nº 2 – edição: abr/mai/jun 2013

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Geriatria & Gerontologia Revista Volume 7 Número 2 Abr/Mai/Jun 2013 ISSN 1981-8289 Sociedade Brasileira de Geriatria & Gerontologia Órgão Oficial de Publicação Científica ARTIGOS ORIGINAIS Ensino médico em instituições públicas brasileiras e demanda do idoso Implementação de planos de cuidados para idosos de Belo Horizonte Automedicação em idosos que frequentam um centro de convivência para o idoso Estilo de vida e saúde de um grupo de idosos de Franca, SP Estudo da qualidade de vida de idosos hipertensos cadastrados na USF Boa Ideia Bongi, Recife, Brasil Educação alimentar e nutricional em diabetes na terceira idade A influência da atividade física na memória do idoso A influência da prótese auditiva na qualidade de vida do idoso ARTIGOS DE REVISÃO Vacinação contra influenza para idosos: motivos da não adesão Conciliação medicamentosa em idosos: uma revisão da literatura Revista Geriatria&Gerontologia

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Page 1: Nº 2 – Edição: Abr/Mai/Jun 2013

Av. Major Sylvio de Magalhães Padilha, 5.200 – Ed. Atlanta – Jd. Morumbi – São Paulo – SP – CEP 05693-000

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Geriatria & Gerontologia

Revista

Volume 7Número 2

Abr/Mai/Jun 2013ISSN 1981-8289

Sociedade Brasileira de

Geriatria & Gerontologia

Órgão Oficial de Publicação Científ ica

ARTIGOS ORIGINAIS

Ensino médico em instituições públicas brasileiras e demanda do idoso

Implementação de planos de cuidados para idosos de Belo Horizonte

Automedicação em idosos que frequentam um centro de convivência para o idoso

Estilo de vida e saúde de um grupo de idosos de Franca, SP

Estudo da qualidade de vida de idosos hipertensos cadastrados na USF Boa Ideia Bongi, Recife, Brasil

Educação alimentar e nutricional em diabetes na terceira idade

A influência da atividade física na memória do idoso

A infl uência da prótese auditiva na qualidade de vida do idoso

ARTIGOS DE REVISÃO

Vacinação contra influenza para idosos: motivos da não adesão

Conciliação medicamentosa em idosos: uma revisão da literatura

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EDITORIALAprender e renovar sempre

ARTIGOS ORIGINAISEnsino médico em instituições públicas brasileiras e demanda do idoso | Guilherme Almeida Maia, Silvana de Araújo Silva, Ana Paula Pereira Carlota, Fausto Aloísio Pedrosa Pimenta

Implementação de planos de cuidados para idosos de Belo Horizonte | Dirlene Araujo dos Reis, João Marcos Domingues Dias, Dorotéia Fernandes da Silva, Edgar Nunes de Moraes

Automedicação em idosos que frequentam um centro de convivência para o idoso | Vitor Ângelo Carlúcio Galhardo, Taciane Procópio Assunção

Estilo de vida e saúde de um grupo de idosos de Franca, SP | Betânia de Andrade Monteiro, Magali Monteiro

Estudo da qualidade de vida de idosos hipertensos cadastrados na USF Boa Ideia Bongi, Recife, Brasil | Alamisne Gomes da Silva, André Amílcar Fonseca Pereira Junior, Anne Evely Oliveira Siqueira, Juliana Pina Zózimo, Natália Freire da Silva, Kildery Eduardo Tenório Ferreira, Leila Bastos Leal

Educação alimentar e nutricional em diabetes na terceira idade | Lidiane Costa da Silva, Flávia Monteiro França, Larissa Pessoa Vila Nova, Poliana Coelho Cabral, Maria Goretti Pessoa de Araújo Burgos, Ana Carolina Ribeiro de Amorin

A influência da atividade física na memória do idoso | Ana Paula de Azevedo Albuquerque, Maria Elisa Caputo Ferreira

A influência da prótese auditiva na qualidade de vida do idoso | Nora Helena Galvan Gomes, Newton Luis Terra

ARTIGOS DE REVISÃOVacinação contra influenza para idosos: motivos da não adesão | Adriana Ruginsk Gonçalves, Paula Cristina Nogueira

Conciliação medicamentosa em idosos: uma revisão da literatura | Patrícia Lauana Campos, Adriano Max Moreira Reis, Maria Auxiliadora Parreiras Martins

INSTRUÇÕES AOS AUTORES

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ISSN 1081-8289

Volume 7Número 2

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Page 4: Nº 2 – Edição: Abr/Mai/Jun 2013

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Page 6: Nº 2 – Edição: Abr/Mai/Jun 2013

VASTIGMA® (Hemitartarato de rivastigmina). INDICAÇÕES: USO ADULTO, USO ORAL: tratamento de pacientes com demência leve a moderadamente grave tipo Alzheimer, também conhecida como doença de Alzheimer provável ou doença de Alzheimer. Tratamento de pacientes com demência leve a moderadamente grave associada à doença de Parkinson. CONTRAINDICAÇÕES: o uso em pacientes com conhecida hipersensibilidade à rivastigmina, a outros derivados do carbamato ou a qualquer componente da fórmula, também é contraindicado em pacientes com insuficiência hepática grave por não ter sido estudado nesta população. PRECAUÇÕES E ADVERTÊNCIAS: assim como outros colinomiméticos, deve-se ter cuidado ao utilizar VASTIGMA® em pacientes com doença do nó sinusal ou defeitos na condução (bloqueio sinoatrial, bloqueio atrioventricular). A estimulação colinérgica pode causar aumento da secreção ácido-gástrica e pode também exacerbar obstruções urinárias e precipitar convulsões. Recomenda-se precaução ao tratar pacientes predispostos e essas patologias. Como com outros colinomiméticos, deve ser utilizado com precaução em pacientes que já tiveram crises asmáticas ou alguma doença de obstrução pulmonar. O tratamento deve sempre ser iniciado com a dose de 1,5mg, duas vezes ao dia, e ser ajustado à dose de manutenção do paciente. Se o tratamento for interrompido por vários dias, deverá ser reiniciado com a menor dose diária a fim de se minimizar a possibilidade de reações adversas (por exemplo, vômitos graves). Titulação da dose: como com outros colinomiméticos, efeitos adversos foram observados logo após o aumento da dose e esses podem responder a uma redução da dose. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: é metabolizada principalmente pela hidrólise por esterases. Não foram observadas interações farmacocinéticas com digoxina, varfarina, diazepam ou fluoxetina em estudos com voluntários sadios. Não foram observados efeitos desfavoráveis na condução cardíaca após a administração concomitante de digoxina. A administração com medicamentos prescritos comumente, tais como antiácidos, antieméticos, antidiabéticos, anti-hipertensivos de ação central, betabloqueadores, bloqueadores de canal de cálcio, drogas inotrópicas, antianginosos, anti-inflamatórios não esteroídais, estrógenos, analgésicos, benzodiazepínicos e anti-histamínicos, não foi associada às alterações na cinética de VASTIGMA® nem ao aumento do risco de efeitos desfavoráveis clinicamente relevantes. Tendo em vista seus efeitos farmacodinâmicos, a rivastigmina não deve ser administrada concomitantemente com outras drogas colinomiméticas e pode interferir na atividade de medicações anticolinérgicas. Como um inibidor da colinesterase, a rivastigmina pode potencializar os efeitos de relaxantes musculares do tipo succinilcolina durante a anestesia. REAÇÕES ADVERSAS: as reações adversas relatadas mais comumente são gastrintestinais incluindo náuseas (38%) e vômitos (23%), especialmente durante a titulação. As pacientes dos estudos clínicos foram mais susceptíveis às reações adversas gastrintestinais e perda de peso. As seguintes reações adversas mais comuns: náusea, vômito, diarreia, perda de apetite, dor abdominal e dispepsia, agitação, confusão, cefaleia, sonolência, tremor, fadiga e astenia e indisposição. Registros MS nº 1.3569.0644 / 1.3569.0644.005-1 / 1.3569.0644.013-0 / 1.3569.0644.021-1 / 1.3569.0644.029-7. Detentora: EMS SIGMA PHARMA LTDA. Fabricado por: EMS S/A – Hortolândia/SP. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. ESTE MEDICAMENTO SÓ PODE SER VENDIDO COM RETENÇÃO DA RECEITA.Referências bibliográficas: 1) Birks J, Grimley Evans J, Iakovidou V, Tsolaki M, Holt FE. Rivastigmine for Alzheimer’s disease.Cochrane Database Syst Rev. 2009 Apr 15;(2). 2) Aguglia E, Onor ML, Saina M, Maso E. An open-label, comparative study of rivastigmine, donepezil and galantamine in a real-world setting. Curr Med Res Opin. 2004 Nov;20(11):1747-52. 3) Laudo de Bioequivalência VASTIGMA®. 4) ABCFarma de maio/2013.

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Page 7: Nº 2 – Edição: Abr/Mai/Jun 2013

VASTIGMA® (Hemitartarato de rivastigmina). INDICAÇÕES: USO ADULTO, USO ORAL: tratamento de pacientes com demência leve a moderadamente grave tipo Alzheimer, também conhecida como doença de Alzheimer provável ou doença de Alzheimer. Tratamento de pacientes com demência leve a moderadamente grave associada à doença de Parkinson. CONTRAINDICAÇÕES: o uso em pacientes com conhecida hipersensibilidade à rivastigmina, a outros derivados do carbamato ou a qualquer componente da fórmula, também é contraindicado em pacientes com insuficiência hepática grave por não ter sido estudado nesta população. PRECAUÇÕES E ADVERTÊNCIAS: assim como outros colinomiméticos, deve-se ter cuidado ao utilizar VASTIGMA® em pacientes com doença do nó sinusal ou defeitos na condução (bloqueio sinoatrial, bloqueio atrioventricular). A estimulação colinérgica pode causar aumento da secreção ácido-gástrica e pode também exacerbar obstruções urinárias e precipitar convulsões. Recomenda-se precaução ao tratar pacientes predispostos e essas patologias. Como com outros colinomiméticos, deve ser utilizado com precaução em pacientes que já tiveram crises asmáticas ou alguma doença de obstrução pulmonar. O tratamento deve sempre ser iniciado com a dose de 1,5mg, duas vezes ao dia, e ser ajustado à dose de manutenção do paciente. Se o tratamento for interrompido por vários dias, deverá ser reiniciado com a menor dose diária a fim de se minimizar a possibilidade de reações adversas (por exemplo, vômitos graves). Titulação da dose: como com outros colinomiméticos, efeitos adversos foram observados logo após o aumento da dose e esses podem responder a uma redução da dose. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: é metabolizada principalmente pela hidrólise por esterases. Não foram observadas interações farmacocinéticas com digoxina, varfarina, diazepam ou fluoxetina em estudos com voluntários sadios. Não foram observados efeitos desfavoráveis na condução cardíaca após a administração concomitante de digoxina. A administração com medicamentos prescritos comumente, tais como antiácidos, antieméticos, antidiabéticos, anti-hipertensivos de ação central, betabloqueadores, bloqueadores de canal de cálcio, drogas inotrópicas, antianginosos, anti-inflamatórios não esteroídais, estrógenos, analgésicos, benzodiazepínicos e anti-histamínicos, não foi associada às alterações na cinética de VASTIGMA® nem ao aumento do risco de efeitos desfavoráveis clinicamente relevantes. Tendo em vista seus efeitos farmacodinâmicos, a rivastigmina não deve ser administrada concomitantemente com outras drogas colinomiméticas e pode interferir na atividade de medicações anticolinérgicas. Como um inibidor da colinesterase, a rivastigmina pode potencializar os efeitos de relaxantes musculares do tipo succinilcolina durante a anestesia. REAÇÕES ADVERSAS: as reações adversas relatadas mais comumente são gastrintestinais incluindo náuseas (38%) e vômitos (23%), especialmente durante a titulação. As pacientes dos estudos clínicos foram mais susceptíveis às reações adversas gastrintestinais e perda de peso. As seguintes reações adversas mais comuns: náusea, vômito, diarreia, perda de apetite, dor abdominal e dispepsia, agitação, confusão, cefaleia, sonolência, tremor, fadiga e astenia e indisposição. Registros MS nº 1.3569.0644 / 1.3569.0644.005-1 / 1.3569.0644.013-0 / 1.3569.0644.021-1 / 1.3569.0644.029-7. Detentora: EMS SIGMA PHARMA LTDA. Fabricado por: EMS S/A – Hortolândia/SP. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. ESTE MEDICAMENTO SÓ PODE SER VENDIDO COM RETENÇÃO DA RECEITA.Referências bibliográficas: 1) Birks J, Grimley Evans J, Iakovidou V, Tsolaki M, Holt FE. Rivastigmine for Alzheimer’s disease.Cochrane Database Syst Rev. 2009 Apr 15;(2). 2) Aguglia E, Onor ML, Saina M, Maso E. An open-label, comparative study of rivastigmine, donepezil and galantamine in a real-world setting. Curr Med Res Opin. 2004 Nov;20(11):1747-52. 3) Laudo de Bioequivalência VASTIGMA®. 4) ABCFarma de maio/2013.

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Revista GeRiatRia & GeRontoloGia

Editora-chefeMaysa Seabra Cendoroglo – São Paulo, Brasil (Unifesp)

CONSELHO EDITORIAL NACIONAL

Editores AssociadosJoão Macêdo Coelho Filho – Fortaleza, Brasil (UFC)Júlio César Moriguti – Ribeirão Preto, Brasil (USP-RP)Milton Luiz Gorzoni – São Paulo, Brasil (FCMSC-SP)Rosângela Correa Dias – Belo Horizonte, Brasil (UFMG)Wilson Jacob Filho – São Paulo, Brasil (USP)

Editores ExecutivosJoão Senger – Novo Hamburgo, BrasilKarla Cristina Giacomin - Belo Horizonte, BrasilMaria do Carmo Lencastre Lins – Recife, BrasilMônica Rodrigues Perracini – São Paulo, Brasil

Adriano César B. S. Gordilho – SalvadorAna Amélia Camarano – Rio de JaneiroÂngelo Boss – Porto AlegreAnnette Leibing – Rio de JaneiroAnita Libetalesso Néri – CampinasCláudia Burlá – Rio de JaneiroClineu de Mello Almada Filho – São PauloEdgar Nunes de Moraes – Belo Horizonte Eduardo Ferriolli – Ribeirão PretoEliane Jost Blessmann – Porto AlegreElisa Franco de Assis Costa – GoiâniaElizabete Viana de Freitas – Rio de JaneiroEmilio H. Moriguchi – Porto AlegreEmilio Jeckel Neto – Porto AlegreFlávio Chaimowicz – Belo HorizonteGuita Grib Debert – CampinasIvete Berkenbrock – CuritibaJoão Carlos Barbosa Machado – Belo HorizonteJoão Marcos Domingues Dias – Belo HorizonteJoão Toniolo Neto – São PauloJohannes Doll – Porto AlegreJosé Elias S. Pinheiro – Rio de JaneiroKátia Magdala L. Barreto – RecifeLaura Mello Machado – Rio de JaneiroLeani Souza Máximo Pereira – Belo HorizonteLigia Py – Rio de Janeiro

Luiz Eugênio Garcez Leme – São PauloLuiz Roberto Ramos – São PauloMaira Tonidandel Barbosa – Belo HorizonteMarcella Guimarães A. Tirado – Belo HorizonteMarcos Aparecido Sarria Cabrera – LondrinaMaria Fernanda Lima-Costa – Belo HorizonteMaurício Gomes Pereira – BrasíliaMaurício Wajngarten – São PauloMyrian Spínola Najas – São PauloMônica Rodrigues Perracini – São PauloNewton Luiz Terra – Porto AlegrePaulo Hekman – Porto AlegreRenato Maia Guimarães – BrasíliaRenato Moraes Fabbri – São PauloRicardo Komatsu – MaríliaRoberto Dischinger Miranda – São PauloRômulo Luiz de Castro Meira – SalvadorSérgio Márcio Pacheco Paschoal – São PauloSilvia Maria Azevedo dos Santos – FlorianópolisSônia Lima Medeiros – São PauloTereza Loffredo Bilton – São PauloToshio Chiba – São PauloTulia Fernanda Meira Garcia – FortalezaUlisses Gabriel Vasconcelos Cunha – Belo HorizonteVânia Beatriz M. Herédia – Porto Alegre

CONSELHO EDITORIAL INTERNACIONAL

Andrea Caprara – Roma, ItáliaAntony Bayer – Cardiff, Reino UnidoDavid V. Espino – San Antonio, EUAJay Luxenberg – San Francisco, EUAJeanne Wei – Little Rock, EUA

Masatoshi Takeda – Osaka, JapãoPaulo Henrique M. Chaves – Baltimore, EUARoberto Kaplan – Buenos Aires, ArgentinaSergio Ariño Blasco – Barcelona, Espanha

Indexada na LATINDEX (Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal).

Direção executiva e comercial: Silvio Araujo | André Araujo

Coordenação editorial: Natalie Gerhardt

Contatos: [email protected] | www.acfarmaceutica.com.br

São Paulo – (11) 5641-1870 | Rio de Janeiro – (21) 3543-0770

Esta é uma publicação

É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na internet e outros), sem permissão expressa da editora.Todo o desenvolvimento, fotos e imagens utilizadas nesta publicação são de responsabilidade dos seus autores, não refletindo necessariamente a posição da editora nem do laboratório, que apenas patrocina sua distribuição à classe médica.Esta publicação contém publicidade de medicamentos sujeitos a prescrição, sendo destinada exclusivamente a profissionais habilitados a prescrever, nos termos da Resolução RDC Anvisa nº 96/08.

2013 © AC Farmacêutica® LTDA. Todos os direitos reservados.

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Referências bibliográficas: 1. Price R, Daly F, Pennington CR, McMurdo ME. Nutritional supplementation of very old people at hospital discharge increases muscle strength: A randomised controlled trial. Gerontology. 2005;51:179-185. 2. Fabian E, Bogner M, Kickinger A, Wagner KH, Elmadfa I. Vitamin status in elderly people in relation to the use of nutritional supplements. J Nutr Health Aging. 2012;16(3):206-12. 3. Morley JE. Sarcopenia in the elderly. Fam Pract. 2012;29 Suppl 1:i44-i48.

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Base Editorial

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e-mails: [email protected] / [email protected]

eDitoRial

APReNDeR e ReNoVAR semPRe

Devemos considerar que o aumento da expectativa de vida é acompanhado pelo aumento da prevalência de doenças crônicas, do risco de incapacidade funcional, da dependência e da perda de qualidade de vida. Há uma necessidade crescente de cuidados paliativos para os idosos frágeis, assim como de adequada prescri-ção de atividade física, nutrição e sociabilização para os idosos ativos. No entanto, para essa prática, não há uma formação médica consistente que considere as di-retrizes curriculares geriátricas internacionais. Há des-conhecimento dos programas do SUS e das políticas de saúde para o idoso, e, portanto, o risco de iatrogenias aumenta, especialmente para aqueles com mais de 80 anos. No modelo atual de assistência observamos di-fi culdade no reconhecimento do processo de envelhe-cimento dissociado da doença, dos eventos adversos, das interações medicamentosas, da instabilidade e das quedas, das alterações cognitivas e afetivas e das iatro-genias, entre outros. O processo de envelhecimento modifi ca a apresentação das doenças. Além disso, a interação entre as doenças e a polifarmácia também interfere nos sinais e sintomas. No paciente idoso, fre-quentemente não há possibilidade de fazer a avaliação baseada em uma queixa ou relacionar todas as queixas a uma única doença.

O profi ssional de saúde deve ser treinado para conside-rar, na sua prática, tanto as contribuições do cuidador e da família do idoso quanto aquelas provenientes da avaliação de outros especialistas ou de profi ssionais não médicos. Muitas vezes, essas interações interferem nas tomadas de decisão e exigem uma competência dife-renciada que deve ser obtida na sua formação.

Maysa Seabra CendorogloEditora-chefe

Book Revista G&G#2.indb 91 10/1/13 11:48 AM

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DiRetoRia nacional Da sBGGPresidente Nezilour Lobato Rodrigues (PA)1o Vice-PresidentePaulo Renato Canineu (SP)Pres. Depto. GerontologiaMariana Asmar Alencar (MG)Secretária GeralAna Lúcia de Sousa Vilela (RJ)Secretária AdjuntaLeila Auxiliadora José Sant’Ana (MT)TesoureiroDaniel Kitner (PE)Diretora CientíficaMaria Alice Vilhena de Toledo (DF)Diretora de Defesa ProfissionalSilvia Regina Mendes Pereira (RJ)Conselho ConsultivoMaria Angélica dos Santos Sanches (RJ)Marcos Aparecido Sarria Cabrera (PR)Paulo Roberto Cardoso Consoni (RS)Conselho Consultivo PlenoAdriano Cesar Gordilho (BA)Antonio Jordão Neto (SP)Eliane Jost Blessmann (RS)Elisa Franco de Assis Costa (GO)Elizabete Viana de Freitas (RJ)Flavio Aluizio Xavier Cançado (MG)João Carlos Barbosa Machado (MG)Jussara Rauth (RS)Laura Melo Machado (RJ)Margarida Santos (PE)Maria Auxiliadora Cursino Ferrari (SP)Marianela Flores de Hekman (RS)Myrian Spínola Najas (SP)Paulo Cesar Affonso Ferreira (RJ)Renato Maia Guimarães (DF)Silvia Regina Mendes Pereira (RJ)Sonia Maria Rocha (RJ)Tereza Bilton (SP)Zally Pinto Vasconcelos Queiroz (SP)Representantes no Conselho da Associação Internacional de Geriatria e Gerontologia (IAGG)Nezilour Lobato Rodrigues (PA)Mariana Asmar Alencar (MG)Marianela Flores de Hekman (RS)Comissão de NormasPresidente: Marianela Flores de Hekman (RS)Adriano Cesar Gordilho (BA)Eliane Jost Blessmann (RS)Elisa Franco de Assis Costa (GO)Elizabete Viana de Freitas (RJ)Jussara Rauth (RS)Silvia Regina Mendes Pereira (RJ)

Comissão de Ética e Defesa ProfissionalPresidente: Silvia Regina Mendes Pereira (RJ)Adriano Cesar Gordilho (BA)Carlos Roberto Takayassu (MT)Cristiane Ribeiro Maués (PA)Emylucy de Paiva Paradela (RJ)Gelson Rubem A. Almeida (MG)Janaína Alvarenga Rocha (ES)João Senger (RS)Jussimar Mendes de Aquino (MS)Katíuscia Karine Martins da Silva (AL)Marcelo Azevedo Cabral (PE)Marcelo de Faveri (DF)Mariste Mendes Rocha (PB)Rangel Osellame (SC)Rodolfo Augusto Alves Pedrão (PR)Rosina Ribeiro Gabriele (CE)Tassio José D. Carvalho Silva (SP)Yara Maria Cavalcante de Portela (MA)Comissão de ComunicaçãoPresidente: Salo Buksman (RJ)Fabio Falcão de Carvalho (BA)Ivete Berkenbrock (PR)Leila Auxiliadora José Sant’Ana (MT)Leani de Souza M. Pereira (MG)Marcela Guimarães Assis (MG)Renato Moraes A. Fabbri (SP) Comissão de Cuidados Paliativos Presidente: Daniel Lima Azevedo (RJ)Isadora Crosara Alves Teixeira (GO)Claudia Burlá (RJ)Johannes Doll (RS)José Francisco Pinto de Almeida Oliveira (RJ)Josecy Maria S. Peixoto (BA)Laiane Moraes Dias (PA)Ligia Py (RJ)Lucia H.Takase Gonçalves (SC)Maristela Jeci dos Santos (SC)Toshio Chiba (SP)Comissão de Título de GeriatriaPresidente: Elisa Franco de Assis Costa (GO)Adriano Cesar Gordilho (BA)Karlo Edson Carneiro Santana Moreira (PA)Livia Terezinha DEVENS (ES)Maira Tonidandel Barbosa (MG)Maria do Carmo Lencastre de M.E C. D.Lins (PE) Paulo José Fortes Villas Boas (SP)Rodolfo Augusto Alves Pedrão (PR)Veronica Hagemeyer Santos (RJ)Comissão de Título de GerontologiaPresidente: Cláudia Fló (SP)Jordelina Schier (SC)Marisa Accioly R. da C. Domingues (SP)

Tulia Fernanda Meira Garcia (CE)Viviane Lemos Silva Fernandes (GO)Comissão de Formação Profissional e Cadastro Geriatria Veronica Hagemeyer Santos (RJ)Gerontologia Maria Celi Lyrio Crispim (RJ)Comissão de InformáticaCoordenador: Rodrigo Martins Ribeiro (RJ)Representante Institucional COMLAT-Diretora da Área de Educação Marianela Flores de Hekman (RS)CNA Elizabete Viana de Freitas (RJ)CNDI Jussara Rauth (RS)Comissão Científica de GeriatriaPresidente: Maria Alice Vilhena de Toledo (DF)Ana Beatriz Galhardi Di Tommaso (SP)Ana Lúcia de Sousa Vilela (RJ)Daniel Apolinário (SP)Edgar Nunes de Moraes (MG)Einstein Francisco de Camargos (DF)Jacira do Nascimento Serra (MA)Juliana Junqueira M. Teixeira (GO)Jussimar Mendes de Aquino (MS)Luiz Antonio Gil Junior (SP)Maisa Carla Kairalla (SP)Marco Polo Dias Freitas (DF)Marcos Aparecido Sarria Cabrera (PR)Maria Fernanda Coelho Moreira Costa (PA)Monica Hupsel Frank (BA)Rubens de Fraga Junior (PR)Comissão Científica de GerontologiaPresidente: Leila Auxiliadora José Sant’Ana (MT)Ana Elizabeth dos Santos Lins (AL)Leonor Campos Mauad (SP) Ligia Py (RJ)Márcia Carrera Campos Leal (PE)Maria Angélica dos S.Sanchez (RJ)Maria Izabel Penha de o. Santos (PA)Otávio de Toledo Nobrega (DF)Rosângela Corrêa Dias (MG)Vania Beatriz M. Herédia (RS)Comissão de Avaliação de Divulgação de Assuntos e Eventos CientíficosLeila Auxiliadora José Sant’Ana (MT)Ligia Py (RJ)Maria Alice Vilhena de Toledo (DF)Marianela Flores de Hekman (RS)Comissão de Políticas Públicas Marilia Anselmo V. da S. Berzins (SP)Comissão de PublicaçõesEditora-Chefe: Maysa Seabra Cendoroglo (SP)

ALAGOAS Presidente: Helen Arruda Guimarães2o Vice-Presidente: Ana Elizabeth LinsDiretor Científico: Oswaldo da Silva Liberal

BAHIA Presidente: Rômulo Meira2o Vice-Presidente: Fábio FalcãoDiretor Científico: Lucas Kuhn Prado

CEARÁ Presidente: João Bastos Freire Neto2a Vice-Presidente: Lucila Bonfim Lopes PintoDiretor Científico: Jarbas de Sá Roriz Filho

DISTRITO FEDERAL Presidente: Marco Polo Dias Freitas2o Vice-Presidente: Vicente de Paula FaleirosDiretor Científico: Leonardo Pitta

ESPÍRITO SANTO Presidente: Roni Chaim Mukamal2o Vice-Presidente: Neidil Espinola da CostaDiretora Científica: Daniela Souza Gonçalves Barbieri

GOIÁS Presidente: Isadora Crosara Alves Teixeira2a Vice-Presidente: Viviane Lemos Silva FernandesDiretora Científica: Ricardo Borges da Silva

MARANHÃOPresidente: Jacira do Nascimento Serra2o Vice-Presidente: Adriano Filipe Barreto GrangeiroDiretores Científicos: Herberth Vera Cruz Furtado Marques Júnior e Margareth de Pereira de Paula

MATO GROSSO DO SUL Presidente: José Roberto PelegrinoDiretora Científica: Marta Dreimeier

MATO GROSSO Presidente: Roberto Gomes de Azevedo2a Vice-Presidente: Roseane MunizDiretora Científica: Janine Nazareth Arruda

MINAS GERAIS Presidente: Rodrigo Ribeiro dos Santos2a Vice-Presidente: Marcella Guimarães AssisDiretora Científica: Maria Aparecida Camargos Bicalho

PARÁ Presidente: Karlo Edson Carneiro Santana Moreira2a Vice-Presidente: Maria Izabel Penha de O. SantosDiretor Científico: João Sergio Fontes do Nascimento

PARAÍBA Presidente: Arnaldo Henriques Gomes Viegas2a Vice-Presidente: Mirian Lucia TrindadeDiretor Científico: João Borges Virgolino

PARANÁ Presidente: Debora Christina de lacantara Lopes2a Vice-Presidente: Rosemary RauchbachDiretor Científico: Breno Barcelos Ferreira

PERNAMBUCO Presidente: Alexsandra Siqueira Campos2a Vice-Presidente: Luisiana Lins LamourDiretor Científico: Sergio Murilo Fernandes

RIO DE JANEIRO Presidente: Rodrigo Bernardo Serafim2a Vice-Presidente: Maria Angélica dos S. Sanchez Diretor Científico: Tarso Lameri Sant’Anna Mosci

RIO GRANDE DO SUL Presidente: Ângelo José Bos2a Vice-Presidente: Vania HerediaDiretor Científico: Paulo Roberto Cardoso Consoni

SANTA CATARINA Presidente: Paulo Cesar dos Santos Borges2a Vice-Presidente: Silvia Maria Azevedo do SantosDiretora Científica: Nagele Belettini Hahn

SÃO PAULO Presidente: Renato Moraes Alves Fabbri2a Vice-Presidente: Valmari Cristina AranhaDiretora Científica: Maisa Carla Kairalla

DiRetoRias Das seções estaDuais Da sBGG

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Ensino médico e envelhecimento no Brasil | 93

ensino MÉDico eM instituições PÚBlicas

BRasileiRas e DeManDa Do iDoso

Guilherme almeida Maiaa, silvana de araújo silvab, ana Paula Pereira carlotac, Fausto aloísio Pedrosa Pimentad

Resumo Introdução: A distribuição etária brasileira modificou-se bastante nos últimos 50 anos, com o aumento significativo da população idosa. Apesar desse cenário, poucos cursos médicos oferecem a disciplina de Geriatria em seus currí-culos. Objetivo: Avaliar e comparar a relação entre a porcentagem da população idosa por região territorial brasileira e o ensino específico de Geriatria nos cursos de graduação em Medicina de Instituições de Ensino Superior (IES) públicas. Métodos: Analisaram-se grades curriculares e ementas de 77 cursos de Medicina de IES públicas. A relação entre o ensino específico de Geriatria e a porcentagem de idosos por região brasileira foi encontrada dividindo-se o percentual de cursos com essa disciplina pelo total da população idosa por região brasileira. Os dados coletados fo-ram armazenados e analisados com o software Microsoft Excel® 2010. Resultados: A região Sul apresentou a melhor relação entre o ensino específico de Geriatria e a porcentagem da população idosa, com 6 cursos contendo o ensino específico de Geriatria do total de 13 analisados (46,2%); o Norte ficou em 2o lugar, com 2 cursos de 10 analisados (20%); em seguida, ficaram o Nordeste e o Sudeste, com 7 cursos entre os 24 avaliados em cada região (29,2%); e, por fim, a região Centro-Oeste, com 1 em 6 avaliados (16,7%). Conclusão: Há necessidade de reformulação das atuais grades curriculares, adaptando-as à realidade da população de cada região brasileira, resultando na formação de médicos mais capacitados para atender a demanda da população idosa.

MeDical teacHinG in BRaZilian PuBlic institutions anD tHe neeDs oF elDeRlY PeoPle

ABsTRACTIntroduction: Age distribution in Brazil has changed a lot in the last 50 years, with significant increase in elderly population. Despite this scenario, few medical schools offer discipline of Geriatrics in their curricula. Objective: To evaluate and to compare the relationship between the percentage of elderly population by Brazilian geographic region and specific teaching of Geriatrics in undergraduate medical courses. Methods: It was analyzed curricula of 77 Medicine courses of public higher education institutions. The relationship between specific teaching of Geriatrics and the percentage of elderly Brazilian region was found by dividing the percentage of courses with such discipline by the total elderly population by region in Brazil. The collected data were stored and analyzed by the software Mi-crosoft Excel® 2010. Results: The South region had the best result of this relationship, with six (46.2%) of 13 courses analyzed having that specific teaching; the North was the second one with two (20%) courses of the 10 examined; then, were the Northeast and Southeast regions with seven (29.2%) of the 24 courses evaluated in each region, and finally, the Midwest region with one (16.7%) of six evaluated. Conclusion: It was concluded that it is necessary an overhaul of current curricula, adapting it to the reality of the population of each region in order to graduate more prepared physicians to treat the aging population demands.

a Acadêmico do 10o período de Medicina da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), contribuiu no desenho da metodologia, na obten-ção e interpretação de dados e na redação do artigo.b Professora Adjunta I da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), contribuiu no desenho da metodologia, na interpretação de dados e na redação do artigo.c Secretaria Municipal de Saúde de Ouro Preto contribuiu no desenho da metodologia, na obtenção e na interpretação de dados.d Professor Adjunto I da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), contribuiu na interpretação de dados e na redação do artigo.

Dados para correspondência Guilherme Almeida Maia – Avenida Governador Magalhães Pinto, 313, Niterói, CEP: 35500-221, Divinópolis, MG, Brasil. Tel.: (31) 8728-9447. E-mail: [email protected]

Palavras-chave Idoso, geriatria,

escolas médicas, educação médica,

saúde do idoso.

Keywords Aged, geriatrics,

medical schools, medical

education, health of the elderly.

Artigo or iginal

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INTRoDuÇÃoA partir do início da década de 1970, ocorreu, no Bra-sil, uma redução drástica da taxa de fecundidade, o que desencadeou o processo de transição da estrutura etária, com a tendência a uma população com perfil envelheci-do e ritmo de crescimento baixo.1

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),2 em 2010, os indivíduos acima de 60 anos – considerados idosos no Brasil,3 representariam cerca de 10% da população total brasileira e, em 2050, constituirão cerca de 30%. Ainda para 2010, segundo a Organização das Nações Unidas (OMS),4,5 em países de baixa fertilidade, entre os quais se inclui o Brasil, 11% da população teria mais de 65 anos, enquanto 34% possuiria idade abaixo de 25. Os países em desenvol-vimento vivenciam seu processo de envelhecimento populacional mais rapidamente que o ocorrido nos de-senvolvidos e terão menor tempo para se adaptarem às mudanças impostas pelo fenômeno irreversível de en-velhecimento, ocasionando sérios problemas de caráter socioeconômico.

Chaimowicz afirma que a razão entre receitas e des-pesas do governo brasileiro com educação, saúde e se-guridade irá se tornar deficitária em 2025, representan-do um desafio para a gestão de contas públicas do país em 2050; além disso, nas próximas décadas, surgirá, no Brasil, uma população de idosos mais dependentes, com menos recursos próprios e que receberá precários suportes formal do governo e informal de suas famí-lias.6

Assim, o médico deverá estar preparado para atender a demanda idosa, conforme estabelecido pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) do curso de graduação em Medicina,7 que determina: como perfil do formando

egresso/profissional o médico, com formação generalis-ta, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar, pau-tado em princípios éticos, no processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de pro-moção, prevenção, recuperação e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano.

O número de médicos especializados em Geriatria é insuficiente para atender a demanda da população ido-sa brasileira. Em 2012, o Conselho Federal de Medicina (CFM) refere 759 médicos inscritos como geriatras em atividade (Tabela 1), e a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) conta com 1.844 geriatras em ati-vidade no país, sendo menos da metade titulados (Tabela 2).8,9 Considerando os titulados, a proporção seria de 1 geriatra para cada 33 mil idosos, sendo que a maioria dos geriatras (61,6%) concentra-se na região Sudeste e que, na região Norte, são apenas 30 (1,6%) profissionais.

Tabela 1 Relação de médicos especialistas em Geriatria, por região geográfica brasileira

Geriatras* Relação (geriatra/1.000 habitantes)**

Centro-oeste 80 0,06

Norte 17 0,02

Nordeste 97 0,02

sudeste 367 0,04

sul 198 0,06

Brasil 759 0,04

* Conselho Federal de Medicina, 2012.** Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2011.** Resultado da divisão do total de geriatras pelo número absoluto de idosos

de cada região geográfica brasileira.

Tabela 2 Relação de geriatras em atividade e titulados, por região geográfica brasileira

Geriatras em atividade (GA)* Geriatras titulados (GT)*

%* Relação (GA/1.000 habitantes)**

Relação (GT/1.000 habitantes)**

Centro-oeste 142 48 33,8 0,11 0,04

Norte 30 7 23,3 0,03 0,01

Nordeste 226 70 31,0 0,04 0,01

sudeste 1.135 402 35,4 0,12 0,04

sul 311 90 28,9 0,09 0,03

Brasil 1.844 617 33,5 0,10 0,03

* Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 2012.

