nitrificação e desnitrificação em lagoas costeiras...

55
Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Biologia Programa de Pós-Graduação em Ecologia Nitrificação e Desnitrificação em Lagoas Costeiras Tropicais Ana Lúcia Santoro Abril de 2010

Upload: truongkhue

Post on 16-Dec-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto de Biologia

Programa de Pós-Graduação em Ecologia

Nitrificação e Desnitrificação em Lagoas

Costeiras Tropicais

Ana Lúcia Santoro

Abril de 2010

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

2

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto de Biologia

Programa de Pós-Graduação em Ecologia

Banca: Prof. Dr. Alex Enrich Prast

Prof. Dr. Vera Lúcia M. Huszar

Prof. Dr. William Zamboni de Melo

Nitrificação e Desnitrificação em Lagoas

Costeiras Tropicais

Ana Lúcia Santoro

Orientador: Prof. Dr. Alex Enrich Prast

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ecologia da Universidade Federal

do Rio de Janeiro como parte dos requisitos para a

obtenção do título de Mestre.

Abril de 2010

3

Agradecimentos

A Deus que, desde o início da minha jornada acadêmica, me capacitou e guiou os meus passos

em todos os momentos. Toda a honra seja dada a Ele.

À minha mãe, que tudo fez por mim. Mãe, foi por você que cheguei até aqui e é por você que

ainda irei muito além.

Ao meu maior presente, meu marido, que incondicionalmente esteve sempre comigo, ao meu

lado, de perto ou de longe, sempre torcendo e me apoiando com muito amor. Charlles, amo

muito você.

Ao meu primeiro e único orientador, desde o início muito mais que um orientador acadêmico,

um conselheiro de vida. Alex, muito obrigada pela confiança e carinho.

Ao Laboratório de Limnologia, onde tive a honra de aprender minhas primeiras lições

científicas. Amigos da limno, obrigada por tudo. Em especial, agradeço ao Rodrigo Coutinho e

ao Adriano Caliman pela coleta dos dados referentes ao capítulo III desta dissertação.

Ao Laboratório de Biogeoquímica, o qual tive o privilégio de ver nascer e a alegria de ajudá-lo a

crescer. Muito obrigada por todas as oportunidades.

Aos amigos ”acadêmicos”, de turma ou de lab, que muito me ajudaram direta ou indiretamente

nesta conquista. Queridos, a mensagem é genérica, mas o carinho é pessoal.

Aos professores da banca, Dr. Alex Enrich Prast, Dr. Vera Lúcia M. Huszar e Dr. William

Zamboni de Melo, por todas as contribuições que certamente enriqueceram esta dissertação.

4

ÍNDICE

RESUMO ................................................................................................................................ 5

ABSTRACT ............................................................................................................................ 6

INTRODUÇÃO GERAL ........................................................................................................ 7

CAPÍTULO I: Regulação Microbiológica da Disponibilidade de Nitrogênio em Ecossistemas

Aquáticos Continentais ............................................................................................................ 8

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 25

CAPÍTULO II: Controle da Nitrificação pela Salinidade em Lagoas Costeiras Salinas.......... 31

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 38

CAPÍTULO III: Taxas e Fatores Reguladores do Processo de Desnitrificação no Sedimento de

Duas Lagoas Costeiras Tropicais ............................................................................................. 40

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 49

CONCLUSÕES GERAIS ........................................................................................................ 51

5

RESUMO

Ecossistemas aquáticos continentais são de extrema importância para a ciclagem

global de nitrogênio. Nestes ambientes grandes quantidades de nitrogênio são fixadas,

tornando-se bio-disponíveis, e também emitidas para a atmosfera na forma de moléculas

reativas. O capítulo introdutório do presente manuscrito apresenta as principais vias de

transformação do nitrogênio em ecossistemas aquáticos continentais e a importância de cada

uma delas para a regulação da bio-disponibilidade deste macronutriente no sistema. O segundo

capítulo trata da influência da salinidade sobre a nitrificação, processo central do ciclo do

nitrogênio, e corroborando resultados obtidos anteriormente, a variação de salinidade interferiu

negativamente na atividade nitrificante principalmente sob baixas concentrações de sal. O

último capítulo evidencia formas diferenciadas de regulação do processo de desnitrificação em

duas lagoas costeiras de status tróficos distintos e, independente do tipo de regulação, as taxas

de desnitrificação foram extremamente baixas se comparadas às temperadas e os resultados

apontam para a escassez de nitrato como principal responsável.

6

ABSTRACT

Freshwater ecosystems are of extreme importance for the global cycling of

nitrogen. In these environments large amounts of nitrogen are fixed, making it bio-

available, and also emitted to the atmosphere as reactive molecules. The introductory

chapter of this manuscript presents the main ways of nitrogen transformation in

freshwater ecosystems and the importance of each to the regulation of bio-availability of

this macronutrient in the system. The second chapter deals with the influence of salinity

on nitrification, central process of the nitrogen cycle, and corroborating results obtained

previously, the change in salinity had a negative influence on nitrifying activity

especially under low salt concentrations. The final chapter highlights different forms of

regulation of denitrification in two coastal lagoons of different trophic status and

regardless of the type of regulation, denitrification rates were extremely low compared

to temperate ones and the results point to a shortage of nitrate as the main responsible.

7

INTRODUÇÃO GERAL

Ecossistemas aquáticos oceânicos e continentais são de extrema importância

para a ciclagem global de nitrogênio. Nestes ambientes grandes quantidades de

nitrogênio molecular são fixadas, ou seja, combinadas a carbono, hidrogênio ou

oxigênio, e se tornam disponíveis para a utilização da biota. Ecossistemas aquáticos

também são áreas de grande potencial de emissão de formas reativas de nitrogênio para

a atmosfera, como íon amônio (NH4+) e óxido nitroso (N2O).

O aumento da concentração de nutrientes, especialmente fósforo e nitrogênio, e

o conseqüente aumento da produtividade total nos ecossistemas aquáticos é chamado de

eutrofização. Com o crescente processo de eutrofização artificial (antropogênica) dos

ecossistemas aquáticos, por despejo de efluentes domésticos ou industriais, o papel

regulador dos microorganismos ligados ao ciclo do nitrogênio nestes ambientes tem

ganhado destaque. As formas reativas de nitrogênio produzidas em sistemas aquáticos e

liberadas para a atmosfera também tem recebido atenção crescente da comunidade

científica. Isto porque tais formas nitrogenadas contribuem para a formação de

nevoeiros fotoquímicos, chuvas ácidas e, no caso do óxido nitroso, possui poder estufa

até 300 vezes maior que o gás carbônico, além de contribuir para o consumo do O3

estratosférico.

No entanto, ainda se conhece muito pouco sobre o funcionamento do ciclo do

nitrogênio fora da região temperada. A grande maioria dos estudos relacionados aos

processos integrantes do ciclo do nitrogênio e seus fatores reguladores em ecossistemas

aquáticos contemplam ambientes temperados do hemisfério norte. Revisões e

estimativas globais acerca dos processos e produtos do ciclo do nitrogênio evidenciam a

escassez de dados tropicais.

A fim de contribuir para a compreensão global do funcionamento do ciclo do

nitrogênio, o presente estudo visou avaliar a ocorrência e os fatores reguladores dos

processos de nitrificação e desnitrificação, dois importantes processos do ciclo do

nitrogênio, em lagoas costeiras tropicais.

Capítulo I 8

REGULAÇÃO MICROBIOLÓGICA DA DISPONIBILIDADE DE NITR OGÊNIO EM

ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS CONTINENTAIS

Ana Lúcia Santoro

ASPECTOS GERAIS

Os elementos químicos nitrogênio (N), carbono (C), fósforo (P), oxigênio (O) e enxofre

(S) são reconhecidamente indispensáveis à vida, e dentre estes, o nitrogênio é o que apresenta

maior abundância na atmosfera, hidrosfera e biosfera global (Galloway et al. 2003). O montante

total de nitrogênio na Terra, incluindo solo, água e atmosfera, é de aproximadamente 4 x 1021 g,

massa maior que a dos quatro outros elementos citados anteriormente juntos (Mackenzie 1998).

Contudo, mais de 99% desse montante não está disponível para mais de 99% dos organismos

vivos. A razão para isto está no fato do nitrogênio ser encontrado na natureza quase inteiramente

na forma de nitrogênio molecular (N2) (Galloway et al. 2003). Esta forma química não pode ser

assimilada pela maioria dos organismos, já que quebrar a ligação tripla que liga os dois átomos

de nitrogênio na molécula de N2 requer grande quantidade de energia que só é alcançada em

processos artificiais, envolvendo altas temperaturas, ou por um pequeno e especializado grupo

de microorganismos fixadores de N.

O nitrogênio é um macronutriente que constitui as células de todos os seres vivos, sendo

utilizado para a síntese de DNA, RNA e proteínas, e é um dos principais elementos limitantes à

produção primária em ecossistemas terrestres e aquáticos. Segundo Elser et al. (2007), fontes de

N inorgânico como amônia, nitrato e nitrito são severamente limitadas em ecossistemas

naturais. Apesar do entendimento comum de que a produção primária de águas continentais é

limitada por fósforo (P), muitos trabalhos mostram uma grande variedade destes sistemas

limitados por N (Elser et al. 1990; Francoeur 2001). Por outro lado, o excesso desse elemento

em ecossistemas aquáticos desencadeia o processo de eutrofização, um dos maiores problemas

dos últimos séculos (Smil 1997). Desta forma, a regulação da disponibilidade de nitrogênio, que

se dá fundamentalmente através dos processos microbiológicos relacionados à ciclagem deste

nutriente (Fig.1), é extremamente importante para a manutenção da dinâmica e da composição

dos ecossistemas.

A maioria dos processos do ciclo biogeoquímico global do nitrogênio é realizada por

bactérias, destacando os processos de fixação biológica de nitrogênio, nitrificação e

desnitrificação (Fig 1) (Klotz & Stein 2008). Os compostos nitrogenados presentes na natureza

são divididos em dois grupos: não-reativos e reativos. A molécula de N2 é considerada não-

reativa e as reativas (Nr) incluem todos os compostos biologicamente, fotoquimicamente ou

radiativamente ativos da atmosfera ou biosfera (Galloway et al. 2003). As formas nitrogenadas

Capítulo I 9

mais estudadas em ecossistemas aquáticos e terrestres são: N-orgânico particulado e dissolvido,

amônia (NH3) e íon amônio (NH4+), óxido nitroso (N2O), nitrito (NO2

–) e nitrato (NO3–).

Embora muitos rios e lagos submetidos à pressão antrópica possam apresentar elevadas

concentrações de nitrato na água, ecossistemas aquáticos em geral possuem potencial limitado

para acumulação de formas reativas de nitrogênio, uma vez que o tempo de residência destas

formas na água é bastante reduzido, sendo mais longo no sedimento destes ambientes

(Galloway et al. 2003). A zona de interface sedimento-água de ambientes aquáticos oferece

regiões de intensa deposição e degradação de matéria orgânica (Dean 1999; Heinen &

McManus 2004). Estas condições fomentam alta atividade biogeoquímica e a disponibilidade de

oxigênio pode diminuir e até se tornar nula já nos primeiros milímetros do sedimento (Sweerts

et al. 1989), fazendo deste o principal sítio de ocorrência dos processos relacionados ao ciclo do

nitrogênio em ecossistemas aquáticos.

Piña-Ochoa e Alvarez-Cobelas (2006) argumentam que a maioria dos estudos sobre

desnitrificação em ecossistemas aquáticos está restrita entre as latitudes 25 e 60º N, com

pouquíssimos dados nas regiões tropicais e polares. O mesmo pode ser dito em relação a todos

os outros processos do ciclo do nitrogênio, ainda muito pouco conhecidos fora da região

temperada.

FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO (FBN)

O nitrogênio é um elemento único entre os principais necessários à vida, já que seu ciclo

inclui um vasto reservatório atmosférico (N2) que precisa ser fixado (combinado a carbono,

hidrogênio ou oxigênio) antes de ser utilizado pela maioria dos organismos. A disponibilidade

FIG. 1: Esquema simplificado do ciclo do nitrogênio em ecossistemas aquáticos continentais. Em destaque os principais processos bacterianos envolvidos na regulação da biodisponibilidade de N nestes ambientes. FBN – Fixação biológica de nitrogênio; NOP – Nitrogênio orgânico particulado; NOD – Nitrogênio orgânico dissolvido; RDNA – Redução dissimilatória do nitrato a amônia; ANAMMOX – Oxidação anaeróbica da amônia.

Capítulo I 10

desta forma fixada controla, pelo menos em parte, a produtividade, a estocagem de carbono e a

composição de espécies de muitos ecossistemas.

Bactérias e, também, arqueias fixadoras de nitrogênio (diazotróficas) convertem

nitrogênio atmosférico (N2) em amônia (NH3) para própria assimilação. Esta fixação biológica

de nitrogênio neutraliza a remoção de nitrogênio biodisponível por processos microbianos como

desnitrificação e oxidação anaeróbica da amônia (ANAMMOX) e representa a principal fonte

de N para a maioria da biosfera, incapaz de assimilar N2 diretamente (Dekas et al. 2009).

O processo de Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) pode ser sucintamente

representado pela equação:

N2 + 8 H+ + 8 e– → 2 NH3 + H2

Este processo é catalisado pela enzima nitrogenase, que é restrita a alguns procariotas

autótrofos e heterótrofos. Estes organismos utilizam a nitrogenase em conjunto com outras

enzimas e co-fatores para facilitar a quebra altamente endergônica da ligação tripla da molécula

de N2 para produção de amônia (Postgate 1970). Em organismos heterótrofos, o N2 é reduzido a

partir do consumo de compostos orgânicos enquanto, em organismos autótrofos, os elétrons são

oriundos do processo de fotossíntese. Dentre os heterotróficos podem ser encontradas archaea e

bactérias aeróbias, anaeróbias, anaeróbias facultativas e microaerofílicas (Herbert, 1999).

Dentre os organismos autótrofos destaca-se o grupo das cianofíceas, principalmente as que

possuem heterocitos. As cianobactérias são responsáveis pela maior parte do N2 planctônico

fixado em ambientes aquáticos e esta habilidade às proporciona uma vantagem competitiva

durante períodos de escassez de nitrogênio na coluna d’água (Tonno & Noges 2003).

A ligação entre as duas moléculas de N2 é extremamente estável e a demanda energética

para sua quebra é elevada, sendo estimado um mínimo de 16 ATP para cada molécula fixada

(Postgate et al. 1988). Em decorrência do elevado custo metabólico, os organismos autótrofos

são responsáveis pela maior porcentagem do N fixado em ecossistemas aquáticos,

especialmente em ambientes rasos onde há grande penetração de luz (Herbert 1999). Segundo

Schindler (1977), nitrogênio não deveria ser um fator limitante em sistemas aquáticos já que os

organismos fixadores de nitrogênio presentes seriam capazes de converter nitrogênio

atmosférico em formas biodisponíveis. Deste modo, para que tal limitação ocorra, alguns fatores

devem limitar a fixação biológica de nitrogênio (Vitousek & Howarth 1991).

Em corpos aquáticos continentais tais fatores podem ser: disponibilidade de carbono

orgânico, oxigênio e metais traço, pH, salinidade (Herbert 1999), luz (Lewis & Levine 1984),

temperatura (Marcarelli & Wurtsbaugh 2006) e concentração de outros macronutrientes

(Howarth et al. 1988; Marcarelli & Wurtsbaugh 2006).

Capítulo I 11

Marcarelli & Wurtsbaugh (2006) mostram através de experimentos que em rios

oligotróficos dos Estados Unidos a FBN foi regulada pela disponibilidade de fósforo, e a

magnitude da resposta à disponibilidade deste nutriente foi modulada pela temperatura (Fig 2).

FIG. 2: Influência da temperatura e disponibilidades de nitrogênio e fósforo sobre as taxas de fixação biológica de nitrogênio (FBN) em rios oligotróficos. As barras representam ± erro padrão. Adaptado de Marcarelli & Wurtsbaugh (2006).

