newsletter março 2009

14
Propriedade da JA! Rua Marconi n 110 z andar Maputo Tel: 21496668 Email: [email protected], [email protected], Dircectora : Anabela Lemos Conselho Editor: Anabela Lemos, Daniel Ribeiro, Janice Lemos, Jeremias Vunjanhe, Sílvia Dolores e Vanessa Canabelas Gostaríamos de esclarecer alguns mal entendidos em relação ao proposto projecto da barragem de Mphan- da Nkuwa, talvez a Justiça Ambiental consiga fazer com que os cidadãos bem intencionados vejam a luz no fundo de um túnel demasiado escuro, há muitos anos que andamos a chamar à atenção sobre este assunto. Depois dos vários artigos escritos nas ultimas semanas tanto no jornal Noticias, como no País assim como uma entrevista na TVM, aqui vão alguns comentários para vossa reflexão. Começaremos pelos tão falados estudos, não o estudo de viabilidade apresentado em 2002, mas se real- mente existem outros estudos, como dizem, que deram luz verde ao projecto, serão os estudos feitos em 2004/5 ou será a revisão feita em 2007 pela Camargo Correia? Que nos apresentem, pois só assim poderemos saber se realmente estes estudos correspondem às nossas preocupações. Sobre a questão de ter acesso aos referidos documentos para examiná-los, mas não podendo facultar uma copia para poder analisá-los, como foi declarado na TVM (entrevista no Programa “Bom Dia Moçambi- que” dia 26 de Março de 2009), com todo o respeito, não só não tivemos acesso aos referidos documentos nem sequer em copia, pois questões como a sismologia do local é necessário enviar para ser analisado por um especialista, e sim , infelizmente, por falta de quadros especializados moçambicanos em certas áreas é que necessitamos do apoio de um especialista estrangeiro..... será que todos os estudos feitos no projecto da barragem de Mphanda Nkuwa, foram feitos SÓ POR Moçambicanos? Ou tiveram que ter o apoio de estrangeiros? Por favor, meus senhores, vamos ser realistas. O que é informar? Informar é transmitir o nosso conhecimento à pessoa que solicita, não escondendo factos ou dados. Mphanda Nkuwa...que mais poderei dizer? Por: Anabela Lemos EDIÇÃO DE MARÇO, 2009 II VOLUME Propriedade da JA! Rua Marconi n 110 1 andar Maputo Tel: 21496668 Email: [email protected], [email protected], Directora : Anabela Lemos Conselho Editor: Anabela Lemos, Daniel Ribeiro, Janice Lemos, Jeremias Vunjanhe, Sílvia Dolores , Vanessa Cabanelas e Nilza Matavel DESTAQUES: Corrupção na Camargo Corrêa - Pág 4 Recursos Florestais da Província de Tete uma riqueza finita - Pág 5 Saneamento do meio saúde e ambiente - Pág 9 As comemorações alu- sivas ao 21 de Março - Pág 10 Marcha Mundial pela Paz e Não Violência - Pág 11

Upload: justica-ambiental

Post on 22-Mar-2016

226 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

Newsletter mensal da organização não governamental moçambicana Justiça Ambiental.

TRANSCRIPT

Page 1: Newsletter Março 2009

Propriedade da JA! Rua Marconi n 110 z andar Maputo Tel: 21496668

Email: [email protected], [email protected], Dircectora : Anabela Lemos Conselho Editor: Anabela Lemos, Daniel Ribeiro, Janice Lemos, Jeremias

Vunjanhe, Sílvia Dolores e Vanessa Canabelas

Gostaríamos de esclarecer alguns mal entendidos em relação ao proposto projecto da barragem de Mphan-

da Nkuwa, talvez a Justiça Ambiental consiga fazer com que os cidadãos bem intencionados vejam a luz

no fundo de um túnel demasiado escuro, há muitos anos que andamos a chamar à atenção sobre este

assunto.

Depois dos vários artigos escritos nas ultimas semanas tanto no jornal Noticias, como no País assim

como uma entrevista na TVM, aqui vão alguns comentários para vossa reflexão.

Começaremos pelos tão falados estudos, não o estudo de viabilidade apresentado em 2002, mas se real-

mente existem outros estudos, como dizem, que deram luz verde ao projecto, serão os estudos feitos em

2004/5 ou será a revisão feita em 2007 pela Camargo Correia?