** Resultado da divisão de total de geriatras pelo número absoluto de idosos de cada região geográfica brasileira.

Os idosos brasileiros apresentam demanda assistencial altamente reprimida, dificultando a promoção à saúde e prevenção de doenças e suas complicações. O pequeno número de geriatras no país, o desinteresse dos médicos recém-formados pela atenção primária e o declínio dos médicos da atenção básica são fatores presentes no cená-rio brasileiro,10,11 sendo possível que o cuidado à popu-

lação idosa seja prestado por médicos generalistas. Daí urge a importância de que todos os médicos possuam os conhecimentos básicos essenciais ao cuidado à saúde do idoso, sendo fundamental o papel formador da universi-dade ao profissional médico egresso.

O objetivo do presente artigo é avaliar e comparar a relação entre a porcentagem de população idosa por

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Ensino médico e envelhecimento no Brasil | 95

região territorial brasileira e o ensino específico de Ge-riatria nos cursos de graduação em Medicina de Institui-ções de Ensino Superior (IES) públicas.

mÉToDosEstudo observacional transversal realizado entre maio e junho de 2011, tendo sido analisadas as grades curricula-res dos cursos de graduação em Medicina presentes nas respectivas páginas virtuais das IES públicas brasileiras.

Considerou-se ensino de graduação de Geriatria aquele que constava na grade curricular como disciplina específica, eletiva ou obrigatória na área ou incluído em disciplina cuja ementa explicitava a instrução de particu-laridades da clínica geriátrica. Não foi considerado ensino específico de Geriatria quando a disciplina, embora fizes-se alguma alusão ao assunto, não possuía, em sua ementa, qualquer diferencial do ensino à assistência do idoso.

Quando não havia a informação da grade curricular ou do ensino de Geriatria na página eletrônica da IES, foi enviada mensagem eletrônica para o setor responsável pela graduação do curso. Foram enviadas 57 mensagens eletrônicas para aquisição da grade curricular ou certi-ficação de que não havia realmente o ensino médico de Geriatria, confirmando-se os dados da página virtual e evitando-se cometer o viés de informação caso o sistema estivesse desatualizado. Quando a resposta à mensagem não contradizia a página eletrônica da IES, considerou-se a ausência do ensino específico.

Calculou-se a porcentagem de idosos (maior de 60 anos) por região territorial brasileira com base nos da-dos mais recentes de recenseamento populacional.12 Por sua vez, a relação entre o ensino específico de Geriatria e a porcentagem de idosos por região brasileira foi encon-trada dividindo-se o percentual de cursos com essa dis-ciplina pelo percentual de idosos por região brasileira. O Distrito Federal foi incluído na região Centro-Oeste.

Os dados coletados foram armazenados e analisados pelo software Microsoft Excel® 2007. Realizou-se pesqui-sa bibliográfica nos bancos Scielo, Medline e Biblioteca Virtual em Saúde, entre julho de 2011 e outubro de 2012.

ResuLTADosEnsino de Geriatria nos cursos de graduação em Medi-cina de IES públicas: Analisaram-se 77 cursos de gra-duação em Medicina de IES públicas, 50 federais e 27 estaduais, de todas as regiões brasileiras, sendo que 23 (29,9%) apresentavam ensino específico de Geriatria (Tabela 3). O melhor percentual foi encontrado na re-gião Sul, e o pior, na região Centro-Oeste.

O ensino específico em 10 das IES avaliadas (43,5%) é oferecido no 7o período do curso de graduação, e a car-ga horária média da disciplina é de 63 horas, sendo dis-ciplina obrigatória em 14 cursos (60,1%).

População idosa brasileira: A população brasileira é constituída, em média, de 10,15% de idosos (Tabela 4), com o maior percentual na região Sul (12%).

Tabela 3 Ensino específico de Geriatria pelas IES públicas brasileiras, por região geográfica brasileira

Cursos avaliados Cursos com ensino específico obrigatório eletivo Percentual de cursos com ensino específico (%)

Centro-oeste 6 1 0 1 16,7

Norte 10 2 2 0 20

Nordeste 24 7 6 1 29,17

sudeste 24 7 5 2 29,17

sul 13 6 1 5 46,15

Brasil 77 23 14 9 29,87

Relação entre o ensino específico de Geriatria e a po-pulação idosa brasileira por região territorial: A região Sul apresentou a melhor relação entre o ensino específico

Tabela 4 População idosa brasileira, por região geográfica brasileira

População acima de 60 anos*

População absoluta* %

Centro-oeste 1.238.134 14.058.094 8,81

Norte 1.081.469 15.864.454 6,82

Nordeste 5.456.177 53.081.950 10,28

sudeste 9.527.354 80.364.410 11,86

sul 3.287.465 27.386.891 12,00

Brasil 19.352.465 190.755.799 10,15

*Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2011

de Geriatria e a porcentagem de população idosa (Tabela 5); seguida, em ordem decrescente, pelas regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste.

Tabela 5 Relação entre percentual de ensino de Geriatria e percentual de população idosa, por região territorial brasileira

Região geográfica brasileira

Relação (divisão do percentual de ensino específico de Geriatria pelo percentual de

população idosa)

Centro-oeste 1,90

Norte 2,93

Nordeste 2,84

sudeste 2,46

sul 3,84

Brasil 2,94

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DIsCussÃoSegundo Ministério da Educação e Cultura (MEC),13 há 198 cursos de Medicina cadastrados, sendo 77 (39%) gratuitos, todos avaliados pelo presente estudo. A região Sul possui percentual relevante quando comparada às outras regiões, mas a maioria oferece disciplina em cará-ter eletivo. Os dados encontrados mostram que a região está mais preparada para atender o idoso, o que pode decorrer do fenômeno da regionalização do envelheci-mento, caracteristicamente brasileiro, tendo a região Sul iniciado seu processo mais precocemente que as demais, o que está associado à elevada imigração de pessoas dos países desenvolvidos para essa região.5

A região Norte apresentou a 2a melhor relação de ensino específico de Geriatria por população idosa, de-vido exclusivamente ao menor percentual de idosos em detrimento da formação médica, apresentando apenas 2 cursos com disciplinas de ensino de Geriatria, porém, ambas obrigatórias.

Sudeste e Nordeste tiveram a mesma quantidade de cursos avaliados e os mesmos resultados, em função de maior percentual de população idosa na primeira região, tendo, porém, mais disciplinas obrigatórias, levantando a possibilidade de uma maior preocupação da Sudeste em relação ao cenário atual.

A região Centro-Oeste mostrou o resultado mais desfavorável, sendo que a única escola médica avaliada oferece a disciplina em caráter eletivo.

O ensino formal de Geriatria foi introduzido nas escolas médicas na década de 1970, primeiramente na Universidade Católica em Porto Alegre e na faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.14

Estudo que avaliou 167 cursos de Medicina no Brasil, mostrou que, em 2007, 42% das instituições apresenta-vam ensino de Geriatria, sendo que a região Sul obteve a maior inserção proporcional da disciplina nos currícu-los, enquanto a Sudeste, a menor.15 Os critérios de inclu-são de dados da referida publicação foram diferentes da metodologia do presente artigo, que considerou critérios mais clínicos na ementa da disciplina, além de ter avalia-do somente IES públicas, o que explicaria a divergência de dados. Em outro estudo, avaliando 6 escolas médicas do Paraná, no Brasil,16 identificou que 50% delas apre-sentavam ensino formal de Geriatria, mas em todos os cursos avaliados, os coordenadores afirmavam que era necessária a inclusão desse ensino. O presente artigo analisou 5 IES públicas do Paraná, sendo que apenas 2 delas (40%) apresentavam ensino específico de Geriatria, ambas oferecendo-o como disciplinas optativas. A dife-rença dos resultados, possivelmente, deve-se à avaliação de uma escola médica a menos pelo presente artigo.

Em 2001, Petroianu avaliou 78 cursos médicos,17 sen-do que apenas 12 deles (15%) apresentavam ensino de Geriatria e, dentre eles, em 8 (67%) a disciplina era obri-gatória. Pode-se inferir que a diferença dos resultados

advém da inclusão de IES particulares, do período ava-liado e da metodologia de avaliação empregada. Aquele autor observou que a maioria dos cursos avaliados que possuíam o ensino de Geriatria era de IES particulares. Esse dado também foi corroborado pelos autores ao ana-lisarem 28 cursos médicos do estado de Minas Gerais e observarem que 5 (18%) ofereciam a disciplina; 4 deles (80%) como obrigatória e de IES particulares.18

Em estudo publicado em 2003,19 Keller et al. anali-saram currículos de 161 escolas médicas de 36 países de todos os continentes; 41% desses cursos ofereciam, de algum modo, Geriatria e, destes, aproximadamente, 50% era de forma obrigatória. A maioria das escolas mé-dicas em que não havia o ensino afirmou que Geriatria não estava nos currículos nacionais e, em metade delas, alegou-se que a população idosa não era uma questão prioritária.

Tavares et al.,20 em análise com vários acadêmicos de cursos de graduação na área da saúde, incluindo Medi-cina, observaram que a maioria dos entrevistados tem contato frequente com a população idosa e sentem ne-cessidade de estudar conteúdos referentes ao tema; en-tretanto, 61,7% dos estudantes de Medicina entrevista-dos referiram ausência de disciplina e/ou do conteúdo na grade curricular da IES pesquisada, mostrando que mesmo diante da realidade, há ainda grande desconhe-cimento sobre a importância do tema.

A implantação do ensino de Geriatria durante a gra-duação fica ainda mais importante quando se analisa a situação da residência médica em Geriatria no país. Existem 18 programas de residências médicas no Bra-sil, oferecendo 53 vagas no total.21 Treze (72%) encon-tram-se na região Sudeste, 2 (11%) no Centro-Oeste e 1 (5,6%) em cada uma das demais regiões geográficas brasileiras. Esses dados mostram extrema discrepância da distribuição dos cursos pelo território nacional. Esses programas são insuficientes para formar o número de geriatras necessário para desfazer a demanda reprimida. A região Sudeste concentra a maior quantidade de pro-gramas, apesar de ser a 2a maior porcentagem de idosos no país, enquanto, paradoxalmente, a região Sul possui apenas 1 programa de residência credenciado pelo MEC, o mesmo número da região Norte, que tem a menor po-pulação idosa do país. A baixa procura por programas de residência médica em Geriatria é atribuída a reduzidos salários após a formatura, além da visão negativa da es-pecialidade e pouco interesse na área pelos estudantes.22

Em comparação com outros países, o ensino de Ge-riatria no Brasil não está muito diferente. Em 2009, Arai publicou sobre a situação da Geriatria no país com maior população idosa, o Japão.23 O autor afirma que a Socie-dade Japonesa de Geriatria iniciou um programa educa-cional para geriatras e outros profissionais da área, en-fatizando as grandes síndromes geriátricas, de modo a manter a qualidade de vida e as atividades de vida diária

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dos pacientes. Informa que 30% dos estudantes das 79 instituições recebem o ensino e acredita que a formação nessa área deveria ser exigida em todas as escolas médi-cas e ser implantada em programas de residência médica.

Analisando as escolas médicas japonesas, Matsuse et al. realizaram estudo comparando o ensino de Geria-tria daquele país com o de outros países desenvolvidos e concluíram que esse ensino no Japão possui ênfase em aspectos fisiopatológicos do processo de envelhecimen-to,24 omitindo aspectos clínicos, ao contrário do que é oferecido nas outras instituições pesquisadas.

Estudo realizado na Europa e publicado em 2008 comparou a progressão do ensino de Geriatria em esco-las médicas do continente.25 Em 15 anos, a porcentagem de países que ofertavam o ensino passou de 67% para 81%. Esse estudo revelou a redução de unidades acadê-micas de Medicina Geriátrica no Reino Unido, o que foi corroborado posteriormente por Gordon et al.26

Visando a melhorar o ensino de Geriatria, vários do-cumentos foram publicados nos últimos anos, incenti-vando sua inserção durante a graduação, como no Rei-no Unido.27 Nessas publicações, estimula-se a instrução sobre a apresentação peculiar de doenças em idosos, a biologia do envelhecimento, além da abordagem das sín-dromes geriátricas. Em 2008, a International Association of Gerontology and Geriatrics publicou as recomenda-ções sobre temas básicos para as grades curriculares dos cursos médicos.28

O Fórum Econômico Mundial ressaltou a impor-tância de conhecimento médico sobre as necessidades da população idosa,29 concluindo que a educação que acadêmicos, médicos e enfermeiros recebem ao longo de suas carreiras pode ajudá-los a aceitar os desafios do envelhecimento.

Na tentativa de melhorar as atitudes, os conhecimentos e as habilidades dos estudantes de Medicina sobre o ensi-no de Geriatria, Tullo et al.30 revisam várias alternativas já desenvolvidas. Os autores concluíram que as atividades melhoraram todos esses parâmetros dos estudantes, mas que faltam evidências de intervenções que aprimorem as habilidades dos acadêmicos, além do que, necessita-se de pesquisas futuras para confirmar a eficácia de estratégias de ensino específico em Geriatria. Ainda segundo os au-

tores, as habilidades dos alunos em Geriatria não repre-sentariam necessariamente a capacidade deles no cuidado com os idosos, mas que elas seriam um marcador educa-cional útil da competência futura desses estudantes.

Nos últimos anos, percebe-se maior preocupação com o tema, tendo sido inclusive publicado em 2003, pelo governo brasileiro, o Estatuto do Idoso,6 com a fi-nalidade de melhorar-lhes a qualidade de vida, com a divulgação de seus direitos, incluindo-se a assistência médica qualificada.

As DCN vigentes não explicitam o ensino de Geria-tria durante a graduação em Medicina,7 mas inferências a partir do texto podem ser feitas: segundo a publicação de 2001, o médico generalista deveria ter formação am-pla, de modo a estar apto para realizar procedimentos, independente da faixa etária do paciente. Porém, não se pode assegurar que os egressos dos cursos avalia-dos estejam devidamente preparados para atender ao idoso, visto que apenas 1/3 dos estudantes têm acesso ao ensino de Geriatria. Ainda que diferentes passos na formação médica possam gerar aprendizado, como o atendimento ambulatorial e/ou hospitalar, a participa-ção em congressos, cursos ou outras atividades extra-curriculares, parece-nos indispensável a estruturação de disciplina específica, dirigida ao ensino do cuidado à saúde do idoso.

CoNCLusÃoConstatou-se necessidade de reformulação das atuais grades curriculares, adaptando-as à realidade da popu-lação de cada região brasileira para, assim, formar médi-cos mais capacitados no atendimento do idoso, condição inexorável à população brasileira. O ensino específico de Geriatria deveria ser mais valorizado tanto pela IES quanto pelos graduandos. Para isso, recomendamos que não seja exclusivo de especialistas, mas que haja capaci-tação global dos egressos para o atendimento desse seg-mento etário. São necessários estudos qualitativos poste-riores em relação ao tema.

Conflitos de interessesOs autores declaram não possuir nenhum conflito de in-teresse na sua realização e publicação.

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iMPleMentaçÃo De Planos De cuiDaDos

PaRa iDosos De Belo HoRiZonte

Dirlene araujo dos Reisa, João Marcos Domingues Diasb, Dorotéia Fernandes da silvac, edgar nunes de Moraesd

Resumo Objetivo: Plano de Cuidados (PC) é uma estratégia organizadora do cuidado integral e integrado do idoso em rede. O objetivo deste estudo foi avaliar os desfechos das sugestões de ações reabilitadoras com assistência profissional presentes no PC elaborados por um Centro de Referência de Idosos da cidade de Belo Horizonte. Métodos: Análise de Planos de Cuidados e entrevista semiestruturada por inquérito telefônico. Resultados: Das 97 sugestões de ações reabilitadoras com apoio profissional registradas nos 51 Planos de Cuidados, apenas 25 (25,8%) dessas sugestões foram implementadas, segundo relato dos usuários e/ou familiares, principalmente na rede pública de saúde (92%) e através da atenção primária (68%), com tempo de espera de 16,60 ± 27,37 semanas. Na opinião de 69,4% dos usuários e/ou familiares, o principal dificultador para receber a assistência sugerida foi o fato de não saberem sobre essas sugestões reabilitadoras no Plano de Cuidado. Conclusão: Estar cientes dessas sugestões e procurar por esses atendimentos parecem ser fatores importantes para que as sugestões de ações reabilitadoras sejam efetivamente prestadas; por isso, a relevância de envolver e corresponsabilizar todos os atores da rede, principalmente os usuários e seus familiares no planejamento e implementação das ações reabilitadoras. Outros estudos são necessários para o profundo entendimento das reais limitações para implementação do cuidado longitudinal do idoso.

iMPleMentation oF caRe Plans FoR elDeRlies in Belo HoRiZonte

ABsTRACTCare Plan is a strategy of organizing the elderly care in an integrated and comprehensive network. Objective: The aim of this study was to evaluate the results of the suggestions from the rehabilitative action with professional assistance in Care Plans developed by a reference center of Seniors in Belo Horizonte city. Methods: Analysis of Care Plan and semi-structured interview by telephone survey. Results: From 97 rehabilitative action suggestions with professional assistance recorded in the 51 Care Plans, only 25 (25.8%) of these suggestions were implemented, as reported by users and/or their families, especially in public health (92%) and through primary care (68%), with a delayed time of 16.60 ± 27.37 weeks. In the opinion of 69.4% of users and/or their families, the main barrier to receive the suggested assistance was that they did not know about these suggestions in rehabilitative Care Plan. Conclusion: Being aware of these suggestions and looking for these services seem to be important factors to make the suggestions of the rehabi-litative actions be effectively provided, so the relevance of co-responsibility and involvement of all actors to make the network, especially users and their families in planning and implementation of rehabilitative actions. Further studies are needed to the deep understanding of the real constraints to the implementation of longitudinal elderly care.

a Fisioterepeuta Residente do Programa de Residência Integrada Multiprofissional do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).b Fisioterapeuta, Doutor Orientador do Programa de Pós-graduação em Ciências Reabilitadoras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).c Assistente Social do Programa Mais Vida e Mestranda Profissional em Promoção de Saúde e Prevenção da Violência do Programa de Pós--graduação da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).d Professor Adjunto, Doutor do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Coordenador do Instituto Jenny de Andrade Faria de Atenção à Saúde do Idoso do Hospital das Clínicas da Universidade Fedral de Minas Gerais (UFMG).

Dados para correspondência Dirlene Araujo dos Reis – Departamento de Fisioterapia/UFMG. Av. Antônio Carlos, 6.627, CEP: 31270-901. Belo Horizonte, MG. Tel.: (31) 3433-9565. Fax: (31) 3409-4781. E-mail: [email protected]

Palavras-chave Planejamento

de assistência ao paciente, idoso

fragilizado, serviços de saúde

para idosos.

Keywords Patient care

planning, frail elderly, health

services for the aged.

Artigo or iginal

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INTRoDuÇÃoenvelhecimento populacional e assistência de saúdeEm consonância com a tendência mundial de enve-lhecimento populacional, intensamente acelerado em países em desenvolvimento, o Brasil tem apresentado um aumento da expectativa de vida e um declínio das taxas de fecundidade, o que tem levado a um crescente incremento proporcional da população de idosos em relação ao total da população brasileira. Estima-se que, em 2025, o Brasil ocupará o 6o lugar quanto ao contin-gente de idosos.1

Concomitantemente a essa transição demográfica, o Brasil vive também uma transição epidemiológica com uma mudança no perfil de morbimortalidade, caracteri-zado por uma situação de tripla carga de doenças: uma agenda não totalmente superada de doenças infecciosas e carenciais; uma carga de causas externas, relacionadas principalmente à violência; e uma avalanche de doenças crônicas não transmissíveis, intimamente associadas ao envelhecimento populacional.2,3

O acelerado envelhecimento populacional impõe grande pressão sobre um sistema de saúde já deficiente, que passa a enfrentar o desafio de lidar com uma epide-mia de doenças crônicas e de incapacidades funcionais, que acarretam maior e mais prolongado uso de serviços de saúde.2,3 Isso exige uma profunda reflexão e reestru-turação do sistema de atenção à saúde, com o objetivo de romper com antigos paradigmas e modelos centrados na doença, fragmentados, reativos e voltados, priorita-riamente, para o enfrentamento das condições e eventos agudos em detrimento das condições crônicas.2

Rede de Atenção à saúde Integral do Idoso em minas GeraisO Relatório Mundial da Saúde, publicado pela Organi-zação Mundial de Saúde (OMS) em 2008, enfatiza que a melhor opção para o enfrentamento das condições crô-nicas de saúde tem sido a formação das redes de atenção à saúde, para o cuidado abrangente e longitudinal, e a reformulação e reorientação do papel da Atenção Pri-mária à Saúde (APS) como eixo central e ordenador dos fluxos de pacientes e serviços dentro desse sistema.2,4 Isto é, linhas de cuidado integral e integradas para a pessoa idosa por meio de uma rede de atenção à saúde, em que a APS, amparada por estações de atenção especializada, integradas e intercomunicantes, seja capaz de responder, com efetividade, eficiência, segurança, integralidade, qualidade e equidade, às novas demandas de saúde da população brasileira.5

Baseado nesse contexto, a Secretaria de Estado de Saúde do Governo de Minas Gerais, por meio da Re-solução no 1.583, de 19 de setembro de 2008,6 e fun-damentando-se no princípio da integralidade e na le-

gislação específica sobre a atenção à saúde do idoso,7,8 instituiu o Programa Mais Vida e a Rede Integral de Atenção à Saúde do Idoso do Estado de Minas Gerais, que tem como propósito melhorar a qualidade da aten-ção à saúde da pessoa idosa, atentando para a longevi-dade da população, com independência e autonomia. O programa tem como público-alvo o idoso de risco alto e/ou frágil, definido de acordo com a “Linha-Guia de Saúde do Idoso”.6 Além dos serviços já disponíveis na rede de saúde, foram criados Centros de Referência de Atenção Secundária do Programa Mais Vida, deno-minados Centros Mais Vida (CMV), que prestam assis-tência especializada ao idoso.

Nessa linha de cuidado da pessoa idosa, a equipe de APS identifica e encaminha idosos de risco alto e/ou frágeis ao CMV, onde uma equipe multiprofissional realiza uma avaliação individual e multidimensional de cada idoso e elabora um Plano de Cuidados (PC), que é encaminhado à APS e, na perspectiva da linha de cuidado, o usuário, sua família e a APS de referência assumem a responsabilidade de implementação desse PC através de um seguimento longitudinal, seja dan-do continuidade ao tratamento necessário ao idoso na própria APS e, conforme a necessidade, encaminhando o idoso a outras estações de cuidado da rede pública de saúde para obter uma assistência de que necessita de forma integrada e intercomunicante.5,6

Planos de cuidadosO idoso frágil, muitas vezes, utiliza vários serviços e profissionais, de forma desarticulada e fragmentada, aumentando o custo do tratamento e o risco de iatroge-nia.5 Para minimizar essas dificuldades, o PC se desta-ca como uma ferramenta organizadora do cuidado em saúde do idoso de forma integral (o cuidado biopsicos-social do usuário) e integrada (o cuidado longitudinal articulado em rede), além de servir de suporte técnico à equipe da APS. O PC é composto de 2 etapas denomi-nadas planejamento e implementação e que são ilustra-das pela Figura 1.5

O planejamento é um processo em que se define a estratificação de risco ao idoso, seu diagnóstico multidi-mensional, estabelecimento de metas terapêuticas e defi-nição das propostas de ações preventivas, promocionais, curativas, paliativas e reabilitadoras de saúde.5 As ações reabilitadoras são um conjunto de procedimentos apli-cados aos pacientes com incapacidades (deficiências, li-mitação de atividades ou restrição da participação), com o objetivo de manter ou restaurar a funcionalidade (fun-ções do corpo, atividades e participação), maximizando sua independência e autonomia.5,9

Feito o planejamento, inicia-se a fase de implemen-tação, que é a execução daquilo que foi planejado. As ações reabilitadoras, assim como todo o PC, devem ser executadas pelo próprio usuário juntamente com

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sua família (autocuidado apoiado) e podem deman-dar também da assistência de profissionais da área da saúde (atenção profissional).5 No PC do Centro Mais Vida do Instituto Jenny de Andrade Faria (CM-IJAF) do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a atenção profissional para as ações reabilitadoras é representada pelos profissionais de Enfermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, Psicologia, Serviço Social, Nutrição, Far-mácia e Odontologia.

objetivo geralAvaliar os desfechos das sugestões de ações reabilitado-ras com assistência profissional presentes no PC elabo-rado pelo Centro Mais Vida do Instituto Jenny de An-drade Faria de Atenção à Saúde do Idoso e da Mulher do Hospital das Clínicas da UFMG para idosos da re-gional Nordeste da cidade de Belo Horizonte, segundo a percepção do usuário e/ou familiares.

objetivos específicos1) Identificar a quantidade de sugestões de encaminha-

mentos que foram implementadas. 2) Identificar o tempo médio para implementação. 3) Identificar os serviços de saúde mais usados pelos ido-

sos para implementação. 4) Identificar os principais fatores que dificultam a im-

plementação dessas ações.

mATeRIAIs e mÉToDoAmostraTrata-se de um estudo transversal, descritivo e explora-tório para o qual foi recrutada uma amostra da regional Nordeste, 1 das 9 regionais do município de Belo Hori-

zonte, constituída por todos os idosos cadastrados nos centros de saúde e encaminhados à consulta no Centro Mais Vida, que realmente realizaram a consulta e para os quais foram elaborados planos de cuidado no período de janeiro a dezembro de 2011. O CM-IJAF atende aproxi-madamente 7 mil idosos do município de Belo Horizon-te anualmente. Para o cálculo do tamanho da amostra, considerou-se um erro amostral de 3%, constituindo-se em 201 PCs. Os registros no sistema de regulação da Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte S/A (PBH-SISREG/PRODABEL) dos pacientes agendados para primeira consulta no Progra-ma Mais Vida foram disponibilizados pelo serviço para a pesquisa.

A escolha pela regional Nordeste se deve ao fato de ser o território de inserção da Residência Integrada Mul-tiprofissional em Saúde do HC/UFMG, da qual a pesqui-sadora faz parte.

os critérios de inclusão da amostra foram: • PCselaboradosparaidososcomidadeigualousupe-

rior a 60 anos. • TernoPCsugestõesdeaçõesreabilitadorascomassis-

tência profissional.• Presençadepelomenos1contatotelefônicoregistra-

do no PC ou na ficha de avaliação.

Critérios de exclusão da amostra: • Impossibilidadedefazercontatotelefônicoapós5ten-

tativas em dias e horários diferentes. • Nãoconsentirverbalmenteemparticipardapesquisa.• Nãosercapazdecompreendereresponderàsper-

guntas do questionário necessário à coleta dos da-dos.

Plano de cuidados

ImplementaçãoPlanejamento

Diagnóstico multidimensional

Metas terapêuticas

Intervenções propostas

Estratificação do risco

Autocuidado apoiado: Usuário + Família +

Comunidade

Ações preventivas, promocionais, curativas,

paliativas e reabilitadoras

Atenção profissional: APS + Rede de atenção à saúde

Adaptado de Moraes, 2012.5

Figura 1 Etapas de planejamento e implementação do plano de cuidados.

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Instrumentação e procedimentosInquéritos por telefone são métodos de grande utilidade pela facilidade de execução, rapidez, baixo custo, facilita-ção do anonimato do entrevistado e pela viabilização do recrutamento de amostras maiores, além de possibilitar planejamento e direcionamento de ações de saúde. In-formações de saúde coletadas de um informante secun-dário via telefone apresentam boa concordância e repro-dutibilidade quando comparadas com as informações coletadas do próprio indivíduo via telefone.10,11

Os dados desta pesquisa foram coletados por entre-vista via telefone durante o 2o semestre de 2012 com os idosos e/ou seus familiares e por um levantamento das informações contidas no PC, utilizando-se um formu-lário de coleta semiestruturado, elaborado especifica-mente para atender os objetivos deste estudo e cons-truído com base no PC do CMV-IJAF e no contexto cultural, econômico e social da amostra investigada.

O formulário foi aplicado pela própria pesquisa-dora. Foram feitas até 5 tentativas de contato telefôni-co em dias e horários diferentes. Caso o participante atendesse e não pudesse responder o questionário no momento do contato, eram marcados data e horário de melhor conveniência para a entrevista.

Através do formulário de coleta, foram investiga-dos aspectos demográficos e socioeconômicos (sexo, idade, escolaridade, estado civil, ocupação, insufici-ência familiar, ter planos de saúde e possíveis dificul-dades para comparecer aos atendimentos de saúde); aspectos clínico-funcionais (comorbidades, cognição e perfil funcional para atividades de vida diária bási-cas e instrumentais). Para os desfechos das sugestões reabilitadoras, foi avaliado se os usuários sabiam das sugestões reabilitadoras, se procuraram e se receberam o atendimento, tempo de espera, serviços de saúde que prestaram o atendimento, satisfação dos usuários com os atendimentos prestados e principais fatores que difi-cultaram a implementação das ações reabilitadoras.

Aspectos éticos Por se tratar de entrevista realizada por telefone, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi substituído pelo consentimento verbal obtido por ocasião dos contatos telefônicos com os entrevistados. Foi esclarecido que os dados obtidos seriam utilizados exclusivamente para fins de pesquisa e que seria garantido o sigilo das informações. Os entrevistados foram também esclarecidos sobre a pos-sibilidade de desistir de participar do estudo a qualquer momento da entrevista e que isso não implicaria nenhum obstáculo ao seu atendimento futuramente no HC/UFMG e em nenhum outro serviço da rede de atenção à saúde.

Análise estatísticaOs dados foram armazenados em um banco eletrônico e analisados, utilizando-se o programa SPSS para Windows®

(Versão 17). Foi feita análise estatística exploratória e des-critiva, através da média, desvio padrão, frequência e per-centual, e apresentada nas formas de figuras e tabelas, por meio de índices absolutos e percentuais.

ResuLTADosCom base nos critérios de inclusão pré-estabelecidos, dos 201 PCs delimitados pelo cálculo amostral, 81 con-tinham sugestões de ações reabilitadoras com assistência profissional; desse universo, 79 eram de indivíduos com idade igual ou maior a 60 anos; e, dentre estes últimos, 70 tinham pelo menos 1 contato telefônico registrado no PC ou na ficha de avaliação.

A partir da amostra de 70 PCs e com base nos cri-térios de exclusão preestabelecidos, não foi possível realizar contato telefônico com 13 indivíduos após 5 tentativas em dias e horários diferentes; 3 foram a óbito entre o período de elaboração do PC e a entrevista para a pesquisa; 2 recusaram a participar da pesquisa; 1 não foi capaz de responder ao questionário necessário à coleta dos dados, porque a família do idoso havia mudado para outro estado; resultando uma amostra final de 51 PCs.

Caracterização da amostra

CARACTERÍSTICAS BIOSSOCIAISCinquenta e um indivíduos, 41 mulheres (80,4%) e 10 homens (19,6%), com idades variando entre 61 e 97 anos (78,65 ± 8,19 anos), apresentavam em média baixa esco-laridade (2,39 ± 2,48 anos de estudos), e a maioria era de viúvos (58,8%). A avaliação clínica indicou 12 casos de insuficiência familiar (23,5%), e a entrevista por telefone mostrou presença de cuidador formal ou informal em 30 casos (58,8%), dificuldade de transporte e/ou finan-ceira para ir aos atendimentos de saúde em 34 dos casos (66,7%) e ausência de acompanhante para ir aos atendi-mentos de saúde em 20 dos casos (39,2%).

CARACTERIzAçÃO CLÍNICO-FUNCIONALDe acordo com os dados coletados dos PCs, em rela-ção ao nível funcional, 12 (25,5%) apresentavam algu-ma dependência para as atividades de autocuidado e 33 (64,7%) apresentavam alguma dependência para ativida-des instrumentais de vida diária. A amostra apresenta-va, em média, 7,94 ± 2,41 diagnósticos de doenças e/ou condições crônicas de saúde, e 31 (61,8%) apresentavam algum comprometimento na cognição.

Em relação aos entrevistados, 16 (31,4%) foram o próprio idoso, 32 (62,7%) foram cuidadores (pessoas que relataram estar envolvidas formal ou informalmente no cuidado diário do idoso), e 3 (5,9%) não cuidadores. A avaliação médica para elaboração do PC identificou que, dos 16 (31,4%) idosos entrevistados, 4 tinham algum comprometimento cognitivo (sendo 2 devido a quadro depressivo, 1 por transtorno cognitivo leve e 1 devido à demência).

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Tabela 1 Estatística descritiva das sugestões de ações reabilitadoras sobre as características biossociais, clínico-funcionais dos desfechos

Variáveis sugestões de reabilitação prestadas N = 25 (%)

sugestões de reabilitação não prestadas N = 72 (%)

Total de indivíduos N = 51 (%)

sexo

Feminino 20 (80,0%) 58 (80,6%) 41 (80,4%)

Masculino 5 (20,0%) 14 (19,4%) 10 (19,6%)

Idade80,72 ± 9,22 anos 78,71 ± 7,33 anos 78,65 ± 8,19 anos

[60-96] [64-94] [60-96]

escolaridade2,28 ± 2,49 anos de estudos 2,01 ± 2,04 anos de estudos 2,39 ± 2,48 anos de estudos

[0-11] [0-11] [0-11]

estado Civil

solteiro 5 (20%) 6 (8,3%) 6 (11,0%)

Mora junto / casado 6 (24%) 20 (27,8%) 14 (27,5%)

viúvo 14 (56%) 44 (61,1%) 30 (58,8%)

Divorciado 0 2 (2,8%) 1 (2,0%)

ocupação

Do lar 24 (96%) 69 (95,8%) 49 (96,1%)

trabalha por conta própria 1 (4,0%) 3 (4,2%) 2 (3,9)

Insuficiência familiar

não 20 (80%) 45 (62,5%) 36 (70,6%)

sim 4 (16,0%) 20 (27,8%) 12 (23,5%)

não avaliado 1 (4,0%) 7 (9,7) 3 (5,9%)

Presença de cuidador (formal ou informal)

não 8 (32%) 28 (38,9%) 21 (41,2%)

sim 17 (68%) 44 (61,1%) 30 (58,8%)

Tem plano de saúde

não 21 (84%) 59 (81,9%) 42 (82,4%)

sim 4 (16%) 13 (18,1%) 9 (17,6%)

Dificuldade de transporte e/ou financeira para ir aos atendimentos de saúde

não 13 (52,0%) 52 (72,2%) 34 (66,7%)

sim 12 (48,0%) 20 (27,8%) 17 (33,3%)

Presença de acompanhante para ir aos atendimentos de saúde

não 8 (32%) 32 (44,4%) 20 (39,2%)

sim 17 (68%) 40 (55,6%) 31 (60,8%)

Autocuidado

independente 16 (64%) 44 (61,1%) 38 (74,4%)

Dependência parcial 7 (28,0%) 22 (30,6%) 11 (21,6%)

Dependência total 2 (8%) 6 (8,3%) 2 (3,9%)

Atividades instrumentais de vida diária

independente 5 (20%) 24 (33,3%) 18 (35,3%)

Dependência parcial 12 (48%) 20 (27,8%) 17 (33,3%)

Dependência total 8 (32%) 28 (38,9%) 16 (31,4%)

Quantidade de diagnósticos de doenças e/ou condições crônicas de saúde

7,24 ± 2,33[1-11]

8,29 ± 2,79[4-15]

7,94 ± 2,41[4-15]

sugestões de ações reabilitadoras

enfermagem 1 (4,0%) 8 (11,0%) 09 (9,3%)

Farmácia 0 (0%) 3 (4,2) 03 (3,1%)

(Continua)

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Variáveis sugestões de reabilitação prestadas N = 25 (%)

sugestões de reabilitação não prestadas N = 72 (%)

Total de indivíduos N = 51 (%)

sugestões de ações reabilitadoras (cont.)