Os mesmos autores mostram em outro trabalho ( Marcarelli & Wurtsbaugh 2007 ) um

estímulo de até 2500% na fixação de N em resposta a adição de fósforo em ambientes aquáticos

continentais temperados. A adição de N, no entanto, com ou sem adição simultânea de fósforo,

diminuiu a atividade de fixação em até 73%. Enquanto a temperatura exerce influência direta

sobre a fisiologia dos organismos, sendo a FBN um processo de grande gasto energético, este é

interrompido quando há ilimitada disponibilidade de N para o crescimento dos organismos.

Diferente do que se pensava até então, Bryhn & Blenckner (2007) concluíram que é muito

pouco provável que a concentração de N2 limite a fixação biológica de nitrogênio em

ecossistemas aquáticos.

A figura 3 mostra que a resposta à luz da FBN foi modelada com sucesso utilizando

uma equação anteriormente desenvolvida para a resposta à luz da fotossíntese. Lewis & Levine

(1984) encubaram amostras de água de seis diferentes profundidades ao longo da coluna d’água

de um lago venezuelano e encontraram uma curva similar a esperada para o processo

fotossintético.

FIG. 3: Resposta da fixação biológica de nitrogênio (FBN) planctônica à um gradiente de intensidade luminosa em um sistema lacustre venezuelano. Adaptado de Lewis & Levine (1984).

F

BN

Tratamento frio Tratamento quente controle nitrogênio

fósforo

Luz (W.m-2)

Luz (Einst m-2 h-1)

FB

N (

nm

ol

N 2 h

-1)

Capítulo I 12

No Brasil, Enrich-Prast & Esteves (1998) mostraram um padrão de variação diária das

taxas de FBN estudando comunidades perifíticas associadas a uma espécie de macrófita

aquática em um lago amazônico. Tal variação foi atribuída a flutuações na disponibilidade de

carbono orgânico, gerando diferentes respostas à incidência de luz solar de comunidades

predominantemente compostas por organismos autótrofos e heterótrofos (Fig 4).

FIG. 4: Variação diária da luz solar ( ) e da fixação biológica de nitrogênio (FBN) ( ) em comunidades perifíticas dominadas por organismos autótrofos (A) e heterótrofos (B). Adaptado de Enrich-Prast & Esteves (1998).

Antes da extensiva alteração do ciclo do N provocada pela ação humana, de 90 a 130 Tg

de N eram fixados anualmente em ambientes terrestres (Galloway et al. 1995). Já a taxa

planctônica de fixação biológica de nitrogênio ainda é incerta sendo estimada entre 10 a 200 Tg

N por ano (Gruber & Sarmiento 1997).

AMONIFICAÇÃO

Ecossistemas aquáticos continentais, especialmente sistemas lacustres por sua posição

terminal na bacia de drenagem, recebem e acumulam grande quantidade de matéria orgânica

que é então estocada no sedimento (Heinen & McManus 2004). Esta condição torna o processo

de amonificação um importante provedor de Nr lábil nestes ambientes, embora este seja um

processo ainda pouco explorado.

Amonificação (ou mineralização orgânica de N) é um processo contínuo de

decomposição através do qual compostos orgânicos de N com alto peso molecular são

sequenciadamente hidrolisados em compostos mais simples, por meio da atividade de enzimas

extracelulares (Sinsabaugh et al. 1991). Em seguida, estes compostos, geralmente na forma de

aminoácidos, são quebrados resultando na liberação de NH4+ (Gardner et al. 1989). Dependendo

da complexidade estrutural da matéria orgânica, tanto uma simples reação de deaminação

quanto uma complexa série de etapas metabólicas podem ser denominadas amonificação.

Normalmente o processo é limitado pela taxa de hidrólise dos compostos de maior peso

molecular, mas limitações em qualquer etapa do contínuo de decomposição podem regular o

processo (Stanford & Smith 1972). A amonificação de macromoléculas de N pode ser

sumarizada da seguinte forma:

Tempo (h) Tempo (h)

F

BN

(nm

ol h

-1)

Luz (µE m

2 sec -1)

(B)

Capítulo I 13

Proteínas Peptídeos Aminoácidos Ácidos org. + NH4+

O processo de amonificação é realizado por uma série de gêneros bacterianos e de

fungos e corresponde à transformação de N orgânico particulado (NOP) e dissolvido (NOD) em

NH4+ como mostra a figura 1. A produção de amônia está acoplada à mineralização da matéria

orgânica uma vez que esta forma inorgânica de N é liberada paralelamente à oxidação ou a

fermentação do C orgânico à CO2 (Fig 5). No entanto, esta liberação de NH4+ durante a

mineralização da matéria orgânica depende da qualidade e especialmente da razão C:N do

substrato degradado (Lancelot & Billen 1985).

FIG. 5: Representação dos fluxos de carbono e nitrogênio associados à degradação bacteriana da matéria orgânica. Retirado de Lancelot & Billen (1985).

A qualidade da matéria orgânica disponível, ou seja, se esta é lábil ou refratária para

utilização pelos microorganismos decompositores, determina a rapidez com que o substrato é

mineralizado e por conseqüência a taxa de amonificação do ambiente. A qualidade da matéria

orgânica, por sua vez, depende da sua origem (Enriquez et al. 1993). O detrito de macrófitas

aquáticas pode consistir de 25 e 30% de fibra, com conteúdo de lignina de aproximadamente

8%, sendo sua taxa de mineralização muito baixa quando comparada a de detritos formados por

fitoplâncton que contém material nitrogenado mais lábil. Sumi & Koike (1990) mostram uma

correlação negativa significativa (-0,71; p < 0,05) entre a razão C:N do substrato e a taxa de

amonificação de sedimentos costeiros japoneses.

A temperatura ambiental também é capaz de interferir nas taxas locais de mineralização

da matéria orgânica e amonificação, principalmente por acelerar a taxa metabólica dos

organismos envolvidos. Zhang et al. (2008) encontraram correlação positiva significativa entre

o fluxo de amônia do sedimento para a coluna d’água e a temperatura da água em um lago

eutrófico chinês. Os autores atribuem a resposta dos fluxos de amônia à intensificação do

proteinases peptidases deaminação

Capítulo I 14

processo de amonificação com o aumento da temperatura. A figura 6 mostra o comportamento

observado do fluxo de amônia ao longo do gradiente de temperatura.

FIG. 6: Resposta do fluxo de amônia sedimento-água ao aumento de temperatura em um lago eutrófico. Adaptado de Zhang et al. (2008).

O processo de mineralização da matéria orgânica ocorre em condições aeróbias e

anaeróbias, observando-se em geral as maiores taxas em presença de oxigênio. Estudos como o

de Lillebo et al. (2007) no entanto, mostram que condições de depleção de oxigênio

favoreceram o processo de amonificação no sedimento de pequenos rios da região mediterrânea.

A taxa de amonificação no sedimento de sistemas aquáticos é então regulada

principalmente pelo aporte e qualidade da matéria orgânica local. Em ambientes rasos, o

processo de amonificação pode contribuir com até 80% do N requerido pelo fitoplâncton

(Hansen & Blackburn 1992). Tendo o íon NH4+ como principal produto final, este pode ser

transportado para a coluna d’água ou no sedimento, ser assimilado por organismos bentônicos

ou ainda oxidado a NO3- ou NO2

- via nitrificação (Sumi & Koike 1990).

NITRIFICAÇÃO

A atividade nitrificante é de fundamental importância para todos os ecossistemas uma

vez que este processo une as fases reduzidas e oxidadas do ciclo do nitrogênio (Fig. 1),

desempenhando papel central (Joye et al. 1999). Seus produtos (nitrito e nitrato) servem como

substrato para desnitrificação, promovendo o elo que permite a transferência de nitrogênio

biodisponível do ambiente para a atmosfera, sob a forma de N2 e N2O (Jenkins & Kemp 1984).

Em ambientes com baixa disponibilidade de nitrato o processo de nitrificação pode subsidiar até

75 % de todo o N2 produzido (Dong et al. 2006).

O processo de nitrificação é realizado por bactérias quimioautotróficas que obtém sua

energia através da oxidação de formas reduzidas de nitrogênio. Este é um processo que se dá em

duas etapas distintas, nas quais a amônia é oxidada a nitrito e posteriormente a nitrato como

ilustrado abaixo:

(I) NH 4+ + 1½ O2 → NO2

- + H2O + 2 H+

(II) NO 2- + ½ O2 → NO3

-

T

emp

erat

ura

(ºC

)

Fluxo de amônia (mg m-2 d-1)

Capítulo I 15

Embora baixos níveis de oxigênio (até 0,3 mg L-1) já sejam suficientes (Cavari 1977),

ambas as etapas ocorrem estritamente em condição aeróbica. Assim como os outros processos

do ciclo do nitrogênio, o sedimento é o principal sítio de ocorrência da nitrificação em

ambientes aquáticos. A distribuição vertical das bactérias nitrificantes neste substrato é

determinada principalmente pela penetração de O2, que normalmente é de cerca de 1,65 mm

dependendo de fatores como: tipo de sedimento, conteúdo de matéria orgânica, temperatura,

grau de mistura do sedimento e bioturbação (Revsbech et al. 1980). Nitrosospira e

Nitrosomonas são os gêneros mais conhecidos capazes de realizar a primeira etapa, a oxidação

da amônia a nitrito, enquanto a oxidação de nitrito a nitrato é realizada por vários gêneros,

sendo Nitrobacter o mais comumente encontrado em ambientes costeiros (Enrich-Prast 2005).

O carbono utilizado por bactérias nitrificantes para a construção de moléculas é obtido

por meio da fixação de CO2. Segundo Fenchel et al. (1998), bactérias nitrificantes precisam

oxidar 35 e 100 moles de amônia e nitrito respectivamente para fixação de 1 único mol de C,

sendo este um processo de baixíssimo ganho energético. Com isso, estes organismos possuem

crescimento muito lento. Enquanto o tempo de duplicação de bactérias heterotróficas é de cerca

de 1 hora, o tempo de duplicação de bactérias nitrificantes varia entre 7 e 10 horas em

laboratório, podendo chegar a semanas em ambientes naturais (Enrich-Prast et al. 2009).

Uma série de fatores é capaz de regular a atividade nitrificante. Alguns destes têm

impacto fisiológico direto sobre as bactérias, tais como temperatura, pH e disponibilidade de

NH4+, O2 e CO2 (Herbert 1999). A salinidade também pode desempenhar papel importante

(Risgaard-Petersen et al. 2004a), influenciando diretamente os organismos nitrificantes

(Rysgaard et al. 1999) e regulando a capacidade de absorção de NH4+ pelo sedimento (Boatman

& Murray 1982). Santoro & Enrich-Prast (2009) observaram um decaimento exponencial das

taxas de nitrificação no sedimento de lagoas costeiras do estado do Rio de Janeiro, Brasil, em

resposta ao aumento da salinidade na coluna d’água (Fig. 7).

FIG. 7: Modelo de decaimento exponencial entre as taxas de nitrificação no sedimento de lagoas costeiras e salinidade. Equação: y= 89,29*exp (-0,1285*x) + (-2,929); R2= 0,5345; n= 44. Adaptado de Santoro & Enrich-Prast (2009).

Salinidade (ppt)

N

itrifi

caçã

o (

nmol

NO 3

- cm

-3 h

-1)

Capítulo I 16

Outros fatores como incidência de luz e presença de organismos fotossintetizantes como

algas e macrófitas aquáticas modificam as condições químicas da interface sedimento-água,

principalmente através do estímulo à produção, no caso da luz, e produção propriamente dita de

O2 (Wilkie & Mulbry 2002; Munoz & Guieysse 2006). A atividade destes organismos aumenta

a penetração de oxigênio no sedimento, estimulando processos aeróbicos como a nitrificação

(Risgaardpedersen et al. 1994; Lorenzen et al. 1998; Travieso et al. 2006). Utilizando

microsensores de O2 e NO3-, Lorenzen et al. (1998) mostram o estímulo ao processo de

nitrificação realizado pela atividade fotossintética de microalgas bentônicas através de

microperfis no sedimento de um ecossistema lacustre dinamarquês (Fig 8).

FIG. 8: Concentrações de O2 (○, valores médios e desvio padrão, n= 6) e NO3- (□, valores médios e desvio padrão,

n=6), perfis calculados (linhas) e taxas de assimilação de NO3-, nitrificação e desnitrificação na ausência (A) e na

presença (B) de luz em sedimento lacustre colonizado por microalgas bentônicas. Adaptado de Lorenzen et al. (1998).

Por outro lado, Risgaard–Petersen et al. (2004b) mostram que algas microfitobentônicas

podem competir diretamente com bactérias nitrificantes por NH4+ (Fig 9). Estas algas

bentônicas possuem maior taxa de crescimento e assimilação de N, podendo limitar o processo

de nitrificação.

FIG. 9: Taxas de nitrificação no sedimento em três diferentes tratamentos: livre de algas bentônicas, com a presença de algas bentônicas e adição de NH4

+ e somente com a presença de algas. Adaptado de Risgaard-Petersen et al. (2004b).

assimilação

desnitrificação

nitrificação

assimilação

P

rofu

ndi

dade

Alga Alga + N Livre de Alga

Capítulo I 17

A excreção de parte dos produtos fotossintéticos por estes organismos representa uma

fonte adicional de C e pode também regular o processo de nitrificação no sedimento

(Middelburg et al. 2000). Elevadas concentrações de carbono orgânico reduzem as taxas de

nitrificação por estimularem o rápido crescimento de bactérias heterotróficas, que competem

com a comunidade nitrificante por oxigênio e amônia (Strauss & Lamberti 2000, 2002).

FIG. 9: Esquematização das hipóteses acerca dos efeitos da razão C:N e qualidade do carbono orgânico disponível sobre as taxas de nitrificação. (A) hipótese 1: sob elevada razão C:N bactérias heterotróficas são mais eficientes na competição por NH4

+, resultando em baixas taxas de nitrificação; sob baixa razão C:N a comunidade nitrificante não é exposta à forte competição por NH4

+, resultando em altas taxas de nitrificação. (B) hipótese 2: quando o carbono orgânico disponível no ambiente é lábil (facilmente assimilado por bactérias heterotróficas) o carbono orgânico presente terá um efeito negativo maior sobre as taxas de nitrificação do que quando este é mais refratário (assimilado com maior dificuldade por bactérias heterotróficas). Adaptado de Strauss & Lamberti (2000).

DESNITRIFICAÇÃO

A remoção biológica de nitrato de ecossistemas aquáticos é normalmente atribuída à

assimilação na biomassa de algas e microorganismos, produzindo N orgânico que será

remineralizado posteriormente, e à desnitrificação (Burgin & Hamilton 2007).

Desnitrificação é um processo de redução dissimilatória na qual o nitrato ou nitrito

(NO3- ou NO2

-) é reduzido anaerobicamente a N molecular (N2) por bactérias heterotróficas

anaeróbicas facultativas. Este processo requer simultaneamente um meio anóxico (ou subóxico,

< 0,2 mg O2 l-1) e disponibilidade de matéria orgânica e nitrato (Mosier et al. 2002). Na

ausência de oxigênio, bactérias desnitrificantes utilizam nitrato como aceptor e carbono

orgânico como doador de elétrons como mostra a reação a seguir:

NH4+

Alta razão C:N Baixa razão C:N

Bactéria nitrificante

Bactéria heterotrófica

Bactéria nitrificante

Bactéria heterotrófica

Bactéria nitrificante

Bactéria heterotrófica

Bactéria nitrificante

Bactéria heterotrófica

C orgânico lábil

C orgânico refratário

NH4+ NH4

+

NH4+ NH4

+

Baixas taxas de nitrificação Altas taxas de nitrificação

Baixas taxas de nitrificação Altas taxas de nitrificação

Capítulo I 18

4 NO3- + 5 (CH2O) + 5 H2O → 2 N2 + 5 CO2 + 8 H2O + 4 OH–

Uma vez que a maioria do N fixado disponível no sedimento de ambientes aquáticos,

principal sítio anóxico para ocorrência do processo, está na forma de amônio (NH4+), ao menos

que haja um fluxo de nitrato proveniente da coluna d’água para o sedimento, o processo de

desnitrificação depende das taxas locais de nitrificação. O nitrato produzido através da

nitrificação na zona aeróbica difunde no sedimento até a zona anóxica onde a desnitrificação

ocorre (Nielsen et al. 1990). Esta combinação de processos é conhecida na literatura como

nitrificação-desnitrificação acoplada, enquanto o processo subsidiado pelo nitrato proveniente

da coluna d’água pode ser referido como desnitrificação direta (Fennel et al. 2009).