Que nos apresentem, pois só assim poderemos saber se realmente estes estudos correspondem às nossas

preocupações.

Sobre a questão de ter acesso aos referidos documentos para examiná-los, mas não podendo facultar uma

copia para poder analisá-los, como foi declarado na TVM (entrevista no Programa “Bom Dia Moçambi-

que” dia 26 de Março de 2009), com todo o respeito, não só não tivemos acesso aos referidos documentos

nem sequer em copia, pois questões como a sismologia do local é necessário enviar para ser analisado por

um especialista, e sim , infelizmente, por falta de quadros especializados moçambicanos em certas áreas é

que necessitamos do apoio de um especialista estrangeiro..... será que todos os estudos feitos no projecto

da barragem de Mphanda Nkuwa, foram feitos SÓ POR Moçambicanos? Ou tiveram que ter o apoio de

estrangeiros?

Por favor, meus senhores, vamos ser realistas.

O que é informar?

Informar é transmitir o nosso conhecimento à pessoa que solicita, não escondendo factos ou dados.

Mphanda Nkuwa...que mais poderei dizer? Por: Anabela Lemos

E D I Ç Ã O D E M A R Ç O , 2 0 0 9 I I V O L U M E

Propriedade da JA! Rua Marconi n 110 1 andar Maputo Tel: 21496668

Email: [email protected], [email protected], Directora : Anabela Lemos Conselho Editor: Anabela Lemos, Daniel Ribeiro, Janice Lemos, Jeremias

Vunjanhe, Sílvia Dolores , Vanessa Cabanelas e Nilza Matavel

DESTAQUES:

Corrupção na Camargo Corrêa - Pág 4

Recursos Florestais da Província de Tete uma

riqueza finita - Pág 5

Saneamento do meio

saúde e ambiente - Pág 9

As comemorações alu-sivas ao 21 de Março -

Pág 10

Marcha Mundial pela Paz e Não Violência -

Pág 11

Page 2: Newsletter Março 2009

Quanto a questão da JA se dirigir ou não ao Governo! Bem, o que poderei dizer ?

Nestes últimos 7 anos, não temos feito mais que escrever para todos os órgãos do Governo desde a UTIP, MICOA, Ministério de

Obras publicas, Ministério da Energia e até para o Parlamento, levando as nossas preocupações, pedindo os estudos, feito pesquisas,

reuniões, debates com a sociedade civil, órgãos governamentais e comunidades afectadas, a Justiça Ambiental já saturou todo o País

com as dúvidas e a informação disponível sobre este projecto, preocupações, impactos sociais e ambientais, necessidades de energia

do País, alternativas, directrizes da Comissão Mundial de Barragens (CMB)... que mais podemos fazer? Muito admirados ficamos

quando ouvimos a entrevista da TVM perguntarem qual a razão de não dirigirmos ao Governo !

Foram feitos estudos por consultores independentes, entre outros, FIVAS, ITC e todos eles apresentaram sérias preocupações em

relação a este projecto.

Sobre as companhias que fizeram o estudo de 2002, como todos devemos saber a tal e tão proclamada Lahmeyer, já esteve envolvi-

da no caso de corrupção no projecto da barragem do Lesotho! Querem mais?

De certeza que isto não nos dá muito confiança e credibilidade, ou será que estamos errados?

Sobre a Eskom, o que podemos dizer e que ainda talvez não foi dito, é que na África do Sul, a Eskom fez parte dum processo mul-

ti-stakeholder sobre a posição da CMB, em que a África do Sul tem uma posição sobre as directrizes da CMB, e que para a cons-

trução de uma barragem tem que se seguir essas directrizes, mas como Moçambique está fora da África do Sul os padrões já são

outros, será que isto é correcto?

Moçambique é um paraíso para aqueles que não estão interessados ou preocupados com o País e o seu povo, ou nos impactos que

estes projectos terão nos recursos naturais, só estão interessados nos lucros que possam usufruir, e porquê?

Porque temos uma sociedade civil fraca, e quando levantamos as nossas vozes contra certos projectos, somos logo acusados de ser

contra o desenvolvimento e anti-patriotas!

É assim que a nossa sociedade civil acaba por baixar os braços e calar e... deixar andar. É mais simples e muito cómodo para muita

gente.

Nenhum País pode ser governado só por interesses económicos, para existir um desenvolvimento mais sustentável, em que hoje e

amanhã possamos usufruir dos nossos recursos naturais, temos que nos preocupar sempre com os três pilares mais importantes da

sustentabilidade: social, económico e ambiental.