Fisioterapia 14 (56%) 17 (23,6%) 31 (32%)

Fonoaudiologia 2 (8,0) 7 (9,7%) 09 (9,3)

nutrição 5 (20%) 11 (15,3%) 16 (16,5)

odontologia 1 (4,0%) 5 (6,9%) 06 (6,2%)

Psicologia 0 (0%) 1 (1,4%) 01 (1,0%)

serviço social 1 (4,0%) 10 (13,9%) 11 (11,3%)

terapia ocupacional 1 (4,0%) 10 (13,9%) 11 (11,3%)

Ciente do encaminhamento

não 3 (12,0%) 54 (75,0%) 57 (58,8%)

sim 22 (88,0%) 18 (25,0%) 40 (41,2%)

Procurou pela assistência desse profissional

não 3 (12,0%) 19 (26,4%) 56 (57,7%)

sim 22 (88,0%) 53 (73,6%) 41 (42,3%)

Comprometimento de mobilidade

sem comprometimento 5 (20%) 23 (31,9%) 15 (29,4%)

instabilidade postural 12 (48%) 36 (50%) 28 (54,9%)

imobilidade parcial 7 (28%) 11 (15,3%) 7 (13,7%)

imobilidade completa 1 (4,0%) 2 (2,8%) 1 (2,0%)

(Continuação)

Desfechos dos encaminhamentos sugeridosA partir dos 51 planos de cuidados, verificou-se que fo-ram registradas um total de 97 sugestões de encaminha-mentos para profissionais da reabilitação (média 1,90 sugestão por PC), predominando sugestões de encami-nhamentos para fisioterapia (32%), nutrição (16,5%), serviço social (11,3%) e terapia ocupacional (11,3%). Em 57 desses encaminhamentos (58,8%), o paciente e/ou familiar relataram ter conhecimento do encaminha-mento, e em apenas 42,3% desses encaminhamentos, usuários haviam procurado pelo atendimento sugerido, devido à orientação do PC ou por demanda espontâ-nea, e somente 25 dessas sugestões de encaminhamen-tos (25,8%) foram efetivamente prestadas, majoritaria-mente (23 encaminhamentos, 92%) na rede pública de saúde, principalmente na atenção primária (17 enca-minhamentos, 92%). O tempo médio de espera de foi de 16,6 semanas, e a satisfação média relatada foi 9,04 ± 1,70, numa escala de 0 a 10, sendo 0 completamen-te insatisfeito e 10 completamente satisfeito. Do total de usuários assistidos na atenção primária, 12 (47,1%) apresentavam alguma dependência para as atividades de autocuidado, e 16 (94,1%) apresentavam alguma de-pendência para atividades instrumentais de vida diária; enquanto os que foram assistidos pela atenção secun-dária 1 (12,5%) apresentava alguma dependência para as atividades de autocuidado, e 4 (50%) apresentavam alguma dependência para atividades instrumentais de vida diária.

Apesar de 74,2% das sugestões de encaminhamento não terem sido efetivamente prestadas, segundo relato dos usuários e/ou familiares, 69,4% dessas sugestões não implementadas foram reconhecidas pelos usuários e/ou familiares como sendo ações importantes para a saúde do idoso. Quando questionados sobre qual o fator que eles acreditavam ter sido o principal dificultador para receber a assistência sugerida, 69,4% responderam que foi o fato de não saberem sobre essas sugestões de enca-minhamento no PC.

Tabela 2 Estatística descritiva dos desfechos das ações reabilitadoras implementadas (n = 25)

Variáveis Total N = 25 (%)

serviço de saúde em que recebeu o atendimento

atendimento na rede pública 23 (92,0%)

atendimento via convênio 1 (4,0%)

atendimento particular 1 (4,0%)

Nível da rede que recebeu esse atendimento

atenção primária 17 (68,0%)

atenção secundária 8 (32,0%)

Tempo de espera para receber esse atendimento (em semanas)

16,60±27,37

[2-138]

satisfação (escala de 0 a 10)16,60±27,37

[2-138]

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Tabela 3 Estatística descritiva dos desfechos das ações reabilitadoras não implementadas (n = 72)

Variáveis N (%)

o atendimento sugerido era importante para saúde do usuário

não 20 (27,8%)

sim 50 (69,4%)

não souberam responder 2 (2,8%)

Principal fator que dificultou a receber esse atendimento

instabilidade clínica 1 (1,4%)

Dificuldade de transporte e/ou financeira 1 (1,4%)

Falta de motivação e/ou interesse 5 (6,9%)

Falta de informação sobre os fluxos da rede 2 (2,8%)

não sabia que foi sugerido esse encaminhamento 50 (69,4%)

não foi bem tratado(a) pelo serviço de saúde que procurou para receber esse atendimento 2 (2,8%)

Profissionais e/ou infraestrutura insuficiente para prestação do atendimento sugerido 8 (11,1%)

Prolongado período aguardando em uma lista de espera 3 (4,2%)

DIsCussÃoDas 97 sugestões de encaminhamentos registradas con-tidas nos 51 PCs, apenas 25 dessas sugestões (25,8%) fo-ram implementadas, principalmente na rede pública de saúde (92%) e através da atenção primária (68%). Além de uma baixa taxa de implementação, o tempo de espera prolongado (16,60 ± 27,37 semanas [2 – 138]) pode ter sido decisivo na piora do prognóstico clínico-funcional dos idosos de alto risco ou frágeis.

Os serviços de reabilitação, diante de uma demanda maior que a oferta, frequentemente elegem como priori-dade as disfunções agudas com bom prognóstico de rea-bilitação a curto prazo, em detrimento da assistência de idosos com condições crônicas e incapacidades funcio-nais, com um prognóstico de reabilitação limitado a curto prazo. Além disso, mesmo que os tradicionais serviços de reabilitação na atenção secundária provessem uma oferta adequada a essa demanda, muitos desses idosos com incapa-cidades funcionais provavelmente teriam dificuldades de se deslocarem para ambulatórios de reabilitação longe de seus domicílios, 2 ou 3 vezes por semana, se considerarmos a alta prevalência de limitações de mobilidade no idoso, as dificuldades de transporte público para os idosos, conges-tionamentos no trânsito, custo dessa locomoção que fre-quentemente demanda um acompanhante.

Os dados deste estudo mostram que 68% dos enca-minhamentos foram prestados pelos serviços da atenção primária, e apenas 32% na atenção secundária, sendo que os idosos assistidos pela atenção primária apresenta-vam proporcionalmente mais incapacidades funcionais do que os idosos assistidos na atenção secundária. Isso nos faz refletir que provavelmente o modelo de reabili-tação mais adequado, especialmente para o idoso de alto risco ou frágil, deve se basear numa assistência mais re-gionalizada que facilite a acessibilidade do idoso ao ser-viço de reabilitação.

O levantamento suplementar de saúde da Pesqui-sa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2008 identificou que o centro de saúde é o local mais decla-rado como normalmente procurado para atendimento de saúde, principalmente pelas pessoas pertencentes às classes de rendimento mensal domiciliar per capita mais baixas.12 Lacas, 2012, destaca que os atributos constitutivos da APS (ser a porta de entrada preferen-cial da rede, a continuidade e integralidade da atenção e a coordenação da assistência dentro do próprio sis-tema e da atenção centrada na família) são essenciais ao cuidado longitudinal do idoso frágil e de alto risco, além de possibilitar a real percepção das sutilezas in-dividuais de saúde do usuário dentro de seu contexto social.13

O Ministério da Saúde (MS) criou no Brasil, em 1994, Estratégia Saúde da Família (ESF),14 que tem como objetivo orientar a organização da atenção primária no país e, em 2008, criou o Núcleo de Apoio à Saúde da Fa-mília – NASF, que visa a apoiar a inserção da ESF na rede de serviços e ampliar as ações da atenção básica, bem como a sua resolubilidade.15 Hoje, o NASF é a principal referência de reabilitação na atenção primária e, por ser ainda muito novo, vive um processo de reconhecimento desse novo e complexo espaço de saúde que é a APS; pas-sa por uma reflexão e reelaboração das suas práticas de saúde não mais centradas apenas no paciente, mas tam-bém na família e na comunidade; e ainda apresenta uma quantidade de profissionais muito aquém da demanda real da população.

A falta de profissionais e/ou infraestrutura para pres-tação do atendimento sugerido foi o segundo fator di-ficultador para implementação da reabilitação sugerida, o que reflete as dificuldades de insuficiência estrutural e de profissionais em quantidade e formação adequada para suprir as demandas da rede pública de saúde, espe-

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cialmente da APS.20,21 Girondi, 2011, identificou uma a escassez de recursos de acesso ao sistema público de saú-de para pessoas idosas com deficiência física e o descaso do poder público, especialmente mais evidente nos casos de pessoas que têm baixa renda e escolaridade, estando diretamente relacionado aos fatores sociodemográficos, comportamentais e psicossociais.20

Apesar das limitações do sistema de saúde, os idosos que receberam as ações reabilitadoras relataram alta sa-tisfação com nota média de 9,04 ± 1,70. Esses dados que condizem com o levantamento suplementar de saúde da PNAD 2008 que identificou que apesar das dificuldades de acesso, a maioria da população (86,4%) avalia os aten-dimentos da rede saúde como “muito bom ou bom”.12

Os dados deste estudo mostram que 74,2% das su-gestões de encaminhamentos não foram implementadas, mesmo elas sendo reconhecidas como ações importantes para a saúde do usuário em 69,4% casos. Em 88,8% dos casos (22) que receberam a assistência sugerida, o pa-ciente e/ou familiar relataram que tinham conhecimento sobre essas sugestões e que procuraram pelo atendimen-to sugerido. Em 75% dos casos (54) que não receberam a assistência sugerida, o paciente e/ou familiar relataram que não tinham conhecimento sobre essas sugestões e que não procuraram o atendimento sugerido. Parece ha-ver uma tendência a que indivíduos que estavam cientes e que procuram pelo atendimento tenham recebido a as-sistência sugerida.

Na opinião de 69,4% dos usuários e/ou familiares, o principal dificultador para receber a assistência sugerida foi o fato de não saberem sobre essas sugestões de enca-minhamento. Duas hipóteses podem ser levantadas em relação a esse dado. A primeira é a possibilidade de os profissionais que elaboram o PC não informarem aos usuários e/ou familiares a respeito dessas sugestões, por-que, diante de uma avaliação clínica extensa num tempo curto, acabam tendo que priorizar algumas informações em detrimento de outras ou por acreditarem que só o envio do PC à APS seja suficiente para garantir a longi-tudinalidade do cuidado em rede. A segunda hipótese é a possibilidade de os idosos terem sido informados so-bre essas sugestões, mas não compreenderam ou não se lembraram das informações dadas a esse respeito, o que é possível se considerarmos a baixa escolaridade dessa população, comprometimentos cognitivos, limitações de comunicação (baixa acuidade visual e auditiva e com-prometimento de fala),16 e, mesmo que raramente no CMV-IJAF, a ausência de cuidadores e/ou familiares na elaboração do PC.

A noção de sistema traz implícita a ideia de funcio-namento harmonioso entre partes, cada qual com sua “função” que contribua para o bom funcionamento des-se sistema. O conceito de “sistema de saúde” denota uma concepção idealizada, de caráter normativo da saúde, que não se sustenta na prática. Mais do que um “sistema”,

deveríamos pensar em uma rede móvel, assimétrica e in-completa de serviços que operam distintas tecnologias de saúde e que são acessados de forma desigual pelas diferen-tes pessoas ou agrupamentos que deles necessitam.17

As práticas, os arranjos e as políticas de saúde que emer-gem dessa rede são resultantes de uma interação dinâmica, complexa e não predeterminada entre os atores dessa rede (usuário, profissionais e governantes) e seus fatores contex-tuais (ambientais, culturais, políticos e econômicos). O que entendemos como cuidado em saúde é composto de uma complexa trama de atos, de procedimentos, de fluxos, de rotinas e de saberes num processo dialético de complemen-tação, mas também de disputas políticas, relações de domi-nação e defesa por espaços de poder e autonomia.17

Diante desses desafios, mesmo sendo o PC baseado nas melhores evidências científicas e no cuidado centrado no paciente, a assimetria e a complexidade dessa rede exigem a construção de fluxos melhor conectados pela intercomuni-cação de todos os atores (usuários, profissionais e governo) e corresponsabilização destes na execução do plano de cui-dados, a fim de unir esforços que confluem para os mesmos objetivos: evitar intervenções desnecessárias ou iatrogêni-cas e sensibilizar a rede para o cuidado que garanta um en-velhecimento com mais qualidade de vida.

“Pacientes” e seus familiares são historicamente vis-tos como atores subvalorizados, que são passivamente submetidos a ações interventivas. Mas é ilusório imagi-nar que somente profissionais e governantes, atores mi-noritários dessa rede, sejam autossuficientes para garan-tir o perfeito funcionamento desse complexo sistema. É essencial envolver e corresponsabilizar o usuário e sua família nesse processo, não de maneira vertical (sujeito do saber e sujeito da doença), mas numa relação de co-operação horizontal entre o trabalhador e o usuário do serviço de saúde, ambas as partes tendo seus conheci-mentos validados.18 Este estudo indicou que parece ha-ver uma tendência a que indivíduos que estão cientes de suas necessidades de saúde e que procuram por atendi-mento consigam a assistência procurada.

O sistema de saúde é, antes de tudo, um sistema de forças políticas, que nos parece muito explícito na di-mensão da macrogestão das políticas públicas de saúde, mas que também perpassam pela forma com que os ser-viços se organizam em rede e pela organização do traba-lho dentro dos serviços de saúde até alcançar o particular encontro terapeuta/usuário. Por isso, todos os atores des-se sistema são atores políticos que exercem forças nas di-reções dos seus diferentes interesses. O empoderamento dos sujeitos para que sejam protagonistas engajados da sua própria história,18 sensibilizando-os das suas respon-sabilidades políticas em reivindicar seu direito à saúde, garantirá o desenvolvimento de um sistema público de saúde autossustentável e mais efetivo para responder as demandas da população.

Por outro lado, os profissionais de saúde devem buscar

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restabelecer meios de comunicação mais efetivos e escla-recedores para uma população predominantemente de baixa escolaridade, com comprometimentos cognitivos e limitações de comunicação, além de envolver cuidadores e familiares nesse processo.16 A implementação de uma rede de atenção à saúde integral e integrada só será possível se todos os atores desse sistema tiverem uma postura de re-cusa ao reducionismo, recusa à objetivação dos sujeitos e afirmação da abertura para o diálogo.7,19

Algumas limitações desse estudo foram: amostra es-tudada pequena, devido à perda de importante parcela de usuários, por ausência do registro telefônico ou por dificuldade de se estabelecer contato telefônico; a distân-cia temporal entre a elaboração do PC e a entrevista, o que pode ter contribuído para um viés de memória e mi-nimizado outros fatores dificultadores, como o prolon-gado tempo de espera; e a dificuldade de alguns entrevis-tados em definir a importância da assistência de alguns profissionais sobre os quais tinham pouca clareza de suas atribuições (assistente social e terapeuta ocupacional).

CoNCLusÃoEstar ciente dessas sugestões e procurar por esses aten-dimentos parece ser fator importante para que as ações reabilitadoras sejam efetivamente prestadas. Outros es-tudos são necessários para o profundo entendimento das reais limitações quanto à implementação do cui-dado longitudinal, tão imprescindível para o adequado manejo da crescente epidemia de doenças crônicas e de incapacidades funcionais e, consequentemente, a ga-rantia de um envelhecimento mais saudável da popula-ção e economicamente mais sustentável para o Brasil.21

Conflitos de interessesNão houve conflito de interesse.

AgradecimentosAgradecemos aos coordenadores e profissionais do Ins-tituto Jenny de Andrade Faria de Atenção à Saúde do Idoso do Hospital das Clínicas da UFMG pelo apoio a este trabalho.

ReFeRÊNCIAs1. Lima-Costa MF, Camarano AA. Demografia e epidemiologia do en-

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AUTOMEDICAÇÃO EM IDOSOS

QUE FREQUENTAM UM CENTRO

DE CONVIVÊNCIA PARA O IDOSO

Vitor Ângelo Carlúcio Galhardoa, Taciane Procópio Assunçãob

Resumo Entende-se por automedicação um procedimento caracterizado fundamentalmente pela iniciativa de um doente, ou de seu responsável, de obter, produzir e utilizar um produto que acredita que trará benefícios no tratamento de doen-ças ou no alívio de sintomas. Objetivo: Avaliar a automedicação em idosos. Material e métodos: Estudo transversal e descritivo com 104 idosos que frequentaram o Centro de Convivência para o idoso em Pouso Alegre, Minas Gerais. Utilizou-se o questionário para avaliação de automedicação desenvolvido por Servidoni et al. (2006), composto por 16 questões fechadas e 1 aberta para eventuais comentários. Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística descritiva, Teste do Quiquadrado e exato de Fisher. Resultados: Da população avaliada, 14% pertenciam ao gênero masculino, e 86% ao feminino, com média de idade de 69,86 (desvio padrão – DP – 6,20) para os homens e 68,66 (DP: 7,99) para as mulheres. Responderam que já fizeram uso de automedicação 77,3%, dos quais 57,3% eram mulheres, e 20%, homens, sendo que 100 % dos homens compraram medicação para uso próprio; já entre as mulheres, 38% compraram para uso próprio, e 62% para outros membros da família. Quarenta por cento das mulheres e 33% dos homens referiram que já se aconselharam com o balconista na compra de medicamentos; 33% das mulheres e 47% dos homens já receberam conselhos não solicitados nas farmácias. Para as mulheres, os medicamentos mais utiliza-dos foram os analgésicos/antitérmicos (36%), antigripais (29%), anti-inflamatórios (26%); para os homens, foram os medicamentos para disfunção erétil (14%) e antigripais (14%), os mais, sendo cefaleia e sintomas gripais as queixas que mais levaram à automedicação. Conclusão: Observou-se elevada taxa de automedicação na população estudada.

SELF-MEDICATION AMONG ELDERLY PEOPLE AT A SENIOR COMMUNITY CENTER

ABsTRACTSelf-medication is a procedure based on the initiative of a sick person, or it’s responsible, in obtain or produce and use a product that may provide those benefits on the treatment of illnesses or a relief of the symptoms. Objective: Evaluate the self-medication among elderly people. Methods: It is a transverse, descriptive, observational study, involving 104 elderlies of both genders that go to a Senior Community Center, in Pouso Alegre, Minas Gerais. The self-medication questionnaire developed by Servidoni et al. (2006) was used and it contains 16 multiple choice questions and 1 descriptive question to eventual comments. The datas were submitted to descriptive statistical analysis, qui-square test and Fisher’s test. Results: In the studied population, 14% were men and 86% are women, the average of age was 69.86 (SD 6.20) to men, and 68.66 (SD 7.99) to women. At least 77.3% of the sample who answered the questios had already used self-medication, 57.3% wo-men and 20% of men, among men 100% bought the medication for themselves, while 38% of women bought the medica-tions for themselves and 62% bough them for some family members. About 40% of women and 33% of men were adviced by clerks while buying medication, and 33% of women and 47% of men had received advices without asking for. Analge-sics/antipyretics (36%), flu medicines (29%), anti-inflammatory (26%), among women, and for erectile dysfunction (14%) and flu medication (14%) among men, were the most used drugs. Headache and flu symptoms were the most common complaints. Conclusion: It was concluded that there was a high index of self-medication in the studied population.

a Professor do Departamento de Clínica Médica da Universidade do Vale do Sapucaí – UNIVÁS (Pouso Alegre, MG), e Geriatra da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia da Associação Médica Brasileira.b Acadêmica de Medicina, Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade do Vale do Sapucaí – UNIVÁS (Pouso Alegre, MG).

Dados para correspondência Vitor Ângelo Carlúcio Galhardo – Rua Dr. José Marques de Oliveira, 88, Fátima I, Pouso Alegre, MG. CEP: 37550-000. Tel.: (35) 3421-6816. E-mail: [email protected]

Palavras-chave Automedicação,

idoso, envelhecimento.

Keywords Self-medication,

aged, aging.

Artigo or iginal

AO3 Automedicacao em Idosos emendas.indd 108 10/1/13 3:29 PM

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Automedicação em idosos | 109

INTRoDuÇÃoPode-se entender por automedicação um procedimen-to caracterizado fundamentalmente pela iniciativa de um doente, ou de seu responsável, de obter ou produzir e utilizar um produto que acredita que lhe trará bene-fícios no tratamento de doenças ou alívio de sintomas.1

Ela abrange as diversas formas pelas quais o indiví-duo ou responsáveis decidem, sem avaliação médica, o medicamento e como irão utilizá-lo para o alívio sin-tomático e a “cura”, compartilhando remédios com ou-tros membros da família ou do círculo social, utilizan-do sobras de prescrições ou descumprindo a prescrição profissional, prolongando ou interrompendo precoce-mente a dosagem e o período de tempo indicados na receita.2

Em alguns países com sistema de saúde pouco es-truturado, a ida à farmácia representa a primeira op-ção procurada para resolver um problema de saúde, e a maior parte dos medicamentos consumidos pela popu-lação é vendida sem receita médica.3

A familiaridade do leigo com os medicamentos, as experiências positivas anteriores e a dificuldade de aces-so a serviços de saúde são fatores que contribuem para a automedicação. Apesar de constituir prática que pode tornar fácil o autocuidado, permitir a recuperação de pequenas indisposições e aliviar a sobrecarga dos servi-ços médicos, existe a possibilidade de agravamento de problemas de saúde, como aqueles causados por doen-ças infectocontagiosas, em que a carência de tratamento adequado faz com que enfermos permaneçam transmis-sores inclusos. Além do atraso na busca do tratamento mais adequado, interações entre medicamentos, risco de reações adversas, toxicidade e abuso no consumo de me-dicamentos tornam-se possíveis.4

No Brasil, estudos populacionais sobre o consumo de produtos farmacêuticos evidenciam o uso crescente com a idade.5

Os idosos brasileiros constituem 50% dos multiu-suários de fármacos. Por essa razão, a literatura aponta a relação entre o crescente uso de medicamentos e o aparecimento de diversos problemas relacionados aos medicamentos.6

Em Unidades Básicas de Saúde, observa-se que os indivíduos e, particularmente, os idosos, utilizam dife-rentes práticas terapêuticas para buscar alívio ou cura de algum desconforto físico ou mental. Assim, fazem uso de chás e remédios caseiros, bem como procuram por atendimentos de terapeutas populares e utilizam a automedicação, entre outras práticas.7

A população idosa apresenta peculiaridades em relação ao uso de medicamentos, devido a alterações da massa corporal, com diminuição da proporção de água, diminuição das taxas de excreção renal e do me-tabolismo hepático, tendendo a aumentar as concen-

trações plasmáticas dos medicamentos, incrementando as taxas de efeitos tóxicos. Como consequência, cerca de 10-20% das internações hospitalares de idosos nos Estados Unidos decorrem de reações adversas por me-dicamentos.8

O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência de automedicação em um grupo de idosos que frequen-tam um centro de convivência para o idoso.

mÉToDosEstudo transversal, descritivo, observacional.

A pesquisa foi realizada no Centro de Convivência para o Idoso, no município de Pouso Alegre, Minas Ge-rais, no ano de 2010. Frequenta o centro um grupo de idosos ativos, independentes, onde desenvolvem ativida-des de lazer e recebem informações para um envelheci-mento saudável.

A amostra estudada foi de 104 idosos, sendo 89 do sexo feminino, e 15 do sexo masculino.

Apenas os indivíduos que aceitaram participar da pesquisa e que assinaram o Termo de Consentimento Li-vre e Esclarecido foram incluídos neste estudo. Aqueles que se recusaram a responder o questionário, que não assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclareci-do ou que possuíam algum tipo de deficit sensitivo que dificultasse a comunicação com as pesquisadoras, foram automaticamente excluídos do estudo.

Foi utilizado o questionário “Perfil da automedicação nos pacientes otorrinolaringológicos” desenvolvido por Servidoni et al. 2006.9 Trata-se de um questionário com 16 questões de múltipla escolha e 1 questão descritiva para comentários e sugestões, todas de fácil compreen-são, aplicado mediante entrevista pelos pesquisadores.

Os dados obtidos foram submetidos a análise estatís-tica descritiva, Teste do Quiquadrado e exato de Fisher, pelo programa Bioestat® 5.0. Para todos os procedimen-tos, adotou-se um intervalo de confiança de 5% (p ≤ 0,05).

O projeto foi aprovado pelo comitê de ética em pes-quisa da Universidade do Vale do Sapucaí (UNIVÁS), sob o Registro no 1.211/09.

Estudo em acordo com os princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki, da World Medical Association.

Os autores negam conflito de interesse.

ResuLTADosForam avaliados 104 idosos (Tabela 1).

Analisando os dados obtidos, observou-se que 20% dos homens e 57,3% das mulheres referiram já ter fei-to o uso de automedicação. Destes, todos os homens (100%) compraram o medicamento para uso próprio, enquanto somente 38% das mulheres compraram para uso próprio, sendo o restante (62%) destinado a outros membros da família ou conhecidos. Os medicamentos mais utilizados encontram-se na Figura 1.

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Tabela 1 Características sociodemográficas

Homens mulheres

Número de indivíduos 15 89

Porcentagem 14% 86%

média de idade 69,86 anos (± 6,20) 68,6 anos (± 7,99)

estado civil

7% solteiros 10% solteiras

27% casados 18% casadas

53% viúvos 54% viúvas

13% divorciados 11% divorciadasMedicamentos mais utilizados de acordo com o gênero (%)

Homens (%) Mulheres (%)

0 10 20 30 40

Analgésico/Antitérmico

Gripes/Resfriados

Anti-inflamatório

Xaropes

Disfunção erétil

36

7

29

14

26

24

14

Figura 1 Medicamentos mais utilizados de acordo com o gênero (%).

Quando questionados sobre terem esquecido, em alguma ocasião, a receita na hora da compra, 7% dos homens e 12% das mulheres afirmaram que o fato já havia ocorrido.

Quarenta por cento das mulheres entrevistadas re-feriram já ter se aconselhado com o balconista para comprar medicações. Entre os homens, a porcentagem foi de 33%.

Sobre receber conselhos na farmácia sem solicita-ção, 33% das mulheres e 47% dos homens relataram que já receberam esse tipo de conselho.

Vinte e oito por cento das entrevistadas e 20% dos entrevistados afirmaram já terem usados receitas anti-gas para comprar medicamentos. Entre os indivíduos do gênero feminino, 92% usaram receitas próprias; no masculino, o índice foi de 67%.

Setenta e seis por centro dos medicamentos com-prados pelas mulheres e 33% dos medicamentos compra-dos pelos homens necessitavam de apresentação obri-gatória da receita médica.

Os principais sintomas que levaram à automedica-ção estão identificados na Figura 2.

Quanto ao número de princípios ativos encontrados nesses medicamentos, nenhum homem soube respon-der a questão. Dentre as mulheres, 16% afirmaram que continha 1 princípio ativo, 8% que continha 2 princí-pios ativos, 20% que continha 3 ou mais princípios ati-vos, e o restante não soube ou não respondeu. Quanto ao período no qual o medicamento foi utilizado, 10% das mulheres usaram a medicação por até 1 dia; 10% usaram por até 2 dias; 10%, de 3-5 dias; 17%, por mais

de 5 dias; e 11% não responderam. Entre os entrevista-dos do sexo masculino, obteve-se a taxa de 7% entre os que usaram a medicação por 3-5 dias e 14% por mais de 5 dias.

Os idosos também foram questionados a respeito da frequência com que iam ao consultório médico. 15% das mulheres tiveram sua última consulta médica há menos de 1 semana; 27% entre 1 semana e 1 mês; 22% entre 1-3 meses; 19% há mais de 3 meses; 8% não se lembravam; e 9% não responderam. Entre os homens, 46% tiveram a última consulta médica entre 1 semana e 1 mês, 20% entre 1-3 meses, e 33% há mais de 3 meses.

Ao cruzar os resultados obtidos entre os gêneros, ob-tivemos significância estatística em 2 itens: quando per-guntados se já se aconselharam com terceiros, no gênero masculino, nenhum entrevistado se aconselhou com vi-zinho, amigo ou parente; já entre as entrevistadas do gê-nero feminino, 22% se aconselharam com vizinho, 33% com amigos, 39% com parente, 22% com outros e 6% não responderam (p* = 0,0109). Outro item foi a respei-to do seguimento das informações contidas na bula do medicamento: 39% das mulheres e 7% dos homens dis-seram terem seguido as instruções da bula (p* = 0,006).

No item referente a sugestões, somente 2 idosos res-ponderam, referiram fazer uso de automedicação pela dificuldade em agendar uma consulta.

DIsCussÃoA diferença em relação ao total de homens e mulheres participantes do presente estudo nada mais é do que a maior longevidade dos indivíduos do sexo feminino. Estudos apontam para a maior sobrevida das mulheres, sendo que elas representam 61,8% da população aqui es-tudada, assim como encontrado em outros estudos.10,11

A feminilização do processo de envelhecimento ocorre não só pelo fator protetor dos hormônios femini-nos em relação à isquemia coronariana, como por outros fatores: diferença de exposição às causas de risco de tra-balho, diferenças no consumo de álcool e tabaco, maior atenção ao aparecimento de sintomas e maior liberdade para expressar seus sintomas físicos.12

Sintomas referidos de acordo com o gêneroque mais levaram a automedicação (%)

Homens (%)Mulheres (%)

0 10 20 30

Resfriados/Gripes

Dor de cabeça

Sinusitee rinite

Alergiase infecçõesde garganta

Refluxo e febre

24

19

10

9

7

13

7

7

Figura 2 Sintomas referidos de caordo com o gênero que mais levaram a automedicação (%).

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Automedicação em idosos | 111

As mulheres utilizaram automedicação no presente estudo mais para outros membros da família ou conhe-cidos (62%), que para uso próprio (38%).

A literatura que trata dessa temática aponta a figura feminina como a grande responsável pela função de cui-dadora familiar, representada principalmente por esposa e filhas.13

Essa disponibilidade deverá decair marcadamente pela crescente incorporação da mulher como principal cuidadora à força de trabalho fora do domicílio.14

Num estudo realizado por Bortolon et al., 30,8% das idosas estudadas faziam uso de 1 ou mais produtos sem prescrição médica. Essa frequência de utilização de me-dicamentos por automedicação foi maior que a relatada por Miralles, em que 18% dos idosos usavam produtos adquiridos sem prescrição.4

No trabalho de Barros e Sá et al.,8 60% dos idosos (incluindo homens e mulheres entre 60-70 anos) prati-cavam a automedicação. Segundo o autor, a automedi-cação constitui uma prática universal, presente nas mais diversas sociedades e culturas, independentemente do seu grau de desenvolvimento socioeconômico. De acor-do com a Associação Brasileira das Indústrias Farmacêu-ticas (ABIFARMA), cerca de 80 milhões de brasileiros seriam adeptos da automedicação. Em seu estudo, entre aqueles que fazem uso de medicamentos sem receita mé-dica houve predomínio dos analgésicos (30,0%), segui-dos dos antipiréticos (29%). Os motivos mais frequen-tes apresentados, com relação aos sintomas que levam os participantes à utilização de medicamentos por conta própria, os mais citados foram a dor (38,3%), seguida de febre (24,4%), diarreia (8,0%), pressão alta (8,0%) e tosse (5,2%).8

No Brasil, o fenômeno do envelhecimento da po-pulação é recente, mas a prevalência de automedicação encontrada é similar a de países desenvolvidos e latino- americanos: Espanha (40%), Estados Unidos (50%), Cuba (41%) e México (53,5%).15-19

Estudando a automedicação na cidade de Quito, Equador, avaliaram-se 455 pessoas, das quais 36% reve-laram fazer uso de automedicação. Foi observado que os grupos farmacológicos mais utilizados foram os analgé-sicos (46,4%), antibióticos (22,8%) e anti-inflamatórios (9,1%).8,20

No presente estudo, os medicamentos mais utiliza-dos entre as mulheres foram analgésicos/antitérmicos (36%), remédios para gripes/resfriados (29%), anti-in-flamatório (26%) e xaropes (24%). Dentre os homens, os achados foram de 14% para remédios para gripes e resfriados, 14% para medicamentos de disfunção erétil e 7% para analgésicos. O uso de medicação para disfunção erétil sem prescrição encontrado nesse estudo mostra o desconhecimento dos riscos dessa clase de medicamen-tos, interagindo com os vasodilatadores muito frequen-temente utilizados pelos idosos.

Os sintomas nesse estudo que mais levaram as idosas a praticarem a automedicação correspondem a resfria-dos e gripes (24%), dor de cabeça (19%), sinusite e rinite (10%), alergias e infecções de garganta (9%), refluxo e febre (7%). Entre os idosos os motivos foram: gripe e res-friado (13%), dor de cabeça (7%), febre ou refluxo (7%).

Em estudo realizado no sul do país, dos idosos entre-vistados 62 (80,5%), referiram automedicar-se. Quando avaliadas as situações em que os idosos se automedicam, observou-se que geralmente os idosos referiram utilizar medicamentos para poucas situações clínicas: 52 (83,9%) responderam para até 3 situações, sendo que as mais co-muns foram a dor, com 53 (38,0%) citações; os problemas estomacais com 14 referências (10,6%); e a depressão com 11 (8,0%) idosos referindo adotar a automedicação para esta situação. Quando indagados sobre o motivo que leva os idosos a se automedicarem nessas situações, os entre-vistados referiram a praticidade em 45,3% dos casos, e o fato de serem sintomas de problemas simples em 33,6% das vezes. Quando indagados sobre a seleção do mane-jo adotado, observou-se que, na maioria das vezes, 55,9% (76 situações) relataram receber orientação de amigos, vi-zinhos ou familiares,22 fato esse também encontrado nesse estudo, principalmente pelas mulheres.

A automedicação foi encontrada em 42,3% dos idosos participantes na cidade de São Paulo, Estudo SABE (Saú-de, Bem-estar e Envelhecimento), sendo os analgésicos e os anti-inflamatórios os medicamentos mais utilizados.19 Estudo de base populacional sobre consumo de medica-mentos na cidade de Campinas, SP, avaliou o uso de au-tomedicação em idosos nos 3 dias anteriores à entrevis-ta. Entre os 1.515 entrevistados, 91% referiram consumo exclusivo de medicação prescrita, e 8,9% referiram auto-medicação, acompanhando medicação prescrita, sendo os analgésicos dipirona e paracetamol, mais ginkgo bilo-ba, as drogas mais utilizadas.23 Esses achados diferem da maioria dos estudos sobre idosos e automedicação como o encontrado nessa investigação, mostrando um maior co-nhecimento da população estudada, dos riscos inerentes a essa arriscada e costumeira prática entre os idosos, ob-jetivo a ser alcançado como projeto de política de saúde.

No presente estudo, por tratar-se de um grupo com práticas voltadas ao envelhecimento bem-sucedido, espe-rava-se uma taxa de automedicação bem menor do que a encontrada, mostrando como essa prática encontra-se incorporada às vivências das pessoas, e o quanto é dificil modificar hábitos de vida, principalmente entre os idosos.

Falar de envelhecimento sem doenças seria utopia, já que esse processo se faz acompanhar de comorbidades, conforme a carga genética e o estilo de vida de cada um.

O envelhecimento populacional vem acontecendo de forma muito rápida, e o Brasil não vem se preparando para o desafio dessa transição.

A automedicação leva à iatrogenia causada pelo efeito colateral de um fármaco ou a interação com medicamen-

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tos em uso por prescrição, nessa parcela da população que habitualmente já é polimedicada, muitas vezes por falta de conhecimento dos profissionais de saúde do processo na-tural de envelhecimento (senescência), e pela facilidade de se adiquirir medicamentos sem prescrição. Esses fatores tornam a automedicação um desafio político e social não só da área da saúde, com movimentos que regularizem essa prática tão perigosa principalmente entre os idosos, que apresentam maior vulnerabilidade às modificações na farmacocinética e na farmacodinâmica das drogas.

CoNCLusÃoObservou-se elevada taxa de automedicação na popu-lação estudada (77,3%) e a necessidade de ações educa-tivas para conscientizar principalmente essa crescente parcela da população, com maior vulnerabilidade e fra-gilidade, dos riscos da automedicação.

Conflitos de interessesOs autores declaram não possuir nenhum conflito de interesse.