Muitos microorganismos heterotróficos são capazes de utilizar nitrato e nitrito como

aceptores de elétrons em condições anaeróbias, sendo o gênero Pseudomonas o mais conhecido

e estudado em ambientes aquáticos (Enrich-Prast 2005). Na ausência de O2, a redução do nitrato

promove mais energia que a redução de outros compostos oxidados, como Mn+4, Fe+3 ou SO4–2

(Fenchel et al. 1998). Estudos recentes mostraram que foraminíferos bentônicos, eucariotos

unicelulares encontrados no sedimento de uma grande variedade de ecossistemas aquáticos,

acumulam estoques intracelulares de nitrato (Risgaard-Petersen et al. 2006) e também são

capazes de respirar este substrato via desnitrificação (Piña-Ochoa et al. 2010), explicando a

ocorrência destes organismos em condições anóxicas. Risgaard-Petersen et al. (2006) estimam

que o estoque de nitrato intracelular encontrado seja suficiente para subsidiar a respiração

anaeróbica destes organismos por mais um mês.

Por ter como produto formas gasosas de N (N2 e N2O como produto intermediário) que

não podem ser assimiladas pela maioria dos organismos e geralmente difundem para a

atmosfera, o processo de desnitrificação diminui a biodisponibilidade de N no ambiente

aquático. Ecossistemas aquáticos continentais são responsáveis por cerca de 20 % do total

global da atividade desnitrificante, sendo a desnitrificação realizada no sedimento a maior via de

escape de N fixado de sistemas aquáticos naturais ou alterados (Seitzinger et al. 2006). Se por

um lado, este processo regula a produção primária em ecossistemas limitados por nitrogênio,

por outro, promove controle do processo de eutrofização artificial em ecossistemas que recebem

efluentes com elevadas concentrações de compostos nitrogenados. Segundo Galloway et al.

(2003), áreas úmidas são tão eficientes na remoção de N reativo (Nr) através da desnitrificação

que ambientes deste tipo são freqüentemente construídos para remover o Nr de efluentes de uma

série de atividades antrópicas.

A maior limitação para ocorrência do processo de desnitrificação é o fato de que a

produção de nitrato (nitrificação) requer a presença de oxigênio (O2) enquanto a desnitrificação

requer condições subóxicas. Por isso a desnitrificação ocorre em interfaces óxico/anóxico,

Capítulo I 19

podendo esta interface ser uma separação no tempo ou no espaço (ou ambos) (Seitzinger et al.

2006). A profundidade da zona aeróbica no sedimento de sistemas aquáticos é diretamente

afetada pelo consumo de O2 no mesmo, o que se associa com as taxas de decomposição da

matéria orgânica e nitrificação (Seitzinger et al. 2006). Segundo Fennel et al. (2009), a taxa de

consumo de O2 no sedimento pode ser um preditor efetivo da atividade desnitrificante neste

substrato.

A taxa de consumo de oxigênio regula a profundidade da zona aeróbica e

conseqüentemente pode regular a desnitrificação de duas maneiras: (1) diretamente, através da

criação de condições anóxicas ou (2) indiretamente, controlando as taxas de nitrificação (Jensen

et al. 1994). Os resultados obtidos pelo estudo de Santoro et al. (dados ainda não publicados)

em duas lagoas costeiras brasileiras de status trófico distintos mostram a ocorrência dos dois

tipos de regulação supracitados (Fig 10). As taxas de desnitrificação no sedimento do ambiente

oligotrófico se correlacionaram principalmente com as taxas de consumo de oxigênio no

sedimento, indicando o tipo de regulação direta. Já no sistema eutrófico, com elevadas taxas de

consumos de oxigênio no sedimento, o processo de desnitrificação respondeu principalmente às

variações na disponibilidade de nitrato na coluna d’água, já que a anoxía do sedimento limitava

a produção de nitrato via nitrificação, indicando o tipo de regulação indireta.

FIG. 10: Análise de componentes principais (ACP). Estão posicionados no plano 1-2 os vetores: taxa de consumo de oxigênio no sedimento (SOC), concentração de nitrato ([NO3

-]) e amônia ([NH4+]) na coluna d’água e, como

variável complementar (*), a taxa de desnitrificação no sedimento (Denit) em duas lagoas costeiras, uma eutrófica (IMB) e outra oligotrófica (CAB). N=10. Quanto mais próximos os vetores, maior a correlação entre eles. Adaptado de Santoro et al. (em prep.).

Além da disponibilidade de O2, fatores como temperatura, salinidade, pH,

disponibilidade de C orgânico, nitrato e nitrito também podem regular a atividade desnitrificante

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

Factor 1 : 38,07%

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

Fac

tor

2 :

30,4

8%

[NH4+] CAB

SOC IMB

*Denit CAB

SOC CAB

[NH4+] IMB

[NO3-] CAB

*Denit IMB

[NO3-] IMB

Regulação direta

Regulação indireta

Capítulo I 20

(Cornwell et al. 1999; Pina-Ochoa & Alvarez-Cobelas 2006). A figura 11 mostra alguns dos

resultados obtidos na revisão sobre desnitrificação em ambientes aquáticos realizada por Pina-

Ochoa & Alvarez-Cobelas (2006). As taxas do processo foram significativamente maiores em

condições de maior disponibilidade de C orgânico e nitrato (Mann-Whitney, p< 0,05).

FIG. 11: Box-whisker plot para taxas de desnitrificação em diferentes ambientes aquáticos sob condições de baixa e alta disponibilidade de carbono orgânico (baixo < 10 mg g-1) e nitrato (baixo < 50 µM). Adaptado de Pina-Ochoa e Alvarez-Cobelas (2006).

O processo de bioturbação realizado por macroorganismos bentônicos que constroem

tubos e galerias, como poliquetas e quironomídeos, também pode ser um importante fator

regulador do processo de desnitrificação no sedimento. A atividade destes organismos não só

aumenta a extensão da zona de interface sedimento-água como também, ao bombear

intermitentemente água da camada d’água acima do sedimento para dentro dos tubos e galerias,

levam o nitrato disponível para as camadas mais profundas do sedimento, onde a desnitrificação

ocorre (Svensson & Leonardson 1996).

FIG. 12: Comportamento das taxas de desnitrificação direta (a; utilizando nitrato proveniente da coluna d’água) e via nitrificação (b; utilizando nitrato proveniente do processo de nitrificação no sedimento) ao longo do gradiente de colonização por macroorganismos bentônicos em sedimento lacustre temperado. As linhas baseiam-se na análise de regressão linear simples e os coeficientes de correlação de Spearman também podem ser observados (n=16). Adaptado de Svensson & Leonardson (1996).

D

esni

trifi

caçã

o (µ

mol

N m

-2 h

-1)

C ORGÂNICO NITRATO

baixo baixo alto alto

D

esni

trifi

caçã

o (µ

mol

N m

-2 h

-1)

Macrofauna (g PS m-2) Macrofauna (g PS m-2)

a b

Capítulo I 21

Embora o consumo de nitrato em sedimentos aquáticos seja normalmente atribuído em

grande parte ao processo de desnitrificação, as estimativas das taxas de desnitrificação através

de medições diretas normalmente não explicam o total de consumo deste substrato no sistema

(Seitzinger 1988; Burgin & Hamilton 2007). Uma possível explicação para essa discrepância é a

falta de métodos capazes de extrapolar taxas de desnitrificação locais para todo o ecossistema

(Cornwell et al. 1999). No entanto, uma explicação alternativa é que parte da remoção de nitrato

em ecossistemas aquáticos pode ser atribuída a outros processos como a redução dissimilatória

de nitrato à amônia (RDNA) (Tiedje et al. 1982) e a oxidação anaeróbica da amônia

(ANAMMOX) (Jetten 2001). O estudo de Laverman et al. (2007) sobre a influência da

salinização na remoção de nitrato em um lago costeiro mostra esta defasagem entre as taxas de

redução de nitrato e as taxas de desnitrificação, atribuindo esta diferença principalmente a

ocorrência do processo de DNRA (Fig 13).

FIG. 13: Taxas de redução dissimilatória de nitrato e desnitrificação no sedimento de um lago costeiro obtidas em experimentos com (barras pretas) e sem (barras brancas) a adição de NaCl. Em ambos os tratamentos as taxas de redução dissimilatória de nitrato foram maiores que as de desnitrificação. Estão representadas médias e desvio padrão. Adaptado de Laverman et al. (2007).

REDUÇÃO DISSIMILATÓRIA DO NITRATO A AMÔNIA

A existência da redução dissimilatória do nitrato a amônia (RDNA, ou em inglês

DNRA) é amplamente reconhecida há pelo menos 25 anos, no entanto, o interesse na potencial

importância deste processo como via de remoção do nitrato em escala ecossistêmica é mais

recente (Burgin & Hamilton 2007). Neste processo, realizado por alguns grupos de bactérias

fermentativas estritamente anaeróbicas (Keith & Herbert 1983), o nitrato é reduzido à amônia.

Ao contrário do processo de desnitrificação, a RDNA não elimina o nitrogênio do

ecossistema, mantendo-o disponível para os produtores primários e microorganismos, sendo a

amônia resultante uma forma inorgânica de N ainda mais lábil que o nitrato. Pouco ainda é

conhecido sobre o destino da amônia produzida pela RDNA, mas é possível que sob condições

apropriadas, esta seja novamente convertida a nitrato via nitrificação (Fig1). Por ser uma forma

T

axas

(nm

ol c

m-3 h

-1)

Redução de nitrato

Desnitrificação

Capítulo I 22

extremamente lábil de N inorgânico, a amônia produzida também pode ser assimilada na

biomassa de plantas e microorganismos (Burgin & Hamilton 2007).

Atualmente são reconhecias duas vias de ocorrência da RDNA: uma fermentativa e

outra ainda pouco estudada ligada a oxidação do enxofre. A via fermentativa possibilita o fluxo

de elétrons da matéria orgânica para a redução do nitrato via reações fermentativas (Megonigal

et al. 2004). Embora as condições que promovam a RDNA (fermentativa) e a desnitrificação

sejam similares (basicamente anoxía e disponibilidade de nitrato e carbono orgânico), a RDNA

parece ser favorecida em ambientes com pouca disponibilidade de nitrato e ricos em carbono

lábil (de fácil utilização por microorganismos), enquanto a desnitrificação seria favorecida em

condições de baixa disponibilidade de C (Kelso et al. 1997; Silver et al. 2001). Scott et al.

(2008) mostram uma relação linear negativa entre as taxas potenciais de RDNA e um

importante fator indicativo da disponibilidade de C orgânico, a demanda de oxigênio pelo

sedimento. O trabalho, realizado em um ecossistema aquático continental artificial, também

mostra uma correlação negativa entre as taxas de RDNA e as concentrações de NO3- na coluna

d’água (Fig 14). Tiedje (1982) argumenta que condições de alta disponibilidade de C lábil

favoreceriam organismos que utilizam seus aceptores de elétrons de maneira mais eficiente. No

processo de RDNA são transferidos oito elétrons por mol de nitrato reduzido, enquanto na

desnitrificação somente cinco.

FIG. 14: Relação linear negativa entre as taxas potenciais de RDNA e a demanda de oxigênio pelo sedimento (a) e correlação negativa entre RDNA potencial e as concentrações de NO3

- (b). Adaptado de Scott et al. (2008).

O estado de oxidação do sedimento também pode ser importante. De acordo com

(Matheson et al. 2002), microzonas de O2 criadas pelas raízes de plantas emergentes no

sedimento de áreas alagadas pode favorecer a ocorrência de bactérias desnitrificantes, aeróbicas

facultativas, em detrimento de organismos anaeróbicos obrigatórios como os responsáveis pelo

processo de RDNA.

R

DN

A p

oten

cial

(µm

ol N

m-2

h-1

)

Demanda de oxigênio (µmol O2 m-2 h-1)

NO3- (µmol N L-1)

a b

Capítulo I 23

OXIDAÇÃO ANAERÓBICA DA AMÔNIA

A oxidação anaeróbica da amônia, processo quimiolitoautotrófico conhecido como

ANAMMOX (do inglês ‘anaerobic ammonium oxidation’), consiste na combinação de amônia

e nitrito sob condições anaeróbicas e foi descrito pela primeira vez por Mulder et al. (1995). A

amônia é utilizada como doadora e o nitrito como aceptor de elétrons, tendo como produto final

N2. O nitrito pode derivar-se da redução do nitrato realizada por bactérias desnitrificantes

(Kuypers et al. 2003) ou da oxidação da amônia através da atividade nitrificante. Damste et al.

(2002) mostram em biofilmes bacterianos que o aglomerado de bactérias que realizava o

processo de ANAMMOX era frequentemente encontrado próximo ao de bactérias nitrificantes.

O esquema de Dalsgaard et al. (2005) (Fig. 15) posiciona a zona de ocorrência do processo de

ANAMMOX ao longo de um perfil de profundidade no sedimento. O processo ocorreria então

no mesmo estrato da desnitrificação, já que as condições de ocorrência são praticamente as

mesmas para ambos os processos, e logo abaixo da zona óxica de ocorrência da nitrificação.

FIG. 15: Representação esquemática da distribuição de algumas formas dissolvidas de N na água intersticial e acima do sedimento (A) e indicação das zonas de profundidade de ocorrência dos processos indicados (B). Adaptado de Dalsgaard et al. (2005).

O processo foi descoberto em uma estação de tratamento de esgoto e desde então

estudos têm observado a ocorrência deste em zonas anóxicas de ecossistemas aquáticos

marinhos e continentais (Rysgaard et al. 2004; Schubert et al. 2006). Embora a importância

ecológica deste processo já tenha sido colocada em questão (Zehr & Ward 2002), ainda se sabe

relativamente pouco sobre o processo e sobre as bactérias envolvidas (Strous et al. 2006). O

tempo de duplicação de bactérias que realizam a ANAMMOX foi de 11 dias em condições

Águ

a P

rof.

dent

ro d

o se

dim

ento

Concentração Processos

Resp. aeróbica Nitrificação

Desnitrificação ANAMMOX

Mineralização anaeróbica

Capítulo I 24

laboratoriais ótimas e de 2 a 3 semanas em média segundo Strous & Jetten (2004). Culturas de

enriquecimento a partir de inóculos adequados geralmente necessitam de 100 a 200 dias, o que

dificulta muito o estudo destes organismos (van Dongen et al. 2001).

A ANAMMOX ocorre onde haja disponibilidade de amônia e nitrito sob condições

anóxicas, contribuindo para uma remoção permanente de nitrito do sistema (Burgin & Hamilton

2007). No entanto, o processo é inibido por alguns compostos orgânicos como piruvato, etanol e

glicose (Jetten et al. 1999), fazendo com que o processo de oxidação anaeróbica da amônia seja

mais expressivo em ecossistemas com limitada disponibilidade de C lábil ou com excesso de N

em relação a C (Dalsgaard et al. 2005). Considerando a coluna d’água de oceanos, o processo

de ANAMMOX pode contribuir com até 50% de todo o N2 produzido (Dalsgaard et al. 2003).

Pouco ainda é conhecido sobre o processo em sistemas aquáticos continentais, no entanto, é

esperado que este seja mais importante em lagos profundos e/ou oligotróficos (Burgin &

Hamilton 2007). De acordo com o estudo realizado por Schubert et al. (2006), de 7 a 13% do

total de N2 produzido no lago Tanganyika é derivado da oxidação anaeróbica da amônia.

