaterá a natureza da crise, seu impacto na região, bem como outros temas centrais para estruturar um cenário que nos per-mita sair fortalecidos deste duro episódio. Em seguida, alguns dos participantes do WEF na América Latina nos adiantam os eixos de debate que protagonizarão este importante encontro empresarial.

NOVAS REGRAS PARA

O MERCADO DE CAPITAIS

ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA, MEMBRO DO

CONSELHO DA SUL AMÉRICA

CRISE. POSSE DO NOVO PRESIDENTE NOS EUA. CHÁVEZ. VIOLÊNCIA. ELEIÇÕES. O ENCONTRO DO WORLD ECONOMIC FORUM NO BRASIL ATUALIZA OS TEMAS DA AGENDA POLÍTICA E ECONÔMICA DA AMÉRICA LATINA

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Um dos resultados desta crise será o redesenho do sistema fi nanceiro global. Novas regras vão surgir para atender ao clamor de autoridades, legisladores

e investidores, os grandes prejudicados por essa debacle que ainda não dá sinais de equilíbrio. Evidentemente, a regula-

mentação que derivar desse debate buscará cobrir as defi ciência atuais e insufi ciências claramente indicadas dos processos de autorregulamentação. Obviamente, abusos precisam ser coibidos. E é preciso também evitar que de uma legislação considerada por muitos como excessivamente liberal passemos ao outro extremo, o de regras que acabem por reprimir os mercados.

O bom é que já sabemos alguns detalhes dessa nova regula-mentação. Uma equipe formada por 30 pessoas, liderada por Paul Volcker (ex-presidente do Fed) e integrada também por Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central brasileiro, preparou uma lista com itens que deverão constar do novo marco do sistema fi nanceiro mundial.

As atividades bancárias garantidas por seguros de depósito devem ser fi scalizadas por um único órgão regulador;

Os fundos mútuos que desejem oferecer serviços bancários terão que se reorganizar como “bancos de propósito especial”. Dessa forma, serão supervisionados pelo órgão regulador e terão acesso às linhas de crédito de última instância dos bancos centrais;

Administradores de hedge funds e private equity que usem recursos signifi cativos com origem em empréstimos devem registrar sua atividade junto ao órgão regulador nacional;

No caso dos fundos de tamanho potencialmente signifi cativo do ponto de vista sistêmico, o regulador deverá ter autoridade para estabelecer padrões de capital, liquidez e gestão de risco;

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WEFESPECIAL

A América Latina continuará a crescer

mais que o mundo

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A América Latina se encontra muito atrasada na revolução das tecnologias. A principal fonte de difusão tecnológica para as economias em desenvolvimento é o investimento

estrangeiro direto (IED). A abertura comercial e a qualidade da infraestrutura existente são fundamentais para atraí-lo. Mas

O foco emP&D

também é essencial fomentar a inovação, e os países da região gastam menos de 0,5% do PIB em pesquisa e desenvolvimento (P&D), cifra muito abaixo da dos países desenvolvidos. Apesar de o porcentual ser um indicador-chave de inovação, a forma como esses gastos são fi nanciados também é importante. Nos países desenvolvidos, os maiores investidores são privados. Também é importante observar em que áreas se concentram os recursos de P&D. A região privilegia as ciências básicas, quando a evidência empírica apoia a ideia de que a pesquisa aplicada favorece o crescimento econômico.

Felipe Larraín, professor de Economia da Universidade Católica do Chile

Como as economias da região estão sendo afetadas pela crise?

Muito menos que as dos EUA, Europa e Ásia. Muitos dos países da região têm trabalhado duro para controlar suas fi nanças e a infl ação, e têm alcançado altos superávits, o que lhes garantiu acumular reservas internacionais e reduzir a dívida. Além disso, limitaram sua exposição à crise, pois seus níveis de empréstimo a depósitos estão entre os mais baixos do mundo. Seus bancos tampouco necessitaram de resgates, estão bem capitalizados.

Apesar de tudo, há países que não conseguiram escapar da crise. O México, por exemplo, tinha uma alta dependên-cia dos Estados Unidos via Nafta, enquanto a Venezuela é altamente dependente do petróleo. O Brasil, ao contrário, crescerá um pouco menos de 2% este ano, mesmo sendo um país exportador de matérias-primas, graças ao dinamismo do consumo interno.Qual a sua projeção para as economias da região nos próximos anos?

Em 2009, o PIB da região crescerá mais de 1%. Em 2010, superará os 2%. A região continuará a ter taxas de crescimento superiores à média mundial por estar bem refugiada da tormenta. Por ser rica em petróleo e matérias-primas, em geral, a região é dependente da demanda da Ásia e dos preços internacionais. No entanto, à medida que o ingresso de recursos for crescendo, a demanda doméstica se manterá forte e mitigará os impactos negativos.Que elementos o senhor acredita que impulsionarão o novo ciclo de desenvolvimento na América Latina?

A disposição de abrir o mercado de trabalho à mão-de-obra especializada estrangeira, investimentos signifi cativos em educação e infraestrutura, reformas tributárias e fi scais e a redução da burocracia.

Lord Peter Levene, presidente do conselho diretor do Lloyd’s na

Inglaterra e co-presidente do World Economic Forum na América Latina

Deverá ser criado um sistema formal para regula-mentar e supervisionar as operações de derivativos negociados em mercados fora da bolsa (over-the-counter market).

A jurisdição dos fundos deverá basear-se na localização primária dos administradores de fundos. Assim, se evita que os fundos de hedge e private equity localizados em paraísos fi scais e fi nanceiros sejam inimputáveis e não se submetam à regulamentação ou supervisão de seus países de origem;

Os bancos centrais devem ter autoridade para conceder crédito, em caráter de emergência, a instituições não-bancárias. Deverão atuar preventivamente para evitar/minimizar crises e ter regras compatíveis;

Os princípios e padrões contábeis devem ser reavalia-dos com o propósito de desenvolver parâmetros mais realistas para lidar com menos instrumentos líquidos e mercados em crise;

Os reguladores devem exigir que as instituições fi nan-ceiras assumam uma proporção signifi cativa do risco de crédito que elas empacotam em produtos securi-tizados e em outros créditos estruturados;

A regulamentação do mercado de securitização, pro-dutos estruturados e derivativos deve ter, no mínimo, padrões regulatórios de transparência e de abertura do mercado de títulos públicos;

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Company Profile

Missão:A FedEx produzirá retornos financeiros superiores para os acionistas ao disponibilizar a rede de suprimento de valor agregado, transporte, serviços comerciais e informações relacionadas através de companhias operacionais focadas. Os requisitos do cliente serão atendidos com serviços da mais elevada qualidade, apropriada para cada segmento de mercado atendido. A FedEx se empenhará para desenvolver relacionamentos mutuamente compensadoras com seus funcionários, parceiros de negócios e fornecedores. A segurança será a primeira consideração em todas as operações. As atividades corporativas serão conduzidas com os mais elevados padrões éticos e profissionais.

Perfil:Com sede corporativa em Memphis, Tennessee, a FedEx é uma corporação pública de capital aberto (NYSE: FDX) que disponibiliza um portfólio global de transporte, e-commerce e serviços comerciais através de companhias competindo coletivamente, operando independentemente e gerenciadas em colaboração sob a respeitada marca FedEx. Estas companhias operacionais são principalmente representadas por: FedEx Express, FedEx Ground, FedEx Freight e FedEx Services. Estas companhias formam o núcleo dos nossos segmentos sujeitos a relatórios.

História da FedEx:Em 1965, Frederick W. Smith, um graduado da Yale University, produziu um trabalho de final de curso sobre os sistemas de rotas de passageiros utilizados pela maioria dos expedidores de frete aéreo, os quais ele via como economicamente inadequados. Smith

Perfil da FedEx Express

SEDE: Memphis, Tennessee; Sede da América Latina: Miami, Flórida

• Escritórios em 23 países na América Latina e o Caribe

• Operações de serviços para 50 países na América Latina e o Caribe

• Operações de serviços em mais de 220 países e territórios mundialmente

Web site: www.fedex.com escreveu sobre as necessidades dos expedidores terem um sistema projetado especificamente para o frete aéreo que pudesse acomodar remessas urgentes, tais como medicamentos, peças de computador e produtos eletrônicos. Em agosto de 1971 após uma permanência em serviços militares, Smith adquiriu participação de controle na Arkansas Aviation Sales, localizada em Little Rock, Arkansas. Enquanto estava operando sua nova firma, Smith identificou a terrível dificuldade em conseguir que pacotes e outras cargas aéreas fossem entregues num prazo de um a dois dias. Este dilema o motivou a realizar a pesquisa necessária para resolver o ineficiente sistema de distribuição. Portanto, surgiu a idéia da Federal Express: uma companhia que revolucionou as práticas comerciais globais e agora define velocidade e confiabilidade. Hoje, a FedEx Corporation é a principal provedora de serviços de remessas e de informação em âmbito mundial e uma das marcas mais respeitadas mundialmente. A FedEx Express iniciou suas operações de serviços na América Latina e no Caribe em 1989.Receita Consolidada da FedEx: $38 bilhões

Número de Funcionários na LATAM: 3.450

CEO da FedEx: Frederick W. Smith, Chairman, Presidente e CEO da FedEx Corporation

