newsletter outubro 2009

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Propriedade da JA! Rua Marconi # 110 1 andar Maputo Tel: 21496668 Email: [email protected], [email protected]: Conselho Editor: Anabela Lemos,Janice Lemos, Jeremias Vunjanhe, Sílvia Dolores e Vanessa Cabanelas Layout: A.Lemos XV VOLUME ED I Ç Ã O D E OUTUBRO, 2009 DESTAQUES: Pág 3 “Arcebispo Desmond Tutu Convoca acção global"..... Pág 4 “Sobre 350.ORG “ Pág 10 “Entrevista com o Músico Azagaia “ Foto:A.Lemos Energias Renováveis em Moçambique? Para quando...? A.Lemos Há anos que a Justiça Ambiental (JA) não só tem advogado a necessidade de investir em energias “verdes”como também em diversificar as fontes de energia. Finalmente, e em parceria com a International Rivers, a JA contratou um consultor especialista em energias renováveis, para apresentar uma visão mais técnica das fontes de energia renovável que existem no País. As energias solar e eólica têm sido, nos últimos anos, consideradas as energias mais limpas, com menos impactos ou seja, as energias do futuro, que poderão minimizar os impactos das mudanças climáticas. A JA não só achou necessário um estudo destes, pois acredita que a energia “verde” é a opção mais viável, como também pensa que este relatório,deveria ser parte integrante do processo da Avaliação de Impacto Ambiental da futura barragem de Mphanda Nkuwa. Este relatório constitui uma avaliação das opções de energia, uma das directrizes da Comissão Mundial de Barragens (CMB). Só depois de uma avaliação abrangente das diversas opções, se poderá ter a certeza de que a construção da barragem de Mphnada Nkuwa será a melhor opção. A 19 de Outubro foi apresentado o relatório: ”Plano de Energias Renováveis para Moçambique” produzido pelo consultor Mark Hankis, especialista na área de energias e autor do livro “Solar Electric Systems for Africa”. Este relatório estabelece um plano de energia "verde”, destinado a levar energia a todos no País, com uma visão clara de um sistema energético sustentável que iria realmente resolver todos os problemas, sem sacrificar os nossos recursos mais preciosos, os nossos rios. Mas o relatório não foi bem recebido pelos representantes e instituições ligadas ao governo, que constituíam grande parte da audiência. Mas não é minha intenção descrever atitudes e comentários tristes, seria uma perda de tempo! Gostaria antes de colocar algumas questões: Porque é que quando os países de todo o mundo estão a mudar as suas fontes de energia para energias mais limpas, nós estamos a investir em energia fortemente poluidora (“energia suja”),como as centrais a carvão. Porque é que não somos mais inteligentes, vendo e aplicando os bons exemplos dos países mais desenvolvidos, tentando assim não repetir os mesmos erros? Porque que é que com tanta informação existente, estamos a cair na “maldição dos recursos”?

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Newsletter mensal da organização não governamental moçambicana Justiça Ambiental.

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Page 1: Newsletter Outubro 2009

Propriedade da JA! Rua Marconi # 110 1 andarMaputo Tel: 21496668Email: [email protected], [email protected]:Conselho Editor: Anabela Lemos,Janice Lemos,Jeremias Vunjanhe, Sílvia Dolores e VanessaCabanelasLayout: A.Lemos

XV V O L U M EE D I Ç Ã O D E OUTUBRO, 2009

DESTAQUES:Pág 3 “Arcebispo Desmond Tutu

Convoca acção global".....Pág 4 “Sobre 350.ORG “

Pág 10 “Entrevista com oMúsico Azagaia “

Foto:A.LemosEnergias Renováveis em Moçambique? Para quando...?

A.LemosHá anos que a Justiça Ambiental (JA) não só tem advogado a necessidadede investir em energias “verdes”como também em diversificar as fontes deenergia.Finalmente, e em parceria com a International Rivers, a JA contratou umconsultor especialista em energias renováveis, para apresentar uma visãomais técnica das fontes de energia renovável que existem no País.As energias solar e eólica têm sido, nos últimos anos, consideradas asenergias mais limpas, com menos impactos ou seja, as energias do futuro,que poderão minimizar os impactos das mudanças climáticas.A JA não só achou necessário um estudo destes, pois acredita que aenergia “verde” é a opção mais viável, como também pensa que esterelatório,deveria ser parte integrante do processo da Avaliação de ImpactoAmbiental da futura barragem de Mphanda Nkuwa.Este relatório constitui uma avaliação das opções de energia, uma dasdirectrizes da Comissão Mundial de Barragens (CMB). Só depois de umaavaliação abrangente das diversas opções, se poderá ter a certeza de que aconstrução da barragem de Mphnada Nkuwa será a melhor opção.A 19 de Outubro foi apresentado o relatório: ”Plano de EnergiasRenováveis para Moçambique” produzido pelo consultor Mark Hankis,especialista na área de energias e autor do livro “Solar Electric Systemsfor Africa”.Este relatório estabelece um plano de energia "verde”, destinado a levarenergia a todos no País, com uma visão clara de um sistema energéticosustentável que iria realmente resolver todos os problemas, sem sacrificaros nossos recursos mais preciosos, os nossos rios.Mas o relatório não foi bem recebido pelos representantes e instituiçõesligadas ao governo, que constituíam grande parte da audiência.Mas não é minha intenção descrever atitudes e comentários tristes, seria

uma perda de tempo!Gostaria antes de colocar algumas questões:PPoorrqquuee éé qquuee quando os países de todo o mundo estão a mudar as suasfontes de energia para energias mais limpas, nós estamos a investir emenergia fortemente poluidora (“energia suja”),como as centrais a carvão.PPoorrqquuee éé qquuee não somos mais inteligentes, vendo e aplicando os bonsexemplos dos países mais desenvolvidos, tentando assim não repetir osmesmos erros?PPoorrqquuee qquuee éé que com tanta informação existente, estamos a cair na“maldição dos recursos”?

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¨ Moçambique é apenas um dosmuitos países africanos onde o focotem sido posto nas grandes centrais

hidroeléctricas ou alimentadas acarvão --- e onde os responsáveis

políticos e investidores ainda põemem dúvida os custos da energia solar

e eólica, como se estas fossem asúnicas considerações importantes naescolha de fontes de energia para o

futuro. Sim, o custo da electricidade éimportante. Mas os custos de nãoinvestir e ganhar experiência em

energia solar, eólica e de biomassa noinício do século 21, são ainda

maiores”Mark Hankins”.

PPoorrqquuee éé qquuee nunca aceitamos e analisamos as preocupações, comentários, ou sugestõesde representantes da sociedade civil ou ONG's ,quando estas são criticas construtivas?Não é compreensível que Moçambique prefira correr o risco de ficar dependente dasgrandes centrais hidroeléctricas, cair na maldição dos recursos e destruir os seus recursosnaturais em vez de aproveitar os vastos recursos naturais que tem para a produção deenergias renováveis, podendo diversificar as suas fontes de energia, e estar melhorpreparado para os impactos que possam vir a haver com as mudanças climáticas, como ascheias e as secas.Acredito que todos nós sabemos da existência dos problemas indutores das mudançasclimáticas; sabemos também que as energias chamadas de “sujas”, são as maiores fontesde emissão de gases de CO2 ,SSeerráá ffaallttaa ddee vvoonnttaaddee ppoolliittiiccaa??

Talvez daqui a uns anos Moçambique consiga olhar para as energias renováveis como osoutros países o fizeram,o Quénia por exemplo,que em cinco anos sofreu uma viragem de180º e hoje a sua prioridade energética são as fontes de energia solar e eólica.Aiinnddaa ssee pprreecciissaa ddee mmuuiittoo mmaaiiss ddee bboomm sseennssoo.......