Nada justificará os riscos que esta barragem poderá provocar, a falta de transparência que existe desde do inicio deste projecto ainda

é mais assustador, por isso perguntamos, para ser um bom patriota devíamos simplesmente fechar os olhos e deixar que aconteça o

pior?

Page 3: Newsletter Março 2009

P A G E 3

Se realmente o Governo quer ir para a frente com este projecto, so há uma solução...PARAR, analisar o projecto, ouvir as preo-

cupações da sociedade, fazer estudos de sismologia da área, sedimentos do rio, dos impactos a jusante para as comunidades que

tanto dependem do rio, só depois de todos estes estudos bem analisados, é que se poderemos então decidir, se Mphanda Nkuwa

será realmente um bom negócio para Moçambique e para todos os Moçambicanos.

No dia 24 de Fevereiro, no seminário acolhido pela MICOA e organizado pela Agence Française de Developpement (AFD)

sobre “Recursos naturais, meio ambiente e o crescimento sustentável em Moçambique “foi apresentado um estudo (draft) sobre a

riqueza do País, em que segundo o documento apresentado a “sustentabilidade do crescimento está em risco, a acumulação de

riqueza em Moçambique, em que as poupanças líquidas ajustadas estão em menos de 14%, esta abordagem evidencia que a actual

trajectória de desenvolvimento económico de Moçambique não é sustentável: as negativas poupanças liquidas ajustadas(2005)

revelam uma maior destruição da riqueza do que a sua acumulação – pondo por conseguinte em perigo o futuro crescimento e

bem estar”(tirado do documento de um relatório (draft) do seminário “ Recursos naturais, meio ambiente e crescimento susten-

tável em Moçambique “AFD e Micoa 24 de Fevereiro de 2009)

Será que não devíamos dar mais atenção e reflectir um pouco mais sobre este estudo que foi apresentado?

Foto de: Daniel Ribeiro

Page 4: Newsletter Março 2009

P A G E 4 I I V O L U M E

Quinta-feira, 26 de Março de 2009, (Com Anne Warth, da Agência Estado, e David Friedlander e Fausto Macedo, de O Estado de S. Paulo) SÃO PAULO - A Operação Castelo de Areia foi deflagrada na última quarta-feira, 25, pela Polícia Federal e atingiu executivos da empreiteira Camargo Corrêa. Segundo a PF, a trama consistia em licitações fraudulentas, obras públicas superfaturadas e remessa de valores desviados do Tesouro para paraísos fiscais. "Há fortes indícios de que a empresa utilizava-se de offshores e do sistema de dólar cabo para remessas de quantias para o exterior", disse o delegado Alberto Iegas, coordenador da PF em São Paulo do combate ao crime organizado. Em nota, a Camargo Corrêa negou irregularidades e se declarou "perplexa". A operação Operação prendeu 10 pessoas e vasculhou 16 endereços, onde foram recolhidos computadores, armas, quadros, documentos e pelo menos R$ 1 milhão em dinheiro. A força-tarefa estava em busca de um pen drive onde estaria armazenada a suposta contabilidade paralela da organização e uma lista de políticos beneficiados. Os presos Quatro executivos da empreiteira foram detidos: Fernando Dias Gomes, Dárcio Brunato, Pietro Francisco Bianchi e Raggi Badra Neto. Também foram presas duas secretárias da diretoria, Marisa Berti Iaquino e Darcy Flores Alvarenga. Os quatro doleiros são: Jose Diney Mattos, Jadair Fernandes de Almeida, Maristela Brunet e Kurt Paul Pickel - este, suíço naturali-zado brasileiro, é apontado como o articulador da parceria entre a cúpula da empreiteira, partidos e paraísos fiscais. Valores A primeira etapa da investigação aponta para evasão de R$ 20 milhões, em estimativa da Procuradoria da República. Doações ilegais a políticos Sete partidos políticos (PPS, PSB, PDT, DEM, PP, PMDB e PSDB) são citados na operação como supostos destinatários de doa-ções de recursos ilícitos a partir de esquema envolvendo diretores da construtora Camargo Corrêa e doleiros. Interceptações telefônicas da PF mostram investigados falando de políticos que teriam recebido dinheiro, entre eles os senadores Agripino Maia (DEM-RN) e Flexa Ribeiro (PSDB-PA) - R$ 300 mil para o primeiro, R$ 200 mil para o tucano. Os dois confirmaram a captação dos recursos, mas alegam que foram doações registradas na Justiça Eleitoral. Também há citações, em conversas de terceiros que a PF monitorou, ao empresário Paulo Skaf, presidente da Federação das Ind-ústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), e a um diretor da entidade, identificado como Luiz Henrique. Investigação O inquérito, iniciado em janeiro de 2008 - a partir de vigilância a um doleiro - aponta para Fernando Arruda Botelho, um dos sócios da Camargo Corrêa. Ele não teve sua prisão decretada, mas é alvo da investigação. A PF apreendeu armas em um cofre de Botelho. A investigação da PF sugere que Botelho teria participado da distribuição de doações da empreiteira para partidos. Ele é vice-presidente da Fiesp. Numa conversa telefônica captada pelos agentes, Botelho teria conversado sobre atrasos na liberação de recur-sos. Se desejar mais informações sobre este assunto acesse os seguintes sites na internet : www.estadao.com.br www.folha.com.br http://www.internationalrivers.org/en/blog/glenn-switkes/pizza-public-works