Durante o processo de oxidação anaeróbica da amônia, também é possível observar a

fixação de CO2 pelos organismos, mas a via de ocorrência desta fixação ainda é desconhecida

(Schmid et al. 2003). Além da redução do nitrito para oxidação da amônia, as bactérias

responsáveis pela ANAMMOX também oxidam anaerobicamente parte do nitrito a nitrato e este

processo poderia suprir os elétrons necessários para a fixação de CO2 (deGraaf et al. 1996).

IMPACTOS ANTRÓPICOS

Antes da interferência humana, a síntese de formas reativas de N a partir de N2 ocorria

principalmente através de dois processos: relâmpagos e FBN. Tais formas reativas de N não se

acumulavam nos ecossistemas uma vez que os processos de FBN e desnitrificação se

compensavam (Ayres et al. 1994).

Segundo Galloway et al. (2003), ao longo das últimas décadas a produção de Nr por

atividades humanas tem sido maior que a produção natural de todos os sistemas terrestres

juntos. E de acordo com o mesmo autor, este aumento tem três causas principais: (1) o cultivo

extensivo de legumes, arroz e outras culturas que promovem a conversão de N2 em N orgânico

através da FBN; (2) a queima de combustíveis fósseis, que convertem tanto N2 como N fóssil

em formas reativas de N (NOx); e (3) o processo de Haber-Bosch que, converte N2 a NH3

artificialmente para sustentar a produção de alimentos e outras atividades industriais. A criação

de Nr apenas através do processo de Haber-Bosch aumentou de 0, antes de 1910, para mais de

100 Tg N por ano em 2000, com cerca de 85% desse montante sendo utilizado na produção de

fertilizantes (Galloway et al. 2002).

Alterações no ciclo do nitrogênio provocam múltiplas conseqüências e segundo

Galloway et al. (2008), as atividades humanas mais que dobraram o montante de N em

Capítulo I 25

circulação na biosfera. Na atmosfera, estas conseqüências incluem: aumento da concentração

global de oxido nitroso (N2O), um poderoso gás estufa com força radiativa 300 vezes maior que

a do CO2 e um dos responsáveis pelo consumo de O3 estratosférico; aumento substancial dos

fluxos de formas gasosas radioativas de nitrogênio (dois terços ou mais das emissões globais de

oxido nítrico e amônia são de origem antrópica); e contribuição substancial para a ocorrência de

chuvas ácidas e nevoeiro fotoquímico que afetam zonas urbanas e agrícolas em todo o mundo

(Vitousek et al. 1997).

Uma das principais vias de aporte de N antropogênico nos ecossistemas é a deposição

atmosférica (Elser et al. 2009), mas o aporte de esgoto doméstico e outros efluentes despejados

in natura em ambientes aquáticos também é um problema crescente e a concentração de nitrato

nos rios se correlaciona fortemente com a ocupação humana nas bacias (Howarth et al. 1996).

Em regiões de baixa fixação de nitrogênio a adição deste elemento geralmente aumenta a

produtividade e o estoque de carbono interno, desencadeando ou acelerando o processo de

eutrofização (Aber et al. 1991). A diversidade biológica também pode ser alterada e

normalmente diminui onde a adição de nitrogênio aumenta a produtividade dos ecossistemas

(Tilman 1987).

BIBLIOGRAFIA

Aber J.D., Melillo J.M., Nadelhoffer K.J., Pastor J. & Boone R.D. (1991) Factors Controlling Nitrogen Cycling and Nitrogen Saturation in Northern Temperate Forest Ecosystems. Ecological Applications, 1, 303-315

Ayres R.U., Schlesinger W.H. & Socolow R.H. (1994) Human impacts on the carbon and nitrogen cycles. In: Industrial Ecology and Global Change (eds. Socolow RH, Andrews C, Berkhout R & Thomas V), pp. 121 - 155. Cambridge University Press, Cambridge (MA)

Boatman C.D. & Murray J.W. (1982) Modeling Exchangeable Nh4+ Adsorption in Marine-Sediments - Process and Controls of Adsorption. Limnology and Oceanography, 27, 99-110

Bryhn A.C. & Blenckner T. (2007) Can nitrogen gas be deficient for nitrogen fixation in lakes? Ecological Modelling, 202, 362-372

Burgin A.J. & Hamilton S.K. (2007) Have we overemphasized the role of denitrification in aquatic ecosystems? A review of nitrate removal pathways. Frontiers in Ecology and the Environment, 5, 89-96

Cavari B.Z. (1977) Nitrification Potential and Factors Governing Rate of Nitrification in Lake-Kinneret. Oikos, 28, 285-290

Cornwell J.C., Kemp W.M. & Kana T.M. (1999) Denitrification in coastal ecosystems: methods, environmental controls, and ecosystem level controls, a review. Aquatic Ecology, 33, 14

Dalsgaard T., Canfield D.E., Petersen J., Thamdrup B. & Acuna-Gonzalez J. (2003) N-2 production by the anammox reaction in the anoxic water column of Golfo Dulce, Costa Rica. Nature, 422, 606-608

Dalsgaard T., Thamdrup B. & Canfield D.E. (2005) Anaerobic ammonium oxidation (anammox) in the marine environment. Research in Microbiology, 156, 457-464

Capítulo I 26

Damste J.S.S., Strous M., Rijpstra W.I.C., Hopmans E.C., Geenevasen J.A.J., van Duin A.C.T., van Niftrik L.A. & Jetten M.S.M. (2002) Linearly concatenated cyclobutane lipids form a dense bacterial membrane. Nature, 419, 708-712

Dean W.E. (1999) The carbon cycle and biogeochemical dynamics in lake sediments. Journal of Paleolimnology, 21, 375-393

deGraaf A.A.V., deBruijn P., Robertson L.A., Jetten M.S.M. & Kuenen J.G. (1996) Autotrophic growth of anaerobic ammonium-oxidizing micro-organisms in a fluidized bed reactor. Microbiology-Uk, 142, 2187-2196

Dekas A.E., Poretsky R.S. & Orphan V.J. (2009) Deep-Sea Archaea Fix and Share Nitrogen in Methane-Consuming Microbial Consortia. Science, 326, 422-426

Dong L.F., Nedwell D.B. & Stott A. (2006) Sources of nitrogen used for denitrification and nitrous oxide formation in sediments of the hypernutrified Colne, the nutrified Humber, and the oligotrophic Conwy estuaries, United Kingdom. Limnology and Oceanography, 51, 545-557

Elser J.J., Andersen T., Baron J.S., Bergstrom A.K., Jansson M., Kyle M., Nydick K.R., Steger L. & Hessen D.O. (2009) Shifts in Lake N:P Stoichiometry and Nutrient Limitation Driven by Atmospheric Nitrogen Deposition. Science, 326, 835-837

Elser J.J., Bracken M.E.S., Cleland E.E., Gruner D.S., Harpole W.S., Hillebrand H., Ngai J.T., Seabloom E.W., Shurin J.B. & Smith J.E. (2007) Global analysis of nitrogen and phosphorus limitation of primary producers in freshwater, marine and terrestrial ecosystems. Ecology Letters, 10, 1135-1142

Elser J.J., Marzolf E.R. & Goldman C.R. (1990) Phosphorus and Nitrogen Limitation of Phytoplankton Growth in the Fresh-Waters of North-America - a Review and Critique of Experimental Enrichments. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences, 47, 1468-1477

Enrich-Prast A. (2005) Caminhos do nitrogênio em ecossistemas aquáticos continentais. In: Lições de Limnologia (eds. Roland F, Cesar D & Marinho M), pp. 209 - 227. Rima, São Carlos

Enrich-Prast A., Bastviken D. & Crill P.M. (2009) Chemosynthesis. In: Encyclopedia of Inland Waters, pp. 211 - 225

Enrich-Prast A. & Esteves F.A. (1998) Diurnal variation of rates of denitrification and nitrogen fixation of periphyton associated with Oryza glumaepatula Steud in an Amazonian Lake. Hydrobiologia, 368, 189-192

Enriquez S., Duarte C.M. & Sandjensen K. (1993) Patterns in Decomposition Rates among Photosynthetic Organisms - the Importance of Detritus C-N-P Content. Oecologia, 94, 457-471

Fenchel T., King G.M. & Blackburn T.H. (1998) Bacterial biogeochemistry: the ecophysiology of mineral cycling. 2 edn. Academic Press.

Fennel K., Brady D., DiToro D., Fulweiler R.W., Gardner W.S., Giblin A., McCarthy M.J., Rao A., Seitzinger S., Thouvenot-Korppoo M. & Tobias C. (2009) Modeling denitrification in aquatic sediments. Biogeochemistry, 93, 159-178

Francoeur S.N. (2001) Meta-analysis of lotic nutrient amendment experiments: detecting and quantifying subtle responses. Journal of the North American Benthological Society, 20, 358-368

Galloway J.N., Aber J.D., Erisman J.W., Seitzinger S.P., Howarth R.W., Cowling E.B. & Cosby B.J. (2003) The nitrogen cascade. Bioscience, 53, 341-356

Galloway J.N., Cowling E.B., Seitzinger S.P. & Socolow R.H. (2002) Reactive nitrogen: Too much of a good thing? Ambio, 31, 60-63

Galloway J.N., Schlesinger W.H., Levy H., Michaels A. & Schnoor J.L. (1995) Nitrogen-Fixation - Anthropogenic Enhancement-Environmental Response. Global Biogeochemical Cycles, 9, 235-252

Galloway J.N., Townsend A.R., Erisman J.W., Bekunda M., Cai Z.C., Freney J.R., Martinelli L.A., Seitzinger S.P. & Sutton M.A. (2008) Transformation of the nitrogen cycle: Recent trends, questions, and potential solutions. Science, 320, 889-892

Capítulo I 27

Gardner W.S., Chandler J.F. & Laird G.A. (1989) Organic Nitrogen Mineralization and Substrate Limitation of Bacteria in Lake-Michigan. Limnology and Oceanography, 34, 478-485

Gruber N. & Sarmiento J.L. (1997) Global patterns of marine nitrogen fixation and denitrification. Global Biogeochemical Cycles, 11, 235-266

Hansen L.S. & Blackburn T.H. (1992) Effect of Algal Bloom Deposition on Sediment Respiration and Fluxes. Marine Biology, 112, 147-152

Heinen E.A. & McManus J. (2004) Carbon and nutrient cycling at the sediment-water boundary in western Lake Superior. Journal of Great Lakes Research, 30, 113-132

Herbert R.A. (1999) Nitrogen cycling in coastal marine ecosystems. Fems Microbiology Reviews, 23, 563-590

Howarth R.W., Billen G., Swaney D., Townsend A., Jaworski N., Lajtha K., Downing J.A., Elmgren R., Caraco N., Jordan T., Berendse F., Freney J., Kudeyarov V., Murdoch P. & Zhu Z.L. (1996) Regional nitrogen budgets and riverine N&P fluxes for the drainages to the North Atlantic Ocean: Natural and human influences. Biogeochemistry, 35, 75-139

Howarth R.W., Marino R. & Cole J.J. (1988) Nitrogen-Fixation in Fresh-Water, Estuarine, and Marine Ecosystems .2. Biogeochemical Controls. Limnology and Oceanography, 33, 688-701

Jenkins M.C. & Kemp W.M. (1984) The Coupling of Nitrification and Denitrification in 2 Estuarine Sediments. Limnology and Oceanography, 29, 609-619

Jensen K., Sloth N.P., Risgaardpetersen N., Rysgaard S. & Revsbech N.P. (1994) Estimation of Nitrification and Denitrification from Microprofiles of Oxygen and Nitrate in Model Sediment Systems. Applied and Environmental Microbiology, 60, 2094-2100

Jetten M.S.M. (2001) New pathways for ammonia conversion in soil and aquatic systems. Plant and Soil, 230, 9-19

Jetten M.S.M., Strous M., van de Pas-Schoonen K.T., Schalk J., van Dongen U.G.J.M., van de Graaf A.A., Sogemann S., Muyzer G., van Loosdrecht M.C.M. & Kuenen J.G. (1999) The anaerobic oxidation of ammonium. Fems Microbiology Reviews, 22, 16

Joye S.B., Connell T.L., Miller L.G., Oremland R.S. & Jellison R.S. (1999) Oxidation of ammonia and methane in an alkaline, saline lake. Limnology and Oceanography, 44, 178-188

Keith S.M. & Herbert R.A. (1983) Dissimilatory Nitrate Reduction by a Strain of Desulfovibrio-Desulfuricans. Fems Microbiology Letters, 18, 55-59

Kelso B.H.L., Smith R.V., Laughlin R.J. & Lennox S.D. (1997) Dissimilatory nitrate reduction in anaerobic sediments leading to river nitrite accumulation. Applied and Environmental Microbiology, 63, 4679-4685

Klotz M.G. & Stein L.Y. (2008) Nitrifier genomics and evolution of the nitrogen cycle. Fems Microbiology Letters, 278, 146-156

Kuypers M.M.M., Sliekers A.O., Lavik G., Schmid M., Jorgensen B.B., Kuenen J.G., Damste J.S.S., Strous M. & Jetten M.S.M. (2003) Anaerobic ammonium oxidation by anammox bacteria in the Black Sea. Nature, 422, 608-611

Lancelot C. & Billen G. (1985) Carbon-Nitrogen relationship in nutrient metabolism of coastal marine ecosystem. In: Advances in Aquatic Microbiology (eds. Jannash HW & Leb Williams PJ), pp. 263 - 321. Academic Press London, London

Laverman A.M., Canavan R.W., Slomp C.P. & Van Cappellen P. (2007) Potential nitrate removal in a coastal freshwater sediment (Haringvliet Lake, The Netherlands) and response to salinization. Water Research, 41, 3061-3068

Lewis W.M. & Levine S.N. (1984) The Light Response of Nitrogen-Fixation in Lake Valencia, Venezuela. Limnology and Oceanography, 29, 894-900

Lillebo A.I., Morais M., Guilherme P., Fonseca R., Serafim A. & Neves R. (2007) Nutrient dynamics in Mediterranean temporary streams: A case study in Pardiela catchment (Degebe River, Portugal). Limnologica, 37, 337-348

Lorenzen J., Larsen L.H., Kjaer T. & Revsbech N.P. (1998) Biosensor determination of the microscale distribution of nitrate, nitrate assimilation, nitrification, and denitrification in

Capítulo I 28

a diatom-inhabited freshwater sediment. Applied and Environmental Microbiology, 64, 3264-3269

Mackenzie F.T. (1998) Our Changing Planet: An Introduction to Earth System Science and Global Environmental Change. 2 edn. Prentice-Hall, Upper Saddle River (NJ).