Foto:G.Zunguze

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AARRCCEEBBIISSPPOO DDEESSMMOONNDD TTUUTTUU CCOONNVVOOCCAA PPAARRAA AACCÇÇÃÃOO GGLLOOBBAALL PPAARRAA PPRROOMMOOVVEERR,,EEMM CCOOPPEENNHHAAGGAA,, UUMM PPAACCTTOO CCLLIIMMÁÁTTIICCOO JJUUSSTTOO EE CCOOMM BBAASSEE NNAA CCIIÊÊNNCCIIAA

Mostre seu apoio pela justiça climática global com criatividade em 24 de Outubro,apela ele

O debate intenso sobre as alterações climáticas tem tido lugar, sobretudo, entre os agentes poderososdos países ricos. Nesses países, batalhas entre ambientalistas e as companhias petrolíferas e de carvão,cujos produtos provocam as alterações climáticas, foram travadas durante muito tempo. EUA, a UniãoEuropeia e a China lideravam as negociações a nível internacional. Todas as conversações de alto níveltratavam do que se pensou ser possível – e muitas vezes do que é conveniente – para essas potências.Mas como não falta muito tempo até à Conferência de Copenhagen sobre as Alterações Climáticas emDezembro, ouvem-se vozes novas – as vozes das primeiras vítimas das mudanças climáticas, maiscategóricas e exigindo justiça à medida que a clara realidade do significado disso tudo se torna maisvisível. A ONU lista 28 países que são ou serão afetados pelas alterações climáticas, dentre eles 22 naÁfrica.No fim de Agosto, o Primeiro-Ministro da Etiópia, Meles Zenawi, que será o principal negociador daUnião Africana na Conferência de Copenhagen, disse que a África não só exigiria uma compensação justados Estados responsáveis pelas destruições causadas pelas alterações climáticas, como também que ospaíses ricos fariam o melhor possível para reduzir as emissões de gases e manter o aquecimento globaltão baixo quanto humanamente possível. Ao Primeiro-Ministro juntaram-se pessoas do continente inteiroque reclamam por um novo princípio para tratar as mudanças climáticas, um princípio que tambémpresta atenção às regiões mais pobres do mundo.A nova reivindicação dos africanos vem da nova ciência. Há poucos anos, as nações em vias dedesenvolvimento viram as alterações climáticas como mais um problema ao qual poderiam se adaptarcaso recebessem ajuda suficiente. Mas quando o gelo do Ártico se desfez tão drasticamente no verão de2007, os cientistas climáticos começaram a reavaliar as suas previsões – a Terra estava reagindo maisviolentamente do que o esperado a aumentos até mesmo pequenos da temperatura. Tornou-se óbvio quea sobrevivência básica de muitos países estava em jogo – as ilhas baixas das Maldivas, embora pobres,começaram a poupar cada ano uma parte do orçamento nacional para comprar novas terras enquanto oseu atual território se afunda nas ondas. A seca permanente no Quénia que causou a morte de milharesde cabeças de gado e a destruição da colheita mostra bem o que as alterações climáticas descontroladaspoderiam provocar no continente africano.Muitos grandes cientistas perceberam que há um número que deve ser conhecido do mundo todo: 350.Pois há 350 partes por milhão de CO2 na atmosfera, o gás com de efeito-estufa. Há cada vez maisespecialistas climáticos que acreditam ser esta a concentração mais alta de CO2 permitida na atmosferasem que terríveis devastações climáticas sejam causadas. Como já estamos acima deste nível, em 390partes por milhão, isso significa, que precisamos de uma ação política mais rápida daquelas apoiadaspelos governos no passado – ou seja, entre outros, precisamos de esforços sérios e rápidos para substituira queima de carvão e a poluição provocada por fontes de energia renováveis em todo o mundo.Normalmente, as vozes de países como a Etiópia, as Maldivas e o Quénia não são ouvidas nos fórunsinternacionais. Mas, desta vez, pode ser diferente porque está em desenvolvimento um grandemovimento positivo e determinado da sociedade civil para apoiar metas do clima científicas e justas. Nodia 24 de Outubro, 350.org, uma organização que apoio, coordenará milhares de ações criativas,encontros e reuniões em quase todo o mundo para chamar atenção global ao número 350.Outros que apoiam as metas da 350.org são os mensageiros conhecidos a nível internacional como p.ex.Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), JamesHansen, o cientista mais importante da NASA.Pessoas encontrar-se-ão nos lugares mais icónicos do mundo – desde Table Mountain na Cidade do Caboaté ao cume do Himalaia e até mesmo em baixo das ondas. Em todo o mundo, as igrejas tocarão os sinos350 vezes neste dia; nas sinagogas, o dia 24 de Outubro é o dia em que a história de Noé é contada. Osmonges budistas e as comunidades muçulmanas também participarão com a mesma esperança. Em todosos lugares, os participantes estarão focados no destino do seu próprio local – mas também semanifestarão em favor das pessoas e regiões mais vulneráveis do mundo, cujas vozes simplesmentedevem ser ouvidas. Pessoas de quase todas as nações do mundo estão involvidas – é a mesma forma decoalizão que ajudou a tornar o termo “apartheid” conhecido em todo o mundo.PPeeççoo aa ttooddooss ooss aaffrriiccaannooss ee ààqquueelleess nnoo mmuunnddoo qquuee ssee iimmppoorrttaamm ccoomm ÁÁffrriiccaa qquuee aappooiieemm aa jjuussttiiççaa cclliimmááttiiccaaem 24 de Outubro, iniciando ou participando de uma ação de mobilização onde vivem3

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E a nossa oportunidade de atuar como cidadãos globais, em vez de individuais isolados ou consumidoressozinhos. É a oportunidade para os líderes do mundo de ouvirem as vozes da consciência em vezdaquelas que só falam dos mercados financeiros. Na África do Sul, mostramos que, se atuarmos emfavor da justiça, teremos a força de mudar; dia 24 de Outubro, temos a oportunidade de mudar asalterações climáticas.FIMSOOBBRREE AARRCCEEBBIISSPPOO DDEESSMMOONNDD TTUUTTUUO Arcebispo Desmond Tutu é famoso a nível internacional devido ao seu trabalho corajoso e incansável contra o regimedo sistema racista (apatheid) na África do Sul e em favor da reconciliação das raças no seu país e em todo o mundo.Ganhou o Prémio Nobel da Paz em 1984 e presidiu a “South African Truth and Reconciliation Commission”, fundadaem 1994 para testemunhar, gravar e, em alguns casos, conceder anistia a autores de crimes contra os direitos humanos.O Arcebispo Tutu continua promovendo ativamente os direitos humanos e a justiça ambiental via “The Desmond TutuPeace Centre” e outras iniciativas incluindo “The Elders”, um grupo de líderes do mundo que se dedica à resolução deproblemas globais difíceis.Por favor, visite www.tutu.org para mais informações.

A posição da JA em relação às mudançasclimáticas.Moçambique necessita de mais informação e de umabase de dados actualizada, não só sobre o nível deemissões emitidas pela enorme quantidade dequeimadas anuais, uso extensivo do carvão, perdadescontrolada de florestas e de emissões industriaisassim como dos presentes impactos que estamos asofrer devido as mudanças climáticas. As implicaçõesno aumento de intensidade, imprevisíveis e frequênciados desastres naturais como as cheias, secas e ciclones,num Pais pobre como Moçambique.Mesmo que as emissões industriais em África sejamsignificativamente mais baixas do que outroscontinentes, nos pensamos que é vital que nosfoquemos mais na eficiência para que os paísesdesenvolvidos deixem de olhar para África como umaopção para as mais antigas e poluidoras industrias.Nós acreditamos que o uso dos mecanismos baseadosem mercados de carbono, como ferramenta pararesolver os problemas das mudanças climáticas nãoserá uma solução.Governos e decisores, precisam ambos de seresponsabilizar e responder por decisões, actos ouposições tomadas para por em prática um plano deacção que minimize as emissões de carbono de modo aalcançar a o objectivo vital de 350ppm e garantir ofuturo do nosso planeta.SSOOBBRREE 335500..OORRGG350.org é uma campanha internacional que pretende fazer o que a ciência diz ser necessário para pôrfim à mudança do clima: reduzir a concentração do gás com efeito de estufa, CO2, a um nível inferior a350 partes por milhão. Em 24 de Outubro, a 350.org quer inspirar todo o mundo a enfrentar o desafio damudança climática através de milhares de acções criadas simultaneamente em mais de 125 países emtodo o planeta, todas elas mostrando o número 350 de uma maneira criativa. Esse dia de acção estáprevisto para ser o dia em que a atenção ao ambiente atingirá uma dimensão jamais vista antes.350 partes por milhão é aquilo que muitos cientistas, especialistas em clima e governos progressistasconsideram agora ser o limite superior de segurança para a quantidade de CO2 na nossa atmosfera. Oscientistas concluem que estamos já acima da zona de segurança com as atuais 390 ppm, e que a menosque consigamos regressar rapidamente às 350 ppm neste século, arriscamo-nos a atingir impactosirreversíveis, como é o caso do derretimento da placa de gelo da Gronelândia e da libertação em massade metano derivada desse derretimento.Para mais informações, visite www.350.org/p