Operação que atingiu a Camargo Corrêa no Brasil

Page 5: Newsletter Março 2009

P A G E 5

Moçambique e Seus Recursos Florestais: Uma Riqueza Finita! Por : Jeremias Vunjanhe

Com uma extensão florestal de 4221.4 hectares, dos quais 3339.8 ha são produtivos e 881.5 ha não

produtivos, a Província de Tete, apesar de não ser uma das províncias com maior cobertura florestal,

apresenta um quadro sombrio e deveras assustador na exploração destes recursos.

A exploração ilegal das florestas e a não observância das normas de corte de madeira, exploração de

carvão vegetal e mineral, queimadas florestais, exploração de areia e caça furtiva; proliferação de mui-

tos operadores em regime de licença simples que se dedicam a exploração de carvão vegetal; medo e

falta de coragem por parte dos operadores e das populações em denunciarem a exploração ilegal em

períodos de defeso por parte de operadores com ligações de figuras sonantes da política e o fraco sis-

tema de fiscalização constituem os problemas mais candentes do sector florestal naquela província

central de Moçambique.

Numa viagem àquele ponto do País, implicou uma longa caminhada e um riquíssimo aprendizado

pelos Distritos de Moatize, Marávia, Macanga, Mutarara, Songo e da própria Cidade de Tete. Teste-

munhamos“in loco” o quão triste e violento é observar o contraste da convivência num mesmo espaço

e tempo duma realidade inconveniente e inexplicável, a miséria num solo riquíssimo.

Nesses Distritos e por mais de 10 dias, da Cidade de Tete passámos sucessivamente pelas

Comunidades de Djenge, Nhampriri, Mitachi, floresta de Chicongolo, Kokwé, Madamba,

Cidade de Moatize, Macanga-sede, posto administrativo de Chizolomondi, Regulado de

Chimbuto e Povoado de Mvende no Distrito de Macanga, Chombe e Chazia no Distrito de

Mutarara, Maravia e Songo nomeadamente a Hidroelétrica de Cahora Bassa.

Ao longo deste percurso mantivemos contacto com mais de 100 pessoas entre funcionários

públicos, exploradores madeireiros, líderes comunitários, ou melhor Mfumos, Ndunas entre

cidadãos simples, homens e mulheres, crianças, jovens e adultos, nacionais e estrangeiros,

plantas e animais, cultura e tradição, enfim, foi um encontro com Moçambique e com a

Natureza na sua dura e péssima realidade, marcada pela miséria, “desumanidade”, explora-

ção, escravatura e pela extinção. Contudo e para nosso grande espanto, difícil foi o encontro

com o presente e com o futuro. O mais agravante foi o desencontro com o Estado moçambicano. Foto de:

Daniel Ribeiro

Page 6: Newsletter Março 2009

P A G E 6 I I V O L U M E

Esmeraldo João Garrafa e Rencastro Domingos Escova são dois exemplos vivos da desumanidade e autêntica escravatura pratica-

da pelo Estado moçambicano, resultante da sua ausência na Localidade de Madamba, Distrito de Moatize. Aqueles agentes de

fiscalização comunitários, ou seja fiscais comunitários, há três anos que trabalham das 7.00 às 18.00 horas, havendo dias que per-

noitam neste local ou mesmo nas comunidades circunvizinhas que chegam a equidistar cerca de 50km. São três anos de uma dura

batalha travada por aqueles dois homens que acreditam na promessa do Estado e incapazes de assumir que este podera estar a

violar os mais elementares direitos dos seus cidadãos, consagrados na Constituição da República, e na restante legislação em vigor

em Moçambique. Garrafa e Escova, dois de entre várias vítimas da demissão de um Estado, contaram que durante o exercício das

funções que lhes foram confiadas pelo Estado e pelo povo, em defesa da Soberania Nacional e respectiva riqueza, estão desprovi-

dos de condições mínimas de trabalho desde alimentação, meios de transporte e comunicação, fardamentos, botas, algemas,

armas, etc. Este facto é agravado pela ausência de salário ou pelo menos pela remuneração do nunca chegado valor proveniente das

comparticipações da venda dos produtos apreendidos.

Esta situação agrava-se a cada dia que passa com a crescente exploração madeireira e respectiva exportação, principalmente para a

China registada nos últimos dois anos. A mesma revela uma perspectiva preocupante de quanto mais se corta, se exportar e se fac-

turar, como tem acontecido, mais incerto e mísero será o futuro das comunidades rurais, aumentado a sua vulnerabilidade a

desastres naturais cujos alertas chegam de todos cantos do Mundo e dos quais o País já se ressente.

Nos últimos quatro anos, o Sector de Floresta da Província de Tete sofreu uma pesada invasão. Operadores nacionais vindos das

Cidades de Quelimane, Beira, Chimoio, Inhambane, Xai-Xai e Maputo e estrangeiros vindos da China, juntaram-se aos locais na

anárquica disputa pelos recursos florestais. Os Chineses, com o seu poderio financeiro e tecnológico sairam vencedores, devastan-

do extensas áreas, “assassinando” várias espécies madeireiras. Resultado? Em menos de dois anos deixaram a Província muito mais

pobre do que já era.

Face a este cenário, as comunidades rurais de toda a Província de Tete estão

apreensivas e preocupadas pela delapidação e má gestão dos recursos naturais

de que até então dispunham, e pelo impacto devastador que daí poderá advir.

Para aquelas comunidades, as florestas constituem a única e segura herança

fonte de subsistência e que simboliza a passagem de testemunho de gerações

passadas as quais lamentam não poderem transmiti-la para as gerações vindou-

ras, limitando-se apenas a assistir à sua extinção.

A crescente depredação de recursos naturais e florestais naquelas comunidades

demonstra a face mais visível de um Estado “desumano”, conivente e incapaz de

conter esta barbaridade e de assumir um compromisso com o seu povo.

Foto de Daniel Ribeiro

Page 7: Newsletter Março 2009

P A G E 7

Mais do que alargar o seu âmbito de participação e criação de condições para o seu bem-estar, é fundamental, devolver-lhes a

sua dignidade. As populações locais são confrontadas com esta questão de fundo da qual o principal promotor é o Estado se é

que assim se pode designar, porque, em parte alguma, não há quem se digne a chamar Estado a um corpo de instituições que

não dão primazia ao ser humano.

Sendo assim, a escassez de recursos florestais e naturais revelar-se-á dentro dos próximos anos o resultado de uma falta de

visão a longo prazo das autoridades moçambicanas que injustamente condenam a maioria dos moçambicanos às condições de

indigentes sem qualquer perspectiva de desenvolver seu potencial humano e criativo.

Nesse sentido, se:

• a emissão de licenças tanto simples como concessões às operadores nacionais e estrangeiras,

• a madeira continuar a ser exportada nos moldes actuais, isto é, em toros;

• o défice no sistema de fiscalização prevalecer e continuar desprovido de meios materiais e/ou financeiros, como por exem-

plo a existência de apenas um carro para os 13 Distritos de Tete;

• o envolvimento pouco claro dos membros do Governo Provincial na exploração madeireira em tempo de defeso, em pro-

miscuidade com as empresas madeireiras estrangeiras;

• os governantes por via de seus assessores, ajudantes de campo ou esposas continuarem a explorar a madeira indiscriminada-

mente e em tempo de defeso, envolvendo-se em esquemas de contrabando, fuga ao fisco, continuarem impunes ;