Marcarelli A.M. & Wurtsbaugh W.A. (2006) Temperature and nutrient supply interact to control nitrogen fixation in oligotrophic streams: An experimental examination. Limnology and Oceanography, 51, 2278-2289

Marcarelli A.M. & Wurtsbaugh W.A. (2007) Effects of upstream lakes and nutrient limitation on periphytic biomass and nitrogen fixation in oligotrophic, subalpine streams. Freshwater Biology, 52, 2211-2225

Matheson F.E., Nguyen M.L., Cooper A.B., Burt T.P. & Bull D.C. (2002) Fate of N-15-nitrate in unplanted, planted and harvested riparian wetland soil microcosms. Ecological Engineering, 19, 249-264

Megonigal J., Hines M. & Visscher P. (2004) Anaerobic metabolism: linkages to trace gases and aerobic processes. In: Biogeochemistry (ed. Schlesinger WH), pp. 317 - 424. Elsevier-Pergamon, Oxford, UK

Middelburg J.J., Barranguet C., Boschker H.T.S., Herman P.M.J., Moens T. & Heip C.H.R. (2000) The fate of intertidal microphytobenthos carbon: An in situ C-13-labeling study. Limnology and Oceanography, 45, 1224-1234

Mosier A.R., Doran J.W. & Freney J.R. (2002) Managing soil denitrification. Journal of Soil and Water Conservation, 57, 8

Mulder A., Vandegraaf A.A., Robertson L.A. & Kuenen J.G. (1995) Anaerobic Ammonium Oxidation Discovered in a Denitrifying Fluidized-Bed Reactor. Fems Microbiology Ecology, 16, 177-183

Munoz R. & Guieysse B. (2006) Algal-bacterial processes for the treatment of hazardous contaminants: A review. Water Research, 40, 2799-2815

Nielsen L.P., Christensen P.B., Revsbech N.P. & Sorensen J. (1990) Denitrification and Oxygen Respiration in Biofilms Studied with a Microsensor for Nitrous-Oxide and Oxygen. Microbial Ecology, 19, 63-72

Pina-Ochoa E. & Alvarez-Cobelas M. (2006) Denitrification in aquatic environments: A cross-system analysis. Biogeochemistry, 81, 111-130

Piña-Ochoa E., Høgslund S., Geslin E., Cedhagen T., Revsbech N.P., Nielsen L.P., Schweizer M., Jorissen F., Rysgaard S. & Risgaard-Petersen N. (2010) Widespread occurrence of nitrate storage and denitrification among Foraminifera and Gromiida. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 107, 6

Postgate J.R. (1970) Biological Nitrogen Fixation. Nature, 226, 25-& Postgate J.R., Kent H.M. & Robson R.L. (1988) Nitrogen fixation by Desulfovibrio. In: The

Nitrogen and Sulphur Cycles (eds. Cole JA & Ferguson JS), pp. 457 - 473. Cambridge University Press, Cambridge

Revsbech N.P., Jorgensen B.B. & Blackburn T.H. (1980) Oxygen in the Sea Bottom Measured with a Microelectrode. Science, 207, 1355-1356

Risgaard-Petersen N., Langezaal A.M., Ingvardsen S., Schmid M.C., Jetten M.S.M., Op den Camp H.J.M., Derksen J.W.M., Pina-Ochoa E., Eriksson S.P., Nielsen L.P., Revsbech N.P., Cedhagen T. & van der Zwaan G.J. (2006) Evidence for complete denitrification in a benthic foraminifer. Nature, 443, 93-96

Risgaard-Petersen N., Meyer R.L., Schmid M., Jetten M.S.M., Enrich-Prast A., Rysgaard S. & Revsbech N.P. (2004a) Anaerobic ammonium oxidation in an estuarine sediment. Aquatic Microbial Ecology, 36, 293-304

Risgaard-Petersen N., Nicolaisen M.H., Revsbech N.P. & Lomstein B.A. (2004b) Competition between ammonia-oxidizing bacteria and benthic microalgae. Applied and Environmental Microbiology, 70, 5528-5537

Risgaardpedersen N., Rysgaard S., Nielsen L.P. & Revsbech N.P. (1994) Diurnal-Variation of Denitrification and Nitrification in Sediments Colonized by Benthic Microphytes. Limnology and Oceanography, 39, 573-579

Capítulo I 29

Rysgaard S., Glud R.N., Risgaard-Petersen N. & Dalsgaard T. (2004) Denitrification and anammox activity in Arctic marine sediments. Limnology and Oceanography, 49, 1493-1502

Rysgaard S., Thastum P., Dalsgaard T., Christensen P.B. & Sloth N.P. (1999) Effects of salinity on NH4+ adsorption capacity, nitrification, and denitrification in Danish estuarine sediments. Estuaries, 22, 21-30

Santoro A.L. & Enrich-Prast A. (2009) Salinity control of nitrification in saline shallow coastal lagoons. Acta Limnologica Brasiliensia, 21, 6

Schindler D.W. (1977) Evolution of Phosphorus Limitation in Lakes. Science, 195, 260-262 Schmid M., Walsh K., Webb R., Rijpstra W.I.C., van de Pas-Schoonen K., Verbruggen M.J.,

Hill T., Moffett B., Fuerst J., Schouten S., Damste J.S.S., Harris J., Shaw P., Jetten M. & Strous M. (2003) Candidatus "Scalindua brodae", sp nov., Candidatus "Scalindua wagneri", sp nov., two new species of anaerobic ammonium oxidizing bacteria. Systematic and Applied Microbiology, 26, 529-538

Schubert C.J., Durisch-Kaiser E., Wehrli B., Thamdrup B., Lam P. & Kuypers M.M.M. (2006) Anaerobic ammonium oxidation in a tropical freshwater system (Lake Tanganyika). Environmental Microbiology, 8, 1857-1863

Scott J.T., McCarthy M.J., Gardner W.S. & Doyle R.D. (2008) Denitrification, dissimilatory nitrate reduction to ammonium, and nitrogen fixation along a nitrate concentration gradient in a created freshwater wetland. Biogeochemistry, 87, 99-111

Seitzinger S., Harrison J.A., Bohlke J.K., Bouwman A.F., Lowrance R., Peterson B., Tobias C. & Van Drecht G. (2006) Denitrification across landscapes and waterscapes: A synthesis. Ecological Applications, 16, 2064-2090

Seitzinger S.P. (1988) Denitrification in Fresh-Water and Coastal Marine Ecosystems - Ecological and Geochemical Significance. Limnology and Oceanography, 33, 702-724

Silver W.L., Herman D.J. & Firestone M.K. (2001) Dissimilatory nitrate reduction to ammonium in upland tropical forest soils. Ecology, 82, 2410-2416

Sinsabaugh R.L., Antibus R.K. & Linkins A.E. (1991) An Enzymatic Approach to the Analysis of Microbial Activity During Plant Litter Decomposition. Agriculture Ecosystems & Environment, 34, 43-54

Stanford G. & Smith S.J. (1972) Nitrogen Mineralization Potentials of Soils. Soil Science Society of America Proceedings, 36, 465-&

Strauss E.A. & Lamberti G.A. (2000) Regulation of nitrification in aquatic sediments by organic carbon. Limnology and Oceanography, 45, 1854-1859

Strauss E.A. & Lamberti G.A. (2002) Effect of dissolved organic carbon quality on microbial decomposition and nitrification rates in stream sediments. Freshwater Biology, 47, 65-74

Strous M. & Jetten M.S.M. (2004) Anaerobic oxidation of methane and ammonium. Annual Review of Microbiology, 58, 99-117

Strous M., Pelletier E., Mangenot S., Rattei T., Lehner A., Taylor M.W., Horn M., Daims H., Bartol-Mavel D., Wincker P., Barbe V., Fonknechten N., Vallenet D., Segurens B., Schenowitz-Truong C., Medigue C., Collingro A., Snel B., Dutilh B.E., Op den Camp H.J.M., van der Drift C., Cirpus I., van de Pas-Schoonen K.T., Harhangi H.R., van Niftrik L., Schmid M., Keltjens J., van de Vossenberg J., Kartal B., Meier H., Frishman D., Huynen M.A., Mewes H.W., Weissenbach J., Jetten M.S.M., Wagner M. & Le Paslier D. (2006) Deciphering the evolution and metabolism of an anammox bacterium from a community genome. Nature, 440, 790-794

Sumi T. & Koike I. (1990) Estimation of Ammonification and Ammonium Assimilation in Surficial Coastal and Estuarine Sediments. Limnology and Oceanography, 35, 270-286

Svensson J.M. & Leonardson L. (1996) Effects of bioturbation by tube-dwelling chironomid larvae on oxygen uptake and denitrification in eutrophic lake sediments. Freshwater Biology, 35, 289-300

Sweerts J., Stlouis V. & Cappenberg T.E. (1989) Oxygen Concentration Profiles and Exchange in Sediment Cores with Circulated Overlying Water. Freshwater Biology, 21, 401-409

Capítulo I 30

Tiedje J.M., Sexstone A.J., Myrold D.D. & Robinson J.A. (1982) Denitrification - Ecological Niches, Competition and Survival. Antonie Van Leeuwenhoek Journal of Microbiology, 48, 569-583

Tilman D. (1987) Secondary Succession and the Pattern of Plant Dominance Along Experimental Nitrogen Gradients. Ecological Monographs, 57, 189-214

Tonno I. & Noges T. (2003) Nitrogen fixation in a large shallow lake: rates and initiation conditions. Hydrobiologia, 490, 23-30

Travieso L., Benitez F., Sanchez E., Borja R. & Colmenarejo M.F. (2006) Production of biomass (algae-bacteria) by using a mixture of settled swine and sewage as substrate. Journal of Environmental Science and Health Part a-Toxic/Hazardous Substances & Environmental Engineering, 41, 415-429

van Dongen U., Jetten M.S.M. & van Loosdrecht M.C.M. (2001) The SHARON((R))-Anammox((R)) process for treatment of ammonium rich wastewater. Water Science and Technology, 44, 153-160

Vitousek P.M., Aber J.D., Howarth R.W., Likens G.E., Matson P.A., Schindler D.W., Schlesinger W.H. & Tilman D.G. (1997) Human alteration of the global nitrogen cycle: Sources and consequences. Ecological Applications, 7, 737-750

Vitousek P.M. & Howarth R.W. (1991) Nitrogen Limitation on Land and in the Sea - How Can It Occur. Biogeochemistry, 13, 87-115

Wilkie A.C. & Mulbry W.W. (2002) Recovery of dairy manure nutrients by benthic freshwater algae. Bioresource Technology, 84, 81-91

Zehr J.P. & Ward B.B. (2002) Nitrogen cycling in the ocean: New perspectives on processes and paradigms. Applied and Environmental Microbiology, 68, 1015-1024

Zhang M., Xu J. & Xie P. (2008) Nitrogen dynamics in large shallow eutrophic Lake Chaohu, China. Environmental Geology, 55, 1-8

Capítulo II 31

CONTROLE DA NITRIFICAÇÃO PELA SALINIDADE EM LAGOAS

COSTEIRAS SALINAS

Acta Limnol. Bras., 2009, vol. 21, no. 2, p. 263-267

Ana Lúcia Santoro & Alex Enrich Prast

Resumo: Objetivos: O objetivo do presente estudo foi mostrar a importância do controle da salinidade

sobre a atividade nitrificante no sedimento de lagoas costeiras rasas e salinas; Métodos: Foram

mensuradas as taxas potenciais de nitrificação no sedimento utilizando o método de produção de nitrato

ao longo de um curto período de tempo e a concentração de clorofila-a no sedimento foi utilizada como

indicativo da biomassa algal; Resultados: As lagoas estudadas apresentaram diferenças significativas nas

taxas potenciais de nitrificação, concentrações de clorofila-a no sedimento e salinidade da coluna d’água.

As taxas de nitrificação variaram de valores não detectáveis a 120 nmol NO3- cm-3 h-1 e se

correlacionaram negativamente com os valores de salinidade, apresentando um padrão de decaimento

exponencial com a variação de salinidade entre 0 e 30 ‰; Conclusões: A ausência de correlação entre

nitrificação potencial e clorofila-a pode ser atribuída à baixa densidade algal contemplada neste estudo.

Para lagoas com reduzida colonização algal no sedimento, como as deste estudo, a salinidade da água é

um importante fator de regulação do processo de nitrificação no sedimento.

Palavras-chave: nitrificação, salinidade, lagoas costeiras, lagos rasos, tropicos. INTRODUÇÃO

A nitrificação é definida como a oxidação de compostos reduzidos de nitrogênio e é um

processo microbiano utilizado para produção de energia. Este processo ocorre em duas etapas,

sendo a amônia (NH4+) oxidada a nitrito (NO2

-) e posteriormente a nitrato (NO3-) sob condições

óxicas (Fenchel et al. 1998). Uma vez que bactérias nitrificantes são aeróbicas obrigatórias, a

disponibilidade de oxigênio é um reconhecido fator controlador do processo de nitrificação no

sedimento.

Algas bentônicas ao colonizarem o sedimento modificam as condições químicas da

interface sedimento-água, especialmente graças à produção de O2 através da atividade

fotossintética e do seu potencial para assimilação de nutrientes (Wilkie & Mulbry 2002; Munoz

& Guieysse 2006). A atividade destes organismos aumenta a penetração de oxigênio no

sedimento, estimulando processos aeróbicos incluindo a nitrificação (Risgaardpedersen et al.

1994; Lorenzen et al. 1998; An & Joye 2001; Travieso et al. 2006). No entanto, parte dos

produtos fotossintéticos excretados representa uma fonte adicional de carbono para bactérias

heterotróficas, aumentando a atividade destes organismos no sedimento e podendo

conseqüentemente estimular a competição entre bactérias heterotróficas e nitrificantes

(Middelburg et al. 2000).

Capítulo II 32

Microalgas bentônicas são comumente encontradas em ambientes salinos. Porém, nestes

ambientes, o possível efeito positivo causado por algas bentônicas sobre o processo de

nitrificação pode ser tamponado por um efeito negativo causado pela salinidade. Segundo

Risgaard-Petersen et al. (2004), alterações na salinidade da água podem representar um

importante fator controlador da atividade nitrificante no sedimento de ecossistemas aquáticos.

A salinidade regula a capacidade de absorção de NH4+ do sedimento (Boatman &

Murray 1982) e causa um impacto fisiológico sobre as bactérias nitrificantes (Joye &

Hollibaugh 1995; Rysgaard et al. 1999), fazendo com que normalmente as taxas de nitrificação

sejam mais baixas em ambientes com elevada salinidade. Além disso, a reduzida solubilidade

do oxigênio em condições de alta salinidade diminui a penetração e a disponibilidade deste gás

no sedimento, reduzindo a espessura da zona de ocorrência da nitrificação (Revsbech et al.

1980).

Ainda assim, alguns estudos observam relações positivas entre salinidade e nitrificação.

Em sedimentos estuarinos, alguns trabalhos mostram maior atividade nitrificante sob salinidade

intermediária (Meyer et al. 2001; Magalhaes et al. 2005). Experimentos em laboratório

mostraram que algumas espécies de bactérias nitrificantes são capazes de se adaptar a variações

de salinidade e que, a tolerância a salinidade normalmente reflete o ambiente original (Finstein

& Bitzky 1972). Helder e DeVries (1983) observaram que bactérias oxidadoras de amônia

poderiam se adaptar e crescer sob um gradiente de salinidade entre 0 e 35 ppm, mas que sob

elevadas salinidades este crescimento ocorreria depois de uma fase ‘lag’ de até 20 dias. Esta

longa fase pré-crescimento pode ser uma desvantagem para comunidades nitrificantes de

ambientes instáveis com relação à salinidade, como lagoas costeiras. Estes ecossistemas são

submetidos a mudanças de salinidade relativamente rápidas como resposta a chuva, entrada de

água do mar e intensidade de evaporação.

O objetivo do presente estudo foi mostrar que a mudança da salinidade pode ser um

importante fator regulador da atividade nitrificante no sedimento de lagoas costeiras colonizadas

por algas bentônicas.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo

O presente estudo foi realizado nas lagoas costeiras Pires, Preta, Catingosa e Visgueiro,

com áreas de 0,9, 2,2, 0,1 e 1,2 km2 respectivamente. As lagoas são localizadas no Parque

Nacional da Restinga de Jurubatiba (22º 22’ 30” S e 41º 15’ 42” O), uma das mais importantes

áreas costeiras de preservação no Brasil (nordeste do estado do Rio de Janeiro; Fig. 1). Esta

região apresenta temperatura média anual de 24ºC e período chuvoso mais intenso entre os

meses de Novembro e Abril (Carmouze et al. 1991). Os quatro ambientes estudados são rasos

Capítulo II 33

(profundidade média de 0,8 m) e paralelos à costa, sendo classificados como lagoas formadas

nas depressões arenosas que constituem o ecossistema de restinga (Martin & Domingues 1994).

Estes sistemas aquáticos são influenciados por aportes terrestres de compostos orgânicos ácidos

pigmentados e também por aportes salinos subterrâneos (Suzuki et al. 1998), fazendo com que a

água destas lagoas apresente uma ampla variação de coloração e salinidade em curtos intervalos

de tempo (Enrich-Prast et al. 2004). Com isso, é possível observar nestes ecossistemas uma

grande variação de salinidade e de colonização de algas bentônicas tanto temporalmente quanto

espacialmente, entre lagoas.

FIG 1: Ilustração das lagoas do Parque Nacional da Restinga de Jurubariba, com detalhe na posição das quatro lagoas estudadas.