Foto:A.Lemos

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Globalização e sociedade actual (2ªParte)PPoorr::JJaanniiccee LLeemmooss

A globalização é um fenómeno capitalista e complexo que começou na época dos Descobrimentos e quese desenvolveu a partir da Revolução Industrial. Mas o seu conteúdo passou despercebido por muitotempo, e hoje muitos economistas analisam a globalização como resultado do pós Segunda GuerraMundial, ou como resultado da Revolução Tecnológica.A sua origem pode ser traçada do período mercantilista, iniciado aproximadamente no século XV que tevea sua duracao até ao século XVIII, com a queda dos custos de transporte marítimo, e o aumento dacomplexidade das relações políticas europeias durante este período, viu um grande aumento no fluxo deforça de trabalho entre os países e continentes, particularmente nas novas colónias europeias.A rigor, as sociedades do mundo estão em processo de globalização desde o início da Historia que foisimplesmente acelerada pela época dos Descobrimentos. Mas o processo histórico a que se denominaGlobalização é bem mais recente, datando (dependendo da conceituação e da interpretação) do colapsodo bloco socialista e o consequente fim da Guerra Fria (entre 1989 e 1991), do refluxo capitalista com aestagnação económica da URSS (a partir de 1975) ou ainda do próprio fim da Segunda Guerra Mundial.É tido como início da globalização moderna o fim da Segunda Guerra Mundial, e principalmente avontade de se impedir que uma monstruosidade como esta ocorresse novamente no futuro, sendo que asnações vitoriosas da guerra e as devastadas potências do eixo chegaram a conclusão que era de enormeimportância para o futuro da humanidade a criação de mecanismos diplomáticos e comerciais paraaproximar cada vez mais as nações umas das outras.A necessidade de expandir os seus mercados levou as nações aos poucos a começarem a abrir paraprodutos de outros países, marcando o crescimento da ideologia económica do liberalismo.Atualmente os maiores beneficiários da globalização são os grandes países emergentes, especialmente oBRIC(1), com grandes economias de exportação, grande mercado interno e cada vez maior presençamundial. Antes do BRIC, outros países fizeram uso da globalização e economias voltadas à exportaçãopara obter rápido crescimento e chegar ao primeiro mundo, como os tigres asiáticos na década de 80 e oJapão na década de 70.Alguns estudiosos veêm a expansão comercial e marítima europeia como um caminho pelo qual ocapitalismo se desenvolveu assim como a globalização, outros apostam o seu surgimento na acentuaçãodo mercado financeiro, com o aparecimento de novos produtos financeiros.A globalização afecta todas as áreas da sociedade, principalmente a comunicação, o comérciointernacional e a liberdade de movimentação, com diferente intensidade dependendo do nível dedesenvolvimento e a integração das nações no mundo.A globalização das ComunicaçõesA globalização das comunicações tem sua face mais visível na internet, a rede mundial de computadores,graças a acordos e protocolos entre diferentes entidades privadas da área de telecomunicações egovernos no mundo. Isto permitiu um fluxo de troca de ideias e informações sem critérios na história dahumanidade. Se antes uma pessoa estava limitada à imprensa local, agora a mesma pode tornar-se parteda imprensa e observar as tendências do mundo inteiro, tendo apenas como factor de limitação a barreiralinguística.Outra característica da globalização das comunicações é o aumento da universalização do acesso a meiosde comunicação, graças à redução de preços dos aparelhos tecnológicos, principalmente telemóveis e osde infraestrutura para as operadoras, com aumento da cobertura e incremento geral da qualidade graçasa inovação tecnológica.As redes de televisão e imprensa multimédia, em geral, também sofreram um grande impacto daglobalização. Um país com imprensa livre hoje em dia pode ter acesso, algumas vezes por televisão, porassinatura ou satélite, a emissoras do mundo inteiro, desde NHK do Japão até ao Cartoon Network daAmérica.Pode-se dizer que este incremento no acesso à comunicação em massa accionado pela globalização temimpacto até mesmo nas estruturas de poder estabelecidas, com forte conotação democrática, ajudandopessoas antes alienadas a um pequeno grupo de radiodifusão de informação, a terem acesso à informaçãomundial, mostrando como o mundo é e como se comporta.Mas infelizmente este mesmo livre fluxo de informações é tido como uma ameaça para determinadosgovernos ou entidades religiosas com poderes na sociedade, que têm gasto uma quantidade enorme derecursos para limitar o tipo de informação a que os seus cidadãos podem ter acesso.Teorias da GlobalizaçãoNo geral a globalização é vista por alguns cientistas políticos como o movimento sob o qual se constrói oprocesso de ampliação da hegemonia económica, política e cultural ocidental sobre as demais nações. Ouainda que a globalização é a reinvenção do processo expansionista americano no período pós guerra-fria(esta reinvenção tardaria quase 10 anos para ganhar forma) com a imposição (forçosa ou não) dosmodelos políticos (democracia), ideológico (liberalismo, hedonismo e individualismo) e económico

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(abertura de mercados e livre competição).Vale ressaltar que este projeto não é uma criação exclusiva do estado norte-americano e que tão poucoatende exclusivamente aos interesses deste mas também, é um projecto das empresas, em especial dasgrandes empresas multinacionais e governos do mundo.E para onde caminhamos?Depois de tentar esclarecer um pouco mais sobre a globalização e a sua influência na Sociedade actualgostaria de chamar a atenção para alguns pontos aqui apresentados tentando ser o mais imparcialpossível, pois pessoalmente acredito que são mais os aspectos negativos e muito pouco os positivos. Souda opinião que os povos têm o direito de ser livres e de ter a sua própria identidade e esta não ser impostapor ninguém, mas apresento aqui ambas as faces da globalizacao, principalmente a tão falada -“globalização competitiva” - aquela que posta em prática de cima para baixo é modelada pelosinteresses corporativos das empresas multinacionais e pelos interesses geopoliticos dos paísesricos e fortes do hemisfério norte e que só poupa os grupos económicos que têm maior poder econtrole de capital e de mercados e que envolve riscos e ameaças não só para os trabalhadores,mas para a humanidade”(2) .Em resumo, quanto mais riqueza e poder concentrados, mais desigualdade e maior potencial de desordeme de caos social.É claro que poderiamo- nos alongar muito mais sobre este tema isto é so uma pequena gota num oceano