• os 20% do fundo provenientes do pagamento das taxas de exploração florestal destinadas às comunidades continuarem

nos cofres do Estado, se é que continuam, alegadamente por falta de documentação das populações;

• o desenvolvimento da Província de Tete e de Moçambique depender unicamente da venda e leilão das vastas e riquíssimas

riquezas naturais de que a Província e o País dispõem,

é inevitável que os moçambicanos, cerca de 18 anos depois do acordo geral de paz, sintam o seu sonho diluido ao longo dos

tempos. Um sonho inspirado na utopia de um projecto de democratização do País resultante de num processo de apropriação

de novos mecanismos de desenvolvimento e sua integração na sociedade moçambicana através da melhoria das condições de

vida. Um sonho que pode transformar-se num pesadelo uma vez que caminha para uma situação imprevista e desastrosa, pelo

menos, para a maioria da população que vive nas comunidades rurais.

Page 8: Newsletter Março 2009

P A G E 8 I I V O L U M E

Contudo, embora muita coisa se tenha perdido ainda nos resta uma dose de esperança que por si só não basta! É preciso

agir urgentemente para travar estes desmandos! Inverter esta situação requer a tomada de medidas concretas, imprimindo

mudanças nas estruturas actuais de modelos de exploração dos recursos florestais para que as populações tenham condi-

ções de satisfazer as suas necessidades básicas e criar oportunidades iguais para cada um, de realizar o seu potencial indi-

vidual e comunitário com base nas riquezas naturais à sua volta, melhorando as condições humanas e restaurando a dig-

nidade existencial dos moçambicanos.

Foto de : Daniel Ribeiro

Page 9: Newsletter Março 2009

P A G E 9

Saneamento saúde e ambiente Por: Arsénio Banze

Nos últimos anos Moçambique tem sofrido uma enorme degradação do meio ambiente, particularmen-

te nas grandes cidades, motivada por um rápido e crescente número de pessoas que vivem nestas cidades

de forma desorganizada.

Devido ao elevado fluxo de pessoas e serviços, existe uma grande necessidade de controle dos factores

do meio físico do Homem nestas cidades, meio esse que pode exercer um efeito negativo sobre o seu

bem-estar físico, mental e social ou seja, sobre a saúde da população.

Saneamento do meio significa o tratamento das condições do meio envolvente da nossa vida e das

medidas que podemos tomar no sentido de melhorar a nossa saúde.

Em Moçambique, o deficiente saneamento do meio, as condições precárias de higiene e o acesso limita-

do à água em qualidade e quantidade, constituem os pontos principais e determinantes para o apareci-

mento de doenças como as diarreias, cólera, parasitoses intestinais, malária e doenças da pele, que mui-

tas vezes têm afectado a população.

Nas grandes cidades de Moçambique o saneamento do meio tende a ser cada vez mais problemático

devido a deficiências nos sistemas de saneamento (ex: falta de contentores para recolha de lixo, rompi-

mento ou entupimento dos sistemas de esgotos, etc ), à ignorância, miséria, hábitos culturais impró-

prios, ocupação e habitação inadequada.

Vários dejectos como lixo, fezes e urina são depositados em locais públicos a céu aberto numa

total ignorância de todos os perigos que acarretam para os cidadãos e nos mercados são vários os

alimentos comercializados em péssimas condições de higiene. Nas casas de banho públicas das

escolas, bares e mercados persiste a dificuldade de acesso dado o alarmante estado de higiene.

A melhoria das condições de saneamento do meio visam fundamentalmente a diminuição dos ris-

cos de contaminação do Homem por doenças de transmissão por via hídrica e outra, contribuindo

também como uma medida para a preservação e melhoria do meio ambiente.

Foto de: Nilza Matavel

Page 10: Newsletter Março 2009

P A G E 1 0

As Comemorações do 21 de Março em Moçambique Por: Nilza Matavel

Como é comemorado o dia 21 de Março em Moçambique? Será que o dia é comemorado? Será que

a primeira questão a colocar não seria...“qual o significado deste dia para a população Moçambica-

na? ”? Desconhecido por muitos e ignorado por outros, o dia 21 de Março é conhecido como o dia

Mundial das Florestas e é comemorado a nível mundial desde 1972.

Sem querer tirar o mérito das iniciativas de algumas de Organizações da Sociedade Civil que pro-

moveram actividades alusivas a este dia, a nível Nacional ''muito pouco ou nada tem vindo a fazer''

pela causa.