Amostragem e análises

O sedimento de todas as lagoas foi amostrado em três diferentes meses (Outubro/05,

Dezembro/05 e Janeiro/06) no formato de testemunhos utilizando tubos de acrílico. Quatro

réplicas foram obtidas em cada um dos ambientes e somente o primeiro centímetro dos

testemunhos foi separado e homogeneizado para as análises de nitrificação potencial e

concentração de clorofila-a.

No momento das amostragens in situ foram mensurados os seguintes parâmetros

limnológicos da coluna d’água: pH (Analion PM 608 pH meter), salinidade e temperatura

Capítulo II 34

(Thermosalinometer YSI-30). A concentração de amônia foi mensurada de acordo com (Bower

& Holmhansen 1980).

As taxas potenciais de nitrificação no sedimento foram obtidas a partir da produção de

nitrato durante um período de incubação de 3 – 4 horas. Este curto período de incubação exclui

a possibilidade de crescimento da comunidade bacteriana nitrificante durante o experimento

(Kaplan 1983). A incubação foi realizada utilizando tubos de 50 ml posicionados sobre um

agitador a 100 rpm. Em cada um dos tubos foram adicionados 2 ml de sedimento previamente

homogeneizado, 30 ml de água da própria lagoa, coletada no momento da amostragem de

sedimento, além de 1 ml de NH4+Cl (20mM) e 1 ml de KH2PO4 (4mM) a fim de evitar qualquer

limitação por nutrientes (Belser 1979). A cada hora de incubação, 6 ml do conteúdo de cada um

dos tubos foi retirado e imediatamente centrifugado a 5000 rpm para posterior determinação das

concentrações de NO3- através de análise de redução utilizando cádmio em um sistema de

injeção de fluxo (ASIA/Ismatec).

As taxas potenciais de nitrificação no sedimento (TPN) foram então calculadas a partir

do ângulo de inclinação (α) da reta obtida com a regressão linear das concentrações de nitrato

obtidas ao longo do tempo de incubação, como mostra a seguinte equação:

TPN (nmol NO3- cm-3 h-1) = α (nmol NO3

- L-1 h-1) -----------------------------------

As concentrações de clorofila-a foram utilizadas como um índice de biomassa algal e

foi mensurada a partir de espectrofotometria após extração do pigmento utilizando acetona 90%

conforme (Dalsgaard et al. 2000).

Análise dos dados

Os dados obtidos no presente estudo não apresentaram distribuição normal

(Kolmogorov-Smirnov, p < 0,05) e mesmo após a transformação dos dados, estes não

apresentaram características paramétricas (Zar 1996). Sendo assim, o teste não paramétrico de

Kruskall-Wallis (p < 0,05) seguido do teste de comparação múltipla de Dunn (p < 0,05) foi

utilizado para identificação de possíveis diferenças entre os diferentes ambientes amostrados

com relação à concentração de clorofila-a, taxas potenciais de nitrificação e salinidade. O teste

de correlação não paramétrica de Spearman e um modelo de regressão linear (p < 0,05) também

foram utilizados para compreensão dos resultados.

Volume de água (L)

Volume de sedimento (cm-3)

Capítulo II 35

RESULTADOS

A produção de nitrato durante as incubações foi linear em todos os sedimentos

analisados (r2 = 0,75 – 0,99), indicando o início da atividade nitrificante já no início do período

de incubação. A produção linear de nitrato também caracteriza a ausência de crescimento

significativo da comunidade nitrificante durante o período de incubação.

As taxas potenciais de nitrificação foram significativamente diferentes entre algumas

das lagoas amostradas (Kruskall-Wallis; p < 0,05), variando entre valores abaixo do limite de

detecção do método até 120 nmol NO3- cm-3 h-1 (Fig. 2a). As maiores e as menores taxas deste

processo mensuradas neste estudo foram observadas nas lagoas Pires e Visgueiro,

respectivamente. Também foi possível observar diferenças significativas entre alguns dos

ambientes com relação às concentrações de clorofila-a no sedimento (Kruskall-Wallis; p <

0,05), no entanto, as lagoas Pires e Visgueiro não se diferenciaram estatisticamente neste

aspecto (Dunn test; p < 0,05). Essas duas lagoas apresentaram as maiores concentrações de

clorofila-a, mas a variação deste parâmetro durante o período de estudo foi muito restrita e as

maiores concentrações não passaram de 10,0 mg clo-a m-2 (Fig. 2b).

FIG 2: Taxas potenciais de nitrificação (a) e concentrações de clorofila-a (b) no sedimento das lagoas estudadas. Os símbolos representam medianas máximos e mínimos. Letras diferentes indicam diferença significativa (Kruskall-Wallis; p < 0,05).

Nitr

ifica

ção

(nm

ol N

O3- c

m-3 h

-1)

Clo

rofil

a-a

(mg

clo-

a m

-2)

Capítulo II 36

As lagoas também apresentaram diferenças significativas com relação à salinidade da

coluna d’água (Kruskall-Wallis; p < 0,05; Fig. 3). A lagoa Preta apresentou a menor mediana e

a menor variação (mediana = 4,0; variação (máx - mín) = 3,9) dos valores de salinidade,

enquanto a lagoa Visgueiro apresentou o oposto (mediana = 26,20; variação = 11,7). Os valores

de temperatura e pH da água foram bastante similares nas diferentes lagoas durante o período de

estudo, com valores em torno de 28ºC e pH 7. De igual forma, a concentração de amônia na

coluna d’água também foi bastante similar em todos os ambientes amostrados, variando sempre

entre 3 e 7 µM.

As taxas potenciais de nitrificação mensuradas neste estudo não se correlacionaram

significativamente com as concentrações de clorofila-a no sedimento, pH ou temperatura

(Spearman r = 0,005; p < 0,05), mas sim com os valores de salinidade da coluna d’água

Spearman r = - 0,78; p < 0,05).

FIG 3: Salinidade da água das lagoas estudadas no momento da amostragem de sedimento. Os símbolos representam medianas máximos e mínimos. Letras diferentes indicam diferença significativa (Kruskall-Wallis; p < 0,05).

As taxas potenciais de nitrificação no sedimento encontradas neste estudo,

contemplando as quatro lagoas costeiras amostradas, apresentaram um decaimento exponencial

ao longo da gradiente de salinidade (r2 = 0,5345; Fig. 4). Já considerando cada ambiente

separadamente observou-se uma relação linear negativa significativa (p < 0,05; Tab. 1) entre

esses dois parâmetros em todas as lagoas. Vale ressaltar que o maior e o menor ângulo de

inclinação e grau de predição (r2) das análises de regressão linear realizadas foram encontradas

nas lagoas Preta e Visgueiro, respectivamente (Tab. 1). Apesar das diferenças observadas entre

alguns ambientes com relação às taxas potenciais de nitrificação e às concentrações de clorofila-

a, nenhuma relação estatística pode ser observada entre esses dois parâmetros.

Sal

inid

ade

(‰)

Capítulo II 37

FIG 4: Modelo de decaimento exponencial entre as taxas de nitrificação no sedimento e a salinidade da coluna d’água. Equation: y = 89.29 *exp (– 0.1285 * x) + (– 2.929); R2 = 0.5345; n = 44.

TAB. 1: Modelo de regressão linear aplicado entre as taxas de nitrificação no sedimento e a salinidade da coluna d’água para cada uma das lagoas estudadas.

DISCUSSÃO

As taxas potenciais de nitrificação no sedimento variaram em até duas ordens de

magnitude entre as diferentes lagoas estudadas. A ausência de uma relação positiva ou negativa

entre a biomassa de algas bentônicas, representada pela concentração de clorofila-a no

sedimento, e a atividade nitrificante pode ser atribuída à baixa densidade algal contemplada

durante o período de estudo, que foi de duas a três ordens de magnitude menor que a

normalmente encontrada em estudos deste tipo (Risgaard-Petersen 2003).

Apesar das concentrações de amônio no sedimento e o pH das lagoas estudadas não

apresentarem grande variação temporal ou ainda entre os diferentes ambientes durante o período

de estudo, pequenas variações destes parâmetros já podem ser importantes na regulação da

atividade nitrificante in situ. O efeito direto destes parâmetros, no entanto, não pôde ser avaliado

neste estudo por limitações laboratoriais.

A significativa relação observada entre as taxas de nitrificação no sedimento e a

salinidade indica que este parâmetro limnológico deve ser um dos principais fatores reguladores

da atividade nitrificante no sedimento de lagoas costeiras, especialmente em ambientes pouco

colonizados por algas bentônicas. Rysgaard et al. (1999) mostram um decaimento da atividade

nitrificante com o aumento da salinidade em estuários dinamarqueses, atribuindo esta queda

principalmente à redução da capacidade de absorção de NH4+ pelo sedimento. Segundo os

Salinidade (‰)

Nitr

ifica

ção

(nm

ol N

O3- c

m-3 h

-1)

Capítulo II 38

autores, a redução mais pronunciada na absorção de amônia pelo sedimento ocorreu no aumento

de salinidade entre 0 e 10 ‰. Esta faixa crítica de aumento da salinidade é comparável a faixa

de variação observada na lagoa Preta, onde foi encontrada a regressão linear mais acentuada (de

maior ângulo de inclinação) entre as taxas potenciais de nitrificação no sedimento e a salinidade

da água.

A influência da salinidade deve ser mais drástica em ambientes de baixa salinidade uma

vez que os organismos nitrificantes precisarão de mais tempo para se adaptar às variações entre

água doce e salobra. Os resultados obtidos por Helder & Devries (1983) mostraram que a

adaptação de bactérias nitrificantes de ambientes salinos à condição de água doce é

particularmente lenta. O modelo de regressão linear aplicado às diferentes lagoas estudadas

mostra uma relação negativa mais acentuada (de maior inclinação) nas lagoas Pires e Preta,

justamente as lagoas cuja mediana de salinidade foi menor que 10 ‰. Esta influencia negativa

mais acentuada sobre a atividade nitrificante em condições de baixa salinidade também explica

o decaimento exponencial observado entre nitrificação e salinidade.

Os resultados obtidos no presente estudo sugerem que um mesmo aumento de

salinidade deve ser mais crítico para a atividade nitrificante local em ambientes aquáticos de

água doce ou de baixa influência salina que em ecossistemas mais salinos. A salinidade deve ser

então um dos principais fatores reguladores da atividade nitrificante em ecossistemas costeiros,

especialmente nos de baixa salinidade.

REFERÊNCIAS

An S. & Joye S.B. (2001) Enhancement of coupled nitrification-denitrification by benthic photosynthesis in shallow estuarine sediments. Limnology and Oceanography, 46, 62-74

Belser L.W. (1979) Population Ecology of Nitrifying Bacteria. Annual Review of Microbiology, 33, 309-333

Boatman C.D. & Murray J.W. (1982) Modeling Exchangeable Nh4+ Adsorption in Marine-Sediments - Process and Controls of Adsorption. Limnology and Oceanography, 27, 99-110

Bower C.E. & Holmhansen T. (1980) A Salicylate-Hypochlorite Method for Determining Ammonia in Seawater. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences, 37, 794-798

Carmouze J.P., Knoppers B. & Vasconcelos P. (1991) Metabolism of a Subtropical Brazilian Lagoon. Biogeochemistry, 14, 129-148

Dalsgaard T., Nielsen L.P., Brotas V., Viaroli P., Underwood G., Nedwell D.B., SUNDBACK K., RYSGAARD S., Miles A., Bartoli M., Dong L., Thornton D.C.O., Ottosen L.D.M., Castaldelli G. & Risgaard-Petersen N. (2000) Protocol handbook for NICE – Nitrogen Cycling in Estuaries: a project under the EU research programme: Marine

Science and Technology (MAST III). National Environmental Research Institute, Silkeborg. Enrich-Prast A., Bozelli R.L., Esteves F.D. & Meirelles-Pereira F. (2004) Lagoas Costeiras da

Restinga de Jurubatiba: Descrição de suas variáveis Limnológicas. In: Pesquisas de longa duração na restinga de Jurubatiba: Ecologia, história natural e conservação (eds. Rocha CFD, Esteves FA & Scarano FR), p. 376. RiMa Editora, São Carlos

Capítulo II 39

Fenchel T., King G.M. & Blackburn T.H. (1998) Bacterial biogeochemistry: the ecophysiology of mineral cycling. 2 edn. Academic Press.

Finstein M.S. & Bitzky M.R. (1972) Relationships of Autotrophic Ammonium-Oxidizing Bacteria to Marine Salts. Water Research, 6, 31-&

Helder W. & Devries R.T.P. (1983) Estuarine Nitrite Maxima and Nitrifying Bacteria (Ems-Dollard Estuary). Netherlands Journal of Sea Research, 17, 1-18

Joye S.B. & Hollibaugh J.T. (1995) Influence of Sulfide Inhibition of Nitrification on Nitrogen Regeneration in Sediments. Science, 270, 623-625

Kaplan W.A. (1983) Nitrification. In: Nitrogen in the marine environment (eds. CARPENTER EJ & CAPONE DJ), pp. 139 - 190. Academic Press, New York

Lorenzen J., Larsen L.H., Kjaer T. & Revsbech N.P. (1998) Biosensor determination of the microscale distribution of nitrate, nitrate assimilation, nitrification, and denitrification in a diatom-inhabited freshwater sediment. Applied and Environmental Microbiology, 64, 3264-3269

Magalhaes C.M., Joye S.B., Moreira R.M., Wiebe W.J. & Bordalo A.A. (2005) Effect of salinity and inorganic nitrogen concentrations on nitrification and denitrification rates in intertidal sediments and rocky biofilms of the Douro River estuary, Portugal. Water Research, 39, 1783-1794

Martin L. & Domingues J.M.L. (1994) Geological history as coastal lagoons. In: Coastal lagoon processes (ed. KJERVE B), pp. 41 - 68. Elsevier Oceanography Series, Netherlands

Meyer R.L., Kjaer T. & Revsbech N.P. (2001) Use of NOx- microsensors to estimate the activity of sediment nitrification and NOx- consumption along an estuarine salinity, nitrate, and light gradient. Aquatic Microbial Ecology, 26, 181-193

Middelburg J.J., Barranguet C., Boschker H.T.S., Herman P.M.J., Moens T. & Heip C.H.R. (2000) The fate of intertidal microphytobenthos carbon: An in situ C-13-labeling study. Limnology and Oceanography, 45, 1224-1234

Munoz R. & Guieysse B. (2006) Algal-bacterial processes for the treatment of hazardous contaminants: A review. Water Research, 40, 2799-2815

Revsbech N.P., Sorensen J., Blackburn T.H. & Lomholt J.P. (1980) Distribution of Oxygen in Marine-Sediments Measured with Microelectrodes. Limnology and Oceanography, 25, 403-411

Risgaard-Petersen N. (2003) Coupled nitrification-denitrification in autotrophic and heterotrophic estuarine sediments: On the influence of benthic microalgae. Limnology and Oceanography, 48, 93-105

Risgaard-Petersen N., Meyer R.L., Schmid M., Jetten M.S.M., Enrich-Prast A., Rysgaard S. & Revsbech N.P. (2004) Anaerobic ammonium oxidation in an estuarine sediment. Aquatic Microbial Ecology, 36, 293-304

Risgaardpedersen N., Rysgaard S., Nielsen L.P. & Revsbech N.P. (1994) Diurnal-Variation of Denitrification and Nitrification in Sediments Colonized by Benthic Microphytes. Limnology and Oceanography, 39, 573-579

Rysgaard S., Thastum P., Dalsgaard T., Christensen P.B. & Sloth N.P. (1999) Effects of salinity on NH4+ adsorption capacity, nitrification, and denitrification in Danish estuarine sediments. Estuaries, 22, 21-30

Suzuki M.S., Ovalle A.R.C. & Pereira E.A. (1998) Effects of sand bar openings on some limnological variables in a hypertrophic tropical coastal lagoon of Brazil. Hydrobiologia, 368, 111-122

Travieso L., Benitez F., Sanchez E., Borja R. & Colmenarejo M.F. (2006) Production of biomass (algae-bacteria) by using a mixture of settled swine and sewage as substrate. Journal of Environmental Science and Health Part a-Toxic/Hazardous Substances & Environmental Engineering, 41, 415-429

Wilkie A.C. & Mulbry W.W. (2002) Recovery of dairy manure nutrients by benthic freshwater algae. Bioresource Technology, 84, 81-91

Zar J.H. (1996) Biostatistical analysis. 3 edn. Upper Saddle River: Prentice Hall International Editions.