tão vasto, um minúsculo ponto discutido, um artigo muito modesto sobre um tema muito mais complexo eabrangente, que poderia ter sido alargado para muitos e muitos mais artigos como este mas, infelizmente,o espaço neste boletim é limitado.Termino salientando os pontos positivos e negativos mais importantes da chamada “ globalizaçãocompetitiva”:Pontos Positivos: produção em escalas mais reduzidas e flexiveis com maior conhecimento emsubstituicção de um trabalho manual; facilidade na utilização de capacidade criativa dos trabalhadoresem vez de os manter reduzidos a tarefas meramente repetitivas; inovação nas esferas da informática quereduzem o dispêndio de tempo e energia humana nas tarefas ligadas à produção para uma merasobrevivência; trabalhadores melhor formados e informados; acesso rápido e fácil entre países econtinentes, o fácil acesso à informação, através da internet; fornecimento de uma base material para quese torne possível aos trabalhadores de todo o mundo se unirem em vez de se digladiarem, para queformem uma humanidade mais responsável e solidária.Pontos Negativos: crescimento de desemprego, desemprego em massa, redução do trabalho humano auma mera mercadoria, condições de trabalho e de vida cada vez mais precárias, como resultado doscortes nas despesas públicas; aumento de empregos marginais e sub-remunerados numa economiainformal, cada vez mais extensa; evidência de uma concentração cada vez mais explicita da renda e dariqueza; um obstáculo ao exercício pleno de cidadania, seja no plano local, nacional ou internacional; nãooferece um ambiente propício à realização de uma cidadania integral e activa por parte dos membros dasdiferentes sociedades, mesmo em lugares onde a democracia representativa funciona; ao globalizar amercantilização do Homem e da Natureza, torna também globais as formas de exploração e de dominaçãode ambos, e com elas as ameaças de ruptura socio-políticas e ambientais; subordina as economiasnacionais, e suas respectivas superestructuras politicas , as estratégias e aos interesses corporativos dasempresas e grupos multinacionais, cujo interesse é predominantemente económico e mercantil e não odesenvolvimento dos povos; sacrifica a diversidade e a soberania e globaliza às custas do nacional, dolocal , do diferente e do singular; Países cada vez mais dependentes uns dos outros já não há possibilidadede se isolarem, grande instabilidade económica criada no mundo, qualquer fenómeno que acontece numpaís, atinge rapidamente os outros países, criando-se contágios e epidemias que se alastram a todospontos do Globo.Passivamente todos nós nos vamos integrando neste contexto da globalização, mas qual é o nosso papelcomo cidadãos desta era? É ser passivos a tudo, a tudo o que é informação transmitida ou disponibilizada?Ou devo eu ter capacidade de avaliar, de criticar e defender o que são as minhas crenças, as minhasvivências, as minhas sensibilidades?Para que tal aconteça e para que neste tão globalizado mundo eu tenha voz, organizo-me e formo então asOrganizações da Sociedade Civil, para que eu tenha a oportunidade de também dar o meu contributo nosassuntos que me afectam ou são do meu interesse.Este artigo foi escrito através de varias pesquisas feitas na internet (wikipedia e outros sites sobre o tema )1)BRIC é um acrónimo criado em Novembro de 2001, pelo economista Jim O'Neill, chefe de pesquisa em economia global do grupo financeiro GoldmanSachs para designar, no relatório "Building Better Global Economic Brics", os quatro principais países emergentes do mundo,Brasil, Russia, India e China.2) Texto tirado do relatório “Globalização e sociedade civil repensando o cooperativismo no contexto da cidadania activa “de Marcos ArrudaEconomista e educador Brasileiro, Coordenador do PACS (Rio de Janeiro), Presidente da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do ICVA (ConselhoInternacional de Agências Voluntárias, Genebra), e sócio do Instituto Transnacional (Amsterdam).

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Devolvam as florestas às comunidades locais para as salvaremUm estudo feito recentemente em 80 florestas, num período de 15 anos, comprovou que as comunidadesfazem um melhor trabalho a gerir as florestas do que os governos.people-to-save-them.htmlhttp://www.newscientist.com/article/dn17937-give-forests-back-to-local-p7 de outubro de 2009, por Fred pearce<http://www.newscientist.com/search?rbauthors=Fred+Pearce>Devolvam as florestas tropicais às comunidades que lá vivem – e as árvores vão absorver o carbono por ti.Acima de tudo, mantenham as florestas longe da mão dos governos. Assim conclui o estudo em que seque fez o rasteio de 80 florestas pelo mundo.A maioria das florestas tropicais – desde as florestas montanhosas dos Himalaias até à selva deMadagascar – são controladas pelos governos locais. As comunidades locais detêm e gerem pouco maisde 1 décimo das florestas. Estas comunidades têm a reputação de destruir as árvores – corte de madeiraou devido a queimadas para limpeza da terra para a agricultura. Na realidade, de acordo com AshwiniChhatre, o oposto é que é a verdade.<http://www.geog.illinois.edu/people/chhatre/index.html>Universidade de Illinois na Urbana – ChampaignDeevvoollvvaamm aass fflloorreessttaass ààss ccoommuunniiddaaddeess llooccaaiiss ppaarraa aass ssaallvvaarreemm!!<http://www-personal.umich.edu/%7Earunagra/>No primeiro estudo do género, Chhatre e Arun Agrawal, da Universidade de Michigan em Ann Arbor,compararam a pertença das florestas, com uma base de dados de sequestro de carbono, que é estimada apartir do número e tamanho das árvores numa floresta. Eles descobriram, hectar por hectar, que asflorestas tropicais sob gestão local armazenam mais carbono do que as florestas pertencentes ao governo.Há excepções, diz Chhatre, “mas os nossos resultados provam que podemos aumentar o sequestro decarbono simplesmente por transferir a pertença das florestas dos governos para as comunidades locais.Uma das razões poderá ser a de que as comunidades locais protegem melhor as florestas se estas lhespertencerem, porque estas terão um interesse a longo prazo em garantir a sobrevivência dessasflorestas. Os governos, qualquer que sejam as suas intenções, normalmente autorizam exploraçõesdestrutivas, ou presidem sob um sistema livre para todos em que cada um tira o que pode, porqueninguém acredita que as florestas vão durar.<http://www.newscientistjobs.com/>Os autores sugerem que as comunidades locais também fariam um melhor trabalho na gestão de terra oupasto comum, pesca costeira e fornecimento de água. Argumentam que os resultados do seu estudocontradizem a ideia ambiental de longa data, denominada “a tragédia dos comuns”que diz que osrecursos naturais sob controlo das comunidades, são destruídos. De facto, diz Agrawal, “as comunidadeslocais são perfeitamente capazes de gerir os seus recursos sustentavelmente”.<http://www.undp.org/mdtf/un-redd/overview.shtml> .Planos imperfeitosA pesquisa questiona os planos de pagamento das NU aos governos para protecção das suas florestas. Nareunião das mudanças climáticas a ter lugar em Copenhaga, em Dezembro, é provável que se chegue aum acordo e se formule um programa chamado “Redução das emissões devido à desfloração e à

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<http://www.rainforestfoundationuk.org/>  Simon Cousell, da Fundação “Rainforest” do Reino Unido não está surpreendido com os resultados. NoBrasil e noutros locais, sabemos que as florestas mais duradouras são as que pertencem às reservasindígenas, como a que é gerida pelo povo Kayapo, a Este do Amazonas – é a maior floresta protegida domundo inteiro”.Referencia do Jornal: “Proceedings of the National Academy of Sciences”, DOI:

***BREVES*** BREVES*** BREVES***BREVES ***BREVES***Aquecimento global pode ser desastroso para saúdeO possível fracasso de países membros em fazer um novo acordo sobre mudanças climáticas, na cúpulada Organização das Nações Unidas (ONU), em Dezembro, irá resultar numa "catástrofe global de saúde",na opinião de 18 entidades médicas internacionais.Em carta publicada nas revistas cientificas Lancet e British Medical Journal, as entidades pedem amédicos de todo o mundo que "assumam a liderança" no debate sobre o assunto.Em editoriais, as duas publicações cientificas afirmam ainda que o impacto será maior sobre oshabitantes de países tropicais mais pobres. As revistas argumentam que conter as mudanças climáticaspoderia trazer outros benefícios, como dietas mais saudáveis e um ar mais puro.Fonte: Estadão Onlinehttp://noticias.ambientebrasil.com.br/noticia/?id=48296Mudanças climáticas e pobreza: ONU pede resposta aos desafios mundiaisO Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-Moon, abriu em Setembro último a64ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas com um apelo aos líderes mundiais pararesponderem, unidos por os desafios das alterações climáticas, da proliferação nuclear e da pobreza“Se existe um bom momento para agir num espírito multilateral renovado, é agora”, declarou Ban Ki-Moon, falando perante mais de 120 chefes de Estado e de Governo, incluindo o norte-americano BarackObama, o iraniano Mahmud Ahmadinejad e o líbio Mouammar Kadhafi.Ban Ki-moon pediu aos 192 Estados membros da ONU “unidade no objectivo e unidade na acção”. Osecretário-geral quer que os esforços conjugados se centrem em três desafios actuais: o aquecimentoglobal, a proliferação nuclear e a pobreza.Fonte :Jornal Noticias http://www.jornalnoticias.co.mz/pls/notimz2/getxml/pt/contentx/8908982211 ddee SSeetteemmbbrroo:: oo mmuunnddoo ddeeuu oo sseeuu rreeccaaddoo aaooss llííddeerreessCerca de 2500 eventos em todo planeta mobilizaram as sociedades num pedido urgente para a COP-15.O mundo acordou no dia 21 de Setembro, disposto a dar um recado: exigir que as lideranças globaisentrem num acordo justo, ambicioso e comprometido na 15ª Conferência das Partes (COP-15) daConvenção-Quadro das Nações Unidas, sobre Mudanças Climáticas. A cúpula de governos mundiaisreunir-se-à em Copenhaga, Dinamarca, de 7 a 19 de dezembro de 2009.Com 2.472 atividades registradas em todos os continentes, o “The Global Climate Wake up Call” (Hora deAcordar Global) é uma iniciativa da Campanha TicTacTicTac, e somou vitórias nas primeiras horas demobilização. Na Europa, por exemplo, o Primeiro Ministro do Reino Unido, Gordon Brown, afirmou, emconversa telefónica durante uma flashmob (mobilização relâmpago) realizada na cidade de Londres, oseu compromisso em defender um acordo climático mais justo e que atenda as necessidades das actuais efuturas gerações.Sarkosy.Fonte:Envolverde/Assessoria -http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=63451&edt=1HHuummaanniiddaaddee eessggoottaa oo sseeuu ""eessppaaççoo ddee ooppeerraaççããoo"",, ddiizzeemm cciieennttiissttaassA humanidade pode estar a tirar o planeta da excepcional estabilidade ambiental em que este se encontrahá 10 mil anos, lançando-o numa zona turbulenta com consequências "catastróficas". O novo alerta éfeito por um grupo internacional de 29 cientistas, em artigo na revista "Nature", em Setembro último .A equipa reúne alguns dos maiores especialistas no sistema terrestre, entre eles o holandês Paul Crutzen,Nobel de Química em 95 por o seu trabalho sobre a camada de ozono.Foram identificados nove factores-chave do funcionamento do planeta que não deveriam ser perturbadosalém de um certo limite para que a estabilidade ambiental que permitiu o "florescimento" da civilização,continue por milhares de anos.Fonte: Folha Online- http://noticias.ambientebrasil.com.br/noticia/?id=485388

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AA EERRAA DDAA EESSTTUUPPIIDDEEZZNo dia 23 e 24 de Setembro do ano em curso, no Auditório da Escola Portuguesa, realizou-se aprojecção do filme “The Age of Stupid” [A Era da Estupidez] para os alunos dos 3º e 4º Ciclos, alunosmaiores de 12 anos. Desta iniciativa resultou a produção de um cartaz no qual algum dos alunosregistaram ideias, mensagens, desabafos.... Uma ideia bonita!!!Um drama elaborado no formato de documentário que retrata um futuro próximo e sombrio. Dirigidopor Franny Armstrong, o filme é narrado pelo actor Pete Postlethwaite, que interpreta um arquivista, noano de 2055. O personagem é o principal fio condutor da trama que retrata as condições de vida naTerra em um futuro no qual os avisos sobre as mudanças climáticas foram ignorados.Em Moçambique, a projecção deste filme foi organizada pela Justiça Ambiental com apoio deorganizações internacionais, tendo estreado no Teatro Avenida a 22 de Setembro. De seguida foiprojectado nas Faculdade de Arquitectura e Planeamento Físico e Faculdade de Ciências daUniversidade Eduardo Mondlane, a 01 e 08 de Outubro, respectivamente, na Universidade Pedagógica,a 15 do mesmo mês, e a 22 de Outubro na Escola de Artes Visuais, para os estudantes, convidados edemais interessados.

O filme estreou emmais de 45 paísesespalhados pelomundo, tendo onúmero de aderênciaaumentado para 62países nos últimosdias que contou com aante-estreia globalentre os dias 21 e 22de Setembro passado.[Mais informaçõesvisite o sitewww.ageofstupid.net]A Justiça Ambientalespera ter feito o seucontributo não só nasensibilização econsciencialização daSociedade Civil, mastambém para achamada de atençãode uma atitudecorrecta, justa econsciente aosdecisores aquando doencontro deCopenhaga em"PPrriimmeeiirroo eelleessiiggnnoorraamm ddeeppooiiss sseerriieemm ddee ttii mmaaiiss ttaarrddeelluuttaamm ccoonnttrraa ttiimmaass nnoo ffiimm ttuu

GGaannhhaass..""GGhhaannddyy’’

"OO sseerr iinntteelliiggeenntteerreessoollvvee oo pprroobblleemmaa,, oossáábbiioo eevviittaa oopprroobblleemmaa..""EEiinnsstteeiinn9

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Dando continuidade asnossas entrevistas, a

personalidades dereconhecido e merito em

questões mais cadentes doactual estágio do

desenvolvimento deMoçambique e do mundo, a

JA entrevistou o Músico“Azagaia”

Ao músico Edson da Luz“Azagaia” a JA! endereça os

mais sincerosagradecimentos por ter

aceite este convite!Entrevista a 17 de Outubro,

2009.Por Jeremias Vunjanhe

JA - De alguns anos para cá, as questões ambientais têm estado no comando da agendanacional e internacional dos governos e diversas organizações ambientalistas. A nível deMoçambique como é que o músico Azagaia situa esta preocupação para com o meioambiente?Azagaia: Na minha óptica é importante que haja uma boa relação entre o homem e o meio ambiente,tenho notado muitas mudanças repentinas no clima e é algo que todos nós sentimos e que acredito que atodos desagrada. Pelas poucas investigações que fiz, estamos a viver um processo de aquecimentoglobal, justamente devido a má relação entre o homem e o ambiente actualmente. No mundo capitalistaem que vivemos, onde não vemos os meios para atingir os fins, infringimos regras básicas em relação aoambiente para podermos atingir os nossos objectivos.De um modo geral eu acho que existe um completo desrespeito para com a Natureza. Nós não podemosviver sem ela mas até que comecemos a sentir essa ameaça acho que a vamos ignorando. Agora,olhando mais para Moçambique, quando se fala do ambiente eu acho que o que nos salta primeiro àvista é o problema do lixo. Eu vivo em Maputo e sei que Maputo é uma cidade com sérios problemas desaneamento e ninguém gosta de viver num lugar sujo. Mas a questão do saneamento tem estado a sertratada de uma forma duvidosa, é um problema que já tem longa data, já há muitos anos que Maputotem problemas de lixo e até hoje não se resolve, não sei porquê. Essa é uma questão. A outra questão éque o cidadão moçambicano, nós que somos dos centros urbanos, não temos um bom relacionamentocom o nosso meio ambiente. É muito normal as pessoas não procurarem latas de lixo para jogar foralatas. Existe aquele lixo não reciclável e mesmo assim nós o atiramos para o chão. Eu acho que aspessoas não têm muita preocupação para com isso, mas ao mesmo tempo reclamam do lixo, entãoacabamos por ser vítimas mas também culpados porque embora o governo tenha a sua quota parte, nóstambém temos, então ambas as partes estão a falhar! Não sei se é uma certa falta de civismo, não sei seé necessário fazer essa informação chegar às pessoas, porque o meio urbano tem as suas regraspróprias, é diferente do campo, e se calhar, podemos assumir que nem toda gente tem a cultura de viverna cidade. Sabemos que muitos de nós viemos parar à cidade depois da independência com asnacionalizações. Quando se ocuparam os prédios, muita gente com a cultura do campo e da periferia sedeparou com novas situações, que exigiam novos hábitos e ficaram sem saber ao certo como agir; ahistória, por exemplo, de pessoas que tiravam os “parquet” das flats para poder fazer lume dentro delas.Isto é apenas um pequeno exemplo, para mostrar que sempre houve um confronto entre a cultura docampo e a cultura urbana e muitos de nós realmente não temos a cultura urbana, isto é outro ponto.Vemos muitos cidadãos, até hoje, atirarem água suja dos prédios para baixo e as consequências já sãoconhecidas, concentração de água que depois traz mosquitos e depois a malária...- isto é uma questãoambiental e de civismo também. Então o que está a faltar ?...... talvez educação cívica! Hoje em dia nóspreocupamo-nos muito mais em ganhar dinheiro e sobreviver porque a vida está cada vez mais cara e se10