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Estilo de vida e saúde de idosos | 113

estilo De viDa e saÚDe De uM GRuPo

De iDosos De FRanca, sP

Betânia de andrade Monteiroa, Magali Monteirob

Resumo A população de idosos vem aumentando no Brasil e no mundo, indicando a necessidade de rever os cuidados de saúde do idoso em busca de melhor qualidade de vida. Objetivo: Avaliar o estilo de vida e estado de saúde de idosos participantes da Universidade Aberta a Terceira Idade (UNATI) de Franca, SP. Métodos: Sessenta idosos responderam a questionários com questões socioeconômicas, cuidados de saúde, hábitos alimentares e estilo de vida, e passaram por avaliação antropométrica e exames laboratoriais. Resultados: Houve prevalência de mulheres (85%), indivíduos com idade entre 60 e 69 anos (60%), com nível de instrução até ensino médio (60%), aposentados (65%) e com renda de até 5 salários mínimos (73,4%). A maioria dos idosos fazia acompanhamento médico (65%) e uso contínuo de medicamen-to (78,3%); 80% relataram estar com a pressão arterial controlada, e 100%, não fumar (100%). Dos entrevistados, 71,7% acreditavam que sua alimentação era saudável, 97% faziam as refeições em casa, 85% escolhiam e preparavam seus alimentos, 65% faziam 5-6 refeições por dia, 63% bebiam menos de 1 L água/dia, 90% tinham bom funcionamento do intestino e 43,3% realizavam atividade física regularmente. Apenas 13,3% faziam reposição hormonal, 18,3% consumiam suplemento alimentar e 21,7% ingeriam bebida alcoólica. Os participantes apresentaram índice de massa corporal (IMC) de 27,49 ± 4,5 kg/m², com prevalência em excesso de peso e eutróficos, cujos valores redu-ziram com a idade. Os valores de circunferência de panturrilha (CP = 36,27 ± 3,84 cm), circunferência do braço (CB = 31,39 ± 4,08 cm) e dobra cutânea tricipital (DCT = 20,58 ± 7,54 mm) demonstraram adequação na maioria dos casos (96,7%; 85% e 83,3% respectivamen-te). Os idosos apresentaram colesterol (Col) 198,53 ± 35,2 mg/dL, com 55% na faixa considerada ótima. Apresentaram HDL (53,58 ± 10,9 mg/dL) e triglicérides (143,97 ± 92,37 mg/dL) dentro do recomendado 63,3% e 68,3% dos idosos, respectivamente. Estavam com glicemia normal 51,7%; 38,3% na faixa de risco, e 10% com glicemia alta, indicando diabetes. Conclusão: Grande parte dos idosos apresentou IMC acima do normal, com sobrepeso ou obesidade; porém, os participantes podem ser considerados saudáveis pelos parâmetros de CB, CP e DCT, hábitos alimentares, cuidados de saúde e estilo de vida.

liFestYle anD HealtH oF an elDeRlY GRouP FRoM FRanca, sPABsTRACTThe increase of elderly population in Brazil and all around the world shows the need of reviewing the health cares in order to get a better quality of life. Objective: To evaluate lifestyle and health care of elderly participants of UNATI, Franca, SP. Methods: Sixty elderlies answered a questions about socio-economic issues, health care, food consumption habits and lifestyle, after, they were submitted to anthropometric and laboratory tests. Results: There was a prevalence of women (85%), aged between 60-69 years old (60%), up to high school (60%), retired (65%), income up to 5 minimum wage (73.4%). Most seniors assessed medical care (65%) were in use of long-term medicines (78.3%), they reported to control blood pressure (80%) and to not smoke (100%). About 71.7% people believed to have a healthy diet, 97% took meals at home, 85% chose and prepared their own food, 65% had 5-6 meals/day, 63% drank 1L of water/day, 90% had bowel function and 43.3% practices a regular physical activity. Only 13.3% have done hormone replacement therapy, 18.3% take dietary supplements and 21.7% drink alcoholic drinks. The participants presented a BMI of 27.49 ± 4.5kg/m², prevalence of overweight and eutrophy, which values decreased with age. Leg circumference (LC) (36.27 ± 3.84 cm), Arm circumference (AC) (31.39 ± 4.08 cm) and triceps skinfolds (TS) (20.58±7.54mm) values were suit in most cases (96.7, 85 and 83.3%, respectively). Serum total cholesterol values were 198.53 ± 35.2mg/dL, 55% were consi-dered optimum. About 63.3% and 68.3% of the elderlies, respectively, presented a high density lipoproteins (HDL) (53.58± 10.9mg/dL) and triglycerides (TG) (143.97 ± 92.37mg/dL) according to the recommendation and 51.7% of the elderlies had normal glycemia, 38.3% had risk and 10% showed high blood glucose, indicating diabetes. Conclusion: Many elderlies had body mass index (BMI) above normal, indicating overweight or obesity, but the participants can be considered healthy because of AC, LC and TS values, diet habits, health care and lifestyle.

Palavras-chave Estado

nutricional, idoso, IMC,

antropometria, exames de sangue.

Keywords Nutritional status,

aging, BMI, anthropometry,

hematologic tests.

Artigo or iginal

a Doutora em Alimentos e Nutrição pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), Araraquara, SP, Brasil. Curso de Nutrição da Universidade de Franca (UNIFRAN), Franca, SP, Brasil. Responsável pela parte experimental, coleta de dados, análise, interpretação dos dados e elaboração do artigo.b Departamento de Alimentos e Nutrição da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Araraquara, SP, Brasil; Responsável pela supervisão do trabalho e elaboração do artigo.

Dados para correspondência Magali Monteiro da Silva – Departamento de Alimentos e Nutrição/Faculdade de Ciências Farmacêuticas/UNESP, Araraquara, SP, Brasil. Caixa Postal: 502. Rodovia Araraquara-Jaú, km 1, Araraquara, SP, Brasil, CEP: 14801-902. E-mail: [email protected]

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INTRoDuÇÃoA população de idosos vem aumentando em todo o mundo nas últimas décadas. Nos países desenvolvidos, o envelhecimento populacional ocorre mais lentamen-te.¹ No Brasil, os idosos somavam 23,5 milhões em 2011, mais que o dobro do registrado em 1991 (10,7 milhões).² O crescimento acelerado da população de idosos no Brasil implica a necessidade de revisão das condições de saúde dessa população, seus determinantes e consequên-cias para os sistemas sociais e de saúde.³

O indivíduo pode ser considerado idoso a partir dos 65 anos em países desenvolvidos e acima de 60 anos em países em desenvolvimento.4 No Brasil, o Estatuto do Idoso estabelece como idoso pessoas acima de 60 anos.5

O envelhecimento é um processo natural que ocor-re em todo organismo vivo e está fortemente associado ao aparecimento de diversas doenças infecciosas, crô-nicas, neurodegenerativas e cardiovasculares.¹ As mo-dificações anatômicas e funcionais nos idosos também podem influenciar o seu estado nutricional. As altera-ções de olfato, paladar, visão e de coordenação motora fina podem levar o idoso a evitar os alimentos de difícil preparo e, assim, contribuir para a ingestão inadequa-da. Dessa forma, o envelhecimento está associado a mudanças na composição corporal, em decorrência de mudanças fisiológicas, do metabolismo e da demanda nutricional.6

Na Inglaterra, entre 1992-2007, houve piora na ca-pacidade auditiva, na mobilidade e na capacidade para realizar atividades da vida diária como se alimentar, to-mar banho e ir ao toalete, sendo a evolução desse quadro inversamente relacionada com a renda. Idosos com nível socioeconômico mais alto apresentaram melhora desses indicadores no mesmo período.7 No Brasil, comparando 1998 e 2008, ocorreram mudanças nos padrões de usos de serviços de saúde por idosos, como aumento das con-sultas médicas, redução das hospitalizações e aumento na afiliação a plano privado de saúde.8

As alterações fisiológicas podem comprometer a saúde, o desempenho e até mesmo a qualidade de vida dos idosos.8 Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o indivíduo idoso com boa qualidade de vida possui o mínimo de condições para desenvolver suas potencialidades, com atividades de trabalho e de lazer, relacionando-se e interagindo com a sociedade.9

Estudos sobre o estado de saúde e a qualidade de vida na velhice podem contribuir para o entendimento dos li-mites do ser humano, como também auxiliar na geração de alternativas de intervenção para essa crescente parcela da população.10,11 O estado de saúde e a qualidade de vida das pessoas idosas podem estar associados não somente à evolução da tecnologia e da Medicina, mas, também, ao lazer e à vivência em grupos, que contribuem tanto para a manutenção do equilíbrio biopsicossocial, quanto

para atenuar possíveis conflitos ambientais e pessoais.12

Estudos realizados com idosos institucionalizados demonstraram as limitações da idade em situações de sedentarismo, relacionadas principalmente a limitações motoras e psicológicas, baixo peso e perda de massa muscular.13 Em contrapartida, estudos realizados com idosos participantes de atividades em grupo mostraram uma tendência ao peso inadequado por excesso (sobre-peso ou obesidade), mas preservação da massa magra. A relação estabelecida no grupo de idosos proporciona além do benefício físico, estabelecer amizades, bate--papos, novos conhecimentos etc., que integram esses indivíduos, promovendo bem-estar e melhor qualidade de vida.14 A manutenção do peso adequado para a idade, a prática de atividade física e o acompanhamento do es-tado de saúde são formas de garantir a qualidade de vida do idoso.9

A avaliação do estado nutricional do idoso deve considerar diversos fatores para possibilitar o adequado diagnóstico nutricional e prevenir doenças decorrentes da desnutrição, subnutrição ou obesidade. Alterações fisiológicas, patologias crônicas e situações individuais típicas do envelhecimento geralmente interferem no estado nutricional do indivíduo. A antropometria e os exames laboratoriais podem auxiliar no diagnóstico do estado nutricional e de saúde dos indivíduos.15 Alguns marcadores bioquímicos, como glicemia, colesterol total e triglicérides podem evidenciar a qualidade da dieta e a resposta metabólica.16

O presente estudo teve como objetivo avaliar o estilo de vida e o estado de saúde de idosos participantes de atividades em grupo de Franca, SP.

meToDoLoGIA

AmostraParticiparam deste trabalho 60 indivíduos, frequentado-res do grupo da Universidade da Terceira Idade (UNATI) da UNESP de Franca, SP, com idade superior a 60 anos. A UNATI oferece cursos gratuitos a indivíduos com mais de 60 anos que tenham interesse de frequentar aulas de informática básica e avançada, ioga, biodança, música, coral, filosofia e história da arte. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa Humana da Univer-sidade de Franca (UNIFRAN), Franca, SP (Parecer no 0026/11). Foram excluídos da pesquisa indivíduos que tiveram infecções nas 2 semanas anteriores à realização dos exames laboratoriais, doenças autoimunes, neopla-sias em tratamento e/ou pacientes portadores de HIV.

Caracterização da população em estudoOs idosos responderam a questionário contendo perguntas sobre o sexo, idade, escolaridade, profissão e renda, além de perguntas sobre cuidados de saúde e estilo de vida.

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Estilo de vida e saúde de idosos | 115

Os hábitos alimentares foram avaliados utilizando questionário contendo perguntas sobre o quão saudá-vel o participante considerava sua alimentação, a média mensal de gastos com a alimentação, quem escolhia e preparava os alimentos, o local da alimentação, a mé-dia diária de ingestão de água e o funcionamento do intestino.

AntropometriaForam realizadas medidas de peso, estatura, circun-ferência do braço (CB) e da panturrilha (CP), dobra cutânea do tríceps (DCT) e dobra cutânea subesca-pular (DCSE).16 O peso corporal foi avaliado usan-do balança da marca Filizola® com capacidade para 150 kg e graduação de 0,1 kg, nivelada e calibrada. Du-rante a medição do peso, os participantes permanece-ram imóveis sobre a balança, com os braços estendidos ao longo do corpo, os pés juntos, sem sapatos e trajan-do roupas leves. A estatura (m) foi avaliada utilizando fita métrica inextensível. Os indivíduos estavam em pé, eretos, de costas para a escala de estatura, braços estendidos ao longo do corpo e com os olhos em linha paralela ao solo. O Índice de Massa Corpórea (IMC) foi calculado e classificado de acordo com Lipschitz (1994). Indivíduos com IMC < 22 kg/m² foram clas-sificados como apresentando magreza; com IMC ≥ 22 e IMC ≤ 27 como eutróficos; e com IMC > 27 como apresentando excesso de peso.17,18

As medidas de CB e CP foram obtidas com fita métrica. A medida de CB foi coletada no braço não dominante. O ponto médio entre as extremidades do processo acromial da escápula e o olécrano da ulna foi determinado com o braço relaxado e estendido ao lon-go do corpo. A medida de CP foi feita com o indivíduo em pé, circundando a fita métrica horizontalmente na perna não dominante.16 A CP foi classificada conforme os critérios da OMS.4 A medida da DCT foi tomada no mesmo ponto médio da CB. Para a medida da DCSE, o indivíduo estava com o braço não dominante flexiona-do atrás das costas. A dobra foi destacada e a medida coletada de forma que fosse observado um ângulo de 45° entre a escápula e a coluna vertebral. Foi utilizado o adipômetro skinfold caliper da marca Sanny®, com pressão de 10 g/mm². Todas as medidas foram feitas em triplicata.16

exames laboratoriais Foram avaliados o perfil lipídico: colesterol total (Col), lipoproteínas de alta densidade (HDL, high density li-poprotein), triglicerídes (TG) e lipoproteínas da baixa densidade (LDL, low density lipoprotein), glicemia, tran-saminase g. pirúvica (TGP) e proteína C reativa (PCR). As determinações foram realizadas usando métodos de rotina do Laboratório de Análises Clínicas da UNIFRAN,

Franca, SP. As amostras de sangue foram coletadas no pe-ríodo da manhã, estando o voluntário em jejum de 12 h.

Análise estatísticaFoi realizada a análise de frequência dos resultados usan-do o software Microsoft Office Excel® 2007. O teste de Kruskal Wallis foi utilizado para avaliar diferenças esta-tísticas (p ≤ 0,05) entre as faixas etárias de idosos usando o software GraphPad Prism® versão 5.0.

ResuLTADos e DIsCussÃoPara reunir os interessados em participar desta pesquisa, foram ministradas palestras sobre alimentação saudável na UNATI. Os idosos foram esclarecidos sobre sua par-ticipação como voluntários e responderam aos questio-nários de anamnese e alimentação, tendo sido assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A ava-liação antropométrica foi realizada quando do recolhi-mento dos questionários. Para a coleta de sangue e urina, os idosos foram reunidos e levados até o Laboratório de Análises Clínicas da UNIFRAN.

Caracterização dos idososDentre os idosos participantes, houve prevalência de mulheres (85%), indivíduos com idade entre 60 e 69 anos (60%), com escolaridade até o ensino médio (60%), aposentados (65%) e com renda de até 5 salá-rios mínimos (73,4%). A maioria dos homens (66,6%) tinha 70 anos ou mais, enquanto a maioria das mulhe-res (64,7%) tinha menos de 70 anos. Dentre os idosos aposentados, 53,8% tinham entre 60-69 anos, e 35,9% entre 70-79 anos. Embora a maioria dos idosos tives-se escolaridade até o ensino médio e renda até 5 salá-rios mínimos, observou-se que a maior porcentagem de idosos com curso superior e pós-graduação e com renda acima de 5 salários mínimos estava entre os ido-sos com 60-69 anos (Tabela 1). Estudos populacionais ou com grupos de idosos revelaram perfil semelhante àquele dos idosos participantes deste trabalho. Avalian-do uma população de cerca de 41 mil idosos em 2008, Lima et al.3 (2012) relataram que a maioria da popula-ção (56,2%) também era de mulheres. No inquérito de saúde realizado entre 2008 e 2009 com 1.432 idosos e no inquérito populacional com 345 idosos,19,20 a maio-ria era de mulheres (65,2% e 57,2%, respectivamente), com idade entre 60 e 69 anos (56,0% e 57,9%, respecti-vamente) e com tempo de estudo de até 4 anos (47,0% e 48,4%, respectivamente). A renda foi de até 3 salários mínimos para 80,2% dos participantes e de até 5 salá-rios mínimos para 74% dos idosos.19,20 Serbin e Figuei-redo (2012) avaliaram a qualidade de vida de um grupo de idosos composto por 93% de mulheres, 66,7% apo-sentados, 60% com escolaridade até o ensino médio, e 93,3% com renda de até 3 salários mínimos.11

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Tabela 1 Dados sociodemográficos de um grupo de idosos (n = 60) de Franca, SP, 2011, segundo a faixa etária

Dados sociodemográfico

Total (%)60-69 anos (%)

70-79 anos (%)

≥ 80 anos (%)

Idade 60 30 10

sexo

Masculino 15 33,3 22,2 44,4

Feminino 85 64,7 31,4 3,9

escolaridade

Fundamental incompleto 6,7 25 50 25

Fundamental 23,3 42,9 28,6 28,6

ensino médio 30 72,2 27,7 0

superior incompleto 3,3 50 50 0

superior 30 66,7 27,8 5,5

Pós-graduação 6,7 75 25 0

Profissão

aposentado 65 53,8 35,9 10,3

Do lar 25 80 13,3 6,7

outras 10 50 33,3 16,7

Renda mensal

< 1 sM 10 66,7 16,7 16,7

De 1 a 2 sM 21,7 53,8 46,2 0

De 2 a 5 sM 41,7 68 16 16

De 5 a 10 sM 21,7 46,2 46,2 7,7

> 10 sM 5 66,7 33,3 0

SM: salário mínimo.

Dos idosos avaliados nesta pesquisa, 65% faziam acompanhamento médico, 78,3% faziam uso contínuo de medicamento, e 80% relataram estar com a pressão arterial controlada. Apenas 13,3% faziam reposição hor-monal e 18,3% consumiam algum tipo de suplemento alimentar. Não havia idosos fumantes no grupo e ape-nas 21,7% relataram ingerir algum tipo de bebida alco-ólica. A maioria relatou acreditar que a sua alimentação era saudável (71,7%), 10% disse ter algum tipo de aler-gia alimentar; 16,7% seguia alguma dieta específica; e 43,3% realizavam atividade física regularmente (≥ 2 ×/semana). A maioria dos idosos relatou fazer as refeições em casa (97%), escolher e preparar os alimentos (85%), fazer 5 a 6 refeições por dia (65%), beber pouca água (≤ 1 L/dia) (63%) e ter bom funcionamento do intesti-no (≥ 1 ×/dia) (90%) (Tabela 2). Pode-se dizer que os hábitos alimentares são condizentes com aqueles de um grupo com maioria de mulheres de 60 a 69 anos, mas que pode ser considerado diferenciado, pelos cuidados médicos preventivos e estilo de vida saudável.

Tabela 2 Atenção à saúde, estilo de vida e hábitos alimentares de um grupo de idosos (n = 60) de Franca SP, 2011

Respostas sIm para cuidados de saúde e estilo de vida %

Faz acompanhamento médico 65

Faz uso de medicamento de uso contínuo 78,3

Faz reposição hormonal 13,3

Faz uso de suplemento alimentar 18,3

Pressão arterial controlada 80

Fumante 0

Ingere bebida alcóolica 21,7

Acredita que sua alimentação é saudável 71,70

Possui alergias alimentares 10

Faz alguma dieta específica 16,7

Pratica algum exercício físico regularmente (≥ 2 x/semana) 43,3

Gastos individuais mensais com alimentação

< R$ 150,00 12

de R$ 151,00 a R$ 300,00 33

> R$ 300,00 17

não sabe informar 38

Local da alimentação diária

em casa 97

casa de parentes 0

em restaurantes 3

Quem escolhe e prepara os alimentos

a própria pessoa 85

o cônjuge 10

outros 5

Número de refeições por dia

3 ou 4 ref/dia 30

5 ou 6 ref/dia 65

≥ 7 ou mais ref/dia 5

Ingestão de água

1 l ou menos/dia 63

> de 1 l e < de 2 l/dia 33

> de 2 l/dia 3

Funcionamento do intestino

≥ 1 x/dia 90

1 x/2 dias 3

1 x/3 dias ou mais 7

AntropometriaOs indicadores antropométricos são considerados es-senciais para a avaliação nutricional geriátrica. A aferi-ção da estatura deve ser realizada em indivíduos após os 60 anos, já que o decréscimo da estatura é comum com o aumento da idade, e o relato pode ser diferente da medi-da.15 A estatura dos idosos foi 1,59 ± 0,07 m. Observou-se redução da média da estatura entre os indivíduos de 60-69 para 70-79 anos, embora esse declínio não tenha con-tinuado para os indivíduos com mais de 80 anos, cuja

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maioria era de homens, naturalmente mais altos. Com a medida do peso e da altura foi calculado o IMC, que ava-lia a massa corpórea em relação à altura. Os participantes apresentaram IMC de 27,49 ± 4,5 kg/m², com prevalên-cia para “excesso de peso” (IMC > 27; 46,7%) e “eutrófi-cos” (22 < IMC < 27; 45%). Os valores de IMC reduziram com a idade. Apesar de ser muito utilizado, o IMC deve ser associado a outros indicadores para o diagnóstico do estado nutricional, como medidas de CB, CP e dobras cutâneas. Como referência, a OMS recomenda a utiliza-ção dos dados do National Health and Nutrition Exami-nation Survey (NHANES). III21 No presente estudo, os idosos apresentaram CB de 31,39 ± 4,08 cm e DCT de 20,58 ± 7,54 mm, sendo observada redução das medi-das de CB e DCT com a idade. Considerando os valores de NHANES III (Tabela 3),21 observou-se que a maioria (85% e 83,3%, respectivamente) dos idosos apresentou CB e DCT entre o percentil 10 e 90. A medida de CP mostrou adequação para 96,7% dos idosos (≥ 31 cm).16

Os resultados de CB, DCT e CP indicaram tratar-se de uma população ativa, com preservação de massa ma-gra, uma vez que essas medidas estão relacionadas com a prática de atividade física.14 Os idosos apresentaram DCSE de 21,01 ± 5,83 mm (Tabela 4).

Tabela 3 Circunferência do braço e dobra cutânea triciptal, segundo sexo e faixa etária, (NHANES III, 1988-1994)

Homens mulheres

CB (cm) P10 P90 P10 P90

60 a 69 anos 28,4 37 26,2 38,3

70 a 79 anos 27,5 36,1 25,4 36,7

≥ 80 anos 25,5 33,3 23 34

DCT (mm) P10 P90 P10 P90

60 a 69 anos 7,7 23,1 14,5 34,9

70 a 79 anos 7,3 20,6 12,5 32,1

≥ 80 anos 6,6 18 9,3 28,9

*Adaptado21

Tabela 4 Variáveis antropométricas de um grupo de idosos da cidade de Franca, SP, 2011, segundo faixa etária

Grupo etário (anos) Total (n = 60) 60 a 69 anos (n = 36) 70 a 79 anos (n = 18) ≥ 80 anos (n = 6)

Variáveis Média ± DP Média ± DP Média ± DP Média ± DP

Peso (kg) 69,82 ± 12,76 72,19 ± 13,39 66,23 ± 10,11 66,4 ± 14,83

altura (m) 1,59 ± 0,07 1,60 ± 0,06 1,58 ± 0,06 1,60 ± 0,1

iMc (kg/m²) 27,49 ± 4,5 28,16 ± 4,53 26,70 ± 4,43 25,86 ± 4,47

cB (cm) 31,39 ± 4,08 31,99 ± 4,21 30,65 ± 3,78 30 ± 4,1

Dct (mm) 20,58 ± 7,54 22,50 ± 7,34 19,22 ± 7,23 13,17 ± 4,13

Dcse (mm) 21,01 ± 5,83 22,20 ± 5,77 19,95 ± 5,34 17,06 ± 6,17

cP (cm) 36,27 ± 3,84 36,92 ± 4,09 34,97 ± 2,7 36,25 ± 4,81

cMB (cm) 24,93 ± 3,14 24,93 ± 3,22 24,61 ± 3,07 25,86 ± 3,27

IMC: Índice de Massa Corporal, CB: circunferência do braço, DCT: dobra cutânea tricipital, DCSE: dobra cutânea subescapular, CP: Circunferência da panturrilha, CMB: circunferência muscular do braço

exames laboratoriaisOs exames laboratoriais são também considerados indi-cadores do estado de saúde e podem fornecer informa-ções sobre a resposta metabólica e a qualidade da dieta.22 Neste trabalho, os valores adotados como padrões de re-ferência para Col, HDL, TG e LDL estiveram de acordo com a IV Diretrizes Brasileiras sobre Dislipidemias e os valores adotados para glicemia de jejum, segundo a So-ciedade Brasileira de Diabetes (SBD).23,24 Os resultados dos exames laboratoriais estão apresentados na Tabela 5.

Os idosos apresentaram níveis de Col de 198,53 ± 35,2 mg/dL, com maior média (207,44 mg/dL) na faixa de 70 a 79 anos. Cinquenta e cinco por cento dos idosos apresentaram níveis de Col considerados ótimos (< 200 mg/dL), 35% dentro da faixa limítrofe (200-239 mg/dL) e 10% na faixa de colesterol alto (> 240 mg/dL),22 indi-cando que o grupo estudado apresentava risco reduzido para doenças cardiovasculares, uma vez que o excesso de Col é um importante fator de risco. Em relação a HDL,

houve uma relação inversa com a idade, com diferença estatística significativa (p ≤ 0,05) entre as faixas etárias. Os idosos com idade entre 60 e 69 anos apresentaram níveis de HDL mais elevados, 55,97 ± 11,78 mg/dL (p ≤ 0,05), diferindo daqueles com 70 a 79 anos, com 52,00 ± 7,62 mg/dL (p ≤ 0,05), que, por sua vez, também diferi-ram dos indivíduos com mais de 80 anos, 44,00 ± 8,63 mg/dL (p ≤ 0,05). Observou-se que 63,3% dos idosos apresentaram HDL dentro do recomendado (≥ 40 mg/dL para homens e ≥ 50 mg/dL para mulheres).23 Os valo-res de HDL aumentam com a prática de atividades físicas e reduzem com o sedentarismo mostrando que a maio-ria dos idosos estudados pode ser considerada ativa.23 Os resultados de LDL (115,86 ± 30,59 mg/dL) mostraram que 91,7% dos participantes estavam dentro da reco-mendação, e apenas 8,3% apresentaram LDL elevado (≥ 160 mg/dL).23 Os valores de TG foram 143,97 ± 92,37 mg/dL, sendo que os idosos entre 70-79 anos (161,72 ± 69,59 mg/dL) apresentaram diferença (p ≤ 0,05) em re-

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lação àqueles com mais de 80 anos (120,33 ± 29,76 mg/dL). Neste estudo, 68,3% dos idosos apresentaram va-lores de TG dentro do recomendado (< 150 mg/dL).22 Baixos níveis de TG aliados a elevados níveis de HDL são considerados benéficos para a prevenção de doenças cardiovasculares.25 Em relação à glicemia, todas as faixas etárias avaliadas apresentaram valores acima do desejá-vel (< 100 mg/dL).24 O grupo com idade entre 70 e 79 anos apresentou os menores níveis de glicemia (102,83 ± 28,73 mg/dL), e o grupo com mais de 80 anos apre-sentou a maior média (118 ± 28,54 mg/dL). Por outro lado, a frequência de idosos com glicemia considerada normal (< 100 mg/dL) foi 51,7%, enquanto 38,3% fo-ram classificados na faixa de 100-126 mg/dL, e apenas 10% apresentaram glicemia acima de 126 mg/dL. Altos níveis de glicemia indicam uma tendência ao diabetes. De acordo com a OMS, quando a glicemia de jejum é de 100-126 mg/dL, pode ser considerada alterada, em-bora esse critério ainda não esteja oficializado. Porém, existe uma recomendação da Federação Internacional de Diabetes (IDF, do inglês Internacional Diabetes Fe-deration), acatando o ponto de corte 100 mg/dL.24 Nesse sentido, é importante ressaltar que uma dieta adequada pode contribuir para o controle da glicemia. Em casos de pequenas elevações da glicemia, para o diagnóstico pre-ciso é necessário que os exames sejam repetidos, já que fatores como a alimentação prévia à coleta da amostra de sangue podem ter interferido. Os idosos apresenta-ram TGP de 18,28 ± 8,03 U/L, indicando que a média do grupo está dentro dos limites recomendados, de até 31U/L para mulheres, e 41U/L para homens.26 A TGP, localizada principalmente no fígado, é secretada como reação à toxicidade. Valores acima dos recomendados para TGP indicam lesão hepática, embora alterações nos valores possam ser decorrentes da obesidade.27 Neste estudo, apenas 3,3% dos idosos apresentaram TGP aci-

ma das recomendações (Tabela 5). Esses idosos também apresentaram IMC > 30Kg/m2, caracterizando obesida-de, podendo-se considerar que eles não necessariamente apresentavam lesões hepáticas. Os valores de PCR foram reagentes para 8,3% dos idosos, indicando a possibilida-de de ocorrência de processos inflamatórios, inclusive não infecciosos, processos neoplásicos e infarto agudo do miocárdio. Os resultados dos exames do grupo ava-liado podem ser utilizados como indicadores do estado de saúde, sobretudo quando considerado que não houve influência de drogas, enfermidades ou estresse.15,22

CoNCLusÃoApesar de grande parte dos idosos ter apresentado IMC acima do normal, indicando sobrepeso ou obesidade, os participantes deste grupo podem ser considerados saudáveis pelo estilo de vida, hábitos alimentares, cui-dados de saúde e pelos parâmetros de CB, CP e DCT, que demonstraram preservação de massa magra para a maioria dos idosos. Também foi observado que os idosos vivenciam as atividades do grupo como aprendizado e socialização, o que colabora para o bem estar e qualidade de vida. Novos estudos devem ser realizados, visando a investigar o perfil alimentar dessa população para rela-cioná-lo com o estado de saúde. Ressalta-se a necessida-de de acompanhamento do estado de saúde dos idosos, com a realização periódica de exames, avaliação e orien-tação nutricional para adequação do peso.

Conflitos de interessesOs autores declaram não possuir nenhum conflito de interesse.

AgradecimentosAos idosos participantes da pesquisa e aos professores da UNATI que colaboraram com o trabalho.

Tabela 5 Indicadores laboratoriais de um grupo de idosos da cidade de Franca, SP, 2011, segundo a faixa etária

Grupo etário (anos) Total (n = 60) 60 a 69 anos (n = 36)

70 a 79 anos (n = 18)

≥ 80 anos (n = 6)

Indicadores laboratoriais Média ± DP Média ± DP Média ± DP Média ± DP

col 198,53 ± 35,2 198,61 ± 33,56 207,44 ± 34,36 171,33 ± 39,3

HDl 53,58 ± 10,9 55,972 ± 11,78 52 ± 7,62 44 ± 8,63

tG 143,97 ± 92,37 139,03 ± 107,81 161,72 ± 69,59 120,33 ± 29,76

lDl 115,86 ± 30,59 115,53 ± 28,3 122,95 ± 32,17 96,5 ± 35,47

Glicemia 105,3 ± 24,25 104,42 ± 21,03 102,83 ± 28,73 118 ± 28,54

tGP 18,28 ± 8,03 18,58 ± 9,36 17,61 ± 4,33 18,5 ± 9,01

Col: colesterol total; HDL: lipoproteína de alta densidade; TG: triglicerídes; LDL: lipoproteína de baixa densidade; TGP: transaminase G pirúvica.

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estuDo Da QualiDaDe De viDa De iDosos

HiPeRtensos caDastRaDos na usF Boa

iDeia BonGi, ReciFe, BRasil

alamisne Gomes da silvaa, andré amílcar Fonseca Pereira Juniorb, anne evely oliveira siqueirac, Juliana Pina Zózimod, natália Freire da silvae, Kildery eduardo tenório Ferreiraf, leila Bastos lealg

Resumo Objetivo: O controle da hipertensão arterial, seu tratamento adequado e a implementação de ações específicas no cuidado à saúde são importantes itens para a melhora da qualidade de vida do idoso. Diante disso, este trabalho teve por objetivo avaliar a qualidade de vida dos idosos hipertensos cadastrados na Unidade de Saúde da Família Bongi Boa Ideia, microrregião 5.1, Distrito Sanitário V, na cidade do Recife – PE, buscando dados para a construção de soluções multidisciplinares para o controle e prevenção da hipertensão. Material e métodos: Tratou-se de um estudo quantitativo, do tipo transversal descritivo. Para a investigação da qualidade de vida, perfil socioe-conômico e cultural dos indivíduos, foram utilizados os miniquestionários de qualidade de vida em hipertensão arterial (MINICHAL) e semiestruturado. Participaram da pesquisa 100 idosos com hipertensão arterial sistêmica diagnosticada, e as variáveis analisadas foram sexo, idade, estado civil, escolaridade, renda financeira, atividade física, ingestão de bebida alcoólica e lazer. Resultados: Numa amostragem de 56 idosos do sexo masculino e 44 do sexo feminino, com média de idade de 72 a 98 anos, foi possível observar que idosos casados, com maior nível de escolaridade, renda financeira maior ou igual a 1 salário-mínimo, praticantes de atividade física e que possuem algum tipo de lazer, apresentaram índices de qualidade de vida superiores quando comparados com o universo oposto. Conclusão: Relacionando os fatores socioeconômicos, culturais e qualidade de vida do idoso, concluímos que existe a necessidade da criação de novas políticas de saúde com intuito de interferir no dia a dia do idoso, visando a uma melhoria na qualidade de vida desses hipertensos através de medidas não medicamentosas.

stuDY oF QualitY oF liFe oF elDeRlY HYPeRtensive ReGisteReD in tHe FaMilY HealtH unit BonGi Boa iDeia/ReciFe/BRaZil

ABsTRACTObjective: The control of high blood pressure, its appropriate treatment and the implementation of specific actions regarding the health care, are important items for the quality of life improvement concerning elderly people. Thus, this study aimed to evaluate the quality of life of elderly people registered in USF Bongi Boa Ideia, microregion 5.1, Sanitary District V in Recife - Pernambuco, collecting data in order to build multidisciplinary solutions to control and prevent hypertension. Material and methods: It was done a quantitative, cross--sectional and descriptive study to evaluate the quality of life, socioeconomic status and cultural profile of these individuals, it was used both questionnaires: the MINICHAL and a semi-structured. A hundred elderly patients with diagnosis of hypertension participated in this study. The following variables were analyzed: gender, age, marital status, education level, financial income, physical activities, use of alcohol and leisure. Results: In a sample of 56 men and 44 women with an average age of 72-98, it was possible to observe that married elderly, with higher educational level, financial income greater than – or equal – to the minimum wage, practitioners of physical activities and with some kind of leisure activity, presented higher quality of life indexes when compared with the opposite universe. Conclusion: Relating the socioeconomic status, cultural factors and the quality of life of elderly people, it was concluded that is necessary to create new health policies in order to interfere in the daily life of the elderlies, aiming an improvement of the quality of life for elderly people with hypertension through non-medicated measures.

Palavras-chave Saúde do idoso,

hipertensão arterial sistêmica,

qualidade de vida.

Keywords Elderly health,

systemic hypertension, quality of life.

Artigo or iginal

a Departamento de Ciências Farmacêuticas. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, PE, Brasil. Contribuiu como monitor na coleta e análise de dados e redação do manuscrito durante o período que participaram do PET-SAÚDE. b Departamento de Fisioterapia. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, PE, Brasil. Contribuiu como monitor na coleta e análise de dados e redação do manuscrito durante o período que participaram do Programa Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-SAÚDE).c Departamento de Odontologia. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Recife, PE. Brasil. Contribuiu como monitor na coleta e análise de dados e redação do manuscrito durante o período que participaram do Programa Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-SAÚDE).d Departamento de Medicina. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Recife, PE, Brasil. Contribuiu como monitor na coleta e análise de dados e redação do manuscrito durante o período que participaram do Programa Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-SAÚDE).e Departamento de Fonoaudiologia. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Recife, PE, Brasil. Contribuiu como monitor na coleta e análise de dados e redação do manuscrito durante o período que participaram do Programa Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-SAÚDE).f Unidade de Saúde da Família Bongi – Prefeitura da Cidade do Recife, PE, Brasil. Contribuiu como preceptor e revisor crítico do manuscrito.g Departamento de Ciências Farmacêuticas. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Recife, PE, Brasil. Contribuiu como tutora, na revisão crítica do manuscrito e na aprovação final da versão do manuscrito a ser publicada.

Dados para correspondência Alamisne Gomes da Silva – Rua Alagoinha, 156, Paratibe, Paulista, PE. CEP: 53415-140. E-mail: [email protected].

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Qualidade de vida de idosos hipertensos | 121

INTRoDuÇÃoO crescimento da população de idosos, em números ab-solutos e relativos, é um fenômeno mundial e está ocor-rendo em um nível sem precedentes. Em 1950, eram cerca de 204 milhões de idosos no mundo e, já em 1998, quase 5 décadas depois, esse contingente alcançava 579 milhões de pessoas, um crescimento de quase 8 milhões de idosos por ano. As projeções indicam que, em 2050, a população idosa será de 1,9 milhão de pessoas, montante equivalente à população infantil de 0 a 14 anos de idade. Uma das explicações para esse fenômeno é o aumento verificado, desde 1950, de 19 anos na esperança de vida ao nascer em todo o mundo.1

O envelhecimento da população é um fenômeno mundial. No entanto, nos países não industrializados teve um início mais tardio e está ocorrendo em um ritmo mais acelerado. Nesses países, está previsto um cresci-mento de 200% a 400% da população idosa nos próximos 30 anos, e os sistemas públicos de saúde têm o desafio de garantir o atendimento às necessidades de saúde dessa população.2 Os problemas de saúde e o uso de serviços de saúde aumentam com a idade, sobretudo nas últimas décadas de vida. Dessa forma, em sociedades mais en-velhecidas e/ou em rápido processo de envelhecimento, como o Brasil, torna-se necessário conhecer as tendên-cias em saúde desta população. O monitoramento e/ou a vigilância das condições de saúde e seus determinantes têm o objetivo de detectar mudanças ao longo do tempo para subsidiar políticas sociais.3 Diante disso, traçar um perfil social, econômico e cultural de idosos nas áreas onde se pretende atuar é de fundamental importância.

As doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, es-pecialmente, são as primeiras causas de morbimortalida-de entre idosos, sendo o aumento da idade, o principal fator de risco.4 Assim, a crescente importância das do-enças do aparelho circulatório no perfil epidemiológico da população brasileira, a partir da década de 1960, tem conduzido à proposição de políticas públicas com a fi-nalidade de melhorar a saúde cardiovascular dos indiví- duos. Nesse sentido, evidencia-se o controle da hiper-tensão arterial como uma importante condição para se evitar a ocorrência de agravos dessa natureza.5

Aproximadamente 50% dos pacientes hipertensos não tratados morrem de doença cardíaca coronária ou insuficiência congestiva, cerca de 33% de acidente vas-cular cerebral (AVC) e 10% a 15% de insuficiência renal.6 Esses dados justificam a necessidade de todos os profis-sionais da área de saúde atuar em conjunto, buscando orientar e incentivar mudanças no estilo de vida, visan-do a um adequado controle pressórico. Diante desse fato, faz-se necessária uma reflexão crítica, bem como o co-nhecimento dos fatores de risco acerca da hipertensão arterial em idosos.

O tratamento da hipertensão arterial sistêmica (HAS) envolve, além da terapêutica medicamentosa, mudança

de hábitos e estilos de vida. Com isso, a qualidade de vida (QV) dos hipertensos pode sofrer uma interferência direta. Nesse sentido, estudos que relacionem a HAS à QV são importantes para a criação de novas políticas de saúde,7 sendo a versão brasileira do miniquestionário de qualidade de vida em hipertensão arterial (MINICHAL), um instrumento específico para esse tipo de avaliação, com confiabilidade e validade testadas.8

Na Norma Operacional da Assistência à Saúde do Sistema Único de Saúde (NOAS/SUS), as ações estra-tégicas mínimas de responsabilidade dos municípios a serem desenvolvidas por meio de diagnóstico dos casos de HAS – cadastramento de portadores, busca ativa, tratamento e ações educativas – figuram como desta-que na atenção básica.5 No entanto, para se efetivar o controle da hipertensão através do nível primário da atenção à saúde, é necessário identificar fatores sociais, demográficos e culturais que possam contribuir para o surgimento e manutenção da HAS de acordo com a re-alidade local.

Diante do exposto, este trabalho teve por objetivo avaliar a QV dos idosos hipertensos cadastrados na Unidade de Saúde da Família (USF) Bongi Boa Ideia, na cidade de Recife, PE, Brasil, buscando uma compreen-são das características dos usuários idosos hipertensos, o que possibilitará a construção de soluções multidis-ciplinares para o controle e prevenção da hipertensão.

mATeRIAIs e mÉToDosTratou-se de uma pesquisa quantitativa, do tipo corte transversal descritivo, onde todas as medições foram re-alizadas em um único momento, através de questioná-rios padronizados. Foram avaliados 100 idosos hiperten-sos cadastrados na USF Bongi Boa Ideia, correspondente à microrregião 5.1 do Distrito Sanitário V, localizada no município de Recife no estado de Pernambuco, Brasil, pertencentes às Equipes de Saúde da Família 1 e 3 (ESFs), com idade igual ou superior a 60 anos e de ambos os se-xos. Foi realizada uma escolha aleatória dentro do crité-rio de inclusão, com capacidade física e/ou mental para responder aos questionários, e que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Para a investigação da QV e perfil socioeconômico cultural foram utilizados, respectivamente, o MINI-CHAL e um questionário próprio semiestruturado. O MINICHAL é composto por 17 questões e 2 domínios. As respostas dos domínios estão distribuídas em uma escala de frequência do tipo Likert e têm 4 opções de respostas de 0 (Não, absolutamente) a 3 (Sim, muito). Nessa escala, quanto mais próximo a 0 (zero) estiver o resultado, melhor a QV. O domínio estado mental com-preende as questões de 1 a 9, sendo a pontuação máxi-ma de 27 pontos. O domínio “manifestações somáticas” compreende as questões de 10 a 16 e tem pontuação máxima de 21 pontos.

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Considerando as 9 questões do domínio estado men-tal do MINICHAL, os escores variam de 0 a 27. Para transformar esse escore em escores com variação entre 0 e 100, multiplicamos cada um deles por (100/27). Para converter a escala do MINICHAL, de forma que os esco-res mais altos representem uma melhor QV, subtraímos de 100 cada novo escore formado (100 – novo escore). Assim, uma pontuação 5 no estado mental, agora com esse novo formato, será equivalente a 81,48 (100 – (5 × 100/27) = 81,48).

Foi utilizado esse mesmo raciocínio para calcular os escores referentes ao domínio manifestações somáticas e o total do MINICHAL. Para o cálculo do domínio ma-nifestações somáticas, a única diferença é que o deno-minador foi 21 (100/21), já que escores variam de 0 a 21 (questões 10 a 16). Para o cálculo do total do instrumen-to, o denominador foi 48 (100/48, pois os escores variam de 0 a 48 [questões 1 a 16]).

Outras informações foram coletadas do SIAB (Sistema de Informação da Atenção Básica), Ficha A, prontuários das famílias e fichas individuais encontradas no arquivo da USF Bongi Boa Ideia. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos da Univer-sidade Federal de Pernambuco (UFPE), sob o Código no

422/10. Dessa forma, o referido trabalho cumpriu os prin-cípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (2000).

ResuLTADos A comunidade do Bongi Boa Ideia, castigada pela falta de saneamento básico, tem poucos equipamentos sociais, de lazer, e uma população formada economicamente por pessoas de baixa renda. É dividida em 15 microáreas, que são assistidas por 3 Equipes de Saúde da Família (ESFs) do Programa de Saúde da Família (PSF). Dos 100 idosos entrevistados, foi observado, neste estudo, um predomí-nio de idosos do sexo masculino (56%) (Tabela 1).

Tabela 1 Distribuição da população idosa estudada por faixa etária e sexo

Faixa etária Feminino (%) masculino (%) Total (%)

60-69 16 26 42

70-79 19 16 35

80-89 9 12 21

Acima de 89 0 2 2

Total 44 56 100

Em relação à QV medida através do MINICHAL, po-de-se observar (Tabela 2) que o sexo masculino possui maior QV em relação ao sexo feminino principalmente no que diz respeito às manifestações somáticas.

Quanto ao estado civil, temos um resultado no to-tal do instrumento de 77,14 (16,78), afirmando uma superior QV entre os idosos casados. De uma forma geral, os nossos resultados confirmam que os idosos

viúvos têm uma QV baixa quando comparados aos idosos casados.

Tabela 2 Qualidade de vida de idosos com HAS medida pelo MINICHAL em relação ao sexo

Classificação estado mental manifestações somáticas

Total do instrumento

Média (DP) Média (DP) Média (DP)

Masculino 69,84 (20,46) 74,65 (20,63) 72,29 (18,5)

Feminino 70,79 (19,1) 72,06 (17,75) 71,91 (17,5)

Contrariando o resultado esperado, os idosos divor-ciados pertencentes à amostra, apresentaram uma QV alta quando comparados com os demais estados civis, principalmente quando analisadas as manifestações somáticas, tendo média superior inclusive aos casados, como pode ser observado na Tabela 3.

Tabela 3 Influência do estado civil na qualidade de vida dos idosos con HAS medida pelo MINICHAL

Classificação estado mental manifestações somáticas

Total do instrumento

Média (DP) Média (DP) Média (DP)

solteiro 67,22 (21,82) 71,18 (20,24) 69,2 (18,44)

casado 74,9 (16,8) 78,41 (17,95) 77,14 (16,78)

viúvo 68,28 (20,65) 70,08 (20,15) 69,43 (18,32)

Divorciado 72,2 (17,8) 79,75 (14,2) 75,73 (15,45)

Com relação à escolaridade, a nossa amostra foi composta por 32% de idosos analfabetos, enquanto 68% relataram ser alfabetizados. Desses 68%, a meta-de realizou o nível fundamental incompleto, 9% cur-saram o fundamental completo, 4% o ensino médio incompleto, 4% o médio completo, e 1% o ensino su-perior completo. De posse dos dados e comparando-os com a QV da população estudada, foram tomados como parâmetros os percentuais mais evidentes da pesquisa, já que as subdivisões a partir dos níveis de escolaridade não se mostraram disformes, sendo assim interpretados os idosos analfabetos, os que alcança-ram o nível fundamental e os que têm nível de escola-ridade até o ensino médio. Dito isto, a QV foi superior para os idosos que alcançaram o ensino médio, com 74,09 (20,37) e principalmente quando relacionada às manifestações somáticas 85,17 (8,71). No resultado total do instrumento, foi confirmada a superioridade da QV dos idosos com ensino médio com uma média de 81,08. Ainda com relação à análise dos índices, foi observado um maior comprometimento dos idosos analfabetos quanto à QV, com 71,29 (19,05) no esta-do mental, 70,52 (17,96) nas manifestações somáticas. No total do instrumento, 71,11 (16,64) confirmam a baixa QV quando comparada aos idosos com ensino médio completo.

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Qualidade de vida de idosos hipertensos | 123

Em relação à influência da renda financeira na QV dos idosos, os resultados obtidos mostraram percentuais positivos no total do instrumento 72,99 (13,99) para os que possuíam valor igual ou superior a 1 salário-mínimo.

Quanto à prática de atividade física, aqueles que a praticavam normalmente, apresentaram maior QV em relação aos não praticantes (Tabela 4). Com relação à ingestão de bebida alcoólica, devido ao pequeno núme-ro da amostra, não foi possível verificar a sua influência na QV dos idosos avaliados. Outro fator que contribuiu para a QV foi o lazer. Na Tabela 5, é possível observar que, para os idosos que possuem uma vida com lazer, a QV foi maior, com 75,54 na soma dos domínios do MINICHAL. Atividades como conversar, participar de jogos e de festas, fazer parte de grupos de 3a idade, são consideradas como essenciais no aumento da expectati-va e QV desses idosos.

Tabela 4 Influência da atividade física na qualidade de vida de idosos com HAS medida pelo MINICHAL

Classificação estado mental manifestações somáticas

Total do instrumento

média (DP) média (DP) média (DP)

Praticante 78,06 (19,04) 82,76 (18,79) 80,51 (18,89)

Não praticante 69,08 (19,68) 72,12 (19,16) 70,87 (17,64)

Obs.: Foram considerados indivíduos praticantes os que realizam atividade física aeróbica regularmente 30 min por dia, 3 vezes ou mais por semana.

Tabela 5 Influência do lazer na qualidade de vida de idosos com HAS medida pelo MINICHAL

Classificação estado mental manifestações somáticas

Total do instrumento

média (DP) média (DP) média (DP)

Possui 74,01 (18,4) 76,01 (20,59) 75,54 (18,21)

Não possui 64,38 (20,55) 69,59 (16,78) 66,78 (16,54)

DIsCussÃoO percentual da população masculina encontrada no estudo foi um dado não esperado, uma vez que há, no Brasil, uma maior parcela de mulheres na população, especialmente na 3a idade.9 Corroborando outros estu-dos,7,10 o presente demonstrou que a QV é maior para os homens. Isso pode ser observado, provavelmente, em razão de a mulher possuir menor aceitação em relação ao envelhecimento, e o sentimento de que mulheres mais velhas são menos atraentes.

Quanto ao estado civil, embora este estudo tenha de-monstrado uma QV alta para os idosos divorciados, de uma maneira geral, indivíduos casados têm melhor QV que aqueles que apresentam outros estados civis.11 A razão para esse padrão pode estar no fato de indivíduos não ca-sados não terem cônjuges para cuidar e/ou auxiliar os seus parceiros em casa.12 Sendo assim, o casamento é conside-

rado uma variável com grande efeito no comportamento e na visão de vida da população idosa. Em contrapartida, sabe-se que o estado de viuvez pode influenciar negativa-mente a capacidade funcional do idoso.13

Para uma velhice bem-sucedida, considera-se tam-bém a educação como um instrumento fundamental ao longo de toda a vida. Afinal, uma das funções da educa-ção é ensinar algo que possa ser usado posteriormente.14 No mais, a desagregação das estatísticas por faixas etá-rias permite verificar que a elevação das taxas de alfabe-tização está diretamente relacionada aos grupos etários mais jovens.15 O baixo nível educacional é comum na população idosa brasileira, e isso pode afetar a avalia-ção cognitiva pelos métodos usuais, tornando, assim, o nível educacional a principal variável de influência no desempenho cognitivo, dados estes que encontram con-cordância com a literatura, tanto nacional quanto inter-nacional.16

Em relação à influência da renda financeira na QV dos idosos, os resultados obtidos comprovaram que ela tem relação direta com a aquisição de medicamentos, ati-vidades de lazer e muitas vezes o conforto do idoso. A sua diminuição traz inúmeros fatores associados, como o bem-estar do indivíduo, influenciando assim na sua QV.17

Como esperado, a prática de atividade física foi vis-to como um fator positivo para melhorar a qualidade de vida dos idosos hipertensos. Estudos enfatizam a impor-tância da prática de uma atividade física regular e com-provam seus benefícios, tanto físicos como emocionais. Sendo assim, praticantes de atividades físicas tendem a apresentar uma melhor QV.7

CoNCLusÃoFatores socioeconômicos e culturais desfavoráveis pre-dispõem o indivíduo a maior risco de ocorrência de do-enças cardiovasculares. Sejam esses fatores intrínsecos ou extrínsecos, as modificações no estilo de vida trazem consequências ao dia a dia do idoso hipertenso. Sob aná-lise do MINICHAL-Brasil e questionário semiestrutura-do, foi observado, neste estudo, que os idosos do sexo masculino que possuem menor idade, casados, com melhores níveis de escolaridade e renda, que praticam atividades físicas e têm algum tipo de lazer, possuem melhor QV. A ingestão de bebida alcoólica, apesar de grande influência negativa para os portadores da HAS, neste estudo, não demonstrou resultados significativos, provavelmente devido ao baixo consumo de álcool pela população estudada, tendo em vista que, na amostragem de 100 idosos, apenas 9 eram etilistas.

A melhoria desses fatores tem um impacto positivo em relação à QV, o que torna importante a implemen-tação de ações específicas de cuidado à saúde do idoso portador de HAS. É necessário orientá-los para um novo conviver com a terapêutica indicada, possibilitando a compreensão de todo o contexto que a envolve, sem es-

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quecer que é necessária a ajuda do próprio idoso, para que a doença seja controlada.

A ESF, assim como o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), já contribuem positivamente através de ações multiprofissionais, utilizando técnicas de educação em saúde para grupos de idosos, informando e esclare-cendo a respeito de doenças crônico-degenerativas. No entanto, não são suficientes para, sozinhas, manterem a melhoria da QV desta população, principalmente em virtude das limitações dessas equipes, sejam de ordem política e ou estrutural.

Diante disso e dos resultados encontrados neste tra-balho, propomos, junto ao NASF, o desenvolvimento de atividades terapêuticas com grupos de idosos realizadas por psicólogos, abordando temas de ordem familiar, pes-soal e social relacionados à aposentadoria, luto, perdas e limitações, fatores que fatalmente levam os idosos à piora do seu quadro em virtude da depressão. O terapeuta ocu-pacional poderá atuar no que diz respeito à socialização, utilizando-se de atividades manuais e corporais, como a dança, artesanato, ioga, tai-chi-chuan, jogos e música.

Quanto ao educador físico, profissional que já atua na academia da cidade, sugerimos sua inclusão na orien-tação de grupos de caminhadas e outros exercícios es-pecíficos voltados aos idosos, principalmente aqueles

do sexo masculino. Essas ações em conjunto com a ESF possibilitariam o reencontro com a sua corporeidade e o resgate de hábitos rotineiros, como: amarrar cordões de sapato, cortar unhas, pentear cabelos, conhecer novas pessoas e fazer amigos.

A realização das sugestões descritas acima é uma for-ma de se buscar uma melhoria na QV dos idosos, sem maiores modificações na estrutura da USF existente ou aumento dos gastos financeiros com ela. Com a inclusão dessas atividades, seria possível oportunizar aos idosos o resgate do conceito de tempo livre, propiciando-lhes a inserção social, diminuindo a inatividade gerada pela aposentadoria e, nesse sentido, possibilitando experi-mentar um passar de tempo com mais QV e autonomia mesmo diante da HAS.

Conflitos de interessesOs autores declaram não possuir nenhum conflito de interesse.

AgradecimentosÀ Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), à Pró--Reitoria de Extensão (Proext-UFPE), ao Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-SAÚDE) e à USF Bongi Boa Ideia.

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Educação em idosos diabéticos | 125

eDucaçÃo aliMentaR e nutRicional

eM DiaBetes na teRceiRa iDaDe*

lidiane costa da silvaa, Flávia Monteiro Françab, larissa Pessoa vila novac, Poliana coelho cabrald, Maria Goretti Pessoa de araújo

Burgose, ana carolina Ribeiro de amorinf

Resumo Objetivo: Avaliar o nível de conhecimento de diabéticos idosos (DMI) em alimentação e saúde, atendidos no Núcleo de Apoio ao Idoso (NAI)/PROIDOSO da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Métodos: Estudo transversal do tipo pré-teste/pós-teste em 60 DMI tipo 2. Foi desenvolvido projeto de educação alimentar e nutricional em 3 cursos, com oficinas específicas de fisiopato-logia DMI, tratamento alimentar, medicamentoso e importância da atividade física. A avaliação foi realizada através de notas (0 a 10), de comparação dos grupos e, das oficinas de alimentação e nutrição, realizada por Teste t de Student e Teste Quiquadrado, com significância de 0,005. Resultado: Na comparação através de perguntas no pós-teste de cada curso, não foi revelado aprendizado significativo; por outro lado, quando se comparam as médias obtidas por cada paciente em cada curso, observou-se aprendizado significativo no 1o curso (maioria nível superior), no mesmo tempo em que foi observada uma melhora nos níveis de conhecimento quando se avaliou o nível de aprendizado por nota nos 3 cursos, embora não tenha sido significativa (p = 0,096). Na comparação de aprendizado nas oficinas de tratamento alimentar dos 3 cursos, denota-se aprendizado significativo em 50% nos temas abordados. Conclusão: O estudo demonstrou que o nível de conhecimento nutricional aumentou, e que a educação nutricional poderá ser utilizada no atendimento a idosos diabéticos, como forma de adesão ao tratamento global que inclui a nutrição como foco principal.

FooD anD nutRition eDucation aMonG olDeR aDults WitH DiaBetes

ABsTRACTObjective: Evaluation of the level of knowledge about food and health of older adults with diabetes enrolled at the Senior Assistance Center of the Federal University of Pernambuco (Brazil). Methods: A cross-sectional study with a pretest-posttest methodology was carried out involving older adults with type 2 diabetes. A food and nutrition education project was developed in three courses, with workshops on the physiopathology of diabetes, treatment with nutrition and medication as well as the importance of physical activity. Evaluations involved the determination of scores (0 to 10 points). The Student’s t-test and chi-square test were used for the comparison of groups and food/nutrition workshops, with the level of significance set to 5% (p < 0.05). Result: No significant learning was found in the posttest analysis of each course. However, in the comparison of means obtained by each patient in each course, significant learning was found in the first course (majority upper level) and significant improvement was found in the level of knowledge based on scores in the three courses, although without achieving statistical significance (p = 0.096). In the comparison of learning in the workshops on nutritional treatment in the three courses, significant learning was found in 50% of the topics addressed. Conclusion: The level of nutritional learning increased following the intervention. Nutrition education can be used in the treatment of older adults with diabetes as a way to ensure the adherence to overall treatment, which includes nutrition as its main focus.

Palavras-chave Idoso, saúde do idoso, educação

alimentar e nutricional,

educação em saúde, diabetes,

nutrição.

Keywords Older adults,

elderly health, food and nutrition

education, health education,

diabetes, nutrition.

Artigo or iginal

a Núcleo de Apoio ao Idoso (NAI) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Pernambuco, Recife, Brasil. Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Per-nambuco, Recife, Brasil. Levantamento bibliográfico, preparo das aulas e dos folders, divulgação dos cursos, recrutamento por telefone e seleção das turmas, elaboração e aplicação do pré-teste/pós-teste, aula teórico/prático e oficinas, coleta de dados, redação e apresentação do artigo para uma banca de professores.b Núcleo de Apoio ao Idoso (NAI) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Pernambuco, Recife, Brasil. Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Pernambuco, Recife, Brasil. Levantamento bibliográfico, preparo das aulas e dos folders, divulgação dos cursos, recrutamento por telefone e seleção das turmas, aula teórico/prático e oficinas.c Núcleo de Apoio ao Idoso (NAI) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Pernambuco, Recife, Brasil. Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Pernam-buco, Recife, Brasil. Levantamento bibliográfico, preparo das aulas e dos folders, aula teórico/prático e oficinas.d Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Pernambuco, Recife, Brasil. Levantamento bibliográfico, desenho da pesquisa, análise dos dados e tratamento estatístico, resultados.e Núcleo de Apoio ao Idoso (NAI) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Pernambuco, Recife, Brasil. Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Pernam-buco, Recife, Brasil. Levantamento bibliográfico, desenho da pesquisa, analise dos dados, resultados, discussão e conclusão.f Levantamento bibliográfico, preparo das aulas e dos folders, divulgação dos cursos, aula teórico/prático e oficinas.* Pesquisa financiada pela PROEXT/PROIDOSO/UFPE

Dados para correspondência Maria Goretti Pessoa de Araújo Burgos – Avenida dos Médicos s/n, Cidade Universitária, Recife, PE. CEP: 50670-901. Tel.: (81) 2126-8470/8471 – Fax: (81) 2126-8473. E-mail: [email protected].

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INTRoDuÇÃoApesar dos avanços tecnológicos atuais, a prevenção de doenças e a promoção da saúde permanecem como questões cruciais para a manutenção da vida. A educa-ção e a saúde, quando associadas, demonstram possi-bilidades para uma assistência integral aos indivíduos, principalmente se forem realizadas por meio de ações coletivas. Ao mesmo tempo, atividades grupais propor-cionam encontros entre pessoas que compartilham situ-ações comum no cotidiano.1

A literatura revela uma crescente importância da edu-cação alimentar e nutricional no contexto da promoção da saúde e da alimentação saudável, vista como estratégia fundamental para enfrentar novos desafios no campo da saúde. Estudo brasileiro destaca a importância de que as ações educativas sejam desenvolvidas no sentido de pro-mover a autonomia aos indivíduos, respeitando as cultu-ras, valorizando a história e a diversidade regional.2-4

A educação alimentar e nutricional quando direcio-nada a grupo de diabéticos, possibilita uma maior sen-sibilização às suas necessidades nutricionais, ao mesmo tempo em que facilita as escolhas conscientes de alimen-tos mais saudáveis, indicada atualmente para tratamento do diabético; do mesmo modo, conhecer o manejo nu-tricional ideal favorece seu controle metabólico adequa-do, reduzindo o risco de complicações agudas e crônicas da doença.5

Em 2020, a expectativa de vida no Brasil ultrapas-sará 75 anos, representando 34 milhões de idosos, ou seja, 15% da população. Apesar de o envelhecimento ser um fenômeno ainda recente, a população dos ido-sos brasileiros é uma das maiores do mundo. Dentre os problemas de saúde, destaca-se o diabetes mellitus tipo 2 (DM2), que apresenta características específicas em pes-soas acima de 60 anos. A partir de 30 anos, pode ocorrer diminuição na tolerância à glicose em jejum. Esse fato pode estar relacionado ao processo de envelhecimento, bem como corresponder a uma etapa evolutiva do de-senvolvimento do DM a ser instalado.3,6

Em relação ao diabético idoso, em especial, necessi-ta ser estimulado pelos profissionais de saúde a manter uma vida independente, adaptando-se da melhor ma-neira possível às modificações exigidas para o controle metabólico. As ações educativas implementadas junto ao paciente, familiares, amigos e/ou cuidadores, terão mui-to a contribuir para uma melhor qualidade de vida.6 A intervenção educativa pode contribuir para mudanças no estilo de vida, favorecendo o conhecimento, sendo, portanto, um dos meios para vencer os desafios impos-tos aos idosos pela idade e pela sua condição de saúde, propiciando, também, o aprendizado de novas formas de cuidar, ampliando as oportunidades para resgatar seu bem-estar físico e emocional.3,4,7

Várias linhas de pesquisa sugerem que o tratamento alimentar é o fator de maior dificuldade de adesão dos

diabéticos, sendo aquela que poderá levar a maiores be-nefícios de saúde.8 Diante disso, o propósito deste estu-do foi avaliar o nível de conhecimento em alimentação e nutrição de um programa de educação alimentar para DMI, que incentiva hábitos alimentares adequados ao diabético como forma de prevenção, manutenção e/ou melhora do estado nutricional.

mÉToDosTrata-se de um estudo transversal do tipo pré-teste/pós--teste, com idosos portadores de diabetes tipo 2, into-lerantes a carboidratos e seus familiares e/ou acompa-nhantes.

A população do estudo corresponde a 60 participan-tes do NAI/PROIDOSO/UFPE, frequentando regular-mente o Programa de Educação Alimentar e Nutricional em Diabetes na Terceira Idade, onde foram divididos em 3 grupos, cada um com 20 idosos que participaram dos cursos nos meses de setembro, outubro e novembro de 2012. Cada curso foi constituído por 4 oficinas, com os seguintes temas: fisiopatologia do diabetes, tratamento alimentar, tratamento medicamentoso e atividade física no tratamento do diabetes.

Com relação à aplicação dos testes do conhecimen-tos, estes foram respondidos pelos participantes no de-correr das 4 oficinas. Os cursos foram ministrados na sala de aula do NAI, com as oficinas ministradas de 15 em 15 dias no horário das 14 horas às 15 horas, com prorrogação a depender das perguntas e questionamen-tos nos idosos.

Os idosos foram selecionados com base em critérios de inclusão: ser diabético tipo 2 em qualquer forma de tratamento, estar em condições de saúde mental para responder aos questionários sobre noções básicas dos temas das oficinas, ter participado ativamente da pales-tra, comparecer a todas as oficinas e assinar o termo de consentimento livre e esclarecido.

No que se refere aos aspectos éticos, a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa com seres hu-manos do Centro de Ciências da Saúde da UFPE, sob o no 05628102.5.0000.5208. As avaliações não tinham nenhum dado que identificasse o indivíduo ou que lhe causasse constrangimento ao responder as perguntas. Foram incluídos, no estudo, os idosos diabéticos que aceitaram participar voluntariamente após a obtenção do consentimento verbal dos participantes e autorização por escrito.

As variáveis do estudo são: perfil da amostra (sexo, idade, tipo de diabetes, tipo de tratamento, grau de esco-laridade, renda e procedência) e testes de conhecimentos (pré e pós-testes), que foram aplicados no início e fim de cada curso. As variáveis do perfil da amostra foram cole-tadas na 1a parte do questionário de pré-teste.

A 1a etapa de cada curso foi a aplicação do pré--teste (avaliação de conhecimentos básicos). A 2a foi

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constituída de uma aula teórica/prática de aproxima-damente 40 min, com entrega de folhetos educativos específicos de cada oficina; a 3a parte, aula teórico--prática; a 4a, colocações dos pacientes e discussão dos temas abordados; a última etapa foi constituída pela aplicação do pós-teste de conhecimento básico de todo curso, realizada na última oficina do curso. Para análise do conhecimento de alimentação e nutrição, utilizou-se um pré-teste específico desta oficina que foi aplicado no início e no fim de cada oficina de tra-tamento alimentar.

A análise das respostas dos questionários foi reali-zada pelo somatório de pontos obtidos em cada oficina, podendo totalizar, no máximo, 10 pontos, caso todas as questões tivessem sido respondidas corretamente. Os pacientes que obtiveram a nota máxima 10 foram clas-sificados como ótimos em termos de conhecimentos básicos de saúde em nutrição em diabetes na terceira idade.

A construção do banco de dados e a análise estatística foram realizadas nos programas Epi-info versão 6.04. A comparação entre as médias foi realizada pelo Teste t de Student. A associação entre as variáveis foi mensurada através do Teste do Quiquadrado com correção de Yates. Foi adotado o nível de significância de 5% para rejeição da hipótese de nulidade.

ResuLTADos Na Tabela 1, observa-se análise descritiva das característi-cas sociodemográficas e clínicas dos 3 grupos analisados. No estudo, a predominância encontrada dos participantes foi do sexo feminino (90%), e houve distribuição homogê-nea em termos de faixa etária, sendo a maioria residente em Recife (62%). Em relação ao tempo de estudo, foi veri-ficado que a maioria referiu ter > 8 anos de estudo (63%), com renda familiar mensal de > 2 salários mínimos (85%). Por fim, a tabela informa que cerca de 98% dos participan-tes fazem uso de hipoglicemiantes orais.

Tabela 1 Distribuição dos pacientes segundo dados sociodemográficos e clínicos

Variável no %

Gênero

Masculino 6 10

Feminino 54 90

total 60 100

Idade

60-69 anos 31 52

≥ 70 anos 29 48

total 60 100

Tempo de estudo

≤ 8 anos 22 37

> 8 anos 38 63

total 60 100

Renda familiar mensal

≤ 1 sM* 09 15

≥ 2 sM 51 85

total 60 100

Procedência

Recife 37 62

Região Metropolitana/interior Pe 23 48

total 60 100

Tipo de tratamento

Hipoglicemiantes orais 55 92

Dieta exclusiva 05 8

total 60 100

*SM: Salário mínimo vigente no período = R$ 622,00.

Nos pré e pós-testes aplicados nos cursos ilustrados na Tabela 2, não foram apontadas diferenças significa-tivas em nenhuma das questões comparadas. Por outro lado, pode-se perceber que houve diferença estatistica-mente significativa em 50% das questões respondidas (Tabela 3).

Tabela 2 Pré e pós-testes das questões de fisiopatologia do diabetes, tratamento medicamentoso e atividade física no tratamento do diabetes

Pré/pós-testes dos 3 cursos RespostasPré-teste Pós-teste Valor

de pN % N %

o que é diabetes?Respostas corretas 56 93,33 55 91,67 1,000

Respostas erradas 04 6,67 05 8,33

Por que é importante fazer o tratamento medicamentoso?Respostas corretas 31 52,00 40 66,66 0,137

Respostas erradas 29 48,00 20 33,33

Quem tem diabetes pode fazer exercício físico?Respostas corretas 51 85,00 56 93,33 0,240

Respostas erradas 9 15,00 04 6,67

*Teste quiquadrado com correção de Yates

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Tabela 3 Pré e pós-testes das oficinas de tratamento alimentar

oficinas de educação alimentar dos 3 cursos RespostasPré-teste Pós-teste Valor

de pno % no %

Por que é importante ter uma alimentação saudável?Respostas corretas 38 63,33 50 83,33 0,023*

Respostas erradas 22 36,67 10 16,67

Quais são os alimentos que devem ser preferidos pelos diabéticos?

Respostas corretas 27 45,00 30 50,00 0,714

Respostas erradas 33 55,00 30 50,00

Quais são os alimentos que se deve evitar consumir?Respostas corretas 22 36,67 60 100,00 0,000*

Respostas erradas 38 63,33 0 0

Qual é a diferença entre alimentos DIeT e LIGHT?Respostas corretas 33 55,00 40 66,66 0,261

Respostas erradas 27 45,00 20 33,33

*Teste quiquadrado com correção de Yates

Em relação à avaliação numérica com escore de notas atribuídas de 0 a 10 (Tabela 4), apenas o 1o curso mostrou desempenho estatisticamente significante (p = 0,033). Em contrapartida, os cursos seguintes não apresentaram melhora numérica significativa do conhecimento, embo-ra no 2o curso tenha ocorrido uma tendência de aumen-to do conhecimento (p = 0,057).

Tabela 4 Avaliação por escore de notas (1-10) dos cursos

Cursos Notas

Valor de pPré-teste Pós-teste

1o curso 8,55 9,72 0,033*

2o curso 5,96 7,00 0,057

3o curso 5,79 6,30 0,343

média final dos testes 6,76 ± 1,55 7,67 ± 1,81 0,096

* Teste t de Student

DIsCussÃo O presente estudo mostra que a educação alimentar e nutricional é um importante instrumento para contri-buir na melhora dos conhecimentos relacionados à ali-mentação do diabético idoso, como também estimular hábitos de estilo de vida saudáveis.

Sabe-se que as mulheres são as que mais procuram o serviço de saúde e as que apresentam maior interesse em aprender sobre como promover o autocuidado com a saúde,9 fato que justifica a presença de 90% dos parti-cipantes do estudo serem do sexo feminino, também ob-servado em outros relatos de educação nutricional para diabéticos.8

As demais características demográficas observadas nesse grupo ficam impossibilitadas de discussão, uma vez que a literatura é escassa de trabalhos com idosos DMI que abordem essas variáveis. Ao mesmo tempo, denota-se a presença da maioria usar hipoglicemiantes orais no tratamento, fato que apresenta grande motiva-ção para adesão ao tratamento alimentar e de exercício físico, uma vez que o receio de passar ao tratamento in-sulínico é bastante acentuado.

Na Tabela 2, onde se observam questões gerais rela-tivas às 3 oficinas ministradas. Apesar de o Teste Qui-quadrado não revelar aprendizado estatisticamente sig-nificante, denota-se, em todos os temas abordados, um maior interesse e discussão de dúvidas no dia da aplica-ção do pós-teste; semelhante ao encontrado por Russel em programas de educação nutricional em DM2,8 onde objetivou reduzir consumo calórico e lipídico, e elevar a ingestão de fibras, conseguindo aprendizados signifi-cativos apenas no primeiro. Do mesmo modo, o fato do reduzido tempo de cada oficina e as limitações na difi-culdade de leitura e compreensão das perguntas do pré/pós-teste.

Dados da literatura nacional e internacional na área da educação em DM não são uniformes na sua metodo-logia, dificultando a comparação dos resultados de pro-gramas educacionais brasileiros com tempo de acompa-nhamento bastante variável.10

Em relação ao aprendizado nas oficinas específicas de tratamento alimentar (Tabela 3), observa-se aprendiza-do em 50%, superior ao encontrado por Russel (33%),8 nos Estados Unidos em diabéticos tipo 2 de alta-média escolaridade e nível socioeconômico. Também nessas oficinas de alimentação, os DMI referiram dificuldade na leitura e entendimento das perguntas dos pré/pós- testes, apesar de essas oficinas serem a de maior interesse dos grupos e, segundo eles, o motivo de terem se inscrito nos cursos.

Na avaliação por escore de notas de cada curso, foi encontrada melhora dos conhecimentos de forma esta-tisticamente significante (p = 0,033) dos participantes do 1o curso, quando comparado à média no pré com a do pós-testes; justificando provavelmente elevado nível de escolaridade, onde a maioria (57%) era de nível su-perior ou médio (29%). No decorrer do curso, os DMI e acompanhantes participavam ativamente das oficinas, tirando dúvidas e relatando alguma experiência pes-soal, fato que contribuiu ainda mais para promover o aprendizado; sendo observado no decorrer das oficinas ministradas a esse grupo que os mesmos mostravam-

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-se bastante interessados e motivados a praticarem as orientações sugeridas, principalmente as relacionadas com a alimentação. Quanto aos participantes do 3o cur-so, apesar de interesse em aprender, não apresentaram participação ativa, comparados com os alunos dos cur-sos anteriores, mostrando-se mais tímidos para per-guntar e/ou esclarecer a redação das perguntas do pré/pós-teste, o que pode ter contribuído para as menores notas do grupo.

De maneira geral, os cursos mostraram que, após o Programa de Educação Alimentar e Nutricional, ocorreu alguma melhora nos níveis de conhecimento da doença e dos tratamentos atuais realizados para o bom controle do diabetes. Semelhante aos resultados obtidos por Dan-tas et al.,11 trabalhando educação nutricional em grupos de nefropatas em Brasília.

Diante das limitações de tempo e idade, o estudo de-monstrou que a educação nutricional poderá ser utiliza-

da no atendimento a idosos diabéticos como forma de adesão ao tratamento global, que inclui a nutrição como foco principal.

CoNCLusÃoO estudo demonstrou que, após o programa de educação, o nível de conhecimento nutricional aumentou, e que a educação nutricional poderá ser utilizada no atendimen-to a idosos diabéticos, como forma de adesão ao trata-mento global que inclui a nutrição como foco principal.

Recomenda-se, ainda, que futuras investigações comparem programas de educação nutricional de maior período de tempo e com outras ferramentas de avaliação de aprendizado.

Conflitos de interessesOs autores declaram não possuir nenhum conflito de interesse.

ReFeRÊNCIAs1. Pereira AV, Vieira ALS, Filho AA. Grupos de educação em saú-

de: Aprendizagem permanente com pessoas soropositivas para o HIV, Trab. educ. saúde (Online). Rio de Janeiro. 2011 mar-jun; 9(1).

2. Santos LAS. O fazer educação alimentar e nutricional: algumas contribuições para reflexão. Ciência & Saúde Coletiva. 2012; 17(2):453-62.

3. SBD – Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2012-13. São Paulo: AC FARMACÊUTICA; 2012. 340p.

4. American Diabetes Association. National Standards for Diabe-tes Self-Management Education. Diabetes Care. 2013; 36 Suppl 1:100-8.

5. Haas L et al. ADA - National Standards for Diabetes Selt-Manage-ment Education and Support. Diabetes Care. 2012; 35(11):2393-2401.

6. Tavares DMS, Rodrigues RAP. Educação Conscientizadora do Idoso Diabético: Uma proposta de intervenção do enfermeiro. Rev Esc Enferm USP. 2002; 36(1):88-96.