Presidente da FedEx LAC: Juan N. Cento, Presidente

Serviços LAC da FedEx:

• FedEx Express Nacional (México) • FedEx International Priority ® • FedEx International Priority Direct ® • FedEx International Economy Direct Distribution ® • FedEx International Economy ® • FedEx International Priority ® Freight • FedEx International Express ® Freight • FedEx International Economy Freight ® • FedEx Dangerous Goods Service – (Serviço de Transporte de Materiais Perigosos) • FedEx Transborder Distribution – (Distribuição Transfronteira)

Contato: Juan N. Cento Telefone Número: 786-388-2600 Indústria: Transporte Produtos: Transporte, soluções

de logística e consultoria comercial

Page 50: Nº 374 Edição Brasil

50 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

WEFESPECIAL

IDEIAS PARA UMA RELAÇÃO NOVA E AREJADA ENTRE EUA E AMÉRICA

LATINA

PETER HAKIM, PRESIDENTE DO DIÁLOGO

INTERAMERICANO

1

78

9

102

3

4

5

6

Aeleição do presidente Obama abre uma oportunidade para que os EUA se relacionem de uma forma diferente com a América Latina. Os governos da região continuam

a desconfi ar de Washington e são ambivalentes quanto ao papel hemisférico que os EUA deveriam ter. No entanto, hoje há excelentes condições para a construção de uma robusta aliança EUA-América Latina. Propomos uma agenda de dez pontos pragmáticos aos EUA para ser seguida em sua política regional.

HAITI: Os próximos anos serão duros para a mais de-bilitada nação da região. Os EUA poderiam suspender a deportação de haitianos sem documentos, estender a ajuda internacional e infl uenciar os bancos interna-cionais para que perdoem a dívida do país.

ECONOMIA : O melhor que os EUA podem fazer é reviver sua própria economia, sem protecionismo. A América Latina seria ainda mais prejudicada se fosse fechado o acesso a seu mercado e aos investimentos. Os EUA devem infl uenciar para que as instituições mulilate-rais de crédito tenham recursos para fi nanciar pacotes de estímulo.

CUBA : Isolar e sancionar Cuba é hoje um anacronismo que apenas isola os EUA do restante do Hemisfério. Reformular sua política sobre a Ilha abrirá à colaboração com a América Latina em muitos outros temas. Não há nenhum gesto tão convincente para mostrar que os EUA terão uma nova maneira de abordar a região.

MÉXICO : O vizinho será provavelmente o maior desafi o político para seu Departamento de Estado se a violência seguir crescendo e ameaçando a segurança nacional. Os EUA devem estender substancialmente sua coopera-ção em segurança com o governo do México, que está disposto a trabalhar junto a Washington. É a hora de criar uma autoridade fronteiriça conjunta, de maneira a coordenar melhor as atividades de segurança.

CRIMES : Muitos são os países da região que buscam apoio dos EUA para enfrentar a crescente violência. Washington deve atuar. Iniciativas nesta área devem incluir a extensão dos programas de assistência dos Estados Unidos, o controle efetivo do tráfi co de armas, a revisão de políticas sobre a deportação de criminosos, bem como a estratégia antidrogas desenvolvida con-juntamente com uma série de governos da região.

IMIGRAÇÃO : É urgente uma reforma compreensiva que inclua atenção a programas que se ajustem às deman-das trabalhistas dos EUA; o status legal a 12 milhões de imigrantes sem documentos; e inibir a imigração ilegal com incentivos corretos. Deve-se evitar a construção do muro na fronteira México-EUA e melhorar a proteção aos direitos dos imigrantes ilegais.

COMÉRCIO : A administração Obama herdou uma agenda comercial que deve ser completada. O mais urgente é ratifi car os Tratados de Livre Comércio com Colômbia e Panamá, restaurar as preferências tarifárias para a Bolívia e considerar preferências para o Paraguai.

BRASIL : Não parecem estar prontos para formar uma aliança estratégica de longo prazo. Mas Brasil e EUA devem colaborar em temas de alta importância como mudança climática e desenvolvimento energético.

VENEZUELA : A queda do preço do petróleo eliminou a urgência para conter a insistente campanha anti-EUA do presidente Hugo Chávez. Contudo, é possível reduzir a tensão bilateral com a volta do embaixador norte-americano a Caracas. Ainda, a melhor via para conter as atividades da Venezuela na região é melhorando a cooperação com outros países da América Latina.

DEMOCRACIA: Os EUA devem reconstruir sua credibilida-de. A eleição de Obama ajudou. Também suas decisões de fechar Guantânamo e acabar com a tortura nos interrogatórios. É essencial que a política dos EUA em segurança internacional respeite os direitos humanos e civis. E deve-se ajudar a fortalecer o rol da OEA.

Page 51: Nº 374 Edição Brasil

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 51

WEFESPECIAL

Mauricio CárdenasDiretor da Iniciativa Latinoame-ricana, The Brookings Institu-tion, EUA

Pamela CoxVice-presidente do Banco Mundial para América Latina e Caribe, EUA

Precisamos de líderes otimistas e visionários

perguntas3Enfrentando a inequidade

Luis A. Moreno, presidente do Banco Interamericano de Desen-volvimento.

A aposta verde

O aumento dos preços do petróleo, a experiência brasileira com o etanol e o

fato de a cana-de-açúcar ser cul-tivada em praticamente todos os países da América Latina fi zeram com que a região se interessasse pela alternativa de explorar os biocombustíveis. O etanol que se

produz na região, ao contrário do norteamericano, provém da cana-de-açúcar. Este apresenta uma produtividade maior que o milho e um menor risco à segurança alimentar. A re-gião tem um alto potencial em biocombustíveis, e quando estes são produzidos de forma sustentável podem oferecer, além de uma alternativa econômica à gasolina e ao diesel, também uma importante redução na emissão dos gases que provocam o efeito estufa. A decisão a ser tomada pelos países da região não é ser a favor ou contra os biocombustíveis. A escolha é entre os biocombustíveis sustentáveis e aqueles que não o são.

Ei

A

Como vê região e a crise econômica?A região viveu um boom nos últimos quatro anos que

não se deveu apenas ao preço das commodities, mas tam-bém ao fato de termos feito o dever de casa nos setores público e privado para melhorar nosso perfi l de risco. Isso ajudou a estar menos exposto à crise que as economias do mundo desenvolvido. No sistema bancário, por exemplo, temos melhores políticas de gestão de risco (mais regula-mentação, balanços menos endividados, políticas fi scais mais restritivas e sólidas reservas internacionais). Além disso, todos os países da região têm enormes demandas sociais e de infraestrutura, que podem ser vistas como oportunidades para fazer com que a economia cresça.Como as companhias latinoamericanas podem aprovei-tar essas mudanças para obter vantagens competitivas?

As companhias da região com estratégias de cresci-mento sustentáveis e gestão de risco apropriada resistirão à crise melhor do que aquelas que sofrem de demasiada exposição ao risco. As menos afetadas terão mais capaci-dade de incrementar sua participação no mercado global através de aquisições ou crescimento orgânico, graças à sua disponibilidade de caixa e melhor condição fi nancei-ra. Isso dependerá de como e em que condições o mer-cado global irá se recuperar após a crise. As empresas da região devem ver esta crise como uma oportunidade úni-ca para se tornarem competidores globais, mas mantendo sempre um olho na própria liquidez.Quais as características e valores pessoais necessários hoje aos que desejam assumir posições de liderança?

Agora, mais do que nunca, precisamos de líderes que sejam otimistas e sufi cientemente visionários para apro-veitar as vantagens oferecidas pelas atuais oportunidades de crescimento futuro e perpetuação, enfocando a gestão de caixa e a produtividade para assegurar a sobrevivência.

Marcelo Bahia Odebrecht, presidente da Odebrecht e co-presidente do

World Economic Forum na América Latina

Éimpossível ser competitivo sem ser produtivo, e os níveis de produção do trabalhador

latinoamericano têm se mantido em 25% do nível do empregado nor-teamericano nos últimos 30 anos. Uma das teorias mais promissoras que explicam isso tem a ver com o alto grau de informalidade das

economias, situação que sobrecarrega impositivamente as com-panhias que cumprem com as leis e que, unida às tradicionais cargas burocráticas, termina por desestimular a efi ciência. Uma solução seria uma reforma fi scal que elevasse os impostos à renda pessoal em até 40%, a fi m de reduzir os corporativos, levando a uma queda da evasão e da informalidade, especialmente se for acompanhada de iniciativas que modifi quem o equilíbrio da relação custo-benefício da formalidade.

Apobreza e o baixo desem-penho econômico estão interconectados através

de um círculo vicioso em que um baixo ritmo de crescimento produz pobreza e a pobreza desemboca em um baixo ritmo de crescimento. Para mudar essa situação, os inves-timentos em capital humano devem

ser realizados com esforços integrados. Por exemplo, a educa-ção rural deve ser acompanhada de melhoras de infraestrutura, para atrair empresas que possam contratar os benefi ciários da melhor instrução. As políticas que prestam atenção a este tipo de iniciativa têm demonstrado ser mais efetivas. A ênfase deve recair sobre a igualdade de oportunidades. Desenvolvemos o Índice de Oportunidade Humana para medir o papel de circuns-tâncias pessoais no acesso a serviços básicos para se ter uma vida produtiva. Ferramentas como estas permitem identifi car as áreas nas quais o investimento teria um impacto maior.