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Eu falo muito do meio urbano porque é no meio onde vivo, portanto, não posso falar muito do campo. Eurealmente acredito que o município está a trabalhar, mas podia fazer mais. Uma coisa que é urgentenesta cidade é termos mais caixotes de lixo, não precisam ser contentores, porque muitas vezes aspessoas não se sentem bem ao se aproximarem de um contentor para atirar o lixo. Há muitoscontentores que estão cheios e as pessoas não acham aquilo cómodo, se calhar devia-se mudar um poucode estratégia, em vez de espalhar contentores pela cidade, espalhar-se caixotes plásticos maisconvidativos e fazer-se uma campanha no sentido de sensibilizar as pessoas. Nós vemos campanhassobre muita coisa, mas sobre valorização do meio ambiente, não muito. Então vou a saltar um pouco paraas responsabilidades governamentais, é importante educar os cidadãos moçambicanos que vivem nosmeios urbanos. Muitos de nós vestimos fatos, andamos em carros de luxo mas depois de beber umacerveja atiramos a garrafa para a Estrada. É esse o contraste que vivemos na nossa cidade. Por um ladodesenvolvemos, mas por outro não. A educação tem que ser contínua, permanente, não podemos julgarque quem sabe conduzir um carro, entende necessariamente de ambiente. Estes são alguns dosproblemas, podemos chamá-los ambientais, não sei se é correcto, mas quem sabe em pequena escala.Existem também os problemas ambientais em grande escala que eu venho acompanhando, como é o casodas grandes indústrias, os chamados mega-projectos que são montados aqui e que muitas vezes chocamcom qualquer estudo de impacto ambienta. Não há respeito para com esses estudos, estamos fartos desaber que, por exemplo, a fábrica de fundição de alumínio, Moçambique alumínio (Mozal) embora sendoum dos mega-projectos que mais rendimento traz para o Estado, também traz grandes prejuízos para oambiente e muitos de nós comentamos e nos queixamos que à volta da Mozal, a fauna e a flora estão aempobrecer. É certo que pode resolver o problema do pão mas não é só do pão que vive o homem(risos...). E sem contar que são projectos que favorecem uma determinada classe em detrimento das maisnecessitadas.Sobre as questões do ambiente eu acho que o governo moçambicano não respeita os estudos que sãofeitos e o exemplo disso é a barragem de Mphanda Nkuwa. É uma discussão que já se.vem arrastando hábastante tempo. Em condições normais, o Governo moçambicano devia apresentar ao público, atravésdos órgãos de informação, os estudos ambientais que foram feitos para se implantar a barragem. Peloque eu sei e pelo que eu leio, a barragem de Mphanda Nkuwa vai pôr em risco aquela zona, e existe orisco de ocorrência de terramotos, até porque aquela Bacia do Rio Zambeze já tem uma série debarragens, mais uma poderá sobrecarregar e causar um desastre, uma resposta da natureza à acçãohumana.Os estudos e as opiniões que são contra a construção dessa barragem vêm sendo apresentadas tanto emjornais como na Internet e todos nós temos acesso a isso. Porque é que o Governo moçambicano não fazo mesmo e apresenta o seu lado, aquilo que é abonatório à construção da barragem, talvez estejamosenganados, mas porque nós só ouvimos um dos lados da história não temos bases para acreditar napossibilidade de estarmos enganados. Eu penso que é dever e uma questão de prestação de contas que,se é uma barragem que é para ser construída para o benefício de todos os moçambicanos, os estudospara a sua implantação deviam ser do domínio público sob pena de ser um processo completamentedesacreditado e se houver realmente uma tragédia, uma catástrofe decorrente da construção destabarragem, eu acho que ninguém vai estar do lado do Governo. É dever do Governo apresentar o seu ladoda história, existem estudos de impacto ambiental que falam do outro lado da história, nós queremosouvir o dois lado para nos podermos situar. É um problema que se calhar não está ao alcance de todosporque vivemos no meio urbano ou porque vivemos em zonas distantes, mas sabemos que asconsequências deste projecto são enormes. De um modo geral este regime capitalista passa sempre porcima das questões ambientais e ecológicas. Temos o caso da construção que está a ser feita na Costa doSol, aqueles palácios que ali estão a ser construídos. Realmente, dizem que é a zona onde se respira arpuro, é a melhor zona , as zonas costeiras, os litorais são as zonas mais cobiçadas em qualquer parte domundo mas também sabemos que nestas zonas há grandes problemas de erosão. Não seria preocupaçãodo município exigir os estudos de impacto ambiental para fazer aquele tipo de construções em zonas deforte erosão como a do Costa do sol? Porque é que o município permite isso? Não haverá aí um completodesrespeito para com a natureza simplesmente para obtenção de lucro? São questões básicas, nãoprecisamos de ser engenheiros florestais ou formados na área ambiental para sabermos que se trata deáreas propensas à erosão, mas nós vemos que as construções continuam.JA!- Diante desse cenário em que temos muitos empreendimentos em construção no País que,de algum modo, não respeitam as regras ambientalmente saudáveis ou sustentáveis e aomesmo tempo assistimos à inoperância de alguma das instituições que estariam em altura develar pelo cumprimento dessas normas, qual seria a solução deste problema?Azagaia: Se as pessoas fossem mais educadas a nível das questões ambientais de certeza que a revoltaseria maior, porque o que acontece agora é que as pessoas que entendem das questões ambientaispertencem a uma classe, a uma elite, mas a maior parte da população pouco entende, pouco sabe sobre oambiente. É uma questão de escola e de educação mesmo. Nós temos graves problemas de educação emMoçambique e esses problemas arrastam-se para as questões ambientais existentes. Da mesma maneiraque o Governo moçambicano faz campanhas de combate à malária, também poderia fazer campanhas deprotecção ao meio ambiente, grandes campanhas mesmo.. MMaass sseerráá qquuee llhheess iinntteerreessssaa??11

