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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 7ª VARA FEDERAL CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO Distribuição por dependência ao Inquérito Policial nº 0505289-86.2017.4.02.5101 (IPL 52/2017 – DELECOR) e aos seguintes processos cautelares relacionados à OPERAÇÃO PONTO FINAL: 0504942-53.2017.4.02.5101, 0504948-60.2017.4.02.5101, 0505155-59.2017.4.02.5101, 0143239- 97.2017.4.02.5101 e 0505154-74.2017.4.02.5101 (prisões e buscas); 0504252-24.2017.4.02.5101, 0505336-60.2017.4.02.5101 e 0505075-95.2017.4.02.5101 (quebra telemática); 0504675- 81.2017.4.02.5101 (quebra telefônica); 0504612-56.2017.4.02.5101 e 0504668-89.2017.4.02.5101 (quebra bancária e fiscal); 0504767-59.2017.4.02.5101 (monitoramento telefônico); 0505710- 76.2017.4.02.5101 (colaboração); 0505068-06.2017.4.02.5101 (inominada); 0505056- 89.2017.4.02.5101, 0505285-49.2017.4.02.5101, 0505237-90.2017.4.02.5101, 0505238- 75.2017.4.02.5101, 0505239-60.2017.4.02.5101, 0505240-45.2017.4.02.5101, 0505244- 82.2017.4.02.5101, 0505245-67.2017.4.02.5101, 0505251-74.2017.4.02.5101, 0505252- 59.2017.4.02.5101, 0505253-44.2017.4.02.5101, 0505254-29.2017.4.02.5101, 0505255- 14.2017.4.02.5101, 0505256-96.2017.4.02.5101, 0505257-81.2017.4.02.5101, 0505258- 66.2017.4.02.5101, 0505259-51.2017.4.02.5101, 0505222-24.2017.4.02.5101, 0505223- 09.2017.4.02.5101 e 0505313-17.2017.4.02.5101 (sequestro) O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelos Procuradores da República que ao final subscrevem 1 , no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, em especial a disposta no art. 129, I, da Constituição Federal, vem oferecer DENÚNCIA em desfavor de: 1) SÉRGIO DE OLIVEIRA CABRAL SANTOS FILHO (SÉRGIO CABRAL), CPF nº , CI nº , brasileiro, divorciado, jornalista, nascido no Rio de Janeiro, aos 27 de janeiro de 1963, filho de e , com endereço na , Rio de Janeiro, atualmente custodiado na Cadeia Pública José Frederico Marques, localizada na Rua Célio Nascimento, S/N, Benfica, Rio de Janeiro-RJ; 2) CARLOS EMANUEL DE CARVALHO MIRANDA (CARLOS MIRANDA), CPF nº , CI nº brasileiro, casado, empresário, nascido em Recife–PE aos 13 dias de março de 1968, filho de e , com 1 Designados para atuar em auxílio ao Procurador natural neste feito e conexos pela Portaria PGR/MPF nº 502, de 9 de junho de 2017. 1 Assinado com login e senha por JOSE AUGUSTO SIMOES VAGOS, em 07/08/2017 18:01. Para verificar a autenticidade acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 87AB0C71.D712C0DB.42A42D4B.693B4060

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 7ª VARA FEDERAL CRIMINAL

DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO

Distribuição por dependência ao Inquérito Policial nº 0505289-86.2017.4.02.5101 (IPL 52/2017 – DELECOR) e aos seguintes processos cautelares relacionados à OPERAÇÃO PONTO FINAL:

0504942-53.2017.4.02.5101, 0504948-60.2017.4.02.5101, 0505155-59.2017.4.02.5101, 0143239-97.2017.4.02.5101 e 0505154-74.2017.4.02.5101 (prisões e buscas); 0504252-24.2017.4.02.5101, 0505336-60.2017.4.02.5101 e 0505075-95.2017.4.02.5101 (quebra telemática); 0504675-81.2017.4.02.5101 (quebra telefônica); 0504612-56.2017.4.02.5101 e 0504668-89.2017.4.02.5101 (quebra bancária e fiscal); 0504767-59.2017.4.02.5101 (monitoramento telefônico); 0505710-76.2017.4.02.5101 (colaboração); 0505068-06.2017.4.02.5101 (inominada); 0505056-89.2017.4.02.5101, 0505285-49.2017.4.02.5101, 0505237-90.2017.4.02.5101, 0505238-75.2017.4.02.5101, 0505239-60.2017.4.02.5101, 0505240-45.2017.4.02.5101, 0505244-82.2017.4.02.5101, 0505245-67.2017.4.02.5101, 0505251-74.2017.4.02.5101, 0505252-59.2017.4.02.5101, 0505253-44.2017.4.02.5101, 0505254-29.2017.4.02.5101, 0505255-14.2017.4.02.5101, 0505256-96.2017.4.02.5101, 0505257-81.2017.4.02.5101, 0505258-66.2017.4.02.5101, 0505259-51.2017.4.02.5101, 0505222-24.2017.4.02.5101, 0505223-09.2017.4.02.5101 e 0505313-17.2017.4.02.5101 (sequestro)

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelos Procuradores da

República que ao final subscrevem1, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais,

em especial a disposta no art. 129, I, da Constituição Federal, vem oferecer DENÚNCIA em

desfavor de:

1) SÉRGIO DE OLIVEIRA CABRAL SANTOS FILHO (SÉRGIOCABRAL), CPF nº , CI nº , brasileiro,divorciado, jornalista, nascido no Rio de Janeiro, aos 27 de janeiro de1963, filho de e ,com endereço na , Rio deJaneiro, atualmente custodiado na Cadeia Pública José Frederico Marques,localizada na Rua Célio Nascimento, S/N, Benfica, Rio de Janeiro-RJ;

2) CARLOS EMANUEL DE CARVALHO MIRANDA (CARLOSMIRANDA), CPF nº , CI nº brasileiro,casado, empresário, nascido em Recife–PE aos 13 dias de março de 1968,filho de e , com

1 Designados para atuar em auxílio ao Procurador natural neste feito e conexos pela Portaria PGR/MPF nº 502,de 9 de junho de 2017.

1

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

endereço na , atualmente custodiado na Cadeia Pública José Frederico Marques,

localizada na Rua Célio Nascimento, S/N, Benfica, Rio de Janeiro-RJ;

3) LUIZ CARLOS BEZERRA (CARLOS BEZERRA), CPF nº, CI nº , brasileiro, casado, servidor

público estadual, nascido no Rio de Janeiro–RJ, aos 17 dias de outubro de1959, filho de ,com endereço na , Rio deJaneiro, atualmente custodiado na Cadeia Pública José Frederico Marques,localizada na Rua Célio Nascimento, S/N, Benfica, Rio de Janeiro-RJ;

4) ÁLVARO JOSÉ GALLIEZ NOVIS (ÁLVARO NOVIS), CPF nº, CI nº , brasileiro, casado,

empresário, nascido em 29/01/1965, filho de

5) EDIMAR MOREIRA DANTAS (EDIMAR DANTAS), CPF n., filho de e

, nascido em 31/08/1959, com endereço a ;

6) JOSÉ CARLOS REIS LAVOURAS (JOSÉ CARLOS LAVOURAS),com dupla cidadania (brasileiro e português), casado, empresário ePresidente do Conselho de Administração da FETRANSPOR, passaportebrasileiro , CPF , RG –

, NIF , nascido em 18/06/1957, filho de , residente na

Rio de Janeiro, Brasil, bem como residência fiscal na , ou na

, ou na , todos em Portugal;

7) JACOB BARATA FILHO, brasileiro, empresário, casado, CPF nº, CI nº , nascido em 24/05/1954, filho de

e , residente na Rua , celular (21) ,

atualmente custodiado na Cadeia Pública José Frederico Marques,localizada na Rua Célio Nascimento, S/N, Benfica, Rio de Janeiro-RJ;

8) LÉLIS MARCOS TEIXEIRA (LÉLIS TEIXEIRA), brasileiro,casado, ex-Presidente Executivo da FETRANSPOR, CPF nº

, CI nº , nascido em 20/11/1951, filho de e , residente na Av

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

- Rio de Janeiro – RJ, atualmentecustodiado na Cadeia Pública José Frederico Marques, localizada na RuaCélio Nascimento, S/N, Benfica, Rio de Janeiro-RJ;

9) MARCELO TRAÇA GONÇALVES (MARCELO TRAÇA),brasileiro, casado, empresário e vice-Presidente do Conselho deAdministração da FETRANSPOR, CPF nº , CI nº

, nascido em 29/01/1967, filho de e , residente na Av

, - Rio de Janeiro/RJ, atualmente custodiado naCadeia Pública José Frederico Marques, localizada na Rua CélioNascimento, S/N, Benfica, Rio de Janeiro-RJ;

10) JOÃO AUGUSTO MORAIS MONTEIRO (JOÃO AUGUSTOMONTEIRO), brasileiro, casado, empresário e Presidente do ConselhoSuperior do RIO ÔNIBUS, CPF nº , CI nº

, nascido em 16/10/1930, filho de e, residente na Avenida

- Rio de Janeiro – RJ;

11) MÁRCIO MARQUES PEREIRA MIRANDA (MÁRCIOMIRANDA), brasileiro, aposentado, CPF nº , CI nº

, nascido em 02/05/1961, filho de e , residente na Travessa

Nilópolis – RJ, tel: 21 , atualmentecustodiado na Cadeia Pública José Frederico Marques, localizada na RuaCélio Nascimento, S/N, Benfica, Rio de Janeiro-RJ; 12) DAVID AUGUSTO DA CÂMARA SAMPAIO (DAVID SAMPAIO),brasileiro, divorciado, policial civil aposentado, CPF nº CI , nascido em 14/08/1957, filho de

e , residente naRua

tel: 21 , atualmente custodiado na Cadeia Pública JoséFrederico Marques, localizada na Rua Célio Nascimento, S/N, Benfica,Rio de Janeiro-RJ;

13) ENEAS DA SILVA BUENO (ENEAS BUENO), brasileiro, diretojurídico do RIO ÔNIBUS, CPF nº , CI nº ,nascido em 02/07/1942, filho de e

, residente na Av. /RJ, endereço comercial na Rua ,

, tel: 21 , atualmentecustodiado na Cadeia Pública José Frederico Marques, localizada na RuaCélio Nascimento, S/N, Benfica, Rio de Janeiro-RJ;

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

14) OCTACÍLIO DE ALMEIDA MONTEIRO (OCTACÍLIOMONTEIRO), brasileiro, casado, vice-Presidente do RIO ÔNIBUS, CPFnº , CI nº , nascido em 29/05/1937, filhode e , residentena Av. comendereço comercial na Rua Victor Civita, 77, bl 08, ala lesta, 2º andar,Barra da Tijuca/RJ, atualmente custodiado na Cadeia Pública JoséFrederico Marques, localizada na Rua Célio Nascimento, S/N, Benfica,Rio de Janeiro-RJ;

15) CARLOS ROBERTO ALVES, brasileiro, gerente financeiro daFETRANSPOR, CPF nº , CI , nascido em05/05/1950, filho de e ,residente na Rua – Niterói/RJ;

16) REGINA DE FÁTIMA PINTO ANTONIO (REGINA ANTONIO),brasileira, divorciada, secretária, CPF nº , CI nº

nascida em 19/02/1964, filha de e, residente na rua

, Rio de Janeiro/RJ, celular (21 ;

17) ENI DA SILVA GULINELI (ENI GULINELI), brasileira, divorciada,secretária, CPF nº , CI nº , nascida em12/05/1965, filha de e , residente naAvenida , CEP , São João deMeriti/RJ, celular (21) ;

18) CLAUDIA DA SILVA SOUZA FERREIRA (CLAUDIAFERREIRA) brasileira, CPF nº , RG nº , nascidaem 14/03/1971, filha de e de ,residente na Rua , SãoGonçalo/RJ, CEP ;

19) FRANCISCA DA SILVA MEDEIROS (FRANCISCA MEDEIROS),brasileira, viúva, CPF nº , RG nº , nascidaem 02/12/1938, filha de e de

, residente na Rua , Rio de Janeiro/RJ.

pelos fatos a seguir descritos:

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

Sumário

1 – Da contextualização dos fatos ............................................................................................... 6

1.1 – Da FETRANSPOR e dos donos do transporte público no Estado do Rio de Janeiro..........91.2 – O “caixa dois” da FETRANSPOR, sua contabilidade paralela e a contribuição regular das empresas que aderiram ao esquema de propinas.........................................................................112 – Resumo das imputações típicas ........................................................................................... 19

2.1 – Corrupção ativa pelos empresários de transporte e seus operadores (fato 01: José Carlos Lavouras, Jacob Barata Filho, Lélis Teixeira, Marcelo Traça, João Augusto Monteiro, Álvaro Novis e Edimar Dantas)...............................................................................................................192.2 – Corrupção passiva no governo do Estado do Rio de Janeiro (fato 02: Sérgio Cabral, CarlosMiranda e Carlos Bezerra)...........................................................................................................192.3 – Lavagem de Dinheiro..........................................................................................................20(fato 03: José Carlos Lavouras, Jacob Barata Filho, Lélis Teixeira, Marcelo Traça, João AugustoMonteiro, Álvaro Novis, Edimar Dantas, Márcio Miranda e David Sampaio)...........................202.4 – Crimes contra o Sistema Financeiro...................................................................................20(fato 04: José Carlos Lavouras, Jacob Barata Filho, Francisca Medeiros, Álvaro Novis, Edimar Dantas e Márcio Miranda)...........................................................................................................202.5 – Pertinência a organização criminosa (fato 05: José Carlos Lavouras, Jacob Barata Filho, Lélis Teixeira, Marcelo Traça, João Augusto Monteiro, Álvaro Novis, Edimar Dantas, Márcio Miranda, David Sampaio, Eneas Bueno, Octacílio Monteiro, Francisca Medeiros, Carlos Roberto Alves, Regina Antonio, Eni Gulineli e Cláudia Ferreira)..............................................213 – D a narrati v a dos fatos ......................................................................................................... 22

3.1 – A corrupção ativa pela “caixinha da propina” da FETRANSPOR (fato 01) da corrupção passiva do ex-governador (fato 02)..............................................................................................223.1 – O pagamento de R$ 141.430.000,00 em propina pelos empresários de ônibus ao ex-governador Sérgio Cabral............................................................................................................233.2 – O pagamento de R$ 3.351.800,00 em propina pelos empresários de ônibus ao ex-governador Sérgio Cabral............................................................................................................763.3 – Dos atos de ofício................................................................................................................883.4 – Lavagem de dinheiro (fato 03)..........................................................................................1013.5 – Crime contra o Sistema Financeiro (fato 04)....................................................................1083.6 – Do crime de pertinência a organização criminosa. A atuação dos dirigentes da FETRANSPOR na “caixinha da propina”. Mais provas de corroboração.................................1204. Da capitulação dos fatos e requerimentos finais ............................................................... 153

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

1 – Da contextualização dos fatos

O complexo de investigações denominado “Operação Lava Jato” no Rio de

Janeiro identificou a existência de um esquema de grandes proporções de corrupção de agentes

públicos, fraudes a licitação, cartel, evasão de divisas e lavagem de dinheiro no âmbito do

Governo do Estado do Rio de Janeiro, sendo certo que os ora denunciados estão inseridos na

ramificação da organização criminosa liderada pelo ex-governador do Estado do Rio de Janeiro

SÉRGIO CABRAL no setor de transportes públicos, tendo sido descobertos a partir dos

desdobramentos das operações Calicute (processo nº 0509503-57.2016.4.02.5101) e Eficiência

(processo nº 0510282-12.2016.4.02.5101), dessa 7ª Vara Federal Criminal.

Nessas operações revelou-se que SÉRGIO CABRAL atuou na prática

sistemática e estruturada de atos de corrupção, evasão de divisas – mediante engenhoso

processo de envio de recursos oriundos de propina para o exterior – e lavagem de dinheiro, que

desviaram imensa quantia ainda não totalmente mensurada, da qual mais de USD

100.000.000,00 (cem milhões de Dólares) já foram recuperados aos cofres públicos.

Restou claro das investigações que, ao tomar posse como chefe do

executivo estadual do Rio de Janeiro, em 01/01/2007, SÉRGIO CABRAL instituiu e permitiu

cobrança de propina sobre grande parte dos contratos administrativos celebrados com o Estado,

tendo recebido vantagens indevidas não só de empreiteiros relacionados às obras de construção

civil, custeadas ou financiadas, em sua maioria, por recursos federais, mas também de

empresários de outros setores de atividade estatal como saúde, alimentação, serviços

especializados e transportes públicos.

Tais investigações já deram ensejo ao ajuizamento de 16 ações penais em

trâmite nesse Juízo da 7ª Vara Federal Criminal, autuadas sob os seguintes números: 0509503-

57.2016.4.02.5101 (Calicute); 0501634-09.2017.4.02.5101 (Eficiência I); 0015979-

37.2017.4.02.5101 (Eficiência II); 0015979-37.2017.4.02.5101 (Eficiência III); 0501853-

22.2017.4.02.5101 (Mascate); 0104011-18.2017.4.02.5101 (Tolypeutes); 0104045-

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

90.2017.4.02.5101 (Tolypeutes II); 0503608-81.2017.4.02.5101 (Fatura Exposta – Obstrução);

0503870-31.2017.4.02.5101 (Fatura Exposta – Corrupção); 0017513-21.2014.4.02.5101

(Cartel); 0504938-16.2017.4.02.5101 (Ratatouille); 0504113-72.2017.4.02.5101 (Corrupção –

Carioca Engenharia); 0504466-15.2017.4.02.5101 (lavagem de dinheiro por meio da empresa

Survey); 0133004-71.2017.4.02.5101 (Obstrução da justiça – Thiago Aragão); 0504446-

24.2017.4.02.5101 (lavagem de dinheiro por meio da empresa Brasas); 0135964-

97.2017.4.02.5101 (lavagem de dinheiro por meio da joalheria H. Stern).

A organização criminosa, que atuou desviando verbas públicas de origem

federal e estadual, as remetendo para o exterior, vem sendo desarticulada progressivamente, já

tendo sido identificados vários de seus núcleos e operadores financeiros, bem como a forma

como lavavam os proveitos do crime. Em sua ramificação relacionada aos transportes públicos,

possuía sua estruturação e divisão de tarefas em quatro núcleos básicos: a) o núcleo econômico,

formado por donos de empresas de ônibus que dominavam a Federação das Empresas de

Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro – FETRANSPOR; b) o núcleo

administrativo, composto por gestores públicos do Governo do Estado do Rio de Janeiro que

solicitavam e administravam o recebimento das vantagens indevidas pagas pelos empresários;

c) o núcleo financeiro operacional, formado por responsáveis pelo recebimento e repasse das

vantagens indevidas e pela ocultação da origem espúria; d) o núcleo político, formado pelo líder

da organização criminosa, o ex-governador SÉRGIO CABRAL.

O desenvolvimento e amadurecimento das investigações permitiu

compreender que a organização criminosa em mote, como modernamente sói ocorrer na

macrocriminalidade relacionada aos chamados crimes de colarinho branco, formatou-se em

típica organização nodal, pela qual os diversos envolvidos se especializaram em núcleos de

atuação, relativamente autônomos, posto que interdependentes, dando, cada um, suporte à

atuação dos demais.

Integravam o núcleo econômico os empresários de ônibus JOSÉ

CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO, JOÃO AUGUSTO MONTEIRO e

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Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

MARCELO TRAÇA, além do então presidente executivo da FETRANSPOR e do RIO

ÔNIBUS LÉLIS TEIXEIRA2, todos responsáveis por controlar a arrecadação semanal da

propina junto às empresas de ônibus e repassar os valores ilícitos a agentes públicos, incluindo

o ex-governador SÉRGIO CABRAL, que recebeu entre os dias 30 de julho de 2010 e 20 de

outubro de 2016, por 203 vezes, a quantia total de R$ 144.781.800,00 (cento e quarenta e

quatro milhões, setecentos e oitenta e um mil e oitocentos trinta mil Reais)3. Além da

propina repassada ao líder da organização criminosa, o total de R$ 43.400.000,00 foram

destinados, entre 07/2010 e 02/2016, ao então presidente do Departamento de Transportes

Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro – DETRO, ROGÉRIO ONOFRE4.

Os repasses de propina à organização criminosa tinham como

contraprestação a prática de atos de ofício pelos gestores do Estado do Rio de Janeiro,

porquanto o conjunto de funções exercidas pelos agentes públicos que integram o núcleo

administrativo e político da organização está relacionado com os interesses privados dos

particulares como exploradores do transporte público urbano, isto é, pode-se aferir extreme de

dúvidas a relação de mercancia que tem por objeto a função pública exercida pela então maior

autoridade do Poder Executivo estadual. Dessa forma, os empresários aqui denunciados

garantiam a sua hegemonia no setor de transportes públicos, além de benefícios na política

tarifária e de gestão desse serviço público de natureza essencial.

Conforme as planilhas apresentadas ao Ministério Público Federal por

colaboradores, contemporâneas aos fatos, os milionários valores da propina foram ocultados e

movimentados ao largo do sistema bancário oficial, recolhidos regularmente nas garagens de

empresas de ônibus vinculadas à FETRANSPOR e custodiado em transportadoras de valores,

que transcendiam totalmente a autorização para custódia que qualquer empresa dessa natureza

possui, passando a operar francamente instituição financeira, inclusive com a manutenção de

contas em nome de empresas e de pessoas físicas, fazendo intensas operações de compensação

entre elas e até mesmo aplicando uma espécie de remuneração mensal no saldo custodiado.

2 Renunciou dias antes de sua prisão.3 Desse valor, R$ 141.430.000,00 por intermédio de CARLOS MIRANDA e R$ 3.351.800,00 por intermédio de CARLOS

BEZERRA, sendo ambos integrantes do núcleo financeiro operacional da organização criminosa.4 A propina ao ex-presidente do DETRO é objeto de denúncia em separado.

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Portanto, além dos crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem

de dinheiro e pertinência a organização criminosa, esta denúncia abrange crime contra o sistema

financeiro nacional5.

1.1 – Da FETRANSPOR e dos donos do transporte público no Estado do Rio de Janeiro

A FEDERAÇÃO DAS EMPRESAS DE TRANSPORTES DE

PASSAGEIROS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – FETRANSPOR (CNPJ

33747288000111) é entidade que congrega 10 sindicatos de empresas de ônibus responsáveis

por transporte urbano, interurbano e de turismo e fretamento. Esses sindicatos, por sua vez,

reúnem mais de 200 empresas de transporte por ônibus, que respondem por 81% do transporte

público regular no Estado do Rio de Janeiro6.

Como sabido, a referida federação sindical representa os interesses das

empresas de transporte de passageiros do Estado, sendo a entidade de interlocução com a

sociedade civil e esferas governamentais a respeito dos serviços púbicos prestados nesse setor

da economia.

Todos os ora denunciados, que representam o núcleo econômico da

ORCRIM liderada por SÉRGIO CABRAL, integram ou integraram, até próximo à deflagração

da Operação Ponto Final, os quadros da FETRANSPOR e do seu principal sindicato filiado, o

RIO ÔNIBUS (Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro), onde

revezavam entre si os postos mais estratégicos há mais de 20 (vinte) anos7. Além dessas

entidades sindicais patronais, esses denunciados exercem o controle8 da sociedade empresária

5 Considerando a complexidade e volume dos fatos, além do grande número de agentes envolvidos nos ilícitos até omomento passíveis de serem denunciados, a imputação decorrente da primeira parcela das investigações na denominada“Operação Ponto Final” é feita por meio de duas denúncias, ajuizadas nesta data.

6 Fonte: https://www.fetranspor.com.br/a-fetranspor-sobre-a-fetranspor7 Informação disponível em http://www.fetranspordocs.com.br/downloads/RAF2015.pdf.8 Como demonstra a ATA anexa aos autos e a publicação no Diário Oficial do Estado, em 21/10/2014, quando em franca

atividade os recolhimentos de propina no âmbito da ORCRIM capitaneada por SÉRGIO CABRAL, narrados adiante,foram eleitos para o biênio seguinte para a presidência e para o Conselho de Administração da RIOPAR: JOSÉ CARLOSREIS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO, LÉLIS MARCOS TEIXEIRA e MARCELO TRAÇA GONÇALVES. Essaata ainda demonstra que os principais acionistas da RIOPAR são justamente a FETRANSPOR e a OPUS CONSULTORIAADMINISTRAÇÕES E PARTICIPAÇÕES LTDA, empresa administrada por LÉLIS MARCOS TEIXEIRA, sócio

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RIOPAR PARTICIPAÇÕES SA (CNPJ 16727386000178), a qual foi constituída em agosto de

2012 e opera, sem licitação, a polêmica bilhetagem eletrônica de todos os transportes públicos

no Estado do Rio de Janeiro (Bilhete Único e Rio Card)9, objeto de recente ação civil pública do

Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, conforme cópia em anexo.

JOSÉ CARLOS LAVOURAS é Presidente do Conselho de

Administração da FETRANSPOR desde a sua criação em 1988, entidade que tem como Vice-

Presidente MARCELO TRAÇA, e que tinha como Presidente Executivo LÉLIS TEIXEIRA

desde 2006, cargo ao qual renunciou por supostos “problemas de saúde” dias antes da

deflagração da fase mais ostensiva da Operação Ponto Final. LÉLIS TEIXEIRA também era

desde de 1999, portanto há 18 anos, Presidente do RIO ÔNIBUS, cargo ao qual também

renunciou dias antes de ser preso10. Ainda, JOÃO AUGUSTO MONTEIRO ocupa o cargo de

Vice-Presidente do Conselho Superior do RIO ÔNIBUS.

Por sua vez, JACOB BARATA FILHO é Presidente do Conselho de

Administração da RIOPAR PARTICIPAÇÕES S/A (CNPJ 16727386/0001-78), o qual também

é integrado por JOSÉ CARLOS LAVOURAS, LÉLIS TEIXEIRA e MARCELO TRAÇA,

denunciados que também fazem parte da diretoria da RIOCARD ADMINISTRADORA DE

CARTÕES E BENEFÍCIOS S/A (CNPJ 14.081.184/0001-76), da CONCESSIONÁRIA DO

VLT CARIOCA S/A (CNPJ 18.201.378/0001-19), e da RIOTER – TERMINAIS

RODOVIÁRIOS DE PASSAGEIROS LTDA (14.102.782/0001-84), sociedades subsidiárias da

primeira.

majoritário com 80% do capital social, sendo o quadro societário integrado por seus filhos e esposa, conforme informaçõesda Receita Federal.

9 Fonte: http://www.riopar.com.br/10 Essas renúncias foram percebidas pelos documentos encontrados nas buscas e apreensões na residência do LÉLIS.

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Essa digressão acerca das diversas funções de comando exercidas por

esses denunciados nas entidades representativas das empresas de transporte, bem como na

administração de sociedades empresárias diretamente atuantes no sistema de bilhetagem

eletrônica de todos os transportes públicos do Estado do Rio de Janeiro, permite contextualizar

a total ingerência de cada um deles na gestão do “caixa dois” da FETRANSPOR, utilizada para

pagamento de propina a agentes políticos, como detalhado nos tópicos seguintes.

1.2 – O “caixa dois” da FETRANSPOR, sua contabilidade paralela e a contribuição

regular das empresas que aderiram ao esquema de propinas

O denunciado ÁLVARO NOVIS, doleiro, dono da HOYA CORRETORA

e operador financeiro da ORCRIM capitaneada por SÉRGIO CABRAL no setor de transporte,

e cuja atuação foi revelada pela deflagração da Operação Eficiência, firmou juntamente a seu

operador EDIMAR DANTAS, perante o Superior Tribunal de Justiça, nos autos da Petição

11.962-DF, acordo de colaboração premiada, compartilhada com esse Juízo por decisão do

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Ministro Relator Félix Fischer, oportunidade em que revelou ter sido contratado por JOSÉ

CARLOS LAVOURAS, presidente do Conselho de Administração da FETRANSPOR e da

RIOPAR, além de dono da empresa TRANSPORTES FLORES, para recolher regularmente

dinheiro de algumas empresas de ônibus integrantes dessa Federação, administrar a sua guarda

e distribuir parte dela a diversos políticos, controlando os aportes e despesas por meio de

contabilidade paralela.

Em suas declarações o colaborador revelou que JOSÉ CARLOS

LAVOURAS o contratou, por volta de 1990 ou 1991, para ajudá-lo no recolhimento regular de

dinheiro de caixa dois nas garagens de algumas empresas de ônibus vinculadas à

FETRANSPOR, com o auxílio de empresas de transporte de valores, onde ficavam custodiados

até a ordem de distribuição a políticos ou aos próprios donos das empresas de ônibus que

participavam da “caixinha”. A distribuição do dinheiro era sempre determinada pelo presidente

do Conselho de Administração da FETRANSPOR, às vezes à própria transportadora de valores,

outras vezes ao próprio ÁLVARO NOVIS, que entregava valores pessoalmente ou delegava a

tarefa aos seus funcionários da HOYA CORRETORA. Confira-se:

“Que o relacionamento com JOSÉ CARLOS LAVOURAS, Presidente daFETRANSPOR, sócio da empresa Viação Flores, começou em meados dadécada de 90;... Que após certo tempo, JOSÉ CARLOS LAVOURAS ochamou para ajudá-lo para recolhimento e entrega de valores; Que o dinheiroera recolhido nas garagens de algumas empresas de ônibus vinculadas àFETRANSPOR pela TRANSEGUR (hoje Prosegur); Que o dinheiro eracustodiado na sede da TRANSEGUR; Que o dinheiro custodiado erautilizado para fazer pagamentos a políticos;... Que as ordens parapagamento se davam sempre por meio de JOSÉ CARLOS LAVOURAS; Queas ordens se davam por meio de bilhete em papel...; Que os bilhetes com asordens de pagamento eram entregues para o colaborador ou para EDMAR,seu funcionário; Que o contato com JOSÉ CARLOS se dava também atravésde sua secretária ENI GULINELLI, que trabalha na VIAÇÃO FLORES, cujotelefone é 2755-9200, e ligava para o fixo da HOYA 3503-1950; Que JOSÉCARLOS possuía outra secretária, de nome REGINA, que trabalhava com elana FETRANSPOR; Que ela costumava entregar os bilhetes com assolicitações de pagamento feitas por JOSÉ CARLOS...; Que os bilhetes eramescritos com codinomes para evitar a identificação dos beneficiários; Quequando os pagamentos não eram feitos pela transportadora de valores eramfeitos por funcionários do Colaborador e até mesmo pelo Colaborador; Que

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nessas ocasiões a transportadora de valores entregava na Hoya o dinheiro paraposterior entrega ao destinatário final; Que o controle dos valores se davapor meio de planilhas; Que os lançamentos eram feitos pelo funcionáriodo Colaborador chamado EDMAR; Que entrega nessa oportunidade asplanilhas de controle dos gastos referentes a …., JOSÉ CARLOSLAVOURA, CARLOS MIRANDA...., ROGÉRIO ONOFRE (ex-presidente do DETRO)...; Que a primeira coluna refere-se à data em queos recursos foram debitados ou creditados, Que a segunda coluna refere-se ao valor entregue; Que a terceira coluna refere-se ao valor que foicreditado pela FETRANSPOR; Que a quarta coluna refere-se ao saldoque possui com o Colaborador; Que a quinta coluna ('D/C') diz respeitoao status do saldo – se positivo ('CR') ou negativo ('DB'); Que a sextacoluna ('Histórico') servia para que os operadores colocassem algumaobservação a respeito da transação;... Que CARLOS MIRANDA possuíaos codinomes 'CM', referente a conta oficial, 'Verde/SMS', 'Super' e'Abacate', codinomes utilizados para pagamentos excepcionais; Que osrecursos pagos a CARLOS MIRANDA eram destinados ao ex-governador SÉRGIO CABRAL; Que ROGÉRIO ONOFRE possua (sic)o codinome 'Lagoa' e 'Mamaluco'; Que ressalta que HUDSON BRAGAtambém recebeu recursos da FETRANSPOR, apesar do Colaborador nãopossuir controle de pagamentos; Que pelos serviços prestados àFETRANSPOR recebia o valor de R$ 120.000,00, porém, tinha o custo com atransportadora, que ultrapassava R$ 70.000,00 (transporte e com osseguranças); Que a FETRANSPOR possuía duas contas, uma sob ocodinome F/SABI e a outra F/NETUNO (a primeira para débito e asegunda para crédito); Que as planilhas apresentadas foram produzidas naépoca em que os pagamentos eram feitos, para registro contábil dessespagamentos; Que essas planilhas foram produzidas em um sistema idealizadopara contabilizar essas operações de débito e crédito; Que esse sistema foidestruído com a deflagração da operação Xepa, motivo pelo qual existempoucos registros daquela época; Que os dados localizados, constam de um pendrive com ordem de pagamentos de 2010 a 2016, assim como de algumasplanilhas impressas do próprio sistema, relacionados às pessoas oraindicadas...”.