Pela com-petitividade

Page 52: Nº 374 Edição Brasil

DEBATES ECONOMIA

52 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

As cifras contam histórias. As tendências que os números refl etem e as curvas que desenham são mais convincentes que o melhor narrador. Aqui, apresentamos uma interpretação do impacto da crise na região a partir delas Soledad Gómez e Felipe Aldunate M.

HISTÓRIA DE UMA CRISE

FONTE: BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO

A CRISE FEZ AS REMESSAS CAÍREMEvolução das remessas à América Latina e ao Caribe

Remessas mensais à A. LatinaCrescimento % das remessas

6.0 30%

5.0 25%

4.0 20%

3.0 15%

2.0 10%

1.0 5%

0.0 0%

2007 2008

US$ B

ILHÕE

S

-1.0 -5%

-2.0 -10%

-3.0 -15%

FEV

FEV

MAR

MAR

ABR

ABR

MAI

MAI

JUN

JUN

JUL

AGO

SET

SET

OUT

NOV

DEZ

DEZ

JUL

AGO

OUT

NOV

FONTE: J.P MORGAN

LAMENTAVELMENTE, A REGIÃO NÃO PASSOU ILESA PELA DEBACLE ECONÔMICA DOS EUA Crescimento do PIB da América Latina e EUA

A. LATINAEUA

1T94 1T95 1T96 1T97 1T98 1T99 1T00 1T01 1T02 1T03 1T04 1T05 1T06 1T07 1T08 1T09 1T10

8

6

4

2

2

0

4

6

O INVESTIMENTO ESTRANGEIROSE REDUZ

MONTANTE ANUAL DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETOFONTE: SERVIÇOS DE ESTATÍSTICAS NACIONAIS E JP MORGAN

INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO(US$ MILHÕES)

2008 2009 20010

ARGENTINA 6.000 1.000 2.000

BRASIL 38.000 20.000 28.000

CHILE 16.000 8.000 11.000

COLÔMBIA 9.500 6.000 7.500

EQUADOR 500 300 500

MÉXICO 16.600 15.000 24.000

PERU 7.500 5.000 6.500

VENEZUELA 1.700 500 1.000

A. LATINA 97.900 55.800 80.500 -57%É a contração estimada dos fl uxos de capital para a região em 2009, que totalizariam apenas US$ 34 bilhões, segundo o IIF.

-0,3É a contração do PIB da região prevista para 2009,

segundo a Cepal. A esti-mativa anterior era de alta de 1,9%

%

-9%Foi a queda das

remessas à América Central durante os

dois primeiros meses de 2009

Page 53: Nº 374 Edição Brasil

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 53

FONTE: JP MORGAN

A PRODUÇÃO INDUSTRIAL DA REGIÃO SOFREU FORTE QUEDA...

...BEM COMO A CONSTRUÇÃO E O USO DE CIMENTO...

Evolução da produção industrial na América Latina

15

10

05

0

-5

-10

-15

-20

JAN 06 JUL 06 JAN 07 JUL 07 JAN 08 JUL 08 JAN 09

FONTE: CÂMARAS DE CIMENTO OU DE CONSTRUÇÃO DE CADA PAÍS

Variação porcentual do consumo doméstico de cimento 1T082T083T08

4T08Jan 09Fev 09

BRASIL CHILE ARGENTINA COLÔMBIA PERU

25,00%20,00%15,00%10,00%5,00%0,00%

-6,00%-10,00%-15,00%-20,00%-25,00%

FONTE: JP MORGAN

O DESEMPREGO COMEÇOU A SUBIR, DEPOIS DE TER REGISTRADO QUEDA NOS ÚLTIMOS ANOS Desemprego na A. Latina (média ponderada por PIB)

12

11.5

11

10.5

10

9.5

9

8.5

8

7.5

72001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

2010201

CESSSANTESDesemprego em fevereiro (ou último mês disponível)FONTE: MERRILL LYNCH

% DESEMPREGO

ARGENTINA 7,3

BRASIL 8,5

CHILE 8

COLÔMBIA 14,9

EQUADOR 8,7

MÉXICO 5,3

PERU 9,3

URUGUAI 6,8

VENEZUELA 7,4

-11,5%

6

9%

É a queda da produção industrial do

Chile em fevereiro. Foi o quinto mês consecutivo de resultado negativo

1,8%Foi o aumento da produção industrial no Brasil durante fevereiro

É a taxa média de desem-prego segundo a Cepal. Em 2008, foi de 7,5%

É a quantidade de novos pobres que a crise pode gerar durante 2009, segundo o Sela

FONTE: CÂMARAS SETORIAIS DE CADA PAÍS

... E A COMPRA DE CARROS NOVOSVenda anual de automóveis

Total 2007Total 2008Projeção2009

PERU CHILE COLÔMBIA

51.017 70.000

1.093.293

1.022.925

943.732

227.743239.835

130.000

579.431615.588

475.000300.292

217.300190.000

92.539

1.200.000

1.000.000

800.000

600.000

400.000

200.000

0

MILHÕES

Page 54: Nº 374 Edição Brasil

54 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

DEBATES ECONOMIA

RESULTADO? PROJEÇÕES DE CRESCIMENTO DESABAMVariações do PIB FONTE: SERVIÇOS DE ESTATÍSTICAS NACIONAIS E PROJEÇÕES JP MORGAN

VAR. % PIB REAL

2008 2009

III TRIM IV TRIM I TRIM II TRIM

ARGENTINA 6,3 -1,2 -10,0 -6,0

BRASIL 6,9 -13,6 -4,1 3,8

CHILE -0,2 -4 -4 0

COLÔMBIA 2,9 -1 -0,5 0,5

EQUADOR 4,8 -1 -3,5 -3,5

MÉXICO 1,6 -10,3 -8,5 -3

PERU 8,8 0,7 2,4 3,8

VENEZUELA 0,6 3,8 -5 -5

A. LATINA 4 -8,4 -5,9 -0,7

FONTE: JP MORGAN

MAS A AMÉRICA LATINA ENFRENTA ESTA CRISE EM MELHORES CONDIÇÕES QUE NO PASSADO: RECORDE EM RESERVAS E DÍVIDA EXTERNA MENOR...Reservas internacionais e dívida externa como % do PIB

Reservas externasDívida externa (PIB/rhs)

450%PIB

400

350

300

60

50

40

30

20

10

0

250

200

150

100

50

01981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 2002 2005 2008

FONTE: JPMORGAN

ALGUNS SÃO MAIS AFETADOS QUE OUTROSVariação % anual do PIB por sub-região

10.0

8.0

6.0

4.0

2.0

0.0

-2.0

-4.0

2003 2004 2005 2006 2007 2008F 2009F 2010F

4,53,7 3,4

4,0

6,26,9

4,6 4,3

9,4

6,55,3

6,37,2

5,3

3,74,33,9

2,52,33,0

-0,4-0,6

-2,2

1,8

*Neste gráfi co, América Latina não inclui a América Central

Caribe

A. LatinaAmérica Central

FEV 0

7

ABR

07

JUN

07

AGO

07

OUT7

DEZ 0

7

FEV 0

8

ABR

08

JUN

08

AGO

08

OUT 0

8

DEZ0

8

FEV0

9-40% 10

20

30

40

50

60

70

80

90

-30%

-20%

-10%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

Bal. Com. (em US$)Cresc. Import (%)Cresc. Export (%)

FONTE: BANK OF AMERICA SECURITIES / MERRILL LYNCH

O COMÉRCIO EXTERIOR SE CONTRAI, BEMCOMO O SUPERÁVIT REGIONAL Evolução do comércio exterior e montante balança comercial

FEV 09JAN 09DEZ 08MÉDIA

FONTE: BANK OF AMERICA SECURITIES-MERRILL LYNCH

OS MERCADOS EXTERNOS COMPRAM MENOS DA GENTECrescimento de exportações da A. Latina por destino

ÁSIA-50%

-40%

-30%

-20%

-10%

0%

10%

20%

CHINA JAPÃO EUA EUROPA LATAM

FONTE: BANK OF AMERICA SECURITIES / MERRILL LYNCH

E TAMBÉM COMPRAMOS MENOS DELESCrescimento de importações da A. Latina por mercado de origem

ÁSIA

30%

20%

10%

-10%

0%

-20%

-30%

-40%

-50% CHINA JAPÃO EUA EUROPA LATAM

-30,5%Foi a queda das exportações mexi-canas de janeiro a fevereiro de 2009. Somaram apenas US$ 34 bilhões. As importações durante o mesmo período foram de US$ 33,40 bilhões, uma queda de 30,4%.