7. Martins JJ, Albuquerque GL, Nascimento ERP, Barra DCC, Sou-za WGA, Pacheco WNS. Necessidades de educação em saúde dos cuidadores de pessoas idosas no domicílio. Texto Contexto En-ferm, Florianópolis. 2007; 16(2):254-62.

8. Russell E et al. MD. Nutrition Education and Social Learning In-terventions for Type II Diabetes. Diabetes Care. 1989; 12(2).

9. Gomes R, Nascimento EF, Araújo FC. Por que os homens buscam menos os serviços de saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com ensino superior. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro. 2007; 23(3):565-74.

10. Vivilo MA, Oliveira O, Ferreira SRG. Educação Em Diabetes: Pa-pel e Resultados das Colônias de Férias. Arq Bras Endocrinol Me-tab, São Paulo. 1998 dez; 42(6).

11. Dantas AS, Martins C, Lauria E, Savatim VC, Coutinho V, Liberale R. Alterações bioquímicas e de conhecimento nutricional, antes e após um programa de educação nutricional para controle da hi-perfosfatemia e hiperpotassemia de pacientes em hemodiálise em Brasília. Revista Brasileira de Nutrição Clínica. 2012; 27(1):17-23.

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a inFluÊncia Da ativiDaDe FÍsica

na MeMÓRia Do iDoso

ana Paula de azevedo albuquerquea, Maria elisa caputo Ferreirab

Resumo Objetivos: O objetivo do presente estudo é analisar o desempenho da memória em relação aos níveis de atividade física dos idosos ativos e menos ativos. Métodos: Neste estudo, 150 sujeitos divididos em idosos fisicamente ativos e idosos menos ativos, normais, residentes em Juiz de Fora, foram submetidos aos testes Miniexame de Estado Mental e ao questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ). Correlacionamos esses dados entre si. Resultados: A análise desses resultados mostrou uma diferença significativa entre os grupos. O grupo de idosos fisica-mente ativos apresentou melhores resultados no exame de Miniexame de Estado Mental, principalmente nos aspectos relacionados à memó-ria em relação ao grupo de idosos menos ativos, apresentando melho-res resultados para todas as comparações feitas pelo Teste T (p < 0,05). Conclusão: Os idosos ativos apresentaram melhor desempenho na avaliação cognitiva.

tHe inFluence oF tHe PHYsical activitY in tHe senioR's MeMoRY

ABsTRACTObjectives: The aim of this study was to analyze the memory perfor-mance in relation to physical activity levels of older people active and less active. Methods: In this study 150 subjects were divided in seniors phy-sically active and less active, regular residents of Juiz de Fora, they were submitted to the tests Mini Exam of Mental State and the International questionnaire of Physical Activity (IPAQ). We correlated all the data. Results: The analysis of these results showed a significant difference among the groups. The seniors' group physically active presented better results mainly in the exam of Mini Exam of mental State related to me-mory in relation to the group of seniors less active, they also presented better results in all of the comparisons done by the Test T (p < 0.05). The result showed that the activity influences directly in the seniors' memory. Conclusion: The senior's groups physically active presented better re-sults in cognitive assessment.

Palavras-chave Idosos, exercício físico, memória.

Keywords Old, physical,

exercise, memory.

Artigo or iginal

a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – Laboratório de Biociências e Motri-cidade Humana (LABMH) – Rio de Janeiro, RJ, Brasil.b Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) – Juiz de Fora, MG, Brasil.

Dados para correspondência Ana Paula de Azevedo Albuquerque – Rua Visconde de Mauá, 424 – Bairro Santa Helena, Juiz de Fora, MG. Tel.: (32) 8848-1194. E-mail: [email protected].

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A influência da atividade física na memória do idoso | 131

INTRoDuÇÃoO crescimento populacional de idosos é um fenômeno que se iniciou nos países desenvolvidos no século XIX, com a industrialização. As melhorias sociais se refleti-ram, diretamente, nas taxas de fecundidade e mortalida-de; essas melhorias foram nítidas no saneamento básico, na alimentação, no trabalho e na habitação. A pirâmide etária populacional foi invertida devido às mudanças da qualidade de vida do indivíduo ao envelhecer, sendo esta também uma realidade em países em desenvolvimento, como o Brasil.

No Brasil, no entanto, foi a ação médico-sanitária que deu base à diminuição da mortalidade, permitindo, en-tão, que uma maior população idosa permanecesse viva, mas sem as condições sociais que devem acompanhar o aumento da faixa etária idosa na população. Assíria, decorrente dessa inversão, houve gradual diminuição de qualidade das condições de vida da população idosa no Brasil, especialmente nas primeiras décadas do século XXI.

A partir da década de 1940, observa-se o início do declínio das taxas de mortalidade, que estendeu até o final dos anos 1970. A expectativa de vida aumentou em 4 anos para os homens e 6,8 anos para as mulheres, atingindo, para estas, 53,7 anos em 1970. O crescimento da população se deu, expressivamente, a partir de 1960, com o declínio da fecundidade, sobretudo nas regiões mais desenvolvidas e, em seguida, espalhou-se pelas des-favorecidas. As taxas de fecundidade caíram de 5,8, em 1970, para 2,8 filhos por mulher em idade reprodutiva, em 1991, acarretando o decréscimo relativo da popula-ção de jovens em relação à de idosos de 3,1% para 4,8%.1

Em razão da grande quantidade de pesquisas sobre o envelhecimento humano, torna-se notório que a popula-ção de idosos está maior a cada dia. É fácil visualizar os fatores que levam ao fenômeno populacional de idosos como uma boa alimentação, a prática de atividade físi-ca, os avanços da medicina, lembrando que os eventos sociais estão cada vez mais inseridos no dia a dia dessas pessoas.

Quando comparamos o índice de envelhecimento do Brasil com o de outros países, temos, por exemplo, a França, que necessitará de 115 anos para duplicar o nú-mero de idosos; a Suécia, 85; e os Estados Unidos, 66. Estima-se que o Brasil deve levar apenas 30 anos para atingir esse aumento da população idosa. Por conseguin-te, o Brasil deve passar, em 2026, para a 6a posição em número absoluto de indivíduos com 60 anos ou mais, sendo que, em 1960, ocupava a 16a colocação.1-3

A Organização Mundial de Saúde (OMS) consi- dera idosos os indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos nos países desenvolvidos e igual ou superior a 65 anos nos países subdesenvolvidos. No Brasil, o número de pessoas com mais de 60 anos já supera 15 milhões e, progressivamente, cresce esse número, dobrando a

cada 20 anos.4 Ocorre, dessa forma, uma modificação no comportamento da sociedade em relação aos idosos e, principalmente, ao estilo de vida.

Vale ressaltar que, ao se investigar o envelhecimento etário da população, é de grande importância destacar também a preocupação com a qualidade nesse envelhe-cimento e, posteriormente, explicitar as intervenções capazes de gerar um impacto em direção a um envelhe-cimento saudável.

O termo “envelhecimento” refere-se a um processo ou a um conjunto de processos que ocorrem em orga-nismos vivos e que, com o passar do tempo, levam a uma perda da adaptabilidade, ocorrendo deficiência funcio-nal e, finalmente, a morte.5 O organismo entra em um lento processo de degeneração, acarretando a perda gra-dual da capacidade funcional, o que leva o idoso à inca-pacidade para realização das atividades diárias.6 Por con-seguinte, repensar a velhice de forma a ressaltar as suas virtudes, potencialidades e características é promover a longevidade saudável do idoso.7

A última fase do ciclo vital é delimitada por perdas motoras, afastamento social e especialidade cognitiva; já o envelhecimento é o processo genético (biológico) que apresenta ritmo, efeito e duração, que são características individuais e possuem origem genética, biológica, sócio--histórica e/ou psicológica.8

As condições de vida e saúde dos idosos, se avaliadas, sugerem a implementação de propostas de intervenção, tanto em programas geriátricos quanto em políticas so-ciais, objetivando o bem-estar dos que envelhecem.9,10

O envelhecimento, segundo o posicionamento da So-ciedade Brasileira de Medicina do Esporte, é um processo contínuo durante o qual ocorre declínio progressivo de todos os processos fisiológicos; a diminuição da capacidade cognitiva é um grande desafio, pois o envelhecimento do sistema nervoso reduz essa capacidade. A importância do contexto sociocultural para os idosos é fundamental,7 pois o envelhecimento torna-se acelerado quando o indi-víduo vive em um ambiente indesejado. Desse modo, o envelhecimento bem-sucedido seria produto de uma con-dição de bem-estar físico e social de nível individual e em grupo, sendo levados em conta os valores existentes no ambiente em que o indivíduo envelhece e as circunstân-cias de sua história pessoal e de seu grupo etário.10

Há uma diferenciação entre envelhecimento bem--sucedido e o usual. O envelhecimento bem-sucedido inclui 3 componentes: baixa probabilidade de doenças, manutenção das capacidades cognitivas e físicas, além de engajamento ativo com a vida. Assim, o 3o componente indica a tendência de que o envelhecimento bem-suce-dido não está associado somente à ausência de prejuízos nem que se dá de forma passiva, mas é determinado ati-vamente pela postura do idoso.11

A literatura mostra que o estilo de vida influencia no tempo de vida e no bem-estar dos idosos. A ativi-

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dade física é primordial para a saúde física e mental no envelhecer.

A memória diminui com o envelhecimento e, mes-mo com muitas áreas preservadas, há perspectivas de declínio. Uma das causas desse declínio é a diminuição dos neurotransmissores: serotonina, dopamina, nora-drenalina, endorfinas, e o principal deles – a acetilcolina – o transportador de memória. Outro fator que interfere na perda gradativa da memória é a falta de circulação sanguínea cerebral, uma vez que o volume de sangue utilizado corresponde a 25% bombeado pelo coração e torna-se vulneral à baixa circulação. Um fator agravante da falta de sangue é a aceleração da morte de neurônios causada pela baixa oxigenação.

Também, os elevados níveis do hormônio do estresse – o cortisol – pode prejudicar o cérebro de 3 maneiras: interferir no suprimento de glicose cerebral, dificultan-do o armazenamento de novas memórias e a recordação das já existentes. O cortisol determina a ocorrência de um influxo excessivo de cálcio para as células cerebrais e provoca disfunções nas mesmas; além disso, prejudica a função dos neurotransmissores.12

A senilidade é acompanhada de um enfraquecimen-to geral dos diversos tipos de memória; deve-se à perda neuronal, que se manifesta por meio de uma perda de função apenas quando se ultrapassa certo limiar mínimo e necessário para o desempenho. A perda neuronal, de fato, é maior por volta dos 9 a 13 meses, quando nós, hu-manos, aprendemos a caminhar; ao fazê-lo, deixamos de usar todos os neurônios e sinapses, que se encarregam de considerar, de um ponto de vista perceptivo, cognitivo e motor, o mundo semi-horizontal e quadrúpede dos ani-mais inferiores. Esses sistemas, por falta de uso, desapa-recem. A partir dessa idade, a perda neuronal continua a uma velocidade muito menor durante toda a vida.13

As falhas de memória ocorrem quando as sinapses de neurônios encarregadas de evocar um certo tipo de memória estão inibidas, alteradas ou em número redu-zido. A redução do número de sinapses e de neurônios pode ser acelerada devido à estimulação excessiva, doen-ças degenerativas, isquemias cerebrais e a traumatismos cranianos por acidentes, mas a perda fisiológica de neu-rônios é algo que todos experimentamos naturalmente ao longo da vida. A velhice é acompanhada de um enfra-quecimento geral dos diversos tipos de memória, devi-do à diminuição gradativa do número de neurônios que ocorre na idade adulta.14

Na amnésia senil denominada benigna, o indivíduo é capaz de sustentar uma vida mais ou menos normal e autossuficiente durante muitos anos. Em pessoas de ida-de muito avançada (acima dos 90), é difícil estabelecer o limite entre o quadro benigno e um quadro demen-cial. Há variações individuais no curso e na intensidade da amnésia senil denominada benigna. Há pessoas que conservam seu intelecto, suas memórias, mais íntegros

até passados 80 anos de idade. Provavelmente, o exer-cício contínuo em suas diversas formas seja a principal causa da diferença entre o declínio cognitivo de uns e de outros.13 Assim, um idoso que teve hábitos de vida saudáveis, apesar das perdas funcionais, orgânicas e mentais, pode ser uma pessoa com autossuficiência para tarefas diárias e com capacidade adaptada para manter relações intelectuais e sociais com o meio que o rodeia. Posturas assumidas ao longo da vida em relação à atividade física e nutrição influenciam, diretamente, no envelhecimento fisiológico, que é a grande diferença de saber envelhecer com saúde física e mental.

Destaque para as pesquisas a respeito de atividade física e memória, principalmente as que se referem aos indivíduos com mais de 60 anos, em função das doenças degenerativas. Por conseguinte, uma contínua atividade intelectual, como a leitura, exercícios de memória, pala-vras cruzadas e jogo de xadrez, auxiliam a manutenção da memória. Além disso, um estilo de vida ativa, com prática regular de atividade física e uma dieta saudável, são regras básicas para a manutenção da memória.15

Alguns estudos demonstram a correlação entre ati-vidades físicas e melhores índices das funções cogniti-vas: Wood et al. verificaram que o tempo de reação e a memória estão relacionados com a mobilidade física, e a memória relaciona-se também com o componente social da qualidade de vida. Etnier et al. revelaram que o exer-cício e a aptidão física têm um efeito positivo pequeno na cognição, e que este depende do exercício, dos parti-cipantes, dos testes cognitivos e da qualidade do estudo. Assim, é comprovado que o exercício físico realizado du-rante um considerável período de tempo é que produz ganhos na aptidão física e pode ser útil na melhora da memória.16

A atividade física é definida como qualquer movi-mento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que resulta em gasto calórico acima do basal. O exercí-cio físico é definido como uma subcategoria da atividade física planejada, estruturada e repetitiva, resultando na melhora ou manutenção de uma ou mais variáveis da aptidão física. A aptidão física é considerada não como um comportamento, mas como uma característica que o indivíduo possui ou atinge, como a potência aeróbica, endurance muscular, força muscular, composição corpo-ral e flexibilidade.17

A atividade física regular exerce uma importante in-fluência sobre as capacidades funcionais, qualidade de vida e saúde mental do cidadão idoso, embora o hábito de praticar atividade física regular possa estender o ciclo vital de uma pessoa em 1 a 2 anos. Mas, um benefício muito mais importante é o aumento de 6 a 10 anos na ex-pectativa de vida, maior bem-estar, melhora da autoesti-ma e sensação de autoeficácia, bem como uma redução do risco de ansiedade e depressão.18

Os distúrbios de memória são muito prevalentes em

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idosos e comprometem, de forma incisiva, a sua qualida-de de vida.19 De um lado, é reconhecido que a atividade física regular do idoso melhora a saúde, facilita e promo-ve contatos sociais; de outro, é a repercussão do benefí-cio mais palpável do condicionamento físico.20

Em 2002, foi realizado um estudo sobre efeitos pro-vocados pelo treinamento aeróbico e mental em anciãos saudáveis (60 a 76 anos), separados em 4 grupos: treina-mento aeróbico, treinamento mental; treinamento aeró-bico e mental; e grupo controle. Nessa pesquisa, todos os sujeitos fizeram 2 testes cognitivos e uma prova de exercício com incremento antes e depois do período de treinamento, depois de 2 meses. O grupo-controle não mostrou nenhum tipo de alteração em variáveis fisioló-gicas e cognitivas; já os grupos de treinamento mostra-ram significativo aumento do VO2máx (consumo má-ximo de oxigênio): de 12% em treinamento aeróbico; e 11% em treinamento aeróbico e mental combinados. Os autores constataram que o treinamento aeróbico especí-fico e o treinamento metal utilizado nesse estudo induzi-ram o mesmo grau de melhora da função cognitiva e que a combinação dos 2 procedimentos conduziu a maiores efeitos do que técnicas separadas.20

Destaca-se, nesta pesquisa, a relevância de se inves-tigar, cientificamente, a população que está cada dia se tornando mais idosa, e os fatores que influenciam seu bem-estar. A atividade física é um dos métodos que po-dem melhorar a vida dos idosos, tem um custo relati-vamente baixo e refletirá no bem-estar, na mobilidade física, na autonomia, além de melhorar a autoimagem e proporcionar uma vida mais saudável; assim, um pro-grama de atividade física aprimora as funções fisiológi-cas e psicológicas, sendo uma alternativa não medica-mentosa para melhora cognitiva.

mÉToDosParticiparam desta pesquisa 149 voluntários, de ambos os sexos, sendo 95 mulheres e 54 homens, com idade mí-nima de 60 e máxima 97 anos, divididos em 2 grupos, 99 indivíduos praticantes de exercícios físicos de forma regular e prolongada há mais de 3 meses, e 50 indivíduos menos ativos ambos com nível escolar mínimo do 2o ci-clo do ensino fundamental.

Foram utilizados nesta pesquisa: Uma ficha de ana-mnese, o questionário Internacional de Atividade Físi-ca (IPAQ), O teste aplicado é o Miniexame do Estado Mental.

Foram incluídos indivíduos de ambos os sexos, idade igual ou superior a 60 anos, que não possuíam nenhuma doença física ou neurológica, com autonomia funcional e alfabetizados.

A estatística descritiva é apresentada como média ± desvio padrão. Utilizou-se a correlação parcial para tes-tar a correlação entre o Nível de Atividade Física (IPAQ) e a memória, utilizando as mesmas covariáveis. Todas

as análises foram feitas utilizando o software SPSS V.16 (Chicago, Estados Unidos), considerando-se um nível de significância α = 0,05.

ResuLTADosAs principais características da amostra utilizada no es-tudo são apresentadas na Tabela 1. A amostra foi com-posta por pessoas idosas com idade entre 60 e 97 anos, sendo a maioria mulheres (64%), com tempo de escola-ridade entre 2 e 22 anos, sendo cerca de 60% delas per-tencentes às classes sociais B e C, que ainda trabalham (87%), e a maioria apresentando um nível de atividade física mais ativo (66%).

Tabela 1 Características gerais da amostra do estudo (n = 149)

Variáveis estatística descritiva

Média ± desvio padrão Idade (anos): 75,7 ± 8,3;

Escolaridade (anos): 7,8 ± 3,7; IPAQ (min): 501 ± 356;

Gênero Frequência (%): Masculino, 54 (36,2); Feminino, 95 (63,8);

Classe Social: A, 39 (26,2), B, 36 (24,2); C, 53 (35,6); D, 21 (14,1);

Trabalha: Sim, 130 (87,2), Não, 19 (12,8).

Na Tabela 2, são apresentadas as características da amostra após a estratificação pelo nível de atividade física. O grupo Menos Ativo (n = 50) foi composto pe-los idosos que apresentaram valores de IPAQ menor ou igual a 300 minutos por semana de atividade física moderada e intensa, ao responderem a versão longa do IPAQ. O grupo Mais Ativo (n = 99) foi composto por aqueles que obtiveram pontuação maior que 300 minu-tos por semana. O grupo Mais Ativo apresentou maior IPAQ, maior média de idade e mais tempo de estudo quando comparado ao grupo Menos Ativo (p < 0,05). Ambos os grupos foram similares na distribuição de frequências quanto às variáveis gênero, classe social e trabalho (p > 0,05).

Tabela 2 Características gerais dos grupos de idosos classificados quanto ao nível de atividade física

mais ativos/variáveis/menos ativos(n = 99)(n = 50)

p-valueIdade (anos)

Idade (anos) 72,5 ± 6,277,3 ± 8,8 0,00*

Escolaridade (anos) 6,6 ± 3,18,4 ± 3,9 0,00*

IPAQ (min)107,8 ± 103,7700,2 ± 258,9 0,00*

Sexo (fem/masc) 31 / 1964 / 35 0,75

Classe Social (A/B/C/D) 11/9/22/828/27/31/13 0,34

Trabalha (sim/não) 44/686/13 0,84

(Teste “t” de Student para variáveis contínuas e Teste Quiquadrado para variá-veis categóricas; *Valores de p < 0,05)

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O teste para avaliar o nível de atividade física foi o IPAQ. Segundo os parâmetros do IPAQ, são sedentários os idosos que, no somatório das atividades físicas nos diferentes domínios (lazer, transporte, trabalho e tarefas domésticas), praticaram menos de 150 minutos de ati-vidades moderadas ou vigorosas por semana, e não se-dentários aqueles cujo somatório foi acima desse valor. No entanto, para essa pesquisa foram ressaltados valores iguais ou menores de 300 minutos para menos ativos e acima de 300 minutos para ativos, uma vez que na pre-sente pesquisa foi destacada a prática do exercício físico sistêmico. As variáveis idade, escolaridade e classe social foram decisivas quando somatizadas. Quanto maior a renda e a escolaridade, maior a frequência.

40

30

20

10

0Menos ativos

Classi�cação IPAQ

Mem

ória

Mais ativos

MasculinoFeminino

Figura 1 Média e desvio-padrão da variável memória em idosos do gênero feminino e masculino classificados pelo Questionário Internacional de Atividade Física como menos ativos e mais ativos. Letras diferentes indicam diferenças significativas, (p < 0,05).

Na Figura 1, observa-se que a memória é maior nos idosos mais ativos, sendo que os homens mais ativos apre-sentaram os maiores valores médios de memória quando comparados a homens menos ativos (p = 0,000), mulheres mais ativas (p = 0,03) e mulheres menos ativas (p = 0,000).

A utilização do teste Miniexame do Estado Mental foi proposital, uma vez que avalia os vários tipos de memória. Há uma relação entre memória e exercício físico, idosos mais ativos (homens ativos: 25,0 ± 5,4; mulheres ativas: 21,9 ± 5,6) possuem um escore maior no teste de memória quando comparados com idosos menos ativos (homens ativos: 16,8 ± 5,7; mulheres ati-vas: 18,6 ± 5,6).

O presente trabalho atende às normas para realização de pesquisa em seres humanos (Resolução no 196/96) do Conselho Nacional de Saúde de 10/10/1996 (150) e à De-claração de Helsinki de 1964 (151).

Todos os responsáveis pelos participantes do estudo assinaram o Termo de Participação Consentida (conten-do o objetivo do estudo, os procedimentos de avaliação, o caráter de voluntariedade da participação do sujeito e a isenção de responsabilidade por parte não só do ava-liador, como também da instituição que abrigou o tra-tamento experimental e da Universidade Católica de Nuestra Señora de la Asunción). Além disso, foi elabo-rado um termo de informação à instituição na qual se realizou a pesquisa, com os mesmos itens do termo de participação consentida.

O estudo teve seu projeto de pesquisa aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Huma-nos da Rede Euroamericana de Motricidade Humana (REMH) – Rio de Janeiro, Brasil. Protocolo no 005/2007.

DISCUSSÃOO perfil dos idosos participantes desta pesquisa nos mostra uma heterogeneidade quanto ao nível de ativida-de física, mas sempre prevalecendo um padrão positivo se comparado à população idosa de um modo geral. De acordo com os estudos citados, corroborados pelos da-dos obtidos no presente estudo, a atividade física parece ter relação com uma memória mais ativa. Não se pode afirmar que a atividade física evita doenças relacionadas à perda de memória. Já os idosos não sedentários apre-sentam menos indicativos. Apesar das perdas funcionais, orgânicas e mentais, um idoso que tenha tido hábitos de vida saudáveis pode vir a ser uma pessoa com autossu-ficiência para tarefas diárias e com capacidade adaptada para manter relações intelectuais e sociais com o meio que o rodeiam.21

Alguns dados obtidos neste estudo poderão ser ex-plorados no futuro, como os que relacionam memória, sexo, escolaridade à prática do exercício físico. Portanto, torna-se necessário desenvolver pesquisas da mesma na-tureza, pois, de acordo com a literatura estudada, podem influenciar para uma melhor conservação da memória.

COnClUSÃOOs idosos ativos apresentaram melhor desenvolvimento na avaliação cognitiva. A atividade física não é o prin-cipal fator, mas associada a uma série de outros fatores como boa alimentação, uma boa qualidade de sono e uma boa capacidade cognitiva pode otimizar as funções de memorização tanto motoras quanto cognitivas.

Conflitos de interessesOs autores declaram não possuir nenhum conflito de interesse.

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a inFluÊncia Da PRÓtese auDitiva

na QualiDaDe De viDa Do iDoso

nora Helena Galvan Gomesa, newton luis terrab

Resumo Objetivo: Avaliar a influência da prótese auditiva na qualidade de vida e na audição em idosos com deficiência auditiva. Métodos: Participaram do estudo 50 idosos, sendo 29 do sexo feminino e 21 do sexo masculino, com idade igual ou superior a 60 anos. Divi-didos em 2 grupos – G1 – Grupo de Intervenção e o G2 – Grupo Controle. Foram apli-cados os testes Hearing Handcap Inventory for the Elderly – Screening Version (HHIE--S), Miniexame do Estado Mental (MEEM) e World Health Organization Quality of Life Instruments (WHOQOL-BREF) antes do uso das próteses auditivas e 12 semanas após. Resultados: Foi observada melhora significativa na análise dos escores do HHIE-s no período após o uso das próteses auditivas – G1. A análise do MEEM apresentou diferen-ças estatisticamente significantes, comparando os 2 grupos. No teste WHOQOL-BREF a qualidade de vida apresentou diferença apenas no domínio físico, comparando com ido-sos que não fizeram uso de amplificação auditiva. Conclusão: Através de questionários de autoavaliação, foi possível confirmar os benefícios do uso de próteses auditivas, pois houve uma diminuição na percepção do usuário da própria incapacidade auditiva.

tHe inFluence oF HeaRinG aiD in QualitY oF liFe oF tHe elDeRlY

ABsTRACTObjective: Evaluation of the effects of the hearing aids over quality of life and hearing in older adults with hearing impairment. Methods: The study included 50 older adults, 29 women and 12 men, aged over 60 years old. They were divided into groups: G1 – In-tervention Group, G2 – Control Group. The tests HHIE-s, MMSE and WHOQOL Breef were applied, before the use of hearing aid and 12 weeks after. Results: We observed a significant improvement in analysis of the scores of the HHIE-s after the use of hearing aids – G1. The analysis of MMSE showed statistically significant differences, comparing the two groups. In the test WHOQOL Breef quality of life showed a difference only in the physical dominance, compared with seniors who do not use hearing amplification. Con-clusion: Through self-evaluation questionnaires, it was possible to confirm the benefits of the hearing aids for the users, who became less conscious of their hearing incapacity.

Palavras-chave Envelhecimento,

idoso, perda auditiva,

qualidade de vida, prótese

auditiva, estudo longitudinal.

Keywords Aging, elderly,

hearing loss, quality of life,

hearing aid, longitudinal

study.

Artigo or iginal

a Fonoaudióloga, Especialista em Audiologia Clínica, Mestranda da Pós-graduação em Gerontologia Biomédica, Pontifícia Univer-sidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS).b Médico Geriatra, MD.PhD, Diretor do Instituto de Geriatria e Gerontologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS).

Dados para correspondência Nora Helena Galvan Gomes – Av. Ipiranga, 6.690, conj. 218. Centro Clínico da PUC/RS. Porto Alegre, RS. CEP: 90610-000. Tel.: (51) 3320-5188 ou (51) 3339-9117. E-mail: [email protected].

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Prótese auditiva | 137

INTRoDuÇÃoAs pessoas vivem numa sociedade altamente competiti-va, voltada para o jovem, em que a juventude é sinôni-mo de valor, a idade é escondida, e os idosos necessitam lutar para sobreviver, mesmo com todo o declínio físico e mental resultantes do envelhecimento.1 Na atualidade, é grande a probabilidade de se alcançar 70 anos de ida-de, mas a maioria das pessoas não está preparada para envelhecer. Além dos problemas de saúde física, idosos também têm um aumento da prevalência de sintomas depressivos, e consequentemente, o risco de cometer suicídio, além de estarem mais expostos a abusos e negli-gência por parte de seus familiares.2 Dentre as privações presentes, a deficiência auditiva está entre as que produz um impacto mais profundo e mais devastador no pro-cesso da comunicação. A deficiência auditiva adquirida não consiste apenas em não ouvir bem, envolve fatores psicossociais sérios do indivíduo, assim como toda a família estará, direta ou indiretamente, envolvida. Se-gundo Oliveira et al.,3 a perda auditiva neurossensorial corresponde a 80% das deficiências auditivas e, sendo permanente, constitui-se em uma das maiores preocu-pações dos profissionais da área.

Assim, a longevidade pode tornar-se sinônimo de de-pendência e incapacidade, e avaliar a qualidade de vida é um grande desafio para os profissionais da saúde que trabalham diretamente com estes idosos.2

Estudos comprovam que a audição exerce importan-te influência na qualidade de vida dos indivíduos, pois isolar-se do ambiente familiar ou social é um provável caminho para depressão. Questionários específicos vêm sendo aplicados com o objetivo de melhor avaliar as incapacidades e desvantagens do idoso, bem como sua qualidade de vida. Entre esses questionários, destacam--se o Hearing Handicap Inventory for Elderly (HHIE), o Hearing Handicap Inventory for Elderly – Screening Version (HHIE-S), o Abbreviated Profile of Hearing Aid Benefit (APHAB) e o World Health Organization Qua-lity of Life e World Health Organization Quality of Life – Bref (WHOQOL-BREF).4

Para Carvalho e Iório,5 a deficiência auditiva no ido-so, denominada de presbiacusia, dificulta sua comu-nicação e convívio social, sendo considerada uma das alterações mais incapacitantes provocada pelo envelhe-cimento, e o impacto negativo acarretado em sua qua-lidade de vida poderá ter como consequências reações psicossociais. Para Russo,6 presbiacusia “consiste na deficiência na sensibilidade liminar auditiva, nas discri-minações: temporal, frequência sonora, no julgamento auditivo e no reconhecimento de fala, aliada ao rebai-xamento dos limites de alta frequência, ao decréscimo da inteligibilidade de fala distorcida e à habilidade de recordar sentenças longas”.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu 2 importantes consequências da deficiência auditiva: a

incapacidade auditiva e o handicap (desvantagem).7 Se-gundo a OMS, incapacidade auditiva refere-se a qualquer dificuldade ou falta de habilidade para exercer uma ati-vidade principalmente se estiver relacionada aos proble-mas auditivos vivenciados pelo indivíduo, com referên-cia à percepção de fala em ambientes ruidosos, televisão, rádio, cinema, teatro, igrejas, sinais sonoros de alerta, música e sons ambientais, sendo esta uma atividade co-mum para um ouvinte.7 A desvantagem está relacionada aos aspectos não auditivos, resultantes da deficiência e da incapacidade auditivas, os quais limitam ou impedem o indivíduo de desenvolver adequadamente suas atividades de vida diária, comprometendo suas relações na família, trabalho ou na sociedade. Essa desvantagem é fortemente influenciada pela idade, sexo, fatores psicossociais, cul-turais e ambientais.6 Assayag sugere que sejam utilizados instrumentos de avaliação subjetiva dos benefícios e dos efeitos proporcionados pelo uso da prótese auditiva.8 Com esse objetivo, foram desenvolvidos os questionários de autoavaliação, entre eles o HHIE, específico para ava-liação de idosos. Segundo Kopper et al.,9 a perda auditiva pode comprometer a realização das atividades de vida diária dos idosos, podendo aumentar o risco de declínio funcional. Concluíram que a presença de perda auditiva influencia no desempenho cognitivo de idosos.

oBJeTIVosAvaliar a influência da prótese auditiva na qualidade de vida e na audição em idosos com deficiência auditiva

mATeRIAIs e mÉToDos

PopulaçãoParticiparam do estudo 50 idosos de ambos os sexos com idade igual ou superior a 60 anos, que foram atendidos no Centro de Avaliação Audiológica do Centro Clínico da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS.

Critérios de inclusãoPerda auditiva neurossensorial bilateral de grau mode-rado a severo.

Critérios de exclusão• Baixo índice percentual de reconhecimento de fala

(abaixo de 60%).• Perdaauditivaprofunda.• Comprometimento cognitivo que impeça a compre-

ensão dos questionários.

Os idosos foram divididos em 2 grupos:• Grupodeintervenção–G1:Idososquefizeramusode

prótese auditiva.• Grupocontrole–G2:Idososquenãofizeramusode

prótese auditiva.

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Todos os indivíduos realizaram a bateria de testes au-diológicos:• Audiometria tonal e vocal. • Imitanciometria.• Pesquisa do limiar de desconforto.• Aplicação do HHIE.• Seleção da prótese auditiva mais adequada à perda

auditiva, conforme modelo. Preferencialmente com molde já adaptado ao paciente e início do período de experiência domiciliar.

• Audiometria com e sem aparelho auditivo.• Acompanhamento durante o período de adaptação até

a aquisição das próteses auditivas.• Visitas periódicas mantidas regularmente, para acom-

panhamento.

Foi aplicado um questionário elaborado pela pes-quisadora contendo dados sobre idade, escolaridade, renda, comorbidades, cirurgias prévias e medicações em uso. Em seguida, foram aplicados o questionário de autopercepção auditiva HHIES, o (WHOQOL-BREF) e o MEEM.

Para os idosos que concordaram com o uso de pró-tese auditiva, sempre foi sugerido o uso binaural destas, iniciando assim o período de experiência domiciliar. Permaneceram em acompanhamento semanal por um período mínimo de 12 semanas para os ajustes neces-sários à sua prótese, cedida pela pesquisadora. Após esse período, o idoso foi liberado para a aquisição das próteses.

ResuLTADosO presente estudo teve como base 50 indivíduos com perda auditiva bilateral tipo neurossensorial de grau mo-derado, divididos em 2 grupos, fazendo uso ou não de próteses auditivas.• GrupodeIntervenção–G1: formadopor25 idosos,

sendo 18 do sexo feminino (72%), e 7 do sexo mascu-lino (28%), com idades variando entre 61 e 90 anos de idade. Considerando a escolaridade, 2 tinham comple-tado o 1o grau de estudos (8%); 14, o 2o grau (56%); e 9 tinham o 3o grau completo (36%).

• Grupo Controle – G2: formado por 25 indivíduos,sendo 11 do sexo feminino (44%), e 14 sexo mascu-lino (56%), com idades variando entre 61 e 93 anos. Considerando a escolaridade, 4 tinham completado o 1o grau de estudos (16%); 11, o 2o grau (44%); e 10 ti-nham o 3o completo (40%).

Na Tabela 1, apresentamos a comparação das ca-racterísticas dos 2 grupos; verificou-se que não houve diferença estatisticamente significativa entre as idades e escolaridades dos 2 grupos. Houve uma diferença es-tatisticamente significativa entre as médias de renda fa-miliar em salários-mínimos entre o grupo 1 e o 2, tendo o grupo 1 uma renda maior que o grupo 2 (p = 0,008).

Tabela 1 Dados comparativos das características dos grupos

Grupo 1n = 25

Grupo 2 n = 25 P

Idade (em anos) 80,0 ± 7,9 76,6 ± 9,3 0,170

Renda familiar (em salários-mínimos)

11,6 ± 5,5 8,1 ± 3,0 0,008

escolaridade

1o 2 (8,0) 4 (16,0)

2o 14 (56,0) 11 (44,0)

3o 9 (36,0) 10 (40,0)

Variáveis quantitativas descritas pela média ± desvio padrão e comparadas pelo Teste t de Student para amostras independentes. Variáveis categóricas descritas pelo n(%) e comparadas pelo Teste de Quiquadrado.

Considerando as categorias de escolaridade: 1o grau, 2o grau e 3o grau completos, foi estabelecida a distribuição percentual, conforme Tabela 1, demons-trando-se que a escolaridade de maior percentual da população era o 2o grau, seguindo-se do 3o grau e 1o grau. Esta distribuição foi observada tanto no Gru-po de Intervenção, G1, como no Grupo Controle, G2.

Os resultados obtidos no HHIE-S, relativos aos as-pectos sociais e emocionais, foram demonstrados in-dividualmente por questão, considerando as 2 escalas, tabulando assim as respostas. Na Tabela 3, apresenta-mos a comparação das frequências das diferentes res-postas às questões do escore HHIE-S nos períodos pré e pós. Vemos que, no pré, essas frequências são iguais estatisticamente. Já no pós, todas as diferenças entre os grupos foram estatisticamente significativas, com exceção da questão “A dificuldade em ouvir faz com que você vá a serviços religiosos menos vezes do que gostaria?”, na qual não houve diferença (p = 0,301).

Na Tabela 2, apresentamos as categorias de resultado no escore HHIE-S, assim como as médias de pontuação das variáveis no domínio emocional e social. Dividimos os sujeitos em sem percepção, percepção leve/moderada e percepção severa, segundo o seguinte critério: soma-mos as pontuações nos itens da escala e dividimos de 0 a 8 pontos em sem percepção, 10 a 24 pontos, leve a mo-derada, e 26 a 40 pontos, severa.