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A ppeerrgguunnttaa nnoo aarr éé eessssaa.. Será que não existem quadros no Governo que compreendem estas questõesambientais? Pressupõe-se que um Governo sério tenha quadros dessa natureza. Se assim é e se sabemque há muitos empreendimentos que põem em perigo o ambiente mas mesmo assim não fazem nada, édifícil esperar que esse mesmo Governo desenvolva algum programa ou uma campanha de educaçãocívica destacando o ambiente, justamente para não despertar a consciência das pessoas em relação aesse tipo de problemas ; mas a solução seria essa, seria necessário educar mais as pessoas sobre asquestões ambientais, educar seriamente. Eu até não sei muito e o pouco que eu sei é por que investigo,agora imagine as pessoas que não se dão “ao tempo” de investigar estas questões? O que é que sabem ecomo é que essas pessoas podem algum dia exigir, por exemplo, que se pare uma determinadaconstrução numa área de forte erosão? Como é que essas pessoas, que não são educadas a nível destasquestões, podem exigir ao Governo moçambicano que apresente os estudos ambientais que foram feitospara a implantação da barragem de Mphanda Nkuwa? Como é que estas pessoas, que não tiveram estetipo de educação, o podem fazer? Tudo começa pela educação, é preciso educar as pessoas. Quandoaumentarmos o nosso nível de consciência em relação às questões ambientais vamos puder exigir mais.Neste momento nem temos por que exigir, não temos consciência do problema e se as pessoas não têmconsciência do problema vão querer resolver o quê? Primeiro temos que saber que há um problema. Paraa maior parte das pessoas não há problema nenhum, então porque é que vão querer se preocupar emfazer alguma coisa? Quanto maior é o nível de educação em relação a qualquer área maior será aexigência por parte das pessoas, e uma coisa é certa: a nível institucional, eu duvido que os problemasambientais possam ser resolvidos, porque as instituições ligadas ao ambiente já existem e, não estou adizer que não estão a fazer bem o seu trabalho, estão a fazer muito bem o seu trabalho, mas ficamlimitadas, fica difícil fazer mais pois começam a ir contra uma força muito maior, na minha opinião.Agora, se nós tivéssemos uma sociedade mais educada, uma sociedade consciencializada, seria mais umaforça a juntar-se às instituições ligadas ao ambiente, principalmente, as não governamentais porque porvezes começa a ser uma espécie de um braço de ferro entre o Governo e essas instituições. Essasinstituições, unindo forças com a sociedade civil, podem fazer com que as coisas modem, porque se surgeum escândalo sobre o ambiente na primeira página do jornal, não é escândalo, porque ninguém sabe aocerto de que se trata, mas quando as pessoas começarem a perceber do que realmente se está a tratar, aía reaccção pública será notória. Mais uma vez, trata-se de uma questão de educação.JA!-Tomando em conta que a maior parte da sociedade moçambicana de alguma formasobrevive de actividades ligadas a algumas áreas que estão sendo invadidas pela elite político-económica do País, por via de tais construções de empreendimentos, e não beneficiam aspessoas e comunidades à sua volta, como é que se pode benefciar essas áreas, para umaquestão de justiça social?Azagaia:Para essa pergunta se calhar eu não tenho uma resposta. Acho que é uma pergunta que deviaser feita ao Governo moçambicano. Realmente é tudo uma questão de prioridades. Neste contexto, emque lugar está o meio ambiente? Esta é a pergunta. Em termos de orçamento geral do Estado, eu poucosei sobre os dinheiros que vão para as questões ambientais. Eu sei mais sobre os dinheiros que vão paraquestões de defesa, para o funcionamento da máquina parlamentar. Até questões de saúde não estão emprimeiro plano( a nivel de orçamento), imagine só as questões ambientais, que muitas pessoas não sepreocupam com elas. O próprio cidadão não têm uma preocupação séria, como é que o Governomoçambicano se poderá sentir pressionado em alocar receitas para essas áreas?JA! Perante essa situação e mesmo reconhecendo a inércia da sociedade civil, qual poderia sera solução para que o Estado moçambicano fizesse das questões ambientais uma agendaprioritária?Azagaia: Exacto! Agora nós já estamos a falar do ponto fulcral do problema, que é a questão dasprioridades. O ambiente tem que passar a ser uma prioridade porque estamos a falar da nossasobrevivência como seres humanos, isto é muito importante, porque, realmente, enquanto o meioambiente não for uma prioridade não estaremos a discutir nada.

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A única maneira de resolver as questões ambientais é por via da educação cívica focando questõesambientais para os moçambicanos, sejam eles da cidade ou do campo. Era de se esperar que, para tal,houvesse grandes campanhas mas estamos a ver que isto não é prioridade para o nosso Governo, entãoeu acho que é preciso começar a desencadear-se projectos de educação a nível de instituições nãogovernamentais . Eu sei que existe uma “guerra” por causa dos megaprojectos entre, por exemplo a JA! eo Governo moçambicano, mas será que a JA! terá força suficiente para pressionar o Governomoçambicano? Não sei! Pode ser que sim, pode ser que não. Para mim, como cidadão, interessam-memais as questões de educação, porque se se aumentar o nível de consciência das pessoas em relação àsquestões ambientais, nós poderemos ajudar, e as pessoas poderão perceber porque é que, afinal decontas, a JA! diz que o projecto de construção da barragem de Mphanda Nkuwa é um perigo para nóstodos; porque é que não se pode construir casas em zonas de erosão? Porque é que não se pode construiredifícios sobre os mangais? Que espécie de implicações pode ter para o nosso meio ambiente? Porque éque não se pode deitar uma lata na estrada, porque é que não vou deitar água do prédio para baixo?Porque é que eu tenho que me preocupar com estas questões, que tipo de consequências isso terá se eunão me preocupar com elas, o que é que pode melhorar se eu der mais atenção a esse tipo de questões?É sobre isto que as instituições não governamentais, que trabalham no sector do meio ambiente, devemcomeçar a se preocupar, esclarecendo as pessoas e não precisa ser algo muito grande para começar,porque se calhar não se têm condições para isso. Mas pode-se começar com projectos pequenos ecomunitários, ou mesmo a nível das escolas pode-se fazer visitas periódicas e ensinar às crianças. E nãosão só as crianças que precisam de ser ensinadas, podem ser as universidades, pode-se dar palestrassobre questões do ambiente. Criar uma interacção, porque as pessoas estão à espera de informação, nóssomos uma massa que pode ser moldada, então se nós estamos, constantemente, a ser bombardeadospor ideais puramente capitalistas, vamos nos tornar absolutamente capitalistas, mas se houver uma outraforça a tentar passar outros ideais, esta força influenciarnos-à de alguma forma. Eu acho que as questõesambientais não devem só ser debatidas ao nível do topo, as guerras entre as instituições quedefendem o ambiente e o Governo. Por que o Governo só quer saber das receitas e do lucro ou porquehá pessoas que fazem parte do Governo que têm interesses próprios e tiram dividendos dos mega-projectos ou por que as instituições que defendem o ambiente são contra o desenvolvimento. Ok! estábom, mas eu como cidadão, o que é que vou fazer no meio de tudo isto? E vai começar a parecer músicano ouvido, é aquele velho problema, mais uma página no jornal sobre isso... está bom, pronto!Eu acho que é preciso mudar um pouco de estratégia. Educação! Vamos começar nas escolas! Vamos

começar nas comunidades! Pode-se fazer programas de rádio, nas rádios comunitárias, procurarfinanciamentos para tempos de antena nas nossas televisões para falar sobre o ambiente, criarprogramas de entretenimento relacionados com o ambiente para fazer com que essas coisas comecem aentrar na cabeça das pessoas.

Foto:A.Lemos

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JA!-Que contribuições se pode esperar dos músicos neste debate e na educação dos cidadãos?Azagaia!-A!.. Eu acho que os músicos podem dar a sua mão e podem ajudar muito! Os músicosmoçambicanos estão muito ligados às causas sociais. Quase sempre aparecem a fazer músicas sobre isso.Existe aquela música que aborda a problemática da destruição das florestas. É uma música cuja letra édo Mia Couto e foi interpretada por vários músicos jovens, além dos da geração mais antiga. Está aí umexemplo, temos também a música de outros músicos que foi feita por causa do lixo e a necessidade devalorização da cidade de Maputo. Eu acho que os músicos têm uma grande abertura em relação àsquestões sociais. É só uma questão de se aproximarem deles e lhes fazer chegar estas mensagens e criarestes projectos. Eu acho que sendo os músicos grandes influenciadores da opinião pública, podemtambém ser uma boa arma para defender as questões do ambiente. Eu, pessoalmente, vou fazer mais umprojecto musical, mais um CD para o ano e de certeza que vou incluir uma faixa musical relacionada como ambiente. Vou ter a oportunidade de dar o meu contributo dessa forma. É uma questão que interessa atodos nós. Todos nós saímos a ganhar e se as pessoas começarem a perceber isso poderemos vencerestes problemas ambientais que nós temos.JA!-Até que ponto se faz sentir a inclusão das questões ambientais nos manifestos eleitoraisdos vários partidos políticos?Azagaia!-Eh! Bem, as questões ambientais! Eu acho que não estão a ter enfoque nos programas dospartidos políticos. Os programas dos partidos políticos estão mais dirigidos para questões como emprego,educação, saúde, meios de subsistência, agricultura, combate a criminalidade, mas questões desaneamento do meio, não ouvi falar! Eu acho que se falou mais de questões ambientais ,particularmente,a nível do saneamento do meio, quando se tratava de eleições autárquicas. Realmente eu acho que existeuma ignorância total em relação às questões do ambiente. Para fazermos uma análise correcta podemossair à rua e fazermos um inquérito sobre o que as pessoas sabem sobre o meio ambiente, será umavergonha! Um e outro programa podem incluir isso mas eu acredito que ainda não é uma prioridadenacional para os partidos políticos. Mas eu acho que é dever de vocês como instituições ligadas aoambiente, por exemplo, convidarem os partidos políticos, sentarem com eles e perguntar o que é que elesacham, quais são suas propostas para resolver as questões ambientais, porque o político existe pararesolver os problemas das pessoas, mas enquanto ele não perceber que é um problema, também não sevai preocupar. Ele preocupa-se com aquilo que são as grandes reivindicações e o ambiente nestemomento não é uma grande reivindicação no nosso País. Parece muito mais um problema de elite queainda não chegou ao povo, às pessoas. Quando se fala de ambiente, no máximo fala-se em saneamento,mas as pessoas não têm educação e as forças políticas poderiam ajudar sim, porque é também umaquestão política. A questão de prioridade é uma questão política.JA!- Que avaliação faz da a actuação das instituições que trabalham no sector sobre as questõesambientais e de desenvolvimento sustentável em Moçambique particularmente as chamadasnão governamentais ?Azagaia: Bem a JA! está a causar grande polémica devido a estes megaprojectos e a questão dabarragem de Mphanda Nkuwa. Acho que neste momento é possível que seja uma das instituições de quemais se tem feito ouvir, talvez por causa dessa polémica que existe mas a nível de trabalho diário mesmoeu, sei muito pouco. Vou ser sincero, não estou a fazer uma avaliação mas pouco sei sobre o trabalho dasinstituições ligadas ao ambiente a não ser o da JA!A Impacto, da qual eu também já ouvi falar, é uma outra instituição privada que trabalha com questõesde estudos de impacto ambiental. Das instituições que existem em Moçambique, as que são do meuconhecimento são estas duas, isto só por si já é um indicativo, então é por aí, eles podem realmente dizerque estão a trabalhar mas eu, pessoalmente, ainda não senti isso.

JA!-No início desta entrevista o músico Azagaia falou das consequências do aquecimento globalque, actualmente, constituem uma agenda internacional. Contudo, poucas são as medidas eacções que têm sido tomadas e levadas a cabo particularmente ao nível de África.

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Como é que os cidadãos desses Países podem exigir dos seus governantes medidas e acçõesconcretas e mais ousadas para fazer face aos das mudanças climáticas?Azagaia: Bem, eu acho que a resposta para esta pergunta acaba sendo sempre a mesma, resolver estesproblemas é uma questão de vontade política. Mesmo ao nível das superpotências não se consegueresolver isso porque as questões ambientais entram sempre em choque com os interesses do capital umavez que para gerar a renda essas grandes indústrias poluem o ambiente, então é sempre uma guerra, écomo que se tivesse que escolher ou dinheiro ou o ambiente. O homem escolhe sempre o dinheiro (risos...)então é complicado, o que lhe posso dizer é que mais uma vez em África nós temos problemasgravíssimos, como a fome e os problemas de fome não nos deixam enxergar mais do que isso. Osproblemas de ter comida no prato não nos permitem enxergar além do pão, isto é que é o grandeproblema. As outras sociedades são mais reivindicativas em relação a questões ambientais porque nãotêm muitos “problemas de prato” e as pessoas têm a mente liberta para falar sobre questões ambientais.É como se pudéssemos até dizer assim:Dão-se o luxo de falar sobre o ambiente! (risos...). Essesproblemas de questões económicas que nós temos aqui, vedam a nossa mente em relação às questõesambientais, por isso é muito complicado dizermos que nós os africanos nos vamos unir para defender oambiente. As pessoas preferem unir-se até para fazer guerras, para ter o pão.Isto é um problema muitograve! Mais uma vez eu acho que é preciso educação, tem que haver alguma força, alguma pressão a serfeita para esse lado, enquanto os governos se preocuparem mais com questões económicas e dedesenvolvimento sustentável ou não, tem que haver alguma força na sociedade a tratar sobre questõesambientais. Eu “desacredito” que seja o Governo, então mais uma vez, se as pessoas souberem mais sobreisso, vão se juntar fazendo marchas pela mudança de comportamento e não só apontar dedos, é umaquestão também de comportamento pessoal, não adianta que eu esteja aqui a falar sobre questõesambientais, depois meia volta, estou a atirar a lata, estou a urinar na árvore, então nada disto fazsentido.

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" Nunca duvides que um pequeno grupo de cidadãos profundamente empenhados possammudar o Mundo: certamente é das unicas coisas que ja tem acontecido realmente.""Never doubt that a small group of thoughtful committed citizens can change the world:Indeed it's the only thing that ever has." - Margaret Mead

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30 de Setembro de 2009

Em Solidaridade com a GAIA (Global Anti -Incineration Alternative) em comemoraçãodo

8º Dia Mundial de Acção sobre o lema:“Lixo Zero, Aquecimento Global Zero”

A Justica Ambiental este ano em solidaridade com a GAIA, pelo oitavo aniversário, emcomemoração do Dia Mundial de Acção: ”Lixo Zero, Aquecimento Global Zero”,decidiu que devido à campanha eleitoral no País, não seria o momento mais oportuno parase fazer uma campanha ambiental ou de acção, pois não teria o impacto desejado. Noentanto, não queríamos deixar passar um dia tão importante para todos nós, ambientalistase cidadãos responsáveis, preocupados com o futuro do nosso País e Planeta. Como tal, foidecidido que enviaríamos uma mensagem a todos, pedindo um minuto do vosso tempo parauma reflexão e se possível uma tomada de decisão.Sabia que um dos maiores problemas da nossa era é a produção de resíduos graças aosnossos hábitos de vida? Tudo se resume ao chamado“ Lixo”, seja ele doméstico, hospitalarou industrial.Vivemos numa sociedade consumista em que o constante uso insustentável dos nossosrecursos naturais e a produção de bens descartáveis, assim como à utilização de materiaissintéticos, são os grandes responsaveis pelos gases de estufa, que provocam o aquecimentoGlobal.Maioria de nós sabe que as mudanças climáticas já estão a ter impacto na nossa geração;também sabemos que se não houver uma mudança no sistema actual, deixa de haver, paraas futuras gerações, a garantia de um futuro saudável e sustentável, tanto a nível socialcomo ambiental, mas também e consequentemente a nível económico.O que cada um de nós pode fazer, para evitar que a situacção piore? - Actos simples quepouco a pouco vão fazer a diferença, como os seguintes:11..DDeeiixxee ddee ppeerrtteenncceerr àà ssoocciieeddaaddee ccoonnssuummiissttaa,, ccoommeeccee ppoorr ddaarr ttuuddoo oo qquuee nnããoo uuttiilliizzaa,, aa qquueemmnneecceessssiittaa;;22.. SSóó ccoommpprree oo qquuee ffoorr nneecceessssáárriioo;;33.. SSeemmpprree qquuee ppoossssíívveell uuttiilliizzee mmaatteerriiaaiiss nnaattuurraaiiss,, sseemm qquuíímmiiccooss,, ffeerrttiilliizzaanntteess oouu ppeessttiicciiddaass;;44..PPrroodduuzzaa mmeennooss lliixxoo,, aapprroovveeiittaannddoo ttuuddoo qquuee sseejjaa rreecciicclláávveell;;55..FFaaççaa oo sseeuu pprróópprriioo ccoommppoossttoo ccoomm ooss rreessttooss ddooss sseeuuss aalliimmeennttooss;;66.. EEvviittee uuttiilliizzaarr ssaaccooss pplláássttiiccooss.. QQuuaannddoo ffoorr ààss ccoommpprraass lleevvee uumm cceessttoo ddee ppaallhhaa oouu ddee ppaannoo;;77.. PPoouuppee eenneerrggiiaa;;88.. VViiaajjee ddee aavviiããoo ssóó qquuaannddoo nneecceessssáárriioo;;99.. NNããoo ddeeiixxee aa áágguuaa aa ccoorrrreerr qquuaannddoo eessttiivveerr aa ffaazzeerr aa bbaarrbbaa oouu aa llaavvaarr ooss ddeenntteess..Falar, criticar, debater é muito fácil, mas tomar uma decisão, dar o primeiro passo para amudança, já é bem mais difícil! Ainda assim, é possível, só é preciso vontade e coragem;Você tem?O ser humano por si só, pode fazer a diferença; Todas as revoluções, todas as mudanças naHistória sempre começaram por uma atitude.

A Justiça Ambiental envia esta mensagem simples e possível de implementar:Seja e faça a diferença!!!

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Page 17: Newsletter Outubro 2009

Foto:D.RibeiroQuelimane