US$ B

ILHÕE

S

FEV 09JAN 09DEZ 08MÉDIA

Page 55: Nº 374 Edição Brasil

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 55

FONTE: JP MORGAN

E OS BANCOS CENTRAIS REDUZIRAM AS TAXAS DE JUROS TRANSFERINDO O FOCO DO CONTROLE DA INFLAÇÃO AO CRESCIMENTO

Política de taxas de referência nos bancos centrais Peru

Chile

EUA

Colômbia

Brasil (rhs)

México

2007 20082006 2009

10

12 21

18

15

12

9

6

3

0

8

6

4

2

0

FONTE: J.P MORGAN

E APESAR DA QUEDA, PREÇO DAS MATÉRIAS-PRI-MAS AINDA ESTÁ ACIMA DO MÍNIMO HISTÓRICO

Índice de preços de commodities em mercados selecionados

JAN04 JUL 04 JAN 05 JUL 05 JAN06 JUL 06 JAN07 JUL 07 JAN 08 JAN 09JUL 08

250

230

210

190

170

150

130

110

90

70

50

Argentina

Brasil

Chile

Colômbia

Peru

Média2005

FONTE: JP MORGAN

A QUEDA NA CIRCULAÇÃO DO DINHEIRO E O CUSTO MAIS BAIXO DAS MATÉRIAS-PRIMAS AJUDARAM A CONTROLAR A INFLAÇÃO...Evolução infl ação A. Latina (com e sem Argentina e Venezuela)

1Q091Q06 2Q06 3Q06 4Q06 1Q07 3Q07 4Q07 1Q08 2Q08 3Q08 4Q08 2Q09 3Q09 4Q09

10

9

8

7

6

5

4

3

LATAMSem Argentina e Venezuela

FONTE: IBGE, BANXICO, BCV AND J.P. MORGAN

... E MUITOS GOVERNOS PAS-SARAM A SER CREDORES, O QUE LHES DÁ FLEXIBILIDADE PARA ATUARDívida pública líquida estatal de países selecionados

Brasil

VenezuelaMéxico

Peru

BRASIL, MÉXICO, PERU E VENEZUELA: NET EXTERNAL DEBT

100

60

20

-20

-60

-100

-140

-1801994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

4ºT-2009

FIM (ESPERAMOS)

Em um cenário otimista, a América Latina poderia começar a recuperar-se nos últimos três meses deste ano, segundo o Banco Mundial. Em um pessimista, a região só começará a mostrar sinais de recuperação no segundo trimestre de 2010.

Foi a queda da produção de minério e

de pretróleo no Peru durante fevereiro

-2,01

ALTOS E BAIXOSInfl ação anual em fevereiro de 2009FONTE: MERRILL LYNCH E AMÉRICAECONOMIA

% INFLAÇÃO

ARGENTINA 16,2

BRASIL 5,9

CHILE 5,5

COLÔMBIA 6,5

EQUADOR 7,9

MÉXICO 6,2

PERU 5,5

URUGUAI 7,9

VENEZUELA 29,5

Page 56: Nº 374 Edição Brasil

56 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

FINANÇAS RISCO

PASSADO REDENTORAntigas crises ensinaram aos administradores de risco lati-noamericanos como evitar os males que afl igem os bancos dos EUA e Europa Eduardo Thomson

ROD

RIG

O D

ÍAZ

CARR

IZO

Osvaldo Álvarez chega ao trabalho sempre às oito da manhã. Sobe até o 18º

andar do edifício corporativo do Banco Santander, em San-tiago do Chile. E a primeira coisa que faz como gerente da área de riscos financeiros do banco é revisar a situação nos mercados europeus, uma indicação de como estará o mercado em geral. Se dá tempo, termina alguma tarefa que sobrou do dia anterior “com a cabeça arejada depois de algumas horas de sono” e por volta das oito e meia se reúne com a equipe comercial do banco, para discutir quais operações de mercado fazer, quais instrumentos comprar, quais posições são excessivas e devem ser desfeitas. Depois, reúne-se com sua equipe. “Fazemos os cálculos das medidas de risco, ou VAR (Value at Risk), medimos a sensibilidade, a liquidez”, todos com avançados modelos idealizados por matemáticos, engenheiros e especialistas de informática. No jargão do setor, são conhecidos como “quants”, uma derivação de “quantify”, ou, em português, quantificar.

A tarefa de sua equipe é reduzir ao máximo possível a exposição a riscos como o de mercado (quando o valor de um instrumento despenca) ou de crédito (de que uma parte não tenha capacidade de pagar suas obrigações). Incluindo se isso significa dirigir-se a um trader do banco e dizer “este não pode” ou “desfaça-se deste outro”. Álvarez sabe que é um muro de contenção, que sua tarefa é vital em um banco. Mas também sabe que alguns destes modelos que ele e sua equipe usam caíram em desprestígio. Nos jornais e fóruns em todo o mundo há críticas aos administradores de risco. Muita gente exige

Page 57: Nº 374 Edição Brasil

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 57

saber como foi possível que bancos tão grandes em Wall Street tenham registrado per-das enormes e colocado em xeque o sistema econômico mundial, na medida em que tantos especialistas deve-riam ter previsto isso. Para que tantos modelos se não conseguem medir o risco de verdade?

Os especialistas na América Latina e no resto do mundo defendem-se dizendo que, sem as fórmulas ou modelos mate-máticos, gerenciar um banco atualmente seria o equivalente a pilotar um 747 sem altímetro ou mesmo sem janela.

Uma das fórmulas mais criticadas é o VAR, modelo que trata de medir o risco de perdas de uma carteira de instrumentos. Em poucas palavras, para uma carteira, probabilidade e horizonte de tempo, o VAR é o valor limite tal que a probabilidade de per-da de mercado no horizonte de tempo especificado exceda este valor. Para ser mais simples, se uma carteira de ações tem um VAR – considerando um horizonte de tempo de um dia e porcentagem prefixada de 5% – de US$ 1 milhão, existe 5% de probabilidade de que o valor da carteira caia mais de US$ 1 milhão em um dia qualquer, ou que ao passar de 20 dias, em um destes dias, tenha havido uma perda maior que este valor.

O VAR foi popularizado pelo banco norteamericano JP Morgan e rapidamente foi incorporado por todas as grandes instituições do mundo. O JP Morgan depois decidiu ascender a divisão que popularizou o VAR do banco e deu vida à empresa de as-sessoria em administração de risco RiskMetrics. Contudo, o modelo gera críticas. Uma das principais vozes tem sido Nassim Taleb, autor do best-

seller O Cisne Negro, que acusou o modelo de dar uma falsa sensação de confiança aos investidores. Para ele, o modelo trata de medir feitos pouco prováveis, que não são nem mensuráveis. Outra crítica é que a aplicação dos mode-los é tendenciosa: são usados para maximizar ganhos de curto prazo, o que permite aos administradores pedir bônus maiores, ocultando os grandes riscos de longo prazo.

Mas os especialistas se de-fendem. “Têm que administrar o risco por meio de modelos, como por exemplo, o VAR”, comenta Chris Finger, diretor de pesquisa da RiskMetrics. “Os mercados são simples-mente muito complicados e ver uma instituição e todos os tipos de exposições que ela possui, não ter algum tipo de modelo é simplesmente pouco realista. Contudo, ao mesmo tempo, todos os modelos são imperfeitos. É preciso assu-mir coisas nos modelos. E, se esquecer deste detalhe, então temos problemas”. Ou seja, o importante é a interpretação feita pela pessoa da cifra origi-nada do modelo, e não apenas apostar no modelo.

EX POSTSão duas e meia da tarde e o mercado de valores do Chile é encerrado. Neste momento, a equipe de Osvaldo Álvarez no Santander começa a fazer novos cálculos. “Todos os instrumentos comprados, mais o estoque de carteira, foram valorizados pela gente”, co-menta. Com a nova informação que possuem, voltam a calcular os níveis de risco do banco e como têm variado.

Não há como fazer isto até que o mercado feche. Mas há quem critique que muitos administradores de risco simplesmente fazem um trabalho ‘posterior’. “Em

grande medida o trabalho dos administradores de risco é re-portar depois que ocorrem as transações e monitorar, mas com muito pouca influência na estratégia de investimento”, comenta Frank Nielsen, chefe de pesquisa da MSCI Barra, uma empresa de assessoria de riscos. Mas também há aqueles que dizem que isto está começando a mudar e que os administradores de risco, os “quants” em todo o mundo, incluindo na Améri-ca Latina, estão começando a participar ativamente das decisões, qualificando de an-temão o que se pode comprar e aquilo que é “tóxico” e não deve ser tocado.

Para o mexicano Gerardo Gamboa, diretor geral da Valmer, uma empresa que

faz, entre outras coisas, out-sourcing de administração de risco, a tendência voltou par-ticularmente forte nos últimos seis meses. “As áreas de risco estão destinando mais tempo a serem proativas para partici-par de forma mais efetiva nas decisões de compra e venda de valores ou de onde estão canalizados os recursos das entidades”, comenta.

Há quem diga que isto é antigo, como Afonso de Campos Pinto, no Brasil, sócio da consultora de risco de mercado MAPS, que diz ter participado em estratégias de investimento durante sua passagem pelo banco ABN Amro. Álvarez, do Santan-der, explica que participa em várias avaliações ao longo do ano para fixar estratégias no banco espanhol.

De todo modo, a adminis-tração de risco é uma tarefa árdua, que requer profundos conhecimentos técnicos e en-frenta a difícil tarefa de fazer entender conceitos complica-dos a superiores que às vezes não dominam os conceitos técnicos necessários para isso. “Surpreende-me ver pessoas em cargos importantes que acreditam que, pelo fato de terem um VAR de um milhão, correm o risco de só perder este montante”, explica Gre-gório González, gerente geral da empresa de informações financeiras e assessoria LVA Índices. “E então tenho que explicar que é o mínimo que se pode perder em um dia, mas na prática se pode perder muito mais que isso”.