Contudo por esta, as Florestas Moçambicanas são utilizadas por todos, do Rovuma ao Maputo, do

Zumbo ao Índico, de forma directa e indirecta, como fonte de matéria-prima e alimentos, como

local sagrado de veneração dos antepassados, na simples forma de um papel de recibo quando com-

pramos algo, até ao pau de pilar que as “nossas mamãs” usam para processar o amendoim.

A notável falta de interesse pelas questões ambientais, leva a reflectir se em algum momento, as pes-

soas se questionam de onde vem a matéria-prima para fabricar a cama onde dormem, as bancas dos

mercados, as belíssimas esculturas de Pau-Preto, o papel que usam diariamente etc.

Uma coisa é certa, a importância das florestas é conhecida desde o tempo dos nossos antepassados e

esta informação foi passada de gerações para gerações. Contudo os aspectos relacionados com

sua protecção e preservação foram-se perdendo ao longo dos tempos.

As datas ambientais foram estabelecidas com o objectivo de relembrar mundialmente (pelo

menos uma vez por ano), a importância do assunto em questão.

Em um País como Moçambique, onde as florestas são uma das maiores riquezas e fonte de

sobrevivência para as comunidades, seria de bom-tom não deixar o dia passar em branco. Assim

deste modo e para além de demonstrar interesse e preocupação pelo assunto é sempre uma

oportunidade de consciencializar a população sobre a importância do uso sustentável das nossas

florestas.

Só para recordar e na esperança de que as próximas datas ambientais sejam recordadas aqui vão

algumas datas ambientais de relevância:

Datas Ambientais Abril 22 - Dia do Planeta Terra Maio 22 - Dia Internacional da Conservação da Biodiversidade Junho 05 - Dia Mundial do Meio Ambiente 08 - Dia Mundial dos Oceanos 17 - Dia Mundial de Combate a Desertificação e à Seca Agosto 14 - Dia Mundial do Controle e Combate à poluição Setembro 16 - Dia Mundial para Preservação da Camada de Ozono Outubro 10 - Dia internacional para Redução dos Desastres Naturais

Foto de: Anabela Lemos

Page 11: Newsletter Março 2009

P A G E 1 1 I I V O L U M E

O que é Marcha Mundial?

A Marcha Mundial é uma forma de manifestação contra violência Mundial. A iniciativa foi criada pela Organização Internacio-

nal “Mundo sem Guerras” e tem como objectivo criar, globalmente, consciência sobre a necessidade urgente de condenar e ter-

minar todas as formas de violência para estabelecer a Paz.

Quando acontecerá?

A Marcha Mundial iniciará em 2 de Outubro de 2009 na Cidade de Wellington (Nova Zelândia). A data de 2 de Outubro foi

escolhido porque é o aniversário do nascimento de Gandhi e foi declarado pelas Nações Unidos “Dia internacional da Não-

violência” . A Marcha percorrerá todos os Continentes do Mundo, estando o seu término previsto para o dia 2 de Janeiro de

2010, nas Montanhas dos Andes, Punto de Vacas, Aconcagua, Argentina. Em Moçambique decorrerá de 2 a 15 de Dezembro

de 2009, dando continuidade ao percurso percorrido na África Austral, que passa pela Etiópia, Kenya e Tanzânia.

Para aderir ou ter mais informações sobre a Marcha, acesse à internet através dos seguintes sites:

http://marchamundialmoz.blogspot.com/

http://marchamundial.org/ A Caravana de livros Trata-se de uma iniciativa do Grupo de Coordenação da Marcha Mundial em Moçambique e surgiu no âmbito das suas activida-

des para divulgação da informação sobre a marcha no País.

Entretanto e neste caso aqui, em Moçambique, desde o dia 7 Março do corrente ano, todos os sábados, das 10.00 as 14.00 horas,

a caravana passa, por alguns bairros da cidade de Maputo.

Para além de divulgar informação da marcha Mundial pela Paz, a caravana, ocupa-se também da venda de livros a preço simbóli-

co, troca de livros usados e educação ambiental aos residentes locais. O tema escolhido para educação ambiental foi os sacos plás-

ticos e seus impactos na vida do Homem. Esta iniciativa, conta com a colaboração da Justiça Ambiental que recentemente aderiu

à marcha.

Os Bairros por onde a caravana já passou foram: Polana Caniço A, Triunfo e Lhanguene e Bagamoyo.