Como foi demonstrado na Tabela 3, os resultados da aplicação do HHIE-S, no segundo momento, foram mui-to relevantes, com significativas mudanças, com exceção da questão da escala social/situacional, que perguntava se o idoso deixou de frequentar serviços religiosos devi-do à sua deficiência auditiva. Em ambos os momentos, a resposta foi negativa, independente do uso ou não de prótese auditiva.

No teste MMSE, foi usado ponto de corte em 28 pon-tos para indivíduos com 8 anos ou mais de estudos, e 18 pontos para analfabetos, apesar de neste estudo todos os idosos avaliados serem alfabetizados, e a grande maioria ter 2o grau completo. Na Tabela 4, apresentamos médias e desvios padrões do MMSE no pré e no pós nos grupos

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Prótese auditiva | 139

Tabela 2 Dados comparativos do total do HHIE-S e das dimensões emocional e social no pré e no pós entre os grupos

Grupo 1n = 25

Grupo 2n = 25 P pré P pós

Pré Pós Pré Pós

HHIe-s

Severa 13 (52,0) 1 (4,0) 10 (40,0) 14 (56,0)

0,062 < 0,001Leve/moderada 12 (48,0) 9 (36,0) 10 (40,0) 8 (32,0)

Sem percepção - 15 (60,0) 5 (20,0) 3 (12,0)

HHIe-s emocional

11,4 ± 5,1 3,2 ± 3,4 9,3 ± 6,5 11,5 ± 6,6 0,214 < 0,001

HHIe-s social

14,4 ± 3,3 5,4 ± 3,8 12,3 ± 4,6 12,4 ± ,7 0,072 < 0,001

Variáveis quantitativas descritas pela média ± desvio padrão e comparadas pelo Teste t de Student para amostras independentes. Variáveis categóricas descritas pelo n(%) e comparadas pelo Teste de Quiquadrado.

Tabela 3 Dados comparativos das questões do HHIE-S no pré e no pós entre os grupos

Grupo 1n = 25

Grupo 2 n = 25 P pré P pós

Pré Pós Pré Pós

A dificuldade em ouvir faz você se sentir constrangido ou sem jeito quando é apresentado a pessoas desconhecidas?

Sim 9 (36,0) - 6 (24,0) 9 (36,0) 0,598 0,004

Às vezes 7 (28,0) 9 (36,0) 7 (28,0) 7 (28,0)

Não 9 (36,0) 16 (64,0) 12 (48,0) 9 (36,0)

A dificuldade em ouvir faz você se sentir frustrado ou insatisfeito quando conversa com pessoas da sua família?

Sim 11 (44,0) 1 (4,0) 8 (32,0) 11 (44,0) 0,487 0,003

Às vezes 7 (28,0) 6 (24,0) 6 (24,0) 5 (20,0)

Não 7 (28,0) 18 (72,0) 11 (44,0) 9 (36,0)

Você sente dificuldade em ouvir quando alguém fala cochichando?

Sim 24 (96,0) 2 (8,0) 19 (76,0) 20 (80,0) 0,112 < 0,001

Às vezes 1 (4,0) 21 (84,0) 4 (16,0) 4 (16,0)

Não - 2 (8,0) 2 (8,0) 1 (4,0)

Você se sente prejudicado em função do seu problema auditivo?

Sim 12 (48,0) 1 (4,0) 7 (28,0) 10 (40,0) 0,225 0,002

Às vezes 8 (32,0) 6 (24,0) 8 (32,0) 8 (32,0)

Não 5 (20,0) 18 (72,0) 10 (40,0) 7 (28,0)

A diminuição da audição lhe causa dificuldades quando visita amigos, parentes ou vizinhos?

Sim 11 (44,0) 1 (4,0) 8 (32,0) 9 (36,0) 0,637 0,005

Às vezes 9 (36,0) 6 (24,0) 12 (48,0) 8 (32,0)

Não 5 (20,0) 18 (72,0) 5 (20,0) 8 (32,0)

A dificuldade em ouvir faz com que você vá a serviços religiosos menos vezes do que gostaria?

Sim 3 (12,0) 1 (4,0) 3 (12,0) 4 (16,0) 0,355 0,301

Às vezes 7 (28,0) 2 (8,0) 3 (12,0) 3 (12,0)

Não 15 (60,0) 22 (88,0) 19 (76,0) 18 (72,0)

A dificuldade em ouvir faz você ter discussões ou brigas em sua família?

Sim 9 (36,0) - 12 (48,0) 15 (60,0) 0,471 < 0,001

Às vezes 10 (40,0) 8 (32,0) 6 (24,0) 4 (16,0)

Não 6 (24,0) 17 (68,0) 7 (28,0) 6 (24,0)

A diminuição da audição lhe causa dificuldades para assistir TV ou ouvir rádio?

Sim 23 (92,0) 1 (4,0) 17 (68,0) 17 (68,0) 0,075 < 0,001

Às vezes 2 (8,0) 11 (44,0) 5 (20,0) 6 (24,0)

Não - 13 (52,0) 3 (12,0) 2 (8,0)

Você acha que a dificuldade em ouvir limita de alguma forma sua vida pessoal ou social?

Sim 10 (40,0) 1 (4,0) 9 (36,0) 12 (48,0) 0,442 0,001

Às vezes 8 (32,0) 5 (20,0) 5 (20,0) 6 (24,0)

Não 7 (28,0) 19 (76,0) 11 (44,0) 7 (28,0)

A diminuição da audição lhe causa dificuldades quando está num restaurante com familiares ou amigos?

Sim 16 (64,0) 1 (4,0) 16 (64,0) 13 (52,0) 0,349 0,001

Às vezes 7 (28,0) 15 (60,0) 4 (16,0) 8 (32,0)

Não 2 (8,0) 9 (36,0) 5 (20,0) 4 (16,0)

Variáveis categóricas descritas pelo n(%) e comparadas pelo Teste de Quiquadrado.

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e os comparamos. No pré, não houve diferença estatis-ticamente significativa, assim como no pós. Porém, ao compararmos a variação dos escores do pré para o pós entre os grupos pela análise de variância para medidas

repetidas, vemos que a variação do grupo 1 foi diferen-te da variação do grupo 2; o grupo 1 aumentou a sua pontuação do pré para o pós, e o grupo 2 diminuiu (p < 0,001).

Tabela 4 Dados comparativos do MMSE pré e pós entre os grupos

Grupo 1 n = 25

Grupo 2n = 25 P pré P pós P interação

Pré Pós Pré Pós

mmse 23,9 ± 4,3 24,9 ± 4,4 24,5 ± 3,4 23,6 ± 3,6 0,585 0,279 < 0,001

Variáveis quantitativas descritas pela média ± desvio padrão e comparadas pelo Teste t de Student para amostras independentes. P da interação obtido através da análise de variância para medidas repetidas.

Na Tabela 5, apresentamos médias e desvios padrões dos diferentes domínios do WHOQOL, no pré e no pós nos grupos, e comparamos. No pré, não houve diferença estatisticamente significativa, assim como no pós. Porém, ao compararmos a variação dos escores do pré para o pós,

entre os grupos pela análise de variância para medidas re-petidas, vemos que a variação do grupo 1 foi diferente da variação do grupo 2 para o domínio físico, sendo que no grupo 1 houve um aumento da qualidade de vida no domí-nio físico, enquanto que no grupo 2 ficou igual (p = 0,002).

Tabela 5 Dados comparativos dos domínios WHOQOL-BREF no pré e no pós entre os grupos

DomíniosGrupo 1n = 25

Grupo 2n = 25 P pré P pós P interação

Pré Pós Pré Pós

Físico 65,9 ± 14,8 70,6 ± 15,3 70,6 ± 15,0 70,7 ± 16,5 0,268 0,975 0,022

Psicológico 72,8 ± 14,4 74,3 ± 13,4 70,0 ± 12,1 70,3 ± 12,7 0,462 0,284 0,586

Relações sociais 78,5 ± 17,8 81,2 ± 16,1 74,7 ± 16,0 74,7 ± 15,6 0,428 0,153 0,293

meio ambiente 72,6 ± 14,7 77,1 ± 13,2 72,9 ± 8,2 74,1 ± 8,1 0,941 0,339 0,061

Variáveis quantitativas descritas pela média ± desvio padrão e comparadas pelo Teste t de Student para amostras independentes. P da interação obtido através da análise de variância para medidas repetidas.

DIsCussÃoO processo de adaptação da prótese auditiva é funda-mental para que o indivíduo possa desenvolver todo o seu potencial nas atividades da vida diária. Estudos ava-liaram indivíduos através da aplicação de questionários de autoavaliação, confirmando, com isso, que os progra-mas de acompanhamento são fundamentais para a adap-tação das próteses e redução das dificuldades auditivas.10 Após a protetização auditiva, as dificuldades auditivas eram minimizadas? Quais as modificações na sua vida diária? Alterações cognitivas já presentes sofriam altera-ções após o uso das próteses auditivas?

A renda familiar demonstrou ser um fator importan-te a considerar, pois teve influência direta na aquisição das próteses auditivas, conforme demonstrado na Tabela 1. Ainda na mesma tabela, é possível verificar a distri-buição da faixa etária, em que ficou demonstrado que a média do G1 era 79,96 anos, e a do G2, de 76,56 anos. Avaliando os valores das estatísticas descritivas, média, desvio padrão, valor mínimo, mediana e valor máximo para a idade (anos) e renda familiar (SM), foi possível constatar que o G1, que apresentava renda salarial mais elevada, era também o grupo que, após os testes com próteses auditivas, passou a adquiri-las. Conclui-se en-

tão que o grupo com maior poder aquisitivo está direta-mente preocupado com sua qualidade de vida, uma vez que a situação financeira assim o permite.

As categorias de escolaridade, 1o grau completo, 2o grau e 3o grau, foi estabelecida a distribuição percentual, conforme Tabela 1, ficando demonstrado que a escola-ridade de maior percentual da população era o 2o grau, seguindo-se do 3o grau e 1o grau. Essa distribuição foi observada tanto no G1 como no G2, não ficando carac-terizado que maior nível de escolaridade estivesse asso-ciado ao uso da prótese auditiva, uma vez que, em ambos os grupos, o número maior de participantes apresenta-vam 2º grau escolar completo.

Entre os achados do estudo, o sexo apresentou dife-renças a considerar. No G1, o maior número de partici-pantes era do sexo feminino – 18 (72%), em comparação com os participantes do sexo masculino, que eram em número de 7 (28%); enquanto no G2 ocorreu o contrá-rio, o maior número de participantes era do sexo mascu-lino – 14 (56%), contra 11 (44%) do sexo feminino. Es-tudos constataram que as mulheres apresentavam uma maior percepção da desvantagem auditiva.11 Já o estudo de Pizan-Faria e Iorio (2004) revelou que os idosos do sexo masculino apresentaram percepção do handicap

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Prótese auditiva | 141

mais significativa, do que os idosos do sexo feminino, re-sultados semelhantes aos encontrados em pesquisa por Souza.4

A análise do HHIE-S revelou que os escores médios das escalas emocional e social/situacional no período pós-intervenção (12 semanas) foram significativamente menores do que no período pré (Tabela 3). Esses dados confirmam, conforme literatura,4,8,12 que os idosos que fizeram uso de prótese auditiva tiveram uma redução significativa na autopercepção das restrições de partici-pação social, após o período estipulado, independente de sexo, faixa etária, nível socioeconômico ou escolaridade.

Os resultados do MEEM nos períodos pré e pós nos grupos G1 e G2 não foram estatisticamente significati-vos; mas comparando-se a variação dos escores do pré e do pós entre os grupos pela análise de variância para medidas repetidas, foi possível constatar que a variação do G1 foi diferente da variação do G2. O G1 aumentou a sua pontuação do pré para o pós, e o G2 diminuiu (p < 0,001). Esses achados evidenciam que houve uma me-lhora no desempenho dos idosos após 12 semanas de uso da prótese auditiva, ainda que pequena. Como des-creve Souza,4 é possível que a melhora na sensibilidade auditiva possa ter auxiliado na melhora do desempenho cognitivo mensurado pelo MEEM. Contudo, é impor-tante destacar que o curto tempo entre os 2 momentos, pré e pós, pode ter influenciado na diferença pequena de modificações.

Nos resultados do WHOQOL, foram comparadas as médias e desvios padrões dos diferentes domínios no pe-ríodo pré e pós nos grupos. As modificações parciais, en-contradas na qualidade de vida dos idosos avaliados no momento pós, atribui-se ao fato do teste não apresentar uma especificidade suficiente para esta faixa etária, com-

pondo-se de perguntas com um sentido muito amplo.

CoNCLusÃoCom o presente estudo, foi possível observar as modifi-cações proporcionadas pela intervenção do uso de próte-ses auditivas na vida diária do idoso. Através da aplicação de questionário de autoavaliação, foi possível confirmar o quanto ele se beneficia, tornando-se consciente da mi-nimização da percepção de sua incapacidade auditiva diária. Durante as sessões semanais, essas mudanças já eram claramente evidenciadas, pois o próprio idoso já as mencionava, relatando o quanto havia modificado seu dia a dia, sua satisfação pelo fato de poder participar melhor no ambiente no qual convive com a família e/ou amigos.

Segundo a literatura, sempre devemos priorizar o uso binaural de próteses auditivas, considerando o fa-tor lateralidade, processamento central e melhor res-posta auditiva. Contudo, alguns idosos, mesmo após a experiência domiciliar com uso bilateral, optaram pelo uso unilateral. Entre os motivos alegados, além do financeiro, estaria o desconforto pelas grandes mu-danças auditivas percebidas. Mas mesmo esse fato não foi considerado relevante, pois ocorreu apenas com aqueles que se encontravam na faixa etária acima dos 90 anos de idade, sendo então mais valorizada a predis-posição em usar a amplificação, mesmo não sendo essa a forma mais preconizada. Vale ressaltar que todos os idosos do G1 apresentaram respostas positivas, com os escores do HHIE-S.

Conflitos de interessesOs autores declaram não possuir nenhum conflito de interesse.

ReFeRÊNCIAs1. Gilad O, Glorig A. Presbycusis: The aging ear. Part I. J Am Aud

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vacinaçÃo contRa inFluenZa PaRa

iDosos: Motivos Da nÃo aDesÃo

adriana Ruginsk Gonçalvesa, Paula cristina nogueirab

Resumo O presente estudo teve como objetivo apontar os motivos da não adesão dos idosos à campanha de vacinação contra a influenza. Tra-ta-se de uma revisão bibliográfica do tipo atualização, tomando-se como base dissertações e teses, trabalhos de conclusão de curso e ar-tigos científicos sobre o tema, disponíveis nas bases de dados das ci-ências da saúde on-line: Scielo e Lilacs. Vários foram os motivos en-contrados para a não adesão dos idosos à vacinação, destacando-se o medo das reações adversas, sendo necessário maior envolvimento dos profissionais da saúde quanto às orientações sobre a importân-cia da vacinação contra a Influenza dirigidas à população idosa.

inFluenZa vaccination in tHe elDeRlY:

Reasons FoR nonaDHeRence

ABsTRACTThe present study aims to point out the reasons for non-adhe-rence to the elderly vaccination campaign against influenza. This is an overview of the literature, update kind; taking as a basis dissertations and theses, completion of course work and scien-tific articles on the subject, available in the databases of health sciences online: Lilacs and SciELO. Several reasons were found for non-adherence to vaccination, especially the fear of adverse reactions, it is necessary a great involvement from health profes-sionals` to make them see the importance of vaccination against Influenza for an elderly population.

a Enfermeira, Pós-graduanda em Saúde Pública e da Família da Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo) – Descalvado, SP.b Enfermeira, Dra. em Ciências, Pós-doutoranda da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). Professora convidada do curso de Pós-graduação em Saúde Pública e da Família da Universidade Castelo Branco (Unicastelo).

Dados para correspondência Adriana Ruginsk Gonçalves - Rua Angelo Reato, 233, Jardim 22 de Maio, Santa Rita do Passa Quatro - SP - Tel.: (19) 8181-1116 ou (19) 9186-0944. E-mail: [email protected]

Palavras-chaveIdoso, vacinação,

vacinas contra influenza.

KeywordsAged, vaccination, influenza vaccines.

Artigo de revisão

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Vacinação contra influenza para idosos | 143

INTRoDuÇÃoO envelhecimento é um processo dinâmico e progressi-vo com modificações morfológicas, funcionais, bioquí-micas e psicológicas que podem determinar a perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambien-te.1 É uma etapa da vida do ser humano que era vista antigamente como um problema individual restrito às famílias, que tinham participação importante no proces-so do cuidar. Hoje se transformou em problema social, saindo dos espaços familiares e constituindo-se em um desafio aos governos, sociedade, famílias, empresas de lazer, saúde, justiça, e educação.2,3 É também nessa fase que os idosos passam por diversas mudanças sociais, como aposentadoria, viuvez, dependência, perdas de pa-péis sociais e de autonomia, surgindo obstáculos a uma vida de melhor qualidade.3

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), de 1950 a 2050, a população de idosos no Brasil crescerá 16 vezes em relação à população total, que aumentará apenas 5 vezes, colocando-a na 6a posição de idosos no mundo, com mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos e mais.4

Ao considerar a dimensão do envelhecimento popu-lacional e suas peculiaridades, torna-se imprescindível a formulação de políticas públicas de saúde que propo-nham estratégias e ações de promoção da saúde e pre-venção de doenças, que possam contribuir para que o grande número de pessoas alcance a longevidade com o melhor estado de saúde possível.5,6

A Campanha Nacional de Vacinação do Idoso é uma das efetivações do compromisso do governo brasileiro com a universalidade, a integralidade e a equidade da atenção à saúde na área de imunizações, atendendo aos princípios básicos fundamentais do Sistema Único de Saúde (SUS). Com isso, contribui-se com a prevenção de enfermidades que interferem no desenvolvimento das atividades rotineiras da população em foco, reduzindo a morbimortalidade por doenças infecciosas imunopre-veníveis e garantindo-lhe prioritariamente qualidade de vida, bem-estar e inclusão social.7

A meta de vacinar a população com idade igual ou superior a 60 anos contra a influenza é um desafio que vem sendo conquistado desde 1999, e se fundamenta no fato de que essa população apresenta maior risco de adoecer e morrer em decorrência de algumas patologias imunopreveníveis, como a gripe e a pneumonia.8,9

O Ministério da Saúde, em conjunto com as secre-tarias estaduais e municipais de saúde, tem buscado al-cançar, nesses últimos anos, a meta de vacinar 80% da população-alvo, atingindo coberturas vacinais de 75,9%; 75,1%; 82,8%; 79,1% e 84,0%, no período de 2007 a 2011, respectivamente, e mantendo-se essa meta em 2012.10

Mesmo com o alcance das coberturas vacinais, mui-tos idosos continuam acreditando que a vacina, ao invés de oferecer proteção, oferece riscos, gerando resistência e trazendo dificuldades à execução das campanhas.

Diante do exposto, o presente estudo teve como obje-tivo apontar os motivos da não adesão dos idosos à cam-panha de vacinação contra a influenza. Trata-se de uma revisão bibliográfica do tipo atualização, tomando-se como base dissertações e teses, trabalhos de conclusão de curso e artigos científicos sobre o tema, disponíveis nas bases de dados das ciências da saúde on-line Scielo e Lilacs.

DeseNVoLVImeNTo

Definição e características geraisA influenza (gripe) é uma infecção viral aguda que afeta o sistema respiratório. É de elevada transmissibilidade e distribuição global, com tendência a se disseminar fa-cilmente em epidemias sazonais. A transmissão ocorre por meio de secreções das vias respiratórias da pessoa contaminada ao falar, tossir, espirrar ou pelas mãos. O contato com superfícies recém-contaminadas por secre-ções respiratórias pode levar o agente infeccioso direto à boca, aos olhos e ao nariz. Os sintomas, muitas vezes, são semelhantes aos do resfriado, que se caracterizam pelo comprometimento das vias aéreas superiores, com con-gestão nasal, rinorreia, tosse, rouquidão, febre variável, mal-estar, mialgia e cefaleia.10

Os vírus influenza apresentam diversidade antigêni-ca e genômica a cada ano. Portanto, as análises laborato-riais são de grande importância para monitorar o tipo de cepa circulante em nosso país, possibilitando uma me-lhor análise para indicação de cepas vacinais e detecção de possíveis cepas pandêmicas.7

Durante as epidemias de influenza, ocorre o aumen-to das consultas médicas e hospitalizações por infecções respiratórias agudas, sendo que nos idosos as conse-quências podem ser mais graves, levando a processos pneumônicos e/ou à quebra do seu estado de equilíbrio quando estes apresentam patologias crônicas não trans-missíveis.11

Em 2005, foi constatado que as doenças respiratórias foram as principais causas de internação hospitalar de idosos, com aumento da porcentagem à medida que au-mentava a idade. A população total de idosos internados com idade entre 60 e 69 anos foi de 10,3%; com idade de 70 a 79 anos, de 13,8%; e de 80 anos ou mais, 17,6%.12,13

Vacinação contra influenzaO termo vacinação é utilizado como uma forma de for-talecer o organismo contra determinadas infecções.14 É o ato de inocular microrganismos em seres vivos (animais e humanos) visando a produzir imunidade contra deter-minada doença infecciosa. Vacina é um preparado que contém microrganismos vivos ou mortos, possuidores de propriedades antigênicas, ou suas frações.15

A vacina é a melhor tecnologia disponível para a prevenção da influenza e suas consequências, propor-

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cionando redução da morbidade, diminuição do absen- teísmo no trabalho e dos gastos com medicamentos para tratamento de infecções secundárias. Existem outras formas de prevenção chamadas de não farma-cológicas, que incluem condutas que visam a reduzir a transmissão da doença por meio de medidas como uso de lenços descartáveis ao tossir e espirrar, lavagem ade-quada das mãos e medidas de distanciamento social.7

O impacto positivo da vacinação contra a influenza na prevenção de internações e mortes por doenças res-piratórias tem sido observado em várias partes do mun-do. Estima-se que, em maiores de 65 anos, a vacinação reduza as hospitalizações e mortes por complicações da infecção respiratória viral em 40% a 70%. Embora a vacinação de idosos contra a influenza seja gratuita e disponível no Brasil desde 1999, as coberturas ainda são insatisfatórias em vários municípios do país.16

motivos da não adesão dos idosos à vacinação contra influenzaVários foram os motivos da não adesão dos idosos à va-cinação contra influenza destacados nos artigos do le-vantamento bibliográfico.

Em estudo realizado em Teresina (PI) no ano de 2007, em um programa de saúde da família (PSF), foram levantados os motivos que levaram alguns idosos a não se vacinarem nas campanhas contra influenza, e os resul-tados foram: preocupação com o surgimento de reações e o pensamento de que a vacina, ao invés de oferecer pro-teção, oferecia riscos.17

No município de Aquidauana (MS), em 2008, com o objetivo de identificar entre a população idosa os fa-tores que influenciaram na não adesão à vacinação con-tra influenza, os autores obtiveram como resultado: o medo de tomar a vacina, a falta de conhecimento sobre o efeito e a eficácia da mesma, além do fato de muitos acharem que, ao se tomar a vacina, poder-se-ia morrer ou pegar gripe.18

Em uma cidade de porte médio no Sul do Brasil, em 2010, a descrença na eficácia da vacina, histórias de re-ações adversas às vacinas anteriores ou o medo de rea-

ções em caso de não terem sido vacinados, nunca ter tido gripe, e a crença de que idosos não precisam de vacina foram os motivos mais citados para a não adesão às cam-panhas.4,19

Em Campinas (SP), um estudo recente, realizado em 2011, mostrou que a não adesão dos idosos foi por não considerarem a vacina necessária; por pensarem que ela provoca reação; por dificuldade de acesso aos postos de vacinação; por orientação médica a não tomar a vacina (entre indivíduos com angina ou que passaram por ci-rurgia cardíaca); alergia a medicamentos; rinite alérgica e esquecimento.20

CoNCLusÃoCom base no conteúdo exposto nos artigos, percebeu-se que o medo das reações adversas e a falta de credibilida-de na eficácia da vacina ainda são os motivos mais cita-dos em diferentes períodos e estados do Brasil quando se refere a não adesão dos idosos às campanhas de va-cinação contra a influenza. Isso demonstra que há falta de orientação adequada por parte dos profissionais de saúde (equipe de enfermagem, médicos e agentes comu-nitários de saúde) e meios de comunicação (rádio e TV), que poderia ser intensificada durante a presença dos ido-sos nas unidades básicas de saúde e estratégia de saúde da família e em programas de rádio e televisão de grande audiência, como novelas e programas de auditório, inde-pendentemente da época de campanhas.

É necessário conscientizar os idosos da importância da vacina, seu efeito e eficácia, para que possam aderir às campanhas, e desse modo serem atingidas as metas estabelecidas de cobertura vacinal em todos os estados e municípios do país, proporcionando, assim, maior expectativa de vida com qualidade a esta população. Os profissionais de saúde, especialmente o enfermeiro e a equipe de enfermagem, têm papel primordial neste processo.

Conflitos de interessesNão houve conflito de interesse entre os autores do arti-go, e todos trabalharam para elaboração e revisão final do mesmo.

ReFeRÊNCIAs1. Gordilhos A, Nascimento JS, Silvestre J, Ramos LR, Freire MPA,

Espíndola N. Desafios a serem enfrentados no terceiro milênio pelo setor saúde na atenção ao idoso. Bahia. Análise & Dados. 2001; 10(4):138-153.

2. Paschoal SMP. Autonomia e independência. In: Neto MP. Geronto-logia: A velhice e o envelhecimento em visão globalizada. São Paulo (SP): Atheneu; 2005. p: 313-23.

3. Geronutti DA, Molina AC, Lima SAM. Vacinação de idoso contra influenza em um centro de saúde escola do interior de São Paulo. Texto contexto-enferm. 2008; 17(2). [acesso em 2012 jul 14]. Dis-ponível em: www.scielo.br

4. Brasil. Ministério da Saúde. Redes Estaduais de atenção à saúde do idoso: guia operacional e portarias relacionadas: o processo de en-velhecimento populacional e a situação de saúde do idoso. Brasília,

2002; 07.[Internet]. 2002. [acesso em 2012 ago 12]. Disponível em: bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/redes_estaduais.pdf

5. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Campanha Nacional de Vacinação do idoso. Informe Técnico. Brasília. 2006.

6. Galli R. Caracterização da vacina contra influenza em idosos resi-dentes no município de Veranópolis RS [dissertação]. São Leopol-do: Universidade do Vale do Rio dos Sinos. 2010.

7. Campanha Nacional de Vacinação do Idoso. Fique Ativo. Vacine-se contra a gripe. [Internet]. 2007. [acesso em 2012 ago 14]. Dispo-nível em: portal.saude.gov.br/portal/arquivo/pdf/informe_tecni-co_vacina_2007_idoso.pdf

8. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de Imunizações. Campanha Nacional de Vaci-nação do Idoso. Informe Técnico, Brasília. 2008.

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Vacinação contra influenza para idosos | 145

9. Brignoli M. Adesão dos idosos sobre a vacina anti-influenza e sua acei-tação nas campanhas anuais em um município de Santa Catarina [mo-nografia]. Criciúma: Universidade do Extremo Sul Catarinense. 2008.

10. Informe Técnico, Campanha Nacional de Vacinação Contra Influenza. [Internet]. 2012. [acesso em 2012 ago 14]. Disponível em: portal.sau-de.gov.br/portal/arquivos.pdf/informe_tecnico_campanha_influen-za_2012.pdf

11. Brasil. Ministério da Saúde. A saúde do Brasil: Estatísticas essen-ciais 1990-2000. 2. ed. Brasília. 2002. p. 13.

12. Chaimowiscz F. Epidemiologia e envelhecimento no Brasil. In: Frei-tas EV, Py L, Neri AL, Cançado FAX, Doll J, Gorzoni ML. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koo-gan. 2006. Cap 11, p. 106-28.

13. Almeida DA. Vacinação contra influenza em idosos e fatores rela-cionados à sua adesão: Revisão integrativa da literatura e análise do conceito. [dissertação]. Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. 2009.

14. Portal de Saúde Pública. Programa Nacional de Vacinação. Vacina-ção 2006. [Internet]. [acesso em 2012 jul 11]. Disponível em: http://www.saudepublica.web.pt/05-promoçãosaude/051-Educação/vaci-na.htm.

15. Pessoa R. Dicionário Médico Ilustrado. São Paulo: Andrei Editora. 1970.16. Donalisio MR, Ruiz T, Cordeiro R. Fatores associados à vacinação

contra influenza em idosos em município do Sudeste do Brasil. Rev. Saúde Pública [online]. 2006; 40(1):115-9. [acesso em 2012 abr 27]. Disponível em: http://www.scielo.br

17. Araújo TME, Lino FS, Nascimento DJC, Costa FSR. Vacina contra influenza: Conhecimentos, atitudes e práticas de idosos em Teresi-na. Rev. bras. enferm. [online]. 2007; 60(4). [acesso em 2012 Abr 20]. Disponível em: <http:www.scielo.br.

18. Santos MDM. Adesão à vacina de influenza na área urbana de Aquidauana-MS coberta pelo Programa Saúde da Família. Epide-miologia Serviço Saúde [online]. 2008; 17(2). [acesso em 2012 jul 14]. Disponível em: http://scielo.iec.pa.gov.br

19. Maciulis RD, Cabrera MA. Vacinação contra influenza em idoso não institucionalizado, um estudo de base populacional em uma cidade de porte médio no Sul do Brasil. Cad. Saude Pública [online]. 2010; 26(5). [acesso em 2012 jun 12]. Disponível em: http://www.scielo.br

20. Francisco PMSB, Barros MBA, Cordeiro MRD. Vacinação contra in-fluenza em idosos: Prevalência, fatores associados e motivos da não ade-são em Campinas, São Paulo. Cad. Saúde Pública. [Internet] 2011; 27(3). [acesso em 2012 jun 06]. Disponível em: http://www.scielo.br

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conciliaçÃo MeDicaMentosa eM iDosos:

uMa RevisÃo Da liteRatuRa*

Patrícia lauana camposa, adriano Max Moreira Reisb, Maria auxiliadora Parreiras Martinsc

Resumo Introdução: Os idosos representam uma população crescente no Brasil e no mundo. As alterações fisiológicas decorrentes da idade, as comorbidades e a necessidade de polifarmacoterapia os tornam altamente susceptíveis à ocorrência de eventos adversos relacionados a medicamentos. A conciliação medicamentosa mostra-se estratégia útil para reduzir esses eventos, quando o paciente transita entre diferentes níveis de cuidado à saúde. Objetivo: Realizar uma revisão de literatura sobre conciliação medicamentosa em idosos na transição do cuidado à saúde. Metodologia: Trata-se de revisão da literatura realizada na base de dados PubMed. Os critérios de inclusão foram: Enfoque na população idosa; idioma inglês, espanhol ou português; publicação nos últimos 5 anos. Dois revisores examinaram títulos e resumos e procederam à leitura integral e à inclusão dos artigos relevantes. Resultados: Doze estudos foram incluídos, dentre os quais a metade descreveu as dis-crepâncias de medicamentos nos pontos de transição, revelando como principal a omissão de algum fármaco; 3 avaliaram a contribuição do farmacêutico para o processo, evidenciando maior qualidade com o envolvimento desse profissional; e 5 analisaram a consistência das informações prestadas na continuidade do cuidado e o impacto da conciliação de medica-mentos sobre os erros de medicação, demonstrando a importância da coleta de uma história medicamentosa inicial precisa para redução de eventos adversos, polifarmácia e erros de medicação. Conclusão: A conciliação medicamentosa revelou-se importante para a segurança do paciente idoso na transição do cuidado à saúde. A atuação do farmacêutico e a integridade da história farmacoterápica relacionaram-se a uma melhoria no processo, aprimorando a assistência prestada ao paciente.

MeDication Reconciliation in tHe elDeRlY: a liteRatuRe RevieW

ABsTRACTIntroduction: Aging people represent a growing population in Brazil and worldwide. Physiological changes due to age, comorbidities, and polypharmacy make them highly susceptible to adverse drug events. Medication reconcilia-tion may be a useful strategy to reduce these events, when the patient is transferred between different levels of health care. Objective: To conduct a review of the literature on medication reconciliation in elderly people in the transition of health care. Methodology: It was done an overview of the literature available in PubMed. Inclusion criteria were: population involving exclusively elderly or mostly elderly; language in English, Spanish or Portuguese; articles pu-blished in the last five years. Two reviewers examined the titles and abstracts, and proceeded in a completed reading of each article and the inclusion of the most relevant ones. Results: Twelve studies were included. Half described the rate and types of discrepancies in the transition points; highlighting the drug omission as the main discrepancy. Three assessed the contribution of pharmacists in the process, indicating the higher quality obtained with their invol-vement. Five analyzed the consistency of the information provided in the continuity of care and the impact of medi-cation reconciliation on medication errors, demonstrating the importance of collecting an initial precise medication history to reduce adverse events, polypharmacy and medication errors. Conclusion: Medication reconciliation may be an important tool for the safety of elderly patients in the transition of health care. The role of the pharmacist and the integrity of the medication history were related to the improvement of the process and patient care.

a Discente do curso de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).b Professor Adjunto do Departamento de Produtos Farmacêuticos da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).c Professora Adjunta do Departamento de Produtos Farmacêuticos da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerai (UFMG). * Este artigo é parte do Trabalho de Conclusão de Curso da primeira autora, orientada pela terceira, para obtenção do título de Bacharel em Farmácia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Dados para correspondência: Patrícia Lauana Campos - Rua General Andrade Neves, 307/203, Gutierrez, Belo Horizonte, MG, Brasil. CEP: 30441-011.E-mail: [email protected].

Palavras-chaveConciliação

medicamentosa, idosos, transição

do cuidado, farmacoterapia.

Keywords Medication

reconciliation, aged, transition of care, drug therapy.

Artigo de revisão

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INTRoDuÇÃoO crescimento da população idosa é um fenômeno mun-dial, e, no Brasil, as modificações ocorrem de forma bas-tante acelerada, com projeção de ser, em 2020, o 6o país do mundo em número de idosos, com um contingente superior a 30 milhões de pessoas.1 Simultaneamente ao crescimento da população de idosos, observa-se o aumento do consumo de medicamentos por esse grupo.2,3,4

O uso concomitante de múltiplos medicamentos, de-nominado polifarmácia,5 está associado ao aumento do risco e da gravidade das reações adversas a medicamen-tos, ocorrência de interações medicamentosas, intoxica-ções, erros de medicação, além de reduzir a adesão ao tratamento e elevar a morbimortalidade.6 Apesar de os medicamentos serem substâncias que devem atuar em benefício da saúde, o seu uso inadequado produz sérias consequências.

A ocorrência de eventos adversos a medicamentos em idosos ocorre com frequência significativa durante a transição do cuidado. O processo de transição do cuida-do ou mudança de nível de assistência à saúde abrange as seguintes situações: admissão hospitalar; transferên-cia dentro do hospital para outro setor, clínica ou ou-tra unidade hospitalar; alta hospitalar e, atendimento ambulatorial ou domiciliar.7 Na transição do cuidado, alterações realizadas no tratamento medicamentoso do paciente podem ser acompanhadas por inadequação na orientação e no seguimento do mesmo, levando a erros de medicação, que afetam a segurança do paciente.6,8

Entre os idosos, os eventos adversos relacionados aos medicamentos têm a polifarmácia como um dos prin-cipais determinantes, o que é agravado por se tratar de uma população bastante vulnerável, devido à complexi-dade dos problemas clínicos, às comorbidades presen-tes e às alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas inerentes ao envelhecimento.3 Nesse contexto, a concilia-ção medicamentosa surge como uma estratégia útil para otimizar a farmacoterapia e contribuir para a melhoria da assistência prestada ao idoso, principalmente nos processos de transição do cuidado à saúde.6,8

A conciliação medicamentosa compreende um pro-cesso para obtenção da história farmacoterápica do indi-víduo, visando a elaborar uma relação de medicamentos que o paciente utilizava no domicílio e propiciar compara-ções com as prescrições médicas feitas na admissão, trans-ferência, consultas ambulatoriais e na alta hospitalar. Essa relação é usada para aperfeiçoar a utilização dos medica-mentos pelos pacientes em todos os pontos de transição e tem como principal objetivo diminuir a ocorrência de eventos adversos a medicamentos quando o mesmo passa pelos diferentes níveis de assistência à saúde.9 Conside-rando o exposto, o objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão de literatura sobre conciliação medicamentosa em idosos na transição do cuidado à saúde.

mATeRIAL e mÉToDosFoi feita uma revisão da literatura de artigos publicados na base de dados PubMed, no dia 24 de julho de 2012, para selecionar estudos envolvendo o emprego de con-ciliação medicamentosa em idosos na transição de cui-dado à saúde. As palavras-chave utilizadas e a estratégia de busca foram: “medication OR medication reconcilia-tion”, “discrepancy OR discrepancies” e “aging OR aged OR elderly”. Empregaram-se termos indexados no MeSH (Medical Subject Headings) e termos não indexados. Os critérios de inclusão foram: a população do estudo ser composta na totalidade ou em sua maioria por idosos; o idioma dos estudos ser o inglês, o espanhol ou o portu-guês; terem sido publicados nos últimos 5 anos e possuí-rem resumo disponível. Revisões e relatos de casos sobre o tema foram excluídos do estudo.

Primeiramente, para verificar se os artigos atendiam aos critérios de inclusão, os títulos e resumos dos estu-dos foram avaliados por 2 revisores que, posteriormente, procederam à leitura integral dos trabalhos pré-selecio-nados. A seleção final dos artigos incluídos nessa revisão foi obtida após leitura e discussão para consenso entre os revisores, sendo os dados dos trabalhos selecionados organizados e tabulados.

ResuLTADos Utilizando-se a estratégia de busca proposta, identifica-ram-se 178 artigos a partir da base eletrônica de dados PubMed, dos quais foram selecionados 12 artigos sobre conciliação medicamentosa em idosos na transição do cuidado. O detalhamento das etapas empregadas na pes-quisa pode ser visualizado na Figura 1, e os resumos con-tendo os principais achados dos estudos incluídos neste trabalho estão apresentados na Tabela 1.

Aproximadamente a metade dos estudos incluídos nesta revisão de literatura (41,67%) revelou que a exa-tidão e a integralidade da história medicamentosa co-letada na admissão do paciente são fundamentais para melhorar a sua segurança através da conciliação de me-dicamentos.10-14

Um terço dos estudos apontou a existência de uma associação positiva entre o número de medicamentos utilizados pelo paciente e a taxa de discrepâncias encon-trada, o que atenta para as implicações do uso de múlti-plos medicamentos por idosos.12-15 Dos 12 estudos inclu-ídos, 4 detectaram que o principal tipo de discrepância encontrada era a omissão de medicamentos, reforçando a necessidade da obtenção de uma história de medica-mentos inicial completa e precisa.13-16

DIsCussÃoA revisão da literatura demonstrou que a segurança do paciente é otimizada com o emprego da conciliação medicamentosa, e que uma história farmacoterápica obtida com exatidão e integralidade é essencial para

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Número total de publicações identificadas por meio de busca eletrônica: n = 178 Referências descartadas após leitura dos títulos e resumos: n = 158

Justificativa: • Títulos e resumos não relacionados ao tema e/ou objetivos do trabalho: n = 156• Artigo em francês: n = 1• Artigo de revisão: n = 1

Textos não obtidos integralmente para leitura: n = 2Justificativa:• Os artigos não estavam disponíveis na base de dados e não foram conseguidos por meio do contato com o autor via e-mail.

Textos na íntegra, potencial-mente relevantes para a revi-são: n = 18

Referências descartadas após leitura integral dos artigos: n = 6

Justificativa:• A população do estudo não era composta em sua maioria por idosos: n = 4• Idade dos participantes não especificada: n = 2

Resultado final de estudos incluídos: n = 12

fornecer elementos que contribuam para a prevenção de eventos adversos a medicamentos, diminuição da polifarmácia e das discrepâncias de medicamentos. Dessa forma, a conciliação de medicamentos contri-bui para o aumento da segurança da farmacoterapia na transição do cuidado.

A análise de inconsistências nos medicamentos dos pacientes no momento da alta hospitalar e sua capaci-dade de causar danos demonstraram os riscos para a se-gurança do paciente na transição do cuidado à saúde e a necessidade de melhorias nesse processo, sugerindo a participação de farmacêuticos clínicos e uso de sistemas informatizados para melhorar a qualidade e precisão das informações sobre medicamentos transmitidas na alta hospitalar.10

A alta hospitalar é descrita como um ponto crítico para assegurar a continuidade do cuidado e a seguran-ça dos pacientes.14 Os erros de medicação mostraram-se mais frequentes nesse momento e com grande potencial de causar danos ao paciente, sendo a conciliação de me-dicamentos na alta importante para interceptar esses er-ros, reduzirem-se os eventos adversos a medicamentos e as readmissões relacionadas a falhas na farmacoterapia, independente deste processo já ter sido realizado na ad-missão hospitalar do paciente.

Os incidentes indesejáveis mais comuns experimen-tados por idosos após a alta hospitalar são associados ao regime medicamentoso.17-25 Isso reforça a necessidade de um planejamento de alta e acompanhamento desses pa-cientes, situações que podem ser auxiliadas pelo proces-so de conciliação medicamentosa, reduzindo os eventos adversos a medicamentos nessa população.

Nessa mesma direção, Chan et al. (2010) relataram uma intervenção para redução de erros de medicação na

admissão hospitalar, incorporando a conciliação de me-dicamentos e a contribuição do farmacêutico na presta-ção de informação aos médicos como forma de reduzir as taxas de discrepâncias no processo.16 Porém, a inter-venção realizada por esses autores foi do tipo “antes e de-pois” e se deu de forma não randomizada e não contro-lada, o que sugere a necessidade da elaboração de mais estudos experimentais (intervencionistas) com delinea-mento randomizado e controlado, que possam fornecer resultados mais rigorosos e conclusões mais precisas e fiéis sobre o tema.

Durante o processo de conciliação medicamentosa, pode estabelecer-se uma correspondência entre cada fármaco utilizado pelo paciente e a condição clínica que determinou a indicação, o que permite compre-ender melhor a razão para a qual os pacientes utilizam um medicamento específico.26 No entanto, essa aborda-gem pode não ser tão prática em pacientes idosos, visto que, durante as transições, estes passam por múltiplos prescritores, usam vários medicamentos e/ou podem apresentar comprometimento da cognição, dificultando informar a indicação do medicamento. Outra limitação dessa estratégia é não incluir no processo de conciliação os medicamentos isentos de prescrição; em consequên-cia, as histórias obtidas não são completas e a correlação direta entre essa categoria de medicamentos e eventos adversos a medicamentos não pode ser estabelecida com acurácia. A inclusão de medicamentos isentos de prescrição, plantas medicinais, suplementos alimenta-res, vitaminas e histórico de alergias, durante a coleta da história medicamentosa do paciente,11 proporciona uma conciliação de medicamentos mais abrangente e real, uma vez que estes medicamentos são comumente utili-zados por idosos.

Figura 1 Processo de seleção de estudos sobre a conciliação medicamentosa em idosos na transição de cuidado a saúde.

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Tabela 1 Síntese dos artigos selecionados para a revisão sobre conciliação medicamentosa em idosos

Autor/ Ano País objetivos Idade Casuística Principais resultados

Chan et al., 2010

Nova Zelândia

Determinar se a educação médica para a conciliação medicamentosa alteraria a taxa de discrepância.

≥ 75 anos 470 admissões hospitalares

O número médio de discrepâncias por admissão reduziu ao longo do período de estudo (p < 0,0001), de 2,6 (DP* 2,6) para 1,0 (DP 1,1) discrepância por internação. A adição de educação médica para a conciliação medicamentosa tornou o registro de medicamentos na admissão mais completo, reduzindo erros de medicação.

Gizzi et al., 2010

Estados Unidos

Estimar a prevalência de discrepâncias entre histórias medicamentosas e condições clínicas. Determinar a contribuição do farmacêutico na conciliação de medicamentos.

69 + 10,6 anos

300 pacientes

Cento e quatorze pacientes (38%) estavam tomando um ou mais medicamentos sem correlação com alguma condição clínica. O farmacêutico do estudo foi capaz de esclarecer 96% dos medicamentos não especificados durante o processo de conciliação, após contato com paciente/cuidador (80%); notas ou registros clínicos antigos (12%); médico (4%) e; não citado (4%).

Grimes et al., 2008

Irlanda Investigar a consistência da documentação sobre medicamentos produzida na alta hospitalar.

Mediana 63 anos

139 pacientes

Observaram-se inconsistências na documentação de medicamentos na alta em 91 pacientes (65,5%, IC** 95%, 57% a 73%), dos 139 selecionados. Omissão de medicamentos foi a principal inconsistência observada. Cento e treze erros de medicação foram identificados e avaliados, 47% estavam associados a danos leves ou nenhum dano, e 53% relacionados a danos moderados aos pacientes.

Karapinar-Çarkit et al., 2012

Holanda Avaliar o efeito da conciliação medicamentosa sobre os custos com a farmacoterapia após a alta em relação aos custos da farmácia hospitalar.

65 + 17 anos

262 pacientes

Conciliação medicamentosa é um processo demorado e aumentou custos trabalhistas da farmácia hospitalar em 2 meses após a alta. Os custos do trabalho do farmacêutico para realizar o processo foram de 41 euros por paciente. Por outro lado, seis meses após a alta, a conciliação de medicamentos reduziu os custos com medicamentos (56 euros por paciente), através da mudança das fórmulas de medicamentos durante a hospitalização e por meio da otimização da farmacoterapia.

Kemp et al., 2009

Estados Unidos

Determinar erros no processo de conciliação medicamentosa em hospital psiquiátrico e, se presentes, descrever tipo e frequência das discrepâncias observadas.

65-85 anos 58 pacientes Um total de 504 discrepâncias foi identificado. Todos os pacientes participantes tinham pelo menos uma discrepância na medicação, sendo a principal a omissão de medicamentos. Cento e trinta e cinco interações medicamentosas moderadas, graves ou contraindicadas foram detectadas a partir da história de medicamentos na admissão feita pelo hospital. Ao ser feita a entrevista e coletada a história medicamentosa pelo farmacêutico, este número subiu para 190.

Knez et al., 2011

Eslovênia Examinar a necessidade da conciliação de medicamentos por meio da avaliação do número de discrepâncias na farmacoterapia pré-admissão, durante a internação e na alta hospitalar.

Mediana 73 anos

101 pacientes

Na internação, 74,3% (654/880) dos medicamentos estavam em desacordo com a terapia na pré-admissão, e 14,4% (560/654) eram discrepâncias não intencionais. Pelo menos um erro de medicação foi encontrado em 33,7% (34/101) dos pacientes e pelo menos um era clinicamente importante em 18,8% (19/101) dos pacientes. Na alta, 75,8% (566/747) dos medicamentos prescritos estavam em desacordo com a terapia de pré-admissão dos pacientes, e a maioria das discrepâncias (65,2%; 369/566) foram não intencionais, sendo que 58,0% (207/357) dos erros de medicação foram classificados como clinicamente importantes.

Mesteig et al., 2010

Noruega Descrever incidentes indesejados dentre pacientes que receberam alta do serviço geriátrico.

83,2 + 6,4 anos

118 pacientes

Foram registrados 146 incidentes indesejados em 70 (59%) pacientes. Os incidentes indesejados mais frequentes após a alta hospitalar estavam relacionados ao regime medicamentoso prescrito e a falhas na troca de informações na transição do cuidado.

Steurbaut et al., 2010

Bélgica Comparar histórias medicamentosas coletadas pelo farmacêutico com aquelas coletadas pelo médico. Investigar se o estilo de vida do paciente tem influência no número de discrepâncias.

≥ 65 anos 197 pacientes

Na história medicamentosa coletada pelo médico, identificou-se 1.302 medicamentos em comparação com 1.564 identificados na história obtida pelo farmacêutico. Nas histórias medicamentosas obtidas pelo médico, 262 discrepâncias encontradas foram por omissões de medicamentos. Além destas, 119 pacientes (60,4%) apresentaram no mínimo uma discrepância e 31 (15,7%) tiveram cinco ou mais. Pacientes que residiam em casa antes da hospitalização tiveram mais discrepâncias detectadas (64,8%), das quais 188 (49,6%) foram classificadas como clinicamente importantes.

(continua)

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Autor/ Ano País objetivos Idade Casuística Principais resultados

Stitt et al., 2011

Estados Unidos

Identificar e caracterizar as discrepâncias na lista de medicamentos na alta em pacientes geriátricos.

> 65 anos 200 pacientes

Total de 1.923 discrepâncias de medicamentos, sendo a mais comum relacionada à via de administração (1.000/1.923). Houve correlação entre o número de discrepâncias e o número de medicamentos no momento da alta hospitalar. As equipes de medicina que contavam com o farmacêutico tiveram um menor número médio de discrepâncias por paciente.

Tulner et al., 2009

Holanda Descrever as discrepâncias na farmacoterapia de pacientes ambulatoriais geriátricos conforme relatado pelos pacientes, cuidadores, médico, e farmácia comunitária.

82,3 ± 6,8 anos

120 pacientes

Pelo menos uma discrepância de medicamentos entre as listas do paciente, do médico ou da farmácia estava presente em 104 pacientes (86,7%), envolvendo 386 medicamentos. Sessenta e quatro pacientes (53,3%) foram classificados como tendo possíveis reações adversas a medicamentos. O número de médicos que prescrevem e a quantidade de medicamentos utilizados pelos pacientes foram correlacionados com a presença de discrepâncias.

Villaniy et al., 2011

Canadá Descrever a prevalência e os tipos de discrepâncias da farmacoterapia em pacientes atendidos por unidades especializadas em cuidados agudos para idosos.

≥ 70 anos 67 pacientes Na admissão, os pacientes utilizavam em média (DP) 7,7 (3,5) medicamentos, prescritos ou de venda livre. Dos 396 medicamentos prescritos, havia 37 (9,3%) discrepâncias não intencionais não documentadas, das quais 32 eram omissões de medicamentos (86,5%) e 5 (13,5%) alterações de dose ou frequência. Vinte e uma (56,8%) apresentavam potencial para causar desconforto ou deterioração clínica. Para os 123 medicamentos de venda livre, 43 (35,0%) foram classificados como discrepâncias não intencionais não documentadas em 19 pacientes (28,4%).

Vives et al., 2010

Espanha Reduzir erros de medicação e prevenir discrepâncias com um programa computadorizado para conciliação.

≥ 65 anos 469 pacientes

Foram reconciliados 3.609 medicamentos, dos quais 667 (27,1%) tiveram discrepâncias não justificadas. Erros por omissão foram os mais comuns, ocorrendo em 662 (26,9%) medicamentos com alguma discrepância. Quatro (0,16%) medicamentos incorretamente reconciliados atingiram o paciente, necessitando de monitorização, devido ao potencial para causar danos.

*Desvio padrão ** Intervalo de confiança

(continuação)

Farmacêuticos integrados nas equipes de atendi-mento ao paciente facilitaram os cuidados, reduzindo discrepâncias de medicamentos e os erros que ocorrem durante a transição de cuidados em estudo desenvolvido nos Estados Unidos.15 Investigações anteriores também mostraram o impacto do envolvimento de farmacêuticos no processo de cuidados em saúde, apontando-os como os profissionais mais adequados para identificar e resol-ver problemas relacionados a medicamentos, orientar outros profissionais de saúde sobre manejo de medica-mentos e aspectos farmacoterápicos, além de contribuir na conciliação medicamentosa.27-31

Diante dos resultados da literatura que mostram a conciliação de medicamentos como elemento promotor da segurança do paciente e sua inclusão, entre as soluções que visam à redução de eventos adversos na assistência propostas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é importante que os serviços de saúde adotem medidas para qualificar a transição do cuidado e em especial nos aspectos relativos à farmacoterapia.32

Nesse sentido, o fundamento da referência e contrar-referência preconizada nas Diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) torna-se instrumento importante para

promoção da segurança do paciente,33 contribuindo para a realização da conciliação medicamentosa. A integra-ção dos diferentes níveis de atenção com a estratégia de saúde da família, catalisada pela referência e contrarrefe-rência é uma alternativa para a qualificação da transição do cuidado. No que concerne a transição do cuidado em relação à farmacoterapia, o farmacêutico do núcleo de apoio à estratégia de saúde da família pode desenvolver ações assistenciais junto a idosos, principalmente os frá-geis e com maior vulnerabilidade, contribuindo para a segurança e efetividade da farmacoterapia. Medidas de incentivo ao desenvolvimento dessa estratégia devem ser desenvolvidas pelos gestores do sistema de saúde.

Na revisão de literatura, ficou evidente que os idosos devem ser um grupo prioritário na seleção de pacientes a serem submetidos ao processo de conciliação medica-mentosa, em função das suas peculiaridades em relação ao uso de medicamentos (comorbidades, polifarmácia, alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas, bem como comprometimento da cognição) e o fato de consti-tuírem grande parte dos usuários dos sistemas de saúde.

Esta revisão apresenta algumas limitações. A estra-tégia de busca restringiu-se à uma única base eletrônica

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Concil iação medicamentosa em idosos | 151

de dados, o PubMed, que apesar de ser uma base rica e abrangente, não contempla todos os trabalhos relevantes publicados. Além disso, estudos publicados antes de 2007 ou aqueles publicados em línguas diferentes do inglês, es-panhol ou português não foram incluídos. Somados, es-ses fatos podem resultar em um possível viés de publica-ção. Alguns estudos incluídos foram de validade limitada devido a falhas metodológicas, entre as quais se destaca-ram: um pequeno número de participantes; ausência de um grupo de comparação adequado em virtude da ampla variação de idade (embora a maioria dos participantes fossem idosos, havia indivíduos adultos envolvidos no estudo); e restrição a apenas um setor hospitalar, o que limita a abrangência dos resultados em relação a outros departamentos ou instituições. Apesar disso, este traba-lho trouxe informações relevantes sobre esse processo em idosos que podem servir de base para novos estudos sobre o tema. Futuros trabalhos devem se concentrar no

desenvolvimento de estudos randomizados e controlados para avaliar a conciliação medicamentosa envolvendo pacientes geriátricos na transição do cuidado.

CoNCLusÃoA conciliação medicamentosa mostrou-se relevante para a segurança do paciente idoso. A qualidade do processo foi superior quando o farmacêutico foi incorporado e quan-do se obtém uma história medicamentosa inicial precisa.

Esta revisão serve como fonte de informação para o desenvolvimento de futuras intervenções, tanto para pesquisa quanto para instituições que desejam melhorar a segurança do paciente idoso quanto ao uso de medica-mentos durante as transições de cuidado à saúde.

Conflitos de interessesOs autores declaram não possuir nenhum conflito de interesse.

ReFeRÊNCIAs1. Brasil. Ministério da Saúde. Prêmio Nacional de Incentivo à Pro-

moção do Uso Racional de Medicamentos 2009; Brasília: 2011. [Acesso em 2012 ago 20]. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/livro_premio_DAF_2009.pdf

2. Carvalho JAM, Garcia RA. O envelhecimento da população brasileira: Um enfoque demográfico. Cad Saúde Pública. 2003; 19(3):725-33.

3. Rozenfeld S. Prevalência, fatores associados e mau uso de medi-camentos entre os idosos: uma revisão. Cad Saúde Pública. 2003; 19(3):717-24.

4. Bernstein L, Folkman S, Lazarus RS. Characterization of the use and misuse of medications by elderly ambulatory population. Med Care. 1989; 27(6):654-63.

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9. Aspden P et al. Committee on Identifying and Preventing Medica-tion Errors. Preventing medication errors. Quality Chasm Series (Hardcover). Washington: National Academies Press [Internet]. [Acesso em 2012 ago 23]. Disponível em: http://www.sbrafh.org.br/site/index/library/id/53

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33. BRASIL. Conselho Nacional de Secretários da Saúde. Conass. Atenção Primária e Promoção da Saúde: Coleção para Entender a Gestão do SUS. Brasília: Conass. 2011. p. 197.

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Informações geraisA revista Geriatria & Gerontologia – G&G é uma publicação científica trimestral da Sociedade Brasileira de Geriatria e Ge-rontologia – SBGG, cujo objetivo é veicular artigos que contri-buam para a promoção do conhecimento na área de Geriatria e Gerontologia, em suas diversas subáreas e interfaces. A G&G aceita submissão de artigos em português, inglês e espanhol. Seu conteúdo encontra-se disponível em versão impressa, distribuí-da a todos os associados da SBGG, e em versão eletrônica aces-sada pelo site: www.sbgg.org.br.

Instruções para o envio dos manuscritosOs trabalhos devem ser enviados por via eletrônica (arquivo word) para o endereço: [email protected]; ou por cor-reio, em CD ou DVD, para SBGG - Av. Copacabana, 500 - sala 609/610, Copacabana - 22020-001, Rio de Janeiro - RJ. O autor para correspondência receberá mensagem acusando recebimento do trabalho; caso isto não aconteça até dez dias úteis após o envio, deve-se entrar em contato. Concomitantemente, o autor deverá enviar, por via postal, uma declaração de que o manuscrito está sendo submetido apenas à revista G&G, a concordância com a sessão de direitos autorais, a declaração de conflito de interesses e o documento de aprovação do comitê de ética em pesquisa.

Avaliação dos manuscritos por pareceristas (peer review)Os manuscritos que atenderem à política editorial e às instru-ções aos autores serão encaminhados aos editores, que consi-derarão o mérito científico da contribuição. Aprovados nesta fase, os manuscritos serão encaminhados para pelo menos dois revisores de reconhecida competência na temática abordada. Os manuscritos aceitos poderão retomar aos autores para aprova-ção de eventuais alterações no processo de editoração e norma-lização, de acordo com o estilo da revista. Manuscritos não acei-tos não serão devolvidos, a menos que sejam solicitados pelos respectivos autores no prazo de até três meses. Os manuscritos publicados são de propriedade da revista, sendo proibida tanto a reprodução, mesmo que parcial, em outros periódicos, como a tradução para outro idioma.

Pesquisas envolvendo seres humanosResultados de pesquisas relacionadas a seres humanos devem ser acompanhados de declaração de que todos os procedimentos te-nham sido aprovados pelo comitê de ética em pesquisa da insti-tuição de origem a que se vinculam os autores ou, na falta deste, por um outro comitê de ética em pesquisa credenciado junto a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde. Além disso, deverá constar, no último parágrafo do item Méto-dos, uma clara afirmação do cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (2000), além do atendimento a legislação específicas do país no qual a pesquisa foi realizada. Os indivíduos incluídos em pesquisas devem ter assinado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Tipos de artigos publicadosA revista G&G aceita a submissão de:Editoriais e comentários: esta seção destina-se à publicação de artigos subscritos pelos editores ou aqueles encomendados a autoridades em áreas específicas, devendo ser prioritariamente relacionados a conteúdos dos artigos publicados na revista.Artigos originais: contribuições destinadas à divulgação de re-sultados de pesquisas inéditas tendo em vista a relevância do tema, o alcance e o conhecimento gerado para a área da pes-

quisa. Devem ter de 2 mil a 4 mil palavras, excluindo ilustrações (tabelas, figuras [máximo de cinco]) e referências (máximo de 30).Artigos de revisão: avaliação crítica sistematizada da literatura sobre deter-minado assunto, de modo a conter uma análise comparativa dos trabalhos na área, que discuta os limites e alcances metodológicos, permitindo indicar perspectivas de continuidade de estudos naquela linha de pesquisa e deven-do conter conclusões. Devem ser descritos os procedimentos adotados para a revisão, bem como as estratégias de busca, seleção e avaliação dos artigos, esclarecendo a delimitação e limites do tema. Sua extensão máxima deve ser de 5 mil palavras e o número máximo de referências bibliográficas de 50.Comunicações breves: são artigos resumidos destinados à divulgação de resultados preliminares de pesquisa; de resultados de estudos que envolvem metodologia de pequena complexidade; hipóteses inéditas de relevância na área de Geriatria e Gerontologia. Devem ter de 800 a 1.600 palavras (ex-cluindo tabelas, figuras e referências), uma tabela ou figura e no máximo dez referências bibliográficas. Sua apresentação deve acompanhar as mesmas normas exigidas para artigos originais, fazendo-se exceção aos resumos, que não são estruturados e devem ter até 150 palavras.Relatos de caso: são manuscritos relatando casos clínicos inéditos e interessantes. O título deve apresentar a doença ou a peculiaridade clínica – relato de caso. Devem observar a estrutura de resumo (150 palavras) com introdução (justificativa ao leitor o motivo do relato de caso, não se estender na descrição da «doença ou particularidade clínica»), relato do caso (com descrição do paciente, resultados de exames clínicos, seguimento, diagnóstico. ATENÇÃO: Não utilizar siglas ou notas de rodapé), discussão (comparar com dados de semelhança na literatura) e conclusão do caso. Devem conter a bibliografia consultada e não podem ter mais de 1500 palavras e 15 referências.Artigos especiais: são manuscritos entendidos pelos editores como de especial relevância e que não se enquadram em nenhuma das categorias citadas. Sua revisão admite critérios próprios, não havendo limite de tamanho ou exigências previas quanto as referências bibliográficas.Cartas ao editor: seção destinada à publicação de comentários, discussão ou críticas de artigos da revista. O tamanho máximo é de mil e até cinco referências.

orientações para a preparação dos manuscritosOs manuscritos devem ser digitados em Word for Windows (inclusive ta-belas); as figuras devem ser enviadas em arquivo JPG com no mínimo 300 dpi de resolução.Devem ser apresentados na sequência:a) título completo do trabalho, em português e inglês, com até 90 carac-teres; b) título abreviado do trabalho com até 40 caracteres (incluindo espaços), em português e inglês; c) nome de todos os autores por exten-so, indicando a filiação institucional de cada um; d) dados de um dos autores para correspondência, incluindo nome, endereço, telefones, fax e e-mail.Resumo: todos os artigos submetidos deverão ter resumo em português e em inglês (abstracts), entre 150 a 250 palavras. Para os artigos originais e comunicações breves, os resumos devem ser estruturados incluindo objetivos, métodos, resultados e conclusões. Para as demais categorias, o formato dos resumos pode ser o narrativo, mas preferencialmente com as mesmas informações. Não devem conter citações e abreviaturas. Desta-car no mínimo três e no máximo seis termos de indexação, extraídos do vocabulário “Descritos em Ciências d Saúde” (DeCS – www.bireme.br), quando acompanharem os resumos em português, e do Medical Subject Headings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/mesh/), quando acompanha-rem os “Abstracts”. Se não forem encontrados descritores disponíveis para cobrirem a temática do manuscrito, poderão ser indicados termos ou ex-pressões de uso conhecido.Texto: com exceção dos manuscritos apresentados como Artigos de Revi-são os trabalhos deverão seguir a estrutura formal para trabalhos científicos:

instRuções aos autoRes

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Instruções aos autores | 153

Introdução: deve conter revisão da literatura atualizada e pertinente ao tema, adequada a apresentação do problema, e que destaque sua relevância. Não deve ser extensa, definindo o problema estudado, sin-tetizando sua importância e destacando as lacunas do conhecimen-to (estado de arte) que serão abordados no artigo. Métodos: devem conter descrição clara e sucinta dos procedimentos adotados; uni-verso e amostra; fonte de dados e critérios de seleção; instrumentos de medida, tratamento estatístico, dentre outros. Resultados: Devem se limitar a descrever os resultados encontrados sem incluir inter-pretações e comparações. Sempre que possível, os resultados devem ser apresentados em tabelas ou figuras, elaboradas de forma a serem autoexplicativas e com análise estatística. Discussão: deve explorar, adequada e objetivamente, os resultados, discutidos a luz de outras observações já registradas na literatura. É importante assinalar li-mitações do estudo. Deve culminar com as Conclusões, indicando caminhos para novas pesquisas ou implicações para a prática pro-fissional. Agradecimentos: podem ser registrados agradecimentos, em parágrafo não superior a três linhas, dirigidos a instituições ou indivíduos que prestaram efetiva colaboração para o trabalho.

Conflito de interessesDeve incluir relações com: a) conflitos financeiros, como empregos, vínculos profissionais, financiamentos, consultoria, propriedade, participação em lucros ou patentes relacionados a empresas, produ-tos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; b) conflitos pessoais: relação de parentesco próximo com proprietários e empre-gadores de empresas relacionadas a produtos comerciais ou tecnolo-gias envolvidas no manuscrito; c) potenciais conflitos: situações ou circunstâncias que poderiam ser consideradas capazes de influenciar a interpretação dos resultados.

Referências bibliográficasAs referências devem ser listadas no final do artigo, numeradas consecutivamente, seguindo a ordem em que foram mencionadas a primeira vez no texto, baseadas no estilo Vancouver (consultar: “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals: Writing and Editing for Medical Publication” www.icmje.org). Nas referências com até seis autores, citam-se todos os autores; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros autores, seguindo de et al. As abreviaturas dos títulos dos periódicos citados deverão estar de acordo com o MedLine. A exatidão e a adequação das refe-rências a trabalhos que tenham sido consultados e mencionados no texto do artigo são de responsabilidade do autor.LivrosKane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics 5th ed. New York: McGraw Hill, 2004.Capítulos de livrosSayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Ja-neiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8Artigos de periódicosOuslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med. 1981; 135 (2): 482-91Dissertações e tesesMarutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacien-tes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003.Trabalhos apresentados em congressos, simpósios, encontros, se-minários e outrosPeterson R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E as treatments for mild congnitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer’s Disease and Related Disor-ders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract 01-05-05.Artigos em periódicos eletrônicosBoog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para curso de enfermagem. Ver Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em 2002 Jun 10]; 15(1). Disponível em www.scielo.br/rm

Textos em formato eletrônicoInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas de saú-de: assistência médico-sanitária. www.ibge.gov.br (Acessado em: 05/02/2004)More SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Avail-able from URL; www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: 05/06/1996.

instRuctions FoR autHoRs

BackgroundGeriatria & Gerontología (Brazilian Geriatrics & Gerontology) G&G is a quarterly scientific publication by Sociedade Brasileira de Geria-tria e Gerontologia (SBGG) (Brazilian Geriatrics and Gerontology Society) aiming the publication of articles on Geriatrics and Geron-tology, including their several subareas and interfaces G&G accepts artirle submissions in Portuguese, English, and Spanish I ho print content is available for SBGG members and the online content can be accessed at: www.sbgg.org br

Instructions for manuscript sendingPapers should be sent either by e-mail to: [email protected]. The corresponding author will recerve message acknowledging the paper receipt should this do not occur up to seven working days from the ending, the author should get m touch with the journal Concur-rently, the author should send by mail a declaration stating that the manuscript is being submitted only to Geriatria & Gerontologia and that he (she) agrees with the cession of copyright.

manuscript evaluation by Peer ReviewManuscripts that regard the editorial policy and the instructions for authors will e referred to editors who will evaluate the their scientific merit Manuscripts will be submitted at least two reviewers with ex-pertise in the addressed theme Accepted manuscripts might return for authors’ approval of in case of changes made for editorial and standardization purposes, according to the journal style Manuscripts not accepted will not be returned, unless they are requested by Die respective authors within three months Published manuscripts are journal ownership, so either reproduction, even partial, in other jour-nals or translation into another language is unauthorized.

Research involving human subjectsArticles related to research involving human subjects should indicate whether the procedures followed were in accordance with the ethical standards of the responsible committee on human experimentation (institutional or regional) accredited by the Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde (Health Ministry Natio-nal Research Ethics Committee). In addition, a clear statement of compliance with ethical principles outlined in Helsinki Declaration (2000) shall appeal’ in the lest paragraph of Methods section, as well as fulfillment of specific lew requirements of the nation the research was performed in. The subjects included in the research should have signed a Free and Informed Consent Term.

Categories of manuscriptsG&G accepts the following submissions:Original articles: contributions aiming at release of unpublished research results considering the theme relevance, its range and the knowledge generated for research purposes Original articles should contain 7,000 to 4,000 words, excluding illustrations (tables, figures (not exceeding 5) and references (not exceeding 30).Review articles: Critical and systematic evaluation of literature on I certain subject containing a comparative review of papers in that area, discussing methodological limitations and ranges, indicating fur-ther study needs for that research area, and containing conclusions.

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154 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

The proceedings adopted for the review, as well as search, selection, and article evaluation strategies should be described, informing the limits of the theme. They should not exceed 5,000 words and 50 ref-erences.Brief communications: These are summarized articles designed for dissemination of preliminary results, results of studies involving methodology of low complexity, and novel hypotheses of relevance in the field of Geriatrics and Gerontology. They should contain 800-1600 words (excluding tables, figures and references), one table or figure and a maximum of ten references. Your presentation should follow the same standards of original articles, with exception of the abstracts, which are not structured and should contain a maximum of 150 words.Case Reports: These are manuscripts reporting original and inter-esting clinical cases. The title should have the disease or clinical peculiarity — a case report. They must observe the structure of ab-stract (150 words) with introduction (an explanation to the reader for the case report does not extend the description of “illness or clinical particularity”), case report (with description of the patient, results of clinical tests, follow-up, and diagnosis — WARNING: Do not use acronyms or footnotes), discussion (comparison with simi-lar data in the literature), and case outcome. They should contain a bibliography and have no more than 1500 words and 15 references.Letters to the editor: Section designed for publication of comments, discussion or any article reviews They should not exceed 1,000 words and 5 references.

Instructions for manuscript preparationManuscripts should be typed in Word for Windows [(including ta-bles), figures should be supplied as JPG file and a minimum of 300 dpi resolution]. Manuscripts should be prepared according to the sequence below:a) paper full title in Portuguese and English not exceeding 90 char-acters, b) paper short title not exceeding 40 characters (spaces included) in Portuguese and English, c) authors’ and coauthors’ complete name, indicating institutional affiliations for each one of them; d) corresponding author data, including name, address, tele-phone and fax numbers, and e-mail. Abstract: all manuscripts should be submitted with an abstract in Portuguese and in English having no more than 150 to 250 words. For original articles and brief communications, abstracts should be structured to include objective, methods, results, and conclusions. For other manuscript categories, abstract models could be narrative, but rather carrying the same information Abstracts should not contain quotations and abbreviations. At least three and at most six keywords should accompany the Abstracts being extracted from the vocabulary Descritores em Ciências da Saúde (DeCS - www.bireme.br) when ac-companying abstracts in Portuguese and from Medical Subject Head-ings -MeSH (http //www.nlm nih gov/mesh/) when accompanying abstracts in English. If no descriptor is available to cover the manu-script theme, words or expressions of known use might be indicated.Text: except for Review Articles, papers should assume formal structure of a scientific text Introduction. The introduction should contain updated literature review, being appropriate to the theme, suitable to the problem introduced, and enhancing the theme rel-evance. The introduction should not be extensive, but define the problem studied, synthesizing its importance and stressing the knowledge gaps addressed in the article. Methods: this section should have clear and brief description of proceedings adopted, sampling; data source and selection criteria, measurement in-struments; statistical analysis, among other features. Results: this section should be limited to describing the results found without including interpretation and comparison. Whenever possible, re-sults should be displayed in tables or figures designed to be self-ex-planatory and having statistical analysis. Discussion: the discussion should properly and objectively explore the results, discussed in the

light of further observation already registered in literature It Is im-portant to point out the study limitations. The discussion should culminate by conclusions indicating avenues for new research or implications for professional practice.

Acknowledgements: Acknowledgments may be written in a no more than 3-line paragraph towards institutes or individuals that effective-ly contributed to the paper.

Conflict of interestConflict of interest includes a) financial conflict such as employ-ment, professional liaisons, funding, consulting, ownership, profit or patent sharing related to marketed products or technology in-volved in the manuscript; b) personal conflict: close relatedness to owners and employers in companies connected to marketed prod-ucts or technology involved in the manuscript c) potential conflict: situations or circumstances that could be considered capable of in-fluencing the result interpretation.

ReferencesShould be listed at the end of the manuscript and numbered in the order they are first mentioned in the text, following Vancouver style (v “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedi-cal Journals Writing and Editing for Medical Publication” [http://www.icmje org]). List all authors up to 6; if more than six, list the first 6 followed by et al. The titles of journals should be abbreviated according to style used in Med-Line. Authors are responsible for the accuracy and completeness of references consulted and cited in the text.

examples of reference styleBooksKane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th ed New York: McGraw Hill, 2004.

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Papers introduced in congresso, symposiums, meetings, seminars etc.Peterson R, Grundman M, Thomas R, Thai L. Donepezil and vi-tamin E as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer’s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract 01-05-05.

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Book Revista G&G#2.indb 154 10/1/13 11:48 AM

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Registro no Ministério da Saúde: dispensado da obrigatoriedade de registro conforme Resolução RDC nº 27/10.

BR –

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Geriatria & Gerontologia

Revista

Volume 7Número 2

Abr/Mai/Jun 2013ISSN 1981-8289

Sociedade Brasileira de

Geriatria & Gerontologia

Órgão Oficial de Publicação Científ ica

ARTIGOS ORIGINAIS

Ensino médico em instituições públicas brasileiras e demanda do idoso

Implementação de planos de cuidados para idosos de Belo Horizonte

Automedicação em idosos que frequentam um centro de convivência para o idoso

Estilo de vida e saúde de um grupo de idosos de Franca, SP

Estudo da qualidade de vida de idosos hipertensos cadastrados na USF Boa Ideia Bongi, Recife, Brasil

Educação alimentar e nutricional em diabetes na terceira idade

A influência da atividade física na memória do idoso

A infl uência da prótese auditiva na qualidade de vida do idoso

ARTIGOS DE REVISÃO

Vacinação contra influenza para idosos: motivos da não adesão

Conciliação medicamentosa em idosos: uma revisão da literatura

Revista

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1e4 capas Revista G&G#2.indd 1 9/12/13 3:20 PM