O bom é que todos os

administradores de risco consultados concordam que a América Latina, graças às numerosas crises passadas, possui regulamentações e reguladores qualificados para supervisionar os departamen-tos de risco, a fim de não cair em situações como a dos países desenvolvidos.

De fato, as empresas da região que sofreram fortes perdas pela exposição de derivativos de 2008, como a Aracruz ou a Comercial Mexicana, fariam bem em submeter-se aos mesmos reguladores que supervisio-nam os setores financeiros latinoamericanos.

Todavia, deve fazer falta não ter alguns “quants” com doutorado em matemática em sua equipe para lhes salvar.

Modelos como o VAR são acusados de dar uma falsa

sensação de confiança.

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58 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

John C. Edmunds

Doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard, professor de Finanças do Babson College de Boston e co-autor de Wealth by Association.

FINANÇAS OPINIÃO

QUANDO A ECONOMIA DOS ESTADOS UNIDOS vai se recuperar? Esta é a pergunta do milhão de dólares, que todos os economistas tentam responder. Eu tenho uma notí-cia: começará agora. E será impulsionada por uma série de refi nanciamentos de hipotecas. Senhoras e senhores, a defl a-ção chegará a seu fi m e os preços das casas se estabilizarão, para logo subir.

O governo dos Estados Unidos anunciou recentemente duas medidas que darão o empurrão necessário ao refi nan-ciamento de hipotecas e à reativação do setor habitacional: primeiro, o Congresso deu aos tribunais o direito de modifi -car as condições de uma hipoteca, ou seja, os juízes podem reduzir o montante de uma dívida e, além disso, reduzir a taxa de juros. Segundo, o Fed anunciou que comprará US$ 750 bilhões em empréstimos hipotecários e instrumentos respaldados pelas casas de hipotecas Freddie Mac e Fannie Mae, entidades controladas pelo Governo Federal que de-têm aproximadamente a metade dos créditos hipotecários no país. Como parte do anúncio, o Fed também divulgou que comprará cerca de US$ 300 bilhões em títulos do Tesouro de longo prazo.

Como resultado, o rendimento do título do Tesouro de 10 anos caiu no mercado secundário, de 3% a 2,5%, e as taxas de juros para créditos hipotecários de 30 anos com taxa fi xa caiu de 5,1% a 4,79% em um só dia.

Uma semana antes, o governo havia anunciado que parte dos fundos que o Congresso havia outorgado ao Tesouro seria usada para compensar os titulares de créditos hipotecá-rios pelas perdas que sofrerão ao reduzir o montante total e as taxas de juros devidas pelos donos das casas.

Estas iniciativas nos forçam a modifi car todos os cálculos de oferta e demanda de moradias. Antes, o razoável para um potencial comprador era esperar que os preços deixas-sem de cair. O livre mercado teria eventualmente limpado o mercado. Contudo, o governo interveio porque a queda nos preços estava mostrando nocivos efeitos secundários sobre o sistema fi nanceiro, de modo geral, sobre outros setores da economia e a economia mundial.

Assim, o razoável para um comprador – em algumas par-tes do país – será adquirir agora, bem como o razoável para os credores será ser mais gentil com os que estão atrasados em seus pagamentos. Os preços das moradias provavelmen-

te começarão a subir porque agora será mais fácil comprar, e será mais fácil para os donos manterem suas casas porque os credores hipotecários esperarão antes de forçar uma venda. Antes, quando os preços baixavam, esperar signifi cava per-der mais dinheiro. Agora não. Os donos que pagam apenas parte de suas cotas mensais poderão obter um crédito novo com melhores termos.

As medidas também dissiparam o espectro da defl ação e retomaram os temores sobre uma maior infl ação. Como resultado, os preços do ouro, petróleo bruto, cobre e outros bens básicos subiram após o Fed ter feito os anúncios.

Os dados ainda não revelam todos os efeitos destas ini-ciativas, mas as solicitações para refi nanciar hipotecas foram elevadas em 29,6% na semana de 18 de março. Os jornais também informaram em 20 de março que as centrais tele-fônicas dos principais bancos e casas de empréstimos en-traram em colapso por conta da avalanche de chamadas de gente buscando renegociar suas dívidas.

Que efeito terão estas medidas nas economias latinoa-mericanas? Já podemos ver uma apreciação nas moedas da região e uma leve alta nos mercados acionários. Os investi-dores de carteira estão voltando timidamente aos mercados de maior liquidez na região, mas não se pode falar de retor-

no em massa. Ainda resta ver os efeitos

principais. Aguardamos sinais mais claros de que, por fi m, o gigante americano encontrou as medidas apropriadas para tratar seu agonizante mercado imobiliário. Se tiver sucesso e os preços das casas deixarem de cair, a recuperação começará a estender-se rapidamente. Os intermediários fi nanceiros nos EUA voltarão a fi car saudáveis porque sua base de clientes já não estará na fronteira da insol-vência. O resto do mundo pode-rá respirar com tranquilidade.

Contudo, ainda não é hora de cantar vitória. Ninguém conhece a ciência certa para medir se as medidas são sufi cientes ou não. As compras de casas, por exemplo, ainda não subiram muito. Para a semana de 18 de março, tinham crescido 1,5% frente à semana anterior e estavam 30% abaixo dos níveis da mesma data do ano anterior. O governo tem implementado valentes medidas e evitado que a recessão se converta em uma depressão, e tudo indica que seguirá com este tipo de medidas pelo tem-po que for necessário para reativar o mercado de habitações e o de trabalho. No entanto, o dólar seguirá em depreciação, os preços das commodities seguirão subindo e as moedas e economias da América Latina, ao menos aquelas que são conservadoras, se fortalecerão.

O governo dos EUA tem implementado valentes medidas e evitado que a recessão se converta em depressão.

Diga-me quando

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CAPITAL ABERTOhttp://blogs.americaeconomia.com/thomson/

ECOLOGIA POUCO RENTÁVEL

CARBONO BARATOEvolução dos preços dos certificados de redução de emissões (CER), em eurosFONTE: POINTCARBON

30

07 08 09 10 11 12 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 01 02 03200920082007

25

20

15

10

5

SCER PRICE 2009-2012 SCER PRICE 2009

700000600000500000400000300000200000100000

01-0

8

07-0

8

02-0

90

VENDAS DE CASAS NOVASFONTE: DEPARTAMENTO DE COMÉRCIO DOS EUA

FUNDOS À VISTAÉ preciso encontrar forças na debilidade. Segundo o depar-tamento de estudos do banco inglês Barclays o mercado asiá-tico emergente está mostrando sinais de recuperação. Por isso, a instituição recomenda a toma-da de posições agressivas em algumas regiões e classes de ativos. Em um informe, o Bar-clays indica que a recuperação já começou na Ásia emergente e levará a um período de seis a nove meses no qual a maioria

Os créditos de carbono também sofrem com a desa-celeração econômica mundial

A CRISE ECONÔMICA não poupa sequer os créditos de carbono que as empresas dos países industrializados compram para paliar suas emissões de poluentes. A redução da atividade econômica supõe menos uso de combustível e menos poluição ambiental. “Se há uma crise que lhe leva a uma menor atividade e menos emissões, então se assume que a demanda por créditos de carbono será menor”, diz Arturo Errázuriz, diretor para a região andina da Eco-securities, empresa que de-senvolve projetos de redução de poluentes. “A desacele-ração da atividade gera uma menor necessidade de contar com essas reduções nos paí-ses industrializados.” Assim, o preço desses instrumentos fi nanceiros, que alcançou os 25 euros por tonelada em julho passado, caiu em fe-vereiro para apenas 7 euros. Em março, houve uma leve alta, para 12 euros, mas os especialistas acham que essa recuperação poderia ter seu

teto nos 15 euros.Outro motivo que impulsio-nou uma queda na demanda por créditos de carbono ou Certifi cados de Redução de Emissões é que esses instru-mentos concorrem com os “Certifi cados de Emissão”, documentos entregues pelos governos às empresas na Europa e que são equivalen-tes à quantidade de emissões poluentes à atmosfera que podem gerar. “Se o setor de cimento, por exemplo, tem seus compromissos de redução de emissões cobertos devido à queda na atividade econômica, pode ir ao mercado e vender seus certifi cados”, explica Eduar-do Piquero, diretor comer-cial para a América Latina da consultoria ambiental MGM. Segundo o espe-cialista, muitas empresas europeias preferem comprar esses instrumentos porque estão baratos e são consi-derados de “menor risco” porque são gerados e nego-ciados na própria Europa. Piquero explica que o recen-

te rebote nos preços se deve a que a ONU realizou mu-danças nas regulamentações para aprovar os projetos de Mecanismo de Desenvolvi-mento Limpo (MDL) – que geram a redução de poluen-tes e créditos de carbono – o que implicou menos projetos e portanto uma menor oferta desses instrumentos. E como se vê o futuro? Com um preço médio de 15 euros, deverá manter-se em bom estado, sobretudo para a América Latina, que já pos-sui um mercado de emissão de créditos de carbono ma-duro. “Brasil, México, Chile e Colômbia estão entre os primeiros países que deram seus passos nesse mercado, antes mesmo que Índia, Chi-na e Rússia”, diz Piquero. “Então, para um comprador, é mais interessante lidar com projetos na região do que na China.” Um bom antecedente para uma eco-nomia que, por mais verde que seja, também tem algo negro.

Arly Faundes Berkhoff

das economias do mundo tocarão o fundo e começarão a recuperar-se. A região seguinte seria os Estados Unidos. O banco recomenda avaliar os bônus com grau de investimen-to, especialmente os do setor bancário, ações pró-cíclicas e algumas moedas pró-cíclicas, como o dólar australiano.Outro setor que estaria pronto a tocar o fundo é o imobiliário nos EUA, segundo o banco de in-vestimentos Bulltick Capital. As vendas mês a mês registraram uma recuperação de 4,7% em fevereiro, enquanto os pedidos de hipotecas aumentaram 32% no mês, frente a 21% no mês anterior. As vendas seriam impulsionadas pelos remates de casas com hipotecas executa-das. Será a luz no fi m do túnel?

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60 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

GIL

BERT

O CO

NTR

ERAS

todas asA mãe de

células

Em março, Barack Obama liberou o fi nanciamento

federal para as pesquisas sobre células-tronco com embriões humanos nos EUA. Felizmente, o mexicano Rubén Argüero Sánchez não teve que esperar essa autorização para dar início a suas próprias pesquisas com essas células, que têm a peculiar capacidade de autorrenovar-se e inclusive renovar tecidos humanos de acordo com uma programação.

Nacionalmente famoso desde 1988, quando realizou o primeiro transplante de coração em seu país, Sánchez buscou nas células-tronco uma alter-nativa para solucionar o eterno problema dos transplantes de órgãos: a oferta muito abaixo da demanda. Depois de muita pesquisa, em 2004 Sánchez e a equipe do Hospital Nacional del Siglo XXI do Instituto Mexicano de Seguro Social (IMSS) foram os primeiros no México a aplicar e patentear um

procedimento de células-tronco para recuperar um coração.

Suas primeiras pesquisas envolviam células-tronco ob-tidas da mesma medula óssea do paciente, de onde tirou uma variedade determinada de célula, a CD34, para semeá-la diretamente no músculo cardía-co com injeções. Com o passar dos meses, o coração debilitado tinha se recuperado e o doente conseguiu manter uma vida medianamente normal.

Sánchez realizou esse pro-cedimento em cem pacientes, com resultados surpreendentes: somente sete deles morreram no primeiro ano depois da intervenção, enquanto nos procedimentos tradicionais o índice de mortalidade é de 68%. E a vantagem não foi apenas terapêutica: os custos desse procedimento representam a quarta parte dos de um trans-plante, e sem as consequências pós-operatórias deste, como diabetes adquiridas ou infec-

As terapias celulares, baseadas em células-tronco, já são uma realidade na América Latina. Mas ainda não se sabe que rumos essa revolução no setor da saúde tomaráJuan Pablo Dalmasso

Sánchez: recuperando corações

I-BIZ

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ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 61

ções severas devido ao uso de imunossupressores. “As células CD34 são muito adaptáveis e o próprio miocárdio converteu-se em uma plataforma de informação genética que as reprogramou e permitiu a rege-neração”, diz Sánchez. “Usamos células adultas multipotenciais (que se adaptam a múltiplos tecidos) que podem funcionar em órgãos privilegiados como o coração, os pulmões, o fígado, o pâncreas, os rins e o cérebro. E a utilização de células totipo-tenciais (que adotam qualquer forma), como as do cordão umbilical, permitiria gerar órgãos inteiros”, conta.

Segundo Lee Buckler, da consultoria canadense Stem Cell Therapy Group, atualmente há cerca de 700 empresas, 250 terapias desenvolvidas e 65 empresas com 68 produtos envolvidos na euforia celular mundial. As estimativas do mercado potencial rondam os US$ 25 bilhões, com projeções de crescimento anual que superam os 25%, segundo os fundos de risco Bionest Partners e Proteus Partners.

Sánchez é um exemplo que demonstra que a América Latina faz parte dessa onda de pesquisa médica. Alguns países como México e Brasil deram seu especial apoio aprovando explicitamente as pesquisas com embriões humanos resultantes de fertilizações in vitro em seus primeiros dias de gestação. E recentemente o governo argentino preocupou-se em difundir que a lei não proíbe tal atividade.

“Isso signifi ca abrir caminho para a busca de soluções a doenças crônico-degenerativas responsáveis por dois terços do gasto global em saúde, caso se logrem soluções satisfatórias”, diz José Krieger, diretor do laboratório de cardiologia

genética e molecular depen-dente da Universidade de São Paulo (USP). Suas pesquisas comprovaram que um embrião pode gerar células cardíacas. Agora, o desafi o está em “como programá-las”, diz. No centro de genômica da USP, já se experimentou em animais a re-cuperação de músculos a partir de células-tronco encontradas na gordura, que não apenas serve para atender a distrofi a muscular humana como tam-bém para utilizar um recurso que até agora era descartado: a gordura das lipoaspirações.

Na Argentina, as aplicações no miocárdio realizadas no hospital público de Avella-neda são contemporâneas à experiência mexicana, com especial interesse nos afetados pelo Mal de Chagas, pandemia regional que afeta 6,5 milhões de pessoas no Cone Sul, e na Argentina absorve US$ 221 milhões ao ano. Ao mesmo tempo, experimentou-se com a implantação de células-tronco no pâncreas, conseguindo me-lhorias na produção de insulina entre 50% e 80%, dependendo da variedade da doença.

A lista não é exaustiva e o fenômeno, na verdade, vai além dos possíveis desenvolvimentos nos laboratórios e centros de pesquisa. Como tecnologia emergente, as células-tronco requerem uma nova cadeia de valor e serviços. Os primeiros da lista são os bancos de cor-dão umbilical que surgiram em todos os países da região para armazenar o material em sistemas refrigerados para uma potencial aplicação quando o recém-nascido o demande e a tecnologia esteja disponível. As tarifas normalmente são de um valor inicial que varia de US$ 500 a US$ 1 mil, além de mensalidades de cerca de 10% desse valor. Um negócio

crio-imobiliário mas que sobre o qual nem todos estão de acordo. “A possibilidade de que uma pessoa aproveite seu próprio cordão é uma em 100 mil”, diz o mexicano Saúl Cano, pesquisador do laboratório de cultivo, transplante celular e medicina genômica do Centro Médico Nacional 20 Noviem-bre, da Cidade do México.

Nesse sentido, os sistemas de saúde já estão realizando consideráveis investimentos em infraestrutura de bancos, que operam em redes interna-cionais como as que existem para doação de órgãos.

Os especialistas concordam em lançar alertas frente ao surgimento de ofertas tera-pêuticas milagrosas, quando a maioria dos tratamentos ainda estão em fase experimental. As principais suspeitas são as famosas clínicas de turismo de saúde e os serviços de celuloterapia off shore. O tema ganhou força quando a revista Nature denunciou ofertas como a da Medra, clínica dirigida pelo doutor William Rader da Califórnia e com instalações em Santo Domingo, por operar no exte-rior para eludir as regulações norteamericanas. A empresa oferece cura a um cardápio de doenças crônicas com base em células fetais frutos de abortos realizados no Leste Europeu.

Mas, além de casos parti-culares, a pergunta é: quem dominará os gastos de saúde?

A nova tecnologia reduzirá os gastos em medicamentos e serviços apresentando a cura às doenças que mais os demandam? “Os protagonistas serão as ofertas terapêuticas, aquelas clínicas e serviços que tenham protocolos (métodos sistematizados segundo parâ-metros reconhecidos)”, aposta Saúl Cano. “O desafi o que

temos é passar da pesquisa à oferta de mercado.”

Alguns aspectos reforçam tal posição. Se as terapias ten-dem a ser personalizadas e com base em doações autólogas, ou seja, do próprio paciente, torna-se difícil imaginar uma economia de produtos. Por isso, chama a atenção que os laboratórios farmacêuti-cos, grandes investidores em pesquisa e desenvolvimento, mantenham a cautela quando o assunto são células-tronco, tal como aponta Ruth Mcker-nan, encarregada de medicina regenerativa do Laboratório Pfi zer, um dos que seriam mais afetados. Hoje Ruth garante estudar como essas células funcionam para identifi car seu estímulo e controle.

Para outros, ainda não está defi nido se a tecnologia levará à oferta de produtos e serviços. Mas, o que gera menos dúvidas, se tal tecnologia cumprir suas expectativas, é que os que vão necessitar de terapia intensiva são os siste-mas de previdência, que verão muita gente aumentando sua expectativa de vida.

Cientista quer garantir maior

oferta com menor custo.

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[.com]Economize em tempos de criseTip Jar é um site criado pelo Google no qual se pode agregar e consultar conselhos sobre como economizar dinheiro, principalmente nesta época de retração econômica. O objetivo é oferecer aos usuários a oportunidade de encontrar informação útil em um site focado em como melhorar a gestão fi nanceira.

http://moderator.appspot.com/#16/e=3cfc

[gadget]O regresso de Scarlet

A companhia coreana LG lançou um novo modelo dentro de sua série de TVs Scarlet. Trata-se do LCD LH70, que se destaca pela incorporação de Bluetooth, raio de contraste dinâmico de 100.000:1

e um tempo de resposta de apenas 2 milissegundos. Inclui um sensor de luz ambiental e botão tátil para ligar o aparelho. O modelo de 42” custa US$ 1.750.

www.lge.com

[gadget]O iPod que falaA Apple introduziu um novo iPod Shuffl e, seu menor reprodutor de música digital. E, ainda que não acredite, ele fala. A ferramenta VoiceO-ver permite que o dispositivo diga os títulos de suas canções, artistas e nomes de listas de reprodução. Tem capacidade de 4GB e custa US$ 79.

www.apple.com

[gadget]Peso ligeiro

A Dell conseguiu tirar o título do MacBook Air, portátil mais fi no do mercado. Seu modelo Adamo é feito em uma

só peça de alumínio, o que o torna muito leve (pesa 1,8 kg) e resistente. Tem 1,65 cm de altura, tela de 13,4’’, câmara

de 1,3 megapixels; 3 portas USB e bluetooth. Sua bate-ria tem autonomia de 5 horas. Custa US$ 1.999.

www.dell.com

eprodutor derramenta VoiceO-anções, artistas e e custa US$ 79.

62 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

CLICS & CHIPS

Page 63: Nº 374 Edição Brasil

ABRIL, 2009 / AMÉRICAECONOMIA 63

INTERFACESA LOUCA VIDA COTIDIANA COM AS MÁQUINAS INTELIGENTES.

ADOLFO WATERHOUSE

SOLE

DAD

TIRA

PEG

UI

Ébastante mais humilde que a Lei de Moore: apenas 8% de aumento

anual. Só que neste caso não se trata de capacidade de processamento, mas de armazenamento de energia sobre a mesma unidade de volume/peso. Sim, falamos de baterias elétricas.

Para Forrest North, criador da Mission Motor Co., uma start up de San Francisco, EUA, essa taxa de melhoria é o Santo Graal: está a ponto de tornar possível a explosão massiva de um novo tipo de veículo: as motos elétricas de alta performance.

Durante muitos anos, as motos elétricas foram como a lua: algo que provoca ternura e simpatia, mas que não tenta as pessoas a fazer algo mais que observá-la. Isso está por mudar.

De fato, também nos Estados Unidos, a Vectrix e a Zero Mo-torcycles fabricam e vendem motos elétricas desde 2007. O ponto é que são muito caras para massificar-se. Nos próximos meses, a Vectrix dará um giro: oferecerá seu novo modelo (a scooter VX-2), por US$ 5.195. Bem abaixo dos US$ 11 mil que seu primeiro modelo custava. Mas para os fanáticos da velocidade, pode resultar decepcionante: sua velocidade máxima será de 55 km/h, com autonomia de 200 km.

Mesmo que a moto da Mission só comece a ser fabricada massivamente no ano que vem, e que vá custar US$ 68 mil, será estimulante vê-la em junho competindo no primeiro Grand Prix para Motos Livres de Emissões Poluentes, que se realizará na mitológica ilha de Man, localizada entre Inglaterra e Irlanda. Dentre as 50 equipes inscritas, até o momento o favorito para levar o troféu é o criador da TTX01. Construída por engenheiros sobre um chassi de Suzuki, trata-se de uma moto de nada menos que 86 cavalos de força, equivalentes a uma máquina convencional de 600

cc. O motor elétrico de marca Agni é alimentado por duas baterias. Esse conjunto de características lhe per-mite acelerar de 0 a 100 km/h em apenas 3,5 segundos. Não deixa de ser impressionante.

A TTX01 começará a ser produzida no final deste ano. Azar Hussain, um dos envolvidos no projeto, antecipou que a carroceria será fabricada em fibra de carbono, o que nos leva a um dado interessante. Os motores a explosão, nas motos, demandam uma armadura muito forte dada à violên-cia da operação dos pistões, e nos motores elétricos isso não acontece. Tampouco é necessário um sistema de injeção de combustível, bombeio de óleo ou radiadores. Hussain afirma que tais ausências permitirão mudar o design das próprias motos com o uso de materiais mais leves.

Entre outras novidades, a moto inglesa possuirá freios regenerativos, nos quais um sistema de dínamo armazenará parte da energia que habitualmente se dissipa com as freadas.

Apesar de tão bons augúrios, como saber se não se trata de uma nova partida falsa nos sonhos de um mundo de veículos elétricos? Para aqueles que apostam que não será assim, a melhoria na capacidade das baterias é a linha que divide o possível do impossível. Caso seja ultrapassada, as motos elétricas contarão com uma vantagem notável frente a motos de hidrogênio ou biocombustível, porque sua rede de abastecimento já existe e é universal: qualquer tomada.

Mas as motos elétricas de alta velocidade possuem um problema que seria nada mais que ridículo se não apresentasse implicâncias letais: quase não emitem ruído. Por isso, o debate se concentra em dotá-las de um sistema artificial de ruído ou esperar que as pessoas sejam mais cuidadosas na hora de atravessar a rua.

VELOZES E SILENCIOSAS

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64 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

NEGÓCIO FECHADO

>> ANDES ENERGYMais de 400MW de energia renovável é a capacidade de geração da joint venture da Andes Energy com a Mainstream Renewable Power, empresa irlandesa que investirá mais de US$ 1 bilhão na instalação de vários projetos de energia eólica. A nova plataforma de geração é o maior investimento de capitais irlandeses da história do Chile. O primeiro desses parques estará em Laguna Verde, na V Região, e vai gerar 36MW.

>> ECOPETROLA estatal colombiana negociou a compra da participação da canadense Enbridge Inc. na Oleoducto Central S.A., Ocensa, por US$ 417,8 milhões. Com esta operação, a Ecopetrol aumenta sua participação de 35,3% para 60%, fortalecendo sua posição no mais importante sistema de transporte petrolífero do país, com capacidade de transporte de 650 barris de petróleo por dia.

>> EMBRATELA operadora de telefonia Empresa Brasileira de Telecomunicações S.A.

recebeu US$ 200 milhões do Nordic Investment Bank para fi nanciar sua infraestrutura de banda larga. Controlada pela Telmex, a Embratel anunciou em dezembro o lançamento comercial de serviços WiMAX em 12 cidades brasileiras, depois de um investimento de US$ 600 milhões.

>> FARMATODOCom a compra de 12 unidades da rede Farmacity, a venezuelana Farmatodo entra no mercado colombiano. A rede planeja uma expansão que a leve a somar 50 pontos-de-venda na Colômbia, com um investimento de US$ 100 milhões. A Farma-todo opera 132 lojas na Venezuela e emprega 6 mil pessoas.

>> FISCHER AMERICA-FALA!As agências de publicidade Fala! e Fischer America anunciaram seu processo de fusão como parte da reestruturação do grupo Totalcom. A queda na rentabilidade das agências, que se viram golpeadas pela crise, motivou a holding a buscar um novo modelo para seu negócio. A fusão

de Fischer America e Fala! cria uma empresa com lucro de cerca de US$ 500 milhões, que a posiciona entre as top 10 do Brasil.

>> ICAA construtora mexicana Empresas ICA anunciou que conseguiu ganhar uma licitação do Governo Federal para construir e operar um bypass rodoviá-rio de 21 km, bem como para melhorar dois trechos – de 7 km e 39 km – por US$ 132 milhões. As obras levarão 22 meses para ser concluídas e contarão com fi nanciamento do Banco Santander.

>> PDVSAA estatal venezuelana aumentou sua participação na propriedade da companhia argentina Petrolera del

Conosur, que opera 150 postos de gasolina sob a marca Sol Petróleo. A PDVSA, que já controla 46% das ações da Conosur, também anunciou que pensa em adquirir os 36% de participação no negócio atualmente controlados pela uruguaia Ancsol.

>> REPSOL YPFA Repsol YPF Ecuador comprou os ativos petrolíferos da norteame-ricana Murphy Oil Corporation no Equador. A negociação foi fechada em US$ 87 milhões, além do compromisso da Repsol de se encarregar de impostos e outras dí-vidas. Os ativos comprados incluem reservas estimadas em 4,8 milhões de barris de petróleo.

>> SANTELISA VALEO segundo maior produtor sucroalcooleiro do Brasil negociou sua fusão com a operação do grupo francês Louis Dreyfus no País. O valor fi nal da transação dependerá de como a Santelisa concluirá a negociação de suas dívidas, de cerca de R$ 3 bilhões. Ela foi uma das vítimas de apostas em derivativos cambiais.

>> VALEA mineradora brasileira Vale se integrou a uma joint venture com a canadense Teal Exploration & Mining e a sulafricana African Rain-bow Minerals, ARM, para realizar uma exploração de cobre, ouro e cobalto na África. A brasileira pagou US$ 65,8 milhões por uma participação de 50% nas fi liais da Teal. A ARM constituirá uma joint venture em partes iguais com a Vale para explorar ativos na Zâmbia, República Democrática do Congo e Namíbia.