Marcha Mundial Pela Paz e Não Violência

Page 12: Newsletter Março 2009

Se eu fosse

Se eu fosse a Natureza Aos Homens eu iria reclamar

Tantas florestas destruídas Tanta poluição no ar

Os golfinhos e os peixes

Já estão a temer: “O que faremos nós

Se tudo isto desaparecer?”

Os elefantes e os coelhos Também já estão a perceber

A gravidade da situação “O que iremos nós comer?”

E o Homem, o mais inteligente

É o único que ainda não percebeu E ainda diz, todo contente:

“Mais uma fábrica, lá vou eu!”

A Natureza aqui deixa o seu recado E recompensa com gratidão

Aquele que a vier apoiar E lhe vier dar a mão

Erika Serôdio Mendes

Maputo,1999

Page 13: Newsletter Março 2009

BREVES

P A G E 1 3

Vaticano acusa multinacionais de se apropriar dos recursos da África

FAO pede melhor gestão das florestas do mundo

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação ( FAO) pediu neste mês de Março à comunidade inter-

nacional que melhore a gestão do sector florestal diante da nova conjuntura económica e das mudanças climáticas.

"Adaptar as instituições florestais às rápidas mudanças do meio ambiente é um grande desafio", disse o director geral adjunto

do departamento florestal da FAO, Jan Heino.

Para a FAO, a demanda mundial de produtos e serviços ambientais deve aumentar nas próximas décadas em todo o mundo.

"Em África, a diminuição das florestas continuará a ritmo actual" acrescentou.

Na Ásia e no Pacífico, onde vive a metade da população mundial, com alguns dos países mais populosos do planeta, a demanda

de madeira e produtos madeireiros deve continuar aumentando.

O relatório destacou a Europa pela "política bem desenvolvida de protecção ao meio ambiente".

A FAO indica que "Plantar árvores, aumentar os investimentos em gestão florestal sustentável, uma promoção activa da madei-

ra na construção com critérios ambientais e energias renováveis, devem ser parte integral do desenvolvimento verde", sugere o

relatório da FAO.

Fonte: Yahoo!

O Vaticano acusou as multinacionais de "invadir" gradualmente o continente africano para se apropriar dos recursos naturais,

com a cumplicidade dos dirigentes locais, que colocam obstáculos à democratização de seus países.

Assim afirma o "Instrumentum laboris" (documento de preparação) do 2º Sínodo de Bispos para a África, que acontecerá de 4

a 25 de Outubro, no Vaticano, e debaterá sobre a Igreja no continente a serviço da reconciliação, da justiça e da paz.

O documento foi entregue pelo papa Bento XVI em Yaoundé aos presidentes das 36 conferências episcopais africanas no pri-

meiro dia da sua visita ao continente africano em 16 de Março.

Sobre a presença das multinacionais, o Vaticano afirma que estas "continuam a invadir gradualmente o continente para se

apropriar de seus recursos naturais»

Fonte:AgênciaEfe

BREVES

Page 14: Newsletter Março 2009

P A G E 1 4 I I V O L U M E

A Organização das Nações Unidas(ONU) alertou que mais da metade da população mundial – mais de três biliões de

pessoas – sofrerá escassez de água em 2025. De acordo com a ONU se as actuais tendências continuarem, incluindo as

secas, o aumento populacional, a crescente urbanização, a mudança climática, a proliferação indiscriminada do lixo e a má

administração dos recursos, o mundo se dirigirá para uma catástrofe.

Estes dados foram divulgados à margem do Quinto Fórum Mundial da Água, realizado em Istambul, Turquia, entre 16 e

22 deste mês.

Por outro lado, o director-geral do Conselho Mundial da Água (CMA), Ger Bergkamp disse que enquanto a população do

planeta triplicou no século XX, o uso de recursos renováveis de água cresceu seis vezes. “Nos próximos 50 anos, a popula-

ção mundial crescerá 40% ou 50%. Este umento populacional, somado à industrialização e à urbanização, provocará uma

demanda maior de água e terá sérias consequências para o meio ambiente”, afirmou

Fonte:IPS/Envolverde

Água: Escassez afectará metade do planeta

"Primeiro eles ignoram depois se riem de ti

mais tarde lutam contra ti mas no fim tu Ganhas."

Ghandyi’

"O ser inteligente resolve o problema, o sábio evita o problema." Einstein