Capítulo III 40

TAXAS E FATORES REGULADORES DO PROCESSO DE DESNITRIFICAÇÃO NO

SEDIMENTO DE DUAS LAGOAS COSTEIRAS TROPICAIS

Ana Lúcia Santoro

Resumo: As taxas de desnitrificação no sedimento foram mensalmente mensuradas em duas lagoas

costeiras tropicais de diferentes status tróficos utilizando o método de pareamento isotópico de 15N.

Alguns parâmetros ambientais foram correlacionados às taxas de desnitrificação a fim de determinar os

principais fatores deste processo em cada um dos ambientes. As taxas de desnitrificação encontradas

foram extremamente baixas se comparadas às taxas de consumo de oxigênio pelo sedimento, com médias

mensais variando de 0,15 a 1,78 µmol N2 m-2 h-1 e de 426 a 4248 µmol O2 m

-2 h-1 respectivamente. O

consumo de oxigênio pelo sedimento foi em geral três vezes maior no ambiente eutrófico, enquanto a

média de desnitrificação não se diferenciou significativamente da encontrada no ambiente oligotrófico. A

baixa atividade desnitrificante foi atribuída tanto às baixas concentrações de NO3- na água (< 2,0 µM)

quanto ao reduzido fornecimento deste substrato via nitrificação. A presença de NH4+ na coluna d’água

em concentrações entre 2,7 e 46,8 µM também indicam a ausência de qualquer atividade nitrificante

expressiva tanto na lagoa oligotrófica quanto na eutrófica. Sedimentos de ambientes temperados com

taxas de consumo de oxigênio similares as encontradas aqui normalmente apresentam taxas de

nitrificação-desnitrificação de uma a duas ordens de magnitude maiores, indicando uma regulação

diferencial destes processos em ambientes tropicais.

INTRODUÇÃO

Desnitrificação é um processo de redução dissimilatória do nitrato no qual o nitrato

(NO3-) ou nitrito (NO2

-) é reduzido anaerobicamente a nitrogênio molecular (N2) por bactérias

heterotróficas anaeróbicas facultativas. A atividade desnitrificante requer um meio anóxico além

uma fonte de matéria orgânica e nitrato (Mosier et al. 2002). Uma vez que a maioria do

nitrogênio fixado disponível no sedimento está na forma de íon amônio (NH4+), ao menos que

haja um fluxo de nitrato da coluna d’água para dentro do sedimento, a desnitrificação no

sedimento depende das taxas locais de nitrificação (oxidação do amônio a nitrito ou nitrato). O

nitrato produzido na zona aeróbica do sedimento (ou proveniente da coluna d’água) difunde até

a zona subóxica onde o processo de desnitrificação ocorre (Nielsen et al. 1990). Esta

combinação de processos é comumente chamada de nitrificação-desnitrificação acoplada,

enquanto a desnitrificação subsidiada pelo fluxo físico de nitrato da coluna d’água para o

sedimento pode ser chamada de desnitrificação direta (Fennel et al. 2009).

Segundo Fennel et al. (2009), o consumo de oxigênio pelo sedimento (COS) deve ser

um preditor efetivo da atividade desnitrificante no sedimento. A profundidade da zona aeróbica

Capítulo III 41

no sedimento de ecossistemas aquáticos é diretamente afetada pelo COS, que por sua vez é

associado às taxas de decomposição da matéria orgânica e nitrificação (Seitzinger et al. 2006).

Assume-se que sistemas aquáticos continentais contribuam com cerca de 20 % do total

global de desnitrificação (Seitzinger et al. 2006), sendo a desnitrificação no sedimento a maior

via de perda de nitrogênio fixado de sistemas aquáticos naturais ou alterados. No entanto, a

grande maioria dos estudos sobre desnitrificação em ecossistemas aquáticos contempla zonas

temperadas do hemisfério norte, com pouquíssimos dados em regiões tropicais (Pina-Ochoa &

Alvarez-Cobelas 2006).

O objetivo do presente estudo foi avaliar possíveis mudanças temporais nas taxas de

desnitrificação no sedimento e os fatores reguladores deste processo em duas lagoas costeiras

tropicais com diferentes status tróficos.

ÁREA DE ESTUDO

As lagoas Imboassica (22º 25’ S e 42º 56’ O) e Cabiúnas (22º 00’ S e 42º 00’ O) estão

situadas na costa norte do estado do Rio de Janeiro, sudeste do Brasil (Fig. 1). Esta região

possui temperatura média mensal máxima e mínima entre 20,7 ºC em Julho e 26,2 ºC em

fevereiro (INMET 1992). Os dois ambientes são alongados perpendicularmente à linha da costa,

rasos, relativamente próximos, distando um do outro cerca de 30 km, e possuem área de bacia

hidrográfica similar, 50 e 45 km2 respectivamente.

FIG. 1: Área de estudo com destaque para as duas lagoas amostradas.

Rio de Janeiro State

Macaé City

Imboassica

41o 45’ W

22o 15’ S

Macaé City

5 0 5 10

Kilometers

Cabiúnas

Capítulo III 42

A lagoa Imboassica, com área de 3,26 km2, localiza-se em uma planície fluvio-marinha

quaternária (CPRM 2000). A área de bacia deste sistema caracteriza-se por uso predominante de

pastagem extensiva; no entanto, esta lagoa recebe aportes expressivos de nutrientes de fontes

urbanas. Descargas permanentes de esgoto doméstico contribuíram para a eutrofização da lagoa

Imboassica principalmente após 1995 (Esteves 1998). Durante o período de amostragem (2001)

a lagoa Imboassica foi classificada como mesoeutrófica a eutrófica, com concentração média de

fósforo total de 52 mg m-3 (Salas & Martino 2001).

A lagoa Cabiúnas é menor (0,34 km2 de área) e menos impactada por atividade

humanas já que esta está localizada dentro de uma área de conservação (Parque Nacional da

Restinga de Jurubatiba). Este ecossistema está situado em uma planície marinha arenosa

quaternária, onde a vegetação terrestre original, chamada de restinga, está preservada (CPRM

2000). A lagoa Cabiúnas foi classificada como oligotrófica durante o período de estudo, com

concentração média de fósforo total de 11 mg m-3 (Salas & Martino 2001).

MATERIAL E MÉTODOS

As taxas de desnitrificação e consumo de oxigênio no sedimento foram mesuradas

mensalmente de fevereiro a outubro de 2001 de acordo com Dalsgaard et al. (2000). A cada

mês, água (utilizando garrafa de van D’orn) e testemunhos de sedimento (utilizando tubos de

acrílico; 15,8 x 3,6 cm) foram coletados na área central de cada lagoa e imediatamente

transportados para um laboratório de campo.

No laboratório, as amostras de sedimento de cada uma das lagoas foram dispostas em

pequenos tanques contendo água da própria lagoa e foram mantidas aeradas sob temperatura

local durante duas horas para estabilização. As taxas de consumo de oxigênio e desnitrificação

no sedimento foram então determinadas através de incubações de 2 a 3 horas de duração.

O consumo de oxigênio no sedimento foi o primeiro processo mensurado e depois de

um novo período de estabilização de 2 horas foram então obtidas as taxas de desnitrificação.

Este último processo foi mensurado através do método de pareamento isotópico proposto por

Nielsen (1992), com adição de 1 ml 15NO3- (5 mM) em cada um dos testemunhos alcançando

concentração de aproximadamente 100 µM na coluna d’água. Assumindo uma mistura

randômica do 15NO3- adicionado com o 14NO3

- presente na coluna d’água e produzido no

sedimento pela nitrificação, a formação de 29N2 (14N15N) e 30N2 (

15N15N) ao final da incubação é

utilizada para calcular as taxas reais e potenciais de desnitrificação, assim como as frações Dn

(nitrificação-desnitrificação) e Dw (desnitrificação utilizando nitrato proveniente da coluna

d’água).

As concentrações de oxigênio foram mensuradas com o auxílio de um oxímetro (YSI –

55), já as concentrações de NO3- + NO2

- (Golterman et al. 1978) e amônio (Bower &

Capítulo III 43

Holmhansen 1980) por espectrofotometria. As espécies isotópicas de nitrogênio foram

analisadas utilizando um espectômetro de massas (Europa Scientific).

Uma análise de componentes principais (ACP) foi realizada utilizando a matriz de

correlação entre os reconhecidamente principais fatores reguladores diretos ou indiretos do

processo de desnitrificação: consumo de oxigênio no sedimento (um indicativo das condições

aeróbicas locais) e disponibilidades de nitrato e amônia. Tal matriz foi utilizada para detectar

relações dominantes entre as citadas variáveis ambientais e a desnitrificação no sedimento, a fim

de compreender os principais processos reguladores em cada sistema estudado. Os valores de

COS das diferentes lagoas apresentaram distribuição Gaussiana (Normality test, p < 0,05) e

foram comparados estatisticamente através de uma análise de teste t não pareado ao nível de

significância de 5 %. Já as taxas totais de desnitrificação, com distribuição não paramétrica

(Normality test, p < 0,05), foram comparadas estatisticamente utilizando o teste de Mann-

Whitney (p < 0,05). As frações Dn e Dw foram comparadas através do teste não paramétrico de

Kruskal-Wallis seguido do pós teste de Dunn, ambos ao nível de significância de 5 %.

RESULTADOS

As concentrações de amônia na coluna d’água ficaram abaixo de 2,5 µM em todos os

meses amostrados na lagoa Cabiúnas, enquanto os mesmos valores variaram entre < 2,0 µM e

46,78 µM na lagoa Imboassica. Os dois ambientes apresentaram concentrações de nitrato na

coluna d’água abaixo de 2,0 µM durante todo o período de estudo (Fig. 2).

FIG. 2: Concentrações de NH4+ (A) e NO3

- (B) na coluna d’água das lagoas Imboassica ( • ) e Cabiúnas ( ◦ ) durante os meses de estudo. Notar a diferença de escala dos gráficos.

As taxas de COS foram significativamente maiores na lagoa Imboassica (t test, p <

0,05), com valores médios entre 1838 µmol O2 m-2 h-1 no mês de maio e 5258 µmol O2 m

-2 h-1

no mês de Abril. Já a lagoa Cabiúnas apresentou valores médios de COS entre 426 µmol O2 m-2

h-1 em Outubro e 1294 µmol O2 m-2 h-1 no mês de junho (Fig. 3C e D).

As taxas reais de desnitrificação variaram de 0,013 a 4,347 µmol N2 m-2 h-1 na lagoa

Cabiúnas e de 0,214 a 1,671 µmol N2 m-2 h-1 na lagoa Imboassica (Fig. 3A e B). A lagoa

Feb Mar Apr May Jun Aug Oct0

5

10

30

50 A

µµ µµM

Feb Mar Apr May Jun Aug Oct0

1

2 B

Fev Abr Mai Ago Out Fev Abr Mai Ago Out

NH

4+

µM

NO

3-

Capítulo III 44

Cabiúnas apresentou taxas um pouco maiores nos primeiros três meses de estudo, mas de

maneira geral não houve diferença significativa (Mann-Whitney, p < 0,05) entre as lagoas com

relação a este processo.

FIG. 3: Taxas reais de desnitrificação (Dn-nitrificação-desnitrificação acoplada, barras claras e Dw-desnitrificação direta, barras escuras) e taxas de consumo de oxigênio no sedimento (COS) nas lagoas Imboassica e Cabiúnas em cada um dos meses de estudo. Os símbolos representam media e desvio padrão.

As taxas reais de desnitrificação foram divididas em nitrificação-desnitrificação (Dn) e

desnitrificação direta (Dw). A importância relativa da fração Dn nas duas lagoas estudadas é

facilmente observada nas figuras 3A e 3B. Esta fração variou de 11,4 a 88,9 % da taxa total de

desnitrificação na lagoa Imboassica e de 44,5 a 98,7 % na lagoa Cabiúnas. As taxas Dn e Dw

não se diferenciaram significativamente entre elas na lagoa Imboassica, mas na lagoa Cabiúnas

as taxas Dn prevaleceram de maneira significativa (Dunn, p < 0,05).

Uma relação linear significativa (F test, p < 0,05) entre as taxas Dn e o COS pôde ser

observada em ambos os sistemas amostrados (Fig. 4). No entanto, a lagoa Cabiúnas apresentou

os maiores valores de ângulo de inclinação e coeficiente de determinação (R).

Feb Mar Apr May Jun Aug Oct0

1

2

3 Imboassica

Den

itrifi

catio

nµµ µµ

mol

N2

m-2

h-1

Feb Mar Apr May Jun Aug Out0

1000

2000

3000

4000

5000

SO

Cµµ µµ

mol

O2

m-2

h-1

Feb Mar Apr May Jun Aug Oct0

1000

2000

3000

4000

5000

Feb Mar Apr May Jun Aug Oct0

1

2

3 Cabiúnas

Des

nitr

ifica

ção

(µm

ol N

2 m

-2 h

-1)

CO

S (

µmol

O2

m-2

h-1

)

Fev Abr Mai Ago Out

Fev Abr Mai Ago Out Fev Abr Mai Ago Out

Fev Abr Mai Ago Out

Capítulo III 45

FIG. 4: Regressão linear entre as taxas de nitrificação-desnitrificação (Dn) e consumo de oxigênio no sedimento (COS) nas lagoas Imboassica (•, N = 47) e Cabiúnas (◦, N = 31). Ambas as relações são significativas ao nível de 5 % (F test). Os três primeiros eixos gerados pela análise de componentes principais (ACP) podem

ser considerados significativos segundo Legendre & Legendre (1998), contemplando 90,46 %

da variância dos dados (Tab.1) e fornecendo uma excelente visualização dos dados (Fig. 5).

TAB. 1: Contribuição das variáveis para cada um dos fatores da ACP baseado nas relações de correlação.

Variable PCA1 (38.07 %) PCA2 (30.48 %) PCA3 (21.91 %)

SOC IMB 0.0022 0.1784 0.3862

SOC CAB 0.2135 0.1616 0.1338

[NH4+] IMB 0.0754 0.0075 0.4663

[NH4+] CAB 0.2682 0.1914 0.0131

[NO3-] IMB 0.1348 0.3360 0.0000

[NO3-] CAB 0.3059 0.1252 0.0005

Uma maior ou menor aproximação entre duas ponto-variáveis no plano gerado pela

ACP representa uma correlação mais forte ou mais fraca entre as variáveis, especialmente

quando estas estão afastadas do ponto central (0.0; 0.0) (Valentin 2000). Deste modo é possível

observar que as taxas de desnitrificação no sedimento das lagoas Cabiúnas e Imboassica se

correlacionaram fortemente com o consumo de oxigênio no sedimento (COS) e com a

disponibilidade de nitrato in situ, respectivamente.

0 1000 2000 3000 4000 5000 60000.0

0.5

1.0

1.5 y= 0.0006049x - 0.0007579; R= 0.192y= 0.00007302x + 0.2153; R= 0.08

SOC (µµµµmol O 2 m-2 h-1)

Dn

( µµ µµm

ol N

2 m

-2 h

-1)

Capítulo III 46

FIG. 5: Análise de Componentes Principais (ACP). Estão dispostos nos planos 1-2 (A) e 2-3 (B) os vetores: taxa de consumo de oxigênio no sedimento (SOC) e concentrações de nitrato ([NO3

-]) e amônia ([NH4+]) na coluna d`água

das lagoas Imboassica (IMB) e Cabiúnas (CAB). O vetor taxa de denitrificação no sediment (Desnit.) está disposto como variável complementar (*). N=10. Os círculos mostram os fatores mais correlacionados com as taxas de desnitrificação em cada uma das lagoas.