AEROLÍNEAS:INJEÇÃO DE LIQUIDEZ

>> AEROLÍNEAS ARGENTINASA Câmara de Comércio Exterior, do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior brasileiro, autorizou uma operação de fi nanciamento de US$ 700 milhões do BNDES à Aerolíneas Argentinas para a compra de 20 aviões modelo EMB190 da Embraer. O dinheiro será desembolsado ao longo de cinco anos e terá prazo de pagamento de 12 anos.

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RAIO X[EL SALVADOR]

SOLE

DAD

TIRA

PEG

UI

E AÍ, PRESIDENTE?

2003 2004 2005 2006 2007 2008 09p

POPULAÇÃO (MILHÕES) 6,64 6,77 6,89 7,01 7,13 7,25 7,34

PIB (VAR.%) 2,30 1,90 3,10 4,20 4,70 2,13 0,50

PIB (MILH. US$) 15.047 15.798 17.070 18.654 20.373 22.284 22.481

PIB PER CAPITA (US$) 2.266 2.335 2.479 2.661 2.857 3.074 3.063

INFLAÇÃO (%) 2,52 5,37 4,26 4,88 4,86 5,48 3,20

DESEMPREGO (%) 6,92 6,78 7,22 6,57 6,62 7,10 8,25

EXPORT. (MILH.US$) 3.128 3.305 3.418 3.706 3.984 4.549 3.867

IMPORT. (MILH.US$) 5.754 6.329 6.690 7.663 8.712 9.755 8.047

REMESSAS (MILH.US$) 2.105 2.548 3.017 3.471 3.695 3.788 2.650

SALDO COMERCIAL (MILH.US$) -2.626 -3.024 -3.272 -3.957 -4.728 -5.205 -4.181

FONTES: FMI, CEPAL, BANCO CENTRAL DE EL SALVADOR. ESTIMATIVAS E PROJEÇÕES: AMERICAECONOMIA INTELIGENCE

EXPORTAÇÕES E REMESSAS EM QUEDA

Em 1º de junho, Mauricio Funes assumirá a presidência de El Salvador. Ex-jornalista e apresentador de TV, o mem-bro da Frente Farabundo Martí para a Liberação Nacional

(FMLN) é o primeiro político de esquerda a vencer as eleições presidenciais, após mais de 20 anos de governos de direita.

Funes ganhou por apenas 68 mil votos, 52% do total. Por isso, além de enfrentar os problemas atuais da crise econômica, deverá combater o receio do setor empresarial, que olha com prudência os governos de esquerda latinoamericanos à seme-lhança de Hugo Chávez. “Acredita-se em uma incerteza de nível empresarial e o governo vai ter que criar confiança”, diz Miguel Chévez, presidente da Match Consultores em El Salvador.

Os desafios de Funes não são poucos. Por volta de 17% do Produto Interno Bruto do país centroamericano chegam de remessas enviadas dos Estados Unidos por compatriotas. E se nos últimos anos essas remessas cresciam a taxas de 18% a 20%, em 2008 aumentaram apenas 2%. Em janeiro deste ano, caíram 8%, e em fevereiro, 12%.

O país registra uma queda na arrecadação por IVA, produto de uma desaceleração do consumo. Em janeiro, a receita advin-da deste tributo caiu US$ 32,2 milhões, 24,6% menos que no mesmo mês de 2008. O governo contará com menos dinheiro para financiar seus projetos e subsídios à população, como em transporte, gás e energia elétrica.

As exportações também estão caindo. Desde 2002 vinham registrando crescimento constante, mas no fim de 2008, frearam por conta da crise. Dos US$ 4,54 bilhões das exportações, US$ 2,18 bilhões correspondem a vendas aos EUA, em sua maioria

Mauricio Funes toma posse no país centroamericano em meio à descon-fi ança do setor empresarialArly Faundes Berkhoff

do setor têxtil, um mercado que foi fortemente afetado.Contudo, para Chévez, esta pode ser uma boa oportunidade

para que El Salvador potencialize tratados de livre comércio – com o Panamá e o Chile, por exemplo – que não havia explorado por olhar somente para os EUA. Além disso, devem crescer as relações comerciais com o Brasil, país que foi o primeiro a visitar Funes após a eleição, e o qual ele mesmo apontou como “referência de exercício democrático de um governo de es-querda que pode mandar sinais de confiança aos investidores estrangeiros e também aos investidores nacionais”.

Uma mensagem que deveria tranquilizar o setor privado. Segundo o estudo “El Salvador, o tigre centroamericano?”, do The Cato Institute, tanto a dolarização quanto a privatização do sistema financeiro e a abertura comercial fazem de El Salvador um exemplo para a região. De fato, o país se vê fortalecido por não viver aumentos nos preços de produtos importados.

E sua inflação interna não se disparou como em outros países da América Latina. Segundo os Bancos Centrais e Institutos de Estatísticas da América Central, em novembro de 2008 a inflação chegou a 5,3% em El Salvador, enquanto na Nicarágua atingiu 15,4%.

Talvez este mesmo temor de parte do empresariado, de que Funes mude as reformas estabe-lecidas nos últimos 20 anos, seja infundado. Contudo, ele terá que ficar atento em suas declarações até que tome posse, dentro de alguns meses.

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66 AMÉRICAECONOMIA / ABRIL, 2009

LINHA DIRETA

Abandeja paisa (nome que indica tudo que vem da região de Antioquia) é o prato típico de Medellín. Leva carne

moída, arroz, feijão, torresmo, ovo, banana, linguiça, arepas(tipo de pão feito com farinha de milho), hogao (molho com base em tomate e cebola), morcilhas, abacate e chilli. Não conhece? Então junte todos esses elementos que mencionei em um prato, em quantidades generosas, e aí está. Prová-lo é uma obrigação para o turista, e é mais indicado para a hora do almoço, já que para o jantar pode ser um pouco pesado.

Esse foi o conselho que ouvi de três colombianos, jovens sócios de uma empresa de consultoria de serviços empre-sariais e financeiros, que me acompanharam para almoçar. E, como todo colombiano que conheci, se esforçaram de forma sobre-humana para tratar bem ao visitante.

Em um momento, para aque-cer o debate, lhes pergunto sobre o presidente Álvaro Uribe: “E a reeleição...”. Sequer consigo ter-minar a pergunta. A resposta vem em uníssono: “Uribe! Uribe! Que continue!” Quando lhes comento o estranho que parece, do ponto de vista de um estrangeiro, que o presidente se candidate para um terceiro mandato, não me dão muito espaço para o debate. E como uma bandeja de paisa não é o melhor acompanhamento para uma discussão sobre política, resolvo mudar de tema.

Mais tarde, é um taxista que retoma o assunto. “O que pensa de nosso presidente?” “Penso que...” E novamente não consigo terminar a frase. “Tem feito um bom trabalho. Antes, não se podia sair de casa depois das onze da noite. Temos que continuar com ele.”

Medellín está em festa. Abriga a cúpula anual do BID e todos estão conscientes de que poucos anos atrás sugerir o nome da cidade para tal evento seria considerado piada de mau gosto. Mas agora a segurança é extrema. Enquanto pego uma fila de quase uma hora para ver o “rockstar” do momento (não, não é Juanes; é Bill Clinton), pergunto a um jornalista de um diário “paisa”, historicamente vinculado aos liberais (agora na oposição) se é normal a concentração de

tantos policiais e soldados. “É pela conferência.” “Ou seja, nenhuma relação com o Plan Colombia?” Ele me olha com cara de espanto. “Nada. Isso é um plano para comprar armas e fumigar campos. Não é algo que tenha relação com a segu-rança nas cidades.” E afirmou que não se ofendia com minha ignorância, ainda que em sua voz se notava certa surpresa, ou desilusão, por eu não saber que essa é uma conquista que a Colômbia, e Medellín, conseguiram por conta própria. “E se o plano acabar?”, disparo. “Não necessitamos dele. O próprio vice-presidente (Francisco) ‘Pachito’ Santos afirmou que não necessitamos do plano para continuar a guerra contra as drogas. E, rapidamente, Uribe, em seu estilo tão de coronel, o

mandou calar.” É a primeira vez que vejo um sinal de oposição ou crítica ao presidente. Mas logo o mesmo jornalista destaca que Uribe “fez coisas muito boas e que a possibilidade de que surja outro candidato forte é mínima”.

No dia seguinte, em outro evento, Álvaro Uribe é o key-note speaker do almoço. Leva algum tempo para chegar à mesa, pois cumprimenta muitas pessoas individualmente, com um aperto de mão, para terror de sua equipe de segurança. “Como está sua saúde?”, consi-go escutá-lo perguntando a uma mulher. “Já fechou seu próxi-mo fundo de investimento?”, pergunta a um ator do mundo

do private equity. Dita um discurso totalmente de memória, cita dezenas e dezenas de cifras de taxas de crescimento (ou reduções de indicadores negativos) até o segundo decimal. Não se escuta nem uma mosca. Todos o aplaudem de pé no final.

Outro colombiano comenta que Uribe se mantém à mar-gem do debate da necessária reforma constitucional para um terceiro mandato. Alguns indicam que essa agenda parece tomar cada vez mais corpo. E, como as coisas parecem ca-minhar, o mais famoso de todos os “paisas” terá a presidên-cia na bandeja.

Eduardo Thomson

PAISA NA BANDEJA[MEDELLÍN]

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