(destaques nossos)

Ouvido pela Procuradoria-Geral da República, ÁLVARO NOVIS ratificou

o referido Anexo, tendo acrescentado quanto à FETRANSPOR:

“... Que o Colaborador sabia que os pagamentos feitos pelaFETRANSPOR eram realizados para garantir benefícios relacionadosa linhas de ônibus, tarifas, etc; Que a FETRANSPOR é dividida em 6sindicatos; Que as empresas de ônibus entregavam o dinheiro em espécie

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em transportadoras de valores; Que a entrega dos valores inicialmente erafeita para a TRANSEGUR; Que a TRANSEGUR foi adquirida pelaPROSEGUR; Que havia outra transportadora de valores chamadaTRANSEXPERT que era utilizada para custódia de valores; Que asempresas de ônibus possuíam 'contas' nas transportadoras de valores paracustódia dos recursos arrecadados com passagens; Que o Colaboradorabriu 'contas' nas referidas transportadoras também para podermovimentar os valores das empresas de ônibus; Que tais 'contas' erammeramente informais; Que os valores eram transferidos das 'contas'das empresas para a 'conta' do colaborador e a partir daí eram feitosos pagamentos aos beneficiários finais; Que o colaborador possuíacontrato formal com ambas as transportadoras; Que as ordens parapagamento a políticos eram dadas única e exclusivamente por JOSÉCARLOS LAVOURA; Que desde 1990/1991 até 2016 as ordens sempreforam emitidas por LAVOURA; Que os pagamentos pararam de serrealizados em razão da operação Xepa da Força Tarefa Lava Jato; Que asordens eram transmitidas por meio de bilhetes; Que os bilhetes eramentregues por REGINA, secretária de LAVOURA, para MARCIO ouEDIMAR, funcionários do colaborador; Que MARCIO ou EDIMARtambém por vezes iam ao escritório de LAVOURA para obterinformações acerca das ordens de pagamentos; Que o controle depagamentos e recebimentos era feito pelo colaborador por meio deplanilha que ora entrega; Que eram utilizados codinomes nas planilhasque eram, geralmente, escolhidos pelos colaboradores; Que destruiugrande parte do material onde eram guardadas as planilhas depagamentos; Que alguns registros foram guardados; Que LAVOURAera sócio da empresa FLORES; Que LAVOURA era sócio também deoutras empresas que não sabe dizer; Que o codinome da empresaFLORES na planilha era F/VERA; Que o dinheiro das empresas eratransferido para as 'contas' centralizadoras, cujo codinomes eramF/SABI e F/NETUNO, para posterior pagamentos aos políticos; Que apessoa responsável pelo controle de pagamentos era o ColaboradorEDIMAR; Que entrega como prova de corroboração das suasalegações planilhas que foram impressas antes da Operação Xepa eque possuía guardados, bem como arquivos digitais contemporâneosaos fatos (2010 a 2016), que estavam armazenados em pen drivecriptografado...”.

(destaques nossos)

Vale mencionar que, na busca e apreensão realizada na residência de JOSÉ

CARLOS LAVOURAS por ordem desse Juízo, arrecadaram-se fotografias onde o empresário

aparece ao lado de ÁLVARO NOVIS, das quais se depreende que os dois são amigos há muitos

anos, o que corrobora e dá ainda mais credibilidade às afirmações do colaborador:

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JOSÉ CARLOS LAVOURAS, Presidente do Conselho de Administração

da FETRANSPOR desde 1988 e empresário de ônibus à frente da Empresa de Transportes

Flores Ltda, dentre muitas outras, era o principal articulador dos pagamentos espúrios, fazendo

a intermediação entre os demais empresários do setor, o Presidente Executivo da

FETRANSPOR, LÉLIS TEIXEIRA, os agentes públicos e os operadores financeiros

ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS.

Isso porque incumbia a JOSÉ CARLOS LAVOURAS repassar

mensalmente aos colaboradores a relação das empresas de ônibus e os valores que deveriam ser

recolhidos semanalmente em cada uma delas. O repasse dessa planilha era realizado por

intermédio de CARLOS ROBERTO ALVES, gerente financeiro da FETRANSPOR.

Pois bem. O colaborador revelou que o controle de ingresso e saída de

valores se dava por planilhas cujos lançamentos estavam a cargo de seu funcionário e também

colaborador EDIMAR DANTAS, sendo certo que a FETRANSPOR possuía duas contas

“centralizadoras” nesse sistema de contabilidade paralela, uma sob o codinome F/NETUNO e a

outra F/SABI, a primeira para registro dos créditos gerados pela “caixinha” das empresas de

ônibus que participavam do esquema, e a segunda para os débitos referentes à distribuição de

dinheiro para as propinas destinadas a agentes públicos. O controle desses pagamentos também

cabia a ÁLVARO NOVIS, além da devolução de valores para os próprios empresários de

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ônibus que contribuíam para a “caixinha”, certamente para outras propinas a servidores

públicos ainda não identificados e/ou para outros usos inconfessáveis.

O doleiro, que acabou agindo como um dos operadores financeiros da

ORCRIM de SÉRGIO CABRAL (no setor de transportes), detalhou a surpreendente dinâmica

de arrecadação e pagamento de propina por empresários do setor de transporte no Estado do

Rio de Janeiro a agentes públicos, incluindo o ex-governador, o então presidente do DETRO,

ROGÉRIO ONOFRE (denunciado em separado) e políticos não incluídos nesta denúncia por

gozarem de foro por prerrogativa de função, mas que também tinham direta ou indiretamente

influência sobre a política de transporte no Estado.

É certo que a arrecadação dos recursos para alimentar a conta “F/SABI”,

administrada pelos colaboradores ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS e utilizada para

custear o pagamento de vantagens indevidas a funcionários públicos, contava com a atuação

coordenada de JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO, MARCELO

TRAÇA, LÉLIS TEIXEIRA e JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, cabendo ao primeiro, como

Presidente do Conselho de Administração da FETRANSPOR, articular os recolhimentos das

“contribuições” junto às empresas de ônibus participantes da “caixinha da propina” e repassar

as ordens de distribuição de valores ao operador ÁLVARO NOVIS.

A análise dos arquivos recuperados no pendrive entregue pelos

colaboradores ao STJ permitiu identificar que tais “contribuições”, aportadas por 26 empresas

de ônibus, apenas no período de janeiro de 2013 a fevereiro de 2016, totalizaram R$

250.580.638,13 (duzentos e cinquenta milhões, quinhentos e oitenta mil, seiscentos e trinta e

oito Reais e treze centavos), conforme apontado no Relatório de Pesquisa nº 5940/2017, da

Assessoria de Pesquisa e Análise – ASSPA do MPF, sintetizado na tabela a seguir:

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Além dos montantes recolhidos nas empresas de ônibus, parte dos valores

que os empresários mantinham em contas paralelas com os colaboradores também foi utilizada

para alimentar o caixa da propina da FETRANSPOR na conta F/SABI. Assim, somados os

valores recolhidos em empresas relacionadas acima, vinculadas aos denunciados, bem como os

recursos mantidos em suas contas particulares, chega-se à seguinte estimativa de valores:

Denunciado Valores para o caixa da propina

JOSÉ CARLOS LAVOURAS R$ 77.606.964,33

JACOB BARATA FILHO R$ 27.754.990,00

JOÃO AUGUSTO MONTEIRO R$ 23.419.394,00

MARCELO TRAÇA GONÇALVES R$ 40.924.165,11

LÉLIS MARCOS TEIXEIRA R$ 1.000.000,00

Então, por exemplo, no arquivo eletrônico “EMPRESAS AGOSTO 2015”,

feito por EDIMAR DANTAS para controle da contabilidade paralela administrada por

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ÁLVARO NOVIS, consta a planilha a seguir, de onde se constatam as empresas que

participaram naquele mês do esquema da FETRANSPOR de recolhimento de dinheiro de caixa

dois para pagamento de propinas, sendo certo que dos R$ 7.109.832,00 arrecadados no mês de

agosto de 2015, contabilizados na conta F/NETUNO, foram debitadas despesas operacionais no

valor total de R$ 887.560,00, cujo saldo de R$ 6.222.272,00 foram transferidos para a conta

F/SABI, que seriam após distribuídos a agentes públicos corrompidos:

Quanto aos destinatários dos valores da conta F/SABI, os agentes públicos

identificados até o momento são SÉRGIO CABRAL e ROGÉRIO ONOFRE11, que exerciam à

época os cargos de Governador do Estado do Rio de Janeiro e Presidente do DETRO,

respectivamente, cujos atos especificamente relacionados ao setor de transportes públicos serão

detalhados em tópico autônomo ao final.

Mas é certo que esses valores serviam para abastecer um caixa paralelo

utilizado para custear o pagamento de propina para diversos agentes públicos, os quais tinham

competência para a edição de atos administrativos que regulavam o setor de transporte público

municipal e intermunicipal e, consequentemente, poder para afetar os interesses das empresas

11 Quanto à propina entregue ao ex-Presidente do DETRO, está sendo objeto de denúncia própria, ajuizada nesta data.

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de ônibus, seja praticando atos em seu benefício, seja deixando de praticar atos que pudessem

lhes prejudicar.

2 – Resumo das imputações típicas

2.1 – Corrupção ativa pelos empresários de transporte e seus operadores

(fato 01: José Carlos Lavouras, Jacob Barata Filho, Lélis Teixeira, Marcelo Traça, João

Augusto Monteiro, Álvaro Novis e Edimar Dantas)

No período compreendido entre 30 de julho de 2010 e 20 de outubro de

2016, por pelo menos 203 vezes, reveladas por aportes mensais de valores a título de propina,

totalizando a quantia total de R$ 144.781.800,00 (cento e quarenta e quatro milhões,

setecentos e oitenta e um mil e oitocentos trinta mil Reais)12, os denunciados JOSÉ

CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO, LÉLIS TEIXEIRA, MARCELO

TRAÇA e JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, proprietários de empresas de ônibus e/ou

integrantes da cúpula da FETRANSPOR, de modo consciente e voluntário, por intermédio dos

colaboradores ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS, prometeram, ofereceram e pagaram

vantagem indevida ao ex-governador SÉRGIO CABRAL, para determiná-lo à prática de atos

de ofício em benefício das empresas no setor de transporte público (Corrupção Ativa /Art.

333, na forma do Art. 71 do CP – FATO 01).

2.2 – Corrupção passiva no governo do Estado do Rio de Janeiro

( fato 02: Sérgio Cabral, Carlos Miranda e Carlos Bezerra)

No período compreendido entre 30 de julho de 2010 e 20 de outubro de

2016, por pelo menos 203 vezes, reveladas por aportes mensais de valores a título de propina,

totalizando a quantia de R$ 144.781.800,00 (cento e quarenta e quatro milhões, setecentos e

oitenta e um mil e oitocentos trinta mil Reais), em razão de acordos para beneficiar

12 Desse valor, R$ 141.430.000,00 por intermédio de CARLOS MIRANDA e R$ 3.351.800,00 por intermédio de CARLOSBEZERRA, sendo ambos integrantes do núcleo financeiro operacional da organização criminosa.

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empresários do setor de transportes públicos, o denunciado SÉRGIO CABRAL, com a ajuda

determinante dos operadores CARLOS MIRANDA e CARLOS BEZERRA, de modo

consciente e voluntário, solicitou, aceitou promessa e recebeu vantagem indevida em razão do

exercício da chefia do Poder Executivo, ofertada por ação de proprietários de empresas de

ônibus e/ou integrantes da cúpula da FETRANSPOR. Em consequência das vantagens

recebidas, SÉRGIO CABRAL praticou atos de ofício infringindo dever funcional (Corrupção

Passiva/Art. 317, §1º c/c art. 327, §2º, na forma do art. 71, todos do CP – FATO 02).

2.3 – Lavagem de Dinheiro

(fato 03: José Carlos Lavouras, Jacob Barata Filho, Lélis Teixeira, Marcelo Traça, João

Augusto Monteiro, Álvaro Novis, Edimar Dantas, Márcio Miranda e David Sampaio)

No período compreendido entre 30 de julho de 2010 e 30 de março de

2016, quando consumados os delitos antecedentes de corrupção e contra o sistema financeiro

nacional, JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO, LÉLIS TEIXEIRA,

MARCELO TRAÇA e JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, proprietários de empresas de

ônibus e/ou integrantes da cúpula da FETRANSPOR, de modo consciente e voluntário, por

intermédio dos colaboradores ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS e com o auxílio dos

operadores MÁRCIO MIRANDA e DAVID SAMPAIO, de forma habitual e por intermédio

de organização criminosa, tendo o propósito de distanciar ainda mais o dinheiro derivado de

crimes praticados de sua origem ilícita, ocultaram e dissimularam a origem, a natureza,

disposição, movimentação e a propriedade de pelo menos R$ 141.430.000,00, por 197 vezes 13

(Lavagem de Ativos/Art. 1º, §4º, da Lei 9.613/98 – FATO 03).

2.4 – Crimes contra o Sistema Financeiro

(fato 04: José Carlos Lavouras, Jacob Barata Filho, Francisca Medeiros, Álvaro Novis,

Edimar Dantas e Márcio Miranda)

13 Não estão incluídos nos atos de lavagem os R$ 3.351.800,00 pagos em dinheiro a CABRAL por intermédio de CARLOSBEZERRA, uma vez que não oriundos do esquema NOVIS para ocultação de dinheiro.

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No período compreendido entre os anos de 2010 e 2014, JACOB

BARATA FILHO, JOSÉ CARLOS LAVOURAS, ÁLVARO NOVIS, EDIMAR DANTAS,

FRANCISCA MEDEIROS e MÁRCIO MIRANDA, de forma consciente e voluntária, em

comunhão de desígnios, operaram instituição financeira, sem autorização para tanto, valendo-se

da posição de custódia do BANCO GUANABARA perante a transportadora de valores

PROSEGUR. Além disso, JACOB BARATA FILHO, MÁRCIO MIRANDA e ÁLVARO

NOVIS, de forma consciente e voluntária, em comunhão de desígnios, mantiveram

contabilidade paralela no BANCO GUANABARA, inclusive com a manutenção de clientes

ocultos da instituição e dos valores por eles mantidos (Fazer operar instituição financeira

sem autorização/Art. 16, da Lei nº 7.492/86 e Movimentação contábil paralela/Art. 11, da

Lei nº 7.492/86 – FATO 04).

2.5 – Pertinência a organização criminosa

(fato 05: José Carlos Lavouras, Jacob Barata Filho, Lélis Teixeira, Marcelo Traça, João

Augusto Monteiro, Álvaro Novis, Edimar Dantas, Márcio Miranda, David Sampaio,

Eneas Bueno, Octacílio Monteiro, Francisca Medeiros, Carlos Roberto Alves, Regina

Antonio, Eni Gulineli e Cláudia Ferreira14)

Pelo menos entre 01 de janeiro de 2007 15 e 17 de novembro de 201616,

JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO, LÉLIS TEIXEIRA,

MARCELO TRAÇA, JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, ÁLVARO NOVIS, EDIMAR

DANTAS, MÁRCIO MIRANDA, DAVID SAMPAIO, ENEAS BUENO, OCTACÍLIO

MONTEIRO, FRANCISCA MEDEIROS e CLÁUDIA FERREIRA, além de outras pessoas

(ou já denunciadas por integrarem a mesma organização criminosa, ou ainda a serem

processadas), de modo consciente, voluntário, estável e em comunhão de vontades,

promoveram, constituíram, financiaram e integraram, pessoalmente, uma organização

criminosa que tinha por finalidade a prática de, entre outros, crimes de corrupção ativa e

14 Os denunciados SÉRGIO CABRAL, CARLOS MIRANDA e CARLOS BEZERRA já respondem por essa imputação damesma ORCRIM em outros processos criminais.

15 Data da posse do denunciado SÉRGIO CABRAL no cargo de governador do ESTADO DO RIO DE JANEIRO.16 Data da deflagração da Operação Calicute, com a prisão preventiva de alguns dos denunciados, incluindo o líder da

ORCRIM, SÉRGIO CABRAL.

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passiva, fraude às licitações e cartel em detrimento do Estado do Rio de Janeiro, bem como a

lavagem dos recursos financeiros auferidos desses crimes (Pertinência a Organização

Criminosa/Art. 2º, § 4º, II, da Lei 12.850/2013 – FATO 05).

3 – D a narrativa dos fatos

3.1 – A corrupção ativa pela “caixinha da propina” da FETRANSPOR (fato 01) da

corrupção passiva do ex-governador (fato 02)

No período compreendido entre 30 de julho de 2010 e 20 de outubro de

2016, por pelo menos 203 vezes, reveladas por aportes mensais de valores a título de propina,

totalizando a quantia de R$ 144.781.800,00 (cento e quarenta e quatro milhões, setecentos e

oitenta e um mil e oitocentos trinta mil Reais), os denunciados JOSÉ CARLOS

LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO, LÉLIS TEIXEIRA, MARCELO TRAÇA e

JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, proprietários de empresas de ônibus e/ou integrantes da

cúpula da FETRANSPOR, de modo consciente e voluntário, por intermédio dos colaboradores

ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS, ofereceram e pagaram vantagem indevida ao ex-

governador SÉRGIO CABRAL, para determiná-lo à prática de atos de ofício em benefício das

empresas no setor de transporte público.

Cumpre desde logo esclarecer que, desse total pago a título de propina a

SÉRGIO CABRAL, o valor de R$ 141.430.000,00 foi entregue por intermédio do seu

operador e braço direito CARLOS MIRANDA pelo esquema de contabilidade paralela

concebido entre JOSÉ CARLOS LAVOURAS e o doleiro ÁLVARO NOVIS, porém, com a

prisão deste doleiro durante a operação Xepa, em 2016, o restante, de R$ 3.351.800,00,

prescindiu desse aparato, sendo entregue diretamente pelo Presidente do Conselho

Administrativo da FETRANSPOR ao ex-governador, desta feita por intermédio do seu outro

operador, CARLOS BEZERRA.

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Nem o encerramento do mandato de SÉRGIO CABRAL no governo do

Estado determinou o fim dos pagamentos de propina, que somente cessaram com a prisão deste

na Operação Calicute, em novembro de 2016.

Passa-se a seguir à narrativa da primeira parte da propina acima citada

(item 3.1), para depois narrar-se a segunda (item 3.2).

3.1 – O pagamento de R $ 141.430.000,00 em propina pelos empresários de ônibus ao ex-

governador Sérgio Cabral

Entre os dias 30 de julho de 2010 e 30 de março de 2016, por 120 vezes,

foram feitos aportes mensais de valores a título de propina em contas paralelas administradas

por ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS, totalizando a quantia de R$ 141.430.000,00

(cento e quarenta e um milhões, quatrocentos e trinta mil Reais), pelos denunciados JOSÉ

CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO, LÉLIS TEIXEIRA, MARCELO

TRAÇA e JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, proprietários de empresas de ônibus e/ou

integrantes da cúpula da FETRANSPOR, os quais foram sacados e entregues ao ex-governador

do Rio de Janeiro SÉRGIO CABRAL por pelo menos 197 vezes, com o auxílio dos operadores

ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS.

A vantagem indevida ao ex-governador tinha como objetivo determiná-lo à

prática de atos de ofício em benefício das empresas no setor de transporte público.

Cabia ao denunciado JOSÉ CARLOS LAVOURAS coordenar os

recolhimentos e pagamentos de propina custeados pelo caixa paralelo da FETRANSPOR, e

promover, por meio de suas empresas de ônibus EMPRESA DE TRANSPORTES FLORES

LTDA, VIAÇÃO ACARI S/A,, EXPRESSO NOSSA SENHORA DA GLÓRIA LTDA,

VIAÇÃO PONTE COBERTA LTDA, EXPRESSO REAL RIO LTDA e RIO D’OURO

TRANSPORTES COLETIVOS LTDA, o aporte de, pelo menos17, R$77.606.964,33 para esse

17 A expressão pelo menos é utilizada porque as planilhas apresentadas pelos colaboradores apenas detalham osrecolhimentos nas empresas a partir de janeiro de 2013, porém esses recolhimentos ocorriam ao menos desde 2010, ano emque há registros de pagamentos de propina que eram custeados pelos referidos aportes.

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caixa, dos quais parte foi destinada para custear os pagamentos da propina a SÉRGIO

CABRAL.

Conforme esclareceu o colaborador ÁLVARO NOVIS, os R$

141.430.000,00 entregues pela FETRANSPOR ao braço direito operacional e financeiro de

SÉRGIO CABRAL, o operador CARLOS MIRANDA, eram determinados por JOSÉ

CARLOS LAVOURAS e destinados ao pagamento de propina ao ex-governador, sendo certo

que NOVIS nominou e controlava quatro contas de valores paralelos da FETRANSPOR

utilizados nessas operações, quais sejam: CM, VERDE/SMS; ABACATE; e SUPER.

Com efeito, em seu Anexo 8, revelou o Colaborador:

“Que os pagamentos feitos a CARLOS MIRANDA eram destinados aoex-governador SERGIO CABRAL; Que as entregas feitas a CARLOSMIRANDA se davam da seguinte forma: CARLOS MIRANDA entrava emcontato com JOSÉ CARLOS LAVOURAS, indicando o endereço da entrega;Que, então, LAVOURAS indicava ao Colaborador o local onde deveria serentregue o recurso; Que os pagamentos para SERGIO CABRAL viaCARLOS MIRANDA se iniciaram no período em que SERGIOCABRAL encontrava-se da ALERJ; Que já efetuou pagamentos paraSERGIO DE CASTRO OLIVEIRA ('SERJÃO'), mas de forma maisesporádica; Que os valores e datas de pagamentos constam das contas sob oscodinomes CM, ABACATE, VERDE/SMS e SUPER saíram da conta sob ocodinome F/SABI; Que a conta F/SABI era uma das contas daFETRANSPOR; Que a planilha SUPER era o dinheiro para JUCA BALA;Que os pagamentos para a conta CM saíram da conta F/SABI; Que a contasob o codinome VERDE/SMS, é uma conta em que CARLOS MIRANDArecebia créditos da F/SABI, a mando de JOSÉ CARLOS LAVOURAS; Que amaioria das transações de CARLOS MIRANDA iam para JUCA BALA; QueCARLOS MIRANDA não possuía transações na Hoya; Que CARLOSMIRANDA ligava no telefone fixo da Hoya, filial da Barra da Tijuca 3385-9600, para falar com o Colaborador; Que o Colaborador também secomunicava pelo aplicativo 'Wickr' com CARLOS MIRANDA; QueCARLOS MIRANDA também ia pessoalmente à Hoya da Barra da Tijuca.”

(destaques nossos)

Os extratos de parte da movimentação nas contas “CM”, “ABACATE”,

“VERDE/SMS” e “SUPER”, entre os anos de 2013 e 2016, foram fornecidas por ÁLVARO

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NOVIS por ocasião de sua colaboração perante o STJ em meio físico, diante da destruição dos

arquivos eletrônicos por parte do mesmo por receio que a Operação Java Jato o alcançasse –

como de fato o alcançou – estando acostados na Petição 11.962-DF do STJ (anexo I), sendo

certo que os respectivos valores foram creditados a partir da conta F/SABI, que NOVIS

mantinha como receita paralela da FETRANSPOR arrecadada para entrega das propinas

distribuídas por essa Federação.

Mas o total da propina creditada a favor de SÉRGIO CABRAL para

abastecimento e posterior retirada pelas contas informais “CM”, “ABACATE”, “VERDE/SMS”

e “SUPER”, entre os anos de 2010 a 2016, está registrado na planilha controlada pelo

colaborador EDIMAR DANTAS, contemporânea à sua criação e registros contábeis que se

seguiram, entregue ao Superior Tribunal de Justiça em pendrive com arquivo sob o nome:

“PAGAMENTOS JC,xlsx”, sendo certo que todas as anotações referentes a “CM” dizem

respeito aos valores creditados a CARLOS MIRANDA com destinação ao líder da ORCRIM.

O anexo Relatório 3231/2017 da Assessoria de Pesquisa e Análise do MPF

categorizou e somou mês a mês os registros de créditos em nome de CARLOS MIRANDA,

reproduzindo em PDF a mesma planilha eletrônica cognominada “PAGAMENTOS JC,xlsx”

mas abstraindo as anotações que não se referiam a “CM”.

Assim, no ano de 2010 a propina disponibilizada a SÉRGIO CABRAL

totalizou a quantia de R$ 14.520.000,00:

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No ano de 2011 a propina chegou a R$ 17.840.000,00:

No ano de 2012 os aportes aumentaram consideravelmente, passando a

propina mensal a cerca de R$ 2.400.000,00, somando R$ 32.520.000,00, com destaque para um

bônus em 21/08 de R$ 5.000.000,00, sem prejuízo da propina daquele mês, o que revela

indícios de que naquele momento SÉRGIO CABRAL praticara ou deixara de praticar ato de

ofício em benefício das empresas de ônibus e/ou que as eleições para as prefeituras naquele ano

determinaram pagamentos maiores para abastecimento das campanhas do PMDB:

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No ano de 2013 os aportes para a ORCRIM alcançaram R$ 17.040.000,00,

voltando a propina aos patamares de 2011:

Como foram preservados os extratos em meio físico relativos a esses

valores movimentados em 2013, vê-se a seguir que tais os mesmos foram creditados na conta

“VERDE/SMS”, e sacados conforme datas e débitos relacionados. Então, por exemplo, no dia

01/04/2013 foram entregues R$ 1.000.000,00 a SÉRGIO CABRAL, por intermédio de

CARLOS MIRANDA (cf. fls. 158/159 da Petição 11.962-DF do STJ):

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No extrato acima, na coluna débito, estão relacionados todos os

pagamentos feitos a CARLOS MIRANDA/SÉRGIO CABRAL nos anos de 2013 e 2014 pela

conta “VERDE/SMS”, que podem ser assim sintetizados:

No ano de 2014 o total pago de propina à ORCRIM de SÉRGIO

CABRAL foi de R$ 27.260.000,00, mas esse ano revelou outra situação atípica, tendo em vista

dois aportes de R$ 6.500.000,00 cada nos dias 14/01 (“referente a 26/12”) e 16/02 (“referente a

janeiro”), os quais indiciam um bônus vultoso de 13 milhões de reais por ato de ofício no

interesse das empresas, como de fato ocorreu em janeiro de 2014, com a desoneração do ICMS

e desconto de 50% do IPVA para os ônibus, como será detalhado em tópico próprio:

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No ano de 2015 as cifras chegaram a R$ 27.750.000,00, chamando atenção

um provável acerto de R$ 19.500.000,00, sendo desse valor pagos no mês de abril R$

6.000.000,00, e o restante dividido até o dia 30 de março de 2016. Também chamou atenção o

registro de um dos pagamentos como tendo sido feito pela denunciada ENI GULINELI,

secretária de JOSÉ CARLOS LAVOURAS na empresa de TRANSPORTES FLORES:

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Vale dizer que nesses anos de 2014 e 2015 também foram preservados

pelos colaboradores os extratos em meio físico relativos aos valores movimentados, pelos quais

constata-se que os mesmos foram creditados na conta “ABACATE”, e sacados conforme datas

e débitos relacionados. Então, por exemplo, no dia 08/02/2014 foram entregues R$

1.500.000,00 a SÉRGIO CABRAL, por intermédio de CARLOS MIRANDA (cf. fls. 160/161

da Petição 11.962-DF do STJ):

31

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No extrato acima, na coluna débito, estão relacionados todos os

pagamentos feitos a CARLOS MIRANDA/SÉRGIO CABRAL nos anos de 2014 e 2015 pela

conta “ABACATE”, que são assim sintetizados:

Outro extrato também preservado revela que no ano de 2014 foi aberta a

conta informal “SUPER”, referente a um acerto paralelo entre os denunciados que rendeu à

ORCRIM de SÉRGIO CABRAL a quantia de R$ 4.000.000,00, sacados sob a senha

“MARGARIDA” em oito parcelas de R$ 500.000,00 entre 02 de setembro e 01 de

outubro/2014, coincidência ou não às vésperas do primeiro turno das eleições o governo do

Estado, que ocorreu em 05/10/201418.

18 Fonte: https://www.eleicoes2014.com.br/

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No extrato acima, na coluna débito, estão relacionados todos os

pagamentos feitos a CARLOS MIRANDA/SÉRGIO CABRAL no ano de 2014 pela conta

“SUPER”, que são assim sintetizados:

Sobre a conta “SUPER”, importante rememorar que em suas declarações o

colaborador NOVIS informou que “Que os pagamentos feitos a CARLOS MIRANDA eram

destinados ao ex-governador SERGIO CABRAL... Que a planilha SUPER era o dinheiro

para JUCA BALA”, que vem a ser VINÍCIUS CLARET VIEIRA BARRETO, que atuava para

o também doleiro de CABRAL, o operador RENATO CHEBAR, conforme denúncia já

apresentada a esse Juízo nos autos da ação penal nº 0015979-37.2017.4.02.5101.

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E, de fato, conforme apontado de forma totalmente independente pelo

colaborador RENATO CHEBAR nos autos da ação penal nº 0015979-37.2017.4.02.5101, a

JUCA BALA era incumbido buscar dinheiro a pedido de CARLOS MIRANDA, quando este

não o recebia pessoalmente, dinheiro este disponibilizado por ÁLVARO NOVIS sob a senha

“MARGARIDA”. Em seu termo de colaboração, RENATO CHEBAR explicou como se dava

o funcionamento das entregas e afirmou que ÁLVARO NOVIS constava em sua planilha de

controle de caixa sob o codinome de “ENROLADO”:

“Que "margarida" era a senha para entrega do dinheiro; Que a senhaera utilizada da seguinte forma: CARLOS MIRANDA informava aoscolaboradores que tinham um crédito a receber em São Paulo,informando a senha; Que os colaboradores contactavam JUCApassando a senha para recebimento dos valores e devido crédito; Queveio a saber, posteriormente, que o referido crédito foi oriundo depagamento feito pelo doleiro Álvaro Novis, cujo apelido na planilhaera "enrolado”;

Na planilha apresentada pelo colaborador RENATO CHEBAR, que integra

os autos da referida ação penal, as entradas e datas de recursos por “ENROLADO” batem com

aquelas contabilizadas por NOVIS na conta “SUPER”, nos dias 16, 22, 23 e 30/09/2014:

Há mais. A contabilidade de ÁLVARO NOVIS intitulada “ABACATE”,

acima declinada, está em perfeita harmonia com a contabilidade de RENATO CHEBAR quanto

aos pagamentos de propina a MIRANDA/CABRAL entre os dias 26/02/2015 e 03/06/2015,

ambas confeccionadas à época dos respectivos registros, o que constitui prova irrefutável dos

pagamentos feitos conforme a versão dos colaboradores. Confira-se cada planilha lado a lado

(note-se inclusive que as senhas batem para cada planilha):

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CONTABILIDADE NOVIS CONTABILIDADE CHEBAR

Esses registros também coadunam com os fatos trazidos pelo colaborador

EDIMAR DANTAS:

“... QUE com relação a CARLOS MIRANDA sabe informar que ele não eracliente da HOYA; ... QUE os valores e datas de pagamentos constam nasplanilhas das contas de CARLOS MIRANDA, sob os codinomes CM,ABACATE, VERDE/SMS e SUPER; ... QUE os créditos da conta SUPERpossuía a senha MARGARIDA: MARGARIDA 1, MARGARIDA2,MARGARIDA 3, MARGARIDA 4, MARGARIDA 5, MARGARIDA 6,MARGARIDA 7 e MARGARIDA 8; QUE CARLOS MIRANDAindicava o local onde os valores deveriam ser entregues pelatransportadora, normalmente lá mesmo na transportadora, e oresponsável por receber os valores era o doleiro JUCA BALA...”

Os registros da propina que saíram da conta F/SABI para as contas

destinadas a SÉRGIO CABRAL, que chegaram a R$ 141.430.000,00, deixaram de ser

consignados a partir do mês de março de 2016, não por acaso, à vista da prisão do doleiro

ÁLVARO NOVIS, responsável pela contabilidade paralela da FETRANSPOR, em 22/03/2016,

na Operação Xepa da Força-Tarefa Lava Jato em Curitiba19:

19 Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2016-03/veja-os-nomes-dos-presos-na-26a-fase-da-operacao-lava-jato

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Mas os extratos físicos preservados revelaram que entre 2015 e 2016 foram

sacados da conta “CM” cerca de R$ 1.000.000,00 mensalmente para SÉRGIO CABRAL,

mesmo após o término do seu mandato como governador do Estado, o que demonstra a

irrefutável mantença do seu poder político e econômico no Rio de Janeiro e também da

ORCRIM que liderava.

Revelaram ainda que o último saque no esquema ÁLVARO NOVIS

ocorreu no dia 26/02/2016, no valor de R$ 250.000,00, e que SÉRGIO CABRAL ainda ficou

com um saldo positivo de R$ 500.000.,00 de propina não sacada (!), à vista da prisão do doleiro

(Petição STJ, fls. 163):

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Sobre a continuidade do relacionamento de SÉRGIO CABRAL com os

seus corruptores no setor de transporte público no Rio de Janeiro, veja-se e-mail obtido após

quebra judicial de sigilo telemático, em que se depreende que em novembro de 2015 o já ex-

governador recebia de LÉLIS TEIXEIRA convite para seminário jurídico no Hotel Portobello:

Assim, às planilhas em arquivos digitais da propina entregues por

ÁLVARO NOVIS em seu acordo de Colaboração, contemporâneas à época dos registros

contábeis, somam-se como prova de corroboração as impressas ante a destruição dos

respectivos arquivos digitais (por força da Operação Xepa) e entregues à PGR pelo colaborador,

que as possuía guardadas (volume 1 da Petição 11.962 – STJ).

Segundo suas explicações, ratificadas por EDIMAR DANTAS, seu

funcionário a quem competia fazer os registros de receitas e pagamentos, a primeira coluna

referia-se à data em que os recursos da propina foram debitados ou creditados; a segunda

coluna referia-se ao valor entregue; a terceira coluna referia-se ao valor que foi creditado pela

FETRANSPOR; a quarta coluna referia-se ao saldo que a Federação tinha com o Colaborador;

a quinta coluna ('D/C') ao status do saldo – se positivo ('CR') ou negativo ('DB'); e, a sexta

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coluna ('Histórico') servia para que os operadores colocassem alguma observação a respeito da

transação.

Para se conhecer a relação entre as contas “F/NETUNO”, “F/SABI” e as

destinadas à ORCRIM objeto desta denúncia, vejam-se exemplos da contabilidade da propina

paga pela FETRANSPOR a SÉRGIO CABRAL, lembrando mais uma vez que CARLOS

MIRANDA possuía os codinomes “CM”, referente a conta oficial, e “VERDE/SMS”,

“ABACATE” e “SUPER”, estes provavelmente utilizados para “pagamentos excepcionais”,

sejam por concessões do ex-governador ao setor de transportes, sejam por compromissos de

caixa dois para campanhas políticas.

Assim, na conta de codinome “VERDE/SMS” (fls. 158 da Pet 11.962)

constatam-se aportes duas vezes por mês em média, da ordem de R$ 1.000.000,00 e R$

420.000,00, bem como saques mensais em torno de R$ 700.000,00 a R$ 720.000,00. Como se

vê dos extratos abaixo, no dia 29/11/2013 foi creditado o valor de R$ 1.000.000,00 destinados a

“CM”, os quais provieram de saque no mesmo valor e no mesmo dia da conta F/SABI, da

FETRANSPOR. Nessa mesma conta VERDE/SMS foram sacados em 18/12/2013 R$

700.000,00, em favor de “CM”:

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Não por coincidência – e tal circunstância é um importante dado

independente de corroboração – a quebra judicial dos registros de ligações telefônicas

demonstrou que, entre os dias 05 e 24/12/2013, ou seja, nos dias que antecederam e sucederam

o pagamento da propina de R$ 700.000,00, CARLOS MIRANDA manteve contato telefônico

com JOSÉ CARLOS LAVOURAS, que utilizava o número de celular (21) 20,

cadastrado nome da FETRANSPOR, por 11 vezes:

TERMINAL_1_ORIGINADOR LEMBRETE_TERMINAL_1 TERMINAL_2_RECEBEDOR LEMBRETE_TERMINAL_2 DATA_INICIO

CARLOS EMANUEL DE CARVALHOMIRANDA

FETRANSPOR 05/12/2013 11:00:53

CARLOS EMANUEL DE CARVALHOMIRANDA

FETRANSPOR 05/12/2013 11:01:03

FETRANSPORCARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDA06/12/2013 12:24:05

FETRANSPORCARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDA06/12/2013 12:25:01

CARLOS EMANUEL DE CARVALHOMIRANDA

FETRANSPOR 06/12/2013 12:27:26

CARLOS EMANUEL DE CARVALHOMIRANDA

FETRANSPOR 06/12/2013 12:42:40

FETRANSPORCARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDA10/12/2013 12:08:04

CARLOS EMANUEL DE CARVALHOMIRANDA

FETRANSPOR 12/12/2013 16:24:33

FETRANSPORCARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDA16/12/2013 17:55:34

FETRANSPORCARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDA24/12/2013 12:36:32

FETRANSPORCARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDA24/12/2013 12:36:33

Por sua vez, a conta de codinome “ABACATE” (fls. 160 da Pet 11.962) foi

aberta com um aporte inicial de R$ 6.500.000,00 em 29/01/2014, ao qual correspondeu o saque

no mesmo valor na conta F/SABI, creditado portanto pelos gestores principais da

FETRANSPOR em favor da Orcrim de SÉRGIO CABRAL:

20 Relembre-se que, segundo confirmado por contato localizado na agenda telefônica de LELIS MARCOS TEIXEIRA, essenúmero pertence de fato a LAVOURAS. Aliás o mesmo número de celular consta como sendo de JOSÉ CARLOSLAVOURAS nas agendas telefônicas de CARLOS MIRANDA e HUDSON BRAGA, este também conhecido integrantesda ORCRIM liderada por SÉRGIO CABRAL.

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Cumpre registrar que os fatos trazidos pelo colaborador NOVIS foram

confirmados por EDIMAR DANTAS:

“... QUE com relação a CARLOS MIRANDA sabe informar que ele nãoera cliente da HOYA; Que entrava em contato com ÁLVARO NOVIS, equem indicava o endereço da entrega era CARLOS MIRANDA, JOSÉCARLOS LAVOURAS somente autorizava o crédito para CARLOSMIRANDA; QUE as entregas eram feitas pela transportadora; QUE osvalores e datas de pagamentos constam nas planilhas das contas deCARLOS MIRANDA, sob os codinomes CM, ABACATE, VERDE/SMS eSUPER; QUE os créditos destas contas eram debitados da conta sob ocodinome F/SABI; Que a conta F/SABI era uma das contas daFETRANSPOR; QUE os créditos da conta SUPER possuía a senhaMARGARIDA: MARGARIDA 1, MARGARIDA2, MARGARIDA 3,MARGARIDA 4, MARGARIDA 5, MARGARIDA 6, MARGARIDA 7 eMARGARIDA 8; Que também houve pagamentos a CARLOS MIRANDA,referente a valores da FETRANSPOR, nos anos de 2010 a 2016, que osvalores constam das planilhas de controle de pagamentos entregues no pendrive; Que também houve pagamentos a CARLOS MIRANDA, referente avalores da FETRANSPOR, nos anos de 2010 a 2016 realizados por ordem deJOSÉ CARLOS LAVOURAS; Que CARLOS MIRANDA ligava no telefone

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fixo da Hoya da Barra da Tijuca, 3385-9600, para falar com ÁLVARONOVIS; Que o ÁLVARO NOVIS também se comunicava com CARLOSMIRANDA pelo aplicativo “Wickr”; Que CARLOS MIRANDA também iapessoalmente à Hoya da Barra da Tijuca; QUE CARLOS MIRANDAindicava o local onde os valores deveriam ser entregues pelatransportadora, normalmente lá mesmo na transportadora, e oresponsável por receber os valores era o doleiro JUCA BALA...”

(destaques nossos)

Também a testemunha Ricardo Campos Santos, funcionário da HOYA que

fazia as entregas de valores a mando de ÁLVARO NOVIS ou EDIMAR DANTAS, confirmou,

em depoimento ao Ministério Público Federal, essa dinâmica de recolhimentos de valores da

FETRANSPOR pela TRANSEXPERT e distribuição regular e que se protraiu no tempo a

diversas pessoas indicadas pelos primeiros, inclusive a CARLOS MIRANDA e CARLOS

BEZERRA, operadores financeiros de SÉRGIO CABRAL:

“... Que trabalha na HOYA desde 1991, teve apenas um ano de afastamentoentre 2001 e 2002; Que exerce a função de liquidante de câmbio turismo; Quefazia entrega de dinheiro em espécie a algumas pessoas a mando de EDIMARou de ÁLVARO NOVIS; Que a transportadora TRANSEXPERT entregavadinheiro na sede da HOYA e depois o declarante entregava parte para algumaspessoas indicadas por NOVIS ou EDIMAR; Que Márcio comentava que odinheiro entregue era da FETRANSPOR; … Que entregou valorespessoalmente a CARLOS MIRANDA em uma sala na Avenida Rio Branco, nº123, em sala que não se recorda o número; Que nesse prédio era necessária aidentificação para o acesso; … Que já entregou dinheiro para pessoa de nome“Dr. Fabricio”, na Rua México, nº 164, sala 57; Que já entregou dinheiro aCARLOS BEZERRA, nesse mesmo endereço, na presença de Dr. Fabrício...”

Repise-se que a arrecadação dos recursos para alimentar a conta “F/SABI”,

utilizada para custear o pagamento de vantagens indevidas a funcionários públicos, contava

com a atuação coordenada de JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO,

MARCELO TRAÇA, LÉLIS TEIXEIRA e JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, cabendo ao

primeiro, como Presidente do Conselho de Administração da FETRANSPOR, articular os

recolhimentos das “contribuições” junto às empresas de ônibus participantes da “caixinha da

propina” e repassar as ordens de distribuição de valores ao operador ÁLVARO NOVIS.

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Tais ordens eram repassadas por bilhetes codificados que eram entregues

mensalmente ao colaborador EDIMAR ou contínuos da HOYA, por ordem de LAVOURAS,

pelos seus subordinados: CARLOS ROBERTO ALVES, gerente financeiro da

FETRANSPOR, REGINA ANTONIO, secretária da FETRANSPOR e ENI GULINELI,

secretária na TRANSPORTES FLORES, os quais, embora numa segunda inquirição (na

primeira preferiram o silêncio) tenham negado terem ciência do conteúdo e destinação das

mensagens, admitiram em sede policial a sua existência, bem como o regular recebimento e

entrega de valores em espécie, o que corrobora as afirmações dos colaboradores.

Com efeito, informou o gerente financeiro da FETRANSPOR, CARLOS

ROBERTO ALVES, em seu interrogatório policial:

“... QUE tinha conhecimento de que JOSÉ CARLOS REIS LAVOURASfazia contato com pessoas da HOYA e que o contínuo da HOYA entregavapacotes ao requirido; QUE acredita que em tais pacotes pudesse haverdinheiro; QUE LAVOURAS ia às terças e quintas à FETRANSPOR, e quecostumava receber tais pacotes nessas ocasiões; QUE LAVOURAScostumava chegar entre meio dia e uma hora, e que em suas ausênciasdeterminava que o reinquirido que recebesse tais pacotes; QUE erampacotes médios; QUE certa vez indagou LAVOURAS sobre o quecontinham tais pacotes, no que LAVOURAS lhe disse que se tratavam decoisas particulares dele e que não se metesse...; QUE uma vez por mêsrecebia de JOSÉ CARLOS REIS LAVOURAS um envelope lacradocontendo o que acredita seja documentos para serem entregues aEDIMAR DANTAS ou MÁRCIO; QUE o envelope era entregue aEDIMAR ou a algum de seus contínuos na sede da FETRANSPOR...”

(destaques nossos)

Por sua vez, a secretária da FETRANSPOR REGINA ANTONIO,

afirmou à autoridade policial que ÁLVARO NOVIS e JOSÉ CARLOS LAVOURAS eram

amigos e “vizinhos de casa de praia”, e que aproximadamente uma vez por semana portadores

da HOYA traziam envelopes médios, do tamanho de um ofício, dobrados e lacrados, para serem

entregues a LAVOURAS, contendo o que acredita a mesma ser dinheiro, e que também

entregava envelopes lacrados e grampeados contendo documentos para os mesmos portadores.

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Acrescentou que ocasionalmente ligava para EDIMAR da HOYA a pedido de LAVOURAS e

solicitava a sua presença na FETRANSPOR, e outras vezes EDIMAR chegava e dizia que

havia sido chamado por LAVOURAS diretamente.

De outro lado, ENI GULINELI, secretária de LAVOURAS na FLORES

há 28 anos, portanto de sua total confiança, informou à autoridade policial durante o seu

interrogatório que seu patrão lhe solicitava que, aproximadamente duas vezes por mês,

entregasse pacotes do que acreditava ser dinheiro a enviados da HOYA, e que uma vez por mês

LAVOURAS lhe passava bilhetes contendo anotações “débito/crédito” com valores e que se

EDIMAR (da HOYA) ligasse, deveria repassar aquelas informações a ele, ou entregar

pessoalmente caso EDIMAR fosse à FLORES.

Sobre ENI GULINELI, registre-se que outro dado de corroboração

importante que comprova as colaborações de NOVIS e EDIMAR sobre sua atuação nos

pagamentos do caixa dois, é a mensagem de e-mail a seguir21, enviado pela mesma justamente

para o colaborador EDIMAR DANTAS, no dia 26/06/2014, para tratar da diferença de R$

4.500,00 entre a quantia contabilizada pelo colaborador e o valor em espécie realmente

entregue na sede da FLORES:

21 Obtido com base no afastamento de sigilo telemático autorizado por esse Juízo nos autos nº 0504252-24.2017.4.02.5101.

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A propósito, sobre LAVOURAS e seus sócios na propina da

FETRANSPOR, EDIMAR DANTAS informou em seu depoimento perante a Procuradoria

Geral da República que “as ordens de pagamento eram passadas também por um

cronograma repassado por JOSÉ CARLOS mensalmente, em reunião que ocorria na

FETRANSPOR”.

A análise dos arquivos recuperados no pendrive entregue pelos

colaboradores permitiu identificar que as “contribuições”, aportadas por 26 empresas de ônibus,

apenas no período de janeiro de 2013 a fevereiro de 2016, totalizaram R$ 250.580.638,13

(duzentos e cinquenta milhões, quinhentos e oitenta mil, seiscentos e trinta e oito Reais e treze

centavos), conforme apontado no Relatório de Pesquisa nº 5940/2017, da Assessoria de

Pesquisa e Análise – ASSPA do MPF.

A receita da conta F/NETUNO, após transferida para a F/SABI com a

subtração de despesas operacionais, correspondia à “caixinha” recolhida semanalmente nas

sedes das empresas de ônibus filiadas à FETRANSPOR que aderiram ao esquema de propina ao

ex-governador, sendo certo que o dono da empresa TRANSPORTES FLORES (além de outras

empresas de ônibus), JOSÉ CARLOS LAVOURAS, promoveu, somente entre os anos de

2013 e 2016, o aporte de cerca de R$ 77 milhões para essa “caixinha”; por sua vez, JACOB

BARATA FILHO e JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, por intermédio das empresas VIAÇÃO

PENDOTIBA, GUANABARA DIESEL e RODOVIÁRIA MATIAS, aportaram cerca de R$ 52

milhões; enquanto MARCELO TRAÇA aportou, por meio das empresas RIO ITA e

FAGUNDES, quase R$ 41 milhões; e, LÉLIS TEIXEIRA a quantia de R$ 1 milhão, sabido

porém que sua participação maior estava nas interlocuções políticas de interesse do grupo.

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Esses valores serviam para abastecer um caixa paralelo utilizado para

custear o pagamento de propina para diversos agentes públicos, entre eles o ex-governador

SÉRGIO CABRAL, que detinha competência para a edição de atos administrativos que

regulavam o setor de transporte público intermunicipal e, consequentemente, poder para afetar

os interesses das empresas de ônibus, seja praticando atos em seu benefício, seja deixando de

praticar atos que pudessem lhes prejudicar.

Ao lado de JOSÉ CARLOS LAVOURAS, o outro empresário que exercia

o absoluto domínio sobre a FETRANSPOR e os pagamentos de propina a serem feitos para

atender aos interesses das empresas de ônibus no Estado do Rio de Janeiro era JACOB

BARATA FILHO, um dos maiores empresários de ônibus do Brasil, integrando quadro

societário de mais de 25 empresas do ramo de transportes, dentro de um universo de mais de 60

empresas das quais integra ou administra, como se infere do Relatório ASSPA nº 2935/2017.

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Além disso, JACOB BARATA FILHO é membro suplente do Conselho

de Administração da FETRANSPOR e delegado da entidade na Confederação Nacional de

Transportes, exercendo, ainda, o cargo de vice-presidente de Transporte Rodoviário de

Passageiros daquela confederação22. Afora essas entidades sindicais patronais comanda23 a

sociedade empresária RIOPAR PARTICIPAÇÕES S/A (CNPJ 16727386000178), a qual foi

constituída em agosto de 2012 e opera a bilhetagem eletrônica de todos os transportes públicos

no Estado do Rio de Janeiro (Bilhete Único e Rio Card)24.

Aliás, o domínio e a influência de JACOB BARATA FILHO no setor de

transportes públicos no Estado do Rio de Janeiro foi expressamente afirmado no depoimento do

colaborador JONAS LOPES, ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro.

Por outro lado, ÁLVARO NOVIS, de forma absolutamente independente, apresentou em sua

colaboração premiada os detalhes sobre os serviços que prestou ao empresário para pagar

propina a políticos, por intermédio da FETRANSPOR, conforme descrito no Termo de

Colaboração nº 1025.

O controle de JACOB BARATA FILHO sobre o esquema de corrupção

ora desvendado se evidencia pela expressiva contribuição pela qual alimenta o caixa paralelo

da FETRANSPOR. Como se verifica da planilha abaixo, fornecida pelo colaborador ÁLVARO

NOVIS, apenas em pouco mais de um ano, entre 14/02/2013 e 19/05/2014, JACOB BARATA

FILHO contribuiu com a vultosa quantia de R$ 17.559.452,00 para essa contabilidade

paralela. Esse dinheiro foi injetado na contabilidade paralela para custear o pagamento de

propina para diversos agentes públicos, dentre os quais SÉRGIO CABRAL, tendo o objetivo

22 Fonte: http://www.cnt.org.br/Paginas/estrutura-cnt23 Exerce o cargo de Presidente do Conselho de Administração.24 http://www.riopar.com.br/25 “... QUE, no tocante ao ANEXO 10 – FETRANSPOR – JACOB BARATA FILHO, declarou: Que confirma o teor das

declarações constantes do anexo; Que os valores pagos por JACOB BARATA à FETRANSPOR eram destinados aopagamento de vantagens indevidas a políticos; Que gostaria de retificar o termo constante no seu anexo para que conste“JACOB BARATA FILHO” em vez de “CARLOS MIRANDA” quando é mencionado o valor total de R$ 27.754.999,00destinado; Que gostaria de retificar o termo constante no seu anexo para que conste “JOÃO MONTEIRO” em vez de“CARLOS MIRANDA” quando é mencionado o valor total de R$ 23.419.394,00 destinado; Que DONA FRANCISCAtrabalha com JACOB BARATA FILHO há bastante tempo, pelo menos desde os anos 1990; Que DONA FRANCISCArepassava os valores internamente pela PROSEGUR ao colaborador internamente; Que JACOB BARATA FILHO utilizavaa PROSEGUR para custódia e repasse de valores; Que MARCIO MIRANDA era funcionário da PROSEGUR, tendoatuado anteriormente na TRANSEGUR; Que MARCIO MIRANDA é investigado em inquérito que tramita na PolíciaFederal.

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de irrigar as relações entre os particulares ora denunciados, JOSÉ CARLOS LAVOURAS,

JACOB BARATA FILHO, LÉLIS TEIXEIRA, JOÃO AUGUSTO MONTEIRO e

MARCELO TRAÇA, e o poder concedente do transporte público no Estado.

A menção à pessoa de nome “Chica” na planilha refere-se a FRANCISCA

DA SILVA MEDEIROS, a já citada secretária de JACOB BARATA FILHO em sua empresa

GUANABARA DIESEL26. Segundo narrado pelo colaborador ÁLVARO NOVIS, os valores

referentes aos aportes de JACOB BARATA FILHO para o “caixa” da FETRANSPOR eram

operacionalizados com o auxílio de sua secretária na empresa GUANABARA DIESEL, a

quem cabia fazer a intermediação entre os operadores financeiros EDIMAR DANTAS, da

corretora HOYA, e MÁRCIO MIRANDA, da Transportadora de Valores PROSEGUR27.

FRANCISCA DA SILVA MEDEIROS, na qualidade de secretária de

JACOB BARATA FILHO, repassava ordens para MÁRCIO MIRANDA creditar valores em

espécie que seu chefe mantinha custodiado na Transportadora de Valores PROSEGUR em

favor do caixa da FETRANSPOR28.

26 FRANCISCA DA SILVA MEDEIROS foi reconhecida por foto pelo colaborador EDIMAR DANTAS e pelos funcionáriosda Hoya, Ricardo Campos Santos e Carlos Alberto.

27 Os crimes praticados por MÁRCIO MIRANDA também são objeto de denúncia.28 Segundo declarações complementares prestadas por EDIMAR DANTAS nesta Procuradoria da República: “(…) QUE o

depoente acredita que as empresas de JACOB BARATA FILHO também tinham valores custodiados na PROSEGUR; que

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Em coerência com os fatos trazidos à luz pelos colaboradores, a secretária

de JACOB BARATA FILHO na GUANABARA DIESEL há 34 anos disse à autoridade

policial em seu interrogatório:

“... QUE há alguns anos atrás, eventualmente fazia entrega de valores aterceiros, por ordem do Sr JACOB BARATA FILHO; QUE não sabe dizerqual a maior quantia que já entregou, mas recorda-se de ter entreguevalores entre cinquenta e sessenta mil reais; QUE seu chefe JACOBBARATA FILHO não lhe dizia do que se tratavam as transaçõesrelacionadas a essas entregas de valores; QUE normalmente algumportador trazia para o escritório onde a declarante trabalha a quantia emdinheiro; QUE não sabe a origem dessas quantias; QUE essas quantiaseram depois entregues, no próprio escritório da GUANABARADIESEL, a algum portador enviado por ÁLVARO NOVIS; QUE não serecorda o nome do portador; QUE normalmente tratava dessas entregaspor telefone com ÁLVARO NOVIS pelo telefone da corretora HOYA,mas às vezes tratava também com o Sr EDIMAR; QUE essas entregasocorreram umas poucas vezes; QUE algumas vezes recebia ordem do SrJACOB BARATA FILHO para ligar à PROSEGUR e determinar quefosse disponibilizada alguma quantia ao Sr ÁLVARO NOVIS; QUEpor diversas vezes tratou desse assunto com MARCIO daPROSEGUR, mas se ele não estivesse lá, o assunto era tratado com algumoutro atendente; QUE também recebia às vezes pequenas remessas denumerário da PROSEGUR para despesas do escritório; QUE tanto asentregas de valores fisicamente no escritório da GUANABARADIESEL quanto essas disponibilizações através da PROSEGUR sempreforam feitas em favor de ÁLVARO NOVIS...”

(destaques nossos)

Além disso, os recursos aportados por JACOB BARATA FILHO também

eram contabilizados em conta de codinome “F/MONT”, por meio da qual recebia retorno de

créditos das contas do “caixa” da FETRANSPOR. Nesse ponto, vale esclarecer que os valores

assim acredita porque, muitas vezes, efetuava pagamentos para FRANCISCA através da “compensação” de valores queestavam custodiados na PROSEGUR; que essa “compensação” ou aporte de valores de uma conta para a outra se davaatravés de contato com MÁRCIO MIRANDA da PROSEGUR; QUE diversas vezes o depoente recebia uma ordem deJOSÉ CARLOS LAVOURAS para transferir um dinheiro para a FRANCISCA; que então o depoente dava uma ordem aMARCIO MIRANDA da PROSEGUR nesse sentido; que, então MÁRCIO MIRANDA entregava o valor pedido paraFrancisca na GUANABARA DIESEL em espécie; que, reversamente, quando era para FRANCISCA remeter valores paraa conta da FETRANSPOR, esta dava a ordem para MARCIO MIRANDA, que simplesmente creditava o valor à disposiçãoda FETRANSPOR; que FRANCISCA trabalhava na empresa GUANABARA DIESEL; (...)”

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aportados por JACOB BARATA FILHO no caixa paralelo eram tão expressivos que geravam

créditos para restituição em montante que totalizou R$ 23.419.394,00, no período de 2010 a

2016.

Segundo narrado pelos colaboradores, esses recursos contabilizados na

conta “F/MONT” eram entregues em espécie a JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, na sede da

RODOVIÁRIA MATIAS, empresa da qual é sócio, junto com JACOB BARATA FILHO,

como apontado no Relatório nº 3063/2017, elaborado pela assessoria de pesquisa e análise desta

Procuradoria.

Conforme sintetizado nas tabelas de fls. 726/727, da PET nº 11.962/DF,

constam nas planilhas entregues em pendrive pelos colaboradores as datas e valores de cada

entrega a JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, com a referência às contas de origem vinculadas à

FETRANSPOR, “F/NETUNO” e “F/SABI”:

PLANILHA JOÃO MONTEIRO : 2010 - 2011 - 2012 - 2013

CONTA ORIGEM PLANILHA DESTINATÁRIO DATA VALOR DESCRIÇÃO

NETUNO/ FETRANSPOR PEN DRIVE JOÃO MONTEIRO 22/07/2010 R$ 250.000,00 03 X 08

NETUNO/ FETRANSPOR PEN DRIVE JOÃO MONTEIRO 22/07/2010 R$ 60.000,00 02 X 07

NETUNO/ FETRANSPOR PEN DRIVE JOÃO MONTEIRO 24/08/2010 R$ 250.000,00 04 X 08

NETUNO/ FETRANSPOR PEN DRIVE JOÃO MONTEIRO 24/08/2010 R$ 60.000,00 03 X 07

NETUNO/ FETRANSPOR PEN DRIVE JOÃO MONTEIRO 24/09/2010 R$ 250.000,00 05 X 08

NETUNO/ FETRANSPOR PEN DRIVE JOÃO MONTEIRO 24/09/2010 R$ 60.000,00 04 X 07

NETUNO/ FETRANSPOR PEN DRIVE JOÃO MONTEIRO 27/10/2010 R$ 250.000,00

NETUNO/ FETRANSPOR PEN DRIVE JOÃO MONTEIRO 27/10/2010 R$ 60.000,00

NETUNO/ FETRANSPOR PEN DRIVE JOÃO MONTEIRO 27/11/2010 R$ 250.000,00

NETUNO/ FETRANSPOR PEN DRIVE JOÃO MONTEIRO 27/11/2010 R$ 60.000,00

NETUNO/ FETRANSPOR PEN DRIVE JOÃO MONTEIRO 21/12/2010 R$ 250.000,00 última

NETUNO/ FETRANSPOR PEN DRIVE JOÃO MONTEIRO 21/12/2010 R$ 60.000,00 última

TOTAL R$ 1.860.000,00

JOÃO MONTEIRO : F/MONT

CONTA ORIGEM ORDEM

CONTA

DESTINATÁRIA DATA VALOR DESCRIÇÃO

FETRANSPOR / SABI J.C. LAVOURAS

JOÃO MONTEIRO:

F/MONT 06/02/2015 R$ 2.639.787,00 Ref fechamento Jan

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FETRANSPOR / SABI J.C. LAVOURAS

JOÃO MONTEIRO:

F/MONT 11/03/2015 R$ 2.163.086,00

FETRANSPOR / SABI J.C. LAVOURAS

JOÃO MONTEIRO:

F/MONT 14/04/2015 R$ 3.175.734,00

FETRANSPOR / SABI J.C. LAVOURAS

JOÃO MONTEIRO:

F/MONT 19/05/2015 R$ 2.055.913,00

FETRANSPOR / SABI J.C. LAVOURAS

JOÃO MONTEIRO:

F/MONT 03/07/2015 R$ 2.144.845,00 Maia

FETRANSPOR / SABI J.C. LAVOURAS

JOÃO MONTEIRO:

F/MONT 16/07/2015 R$ 2.300.010,00

FETRANSPOR / SABI J.C. LAVOURAS

JOÃO MONTEIRO:

F/MONT 11/09/2015 R$ 2.633.184,00 Ref junho

FETRANSPOR / SABI J.C. LAVOURAS

JOÃO MONTEIRO:

F/MONT 11/09/2015 R$ 2.377.346,00 Ref agosto

FETRANSPOR / SABI J.C. LAVOURAS

JOÃO MONTEIRO:

F/MONT 09/12/2015 R$ 2.260.898,00 Ref setembro

FETRANSPOR / SABI J.C. LAVOURAS

JOÃO MONTEIRO:

F/MONT 09/12/2015 R$ 2.185.937,00 Ref outubro

Total R$ 21.559.394,00

Conforme narrado pelo colaborador EDIMAR DANTAS (fls. 774, da PET

nº 11.962/DF):

“Que também houve pagamentos a JACOB BARATA FILHO, no nome deFRANCISCA, referente a valores da FETRANSPOR, nos anos de 2010 ajaneiro de 2016, sob o codinome MONTEIRO; QUE MONTEIRO eraJOÃO AUGUSTO MONTEIRO, e possuía uma conta sob o codinomeF/MONT, referente a retorno de créditos da conta FETRANSPOR,F/SABI; Que JOÃO MONTEIRO é sócio da empresa RODOVIÁRIAMATIAS, que utilizava o celular 9862-9725 e o telefone da empresa, 3315-4000 (Rodoviária Matias - Rua Dr. Bulhões, 766, Engenho de Dentro, Riode Janeiro/RJ), e 2173-7400 (RIO ÔNIBUS);”

Em oitiva complementar realizada nesta Procuradoria da República, o

colaborador confirmou as declarações anteriormente prestadas, bem como reconheceu a pessoa

de JOÃO AUGUSTO MONTEIRO na foto que lhe foi apresentada:

“... QUE o depoente, neste ato reconhece a pessoa de JOÃO AUGUSTOMORAES MONTEIRO em foto que consta do anexo; que o depoentediversas vezes recebia ordem de JOSÉ CARLOS para remeter valorespara JOÃO MONTEIRO; QUE então o depoente passavacontabilmente os valores da conta F/SABI para a contaF/MONTEIRO; que então ia repassando os valores em espéciepaulatinamente para JOÃO MONTEIRO; que JOÃO MONTEIROrecebia na empresa RODOVIÁRIA MATHIAS e, posteriormente, na

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Rio Branco 156 ou na Rua Sete Setembro em número que acha ser o55; que na RODOVIÁRIA MATHIAS o depoente geralmenteentregava para JOÃO MONTEIRO pessoalmente ou eventualmentepara pessoa de nome LEONEL; que nos dois outros endereços, odepoente entregava para OTACÍLIO e ENÉAS; que neste ato reconhece apessoa de ENÉAS DA SILVA BUENO na foto em anexo; que nunca viupessoalmente OTACÍLIO, apenas mandando um portador entregar osvalores a ele; que o depoente esclarece que a ordem de pagamento era dadopor JOSÉ CARLOS LAVOURAS ao depoente que apenas a cumpria apósreceber o de acordo de ÁLVARO NOVIS; QUE os valores da contaF/MONTEIRO eram sempre recebidos por ÉNEAS; OTACÍLIO ou opróprio JOÃO MONTEIRO; QUE o depoente esclarece ainda que sempreentregava os valores por portador, mas conheceu ENÉAS em ocasião naFETRANSPOR onde a ele foi apresentado por REGINA; QUE o depoenteesclarece que quando dava a ordem para a PROSEGUR pagar aJOÃO MONTEIRO na Rodoviária Mathias, o depoente pessoalmentese deslocava para essa empresa para assinar o recebimento do valorporque JOÃO MONTEIRO não gostava de assinar a guia de entregaenquanto JOÃO MONTEIRO pegava os valores; que quando eramvalores menores enviados pelos portadores do depoente, isso nãoacontecia...”

(destaques nossos)

O office boy da HOYA, Ricardo Campos Santos, funcionário dos

colaboradores ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS, também confirmou que realizou

diversas entregas de dinheiro em espécie, na sede da Rodoviária Matias, a JOÃO AUGUSTO

MONTEIRO, pessoa que reconheceu na foto que lhe foi apresentada: “Que já entregou

dinheiro em espécie na Rodoviária Matias, em mãos do MONTEIRO, pessoa que reconhece na

foto abaixo...”.

Os colaboradores ainda detalharam os telefones e e-mail utilizados para

contato com JOÃO AUGUSTO MONTEIRO e ajuste das entregas dos valores em espécie29.

De fato, a análise dos dados obtidos por meio do afastamento do sigilo telefônico demonstrou

diversas ligações entre o terminal em nome da RIO ÔNIBUS e a HOYA:

29 De acordo com os cadastros dos colaboradores, o e-mail utilizado por JOÃO AUGUSTO MORAIS MONTEIRO [email protected], o telefone celular era 9862-9725 e o telefone da empresa Rodoviária Matias era 3315-4000. Oscolaboradores também utilizavam o telefone da FETRANSPOR/RIO ÔNIBUS 2173-7400 para ajustar as entregas relativasà conta do empresário.

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RIO ÔNIBUS HOYA 06/03/2015 14:37:56

RIO ÔNIBUS HOYA 10/03/2015 16:57:23

RIO ÔNIBUS HOYA 26/03/2015 10:28:41

RIO ÔNIBUS HOYA 26/03/2015 10:35:17

RIO ÔNIBUS HOYA 26/03/2015 16:19:24

RIO ÔNIBUS HOYA 02/04/2015 15:41:36

RIO ÔNIBUS HOYA 06/04/2015 17:21:25

RIO ÔNIBUS HOYA 16/04/2015 14:30:39

Não bastasse, JACOB BARATA FILHO também aportava recursos para

o caixa paralelo da FETRANSPOR por meio da VIAÇÃO PENDOTIBA S/A, empresa da qual

o denunciado é diretor, conforme relatório elaborado pela Assessoria de Pesquisa e Análise do

MPF. Os recolhimentos provenientes da VIAÇÃO PENDOTIBA S/A totalizaram R$

11.154.908,45, apenas no período de janeiro de 2013 a fevereiro de 2016, conforme detalhado

no anexo 1, do Relatório de Pesquisa nº 5940/2017.

Somando-se, então, os valores conhecidos com base nas provas colhidas

até o momento, constata-se que as contribuições de JACOB BARATA FILHO para o caixa da

propina da FETRANSPOR, com o auxílio do empresário com JOÃO AUGUSTO

MONTEIRO, alcançaram ao menos R$ 52.133.754,45, no período de julho de 2010 a fevereiro

de 2016, os quais serviram para custear o pagamento de vantagens ilícitas para diversos agentes

públicos, dentre os quais, SÉRGIO CABRAL.

MARCELO TRAÇA, a seu turno, no período de janeiro de 2013 a

fevereiro de 2016, aportou R$ 40.924.165,11 no caixa paralelo da FETRANSPOR, por meio

das empresas de ônibus RIO ITA LTDA e AUTO ÔNIBUS FAGUNDES LTDA, dos quais parte

foi destinada a custear o pagamento de propina a SÉRGIO CABRAL.

Esse empresário exerce a função de vice-presidente do conselho de

administração da FETRANSPOR, além de ser Presidente do Sindicato das Empresas de

Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro – SETRERJ e suplente de LÉLIS

TEIXEIRA no Conselho Diretor da Associação Nacional das Empresas de Transportes

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Urbanos – NUT30. MARCELO TRAÇA ainda integra o Conselho de Administração da

RIOPAR PARTICIPAÇÕES S/A, sociedade empresária que opera a bilhetagem eletrônica de

todos os transportes públicos do Estado do Rio de Janeiro, ao lado dos denunciados JACOB

BARATA FILHO, JOSÉ CARLOS LAVOURAS e LÉLIS TEIXEIRA, conforme atas em

anexo.

De acordo com ÁLVARO NOVIS, em seu anexo 9 (fls. 706/707, da PET

nº 11.962/DF), MARCELO TRAÇA possuía, sob contabilidade paralela do colaborador, as

contas de codinomes RIOMAR e RIOMAR II, por meio das quais realizava os recolhimentos

para o “caixa” da FETRANSPOR e também ordenava diretamente o pagamento de valores a

título de propina.

Essas informações dos colaboradores31 são corroboradas de forma

absolutamente independente por prova encontrada na residência de MARCELO TRAÇA, em

Copacabana, Rio de Janeiro/RJ, em diligência de busca e apreensão. Trata-se do extrato da

conta RIOMAR, no período de 01/07/2013 a 09/08/2013, em formato idêntico aos extratos

apresentados pelos colaboradores, conforme item 5, reproduzido a seguir:

30 Informações consolidadas no Relatório de Pesquisa nº 3044/2017, da Assessoria de Pesquisa e Análise do MPF (emanexo).

31 Conforme termo de depoimento complementar prestado por EDIMAR DANTAS nesta Procuradoria da República: “QUEo depoente reconhece a pessoa de MARCELO TRAÇA GONÇALVES na foto que consta do anexo; que MARCELOTRAÇA é dono das empresas RIO ITA e FAGUNDES; que MARCELO TRAÇA mantinha uma conta com ÁLVARO denome RIOMAR e RIOMAR II; que essa conta era para os pagamentos pessoais de MARCELO TRAÇA; QUE emdeterminado momento MARCELO passou a efetuar os pagamentos devidos pela FETRANSPOR para ROGÉRIOONOFRE; QUE esses pagamentos eram feitos de forma independente por MARCELO TRAÇA que apenas recolhia àF/NETUNO a diferença; QUE o dinheiro em espécie era pago diretamente por MARCELO a ROGÉRIO; quecontabilmente o depoente registrava o somatório dos valores pagos por MARCELO a ROGÉRIO e à FETRANSPOR(F/NETUNO) como crédito de MARCELO para a F/NETUNO e da F/SABI para a MAMALUCO;”

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Veja-se que os valores anotados no extrato encontrado no apartamento de

MARCELO TRAÇA são idênticos aos constantes no mesmo período e registrados no

documento entregue fisicamente pelos colaboradores ÁLVARO NOVIS e EDIMAR

DANTAS, constante às fls. 193 da PET 11.962-DF:

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Em oitiva complementar realizada nesta Procuradoria da República, o

colaborador EDIMAR DANTAS confirmou que MARCELO TRAÇA contribuía para o caixa

da FETRANSPOR com recolhimentos semanais nas viações RIO ITA e FAGUNDES,

reconhecendo o empresário pela foto que lhe foi apresentada. Na mesma linha, o office boy da

HOYA, Ricardo Campos Santos, confirmou que já recolheu e entregou dinheiro em espécie a

MARCELO TRAÇA, na sede da FETRANSPOR32.

De acordo com os cadastros dos colaboradores (fls. 780 da PET nº

11.962/DF), MARCELO TRAÇA possuía o número de celular 99602-9632 e o número da

empresa 2702-4444, por meio dos quais ligava para o telefone fixo da HOYA (3503-1950) e

para o celular do EDIMAR DANTAS (99116-7775).

Fechando o núcleo econômico (corruptores) da ORCRIM, LÉLIS

TEIXEIRA que, embora não seja empresário de ônibus, possui forte poder e influência no

setor, tendo exercido o cargo de Presidente Executivo da FETRANSPOR a partir de 2006, além

da Presidência Executiva do Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro –

RIO ÔNIBUS, a partir de 1999, entidades das quais se desligou por supostos “problemas de

saúde” dias antes da sua prisão, durante a deflagração da fase mais ostensiva da Operação Ponto

Final.

As importantes funções exercidas por LÉLIS TEIXEIRA na cúpula das

mais relevantes sociedades empresárias e entidades sindicais no ramo de transportes públicos

no Estado do Rio de Janeiro, bem como a estreita relação de confiança existente entre este

denunciado e JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO, e MARCELO

TRAÇA, deixam claro o seu papel de fazer a intermediação com as autoridades públicas e

pleitear os atos de ofício para beneficiar as empresas de ônibus.

32 “Que sabia que LAVOURAS, LÉLIS, ENEAS, MONTEIRO, OTACÍLIO, MARCELO eram relacionados àFETRANSPOR; (…) Que já recolheu e entregou dinheiro pessoalmente a MARCELO TRAÇA, na sede daFETRANSPOR, na Rua da Assembleia, nº 10;”

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Ademais, o papel decisivo de LÉLIS nas decisões quanto ao pagamento

das vantagens indevidas restou nitidamente descrito na colaboração do ex-presidente do

TCE/RJ, JONAS LOPES, o qual relatou que os pagamentos somente começaram a ser

realizados após o aval do Presidente Executivo da FETRANSPOR, que entregava as quantias

em espécie ao filho do colaborador, JONAS NETO, conforme trecho do termo de colaboração

nº 533:

“(…) Que tinha conhecimento, desde sua gestão como Secretário de Estado,que havia muitas irregularidades relacionadas às empresas de ônibus; Que, emrazão disso, ao assumir a Presidência do TCE/RJ determinou fosse feitolevantamento na área de transporte público e identificou que nunca havia tidofeito qualquer trabalho de auditoria quanto ao tema; Que, em razão disso,resolveu determinar uma auditoria nos cinco modais do transporte público doEstado do Rio de Janeiro concedido, a saber: ônibus, metrô, barcas, trens eteleférico; Que tal se deu por volta de 2013; Que, como imaginava, encontroudiversos problemas em todos os modais; Que, em certa ocasião, algunsConselheiros se reuniram com o Colaborador e sugeriram que procurasse aFETRANSPOR com o propósito de auferir vantagens ilícitas; (…) ; Que eravoz corrente que alguns deputados estaduais da ALERJ recebiam valoresencaminhados pela FETRANSPOR para atendimento de seus interesses noPoder Legislativo; (…) Que JOSE CARLOS LAVOURA e JACOBBARATA seriam os controladores da FETRANSPOR por serem osmaiores empresários desse setor; Que, então, procurou um conhecido denome AMAURY ANDRADE, marido de uma das herdeiras da Autoviação1001; Que AMAURY informou ao Colaborador que a FETRANSPORpossuía um Presidente Executivo de nome LELIS TEIXEIRA e que seriamarcada uma reunião no escritório de AMAURY com a presença doColaborador e de LELIS, o que de fato ocorreu; Que ao chegar nareunião o Colaborador encontrou AMAURY ANDRADE, LELISTEIXEIRA e JOSE CARLOS LAVOURA, a quem não conheciapessoalmente; (…) ; Que durante a reunião o Colaborador foi indagadopelo Sr. LELIS TEIXEIRA sobre qual a relação que o trabalho noTCE/RJ pudesse atingir a FETRANSPOR; Que o Colaborador entendeucomo que LELIS estaria desdenhando da competência do Tribunal parafiscalização dos atos da FETRANSPOR; Que o Colaborador solicitouuma quantia em nome dos Conselheiros, quantia essa cujo valor não serecorda nessa oportunidade, (…); Que LELIS TEIXEIRA reportou o fatode que as empresas filiadas à FETRANSPOR eram sociedadesempresárias privadas e as fiscalizações do TCE/RJ não lhes alcançariam;Que houve pedido de pagamento de vantagem indevida, mas não houve

33 A transcrição se limita aos trechos que não mencionam autoridades com foro por prerrogativa de função, cujasinvestigações ainda estão em andamento.

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acerto de qualquer espécie de pagamento e a reunião foi encerrada; Queo trabalho de auditoria continuou a ocorrer normalmente; Que, então, foicomunicado pela área de auditoria do TCE/RJ que haveriairregularidades na gestão do 'BILHETE ÚNICO'; Que o 'BILHETEÚNICO' é gerenciado por uma subsidiária da FETRANSPOR, de nomeRIOCARD; Que esse 'BILHETE ÚNICO' garante ao passageiro a utilizaçãode dois ou três ônibus, num período específico, mediante o pagamento de umaúnica tarifa; Que os custos desse benefício são subsidiados pelo Estado do Riode Janeiro; Que a dinâmica desse repasse ocorre da seguinte forma: asempresas de ônibus ao Governo a quantidade de passageiros que serãotransportados na semana seguinte e recebe adiantado do Governo a quantiacorrespondente ao subsídio; Que esse valor, à época, girava em torno de R$12.000.000,00; Que a gestão desse 'BILHETE ÚNICO' pela RIOCARDera feita mediante convênio com o Governo do Estado do Rio de Janeiro,por sua Secretaria de Transporte; Que tal instrumento burlava a lei delicitações, que foi detectada pelo corpo técnico do Tribunal; Quedeterminou a realização de auditoria na gestão do 'BILHETE ÚNICO'; Que,entretanto, antes procurou ex-governador SÉRGIO CABRAL parainformá-lo da decisão que tomara porque sabia da forte relação que ele e(...) tinham com as empresas de transporte no Estado do Rio de Janeiro;Que CABRAL ponderou que estavam em plena campanha política para aseleições de 2014, solicitando que se fizesse a auditoria após a eleição; (…) ;Que a auditoria constatou inúmeras irregularidades na gestão e utilização do'BILHETE ÚNICO', tais como: cadastro de falecidos, menores de idade quenão pagavam passagem (abaixo de 5 anos), etc; Que uma dasirregularidades mais graves constatadas pela auditoria foi a retenção doscréditos expirados do 'BILHETE ÚNICO' por parte das empresasoperadoras do sistema, valores que pertenceriam aos usuários; Que paraexecutar o levantamento preciso da quantidade desses valores o Colaboradorexpediu ofício ao Secretário de Transportes solicitando informações; (...) Queo ofício da Secretaria foi respondido anexando documento daFETRANSPOR, que informava que os recursos seriam privados; Que oColaborador interpretou a resposta do ofício como uma afronta ao TCE/RJ e àprópria população usuária do serviço, haja vista que, apesar de oriunda daSecretaria, vinha com documento da FETRANSPOR anexado, como se fosseessa última que tivesse respondido; Que, à vista disso, o Colaborador proferiudecisão cautelar, submetida e referendada pelo plenário do TCE/RJ, quecontinha determinação de suspensão dos repasses dos recursos do 'BILHETEÚNICO', até que as informações dos créditos fossem encaminhadas aoTribunal; (...) Que, então, com o cumprimento da ordem judicial e análiseda informação prestada pela FETRANSPOR foi constatado que havia R$90.000.000,00 de créditos expirados, que estavam sendo indevidamenteapropriados pelas empresas de ônibus; Que o Tribunal encerrou a suaatuação especificamente a esse tema dos créditos, mas deu continuidade àsauditorias no sistema de transporte; Que passado não muito tempo o

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Colaborador recebeu ligação (...), solicitando que fosse em reunião em suaresidência que contaria com a presença do empresário JOSE CARLOSLAVOURA; Que (...) sugeriu que o Colaborador aceitasse umacontribuição mensal aos Conselheiros do TCE/RJ para que o Tribunaltivesse “boa vontade” com os temas do setor na Corte de Contas; Que oColaborador informou a (...) e a JOSE CARLOS LAVOURA que esse“acerto” não iria interferir na decisão tomada pelo Tribunal relacionada aoscréditos apropriados pelas empresas de ônibus e que iria colher junto aosConselheiros do TCE/RJ a aquiescência do recebimento desses valores; Queregistra que essa reunião foi feita entre meados e final de 2015; Que aquantia proposta era no valor de R$ 70.000,00 mensais para cadaConselheiro; (...) Que na reunião (...) o Colaborador informou que, a partirda concordância dos Conselheiros, LELIS TEIXEIRA da FETRANSPOR(presidente executivo) iria procurar JONAS NETO para o ajuste daentrega dos valores; Que isso de fato foi implementado entre seis e novemeses; Que os pagamentos não corresponderam, no entanto, ao total demeses; Que a alegação de LELIS foi de que o doleiro que trabalhava paraFETRANSPOR estava em procedimento de colaboração com asautoridades públicas e, por isso, todos os repasses feitos pelaFETRANSPOR estariam suspensos naquela oportunidade; Que oColaborador, posteriormente, veio a saber que o referido doleiro seriaÁLVARO NOVIS; Que LELIS TEIXEIRA teria informado a JONASNETO que os pagamentos estariam suspensos em razão de um incêndiona transportadora de valores TRANS-EXPERT; (…)

(destaques nossos)

No mesmo sentido, são as declarações do colaborador JONAS NETO, em

seu termo de depoimento referente ao anexo 25:

“(…) Que, por volta, de 2015 o Colaborador foi chamado por seu pai, quedisse que foi pactuado acerto financeiro com a FETRANSPOR, destinadoaos Conselheiros do TCE/RJ, designando o Colaborador para mantercontato com LELIS TEIXEIRA, presidente da entidade; Que foientabulado o envio de R$ 450.000,00 mensais, que eram entregues emduas remessas, uma de R$ 250.000,00 e outra de R$ 200.000,00, dos quaiso Colaborador retirava R$ 22.500,00, correspondentes a 5%, seu pai, retinhaR$ 7.500,00 e dividiam-se os R$ 420.000,00 restantes em seis parcelas de R$70.000,00, destinadas a todos os Conselheiros do TCE/RJ, com exceção daConselheira MARIANA MONTEBELLO, que não participava do esquema;Que esse acerto durou entre aproximadamente agosto de 2015 e maio de2016, mas as remessas não corresponderam exatamente à quantidade demeses; Que a primeira parcela foi entregue pessoalmente por LELIS

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TEIXEIRA no escritório do Colaborador, o que contou com o registro daentrada dele no edifício; Que em um ou duas oportunidades seguintes opróprio Colaborador recolheu a quantia na sede da FETRANSPOR,localizada na Av. da Assembleia, nº 10, 39° andar, centro, Rio deJaneiro/RJ; Que para os demais recolhimentos enviou FABRICIO, tendocombinado antecipadamente com LELIS TEIXEIRA, que mantivessecontato com esse emissário, que apenas recolheria a encomenda sem seinteirar das razões do acerto; Que LELIS tentou contratar o escritório deadvocacia do Colaborador; Que chegou a encaminhar prospecto dasatividades advocatícias que encaminhava, sempre deixando claro que nãohaveria a mistura das questões relacionadas ao acerto do TCE/RJ e a atividadeprofissional de advogado; Que chegou a entabular relação institucional emnome da OAB/RJ com a FETRANSPOR para patrocínios de eventos daOrdem; Que a suspensão dos pagamentos ocorreu no primeiro semestrede 2016 porque, segundo LELIS, o doleiro que fazia as transaçõesfinanceiras para gerar os recursos destinados ao TCE/RJ estaria fazendocolaboração premiada; Que acredita que o Colaborador seja ALVARONOVIS; Que LELIS disse ao Colaborador para tranquilizar osConselheiros porque o doleiro não tinha informações do acerto daFETRANSPOR com o TCE; Que LELIS disse que a suspensão seriaposteriormente compensada em favor dos Conselheiros; Que, em20/10/2016, o Colaborador agendou reunião com LELIS na sede daFETRANSPOR para cobrar o reinício das remessas, tendo LELISsugerido postergar para depois das eleições municipais; (...)”

(destaques nossos)

As declarações dos colaboradores JONAS LOPES e JONAS NETO

confirmam que LELIS TEIXEIRA tinha pleno conhecimento da sistemática de pagamentos de

propina pela FETRANSPOR através do operador financeiro ÁLVARO NOVIS e com a

utilização da transportadora de valores Transexpert. Veja-se que, em e-mail datado de

26/11/2015, LELIS TEIXEIRA é justamente informado sobre o resultado do julgamento do

TCE acerca da auditoria no Bilhete Único Intermunicipal, com destaque para a manifestação de

JONAS LOPES, compartilhando tal informação com JOSÉ CARLOS LAVOURAS e

JACOB BARATA FILHO:

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A corroborar as informações dos colaboradores e confirmar o papel de

intermediação com o poder público exercido pelo denunciado, veja-se o seguinte diálogo em

troca de e-mails com assunto “Tudo Resolvido”, no dia 06/12/2010, entre LÉLIS TEIXEIRA

e MARCELO TRAÇA:

Mais ainda, a análise dos e-mails obtidos por meio de ordem judicial

logrou demonstrar que a interlocução de LELIS TEIXEIRA com então Governador SÉRGIO

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CABRAL, para tratar de assuntos referentes aos interesses das empresas de ônibus, era direta,

como exemplificam os diálogos a seguir.

Em 12/07/2010, LELIS informa a CABRAL que sua reunião com a

Secretaria de Fazenda não havia resolvido as questões referentes à legislação para a

desoneração do ICMS do diesel nem o repasse dos pagamentos em atraso, “calculados por

nós” (FETRANSPOR), quantia possivelmente relativa aos subsídios das gratuidades,

repassados pelo Estado do Rio de Janeiro à entidade sindical. Cerca de uma hora depois, o

então Governador responde que tem “certeza que a Fazenda vai analisar com a eficiencia e

presteza que o assunto demanda”:

Mais do que contato direto com o então Governador, LELIS também se

comunicava com CABRAL por meio do “confide”, aplicativo para troca de mensagens

criptografadas e autodestrutivas, como demonstra o seguinte e-mail enviado no dia 18/10/2016,

menos de um mês antes da prisão do ex-Governador na “Operação Calicute”:

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Em 29/11/2013, LELIS informa aos demais conselheiros da

FETRANSPOR que acabara de sair de reunião na Secretaria Estadual de Fazenda, com a

informação de que o governo não mais desoneraria o ICMS do Diesel e o IPVA, para cumprir

metas fiscais junto à União. Informou, ainda, que solicitou reunião com o Secretário de Estado

WILSON CARLOS, braço direito de SÉRGIO CABRAL na organização criminosa, preso na

deflagração da Operação Calicute:

O pleito de LELIS foi atendido pelo então Secretário de Estado, pois,

como demonstra o e-mail a seguir, a reunião com WILSON CARLOS foi agendada para o dia

02/12/2013:

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Na sequência, em trocas de e-mails no início de janeiro de 2014, os

empresários JACOB BARATA FILHO, JOSÉ CARLOS LAVOURAS e MARCELO

TRAÇA, comemoram, junto com LELIS TEIXEIRA a isenção do ICMS sobre o serviço de

transporte urbano ou metropolitano de passageiros promovida pela Resolução da Secretaria de

Fazenda – SEFAZ nº 706, de 27-12-201334, publicada no Diário Oficial do Estado do Rio de

Janeiro, em 03/01/2014:

34 Resolução SEFAZ Nº 706 DE 27/12/2013 - Publicado no DOE em 3 jan 2014 (Concede isenção do ICMS na prestação deserviços de transporte de passageiros com características de transporte urbano ou metropolitano, com fundamento noConvênio ICMS 37/89.) O Secretário de Estado de Fazenda, no uso de suas atribuições legais, tendo em vista o disposto noConvênio ICMS 133/2013, de 11 de outubro de 2013, que estendeu ao Estado do Rio de Janeiro as disposições doConvênio ICMS 37/1989, de 24 de abril de 1989, e o que consta no Processo nº E-04/058/40/2013,Resolve :Art. 1 º Fica concedida isenção do ICMS na prestação dos serviços de transporte de passageiros com características detransporte urbano ou metropolitano.Art. 2 º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.Rio de Janeiro, 27 de dezembro de 2013RENATO VILLELASecretário de Estado de Fazenda

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A referida isenção tributária foi sacramentada pelo Decreto nº 44.550, de

02 de janeiro de 2014, expedido pelo Governador SÉRGIO CABRAL:

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Não bastasse, para completar o atendimento integral aos pleitos dos

empresários manifestados por LELIS TEIXEIRA em novembro de 2013 e recusados pela

Secretaria Estadual de Fazenda, tendo em vista a necessidade de cumprimento das metas fiscais

junto à União, o então Governador SÉRGIO CABRAL concedeu, por meio do decreto 44.568,

de 17 de janeiro de 2014, desconto de 50% no IPVA para as empresas de ônibus do Estado do

Rio de Janeiro, apenas um dia após o recebimento do ofício com a solicitação encaminhado

pelo Presidente Executivo da FETRANSPOR, LÉLIS TEIXEIRA. O Decreto foi assinado no

dia 17/01/2014, sexta-feira, e publicado no dia 21/01/2014, terça-feira, tendo por base o

processo administrativo E-12/001/56/2017, que possui apenas 15 páginas e está anexado na

íntegra a esta denúncia.

Como está claro, a atuação de LÉLIS TEIXEIRA como presidente da

FETRANSPOR e da RIO ÔNIBUS não era meramente representativa ou de menor importância,

como o mesmo quis fazer crer em seu interrogatório policial. Inclusive, além das interlocuções

políticas para obtenção de vantagens ao setor transporte, incluindo a negociação da propina, o

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denunciado era avisado pelo colaborador EDIMAR DANTAS sobre os pagamentos feitos pelo

caixa dois da FETRANSPOR, na ausência de LAVOURAS.

A evidenciar essa ingerência, consta no arquivo de nome

“PAGAMENTOS JC.xlsx”, disponível no pendrive entregue pelo colaborador ÁLVARO

NOVIS, a seguinte menção a LÉLIS TEIXEIRA, com relação ao pagamento de

R$450.000,00, recebido por pessoa de nome Fabricio, no dia 30/07/2015, em sala localizada em

edifício da rua México (fls. 567 da pet. 11962, v.03):

30/jul fabricio 450.000,00 net okmexico 164 sala 57 /falar com lelis pago 200 dia

30/07 e 250 dia 31/07

Conforme elucidado pelo colaborador EDIMAR DANTAS a expressão

“falar com Lelis” indica que o pagamento fora comunicado a LÉLIS TEIXEIRA, na ausência

de JOSÉ CARLOS LAVOURAS, provavelmente porque viajando (fls. 767, da PET 11962,

v.04):

“Que em relação à observação constante de fl. 567, 'falar com Lelis',indica que Lelis foi avisado da divisão, provavelmente porque José Carlosestava viajando. As células eram embaladas em um envelope e colocadasem uma mochila para serem entregues.”

De fato, no dia do referido pagamento, 30/07/2015, JOSÉ CARLOS

LAVOURAS estava fora do país, como comprova o relatório extraído do Sistema de Tráfego

Internacional da Polícia Federal:

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Ademais, no dia 10/06/2014 esse denunciado efetivamente aportou a

quantia de R$ 1.000.000,00 para custear o pagamento de propinas para agentes públicos, dos

quais parte foi utilizada para o pagamento de SÉRGIO CABRAL.

O referido aporte consta contabilizado como transferência para a conta

“F/SABI” no extrato da conta “ARARAS”, de titularidade de LÉLIS TEIXEIRA, sob a

mesma sistemática de custódia e contabilidade paralela administrada pelos colaboradores

ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS, conforme destacado no documento entregue

fisicamente, acostado às fls. 376 da PET 11962:

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Do mesmo modo, no extrato referente à conta “F/SABI” também consta o

registro do crédito no valor de R$ 1.000.000,00 em 10/06/2014, advindo da conta “ARARAS”

(fls. 41 da PET 11962), deixando claro que os recursos foram aportados para custear o

pagamento de propinas:

Em oitiva complementar realizada nesta Procuradoria da República, o

colaborador EDIMAR DANTAS confirmou as declarações anteriormente prestadas, bem como

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reconheceu que LÉLIS TEIXEIRA possuía a conta de nome “ARARAS”, que abasteceu o

caixa da “FETRANSPOR” e também tinha ingerência sobre as ordens de pagamentos a serem

realizados, em algumas ausências de LAVOURAS35.

A propósito da existência da conta paralela de codinome “Araras”,

administrada pelos colaboradores, observe-se a anotação constante no campo “Organizações”

no contato de LELIS TEIXEIRA no celular de JACOB BARATA FILHO, apreendido em sua

prisão:

35 “... Que o depoente não conhece LÉLIS TEIXEIRA, mas sabe dizer que LÉLIS tinha uma conta na PROSEGUR de nomeARARAS; QUE o depoente não se recorda como as ordens para movimentar a conta de LÉLIS eram dadas, mas odepoente nunca tratou diretamente com LÉLIS; que o depoente pode dizer, contudo, que o funcionário RICARDO jáentregou valores para LÉLIS e, acredita, mas não pode afirmar, que a ordem tenha vindo de ÁLVARO; QUE sobre atransferência de um milhão no dia 10/06/2014 da conta ARARAS para a conta SABI, pode dizer que recebeu a ordem deÁLVARO, acreditando que quem tenha LÉLIS tenha dado essa ordem a ÁLVARO, através de MÁRCIO JOSÉ FREIREDO AMARAL, ex-funcionário da HOYA que frequentava assiduamente a FETRANSPOR; que MÁRCIO AMARAL estágravemente enfermo com câncer; que o declarante confirma que o pagamento feito a doutor FABRÍCIO em 30/07/2015 novalor de R$450.000,00 na Rua México nº 164/Sala 57 foi comunicado a LÉLIS conforme observação na planilha de nome“Pagamentos JC” provavelmente porque LAVOURAS estava viajando; que os créditos vindos da conta NETUNO tendoLÉLIS como destinatário foram transferidos para a conta ARARAS conforme saldo constante no dia 1º/02/2013;”

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Os office boys da HOYA, Ricardo Campos Santos36 e Carlos Alberto Vital

da Silva37, funcionários dos colaboradores, confirmaram terem realizado diversas entregas de

dinheiro em espécie na sede da RIO ÔNIBUS pessoalmente a LÉLIS TEIXEIRA, quem

reconheceram na foto apresentada.

Por fim, a movimentação de grandes quantidades de dinheiro em espécie

por meio do Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro – RIO ÔNIBUS,

entidade presidida por LÉLIS TEIXEIRA, também foi apontada pelo COAF, conforme

relatório de inteligência financeira nº 26868.3.4812.4596, em anexo, a indicar que, em período

de apenas 5 meses, entre outubro de 2014 e março de 2015, o sindicato realizou diversos saques

em espécie, que totalizaram mais de R$ 3milhões, conforme detalhado a seguir:

Banco Agência Conta Data Valor

Itaú 08/10/14 R$ 264.000,00

Itaú 20/10/14 R$ 201.000,00

Itaú 21/10/14 R$ 201.000,00

Itaú 11/11/14 R$ 313.000,00

Itaú 13/11/14 R$ 200.000,00

Itaú 18/12/14 R$ 266.000,00

Itaú 31/12/14 R$ 165.000,00

Itaú 13/01/15 R$ 165.000,00

Itaú 16/01/15 R$ 236.000,00

Itaú 03/02/15 R$ 165.000,00

Itaú 10/02/15 R$ 245.000,00

Itaú 23/02/15 R$ 199.500,00

Itaú 10/03/15 R$ 244.500,00

Itaú 24/03/15 R$ 144.500,00

Total R$ 3.009.500,00

36 “... Que sabia que LAVOURAS, LÉLIS, ENEAS, MONTEIRO, OTACÍLIO, MARCELO eram relacionados àFETRANSPOR; (…) Que já entregou dinheiro em espécie pessoalmente para LELIS MARCOS TEIXEIRA, na sala daRio Ônibus, na Assembleia 10, por muitas vezes, em valores variados; (…) que o depoente se lembra de ter entreguedinheiro em espécie na Rio Branco 156/Sala 1804 uma ou duas vezes, mas o depoente não se lembra do nome da pessoa;que o depoente - há muito tempo atrás - entregou dinheiro na Mal Câmara, nº 271 ou 350, onde era o sindicato dasempresas de ônibus; que nesse endereço o depoente deve ter entregue dinheiro umas duas vezes; que, posteriormente osindicato das empresas, já com o nome de Rio Ônibus se mudou para a Rua da Assembleia 10, onde então o depoenteentregou dinheiro várias vezes, talvez uma vez por mês durante mais de cinco anos, até cerca de dois anos atrás; que, naverdade, as últimas vezes, chegou a entregar na Sete de Setembro nº 55 para o ÉNEAS e OTACÍLIO; que para LÉLISsempre entregou na Assembleia 10;”

37 “... QUE apresentada foto que consta do anexo, o depoente pode dizer que já entregou dinheiro para LÉLIS MARCOSTEIXEIRA na Rua da Assembleia 10, 39º Andar – Rio Ônibus; que entregou poucas vezes dinheiro em espécie a LÉLIS;”

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Em relação à forma de entrega dos valores em espécie a CARLOS

MIRANDA (SÉRGIO CABRAL), esclareceu ÁLVARO NOVIS no Anexo 8 do acordo de

colaboração homologado pelo STJ:

“Que os pagamentos feitos a CARLOS MIRANDA eram destinados ao ex-governador SERGIO CABRAL; Que as entregas feitas a CARLOSMIRANDA se davam da seguinte forma: CARLOS MIRANDA entrava emcontato com JOSÉ CARLOS LAVOURAS, indicando o endereço da entrega;Que, então, LAVOURAS indicava ao Colaborador o local onde deveria serentregue o recurso; Que os pagamentos para SERGIO CABRAL viaCARLOS MIRANDA se iniciaram no período em que SERGIO CABRALencontrava-se da ALERJ; Que já efetuou pagamentos para SERGIO DECASTRO OLIVEIRA ('SERJÃO'), mas de forma mais esporádica; Que osvalores e datas de pagamentos constam das contas sob os codinomes CM,ABACATE, VERDE/SMS e SUPER saíram da conta sob o codinomeF/SABI; Que a conta F/SABI era uma das contas da FETRANSPOR; Que aplanilha SUPER era o dinheiro para JUCA BALA; Que os pagamentos para aconta CM saíram da conta F/SABI; Que a conta sob o codinomeVERDE/SMS, é uma conta em que CARLOS MIRANDA recebia créditos daF/SABI, a mando de JOSÉ CARLOS LAVOURAS; Que a maioria dastransações de CARLOS MIRANDA iam para JUCA BALA; Que CARLOSMIRANDA não possuía transações na Hoya; Que CARLOS MIRANDAligava no telefone fixo da Hoya, filial da Barra da Tijuca 3385-9600, parafalar com o Colaborador; Que o Colaborador também se comunicava peloaplicativo 'Wickr' com CARLOS MIRANDA; Que CARLOS MIRANDAtambém ia pessoalmente à Hoya da Barra da Tijuca.”

Já em suas declarações prestadas para a Procuradoria-Geral da República,

NOVIS ratificou os termos do seu Anexo 8 e acrescentou:

“...Que a Fetranspor realizava pagamentos por meio da conta Fsabi paraSERGIO CABRAL/CARLOS MIRANDA; Que a conta Super também já foiutilizada; Que ambas as contas estavam custodiadas nas transportadoras devalores PROSEGUR e TRANSEXPERT; Que ENI e REGINA sãosecretárias de JOSÉ CARLOS LAVOURA; Que não se recorda qual foi adata exata que começou a realizar pagamentos a SERGIO CABRAL; Que noaplicativo WICKR o colaborador usava o apelido 'vinho', tendo mudadoposteriormente para 'alface'; Que não se recorda do apelido utilizado porCARLOS MIRANDA; Que LAVOURA possuía o apelido de 'kluh' no

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citado aplicativo; Que nunca tratou de acertos financeiros com SERGIOCABRAL”.

O destaque para a afirmação de que JOSÉ CARLOS LAVOURAS tinha o

apelido de “KLUH” no aplicativo de mensagens criptografado e autodestrutivo “Wickr” é

importante porque, em encontro de prova absolutamente independente, e que corrobora a versão

do colaborador, foi obtida após quebra judicial de dados telemáticos mensagem por e-mail em

que SÉRGIO CABRAL refere em listagem de codinomes justamente o mesmo “KLUH”:

As declarações do Colaborador estão em perfeita harmonia com diversos

elementos de investigação apurados desde a fase mais ostensiva da Operação Calicute,

porquanto além dos pagamentos feitos pela FETRANSPOR por intermédio de ÁLVARO

NOVIS a CARLOS MIRANDA, braço direito de SÉRGIO CABRAL, indicam o uso da

empresa de transporte de valores TRANSEXPERT como ferramenta para lavagem e ocultação

do dinheiro da propina, empresa que já é objeto de investigação desde o início do complexo de

investigações da Lava Jato no Rio de Janeiro, e onde foram apreendidos em busca e apreensão

documentos relacionados a membros da ORCRIM38.

Os fatos trazidos também auxiliam na montagem do quebra-cabeças

revelado na nodal e extensa ORCRIM capitaneada pelo ex-governador do Rio de Janeiro,

apontado outros recebedores de dinheiro oculto, tais como HUDSON BRAGA e o doleiro

38 ADRIANA ANCELMO, HUDSON BRAGA e PAULO FERNANDO MAGALHÃES.

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revelado na Operação Eficiência, VINÍCIUS CLARET (JUCA BALA), que, segundo NOVIS,

era o destinatário de grande parte da propina de CABRAL, o que coaduna com os fatos já

objeto de denúncia após a operação Eficiência, que apontam para a ocultação de mais de USD

100 milhões em paraísos fiscais.

Voltando à forma de recolhimento e distribuição da propina, os

colaboradores revelaram que o dinheiro era recolhido nas garagens de algumas empresas de

ônibus vinculadas à FETRANSPOR pela TRANSEGUR (hoje PROSEGUR) e pela

TRANSEXPERT, e que as ordens para os pagamentos eram por eles recebidas por bilhetes

entregues pelo gerente financeiro da FETRANSPOR, CARLOS ROBERTO ALVES, ou pela

secretária REGINA ANTONIO, a mando de JOSÉ CARLOS LAVOURAS, o que, como

visto, ambos já confirmaram em seus interrogatórios policiais.

Esclareceram ainda que esses bilhetes eram escritos com codinomes para

evitar a identificação dos beneficiários, e que quando os pagamentos não eram feitos pelas

referidas transportadoras de valores, eram feitos pelos próprios colaboradores, sendo que nessas

ocasiões a transportadora entregava na sede da HOYA o dinheiro para posterior entrega ao

destinatário final.

O colaborador NOVIS também informou que a secretária de LAVOURAS

na TRANSPORTES FLORES, ENI GULINELI39, tratava de pagamentos pelo caixa da

propina com EDIMAR pelo telefone da HOYA (3503-1950), para ajuste das contas das

planilhas e batimento de débito e crédito, o que está em perfeita sintonia com a descrição da

propina recebida por CARLOS BEZERRA após o afastamento de NOVIS do esquema,

conforme narrado no tópico seguinte.

O colaborador EDIMAR DANTAS acrescentou em suas declarações

outros dados importantes:

39 Tel da empresa: 2755-9200 – e-mail: @hotmail.com

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“...Que o dinheiro custodiado era utilizado para fazer pagamentos às pessoas,nos valores, dias e nos endereços indicados por JOSÉ CARLOSLAVOURAS; Que os pagamentos eram feitos pela transportadora TRANSEXPERT e PROSEGUR e os offices boys do declarante RICARDOCAMPOS SANTOS e CARLOS ALBERTO VITAL DA SILVA, que aindatrabalham com o declarante, além de ROBSON TEIXEIRA DE CASTRO,que não mais trabalha na HOYA; … QUE as ordens de pagamento erampassadas também por um cronograma repassado por JOSE CARLOSmensalmente, em reunião que ocorria na FETRANSPOR; Que JOSÉCARLOS tinha uma secretaria na VIAÇÃO FLORES, ENI GULINELLI,telefone é 2755-9200, que recebia valores, mas não sabe o destinatáriofinal; QUE EDIMAR se encontrava com ENI para fazer controle deplanilhas; Que ENI possuía um relatório retirado do sistema, para serconfrontado com a planilha do depoente; QUE se falavam do fixo daVIAÇÃO FLORES para o fixo da HOYA 3503-1950; Que JOSÉ CARLOSpossuía uma secretária na FETRANSPOR, a dona REGINA, queREGINA também recebia valores para JOSÉ CARLOS; Que REGINAcostumava entregar os bilhetes para MÁRCIO AMARAL; QUE nãohavia controle de planilha com REGINA; Que JOSÉ CARLOS tambémligava do telefone fixo da FETRANSPOR, 3221-6300, para o telefone fixoda HOYA 3503-1950; Que após receber as ordens de JOSÉ CARLOS, ocolaborador passava os valores com datas e endereços para a transportadoraTRANSEXPERT de valores, que efetuava os pagamentos; ... Que o controledos valores se dava por meio de planilhas, de acordo com a entrada e saída devalores da conta beneficiária;

(destaques nossos)

Também a testemunha Ricardo Campos Santos, funcionário da HOYA que

fazia as entregas de valores a mando de ÁLVARO NOVIS ou EDIMAR DANTAS, confirmou

em depoimento ao Ministério Público Federal essa dinâmica de recolhimentos de valores da

FETRANSPOR pela TRANSEXPERT e distribuição regular e que se protraiu no tempo a

diversas pessoas indicadas pelos primeiros, inclusive a CARLOS MIRANDA:

“... Que trabalha na HOYA desde 1991, teve apenas um ano de afastamentoentre 2001 e 2002; Que exerce a função de liquidante de câmbio turismo; Quefazia entrega de dinheiro em espécie a algumas pessoas a mando de EDIMARou de ÁLVARO NOVIS; Que a transportadora TRANSEXPERT entregavadinheiro na sede da HOYA e depois o declarante entregava parte paraalgumas pessoas indicadas por NOVIS ou EDIMAR; Que Márcio comentavaque o dinheiro entregue era da FETRANSPOR; … Que entregou valorespessoalmente a CARLOS MIRANDA em uma sala na Avenida Rio Branco,nº 123, em sala que não se recorda o número”

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3.2 – O pagamento de R $ 3.351.800,00 em propina pelos empresários de ônibus ao ex-

governador Sérgio Cabral

Pelo menos entre os dias 01 de setembro de 2016 e 20 de outubro de 2016,

por 6 vezes, os denunciados JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO,

LÉLIS TEIXEIRA, MARCELO TRAÇA e JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, proprietários

de empresas de ônibus e/ou integrantes da cúpula da FETRANSPOR, de modo consciente e

voluntário, ofereceram e pagaram vantagem indevida ao ex-governador SÉRGIO CABRAL,

no valor total em espécie de R$ 3.351.800,00 (três milhões, trezentos e cinquenta e um mil e

oitocentos Reais), recebidos pelo seu operador CARLOS BEZERRA, para determiná-lo à

prática de atos de ofício em benefício das empresas no setor de transporte público (Corrupção

Ativa /Art. 333, na forma do Art. 71 do CP).

Houve mudança na dinâmica de entrega da propina que prevaleceu entre os

anos de 2010 e 2016, conforme narrada no item anterior, em função da prisão de ÁLVARO

NOVIS, doleiro e operador financeiro a quem cabia gerir a “caixinha da propina” da

FETRANSPOR, que foi detido em 22/03/2016 na Operação Xepa, da Força-Tarefa Lava Jato

em Curitiba40. A partir de então CARLOS MIRANDA foi substituído por CARLOS

BEZERRA, também operador e homem de confiança de SÉRGIO CABRAL, que passou a

recolher o dinheiro disponibilizado pelos empresários do setor de transporte público.

Da parte dos corruptores, JOSÉ CARLOS LAVOURAS, ainda Presidente

dos Conselhos de Administração da FETRANSPOR e da RIOPAR, além de empresário de

ônibus à frente da empresa TRANSPORTES FLORES, continuou a coordenar os recolhimentos

a serem vertidos por outros empresários, determinando os valores aportados por cada empresa

na “caixinha” da FETRANSPOR. Mas, ao invés de repassar as ordens de recolhimento e

pagamento aos operadores financeiros ligados à HOYA, passou a determinar à sua secretária na

40 Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2016-03/veja-os-nomes-dos-presos-na-26a-fase-da-operacao-lava-jato

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empresa TRANSPORTES FLORES, ENI GULINELI, que entregasse na sede da empresa a

propina em espécie ao operador da ORCRIM CARLOS BEZERRA.

Aliás, a própria ENI, quando perquirida pela autoridade policial no

interrogatório já citado, confirmou ter entregue a mando do seu patrão LAVOURAS pacotes a

CARLOS BEZERRA “por quatro vezes em 2015 ou 2016” na própria sede da FLORES,

embora tenha afirmado não saber qual era o destino da encomenda.

CARLOS BEZERRA já era personagem conhecido por LAVOURAS, já

que a quebra dos seus dados de registro telefônico revelou que, no período de 2011 a 2016,

houve interlocução entre a linha do celular utilizada pelo mesmo e um terminal fixo da

EMPRESA DE TRANSPORTES FLORES LTDA por 34 vezes:

TERMINAL_1_ORIGINADOR LEMBRETE_TERMINAL_1 TERMINAL_2_RECEBEDOR LEMBRETE_TERMINAL_2 DATA_INICIO

1 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA25/10/11 14:08

2 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA11/11/11 11:29

3 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA28/11/11 15:31

4EMPRESA DE TRANSPORTES FLORES

LTDALUIZ CARLOS BEZERRA 01/12/11 08:53

5EMPRESA DE TRANSPORTES FLORES

LTDA0 LUIZ CARLOS BEZERRA 01/12/11 08:54

6EMPRESA DE TRANSPORTES FLORES

LTDALUIZ CARLOS BEZERRA 01/12/11 08:54

7EMPRESA DE TRANSPORTES FLORES

LTDALUIZ CARLOS BEZERRA 01/12/11 08:56

8EMPRESA DE TRANSPORTES FLORES

LTDALUIZ CARLOS BEZERRA 01/12/11 08:56

9EMPRESA DE TRANSPORTES FLORES

LTDALUIZ CARLOS BEZERRA 01/12/11 08:56

10EMPRESA DE TRANSPORTES FLORES

LTDALUIZ CARLOS BEZERRA 01/12/11 08:56

11EMPRESA DE TRANSPORTES FLORES

LTDALUIZ CARLOS BEZERRA 01/12/11 08:56

12EMPRESA DE TRANSPORTES FLORES

LTDALUIZ CARLOS BEZERRA 01/12/11 08:56

13 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA16/12/11 14:40

14 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA16/12/11 15:02

15 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA16/12/11 16:06

16 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA31/10/12 08:11

17 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA29/11/12 08:58

18 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA23/10/13 16:33

77

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19 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA28/10/13 11:04

20 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA14/11/13 13:03

21 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA19/11/13 10:11

22 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA25/11/13 10:06

23 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA09/12/13 08:51

24 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA06/05/14 12:24

25 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA06/05/14 12:34

26 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA14/05/14 10:01

27 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA02/10/14 10:17

28 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA02/10/14 10:18

29 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA14/10/14 10:53

30 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA14/10/14 11:42

31 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA14/10/14 15:42

32 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA03/12/14 14:10

33 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA10/06/16 12:14

34 LUIZ CARLOS BEZERRAEMPRESA DE TRANSPORTES

FLORES LTDA10/06/16 12:16

Aliás, na agenda de CARLOS MIRANDA consta o contato de JOSÉ

CARLOS LAVOURAS41 :

No cumprimento de mandado de busca e apreensão (processo nº 0509567-

67.2016.4.02.5101) em 17/11/2016, expedido no bojo da Operação Calicute, foram apreendidas

anotações na residência de CARLOS BEZERRA, informando valores, datas e codinomes.

Essas anotações revelaram-se registros da contabilidade paralela da ORCRIM, onde constam as

entradas de recursos ilícitos em espécie e a correspondente saída. Ainda que sem uma

41 O mesmo número de telefone consta também na agenda de HUDSON BRAGA, ex-secretário estadual de obras, desta feita,com o nome de JOSÉ CARLOS, com indicação da FETRANSPOR como endereço comercial.

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padronização rígida, são identificáveis os apontamentos de crédito e débito do caixa de recursos

em espécie administrado por BEZERRA.

O Relatório de Análise de Material Apreendido – REL 09/2017 – da Polícia

Federal, em complemento ao Relatório n° 08/2017 – Operação Calicute, dando continuidade a

análise das “agendas da contabilidade” apreendidas na residência de BEZERRA, identificou a

movimentação registrada por este operador, tendo sido produzida a PLANILHA 01, constando

o total de entrada e saída do montante em espécie, a data da movimentação e quem foi o

beneficiado na distribuição entre o grupo criminoso42.

Entre os manuscritos foram identificados pela Assessoria de Pesquisa e

Análise do MPF, pelo Relatório nº 2813/2017, os codinomes “JARDIM”, FLOWERS e

“GARDEN”, com anotações de pelo menos 06 aportes em favor da ORCRIM, num total de R$

3.351.800,00.

42 A partir desses escritos de controle de contabilidade paralela da propina apreendidos com CARLOS BEZERRA apurou-se que, somente em recolhimentos de vantagens indevidas de pessoas e empresas mais próximas, a ORCRIM liderada por SÉRGIO CABRAL arrecadou, entre 10/2013 a 11/2016, pelo menos, a quantia de R$ 37.642.500,00.

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Conforme o citado Relatório, na página 5 do arquivo item 19001.PDF, termo

“JARDIM” é encontrado junto às datas 8, 12 e 15 e ao termo “DUQUE CADA”, sendo certo

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que o próprio BEZERRA já admitiu em interrogatório que a expressão “duque” equivale ao

valor de R$ 200 mil. Totaliza então esta primeira anotação o valor de R$ 600 mil.

Na página 6 do arquivo item 19001.PDF, o termo “GARDEN aparece junto às

datas 8 e 9, com numeral “200”, o qual equivale a R$ 200 mil. Em uma segunda incidência, há

referências aos dias 12/9, no valor de R$ 300 mil, e ao dia 18, no valor de R$ 200 mil, além de

uma adição de R$ 1.800,00, resultando em um montante de R$ 501.800,00.

Na página 12 do arquivo item 19001.PDF, o termo “FLOWERS” aparece

vinculado ao valor de R$ 250 mil na data de 13/10. Enquanto na página 15 do arquivo item

19001.PFD o mesmo termo surge acompanhado do valor de R$ 250 mil, para as datas 13 e

20/10, totalizando R$ 500 mil.

Na página 19 do arquivo item 19001.PDF o termo “GARDEN” aparece três

vezes, na primeira referindo à palavra “DUQUE”, equivalente ao valor de R$ 200 mil nos dias

8 e 9 ou 8/9; e, na segunda e terceira acompanhado dos valores de R$ 250 mil, e das palavras

“MADUREIRA” e “PENHA”, respectivamente em 13/10 e 20/10, num total de R$ 500 mil. A

anotação chegou portanto a R$ 700 mil.

Por fim, na página 20 do arquivo item 19001.PDF, o termo “GARDEN” é

referido quatro vezes, todas com o valor de R$ 200 mil, nos dias 1, 8, 12 e 15/9, em três vezes

com referências a “PARACAMBI”, MADUREIRA” e “CAXIAS”, totalizando R$ 800 mil.

Assim, tem-se as seguintes anotações de propina:

PROPINA BEZERRA / FLORES

Página 5 R$ 600.000,00

Página 6 R$ 501.800,00

Página 12 R$ 250.000,00

Página 15 R$ 500.000,00

82

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Página 19 R$ 700.000,00

Página 20 R$ 800.000,00

TOTAL: R$ 3.351.800,00

Interrogado por esse Juízo na ação penal nº 0509503-57.2016.4.02.5101,

CARLOS BEZERRA reconheceu a contabilidade paralela da ORCRIM que foi apreendida em

sua residência, esclarecendo que procedia dessa forma para prestar contas a CARLOS

MIRANDA, também operador e braço direito de SÉRGIO CABRAL, de quem recebia ordens

para recolhimento de dinheiro43. Ainda esclareceu, questionado pelo MPF, que os codinomes

“JARDIM”, FLOWERS e “GARDEN” referem-se aos recolhimentos que fez na sede da

empresa FLORES, de JOSÉ CARLOS LAVOURAS. Eis a respectiva degravação:

DR. SÉRGIO LUIZ PINEL DIAS (MPF): Jardim, Garden ou Flowers é a Companhia...SR. LUIZ CARLOS BEZERRA: Flores. Viação Flores.DR. SÉRGIO LUIZ PINEL DIAS (MPF): É a Companhia Flores.SR. LUIZ CARLOS BEZERRA: Exatamente.DR. SÉRGIO LUIZ PINEL DIAS (MPF): O senhor pegava dinheiro lá.SR. LUIZ CARLOS BEZERRA: Exatamente.

De outro lado, a análise do relatório de extração dos dados do Iphone

apreendido por ordem desse Juízo com BEZERRA trouxe informações concludentes sobre a

relação desse importante operador financeiro de CABRAL com as empresas de ônibus, em

especial a TRANSPORTES FLORES, cujo dono LAVOURAS era, como presidente do

Conselho Administrativo da FETRANSPOR, o responsável por administrar o recolhimento dos

43 JF MARCELO BRETAS: O senhor tinha o controle do pagamento desse dinheiro?SR. LUIZ CARLOS BEZERRA: Eu tinha anotações. Perfeitamente. Porque euprestava contas ao Carlos.JF MARCELO BRETAS: Quem controlava, na verdade, era o Carlos Miranda?SR. LUIZ CARLOS BEZERRA: Era.JF MARCELO BRETAS: Você fazia um controle seu para prestar conta a ele?SR. LUIZ CARLOS BEZERRA: Para prestar conta a ele.JF MARCELO BRETAS: Mas ele é que fazia o controle geral de tudo?SR. LUIZ CARLOS BEZERRA: Acredito que sim. Não posso confirmar.JF MARCELO BRETAS: O senhor atendia às ordens dele?SR. LUIZ CARLOS BEZERRA: Isso.JF MARCELO BRETAS: “Pega aqui, leva lá.”SR. LUIZ CARLOS BEZERRA: Perfeitamente.

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valores que regularmente eram repassados pelas empresas de ônibus para a caixinha da propina

destinada a agentes públicos, principalmente ao ex-governador.

O relatório de extração das anotações e registros de BEZERRA em seu

Iphone demonstraram que, no ano de 2016, ele recolhia pessoalmente a propina na sede da

TRANSPORTES FLORES, na Av. Automóvel Clube, 990, em São João de Meriti44, conforme o

extrato do Iphone abaixo, obtido a partir do uso do aplicativo Waze por parte desse operador,

que demonstra a sua visita à empresa no dia 02/05/2016:

Na agenda de seu celular BEZERRA nominava ENI GULINELI como

“ENY FLORISTA”, para quem inclusive telefonou de seu celular, em 15/09/2016, para o

número fixo 2755-9200, que, como já informado pelos colaboradores, era o número de contado

com Eni na TRANSPORTES FLORES, e pelo qual eram feitos os ajustes das contas das

planilhas e batimento de débito e crédito da contabilidade paralela da propina.

44 Conforme Pesquisa da ASSPA, a EMPRESA DE TRANSPORTES FLORES LTDA., CNPJ 31.934.318/0001-73, comsede declarada na AVENIDA AUTOMÓVEL CLUBE 990, CENTRO – SÃO JOÃO DE MERITI, Telefone: (021)27559200.

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Note-se inclusive que, 15/9/2016, foi uma das datas em que BEZERRA

anotou na sua contabilidade particular o recolhimento de R$ 200 mil na empresa FLORES

(“GARDEN”), e certamente a conversa de 53 segundos com a secretária ENI teve o intuito de

discutir detalhes da entrega da propina destinada por LAVOURAS e seus comparsas na

FETRANSPOR e na RIO ÔNIBUS a SÉRGIO CABRAL.

Também foi localizada a imagem do cartão de ENI, que na FLORES se

apresentava como “Assessora da Diretoria”, o que também demonstra a sua relação de

confiança com LAVOURAS:

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Ainda, foram encontradas, no mesmo relatório de extração, anotações de

recolhimentos de dinheiro datadas de 08/09/2016, 06/10/2016 e 21/05/2016, com a utilização

dos codinomes utilizados por BEZERRA para ocultar a identificação de LAVOURAS, por

exemplo: “garden 13/10 Madureira duque e meia 20/10 penha mesma coisa”, anotação que

indica dois recolhimentos de R$ 250 mil cada. Ou, ainda: “24/5 flowers pipoca 3 legs”.

Outra anotação de BEZERRA indicou mais um encontro com a secretária

de LAVOURAS no dia 02/04/2016, entre 11 e 12 horas:

Mais um importante elemento probatório no sentido de que os valores

recolhidos por CARLOS BEZERRA representavam o acordo das empresas de ônibus filiadas

à FETRANSPOR que contribuíam para a “caixinha da propina”, em esquema articulado por

JOSÉ CARLOS LAVOURAS com JACOB BARATA FILHO, LÉLIS TEIXEIRA,

MARCELO TRAÇA e JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, também foi encontrado no Iphone

de BEZERRA, consistente em anotação de valores com aposição do nome da Federação:

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Por fim, vale rememorar que o colaborador ÁLVARO NOVIS informou

que a referida secretária de LAVOURAS na TRANSPORTES FLORES tratava de pagamentos

pelo caixa da propina com EDIMAR DANTAS, pelo telefone da HOYA (3503-1950), para

ajuste das contas das planilhas e batimento de débito e crédito, o que está em perfeita sintonia

com a descrição da propina recebida por BEZERRA após o afastamento de NOVIS do

esquema.

Assim, do narrado nos dois tópicos anteriores, a par dos crimes de

corrupção ativa, percebe-se a sua outra face, da corrupção passiva, porquanto no mesmo

período compreendido entre 30 de julho de 2010 e 20 de outubro de 2016, por pelo menos 203

vezes, em razão de acordos para beneficiar empresários do setor de transportes públicos, o

denunciado SÉRGIO CABRAL, com a ajuda determinante dos operadores CARLOS

MIRANDA e CARLOS BEZERRA, de modo consciente e voluntário, solicitou, aceitou

promessa e recebeu vantagem indevida em razão do exercício da chefia do Poder Executivo,

ofertada por ação de proprietários de empresas de ônibus e/ou integrantes da cúpula da

FETRANSPOR. O valor contabilizado da propina chegou a R$ 144.781.800,00 (cento e

quarenta e quatro milhões, setecentos e oitenta e um mil e oitocentos trinta mil Reais)45.

Em consequência das vantagens recebidas, SÉRGIO CABRAL praticou

atos de ofício infringindo dever funcional, os quais serão narrados mais adiante.

45 Desse valor, R$ 141.430.000,00 por intermédio de CARLOS MIRANDA e R$ 3.351.800,00 por intermédio de CARLOSBEZERRA, sendo ambos integrantes do núcleo financeiro operacional da organização criminosa.

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3.3 – Dos atos de ofício

É de se depreender, por óbvio, que os repasses de propina à organização

criminosa tinham como contraprestação a prática de atos de ofício pelos gestores do Estado do

Rio de Janeiro, porquanto o conjunto de funções exercidas pelos agentes públicos que integram

o núcleo administrativo e político da organização está relacionado com os interesses privados

dos particulares como exploradores do transporte público urbano, isto é, pode-se aferir extreme

de dúvidas a relação de mercancia que tem por objeto a função pública exercida pela então

maior autoridade do Poder Executivo estadual.

E os indícios dessa relação espúria são evidentes, como fartamente

demonstrado acima.

A despeito de ainda estarem sob investigação os atos de ofício

concretamente praticados pelos diversos agentes públicos corrompidos em benefício dos

empresários corruptores, já foi possível detectar algumas atuações com infração de dever

funcional que podem ser diretamente relacionadas aos atos de corrupção ativa e passiva ora

imputados aos empresários JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO,

MARCELO TRAÇA, LÉLIS TEIXEIRA e JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, bem como ao

ex-governador SÉRGIO CABRAL, razão pela qual incidem, no caso concreto, as majorantes

previstas no art. 333, parágrafo único, e no art. 317, §1º, ambos do Código Penal.

Com efeito, o Governador, como chefe do poder executivo estadual,

possui, perdoe-se o truísmo, ampla competência para praticar atos que possam beneficiar ou

prejudicar os interesses de empresários do setor transportes de passageiros, seja por meio da

concessão de incentivos fiscais, seja por meio da gestão orçamentária quanto ao reembolso das

gratuidades às empresas de ônibus, ou até mesmo por ter poderes para determinar a realização

de licitação para a concessão do serviço público ou, em última análise, para a sua encampação –

o que ocorreu no Estado do Rio de Janeiro em 1985, pelo então Governador Leonel Brizola.

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Eleito governador, SÉRGIO CABRAL indicou ROGÉRIO ONOFRE46

para ocupar o posto de Presidente do Departamento de Transportes Rodoviários do Estado –

DETRO, Autarquia responsável pela regulação e fiscalização direta de todo o setor, tendo o

referido agente exercido tal função ao longo dos dois mandatos do ex-governador, sendo pessoa

de sua absoluta confiança.

À frente do DETRO, ROGÉRIO ONOFRE implementou as políticas de

governo idealizadas por SÉRGIO CABRAL, dentre as quais foi uma das maiores prioridades o

combate intensivo contra o transporte alternativo, atividade que, muito embora seja esperada da

referida entidade estatal, veio a atender aos interesses dos empresários de ônibus à época e, no

contexto da investigação ora empreendida, permite inferir que tal atuação, dentre outras, gerou

como contraprestação os pagamentos milionários a título de propina.

Nesse sentido, veja-se o seguinte trecho de e-mail localizado na caixa de

LELIS TEIXEIRA, no qual, às vésperas da implantação do bilhete único intermunicipal47,

SÉRGIO CABRAL exalta o papel de ROGÉRIO ONOFRE na implantação da política de

combate ao transporte ilegal no Estado:

46 Denunciado em outra ação penal ajuizada nesta data.47 Instituído a partir de 1º/02/2010, pela Lei estadual nº 5628/2009.

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Mais ainda, mesmo em temas afetos à competência do Presidente do

DETRO, como a autorização para reajuste das tarifas de ônibus intermunicipais, o governador

SÉRGIO CABRAL fazia tratativas diretas com os empresários do setor, com os quais tinha

estreita relação.

É o que se infere do e-mail a seguir, localizado na caixa de LELIS

TEIXEIRA, por meio do qual, no dia 08/12/2009, o Presidente Executivo da FETRANSPOR

solicita reunião diretamente ao Governador SÉRGIO CABRAL para tratar do aumento das

tarifas, o qual confirma a disponibilidade para o encontro no Palácio Laranjeiras no dia

10/12/2009 às 19:30h:

Vale frisar que o ano de 2009 foi o último no qual vigorou a política de

reajuste tarifário por meio de planilhas de custos apresentadas pela própria FETRANSPOR ao

DETRO, pois, a partir de 2010 os reajustes passaram a ser vinculados ao IPCA48, conforme

48 Portaria DETRO nº 975/2009.

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compromisso assumido pelo Governo em Termo de Ajustamento de Conduta firmado com o

Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro49.

Assim, alguns dias após as tratativas empreendidas diretamente pelo então

governador SÉRGIO CABRAL, o Presidente do DETRO à época, ROGÉRIO ONOFRE

autorizou, por meio da Portaria nº 974, de 23/12/2009, publicada no Diário Oficial do Estado do

Rio de Janeiro, no dia 28/12/2009, o aumento de tarifa das passagens de ônibus intermunicipais

no percentual de 7,05%:

Posteriormente, em auditoria realizada pelo Tribunal de Contas do Estado

– TCE, no ano de 2013, foi constatado, dentre diversas irregularidades, que o aumento de tarifa

concedido por ROGÉRIO ONOFRE em 2009, no percentual de 7,05% para os serviços

rodoviários não metropolitanos (tarifa A) foi superior ao calculado no estudo tarifário (2,68%),

49 https://mp-rj.jusbrasil.com.br/noticias/2512478/tac-firmado-entre-mprj-e-detro-define-indice-de-reajuste-de-tarifas-de-onibus-intermunicipais

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o que resultou na condenação do gestor perante a Corte de Contas, no âmbito do processo nº

113.608-3/13.

Muito embora a auditoria técnica do TCE não tenha calculado

especificamente os prejuízos aos usuários do serviço com o aumento indevido e nem

quantificado os valores dos benefícios indevidamente auferidos pelas empresas de ônibus, foi

consignado dentre os principais achados do relatório que “as tarifas do Transporte Rodoviário

Intermunicipal de Passageiros por Ônibus não refletem adequadamente os custos do sistema”,

gerando, como efeito a “oneração da tarifa em função da apropriação de custos indevidos”,

oneração esta que continuou repercutindo nos posteriores aumentos de tarifas, mesmo quando

já adotado o IPCA:

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Cumpre destacar o “item a.2” do referido relatório de auditoria, o qual

revelou que a desoneração tributária das contribuições sociais previdenciárias promovida

posteriormente pela Lei Federal nº 12.546/2011 (alterada pela Lei nº 12.715/2012), não foi

observada pelo então Presidente do DETRO ROGÉRIO ONOFRE para reduzir as tarifas

intermunicipais ou ao menos amenizar o seu aumento, à luz do princípio da modicidade

tarifária:

Como se não bastasse a atuação suspeita de SÉRGIO CABRAL no

reajuste das tarifas no ano de 2009, o recebimento dos valores milionários a título de propina,

custeados pelos empresários de ônibus, pode ser relacionado a um ato de ofício concretamente

identificado, praticado pelo então Governador com infração de dever funcional, no início de

2014, como se passa a expor.

3.3.1. Do desconto de 50% sobre o IPVA dos ônibus

Em janeiro de 2014, o então Governador SÉRGIO CABRAL concedeu,

por meio do Decreto nº 44.568, de 17 de janeiro de 2014, desconto de 50% no IPVA para as

empresas de ônibus do Estado do Rio de Janeiro, apenas um dia após o recebimento do ofício

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com a solicitação encaminhado pelo Presidente Executivo da FETRANSPOR, LÉLIS

TEIXEIRA.

O Decreto foi assinado no dia 17/01/2014, sexta-feira, e publicado no

Diário Oficial em 21/01/2014, terça-feira.

O processo administrativo E-12/001/56/2017, que embasou o referido

decreto, possui apenas 15 páginas e está anexado na íntegra a esta denúncia.

Salta aos olhos a agilidade com que tramitou o referido procedimento na

administração estadual. No entanto, a celeridade ímpar pôde ser compreendida após a análise

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dos dados obtidos com o afastamento do sigilo telemático autorizado na medida cautelar nº

0504252-24.2017.4.02.5101, a qual permitiu constatar que o ato administrativo praticado pelo

então Governador foi precedido de intensa negociação nos bastidores com os empresários de

ônibus e outros integrantes do alto escalão do governo.

Veja-se que em 26/12/2013 JACOB BARATA FILHO encaminhou

mensagem ao então governador SÉRGIO CABRAL solicitando, de maneira enfática, a isenção

do IPVA para os ônibus, “da mesma forma que foi dado às vans e barcas, sob pena de

perdermos a nossa liderança”. A mensagem foi lida e respondida por SÉRGIO CABRAL

apenas dois minutos depois, com a indicação de que a Assembleia Legislativa estaria em

recesso e o tema seria bastante polêmico por envolver perda de receitas também para os

municípios. Confira-se:

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Alguns dias depois, em 09/01/2014, SÉRGIO CABRAL encaminhou

mensagem ao então Presidente Executivo da FETRANSPOR, LÉLIS TEIXEIRA, expondo a

dificuldade para reduzir o IPVA, ressaltando que a questão teria que ser tratada com “muito

cuidado” pois já “fizemos um grande esforço fiscal com a desoneração do ICMS”50. Além

disso, destacou que o Estado paga por ano mais de 500 milhões de Reais a título de subsídios

para o bilhete único. Por fim, deixou claro que o pleito seria atendido no momento apropriado:

A imagem acima ainda demonstra que, no dia 10/01/2014, LÉLIS

TEIXEIRA compartilhou a mensagem com JOSÉ CARLOS LAVOURAS, então Presidente

50 Como já visto em capítulo anterior, em janeiro de 2014 também foi concedida isenção do ICMS sobre o serviço de transporte urbano ou metropolitano de passageiros, pela Resolução da Secretaria de Fazenda – SEFAZ nº 706, de 27-12-2013, o que foi objeto de comemoração pelos empresários, conforme e-mail reproduzido nesta denúncia.

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do Conselho de Administração da FETRANSPOR, justamente o responsável por dar as ordens

quanto à distribuição da propina custeada com o caixa da FETRANSPOR.

Em seguida, no dia 16/01/2014, LÉLIS TEIXEIRA encaminhou o ofício

FETRANSPOR nº 42/2014 ao Secretário Estadual de Transportes, solicitando formalmente a

redução do IPVA que já havia sido debatida nos bastidores com o chefe do Poder Executivo.

Não por acaso, a despeito das dificuldades narradas dias antes aos

empresários, o decreto de desoneração fiscal foi editado por SÉRGIO CABRAL um dia após o

recebimento do ofício da FETRANSPOR, sem amparo em estudo técnico que tivesse

demonstrado concretamente o reflexo da redução do tributo nos custos do serviço de transporte

público e nas tarifas dos ônibus intermunicipais custeadas pela população, indicando que

prevaleceram os motivos secretamente ajustados entre os empresários e a cúpula do Governo do

Estado.

Veja-se que o parecer de fls. 07, elaborado pelo então Superintendente de

Gestão da Agência Metropolitana de Transportes Urbanos – AMTU, expõe, ao longo de seus

exíguos cinco parágrafos, que a desoneração do IPVA dos prestadores de serviço de transporte

público tem o intuito de “diminuir o peso que as passagens representam para essa significativa

parcela da população” e que “com esta medida estar-se-á beneficiando milhões de cidadãos

que utilizam o transporte coletivo de passageiros do Estado do Rio de Janeiro”, sem, contudo,

apontar de que forma a redução tributária seria considerada no cálculo das tarifas.

Nessa linha, voltando ao Decreto nº 44.568, de 17 de janeiro de 2014,

verifica-se que o primeiro fundamento exposto é “a necessidade de desoneração do serviço de

transportes coletivos, de forma que o Estado possa contribuir para a modicidade das tarifas”.

No entanto, além de não ter sido apontado, em nenhuma página do

procedimento administrativo nº E-10/001/56/2014, o quanto as tarifas seriam reduzidas ou não

aumentadas com base na medida de renúncia fiscal, essa desoneração não poderia ter impacto

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no reajuste das tarifas dos ônibus intermunicipais, uma vez que, desde o ano de 2010, o reajuste

era feito com base no IPCA, como ficou estabelecido pela Portaria DETRO nº 975/2009.

De fato, a variação do IPCA foi o parâmetro utilizado para o reajuste das

tarifas que vigoraram nos anos de 2014 e 2015, como se infere das Portarias DETRO nº

1135/2014 e 1172/2014, nas quais não houve referência à redução de IPVA concedida pelo

Decreto nº 44.568/2014.

Tratou-se, portanto, de benefício uniliteral concedido pelo então

Governador SÉRGIO CABRAL aos empresários de ônibus do Rio de Janeiro, dentre os quais,

foram diretamente beneficiados JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO,

MARCELO TRAÇA e JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, com o auxílio de LÉLIS

TEIXEIRA.

A não deixar dúvidas de que o Decreto nº 44.568/2014 foi editado por

SÉRGIO CABRAL com flagrante violação de dever funcional, o ato normativo teve a sua

inconstitucionalidade declarada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, nos autos

da ação direta nº 0003504-24.2014.8.19.0000, a qual foi julgada procedente pelo Tribunal de

Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por acórdão que transitou em julgado em junho de 2016:

Direito Constitucional. Representação por Inconstitucionalidade doDecreto nº 44.568, de 14 de janeiro de 2014, do Estado do Rio de Janeiro,que concede desconto no IPVA/2014 referente aos ônibus e micro-ônibusdestinados à prestação de serviço público de transporte de passageiros àsrespectivas concessionárias ou permissionárias.(...) é evidente que o suposto desconto consubstancia verdadeirobenefício fiscal, tendo em vista que o desconto de 50% (cinquenta porcento) no pagamento do tributo é reflexo necessário da redução seja desua alíquota, seja de sua base de cálculo.Como é cediço, a exigência de lei formal para a concessão de benefíciosfiscais tem expressão constitucional, no art. 198 da Constituição do Estadodo Rio de Janeiro, em reprodução ao expresso no art. 150, § 6º, daConstituição da República.Dessa forma, ao prever benefício fiscal em inobservância à reserva delei formal, o decreto impugnado é manifestamente inconstitucional por

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violação ao art. 198 da CE/RJ. (Parecer ministerial, fls. 65/66, da lavrado eminente Procurador de Justiça Carlos Cícero Duarte Júnior, AssessorChefe da Assessoria de Atribuição Originária em Matéria Cível)Precedente: TJRJ – Órgão Especial. Representação porInconstitucionalidade nº 0000567-12.2012.8.19.0000. Rel. Des. MiltonFernandes de Souza. j. 14/01/2013Procedência do pedido para declarar a inconstitucionalidade do DecretoEstadual, objeto da presente ação, com eficácia ex tunc, parcelando-se odébito em quatro vezes, nos termos do parecer ministerial.A C O R D A M os Desembargadores que integram o Órgão Especial doTribunal de Justiça do Rio de Janeiro, por maioria, julgou-se procedente opedido, nos termos do voto do Redator designado.

(destacou-se)

Não bastasse, chama a atenção o fato de que, justamente entre os meses de

janeiro e fevereiro de 2014, as planilhas dos colaboradores indicam que saiu do “caixa dois” da

FETRANSPOR o pagamento do bônus de R$13.000.000,00 (treze milhões de reais) ao

governador SÉRGIO CABRAL, além das quantias regularmente repassadas por mês ao chefe

do Poder Executivo. Conforme registrado nas planilhas, nos dias 14/01/2014 (“referente a

26/12”) e 16/02/2014 (“referente a janeiro”), foram realizados dois pagamentos, cada qual no

valor de R$6.500.000,00 (seis milhões e quinhentos mil reais), conforme imagem reproduzida

no item 3.1, acima.

Em suma, restou nítido que, por um lado, o Governador SÉRGIO

CABRAL concedeu benefícios tributários às empresas de ônibus51, abrindo mão de receitas

importantes para o combalido orçamento do Estado do Rio de Janeiro. Tais benesses, no

entanto, não foram consideradas pelo então Presidente do DETRO ROGÉRIO ONOFRE para

reduzir os valores das tarifas pagos pelos usuários do serviço público de transportes ou ao

menos para diminuir o seu percentual de aumento.

51 Relembre-se outro ato editado por SÉRGIO CABRAL em janeiro de 2014, qual seja, o Decreto nº 44.550, de 02 de janeiro de 2014, transcrito acima, que reduziu em 100% a base de cálculo do ICMS na prestação de serviços de transporte rodoviário intermunicipal de passageiros.

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Esse cenário, em conjunto com as robustas provas acerca do recebimento

de valores milionários pelos dois agentes públicos, ofertados e custeados pelos empresários

controladores do setor de transporte público do Estado do Rio de Janeiro, torna inequívoco que

em razão das vantagens indevidas foram praticados atos de ofício com infração de dever

funcional, razão pela qual incidem, no caso concreto, as causas de aumento de pena previstas no

art. 333, parágrafo único, e no art. 317, §1º, ambos do Código Penal.

3.4 – Lavagem de dinheiro (fato 03)

No período compreendido entre 30 de julho de 2010 e 30 de março de

2016, quando consumados os delitos antecedentes de corrupção e contra o sistema financeiro

nacional, JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO, LÉLIS TEIXEIRA,

MARCELO TRAÇA e JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, proprietários de empresas de

ônibus e/ou integrantes da cúpula da FETRANSPOR, de modo consciente e voluntário, por

intermédio dos colaboradores ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS e com o auxílio dos

operadores MÁRCIO MIRANDA e DAVID SAMPAIO, de forma habitual e por intermédio

de organização criminosa, tendo o propósito de distanciar ainda mais o dinheiro derivado de

crimes praticados de sua origem ilícita, ocultaram e dissimularam a origem, a natureza,

disposição, movimentação e a propriedade de pelo menos R$ 141.430.000,0052 (Lavagem de

Ativos/Art. 1º, §4º, da Lei 9.613/98 – FATO 03).

Todos os pagamentos de dinheiro em espécie referidos no capítulo 3.1,

supra, foram realizados numa dinâmica que se enquadra na tipologia de lavagem de ativos

ilícitos, porquanto, resumidamente, ocorriam com o uso de dinheiro de caixa dois das empresas

de ônibus, portanto fruto de sonegação tributária, que eram guardados e ocultados por

transportadoras de valores, e após distribuídos ao ex-governador SÉRGIO CABRAL, num

verdadeiro sistema paralelo bancário. Do ingresso nesse sistema informal até a entrega dos

52 Não está incluído nos atos de lavagem os R$ 3.351.800,00 pagos em dinheiro a CABRAL por intermédio de CARLOSBEZERRA, uma vez que não oriundos do esquema NOVIS para ocultação de dinheiro.

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valores de propina ao destinatário final a natureza, a origem, localização e disposição foram

ocultadas das autoridades públicas.

Com efeito, o colaborador ÁLVARO NOVIS revelou em seu anexo 8 que

no esquema estruturado de distribuição de propina da FETRANSPOR, o dinheiro espúrio “era

recolhido nas garagens de algumas empresas de ônibus vinculadas à FETRANSPOR pela

TRANSEGUR (hoje Prosegur); Que o dinheiro era custodiado na sede da TRANSEGUR; Que o

dinheiro custodiado era utilizado para fazer pagamentos a políticos;...”.

Ouvido pela Procuradoria-Geral da República, NOVIS ratificou referido

anexo, tendo acrescentado: “... Que a Fetranspor realizava pagamentos por meio da conta

Fsabi para SERGIO CABRAL/CARLOS MIRANDA; Que a conta Super também já foi

utilizada; Que ambas as contas estavam custodiadas nas transportadoras de valores

PROSEGUR e TRANSEXPERT...”. Ainda, esclareceu:

“... Que as empresas de ônibus entregavam o dinheiro em espécie emtransportadoras de valores; Que a entrega dos valores inicialmente era feitapara a TRANSEGUR; Que a TRANSEGUR foi adquirida pela PROSEGUR;Que havia outra transportadora de valores chamada TRANS EXPERT que erautilizada para custódia de valores; Que as empresas de ônibus possuíam'contas' nas transportadoras de valores para custódia dos recursos arrecadadoscom passagens; Que o Colaborador abriu 'contas' nas referidastransportadoras também para poder movimentar os valores das empresas deônibus; Que tais 'contas' eram meramente informais; Que os valores eramtransferidos das 'contas' das empresas para a 'conta' do colaborador e a partirdaí eram feitos os pagamentos aos beneficiários finais; Que o colaboradorpossuía contrato formal com ambas as transportadoras...”

Segundo o colaborador, a TRANSEXPERT tinha como dono de fato e

responsável pela sua gerência um policial de nome “DAVI”, conforme o Anexo 12.2, junto as

fls. 737 da PET 11.962 - STJ, devidamente ratificado em declarações formais:

102

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“DAVI” vem a ser o policial civil e ora denunciado DAVID AUGUSTO

DA CÂMARA SAMPAIO, conduzido coercitivamente por esse Juízo quando da deflagração

da fase mais ostensiva da Operação Calicute, oportunidade em que, ouvido em sede policial,

admitiu a sua relação com a corretora HOYA, mas não conseguiu afastar os indícios da sua

ingerência de fato sobre a TRANSEXPERT53.

Ainda sobre a TRANSEXPERT, a testemunha Ricardo Campos Santos,

funcionário da HOYA que fazia as entregas de valores a mando de ÁLVARO NOVIS ou

EDIMAR DANTAS, confirmou, em depoimento ao Ministério Público Federal, essa dinâmica

de recolhimentos de valores da FETRANSPOR pela TRANSEXPERT e distribuição regular e

que se protraiu no tempo a diversas pessoas indicadas pelos primeiros, inclusive a CARLOS

MIRANDA e CARLOS BEZERRA, operadores financeiros de SÉRGIO CABRAL.

53 Tampouco logrou explicar a documentação de HUDSON BRAGA, ADRIANA ANCELMO e PAULO FERNANDOMAGALHÃES (todos elementos importantes da Orcrim de SERGIO CABRAL), encontrados em busca em sua sala naempresa: ““... QUE em relação a empresa TRANS EXPERT tem a dizer que a mãe do declarante figura no quadrosocietário com 33% das cotas; QUE, em relação a essa empresa atua na área de relação comercial; QUE, não tomaquaisquer decisões gerenciais;... QUE, a função do declarante era basicamente o contato com o cliente no que tange acaptação; QUE, trabalha na captação de clientes há aproximadamente 10 anos; QUE, teve relação comercial com a equipede SÉRGIO CABRAL, por meio da empresa sendo esta a responsável pela segurança de uma das campanhas dele agovernador, sendo a segurança física do comitê central de campanha; QUE, não possui qualquer amizade com SÉRGIOCABRAL. QUE, sabe que ADRIANA ANSELMO é esposa de SÉRGIO CABRAL, no entanto não possui com estanenhuma relação; QUE, não se recorda do porquê de uma cópia do imposto de renda de ADRIANA ANSELMO tersido encontrada na sala do declarante na empresa TRANS EXPERT; QUE, o declarante ratifica que não tem nenhumarelação com ADRIANA ANSELMO; QUE, a HOYA CORRETORA era cliente da TRANS EXPERT; QUE, jamaisatuou como um banco para esta empresa ou para qualquer outra...”

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Como prova de corroboração sobre a importância de DAVID AUGUSTO

SAMPAIO no esquema, conforme narrado pelos colaboradores, vale registrar que, por meio de

terminal fixo, cadastrado em nome de ÁLVARO NOVIS, foram realizadas diversas ligações

para número cadastrado em nome desse denunciado, da Transportadora TRANSEXPERT:

TERMINAL_1_ORIGINADOR LEMBRETE_TERMINAL_1 TERMINAL_2_RECEBEDOR LEMBRETE_TERMINAL_2 DATA_INICIO

ÁLVARO NOVIS DAVID AUGUSTO CÂMARA SAMPAIO 01/12/2015 09:36:33

ÁLVARO NOVIS DAVID AUGUSTO CÂMARA SAMPAIO 01/12/2015 09:36:34

ÁLVARO NOVIS DAVID AUGUSTO CÂMARA SAMPAIO 01/12/2015 09:37:15

ÁLVARO NOVIS DAVID AUGUSTO CÂMARA SAMPAIO 01/12/2015 09:37:30

ÁLVARO NOVIS DAVID AUGUSTO CÂMARA SAMPAIO 01/12/2015 12:52:46

ÁLVARO NOVIS DAVID AUGUSTO CÂMARA SAMPAIO 03/02/2016 17:58:35

ÁLVARO NOVIS DAVID AUGUSTO CÂMARA SAMPAIO 03/02/2016 17:58:57

Também constam diversas ligações entre outro terminal fixo, também

cadastrado em nome de ÁLVARO NOVIS, e número cadastrado em nome da própria

Transportadora TRANSEXPERT:

TERMINAL_1_ORIGINADOR LEMBRETE_TERMINAL_1 TERMINAL_2_RECEBEDOR LEMBRETE_TERMINAL_2 DATA_INICIO

ÁLVARO NOVISTRANSEXPERT VIGIILANCIA ETRANSPORTE DE VALORES SA

18/12/2012 17:50:01

ÁLVARO NOVISTRANSEXPERT VIGIILANCIA ETRANSPORTE DE VALORES SA

18/12/2012 17:50:41

ÁLVARO NOVISTRANSEXPERT VIGIILANCIA ETRANSPORTE DE VALORES SA

18/12/2012 17:51:15

ÁLVARO NOVISTRANSEXPERT VIGIILANCIA ETRANSPORTE DE VALORES SA

18/12/2012 17:54:04

ÁLVARO NOVISTRANSEXPERT VIGIILANCIA ETRANSPORTE DE VALORES SA

24/11/2015 13:31:01

ÁLVARO NOVISTRANSEXPERT VIGIILANCIA ETRANSPORTE DE VALORES SA

24/11/2015 13:34:30

ÁLVARO NOVISTRANSEXPERT VIGIILANCIA ETRANSPORTE DE VALORES SA

01/12/2015 14:55:21

ÁLVARO NOVISTRANSEXPERT VIGIILANCIA ETRANSPORTE DE VALORES SA

01/12/2015 14:57:18

ÁLVARO NOVISTRANSEXPERT VIGIILANCIA ETRANSPORTE DE VALORES SA

01/12/2015 14:59:36

ÁLVARO NOVISTRANSEXPERT VIGIILANCIA ETRANSPORTE DE VALORES SA

03/02/2016 13:32:40

ÁLVARO NOVISTRANSEXPERT VIGIILANCIA ETRANSPORTE DE VALORES SA

03/02/2016 16:13:35

ÁLVARO NOVISTRANSEXPERT VIGIILANCIA ETRANSPORTE DE VALORES SA

18/02/2016 19:02:35

ÁLVARO NOVISTRANSEXPERT VIGIILANCIA ETRANSPORTE DE VALORES SA

19/02/2016 15:02:41

104

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Os dados telefônicos revelam, por exemplo, que entre os dias 24/11/2015 e

19/02/2016, ÁLVARO NOVIS conversou por oito vezes com a TRANSEXPERT de DAVID

AUGUSTO SAMPAIO, no interregno em que CARLOS MIRANDA recebeu o total de R$

3.000.000,00, num acordo com SÉRGIO CABRAL que totalizou R$ 6.000.000,00, conforme

registrado na planilha a seguir, referente à já citada conta “CM”:

Não há dúvida, nesse contexto, que esse dinheiro foi entregue pela

TRANSEXPERT a pedido de NOVIS, que por sua vez recebeu ordem de LAVOURAS para

repasse dos valores a MIRANDA, os quais retratam propina devida pelos dirigentes da

FETRANSPOR a CABRAL.

Em relação à PROSEGUR, relevantes as declarações do colaborador

EDIMAR DANTAS sobre o verdadeiro esquema bancário paralelo de ocultação, guarda e

transporte ilegal dos valores ilícitos por essa transportadora, bem como seu contato com

MÁRCIO MIRANDA:

“(…) que essa “compensação” ou aporte de valores de uma conta para aoutra se dava através de contato com MÁRCIO MIRANDA daPROSEGUR; QUE diversas vezes o depoente recebia uma ordem de JOSÉCARLOS LAVOURAS para transferir um dinheiro para a FRANCISCA;que então o depoente dava uma ordem a MARCIO MIRANDA daPROSEGUR nesse sentido; que, então MÁRCIO MIRANDA entregava ovalor pedido para Francisca na GUANABARA DIESEL em espécie; que,reversamente, quando era para FRANCISCA remeter valores para a contada FETRANSPOR, esta dava a ordem para MARCIO MIRANDA, quesimplesmente creditava o valor à disposição da FETRANSPOR; queFRANCISCA trabalhava na empresa GUANABARA DIESEL; (...)”

105

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Mas é fato que, como se viu, os valores recolhidos das empresas de ônibus

e que formaram a contabilidade paralela administrada pelo doleiro ÁLVARO NOVIS chegaram

a mais de R$ 250 milhões somente quanto aos empresários ora denunciados, os quais eram

custodiados informalmente e ilegalmente nas sedes das referidas transportadoras de valores e

posteriormente distribuídos a diversos agentes públicos, de acordo com os interesses das

empresas filiadas ao esquema.

Assim, invocando tudo que já narrado acima, em especial neste capítulo

referentes às transportadoras de valores, há que se lembrar que parte essencial do esquema de

ocultação de dinheiro montado pelos denunciados consistiu na manutenção de dinheiro em

espécie nas transportadoras de valores TRANSEGUR (após PROSEGUR) – por MÁRCIO

MIRANDA e TRANS EXPERT – por DAVID AUGUSTO SAMPAIO – onde os diversos

clientes tinham contas e onde funcionava até uma “câmara de compensação” entre as contas

que esses mesmos clientes mantinham ilegalmente no local.

Em outras declarações prestadas perante a Procuradoria-Geral da

República, EDIMAR esclareceu quanto ao esquema com a PROSEGUR: “Que após

19/05/2014 não houve mais envio de valores, pois foi o dia que o funcionário da PROSEGUR,

o SR. MARCIO MARQUES PEREIRA DE MIRANDA sumiu com o dinheiro da

Transportadora; Que há na Polícia Federal o IPL n.º 0080/2016-11 – DELECOR/PF/RJ, sob a

condução do Delegado Federal Robson Papini Mota; QUE acredita que a FETRANSPOR não

tenha reclamado esse dinheiro perdido, e não sabe qual o montante”.

É certo que a jurisprudência brasileira tem se posicionado, notadamente a

partir do julgamento do paradigmático Caso Mensalão (AP 470/STF), pela não configuração de

crime de lavagem de dinheiro em casos de pagamento de propina em espécie ao agente público

corrompido ou à pessoa interposta por faltar à conduta a elementar de ocultação ou

dissimulação dos valores.

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Disso não decorre, por óbvio, que está afastada a configuração do crime de

lavagem em toda e qualquer hipótese de circulação de recursos espúrios em espécie. Se o

esquema criminoso adota expedientes para dar aparência de licitude à circulação de dinheiro

“sujo” em espécie – ou seja, ocultando sua origem ilícita – ficam configuradas as elementares

típicas do crime da Lei 9.613/98.

No caso em tela, as empresas de ônibus do Rio de Janeiro que aderiram à

“caixinha da propina da FETRANSPOR”, a par da omissão de receitas – e suas consequências

penais e tributárias – criaram um “caixa 2” utilizado para o pagamento de propina a agentes

públicos. Para ocultar a ilicitude da circulação de dinheiro em espécie mantido à margem da

contabilidade oficial das empresas, os valores eram mantidos sob a guarda de empresas

transportadoras de valores.

As técnicas de ocultação dos recursos ilícitos estão claras. A guarda do

dinheiro por terceiro prestava-se não apenas a ocultar a origem ilícita do numerário como

também apagava o vínculo entre o dinheiro utilizado como pagamento de propina e as

concessionárias de ônibus e a FETRANSPOR.

Isso posto, está claro que a espúria intermediação das empresas de

transporte de valores PROSEGUR e TRANSEXPERT, que, por suas características, lidam com

grandes quantias em espécie pertencentes a terceiros, tinha a finalidade de ocultar a origem,

localização, disposição e a propriedade de valores provenientes de crimes contra a ordem

tributária e de corrupção.

Trata-se, em verdade, de uma modalidade mais complexa e refinada de

uma técnica clássica da lavagem de dinheiro, a “mescla” (commingling). Como ensina

MARCELO MENDRONI: “(...) qualquer forma que o agente utilize, não necessariamente

através de uma empresa, que embora seja a mais comum não é a única, misturando recursos

obtidos licitamente com outros obtidos ilicitamente, pela prática de algum ilícito penal, nos

termos da lei, configura a prática de crime de lavagem de dinheiro na medida em que ele

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'dissimula' a origem daqueles ganhos ilegais” (Crimes de Lavagem de Dinheiro. 6ª Edição. p.

194).

No caso, a mescla de recursos lícitos e ilícitos se deu com dinheiro em

espécie – e, portanto, à margem do sistema bancário – e através de empresas que não detém a

propriedade dos recursos, mas responsáveis pela guarda e transporte de numerários de terceiros.

A especificidade da mescla no caso em tela não descaracteriza o crime de lavagem; ao

contrário, as peculiaridades revelam maior empenho da organização criminosa em proteger os

recursos ilícitos do alcance da Administração da Justiça.

Nessa senda, é importante ter como guia o alerta de MARCELO

MENDRONI ao tratar da multiplicidade de técnicas de lavagem de dinheiro já identificadas

pelos mecanismos de controle ao redor do mundo: “São incontáveis as formas e acada dia

surgem novas. Funciona mais ou menos como a vacina está para a doença: quando surge uma

doença nova, os cientistas passam um bom tempo buscando entendê-la para depois conseguir

desenvolver uma vacina capaz de contê-la, mas, até então, ela já terá causado muitos danos à

saúde da população. Nos casos de lavagem de dinheiro ocorre o mesmo. Surgem novas

técnicas de lavagem e, até que as autoridades consigam desenvolver as 'vacinas' ou remédios

jurídicos, com legislações, estrutura, análise e mecanismos de combate, muito dinheiro já terá

sido lavado e muitos danos terão ocorrido para a 'saúde' financeira dos Governos e da

população.”(obra citada. p. 188).

3.5 – Crime contra o Sistema Financeiro (fato 04)

O braço da organização criminosa de SÉRGIO CABRAL na área de

transportes, para fazer cumprir seu intento da prática de crimes contra a Administração Pública

e lavarem os produtos ilícitos desses crimes, fez operar ilegalmente instituição financeira

nucleada na empresa de segurança e custódia de valores PROSEGUR.

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A partir da posição de custódia do BANCO GUANABARA na

PROSEGUR, e contando com a participação ativa de seu gerente-executivo, MÁRCIO

MARQUES PEREIRA DE MIRANDA, responsável pela conta do BANCO GUANABARA,

montou-se uma instituição dentro da instituição, com captação de poupança privada

independente do BANCO GUANABARA e por este não contabilizada.

Essa instituição, operada conjuntamente por ÁLVARO NOVIS, JACOB

BARATA FILHO, MARCIO MARQUES PEREIRA DE MIRANDA e JOSÉ CARLOS

LAVOURAS com o auxílio de outras pessoas identificadas e não identificados montou uma

operação financeira sofisticada, destinada a captar a poupança de diversas pessoas físicas e

jurídicas – mantê-las ocultas – assim cumprindo um dos seus objetivos, a lavagem de ativos e,

posteriormente dando a eles a destinação que desejassem, que poderia ser desde a utilização

desses valores para o pagamento de propina até o resgate desses valores.

Em período indeterminado, pelo menos entre o ano de 2010 e 20/05/2014,

os denunciados mantiveram operando essa instituição a partir da posição de custódia do

BANCO GUANABARA na empresa de segurança PROSEGUR.

De se notar que JACOB BARATA FILHO é administrador do Banco

Guanabara:

Essa posição de custódia do BANCO GUANABARA ocultava, na

verdade, recursos de diversas pessoas físicas e jurídicas que mantinham ali parte de sua

poupança. O esquema chega a espantar pela sofisticação e eficiência.

Diversas pessoas, físicas e jurídicas nominadas abaixo, mantinham

recursos em espécie na PROSEGUR, sob o guarda-chuva do BANCO GUANABARA.

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MÁRCIO MIRANDA, que geria a conta do banco na transportadora,

mantinha a contabilidade de cada empresa, transferindo valores de uma para a outra, de acordo

com a necessidade. Também quando era necessária a retirada de valores em espécie de algum

de seus “clientes”, expedia a ordem de entrega – em nome do BANCO GUANABARA – que

era cumprida pelos carros de transportes de valores da empresa de segurança, entregando os

valores no local indicado pelo cliente.

A operação era tão sofisticada que chegava a haver o controle por duas

contas principais, a F/NETUNO, onde os valores arrecadados das empresas eram mantidos e a

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F/SABI, onde eram mantidos o numerário destinado aos diversos pagamentos, como já citado

acima.

Essa realidade se extrai do depoimento do colaborador ÁLVARO NOVIS,

responsável pela HOYA Corretora e que, junto com MÁRCIO MIRANDA, era um dos

principais gerentes dessa operação ilegal de captação de poupança (cf. pet. 11962, v. 4, p. 633):

Na verdade, a gerência dessa instituição ilegal era exercida por três figuras

chaves: na PROSEGUR, o denunciado MÁRCIO MIRANDA; na HOYA, ÁLVARO NOVIS e

EDIMAR DANTAS e no Banco Guanabara, JACOB BARATA FILHO e sua secretária

FRANCISCA DA SILVA MEDEIROS.

MÁRCIO MARQUES PEREIRA DE MIRANDA era executivo

comercial da PROSEGUR e responsável pelo contrato do Banco Guanabara e, ainda, pelo

controle posições clandestinas mantidas por essas empresas na PROSEGUR.

O esquema chegou ao seu fim em 20/05/2014, quando se descobriu que

MÁRCIO, a par de controlar a contabilidade paralela, deu um desfalque na posição dessas

empresas, o que gerou um contencioso entre elas e a PROSEGUR.

Após sua saída foi apurado que ele, juntamente a pelo menos outros dois

empregados da PROSEGUR – Ricardo Epitaciano de Oliveira e Edson da Silva Agarez –

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ocultaram da empresa de segurança toda essa operação ilegal e, posteriormente, fraudaram o

próprio esquema criminoso, desviando valores das “clientes” da Hoya/Banco Guanabara na

PROSEGUR. Nesse sentido, anote-se a comunicação ao COAF nº 9316355:

Após o desaparecimento do funcionário da Prosegur Marcio MarquesPereira de Miranda (ocorrido em 20 de maio de 2014), e diante dasolicitação de alguns clientes em relação à posição do seu saldo decustódia, recebemos informações conflitantes dos clientes em relação ànatureza das operações por eles mencionadas, e a posição interna decustódia na tesouraria da Prosegur. Ao iniciar um procedimento interno deauditoria, que ainda segue em curso, identificou-se uma burla nos sistemasde controle de comunicação de operações suspeitas, praticada pelofuncionário desaparecido Marcio Marques Pereira de Miranda, na medidaem que vários clientes foram unificados em uma única custódia, registradaem nome do Banco Guanabara, como forma de acobertar a transação demovimentação de valores e entrega de numerário entre as mencionadasempresas, sem que fosse possível a identificação de tais movimentos comosendo realizados por pessoas jurídicas distintas. A fraude se perfez pelautilização de instituição financeira como titular da custódia, circunstânciaesta que exclui os registros de controle (por se tratar de instituiçãofinanceira autorizada pelo Banco Central). A par da constatação da fraude (que resultou por vitimar a Prosegur,responsável pelas custódias e pelo ressarcimento de valores faltantes juntoaos clientes), analisando-se as operações solicitadas pelos clientes duranteo período informado, foram identificadas várias movimentações de valoresentre pessoas jurídicas distintas.Especificamente em relação às empresas Braso Lisboa, Ideal, Única, FácilTransporte, Vila Real, Estrela, Tijuca, Alpha, Transurb, Saens-Peña,Verdun, Nossa Senhora das Graças, Jabor, Nossa Senhora do Amparo,Salineira, Rodoviária Matias, apurou-se que essas empresas de ônibusintegram o Grupo Guanabara (do qual ainda fazem parte Guanabara Diesele Banco Guanabara) e por solicitação da Guanabara Diesel, suas custódiassão unificadas. A custódia é abastecida por valores recolhidos dasmencionadas empresas de ônibus e alocadas na custódia do BancoGuanabara e posteriormente destinado à empresa Guanabara Diesel. Ovalor da custódia informado constitui a movimentação de entrada devalores, durante o período de 01/01/2013 a 30/05/2014.Além dessas circunstâncias, na auditoria realizada no ano de 2014,identificou-se que a Guanabara Diesel recebeu valores originários de outroGrupo de empresas de ônibus (Acari, Tinguá, Ponte Coberta, Viação NossaSenhora da Glória) que utilizam a corretora de valores Hoya comointermediária de valores. Além disso, identificou-se que o Grupo

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Guanabara também envia valores em espécie para a mencionada CorretoraHoya, com a qual não mantém vínculo societário aparente.As operações se afiguram suspeitas em razão das seguintes circunstâncias:a) Houve solicitação do próprio cliente para unificar custódia de valores devárias empresas (ainda que pertencentes a um mesmo grupo), sob um únicoregistro, em nome do Banco Guanabara;b) A empresa Guanabara Diesel não mantém vinculo societário e jurídicoaparente com as empresas de ônibus, porém administra os valoresoriginários das mencionadas empresas de ônibus e recebe os valores emsua sede.c) A empresa Guanabara Diesel, recebe e envia valores em espécie para aCorretora Hoya, sem nenhuma justificativa jurídica aparente.Este informe será completado com a discriminação das operaçõesindividualmente consideradas, mediante a formalização de outroscomunicados, que serão realizados com base nas informações apuradas atéo momento por meio da auditoria interna realizada, e com informaçõesfuturas que forem sendo apuradas no curso da auditoria.

Registre-se, por relevante, que o desfalque imputado a MÁRCIO

MIRANDA, alcançou outras empresas que não faziam parte dos crimes ora narrados, como se

infere dos documentos ora juntados.

Pelo lado do Banco Guanabara, JACOB BARATA FILHO e

FRANCISCA DA SILVA MEDEIROS operavam as operações clandestinas de captação de

poupança alheia e gerenciando os valores captados, como nos informa o colaborador ÁLVARO

NOVIS (Pet. 11.962, v. 1, p. 707:

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FRANCISCA, por sua vez, gerenciava intensamente a posição da

GUANABARA DIESEL na PROSEGUR, expedindo amiúde ordens para cumprimento por

MÁRCIO MIRANDA. Vejamos fls. 717 da Pet. 11962, v. 4:

Pela HOYA Corretora de Valores, gerenciavam essa captação ilegal de

recursos, os colaboradores ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS.

O núcleo da HOYA Corretora agia por conta e ordem de JOSÉ CARLOS

LAVOURAS, sócio das empresas que mantinham posições em seu nome, a saber: TINGUÁ;

ACARI; PONTE COBERTA e N SENHORA DA GLÓRIA, como se infere do depoimento do

colaborador ÁLVARO NOVIS às fls. 632 da Petição nº 11962:

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Aqui necessário se fazer uma distinção entre duas classes de clientes da

empresa de segurança PROSEGUR. Enquanto todas as empresas mencionadas acima eram

clientes do transporte de valores da empresa, apenas o Banco Guanabara possuía uma posição

de custódia na empresa. Ou seja, para a PROSEGUR e para qualquer autoridade que

fiscalizasse a empresa, todo o dinheiro em espécie encontrado na posição do Banco Guanabara,

a ele pertencia, quando, na verdade, “embaixo desses panos” havia toda uma instituição

financeira ilegal que captava valores de cerca de vinte pessoas físicas e jurídicas, inclusive

compensando valores entre eles.

Temos então que a posição do Banco Guanabara na PROSEGUR, na

verdade, escondia valores das pessoas mencionadas acima.

Também incorreu JACOB BARATA FILHO; MÁRCIO MIRANDA e

ÁLVARO NOVIS nas penas do art. 11 da Lei nº 7.492/86, eis que, pelo menos no período entre

2010 e 2014 mantiveram contabilidade paralela do BANCO GUANABARA alheia à qualquer

fiscalização das autoridades fiscais ou do BACEN.

Transcreva-se a norma do art. 11 da Lei nº 7.492/86:

“Art. 11. Manter ou movimentar recurso ou valor paralelamente à

contabilidade exigida pela legislação:

Penal - Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.”

Aqui, o Banco Guanabara, por conta e ordem de seu administrador

JACOB BARATA FILHO, no período entre 2010 e 20/05/2014 manteve e movimentou

extensas somas de dinheiro, fora da contabilidade oficial dessa instituição financeira.

Quando do desfalque que MÁRCIO MIRANDA deu no esquema de sua

organização, foi instaurado um contencioso entre a PROSEGUR – que até então não sabia de

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todas essas posições de custódia clandestinas – e o Banco Guanabara que, diante da lesão

sofrida, foi obrigado a expor sua contabilidade paralela para que sua posição pudesse ser

reconstituída.

Apenas à guisa de exemplo, transcreva-se a contabilidade paralela

apresentada pelo Banco Guanabara à PROSEGUR, relativa ao dia 12/05/2014 (doc. anexo):

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Esse contencioso, após a exposição do BANCO GUANABARA da sua

contabilidade oculta, acabou em um acordo, onde a PROSEGUR recompôs a posição dessa

instituição financeira e das empresas que integravam clandestinamente sua posição de custódia

em R$ 7.074.499,73. Vejamos o documento (doc. anexo):

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Perceba-se que quem assina pelo BANCO GUANABARA e pelas

empresas de seu grupo que tinham posições na PROSEGUR é o denunciado JACOB BARATA

FILHO.

Assim, JACOB BARATA FILHO, na qualidade de administrador do

BANCO GUANABARA, instituição financeira – em concurso com MARCIO MIRANDA e

ÁLVARO NOVIS incorreram nas penas do art. 11 da lei nº 7.492/86.

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E nem se diga que no caso os crimes contra o sistema financeiro foram

absorvidos pelo crime de lavagem da Lei nº 9.613/98, eis que tratam-se de bens jurídicos

ofendidos diversos, pelo que, no caso, deve prevalecer a regra do concurso de crimes. Vejamos

o que nos diz Baltazar Júnior sobre o bem jurídico tutelado pelos crimes do art. 16 da Lei nº

7.492/86:

“ O SFN, os consumidores, a poupança popular e a fé pública” (in, CrimesFederais, Baltazar Júnior, José Paulo, Saraiva, São Paulo, 11ª ed., 2017, p.669)

Coteje-se agora, o bem jurídico ofendido pelo crime de lavagem de ativos

previsto na Lei nº 9.613/98:

“ Mais acertado, em meu modo de ver, é considerar o crime comopluriofensivo (Montealegre Lynett: 9; TRF4, AC 19997103001155-3,Germano, 1ª T., u., 18.12.00), atingindo a ordem econômica, aadministração da justiça e o bem jurídico protegido pela infração penalantecedente. (in, Crimes Federais, Baltazar Júnior, José Paulo, Saraiva, SãoPaulo, 11ª ed., 2017, p. 1086)

Assim, resta claro que JACOB BARATA; JOSÉ CARLOS

LAVOURAS; ÁLVARO NOVIS; EDIMAR DANTAS; FRANCISCA DA SILVA

MEDEIROS; e MARCIO MARQUES PEREIRA DE MIRANDA operaram sem

autorização para tanto, instituição financeira, para isso se valendo da posição de custódia que o

BANCO GUANABARA, captando recursos de diversas pessoas e utilizando esses recursos,

inclusive fazendo operar uma “câmara de compensação clandestina” entre elas, incorrendo

assim, nas penas do art. 16 da lei nº 7.492/86.

JACOB BARATA FILHO, MARCIO MIRANDA e ÁLVARO NOVIS,

em concurso, incorreram ainda nas penas do art. 11 da Lei nº 7.492/86 eis que mantiveram

contabilidade paralela do BANCO GUANABARA, inclusive com a manutenção de clientes

ocultos da instituição e dos valores por eles mantidos.

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3.6 – Do crime de pertinência a organização criminosa. A atuação dos dirigentes da

FETRANSPOR na “caixinha da propina”. Mais provas de corroboração.

Pelo menos entre 01 de janeiro de 2007 54 e 17 de novembro de 201655,

JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA FILHO, LÉLIS TEIXEIRA,

MARCELO TRAÇA, JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, ÁLVARO NOVIS, EDIMAR

DANTAS, MÁRCIO MIRANDA, DAVID SAMPAIO, ENEAS BUENO, OCTACÍLIO

MONTEIRO, FRANCISCA MEDEIROS, CARLOS ROBERTO ALVES, REGINA

ANTONIO, ENI GULINELI e CLÁUDIA FERREIRA, além de outras pessoas (ou já

denunciadas por integrarem a mesma organização criminosa, ou ainda a serem processadas), de

modo consciente, voluntário, estável e em comunhão de vontades, promoveram, constituíram,

financiaram e integraram, pessoalmente, uma organização criminosa que tinha por finalidade a

prática de, entre outros, crimes de corrupção ativa e passiva e contra o sistema financeiro, em

detrimento do ESTADO DO RIO DE JANEIRO e da UNIÃO, bem como a lavagem dos

recursos financeiros auferidos desses crimes (Pertinência a Organização Criminosa/Art. 2º, §

4º, II, da Lei 12.850/2013 – FATO 05).

Os atos de corrupção ativa imputados nesta denúncia foram praticados

pelos referidos denunciados, empresários e dirigentes da FETRANSPOR, por meio de ações

coordenadas e articuladas, que se protraíam ao longo de mais de seis anos, com divisão de

tarefas e estrutura hierárquica escalonada, a caracterizar mais um ramo da poderosa e nodal

organização criminosa que se instalou no Estado do Rio de Janeiro durante o Governo de

SÉRGIO CABRAL.

A partir dos relatos dos colaboradores ÁLVARO NOVIS e EDIMAR

DANTAS foi possível compreender o funcionamento deste sofisticado esquema para

arrecadação de valores milionários nas garagens das empresas de ônibus, sua custódia,

54 Data da posse do denunciado SÉRGIO CABRAL no cargo de governador do ESTADO DO RIO DE JANEIRO.55 Data da deflagração da Operação Calicute, com a prisão preventiva de alguns dos denunciados, incluindo o líder da

ORCRIM, SÉRGIO CABRAL.

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contabilização e posterior distribuição a título de propina para agentes públicos no Estado do

Rio de Janeiro. Em seguida, as provas de corroboração obtidas com o aprofundamento das

investigações permitiram individualizar e confirmar o papel de cada um dos particulares acima

nos atos de corrupção ora narrados.

O gráfico a seguir traz uma noção do tamanho dessa ramificação da

ORCRIM de SÉRGIO CABRAL no setor de transporte público estadual, com destaque para as

pessoas denunciadas na presente inicial56:

Como descrito, quem orquestrava o esquema pelo núcleo econômico da

ORCRIM era JOSÉ CARLOS LAVOURAS, Presidente do Conselho de Administração da

FETRANSPOR, além de empresário de ônibus à frente da TRANSPORTES FLORES e outras

12 empresas no setor de transportes. Esse denunciado57 coordenava os recolhimentos a serem

vertidos por outros empresários, determinando os valores a serem aportados por cada empresa

56 Tendo em vista a necessidade de racionalizar o curso do processo, zelando pela razoável duração da tramitação desta ação penal, que já conta com elevado número de partes e fatos, oferece-se, nesta data, denúncia apartada relativa aos fatos ilícitos que envolvem outros integrantes da mesma organização criminosa.

57 Após deflagrada a Operação Ponto Final não retornou de Portugal, tendo já sido pedida sua extradição para prisãopreventiva no Brasil.

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na “caixinha” da FETRANSPOR, repassando as ordens de recolhimento e pagamento aos

operadores financeiros ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS.

O Presidente do Conselho de Administração da FETRANSPOR, ocupando

esse cargo desde a sua criação há cerca de vinte anos, repassava mensalmente, por intermédio

do gerente financeiro da FETRANSPOR, o ora denunciado CARLOS ROBERTO ALVES, a

relação das empresas e os valores que deveriam ser recolhidos semanalmente em cada uma

delas aos colaboradores. Esse gerente admitiu em seu interrogatório policial que entregava

pacotes que imagina ser dinheiro e envelopes com documentos aos colaboradores, corroborando

os fatos objeto da denúncia.

Como dono das empresas TRANSPORTES FLORES, VIAÇÃO ACARI

S/A, EXPRESSO NOSSA SENHORA DA GLÓRIA LTDA, VIAÇÃO PONTE COBERTA

LTDA, EXPRESSO REAL RIO LTDA e RIO D’OURO TRANSPORTES COLETIVOS LTDA,

LAVOURAS contribuía regularmente para a caixinha da propina da FETRANSPOR que ele

mesmo geria com a ajuda dos operadores que ora se apresentam como colaboradores. Esse,

dinheiro recolhido pelas transportadoras TRANSEXPERT e PROSEGUR nas empresas de

ônibus, era contabilizado por ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS na conta

“F/NETUNO” e, após debitadas despesas operacionais a mando de LAVOURAS, o saldo era

transferido para a outra conta, de nome “F/SABI”, para, então, serem distribuídos e

contabilizados os pagamentos de propina.

Conforme narrado por pelos colaboradores e testemunhas já declinados,

LAVOURAS indicava todos os pagamentos de propina a políticos pela FETRANSPOR, por

ordens escondidas em bilhetes codificados entregues ao referido gerente financeiro. Sua

secretária na Federação, a ora denunciada REGINA ANTONIO, também tinha a missão de

passar os bilhetes, além de entregar dinheiro de propina pessoalmente aos funcionários da

HOYA.

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A mesma missão era incumbida à secretária de LAVOURAS na

TRANSPORTES FLORES, ENI GULINELI, que tratava de pagamentos pelo caixa da propina

com EDIMAR DANTAS para ajuste das contas das planilhas e batimento de débito e crédito.

Também a ela continuou, a mando de LAVOURAS, o esquema de repasse do dinheiro de

propinas a SÉRGIO CABRAL após a prisão de ÁLVARO NOVIS, desta feita por intermédio

de CARLOS BEZERRA, como narrado no capítulo próprio.

Vale dizer que CARLOS ROBERTO ALVES, REGINA ANTONIO e

ENI GULINELI admitiram essa atribuição em seus interrogatórios policiais, embora tenham

negado conhecer o destino dos valores e documentos que repassavam, o que não se apresenta

minimamente crível diante da anormalidade na circulação, por eles, regularmente, de pacotes

com dezenas de milhares de Reais em dinheiro vivo, além de bilhetes cifrados e repassados a

pessoas a quem sabiam ser doleiros (NOVIS e EDIMAR) de forma escamoteada e fora dos

padrões para uma Federação que representa sindicatos de empresas de ônibus (FETRANSPOR)

e também para uma empresa de ônibus (TRANSPORTES FLORES). Além disso, acresçam-se

os muitos anos em que trabalhavam para LAVOURAS, e da confiança que este depositava nos

mesmos.

Segundo confirmado por contato localizado na agenda telefônica de

LELIS MARCOS TEIXEIRA, JOSÉ CARLOS LAVOURAS utilizava o número de celular

(21) 99964-200658, o qual está formalmente cadastrado no CNPJ da FETRANSPOR:

Através do referido telefone celular, LAVOURAS de fato se comunicou

por inúmeras vezes com o colaborador ÁLVARO NOVIS, entre janeiro de 2012 a março de

2016, conforme tabela a seguir:

58 O mesmo número de celular consta como sendo de JOSÉ CARLOS LAVOURAS nas agendas telefônicas de CARLOSMIRANDA e HUDSON BRAGA, conhecidos integrantes da ORCRIM liderada por SÉRGIO CABRAL.

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Assinado com login e senha por JOSE AUGUSTO SIMOES VAGOS, em 07/08/2017 18:01. Para verificar a autenticidade acesse

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

ÁLVARO NOVIS FETRANSPOR 14/08/2014 11:43:16

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

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FETRANSPOR ÁLVARO NOVIS 21/10/2014 20:11:24

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FETRANSPOR ÁLVARO NOVIS 13/06/2015 18:19:22

FETRANSPOR ÁLVARO NOVIS 13/06/2015 18:19:45

FETRANSPOR ÁLVARO NOVIS 27/10/2015 12:05:45

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ÁLVARO NOVIS FETRANSPOR 01/01/2016 21:11:49

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FETRANSPOR ÁLVARO NOVIS 04/02/2016 22:30:33

FETRANSPOR ÁLVARO NOVIS 07/03/2016 11:44:00

FETRANSPOR ÁLVARO NOVIS 07/03/2016 11:44:23

A partir de novo levantamento nos dados obtidos por meio do afastamento

do sigilo dos registros telefônicos autorizado no processo nº 0506980-72.2016.4.02.5101, foi

constatado que, no período de 01/01/2007 a 02/08/2016, CARLOS MIRANDA, HUDSON

BRAGA e WILSON CARLOS, conhecidos integrantes da organização criminosa que se

instalou no Estado do Rio de Janeiro, comunicaram-se por diversas vezes com JOSÉ CARLOS

LAVOURAS por meio do celular (21) e com LELIS TEIXEIRA, celular (21)

, como demonstram o gráfico e a tabela abaixo:

128

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

TERMINAL_1_ORIGINADOR LEMBRETE_TERMINAL_1 TERMINAL_2_RECEBEDOR LEMBRETE_TERMINAL_2 DATA_INICIO

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 16/07/2012 10:54:45

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 16/07/2012 10:54:45

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 16/07/2012 10:54:45

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 16/07/2012 10:54:45

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 17/07/2012 12:09:30

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 17/07/2012 12:09:30

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 17/07/2012 12:09:30

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 17/07/2012 12:09:30

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA06/08/2012 17:27:01

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA06/08/2012 17:27:01

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA06/08/2012 17:27:04

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA06/08/2012 17:27:04

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA07/08/2012 13:10:35

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA07/08/2012 13:10:35

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 07/08/2012 13:23:55

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 07/08/2012 13:23:55

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 07/08/2012 13:23:55

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 07/08/2012 13:23:55

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 07/08/2012 16:19:52

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 07/08/2012 16:19:52

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 07/08/2012 16:19:52

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 07/08/2012 16:19:52

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA14/11/2012 20:19:15

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA16/11/2012 13:22:32

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 16/11/2012 13:59:02

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA16/11/2012 14:07:59

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA21/11/2012 11:49:16

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 21/11/2012 15:18:15

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA21/11/2012 15:21:58

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA24/12/2012 14:05:24

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 24/12/2012 20:55:02

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA31/03/2013 15:29:04

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA31/03/2013 15:29:05

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 05/12/2013 11:00:53

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 05/12/2013 11:01:03

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA06/12/2013 12:24:05

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA06/12/2013 12:25:01

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 06/12/2013 12:27:26

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 06/12/2013 12:42:40

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA10/12/2013 12:08:04

CARLOS EMANUEL DE CARVALHO

MIRANDAJOSÉ CARLOS LAVOURAS 12/12/2013 16:24:33

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Assinado com login e senha por JOSE AUGUSTO SIMOES VAGOS, em 07/08/2017 18:01. Para verificar a autenticidade acesse

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA16/12/2013 17:55:34

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA24/12/2013 12:36:32

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA24/12/2013 12:36:33

JOSÉ CARLOS LAVOURASCARLOS EMANUEL DE

CARVALHO MIRANDA25/02/2014 18:29:40

WILSON CARLOS LELIS MARCOS TEIXEIRA 06/05/2014 20:22:07

WILSON CARLOS LELIS MARCOS TEIXEIRA 06/05/2014 20:22:07

JOSÉ CARLOS LAVOURAS HUDSON BRAGA 26/05/2014 12:09:28

JOSÉ CARLOS LAVOURAS HUDSON BRAGA 26/05/2014 12:09:31

HUDSON BRAGA JOSÉ CARLOS LAVOURAS 26/05/2014 15:36:04

HUDSON BRAGA JOSÉ CARLOS LAVOURAS 26/05/2014 15:36:04

HUDSON BRAGA LELIS MARCOS TEIXEIRA 17/07/2014 16:08:13

HUDSON BRAGA LELIS MARCOS TEIXEIRA 17/07/2014 16:08:13

HUDSON BRAGA JOSÉ CARLOS LAVOURAS 17/07/2014 16:09:45

HUDSON BRAGA JOSÉ CARLOS LAVOURAS 17/07/2014 16:09:45

JOSÉ CARLOS LAVOURAS HUDSON BRAGA 17/07/2014 16:38:58

JOSÉ CARLOS LAVOURAS HUDSON BRAGA 17/07/2014 16:39:02

JOSÉ CARLOS LAVOURAS HUDSON BRAGA 14/08/2014 13:15:32

JOSÉ CARLOS LAVOURAS HUDSON BRAGA 14/08/2014 15:44:38

HUDSON BRAGA JOSÉ CARLOS LAVOURAS 14/08/2014 16:02:48

JOSÉ CARLOS LAVOURAS HUDSON BRAGA 14/08/2014 16:03:36

JOSÉ CARLOS LAVOURAS HUDSON BRAGA 14/08/2014 16:03:43

HUDSON BRAGA LELIS MARCOS TEIXEIRA 19/08/2014 08:58:36

JOSÉ CARLOS LAVOURAS HUDSON BRAGA 19/08/2014 15:45:15

JOSÉ CARLOS LAVOURAS HUDSON BRAGA 19/08/2014 15:46:06

HUDSON BRAGA JOSÉ CARLOS LAVOURAS 19/08/2014 19:20:11

HUDSON BRAGA JOSÉ CARLOS LAVOURAS 20/08/2014 21:17:49

HUDSON BRAGA JOSÉ CARLOS LAVOURAS 21/08/2014 17:41:15

HUDSON BRAGA JOSÉ CARLOS LAVOURAS 22/09/2014 20:52:35

HUDSON BRAGA JOSÉ CARLOS LAVOURAS 22/09/2014 20:52:41

JOSÉ CARLOS LAVOURAS HUDSON BRAGA 22/09/2014 21:01:02

JOSÉ CARLOS LAVOURAS HUDSON BRAGA 01/10/2014 18:35:15

JOSÉ CARLOS LAVOURAS HUDSON BRAGA 01/10/2014 18:37:09

HUDSON BRAGA JOSÉ CARLOS LAVOURAS 07/10/2014 21:42:33

HUDSON BRAGA LELIS MARCOS TEIXEIRA 16/10/2014 11:32:37

HUDSON BRAGA LELIS MARCOS TEIXEIRA 16/10/2014 11:32:41

HUDSON BRAGA JOSÉ CARLOS LAVOURAS 05/01/2015 20:06:56

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As datas e constância dessas ligações estão em perfeita harmonia com as

datas de pagamentos de propina registrados nas planilhas de ÁLVARO NOVIS, sendo certo

que o milionário dinheiro da “caixinha” era recolhido nas garagens das empresas de ônibus

vinculadas à FETRANSPOR que aderiram ao esquema pela PROSEGUR e pela

TRANSEXPERT, a primeira sob o comando do denunciado MÁRCIO MIRANDA e a segunda

sob gerência do denunciado DAVID AUGUSTO SAMPAIO.

O denunciado DAVID AUGUSTO SAMPAIO negou, quando da sua

condução coercitiva na Operação Calicute, que administrasse a empresa TRANSEXPERT, bem

como as suspeitas que já existiam sobre ele, mas na sua segunda oitiva, já sob ordem de prisão

no âmbito da Operação Ponto Final, se contradisse de tal forma em seu interrogatório à

autoridade policial que mereceu da mesma o seguinte relatório conclusivo do inquérito policial:

“A simples leitura do teor do interrogatório de DAVID, no entender destesubscritor, deixa claro:

a) que DAVID era de fato o administrador da TRANS-EXPERT, se não dedireito, e que teria usado sua mãe como pessoa interposta;

b) que SÉRGIO CABRAL teria intercedido ilicitamente em favor daTRANS-EXPERT junto ao BANCO ITAÚ, responsável pela folha depagamentos do Estado;

c) que da mesma forma que utilizou métodos para se distanciar da gestãoda TRANS-EXPERT (sem sucesso eis que visível seu conhecimento daintimidade da operação da empresa, referindo-se inclusive à mesmadiversas vezes como sendo sua) pretende desqualificar as provas contra sialegando terem sido plantadas, utiliza o interrogatório como forma deameaças veladas quando alega que esclarecerá fatos contra outroinvestigado “futuramente”, finge desconhecer fatos públicos como osproprietários das maiores empresas de ônibus do Estado, todos clientes deÁLVARO NOVIS e de sua frota de carros fortes, e, por fim, trata comnaturalidade do fato de ter custodiado recursos de empresas de ônibus emnome de uma corretora de valores.

Na busca em sua nova residência, foi encontrada uma série de extratosbancários da TRANS-EXPERT com anotações feitas à caneta assinalando,ao lado de valores, a palavra “AMIGO” (REL 05-2017) e sublinhandodébitos via TEDs de R$ 1.700.000,00 em 06/07/2015 e de R$ 116.000,00

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em 22/07/2015, créditos via dois TEDs totalizando R$ 540.935,59 em22/02/2016 e débitos via dois TEDs no mesmo dia, nos valores de R$490.249,00 somados, um TED de R$ 136.000,00 em 09/03, um chequesacado em 12/02/2016 no valor de R$ 400.000,00 e dois TEDs recebidosem 17 e 18/02/2016 nos valores de R$ 258.000,00 e 242.000,00respectivamente.

Além disso, foram encontradas cópias de manuscritos em agenda sobreagendamentos de encontros com HUDSON/ARI no PALÁCIO, e umaanotação com o valor 6.933.570,35 e menções a diversas pessoas e valores.Dentre eles, 70.000 HOYA, 700.000 Valença, 600.000 HUDSON e150.000 D.P. Em outra folha, “Rem. – HB” e “TRANSFER”.

As análises dos extratos e das anotações nas agendas, somadas aos fatos jáanalisados na Informação Policial 019/2016 – CALICUTE, que apontourelações entre os encontros de DAVID e HUDSON com depósitos deelevados valores em dinheiro na TRANS-EXPERT, somente vieram acorroborar tais relações. Na mesma Informação 019/2016 – CALICUTE, ocodinome “AMIGO” foi associado ao nome de HUDSON BRAGA. Restaevidente que a TRANS-EXPERT era utilizada para a movimentação derecursos de HUDSON. As cópias de anotações em agenda apreendidas naresidência de DAVID eram da agenda apreendida com HUDSON naOPERAÇÃO CALICUTE. Naquela oportunidade, uma tabela apreendidaapontou que, apenas no mês de março de 2016, o “AMIGO” (HUDSON)teria recebido R$ 1.980.000,00. DAVID e HUDSON haviam uma relaçãointensa com encontros frequentes, conforme restou claro na análise daagenda eletrônica e das mensagens de whatsapp deste último.”

Ainda que pendam investigações complementares para total elucidação das

nebulosas transações de DAVID AUGUSTO SAMPAIO, está claro que o mesmo atuava de

forma ativa e determinante no recolhimento e distribuição da propina do caixa dois da

FETRANSPOR.

Por sua vez, os valores referentes aos aportes de JACOB BARATA

FILHO59 para o “caixa” da FETRANSPOR eram operacionalizados com o auxílio de sua

59 JACOB BARATA FILHO, filho de Jacob Barata, é conhecido na praça do Rio de Janeiro como o “Rei do Ônibus”,epígrafe que herdou de seu pai. Essa alcunha deriva do fato do mesmo ser um dos maiores empresários de ônibus do Rio edo Brasil, integrando o quadro societário de mais de 25 empresas do ramo dos transportes em um universo de mais desessenta empresas de que integra o quadro societário, como se infere do Relatório ASSPA nº 2935/2017. Na verdade, suafama deriva do poder e influência que exerce no setor de transportes do Rio, sobretudo através da FETRANSPOR,entidade sindical que domina, juntamente a seus comparsas JOSÉ CARLOS REIS LAVOURAS e LÉLIS MARCOSTEIXEIRA, conforme já detalhado acima. O domínio exercido por JACOB BARATA FILHO também foi expressamenteafirmado no depoimento do colaborador Jonas Lopes, ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio Janeiro.

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secretária na empresa GUANABARA DIESEL, FRANCISCA DA SILVA MEDEIROS, a

quem cabia, como ela própria admitiu perante a Polícia Federal, fazer a intermediação entre os

operadores financeiros EDIMAR DANTAS, da corretora HOYA, e MÁRCIO MIRANDA, da

Transportadora de Valores PROSEGUR.

Vejamos o Termo de Colaboração nº 10 de ÁLVARO NOVIS:

“... QUE, no tocante ao ANEXO 10 – FETRANSPOR – JACOB BARATAFILHO, declarou: Que confirma o teor das declarações constantes do anexo;Que os valores pagos por JACOB BARATA à FETRANSPOR eramdestinados ao pagamento de vantagens indevidas a políticos; ...; Que DONAFRANCISCA trabalha com JACOB BARATA FILHO há bastante tempo, pelomenos desde os anos 1990; Que DONA FRANCISCA repassava os valoresinternamente pela PROSEGUR ao colaborador internamente; QueJACOB BARATA FILHO utilizava a PROSEGUR para custódia e repasse devalores; Que MARCIO MIRANDA era funcionário da PROSEGUR, tendoatuado anteriormente na TRANSEGUR;”

A menção à pessoa de nome FRANCISCA MEDEIROS (“Chica”) nas

planilhas de NOVIS foi corroborada por várias provas, inclusive por ela mesma admitido, o

que é ratificado também pelo depoimento de Ricardo Campos Santos, empregado da HOYA. O

mesmo se diga quanto à sua atuação juntamente a MÁRCIO MIRANDA, da PROSEGUR,

para movimentação do dinheiro do caixa dois que irrigava a propina.

FRANCISCA MEDEIROS, na qualidade de secretária de JACOB

BARATA FILHO, repassava ordens para MÁRCIO MIRANDA creditar valores em espécie

que seu chefe mantinha custodiado na Transportadora de Valores PROSEGUR em favor do

caixa da FETRANSPOR60. Nesse sentido as declarações do colaborador EDIMAR, além do já

citado depoimento do office boy Ricardo:

60 Segundo declarações complementares prestadas por EDIMAR DANTAS nesta Procuradoria da República: “(…) QUE odepoente acredita que as empresas de JACOB BARATA FILHO também tinham valores custodiados na PROSEGUR; queassim acredita porque, muitas vezes, efetuava pagamentos para FRANCISCA através da “compensação” de valores queestavam custodiados na PROSEGUR; que essa “compensação” ou aporte de valores de uma conta para a outra se davaatravés de contato com MÁRCIO MIRANDA da PROSEGUR; QUE diversas vezes o depoente recebia uma ordem deJOSÉ CARLOS LAVOURAS para transferir um dinheiro para a FRANCISCA; que então o depoente dava uma ordem aMARCIO MIRANDA da PROSEGUR nesse sentido; que, então MÁRCIO MIRANDA entregava o valor pedido paraFrancisca na GUANABARA DIESEL em espécie; que, reversamente, quando era para FRANCISCA remeter valores paraa conta da FETRANSPOR, esta dava a ordem para MARCIO MIRANDA, que simplesmente creditava o valor à disposiçãoda FETRANSPOR; que FRANCISCA trabalhava na empresa GUANABARA DIESEL; (...)”

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“(…) QUE o depoente acredita que as empresas de JACOB BARATAFILHO também tinham valores custodiados na PROSEGUR; que assimacredita porque, muitas vezes, efetuava pagamentos para FRANCISCAatravés da “compensação” de valores que estavam custodiados naPROSEGUR; que essa “compensação” ou aporte de valores de uma contapara a outra se dava através de contato com MÁRCIO MIRANDA daPROSEGUR; QUE diversas vezes o depoente recebia uma ordem de JOSÉCARLOS LAVOURAS para transferir um dinheiro para a FRANCISCA;que então o depoente dava uma ordem a MARCIO MIRANDA daPROSEGUR nesse sentido; que, então MÁRCIO MIRANDAentregava o valor pedido para Francisca na GUANABARA DIESELem espécie; que, reversamente, quando era para FRANCISCAremeter valores para a conta da FETRANSPOR, esta dava a ordempara MARCIO MIRANDA, que simplesmente creditava o valor àdisposição da FETRANSPOR; que FRANCISCA trabalhava na empresaGUANABARA DIESEL; (...)”

O controle institucional que JACOB BARATA exerce junto à

FETRANSPOR está fartamente descrito na denúncia, inclusive por intermédio das empresas

VIAÇÃO PENDOTIBA, GUANABARA DIESEL e RODOVIÁRIA MATIAS, esta última

com o seu sócio JOÃO AUGUSTO MORAIS MONTEIRO, tendo ambos aportado mais de

R$ 52 milhões na “caixinha da propina” da FETRANSPOR.

A corroborar essas informações, verifica-se que ÁLVARO NOVIS

também realizou ligações para número cadastrado no CNPJ da empresa GUANABARA

DIESEL S/A COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES, controlada por JACOB BARATA

FILHO:

TERMINAL_1_ORIGINADOR LEMBRETE_TERMINAL_1 TERMINAL_2_RECEBEDOR LEMBRETE_TERMINAL_2 DATA_INICIO

ÁLVARO NOVISGUANABARA DIESEL SA COMERCIO E

REPRESENTACOES20/05/2014 13:51:54

ÁLVARO NOVISGUANABARA DIESEL SA COMERCIO E

REPRESENTACOES20/05/2014 14:15:17

ÁLVARO NOVISGUANABARA DIESEL SA COMERCIO E

REPRESENTACOES20/05/2014 14:28:47

ÁLVARO NOVISGUANABARA DIESEL SA COMERCIO E

REPRESENTACOES20/05/2014 15:07:42

ÁLVARO NOVISGUANABARA DIESEL SA COMERCIO E

REPRESENTACOES20/05/2014 16:28:53

ÁLVARO NOVIS GUANABARA DIESEL SA COMERCIO E 20/05/2014 16:30:49

135

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REPRESENTACOES

ÁLVARO NOVISGUANABARA DIESEL SA COMERCIO E

REPRESENTACOES20/05/2014 18:06:43

ÁLVARO NOVISGUANABARA DIESEL SA COMERCIO E

REPRESENTACOES20/05/2014 18:07:31

ÁLVARO NOVISGUANABARA DIESEL SA COMERCIO E

REPRESENTACOES21/05/2014 08:37:10

ÁLVARO NOVISGUANABARA DIESEL SA COMERCIO E

REPRESENTACOES26/05/2014 08:45:45

GUANABARA DIESEL SA COMERCIO EREPRESENTACOES

ÁLVARO NOVIS 26/05/2014 08:51:00

ÁLVARO NOVISGUANABARA DIESEL SA COMERCIO E

REPRESENTACOES26/05/2014 10:56:44

ÁLVARO NOVISGUANABARA DIESEL SA COMERCIO E

REPRESENTACOES18/06/2014 11:19:08

ÁLVARO NOVISGUANABARA DIESEL SA COMERCIO E

REPRESENTACOES26/06/2014 10:06:59

Os recursos aportados por BARATA FILHO também eram contabilizados

em conta de codinome “F/MONT”, por meio da qual recebia retorno de créditos das contas do

“caixa” da FETRANSPOR, em valores de caixa dois que totalizaram o montante de R$

23.419.394,00, no período de 2010 a 2016. Segundo narrado pelos colaboradores, esses

recursos eram entregues em espécie a JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, na sede da

RODOVIÁRIA MATIAS, empresa da qual é sócio junto com BARATA FILHO, como

apontado no Relatório nº 3063/2017, elaborado pela Assessoria de Pesquisa e Análise desta

Procuradoria da República.

Em oitiva complementar realizada nesta Procuradoria da República,

EDIMAR DANTAS esclareceu a atuação de JOÃO AUGUSTO MONTEIRO:

“... QUE o depoente, neste ato reconhece a pessoa de JOÃO AUGUSTOMORAES MONTEIRO em foto que consta do anexo; que o depoentediversas vezes recebia ordem de JOSÉ CARLOS para remeter valores paraJOÃO MONTEIRO; QUE então o depoente passava contabilmente osvalores da conta F/SABI para a conta F/MONTEIRO; que então iarepassando os valores em espécie paulatinamente para JOÃOMONTEIRO; que JOÃO MONTEIRO recebia na empresa RODOVIÁRIAMATHIAS e, posteriormente, na Rio Branco 156 ou na Rua Sete Setembroem número que acha ser o 55; que na RODOVIÁRIA MATHIAS odepoente geralmente entregava para JOÃO MONTEIRO pessoalmente oueventualmente para pessoa de nome LEONEL; que nos dois outrosendereços, o depoente entregava para OTACÍLIO e ENÉAS; que neste atoreconhece a pessoa de ENÉAS DA SILVA BUENO na foto em anexo; quenunca viu pessoalmente OTACÍLIO, apenas mandando um portador

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entregar os valores a ele; que o depoente esclarece que a ordem depagamento era dado por JOSÉ CARLOS LAVOURAS ao depoente queapenas a cumpria após receber o de acordo de ÁLVARO NOVIS; QUE osvalores da conta F/MONTEIRO eram sempre recebidos por ÉNEAS;OTACÍLIO ou o próprio JOÃO MONTEIRO; QUE o depoente esclareceainda que sempre entregava os valores por portador, mas conheceu ENÉASem ocasião na FETRANSPOR onde a ele foi apresentado por REGINA;QUE o depoente esclarece que quando dava a ordem para aPROSEGUR pagar a JOÃO MONTEIRO na Rodoviária Mathias, odepoente pessoalmente se deslocava para essa empresa para assinar orecebimento do valor porque JOÃO MONTEIRO não gostava deassinar a guia de entrega enquanto JOÃO MONTEIRO pegava osvalores; que quando eram valores menores enviados pelos portadores dodepoente, isso não acontecia...”

(destaques nossos)

O office boy da HOYA, Ricardo Campos Santos, também confirmou que

realizou diversas entregas de dinheiro em espécie, na sede da RODOVIÁRIA MATIAS, a

JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, pessoa que reconheceu na foto que lhe foi apresentada:

“Que já entregou dinheiro em espécie na Rodoviária Matias, em mãos do MONTEIRO, pessoa

que reconhece na foto abaixo...”. Os colaboradores ainda detalharam os telefones e e-mail

utilizados para contato com JOÃO AUGUSTO MONTEIRO61 e ajuste das entregas dos

valores em espécie62.

Parte dos recursos contabilizados na conta “F/MONT” também foram

entregues para as pessoas indicadas pelos colaboradores como “Dr. Eneas e Dr. Otacílio”, os

quais foram identificados, após pesquisas em fontes abertas e sistemas de dados desta

Procuradoria, como sendo ENEAS DA SILVA BUENO63 (CPF151.378.727-68), diretor

financeiro do RIO ÔNIBUS e OCTACÍLIO DE ALMEIDA MONTEIRO64 (CPF

61 Como já consignado acima, JOÃO AUGUSTO MORAIS MONTEIRO é Presidente do Conselho Superior do RIOÔNIBUS (Sindicato das empresas de ônibus da cidade do Rio de Janeiro), entidade da qual LÉLIS MARCOSTEIXEIRA é Presidente.

62 De acordo com os cadastros dos colaboradores, o e-mail utilizado por JOÃO AUGUSTO MORAIS MONTEIRO [email protected], o telefone celular era 9862-9725 e o telefone da empresa Rodoviária Matias era 3315-4000. Oscolaboradores também utilizavam o telefone da FETRANSPOR/RIO ÔNIBUS 2173-7400 para ajustar as entregas relativasà conta do empresário.

63 Relatório de Pesquisa nº 3081/2017, elaborado pela Assessoria de Pesquisa e Análise desta Procuradoria.64 Relatório de Pesquisa nº 3082/2017, elaborado pela Assessoria de Pesquisa e Análise desta Procuradoria.

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129.230.607-68), vice-presidente do RIO ÔNIBUS, cujas fotos foram reconhecidas pelos office

boys da HOYA, Ricardo e Carlos, como já especificado em tópico acima.

Com efeito, na referida oitiva EDIMAR detalhou como era feita a

passagem da conta F/SABI para a conta F/MONTEIRO, bem como a entrega física do

numerário determinada por LAVOURAS a JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, que o recebia na

própria sede da RODOVIÁRIA MATIAS, ou na sede da RIO ÔNIBUS, entidade presidida pelo

mesmo. Mas neste último caso, ou seja, de entrega na sede da RIO ÔNIBUS, quem recebia o

dinheiro eram os denunciados ENEAS BUENO e OCTACÍLIO MONTEIRO.

Segundo narrado pelos colaboradores, ENEAS BUENO e OCTACÍLIO

MONTEIRO receberam valores em mais dois lugares distintos: numa sala na Avenida Rio

Branco, 156, sala 1804, cujas entregas eram ajustadas pelo número 2215-9940, que estaria

instalado na própria sala; e, numa sala na Rua Sete de Setembro, nº 5565.

Corroborando as informações apresentadas, os dados cadastrais solicitados

diretamente à operadora de telefonia, com base no art. 15, da Lei nº 12.850/2013, indicaram que

o telefone 2215-9940 está registrado em nome de OCTACÍLIO DE ALMEIDA MONTEIRO

(CPF 129.230.607-68) e, de fato, consta como instalado na Avenida Rio Branco, 156, sala 1804,

além de também já ter sido instalado na Rua Sete de Setembro, 55, outro endereço citado pelos

entregadores de dinheiro:

65 Conforme declarações do office boy, RICARDO CAMPOS SANTOS, já transcritas acima: “Que já entregou dinheiro para ENEAS e OTACÍLIO, na sede da FETRANSPOR, na Rua da Assembleia, nº 10, e também na Rua 7 de setembro, nº 55, prédio que exigia identificação dos visitantes para acesso;”

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ENEAS DA SILVA BUENO e OCTACÍLIO DE ALMEIDA

MONTEIRO, respectivamente diretor financeiro e vice-presidente da RIO ÔNIBUS, eram

vistos como parceiros inseparáveis na atividade operacional financeira da ORCRIM, porquanto,

segundo a testemunha Ricardo Campos Santos, office boy da HOYA, os dois “sempre estavam

juntos para receber o dinheiro”:

“Que já entregou dinheiro para ENEAS e OTACÍLIO, na sede daFETRANSPOR, na Rua da Assembleia, nº 10, e também na Rua 7 desetembro, nº 55, prédio que exigia identificação dos visitantes para acesso;… ... que, posteriormente o sindicato das empresas, já com o nome de RioÔnibus se mudou para a Rua da Assembleia 10, onde então o depoenteentregou dinheiro várias vezes, talvez uma vez por mês durante mais decinco anos, até cerca de dois anos atrás; que, na verdade, as últimas vezes,chegou a entregar na Sete de Setembro nº 55 para o ÉNEAS e OTACÍLIO;… que ENÉAS e OTACÍLIO sempre estavam juntos para receber odinheiro; Que reconhece todas as pessoas nas fotos em anexo, com osnomes indicados...”

Outro office boy da HOYA, Carlos Alberto Vital da Silva, também

reconheceu que ENEAS BUENO recebia dinheiro acompanhado de OCTACÍLIO

MONTEIRO, conforme fotos que foram apresentadas e constam do anexo do referido termo

de declaração, já acostado aos autos:

“… que na maioria das vezes na Rio Ônibus, entregava dinheiro a ENÉAS,que também trabalhava na Rio Ônibus; que reconhece ENÉAS comoENÉAS DA SILVA BUENO na foto que consta do anexo; que o depoentejá fez entregas para ENÉAS em outra sala; que essa outra sala era emendereço que não se lembra; que nesse novo local, ENÉAS estavasempre acompanhado por outro homem; que mostrada a foto queconsta do anexo, reconhece OCTACÍLIO DE ALMEIDA MONTEIROcomo a pessoa que acompanhava ENÉAS nas entregas; QUE odepoente pode dizer que já entregou dinheiro em espécie na RodoviáriaMatias; que mostrada as fotos que constam do anexo, reconhece a pessoapara quem entregava dinheiro na Rodoviária Matias como JOÃOAUGUSTO MORAIS MONTEIRO; que, mostrada foto obtida em consultano Google, reconhece a Rodoviária Matias no endereço na Rua DoutorBulhões nº 745;

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Nessa linha, cumpre registrar que nas planilhas de pagamentos trazidas

pelos colaboradores, a maior parte das referências à entrega desses valores é feita em relação ao

nome de ENEAS, conforme detalhado no Relatório de Pesquisa nº 5346/2017, já acostado aos

autos. Com efeito, no anexo 1 do referido relatório de pesquisa consta a seguinte tabela com o

resumo dos valores entregues pelos colaboradores para ENÉAS e OCTACÍLIO:

Como se pode observar da tabela 2 do referido anexo, foram identificadas

178 referências de entregas de valores a ENEAS, no período de 19/07/2010 a 29/02/2016, em

quantias que variavam de R$ 10.000,00 até R$ 1.045.000,00, totalizando R$ 14.299.840,00. Na

tabela 3 do mesmo anexo, constam 5 referências ao nome “Enea” relativas às entregas de

valores entre R$ 363.086,00 e R$ 500.000,00, totalizando R$ 2.163.086,00, no curto período de

13/03/2015 a 27/03/2015. Já na tabela 4 foram detalhadas 4 entregas de dinheiro com referência

“eneas/otacilio”, no valor total de R$ 800.000,00.

Verifica-se, portanto, que a maior parte das referências das entregas de

dinheiro operacionalizadas pelos colaboradores está vinculada ao nome de ENEAS BUENO,

assim como a parcela mais expressiva dos valores contabilizados nessas planilhas (mais de R$

16 milhões), a indicar a relevância da sua atuação como operador financeiro no âmbito da

organização criminosa.

Relembre-se que, como esclarecido por EDIMAR DANTAS, esses

recursos recebidos por ENEAS e OCTACÍLIO eram provenientes da já citada conta

F/MONTEIRO, cujos aportes eram de responsabilidade de JACOB BARATA FILHO e

JOÃO AUGUSTO MONTEIRO.

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Ainda, na análise do material obtido com base nas quebras telemáticas

deferidas nos autos nº 0504252-24.2017.4.02.5101, foram identificados diversos e-mails que

corroboram as declarações dos colaboradores ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS e

evidenciam o estreito relacionamento entre ENEAS BUENO, JACOB BARATA FILHO e

JOÃO AUGUSTO MONTEIRO, a indicar que o primeiro atuava como importante operador

financeiro dos empresários, ainda que tenha tentado convencer em declarações prestadas

perante esta Procuradoria da República que era mero empregado e não, de fato, diretor

financeiro do RIO ÔNIBUS.

Com efeito, em uma troca de mensagens, ENEAS BUENO encaminha

para BARATA FILHO, a pedido de MONTEIRO, uma planilha com os valores ressarcidos às

empresas de ônibus pelo Município do Rio de Janeiro em razão da gratuidade concedida aos

alunos municipais:

Em outra mensagem enviada por ENEAS para BARATA FILHO, no dia

24/11/2011, é mencionada ordem judicial que determinou a arrecadação de veículos da empresa

de ônibus “Amigos Unidos” e a expedição de ofícios à JUCERJA, DETRAN e RGI, contexto

em que ENEAS expressamente afirma “Penso que está na hora do Sr. Álvaro se movimentar”:

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Conforme exaustivamente narrado, no ano de 2011 o colaborador

ÁLVARO NOVIS estava em franca atividade na administração da contabilidade paralela das

empresas de ônibus, sendo possível inferir que a expressão “Penso que está na hora do Sr.

Álvaro se movimentar” diz respeito à entrega de valores em espécie para alguma autoridade

pública.

Compulsando a planilha do arquivo “PAGAMENTOS JC.xlsx”, impressa

no Volume 3 do acordo de colaboração premiada de ÁLVARO NOVIS (Petição 11.962-DF do

STJ), constata-se que, efetivamente, há registros de dois pagamentos, nos valores de R$

300.000,00 e R$ 400.000,00, respectivamente nos dias 22/11/2011 e 24/11/2011 (dia do diálogo

referido no e-mail acima), debitados da conta “JC” (JOSÉ CARLOS LAVOURAS), e entregues

na “rua da assembléia, 69, - 7o. Andar, dr. Neto, 11:00 hs as 13:00 hs”66, sendo que

investigações complementares determinarão o verdadeiro motivo desses pagamentos em

dinheiro do caixa dois da FETRANSPOR.

Há ainda mensagem no dia 20/10/2011, em que ENEAS BUENO faz

contato com BARATA FILHO a pedido de LÉLIS TEIXEIRA, solicitando que este

66 Segundo pesquisa no Google esse endereço seria a sede do escritório de advocacia BINATO DE CASTRO ADVOGADOS.

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compareça em reunião no escritório de advocacia para tratar do contato do escritório com o

Juiz:

Em outro e-mail, ENEAS encaminha para BARATA FILHO, conforme

combinado, documento relativo ao processo de falência da Mosa, indicando o potencial de

afetar os consórcios das empresas de ônibus que operam no Município:

Em mensagem mais recente, ENEAS encaminha para BARATA FILHO

uma medida provisória relativa à redução para zero das alíquotas da contribuição para o

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PIS/PASEP e COFINS incidentes sobre a receita decorrente da prestação de serviços de

transporte coletivo de passageiros:

Chama a atenção, ainda, mensagem por meio da qual ENEAS encaminha

para BARATA FILHO, no dia 31/05/2013, os arquivos referentes a duas Resoluções da

Secretaria Municipal de Transportes relativas às tarifas de ônibus que seriam publicadas na

segunda-feira seguinte:

É de se ressaltar que os arquivos encaminhados em anexo ao referido e-

mail estão em formato editável, como indica a extensão “.doc”, e possuem em seu conteúdo as

resoluções ainda não numeradas da Secretaria Municipal de Transportes acerca das tarifas

autorizadas aos concessionários do Serviço de Passageiros por Ônibus do Município do Rio de

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Janeiro – SPPO – RJ e do Serviço Público de Transporte Público Urbano Local – STPL, a partir

do dia 1º de junho de 2013.

De fato, em consulta ao Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro do

dia 03 de junho de 2013, disponível na internet67, foi possível identificar que as Resoluções

cujas minutas foram antecipadas por ENEAS a BARATA FILHO foram publicadas com

idêntico teor, na página 95 do referido veículo oficial, como consta em anexo.

Todas essas mensagens, em conjunto com os elementos de prova já

juntados aos autos, demonstram que ENEAS BUENO exercia importante papel na interlocução

dos empresários de ônibus, especialmente JACOB BARATA FILHO, com o poder público,

sempre valendo-se de seu cargo na RIO ÔNIBUS.

E o outro braço operacional dos responsáveis há anos pelas principais

entidades sindicais patronais que representam os interesses dos empresários do setor de

transporte público no Rio de Janeiro, tais como a FETRANSPOR e o RIO ÔNIBUS, vem a ser

OCTACÍLIO MONTEIRO, vice-presidente desta última entidade. Esse denunciado é

apontado pelos colaboradores como pessoa inseparável de ENÉAS quando havia a entrega de

dinheiro de caixa dois para distribuições inconfessáveis, certamente muitas vezes como propina

a agentes públicos.

Segundo narrado pelos colaboradores, ENEAS BUENO e OCTACÍLIO

MONTEIRO receberam valores em três lugares distintos: numa sala na Avenida Rio Branco,

156, sala 1804, cujas entregas eram ajustadas pelo número 2215-9940, que estaria instalado na

própria sala; numa sala na Rua Sete de Setembro, nº 5568; bem como na sede da RIO ÔNIBUS,

na Rua da Assembleia, nº 10, 39º andar.

67 http://doweb.rio.rj.gov.br/visualizar_pdf.php?edi_id=2085&page=168 Conforme declarações do office boy, RICARDO CAMPOS SANTOS, já transcritas acima: “Que já entregou dinheiro

para ENEAS e OTACÍLIO, na sede da FETRANSPOR, na Rua da Assembleia, nº 10, e também na Rua 7 de setembro, nº55, prédio que exigia identificação dos visitantes para acesso;”

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Uma prova fundamental de que os esquemas de circulação de dinheiro vivo

e ao largo do sistema bancário para fins espúrios foi obtida após busca e apreensão na

residência de OCTACÍLIO MONTEIRO, quando foram encontrados dispostas em malas e

mochilas cédulas de Reais que somaram a substanciosa quantia de R$ 2.274.000,00 (dois

milhões, duzentos e setenta e quatro mil Reais), sem contar os significativos valores

encontrados em Dólares e Euros.

Sobre essa soma milionária que OCTACÍLIO guardava em casa, é

importante destacar o Relatório de Análise de Material Apreendido REL 001/2017, da Polícia

Federal (junto aos autos do Inquérito 52/2017-11 DELECOR/SR/PF/RJ), que identificou junto

ao dinheiro apreendido diversos papéis utilizados para separar o numerário, em cujas imagens,

apresentadas a seguir, é possível verificar que, não por acaso, esse dinheiro foi entregue pela

PROSEGUR em datas entre 2011 e 2016:

O mesmo Relatório identificou alguns bilhetes escritos à mão por

OCTACÍLIO nos quais ele orienta seus filhos Andrea de Souza Monteiro e Leonardo de Souza

Monteiro a procurarem, em caso de necessidade, os denunciados JOÃO MONTEIRO, LÉLIS

TEIXEIRA e ENEAS BUENO, o que demonstra o grau de cumplicidade e confiança entre os

mesmos. Inclusive num dos bilhetes diz que, quando da sua morte, seu filho deverá procurar

JOÃO MONTEIRO, “para que o Sindicato (RIO ÔNIBUS) preste ajuda financeira a sua

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mãe...”, e que acredita “que com uma ajuda de R$ 8.000,00 ou R$ 10.000,00 dá para vocês

viverem...”.

Aliás, a movimentação de grandes quantidades de dinheiro em espécie por

meio do RIO ÔNIBUS (Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro),

entidade presidida por LÉLIS MARCOS TEIXEIRA e da qual ENÉAS e OCTACÍLIO são,

respectivamente, diretor financeiro e vice-presidente, também foi apontada pelo COAF,

conforme relatório de inteligência financeira nº 26868.3.4812.4596, conforme já narrado acima,

a indicar que, em período de apenas 5 meses, entre outubro de 2014 e março de 2015, o

sindicato realizou, sem qualquer explicação plausível diante da natureza da sua função, diversos

saques em espécie, que totalizaram mais de R$ 3 milhões.

Ainda sobre a importância e influência de JACOB BARATA FILHO na

ORCRIM, registre-se que após a quebra telemática no processo nº 0506602-19.2016.4.02.5101,

dessa 7a. Vara Federal Criminal, foi encontrada mensagem do dia 14/02/2012 entre SERGIO

CABRAL e SERGIO CORTES (também já denunciado pela corrupção na Secretaria de Saúde),

que revelam a intimidade e promiscuidade entre o ex-governador e o empresário JACOB

BARATA: “Dê um abraço no Barata!!”, exclamou o então chefe do executivo estadual:

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O próprio ex-governador SÉRGIO CABRAL utilizou o seu terminal para

realizar algumas ligações nos meses de fevereiro e março de 2014, quando ainda era

governador, para a empresa GUANABARA DIESEL S/A COMÉRCIO E

REPRESENTAÇÕES, controlada por JACOB BARATA FILHO, o que corrobora o

relacionamento estreito entre ambos:

TERMINAL_1_ORIGINADOR LEMBRETE_TERMINAL_1 TERMINAL_2_RECEBEDOR LEMBRETE_TERMINAL_2 DATA_INICIO

GUANABARA DIESEL SA COMERCIO E

REPRESENTACOESSERGIO CABRAL 20/02/2014 12:51:17

SERGIO CABRALGUANABARA DIESEL SA COMERCIO E

REPRESENTACOES20/02/2014 12:53:12

SERGIO CABRALGUANABARA DIESEL SA COMERCIO E

REPRESENTACOES20/02/2014 14:19:13

GUANABARA DIESEL SA COMERCIO E

REPRESENTACOESSERGIO CABRAL 20/02/2014 14:22:42

GUANABARA DIESEL SA COMERCIO E

REPRESENTACOESSERGIO CABRAL 20/02/2014 14:22:45

GUANABARA DIESEL SA COMERCIO E

REPRESENTACOESSERGIO CABRAL 26/03/2014 06:29:25

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De outra parte EDIMAR DANTAS confirmou que MARCELO TRAÇA

contribuía para o caixa da FETRANSPOR com recolhimentos semanais nas viações RIO ITA

(RIO ITA LTDA. - CNPJ 29853942000102) e FAGUNDES (AUTO ÔNIBUS FAGUNDES

LTDA - CNPJ 29553609000170). Por meio dessas empresas de ônibus TRAÇA aportou R$

40.924.165,00 na “caixinha da propina” da FETRANSPOR, sendo certo que parte desse valor

custeou as vantagens indevidas ao ex-Governador SERGIO CABRAL.

Ouvido nesta Procuradoria da República, Carlos Alberto Vital da Silva,

office boy da HOYA, confirmou que recolhia dinheiro em espécie semanalmente na sede da

viação RIO ITA, em Niterói69, sempre com a pessoa de nome “Cláudia”, posteriormente

identificada como a ora denunciada CLAUDIA DA SILVA SOUZA FERREIRA, que é

registrada como tesoureira da empresa nos cadastros do Ministério do Trabalho.

De fato, no local de trabalho de CLAUDIA FERREIRA, na VIAÇÃO

RIO ITA, foi apreendido um caderno contendo folhas soltas (item 5 do auto de apreensão nº

283/2017) nas quais consta planilha de controle de pagamentos em que são identificados

pagamentos para a HOYA, entre os meses de março e abril de 2015, no valor total de

R$1.440.000,00, conforme relatório de análise de material apreendido nº 019/2017.

Também foi apreendido pendrive no qual constam diversas planilhas com

anotações de receitas e despesas da empresa RIO ITA. Chama a atenção que no arquivo de

nome “Caixa Diário1.xls” constam diversas referências a valores na “Conta Corrente

ÁLVARO”, como ilustra a planilha reproduzida a seguir, referente ao dia 14/01/2015:

69 “(…) que o depoente também recolhia dinheiro na empresa RIO ITA; que na Rio Ita tratava com CLÁUDIA; que acreditaque CLÁUDIA trabalhava no financeiro da RIO ITA; que acha que CLÁUDIA era a chefe do financeiro porque o contatoera sempre ela; que o depoente também recolhia dinheiro na COESA em Niteroi; que reconhece em foto, fruto de pesquisano Google, que a empresa RIO ITA é situada na Rua Joaquim Campos nº 226; que mostrada a foto que consta do anexo, odepoente reconhece MARCELO TRAÇA GONÇALVES; que já viu MARCELO TRAÇA na HOYA e também naFETRANSPOR; que na COESA tratava com pessoa de nome WAGNER; QUE esse trabalho de recolher dinheiro emespécie foi feito pelo depoente por muitos anos; que acredita que tenha feito esse trabalho por, pelo menos cinco anos; queesse trabalho parou em 2016 com a prisão do Álvaro; que o depoente acredita que recolhia semanalmente cerca deR$500.000,00 na Rio Ita; (...)”

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Ouvida pela autoridade policial, CLAUDIA FERREIRA admitiu que

recebeu determinação de MARCELO TRAÇA para entregar quantias em dinheiro, cerca de R$

350.000,00 por semana, para enviados da corretora HOYA. A acusada confirmou que seu

contato na HOYA era com o colaborador EDIMAR e que os valores das remessas eram

oriundos das arrecadações dos ônibus. Afirmou, ainda, que MARCELO TRAÇA fazia um

controle rigoroso das contas a pagar, inclusive das entregas de dinheiro à HOYA e que às vezes

conferia os números com a declarante.

Por fim, está em consonância com essas evidências o depoimento do office

boy da HOYA, Ricardo Campos Santos, no qual este confirmou que já recolheu e entregou

dinheiro em espécie a MARCELO TRAÇA, na sede da FETRANSPOR70.

70 “Que sabia que LAVOURAS, LÉLIS, ENEAS, MONTEIRO, OTACÍLIO, MARCELO eram relacionados àFETRANSPOR; (…) Que já recolheu e entregou dinheiro pessoalmente a MARCELO TRAÇA, na sede daFETRANSPOR, na Rua da Assembleia, nº 10;”

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Está evidente que, como empresário arrecadador de substanciosos valores

para a caixinha da propina, vice-Presidente do Conselho de Administração da FETRANSPOR e

membro do Conselho de Administração da RIO ÔNIBUS, MARCELO TRAÇA integra a

cúpula da ramificação da ORCRIM de SÉRGIO CABRAL no setor dos transportes públicos

no Estado do Rio de Janeiro. CLAUDIA FERREIRA, empregada de MARCELO TRAÇA na

VIAÇÃO RIO ITA, atua, por sua vez, na ponta desse braço criminoso, sendo a responsável por

executar as ordens de pagamento em espécie e contabilizar esses recursos, tratando-se de figura

essencial para o funcionamento do esquema criminoso.

Vê-se, portanto, que na hierarquia e divisão de tarefas da ORCRIM,

CLAUDIA FERREIRA realiza para MARCELO TRAÇA as mesmas funções que

FRANCISCA MEDEIROS realiza para JACOB BARATA FILHA, e que CARLOS

ROBERTO ALVES, REGINA ANTONIO e ENI GULINELI realizam para JOSÉ

CARLOS LAVOURAS.

Por último, LÉLIS MARCOS TEIXEIRA, apesar de não ser empresário

de ônibus, exercia o cargo de Presidente Executivo da FETRANSPOR desde 2006, além de ser

Presidente do Sindicato RIO ÔNIBUS, tendo nessa condição voz decisiva nos acordos entre os

demais empresários citados para recolhimento e distribuição da receita da “caixinha da propina”

da Federação, além de fazer a intermediação com as autoridades públicas e pleitear os atos de

ofício para beneficiar as empresas de ônibus.

Também chegou a contribuir para a “caixinha”, e recebia regularmente por

parte dos operadores da HOYA, responsáveis pela contabilidade paralela, valores em espécie na

sede da RIO ÔNIBUS, e também por intermédio do diretor jurídico e do vice-presidente do

Sindicato, respectivamente ENEAS BUENO e OCTACÍLIO MONTEIRO.

Várias mensagens de e-mail entre LÉLIS TEIXEIRA e os outros

membros de cúpula da ORCRIM, incluindo CABRAL, já citadas acima, demonstram a sua

influência para tratar de vantagens políticas e econômicas indevidas em favor dos empresários

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de ônibus no Estado do Rio de Janeiro. Valia-se, inclusive, de comunicação com o ex-

Governador pelo aplicativo “confide”, utilizado para troca de mensagens criptografadas e

autodestrutivas.

De fato, as importantes funções exercidas por LÉLIS TEIXEIRA na

cúpula das mais relevantes sociedades empresárias e entidades sindicais no ramo de transportes

públicos no Estado do Rio de Janeiro denotam a sua influência e poder político institucional no

setor. Essa estreita relação de confiança existente entre esse denunciado, JOSÉ CARLOS

LAVOURAS e JACOB BARATA FILHO, bem como o seu poder de comando sobre a

entidade sindical patronal, também se reflete nas negociações espúrias para o pagamento de

vantagens indevidas a agentes públicos com poder de influência nos interesses das empresas de

transportes, mediante custeio do enorme “caixa 2” da FETRANSPOR.

Aliás, o papel decisivo de LÉLIS nas decisões quanto ao pagamento das

vantagens indevidas restou nitidamente descrito na colaboração do ex-presidente do TCE/RJ,

JONAS LOPES JÚNIOR, o qual relatou que os pagamentos de propina para Conselheiros do

Tribunal de Contas somente começaram a ser realizados após o aval do Presidente Executivo da

FETRANSPOR, que entregava as quantias em espécie ao filho do colaborador, JONAS LOPES

NETO.

De se registrar, por fim, que o material probatório que dá suporte à

presente acusação por crimes de corrupção, contra o sistema financeiro e de pertinência a

organização criminosa é amplo e provém de fontes totalmente independentes, a saber: 1.

Colaboração premiada dos operadores financeiros ÁLVARO JOSÉ GALLIEZ NOVIS e de

EDIMAR MOREIRA DANTAS; 2. Colaboração premiada do ex-presidente do TCE/RJ,

JONAS LOPES DE CARVALHO JÚNIOR; 3. Colaboração premiada do operador financeiro

RENATO CHEBAR; 4. Termos de declaração de RICARDO CAMPOS SANTOS e CARLOS

ALBERTO VITAL DA SILVA; 5. Planilhas físicas e arquivos eletrônicos entregues em

pendrive pelos colaboradores ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS, constantes da PET nº

11.962/DF; 6. Planilhas apresentadas pelo colaborador RENATO CHEBAR; 7. Buscas e

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Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

apreensões realizadas no bojo da cautelar inominada nº 05/DF, vinculada ao inquérito 1133/DF,

em trâmite no STJ; 8. Anotações contábeis encontradas após medida de busca e apreensão na

residência de LUIZ CARLOS BEZERRA; 9. Interrogatório judicial de LUIZ CARLOS

BEZERRA; 10. Registros de ligações telefônicas entre LUIZ CARLOS BEZERRA e a Viação

Flores; 11. Registros de ligações telefônicas entre CARLOS MIRANDA, HUDSON BRAGA,

WILSON CARLOS e terminais da FETRANSPOR; 12. Registros de ligações telefônicas entre

WILSON CARLOS, HUDSON BRAGA e LELIS MARCOS TEIXEIRA; 13. Contatos de

LELIS MARCOS TEIXEIRA e de JACOB BARATA FILHO constantes na agenda de SÉRGIO

CÔRTES; 14. Contato de ROGÉRIO ONOFRE DE OLIVEIRA constante na agenda de

HUDSON BRAGA; 15. Contato de JOSÉ CARLOS REIS LAVOURAS constante na agenda

de CARLOS MIRANDA e de HUDSON BRAGA; 16. Registros de ligações telefônicas entre

ÁLVARO NOVIS, FETRANSPOR, VIAÇÃO FLORES, GUANABARA DIESEL, DAVID

AUGUSTO CÂMARA SAMPAIO, TRANSPORTADORA TRANS EXPERT; 17. Registros de

ligações entre DAVID AUGUSTO CÂMARA SAMPAIO, JOSÉ ORLANDO RABELO e

HUDSON BRAGA; 18. Mensagens eletrônicas encontradas após as quebras telemáticas,

especialmente de: SÉRGIO CABRAL, CARLOS MIRANDA, JACOB BARATA FILHO,

LÉLIS TEIXEIRA, ENI DA SILVA GULINELI e outros; 19. Registros de ligações telefônicas

entre SÉRGIO CABRAL e terminal em nome da GUANABARA DIESEL S/A; 20. Anotações,

dados de localização e registros de ligações extraídos dos aparelhos de celular de LUIZ

CARLOS BEZERRA; 21. Relatórios de Inteligência Financeira do COAF; 22. Relatórios de

Pesquisas da ASSPA/MPF; 23. Interrogatórios policiais de FRANCISCA MEDEIROS,

CARLOS ROBERTO ALVES, ENI GULINELI e REGINA ANTONIO; 24. Documentos

entregues pela PROSEGUR; 25. Material apreendido nas buscas e apreensões, em especial com

MARCELO TRAÇA e OCTACÍLIO MONTEIRO.

4. Da capitulação dos fatos e requerimentos finais

Pelo exposto, os denunciados JOSÉ CARLOS REIS LAVOURAS,

JACOB BARATA FILHO, MARCELO TRAÇA GONÇALVES, LÉLIS MARCOS

TEIXEIRA e JOÃO AUGUSTO MORAIS MONTEIRO, por terem, de modo consciente e

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voluntário, oferecido e pago vantagem indevida a governador de Estado, para determiná-lo à

prática de atos de ofício em benefício das empresas no setor de transporte público, os quais

foram praticados por SÉRGIO CABRAL infringindo dever funcional, estão incursos nas penas

do Artigo 333, parágrafo único, por 201 vezes, na forma do Art. 71, ambos do Código

Penal.

Os denunciados ÁLVARO NOVIS e EDIMAR DANTAS, por terem, de

modo consciente e voluntário, ajudado a oferecer e pagar vantagem indevida a governador de

Estado, para determiná-lo à prática de atos de ofício em benefício das empresas no setor de

transporte público, os quais foram praticados por SÉRGIO CABRAL infringindo dever

funcional, estão incursos nas penas do Artigo 333, parágrafo único, por 201 vezes, na forma

dos Arts. 29 e 71, todos do Código Penal.

O denunciado SÉRGIO CABRAL, por ter, de modo consciente e

voluntário, solicitado, aceitado promessa e recebido vantagem indevida em razão do exercício

da chefia do Poder Executivo, ofertada por ação de proprietários de empresas de ônibus e/ou

integrantes da cúpula da FETRANSPOR, e, em consequência das vantagens recebidas, por ter

praticado atos de ofício infringindo dever funcional, está incurso nas penas do artigo 317, §1º

c/c art. 327, §2º, por 201 vezes, na forma do art. 71, ambos do Código Penal.

O denunciado CARLOS MIRANDA, por ter, de modo consciente e

voluntário, auxiliado o ex-governador SÉRGIO CABRAL a receber vantagem indevida em

razão do exercício da chefia do Poder Executivo, ofertada por ação de proprietários de

empresas de ônibus e/ou integrantes da cúpula da FETRANSPOR, e, em consequência das

vantagens recebidas, tendo sido praticado atos de ofício com infração a dever funcional, está

incurso nas penas do artigo 317, §1º c/c art. 327, §2º, por 197 vezes, na forma dos arts. 29 e

71, todos do Código Penal.

O denunciado CARLOS BEZERRA, por ter, de modo consciente e

voluntário, auxiliado o ex-governador SÉRGIO CABRAL a receber vantagem indevida em

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razão do exercício da chefia do Poder Executivo, ofertada por ação de proprietários de

empresas de ônibus e/ou integrantes da cúpula da FETRANSPOR, e, em consequência das

vantagens recebidas, tendo sido praticado atos de ofício com infração a dever funcional, está

incurso nas penas do artigo 317, §1º c/c art. 327, §2º, por 6 vezes, na forma dos arts. 29 e 71,

todos do Código Penal.

Os denunciados JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA

FILHO, LÉLIS MARCOS TEIXEIRA, MARCELO TRAÇA GONÇALVES e JOÃO

AUGUSTO MORAIS MONTEIRO, com auxílio de ÁLVARO NOVIS, EDIMAR

DANTAS, MÁRCIO MIRANDA e DAVID SAMPAIO, por terem, de forma habitual e por

intermédio de organização criminosa, ocultado e dissimulado a origem, a natureza, disposição,

movimentação e a propriedade de dinheiro derivado de crimes, com o propósito de distanciarem

da sua origem ilícita, estão incursos nas penas do Art. 1º, §4º, da Lei 9.613/98.

Os denunciados JACOB BARATA FILHO, JOSÉ CARLOS

LAVOURAS e ÁLVARO NOVIS, com o auxílio de EDIMAR DANTAS, FRANCISCA

MEDEIROS e MÁRCIO MIRANDA, por terem, de forma consciente e voluntária, em

comunhão de desígnios, operado instituição financeira, sem autorização para tanto, estão

incursos no art. 16, da Lei nº 7.492/86. Além disso, JACOB BARATA FILHO, MÁRCIO

MIRANDA e ÁLVARO NOVIS, de forma consciente e voluntária, em comunhão de

desígnios, mantiveram contabilidade paralela de instituição financeira, incorrendo, assim, no

art. 11, da Lei nº 7.492/86.

Os denunciados JOSÉ CARLOS LAVOURAS, JACOB BARATA

FILHO, LÉLIS TEIXEIRA, MARCELO TRAÇA, JOÃO AUGUSTO MONTEIRO,

ÁLVARO NOVIS, EDIMAR DANTAS, MÁRCIO MIRANDA, DAVID SAMPAIO,

ENEAS BUENO, OCTACÍLIO MONTEIRO, REGINA ANTONIO, ENI GULINELI,

CLAUDIA FERREIRA e FRANCISCA MEDEIROS, por terem, de modo consciente,

voluntária, estável e em comunhão de vontades, promovido, constituído, financiado e integrado,

pessoalmente, uma organização criminosa que tinha por finalidade a prática de, entre outros,

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crimes de corrupção ativa e passiva e crime contra o sistema financeiro, em detrimento da

União e do Estado do Rio de Janeiro, bem como a lavagem dos recursos financeiros auferidos

desses crimes, estão incursos nas penas do Art. 2º, § 4º, II, da Lei 12.850/2013.

Assim, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requer o recebimento e

processamento da denúncia, que deve ser distribuída por dependência aos autos das medidas

cautelares referidas na epígrafe, com o compartilhamento de suas integralidades à presente

prefacial.

Requer, ainda, o compartilhamento das provas já produzidas nas ações

penais ajuizadas sobre fatos que envolvem a mesma organização criminosa, perante esse Juízo

da 7ª Vara Federal, autuadas sob os seguintes números: 0509503-57.2016.4.02.5101 (Calicute);

0501634-09.2017.4.02.5101 (Eficiência I); 0015979-37.2017.4.02.5101 (Eficiência II);

0015979-37.2017.4.02.5101 (Eficiência III); 0501853-22.2017.4.02.5101 (Mascate); 0104011-

18.2017.4.02.5101 (Tolypeutes); 0104045-90.2017.4.02.5101 (Tolypeutes II); 0503608-

81.2017.4.02.5101 (Fatura Exposta – Obstrução); 0503870-31.2017.4.02.5101 (Fatura Exposta

– Corrupção); 0017513-21.2014.4.02.5101 (Cartel); 0504938-16.2017.4.02.5101 (Ratatouille);

0504113-72.2017.4.02.5101 (Corrupção – Carioca Engenharia); 0504466-15.2017.4.02.5101

(lavagem de dinheiro por meio da empresa Survey); 0133004-71.2017.4.02.5101 (Obstrução da

justiça – Thiago Aragão); 0504446-24.2017.4.02.5101 (lavagem de dinheiro por meio da

empresa Brasas); 0135964-97.2017.4.02.5101 (lavagem de dinheiro por meio da joalheria H.

Stern).

Após, requer a citação dos denunciados para o devido processo penal e as

oitivas das testemunhas e colaboradores ao final arrolados, e, uma vez confirmadas as

imputações, a condenação dos denunciados, determinando-se o valor de confisco e,

cumulativamente, um valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, em

montante não inferior a R$ 520 milhões.

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Requer, finalmente, tendo em vista os extratos bancários da

TRANSEXPERT VIGILÂNCIA E TRAN apreendidos com DAVID AUGUSTO SAMPAIO,

seja oficiada a Caixa Econômica Federal, a fim de que encaminhe, em 5 dias, cópia do cadastro

do responsável pela movimentação bancária da conta 4844/003/00000053-6, bem como cópia

dos documentos bancários que informem os titulares das contas de destino das TED nos valores

de: a- R$ 1.700.000,00, em 06/07/2015 (doc 161710); b- R$ 116.000,00, em 22/07/2015 (doc

109647); c- R$ 526.835,59, em 22/02/2016 (doc 000033); R$ 390.249,00, em 22/02/2016 (doc

167756); R$ 258.000,00, em 17/02/2016 (000237); R$ 242.000,00, em 18/02/2016 (doc

000237), todos da conta 4844/003/00000053-6.

Rio de Janeiro, 07 de agosto de 2017.

EDUARDO RIBEIRO G. EL HAGEProcurador da República

FABIANA KEYLLA SCHNEIDERProcuradora da República

JOSÉ AUGUSTO SIMÕES VAGOSProcurador Regional da República

LEONARDO CARDOSO DE FREITASProcurador Regional da República

MARISA VAROTTO FERRARIProcuradora da República

RAFAEL A. BARRETTO DOS SANTOSProcurador da República

RODRIGO TIMÓTEO DA C. E SILVAProcurador da República

SÉRGIO LUIZ PINEL DIASProcurador da República

Testemunhas / Colaboradores:

RICARDO CAMPOS SANTOS

CARLOS ALBERTO VITAL DA SILVA

JONAS LOPES DE CARVALHO JÚNIOR – colaborador

JONAS LOPES DE CARVALHO NETO – colaborador

MARCELLO NARDI NEIVA MACHADO

ROGÉRIO MACEDO PINTO

RENATO CHEBAR - colaborador

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