Uma atividade potencial de desnitrificação crescente poderia ser esperada com o

aumento do COS, já que este último deve criar um ambiente favorável ao processo de

desnitrificação sem limitação de substrato. Os resultados do presente estudo mostram uma

correlação positiva significativa entre o COS e as taxas de desnitrificação potencial (D15) na

lagoa Cabiúnas (Spearman, p < 0,05; n = 35) mas não na lagoa Imboassica (Spearman, p < 0,05;

n = 47). Também somente na lagoa Cabiúnas as taxas D15 e Dn apresentaram entre elas uma

relação linear significativa (F test, p < 0,0001) (Fig. 6A e B).

FIG. 6: Regressão linear entre as taxas potenciais de desnitrificação (D15) e de nitrificação-desnitrificação (Dn) no sediment das lagoas Imboassica (N = 50) e Cabiúnas (N = 38). A relação é significativa ao nível de 1% (F test) somente na lagoa Cabiúnas (B).

A B

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

Factor 2 : 30,48%

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

Fac

tor

3 :

21,9

1%

SOC CAB

*Denit CAB[NO3

-] IMB [NO3-] CAB

[NH4+] CAB

*Denit IMB

[NH4+] IMB

SOC IMB

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

Factor 1 : 38,07%

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0F

acto

r 2

: 30

,48%

[NH4+] CAB

SOC IMB

*Denit CAB

SOC CAB

[NH4+] IMB

[NO3-] CAB

*Denit IMB

[NO3-] IMB

0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.500

50

100

150

200Imboassica

Dn (µµµµmol m -2 h-1)

D15

( µµ µµm

ol15

NO

3- m-2

h-1

)

0 1 2 3 4 5 6 70

50

100

150

200

y = 31.355x + 6.1644; R = 0.8153

Cabiúnas

Dn (µµµµmol m -2 h-1)

Capítulo III 47

DISCUSSÃO

O presente estudo mostra taxas de desnitrificação no sedimento até duas ordens de

magnitude abaixo da média estimada para lagoas costeiras e concentrações de nitrato quase 50

vezes menores que a média de sistemas aquáticos temperados (Pina-Ochoa & Alvarez-Cobelas

2006). A compilação realizada por Fennel et al. (2009), com maioria dos dados em sistemas

temperados, utilizou uma concentração de 40 µM como média de nitrato na água e observou,

para ambientes abaixo desta média, taxas de desnitrificação em torno de 75 µmol N m-2 h-1,

valores tanto de concentração de nitrato quanto de desnitrificação muito acima dos apresentados

aqui.

As taxas de COS observadas na lagoa Cabiúnas são comparáveis as taxas encontradas

em um lago temperado meso-eutrófico (Sweerts et al. 1991), enquanto as taxas da lagoa

Imboassica foram maiores que as mensuradas em uma lagoa eutrófica rasa temperada (Dedieu

et al. 2007a). Essas diferenças podem ser atribuídas principalmente à alta produtividade

existente nos trópicos, que promove maior entrada de matéria orgânica que, por sua vez,

fomenta maiores taxas de respiração no sedimento.

Os ângulos de inclinação da regressão linear entre as taxas de nitrificação-

desnitrificação e de consumo de oxigênio no sedimento do presente estudo (0,0006 para

Cabiúnas e 0,00007 para Imboassica) são muito menores que os ângulos de 0,12 e 0,09 obtidos

para ambientes temperados por Seitzinger et al. (2006) e Fennel et al. (2009) respectivamente.

As taxas de nitrificação-desnitrificação, em especial, são muito mais baixas que as apresentadas

nos dois estudos supracitados, evidenciando a reduzida atividade nitrificante nos sistemas

tropicais estudados. Já entre as duas lagoas tropicais, o ângulo de inclinação da regressão gerada

para o sistema oligotrófico foi uma ordem de magnitude maior que o observado para o sistema

meso-eutrófico, cujas taxas de nitrificação-desnitrificação praticamente não responderam as

variações de COS.

A taxa de COS regula a espessura da camada óxica do sedimento e consequentemente

pode regular o processo de desnitrificação de duas maneiras diferentes: diretamente, através da

criação de condições anóxicas ou, indiretamente, influenciando a atividade nitrificante (Jensen

et al. 1994). A matriz de correlação entre as variáveis ambientais e as taxas de desnitrificação

expressa através dos planos da ACP sugere que a atividade desnitrificante é regulada de maneira

diferente em cada um dos ambientes amostrados.

O tipo de regulação direta do COS sobre a desnitrificação parece ocorrer na lagoa

Cabiúnas. Este ambiente apresenta menores taxas de COS, sendo este o fator que se

correlacionou mais fortemente com as taxas de desnitrificação de acordo também com a ACP.

Por outro lado, o processo de desnitrificação é normalmente limitado pela disponibilidade de

nitrato ou nitrito em sedimentos ricos em matéria orgânica lábil (Fennel et al. 2009). As taxas

extremamente altas de COS da lagoa Imboassica parecem estar regulando indiretamente o

Capítulo III 48

processo de desnitrificação através da limitação da atividade nitrificante, já que como pode ser

visto através da análise de ACP, a disponibilidade de nitrato na água foi o fator que mais se

correlacionou com as taxas de desnitrificação durante o período de estudo. O intenso

metabolismo e consumo de oxigênio pode eventualmente até extinguir a camada óxica do

sedimento, limitando a nitrificação e mantendo as baixas concentrações de nitrato. Dedieu et al.

(2007b) já observou uma relação sazonal negativa entre COS e as taxas de Dn no sedimento de

uma lagoa eutrófica temperada.

Em ecossistemas tropicais como a lagoa Imboassica, com baixas concentrações de

nitrato, altas temperaturas e intenso consumo de oxigênio no sedimento durante todo o ano, os

processos de nitrificação e nitrificação-desnitrificação (responsável por até 98 % da

desnitrificação total da lagoa Imboassica) podem ser permanentemente limitados. Além disso, a

lagoa Imboassica caracteriza-se por esporádicos grandes aportes salinos através do rompimento

da barra de areia que a separa do mar (Esteves 1998). Esta característica faz com que a região

central da lagoa, onde os testemunhos de sedimento foram coletados, apresente grande variação

esporádica de salinidade. Tal variação de salinidade já se mostrou um importante fator limitante

da atividade nitrificante em lagoas costeiras (Santoro & Enrich-Prast 2009).

A relação significativa entre a atividade potencial de desnitrificação e as taxas Dn na

lagoa Cabiúnas aponta para a importância da nitrificação como o processo provedor de substrato

também neste sistema. A atividade potencial de desnitrificação só foi observada quando ou onde

havia suporte da atividade nitrificante, gerando uma relação linear significativa. É possível que

a escassez de substrato no sedimento da lagoa Imboassica, com atividade nitrificante quase

inexistente, subsidie uma reduzida comunidade desnitrificante que não responderia às adições

de nitrato. Além disso, o processo de RDNA é favorecido em detrimento da desnitrificação em

condições de alta disponibilidade de matéria orgânica (Tiedje et al. 1982; Christensen et al.

2000). Deste modo, o pouco nitrato disponível na lagoa Imboassica estaria subsidiando

principalmente uma comunidade RDNA, capaz de excluir competitivamente a comunidade

desnitrificante.

As taxas de desnitrificação e principalmente de nitrificação-desnitrificação obtidas neste

estudo foram extremamente baixas, tanto na lagoa oligotrófica quanto na meso-eutrófica,

evidenciando a reduzida atividade nitrificante no sedimento destes sistemas. Esta atividade

parece ser inexpressiva não só no sedimento, mas nos sistemas de maneira geral, já que as

concentrações de nitrato na coluna d’água não acompanharam a disponibilidade de NH4+

durante os meses de estudo.

A ocorrência limitada do processo de nitrificação pode ser a principal responsável pela

baixa atividade desnitrificante observada particularmente em ambientes aquáticos tropicais ricos

em matéria orgânica. Estudos adicionais são necessários para complementar os resultados

Capítulo III 49

obtidos aqui e melhor compreender o papel da nitrificação como processo chave em sistemas

aquáticos tropicais e seus fatores reguladores.

REFERÊNCIAS

Bower C.E. & Holmhansen T. (1980) A Salicylate-Hypochlorite Method for Determining

Ammonia in Seawater. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences, 37, 794-798

Christensen P.B., Rysgaard S., Sloth N.P., Dalsgaard T. & Schwaerter S. (2000) Sediment mineralization, nutrient fluxes, denitrification and dissimilatory nitrate reduction to ammonium in an estuarine fjord with sea cage trout farms. Aquatic Microbial Ecology, 21, 73-84

CPRM (2000) Unidades morfoesculturais e geomorfológicas de Macaé. In. CPRM, Rio de Janeiro

Dalsgaard T., Nielsen L.P., Brotas V., Viaroli P., Underwood G., Nedwell D.B., Sundback K., Rysgaard S., Miles A., Bartoli M., Dong L., Thornton D.C.O., Ottosen L.D.M., Castaldelli G. & Risgaard-Petersen N. (2000) Protocol handbook for NICE – Nitrogen Cycling in Estuaries: a project under the EU research programme: Marine Science and Technology (MAST III). National Environmental Research Institute, Silkeborg.

Dedieu K., Rabouille C., Gilbert F., Soetaert K., Metzger E., Simonucci C., Jezequel D., Prevot F., Anschutz P., Hulth S., Ogier S. & Mesnage V. (2007a) Coupling of carbon, nitrogen and oxygen cycles in sediments from a Mediterranean lagoon: a seasonal perspective. Marine Ecology-Progress Series, 346, 45-59

Dedieu K., Rabouille C., Thouzeau G., Jean F., Chauvaud L., Clavier J., Mesnage V. & Ogier S. (2007b) Benthic O-2 distribution and dynamics in a Mediterranean lagoon (Thau, France): An in situ microelectrode study. Estuarine Coastal and Shelf Science, 72, 393-405

Esteves F.A. (1998) Lagoas Costeiras: Origem, funcionamento e possibilidades de manejo. In: Ecologia de Lagoas Costeiras (ed. Esteves FA), pp. 63-87. NUPEM, Macaé

Fennel K., Brady D., DiToro D., Fulweiler R.W., Gardner W.S., Giblin A., McCarthy M.J., Rao A., Seitzinger S., Thouvenot-Korppoo M. & Tobias C. (2009) Modeling denitrification in aquatic sediments. Biogeochemistry, 93, 159-178

Golterman H.L., Clymo R.S. & Ohnstad M.A.M. (1978) Methods for physical and chemical analisys of freshwater. BlackwellScientific Publications, Oxford.

INMET (1992) Relatório Anual do Instituto Nacional de Meteorologia - 1991. INMET, Rio de Janeiro.

Jensen K., Sloth N.P., Risgaardpetersen N., Rysgaard S. & Revsbech N.P. (1994) Estimation of Nitrification and Denitrification from Microprofiles of Oxygen and Nitrate in Model Sediment Systems. Applied and Environmental Microbiology, 60, 2094-2100

Legendre P. & Legendre L. (1998) Numerical Ecology. 2 edn. Elsevier Science BV, Amsterdam.

Mosier A.R., Doran J.W. & Freney J.R. (2002) Managing soil denitrification. Journal of Soil and Water Conservation, 57, 8

Nielsen L.P. (1992) Denitrification in Sediment Determined from Nitrogen Isotope Pairing. Fems Microbiology Ecology, 86, 357-362

Nielsen L.P., Christensen P.B., Revsbech N.P. & Sorensen J. (1990) Denitrification and Oxygen Respiration in Biofilms Studied with a Microsensor for Nitrous-Oxide and Oxygen. Microbial Ecology, 19, 63-72

Pina-Ochoa E. & Alvarez-Cobelas M. (2006) Denitrification in aquatic environments: A cross-system analysis. Biogeochemistry, 81, 111-130

Salas H. & Martino P. (2001) Metodologías simplificadas para la evaluacíon de eutroficacion en lagos cálidos tropicales. OPS/OMS, Lima.

Capítulo III 50

Santoro A.L. & Enrich-Prast A. (2009) Salinity control of nitrification in saline shallow coastal lagoons. Acta Limnologica Brasiliensia, 21, 6

Seitzinger S., Harrison J.A., Bohlke J.K., Bouwman A.F., Lowrance R., Peterson B., Tobias C. & Van Drecht G. (2006) Denitrification across landscapes and waterscapes: A synthesis. Ecological Applications, 16, 2064-2090

Sweerts J., Bargilissen M.J., Cornelese A.A. & Cappenberg T.E. (1991) Oxygen-Consuming Processes at the Profundal and Littoral Sediment Water Interface of a Small Meso-Eutrophic Lake (Lake Vechten, the Netherlands). Limnology and Oceanography, 36, 1124-1133

Tiedje J.M., Sexstone A.J., Myrold D.D. & Robinson J.A. (1982) Denitrification - Ecological Niches, Competition and Survival. Antonie Van Leeuwenhoek Journal of Microbiology, 48, 569-583

Valentin J.L. (2000) Ecologia Numérica: uma introdução a analise multivariada de dados ecológicos. Editora Interciência, Rio de Janeiro.

Conclusões Gerais 51

CONCLUSÕES GERAIS

O capítulo introdutório do presente manuscrito apresentou as principais vias de

transformação do nitrogênio em ecossistemas aquáticos continentais e a importância de cada

uma delas para a regulação da bio-disponibilidade deste macronutriente no sistema. Esta

regulação é extremamente importante uma vez que o montante de nitrogênio bio-disponível no

ambiente é capaz de limitar ou superabundar a produtividade primária e o estoque de carbono

do mesmo, influenciando toda a estrutura do ecossistema.

Neste contexto destacam-se os processos de desnitrificação e nitrificação, por

representarem a principal via de eliminação de nitrogênio bio-disponível de ambientes

aquáticos. O primeiro processo tem influência direta na bio-disponibilidade de nitrogênio,

enquanto o segundo interfere indiretamente uma vez que subsidia o primeiro através do

fornecimento de substrato.

Os dois últimos capítulos apresentados aqui fornecem, através da avaliação destes dois

processos em lagoas costeiras tropicais, informações acerca do funcionamento do ciclo do

nitrogênio em sistemas tropicais e muito particulares, já que se caracterizam como ambientes de

água doce com influência marinha.

O segundo capítulo mostrou então a influência da salinidade sobre o processo de

nitrificação. Corroborando resultados obtidos anteriormente, a variação de salinidade interferiu

negativamente na atividade nitrificante principalmente sob baixas concentrações de sal. Foi

possível concluir através dos resultados obtidos, entre eles o decaimento exponencial das taxas

de nitrificação ao longo do gradiente de salinidade, que uma variação de salinidade deve ser

mais crítica para a atividade nitrificante local em ambientes aquáticos de água doce ou de baixa

influência salina. Este deve ser então um dos principais fatores reguladores do processo de

nitrificação em ambientes tropicais costeiros com influência salina reduzida ou esporádica,

justificando as reduzidas taxas de nitrificação mostradas aqui se comparadas às obtidas em

sistemas temperados.

O processo de nitrificação também foi muito importante para a interpretação dos dados

do último capítulo, que evidenciou formas diferenciadas de regulação do processo de

desnitrificação em duas lagoas costeiras de status tróficos distintos. No entanto, independente

do tipo de regulação, as taxas de desnitrificação obtidas também foram muito baixas se

comparadas às temperadas e os resultados apontam para a escassez de nitrato como principal

responsável.

Com a ausência de fontes externas de nitrato a atividade nitrificante se torna ainda mais

importante para a ocorrência da desnitrificação. Entretanto, os resultados do último capítulo

mostram a deficiência do processo de nitrificação tanto no sedimento quanto nas lagoas como

um todo. As elevadas taxas tropicais de consumo de oxigênio somadas às maiores temperaturas,

Conclusões Gerais 52

e a reduzida e/ou esporádica influência salina no caso dos ambientes costeiros, não favorecem a

ocorrência da nitrificação. Este que é o processo central do ciclo do nitrogênio, se fortemente

limitado em sistemas tropicais, se torna um processo chave capaz de alterar o funcionamento do

ciclo do nitrogênio como um todo.

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo