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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO ___________________________________________________________________ LEANDRO AUGUSTO HIGA EDIFÍCIO HÍBRIDO NO CENTRO DE CAMPO GRANDE Campo Grande 2014

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FUNDAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL

DE MATO GROSSO DO SUL

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

___________________________________________________________________

LEANDRO AUGUSTO HIGA

EDIFÍCIO HÍBRIDO NO CENTRO

DE CAMPO GRANDE

Campo Grande

2014

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FUNDAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL

DE MATO GROSSO DO SUL

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

___________________________________________________________________

EDIFÍCIO HÍBRIDO NO CENTRO

DE CAMPO GRANDE

Leandro Augusto Higa

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao curso de Arquitetura e

Urbanismo da Faculdade de

Engenharias, Arquitetura e Urbanismo

e Geografia da UFMS como pré-

requisito para obtenção do título de

Arquiteto e Urbanista.

Orientador: Prof. Mestre Arquiteto Alex

Nogueira.

Campo Grande

2014

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Autor: Leandro Augusto Higa

Título: Edifício Híbrido no Centro de Campo Grande

Trabalho de Conclusão de Curso de Arquitetura e Urbanismo defendido e aprovado

em 30/10/2014, pela banca composta por:

___________________________________________________________________

Prof. M. Arquiteto Alex Nogueira Rezende (orientador)

Curso de Arquitetura e Urbanismo/Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

___________________________________________________________________

Prof. M. João Bosco Urt Delvizio

Curso de Arquitetura e Urbanismo/Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

___________________________________________________________________

Prof. M. Gustavo Kiotoshi Shiota

Curso de Arquitetura e Urbanismo/Universidade Católica Dom Bosco

___________________________________________

Prof. Dr. Ângelo Marcos Vieira de Arruda

Coordenador do Curso de Arquitetura e Urbanismo

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“Suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário

que você veja toda a escada.

Apenas dê o primeiro passo.”

Martin Luther King

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Agradecimentos

Aos meus pais, Clara e Newton, meus irmãos,

Fabiana e Rafael, pelo carinho, incentivo e

compreensão, sempre apoiando e acreditando no

meu potencial durante todos os momentos da minha

vida.

Aos meus amigos, André G., Davi, Davidson,

Demetrius, Henrique, Raí e principalmente Alisson,

pela camaradagem e amizade ao longo de todo o

curso, e por terem tornado essa jornada possível.

Ao arquiteto Eudoro, pelos ensinamentos e amizade

ao longo de todo o período de estágio.

Ao meu orientador Alex, pelo incentivo, dedicação,

paciência e disposição em buscar sempre o melhor de

mim.

Agradeço a todos, pois sem vocês nada disso seria

possível.

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SUMÁRIO

Lista de Ilustrações ................................................................................................. iv

Lista de TABELAS................................................................................................... vi

RESUMO ................................................................................................................. vii

ABSTRACT ............................................................................................................ viii

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1

1.1 Justificativa ................................................................................................. 2

1.2 Objetivos...................................................................................................... 3

1.2.1 Geral ...................................................................................................... 3

1.2.2 Específicos............................................................................................ 3

1.3 Metodologia ................................................................................................. 4

1.4 Conclusões .................................................................................................. 4

2 CENTROS URBANOS E SEUS DESAFIOS ....................................................... 5

2.1 Breve histórico ............................................................................................ 5

2.2 Principais problemas encontrados na contemporaneidade .................. 10

2.2.1 O excesso de automóveis .................................................................. 11

2.2.2 A especulação imobiliária .................................................................. 14

2.2.3 A segregação entre ricos e pobres e o problema da violência ....... 15

2.3 Propostas .................................................................................................. 18

2.3.1 Intervenção em centros urbanos .......................................................... 18

2.3.2 Diminuição no uso de carros e estímulo ao transporte público ........ 19

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2.3.3 Cidade densa/compacta ........................................................................ 20

2.3.4 Promoção da diversidade urbana através da multiplicidade de usos22

2.4 O Centro de Campo Grande e sua evolução urbana .............................. 23

2.4.1 Projeto de revitalização ...................................................................... 28

3 ARQUITETURA E A EDIFICAÇÃO HÍBRIDA ................................................... 30

3.1 Arquitetura ................................................................................................. 30

3.2 Edificação híbrida: origem e conceitos ................................................... 32

3.2.1 Origem ................................................................................................. 33

3.2.2 Conceitos ............................................................................................ 34

4 ANÁLISE DE REFERÊNCIAS ARQUITETÔNICAS .......................................... 37

4.1 Empreendimento de uso misto em Santa Monica – OMA ...................... 37

4.2 FGMF – Complexo Multiuso ..................................................................... 40

4.3 Praça das Artes – Brasil Arquitetura ....................................................... 44

5 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ...................................................................... 48

5.1 Área de intervenção .................................................................................. 48

5.2 Ideias e Propostas .................................................................................... 53

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 61

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iv

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Título Legenda Pág.

Figura 1 – Crescimento da população mundial .......................................................... 8

Figura 2 – População urbana entre 1970 e 1998 (em %) ........................................... 9

Figura 3 – Crescimento anual médio da população urbana entre os anos de 1970 a

1998 (em %) ............................................................................................................ 10

Figura 4 – Cidade ou estacionamento? .................................................................... 12

Figura 5 – Relação entre o tráfego de veículos e o senso de comunidade............... 13

Figura 6 – Típico subúrbio residencial norte-americano ........................................... 16

Figura 7 – Passagem subterrânea no centro de Houston ........................................ 17

Figura 8 – Os núcleos compactos e de uso misto .................................................... 22

Figura 9 – Evolução urbana de Campo Grande ....................................................... 27

Figura 10 – Rockefeller Center, Nova York .............................................................. 34

Figura 11 – Características dos Edifícios Híbridos ................................................... 36

Figura 12 – OMA fachada ........................................................................................ 37

Figura 13 – OMA: vista da rua ................................................................................. 38

Figura 14 – OMA: perspectiva esquemática ............................................................. 39

Figura 15 – Complexo Multiuso - FGMF................................................................... 40

Figura 16 – Complexo Multiuso - vista da praça ....................................................... 41

Figura 17 – Complexo Multiuso - Praça Suspensa ................................................... 42

Figura 18 – Complexo Multiuso - esquema .............................................................. 43

Figura 19 – Praça das Artes ..................................................................................... 44

Figura 20 – Praça das Artes: Croqui ........................................................................ 45

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v

Figura 21 – Praça das Artes: Diagrama de usos ...................................................... 46

Figura 22 – Praça das Artes: Implantação ............................................................... 47

Figura 23 – Área estudada ....................................................................................... 48

Figura 24 – Área de Intervenção .............................................................................. 49

Figura 25 – Tipologia da edificação .......................................................................... 50

Figura 26 – Uso do solo ........................................................................................... 51

Figura 27 – Degradação do entorno ......................................................................... 51

Figura 28 – Esquina da Av. Calógeras e Rua Marechal Rondon .............................. 52

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vi

LISTA DE TABELAS

Título Legenda Pág.

Tabela 1 – População total, urbana e rural e taxa de urbanização em Campo Grande

– 1970/2010 ............................................................................................................. 25

Tabela 2 – Perfil demográfico segundo as regiões urbanas, distritos e o município de

Campo Grande - 2010 ............................................................................................. 26

Tabela 3 – Áreas e Programa de Necessidades ...................................................... 55

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vii

RESUMO

O presente trabalho trata dos desafios enfrentados atualmente pelas grandes

metrópoles em questões tão presentes no dia-a-dia dos cidadãos como a violência,

a desigualdade social, os congestionamentos, a especulação imobiliária, e busca,

por meio de uma proposta arquitetônica de uma edificação híbrida, a amenização

dessas adversidades. É sabido que esses problemas não apareceram de um dia

para o outro: são fruto de décadas de políticas públicas mal planejadas e de

processos urbanísticos já ultrapassados. A diversidade de usos pode trazer

benefícios não só à cidade como ao bem-estar da população em geral, como é

proposto neste trabalho através de uma edificação híbrida localizada no centro da

cidade de Campo Grande – Mato Grosso do Sul.

PALAVRAS CHAVE: Edifício Híbrido, Multifuncional, Revitalização Urbana, Uso

misto.

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viii

ABSTRACT

This work addresses the challenges that big metropolis face nowadays in issues that

are vastly present in the daily life of the citizens like violence, social inequality, traffic

jams, real estate speculation, and aims, through a proposal of a hybrid building, the

attenuation of these adversities. It is known that those problems are not recent: they

are the outcome of decades of poorly planned public policies and of old-fashioned

urban processes. The diversity of uses can bring benefits not only to the city, but to

the wellness of the population in general, as will be proposed in this work through a

hybrid building that will be located in the downtown area of the city of Campo Grande

– Mato Grosso do Sul.

KEYWORDS: Hybrid building, Multifunctional, Urban Renewal, Mixed-use.

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1

1 INTRODUÇÃO

O aumento da criminalidade, dos congestionamentos, da degradação dos

grandes centros urbanos, enfim, da consequente diminuição na qualidade de vida

geral da população são alguns dos problemas que fazem parte do cotidiano da

maioria das grandes cidades brasileiras.

Problemas que só tendem a piorar com as deficientes políticas urbanas atuais

que, dentre outras medidas, priorizam os veículos em detrimento dos pedestres e

permitem uma expansão horizontal exagerada através da especulação imobiliária.

Atitudes como essas acabam onerando a máquina pública, o que resulta em um alto

investimento em infraestrutura em locais antes considerados remotos.

Uma das consequências dessas ações é o abandono dos grandes centros

urbanos, fato recorrente em muitas cidades brasileiras e que acaba gerando um

aumento da violência, da marginalidade, enfim, da degradação dessas áreas. São

locais que, mesmo sendo dotados de farta infraestrutura e de equipamentos

públicos, por conta de políticas urbanas ineficientes, acabam ficando subutilizados

devido à periferização da cidade e do seu baixo adensamento.

Muitos desses problemas poderiam ser amenizados se diferentes atividades

como comércio e serviço ocupassem, por exemplo, o mesmo espaço de áreas

residenciais e de lazer, e não ficando espalhadas horizontalmente e segregadas em

zonas como se verifica atualmente em diversas cidades no Brasil e no mundo.

Como resposta a essas adversidades, o que se propõe nesse trabalho é o

projeto de uma edificação híbrida, que tem como uma de suas principais

características a multiplicidade de usos, sejam eles residenciais, comerciais, de

lazer, etc. Essa edificação seria localizada justamente em uma região degradada,

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2

tendo por objetivo sua revitalização, que no caso seria o centro urbano da cidade de

Campo Grande – Mato Grosso do Sul.

1.1 Justificativa

Muito se fala atualmente das edificações híbridas, multifuncionais ou de uso

misto, pois elas conseguem concentrar em um único espaço atividades que muitas

vezes são segregadas a locais específicos de uma cidade, como, por exemplo,

áreas inteiramente dedicadas a estabelecimentos comerciais (centros urbanos), ou

bairros que são compostos exclusivamente por residências (condomínios fechados

na periferia da cidade).

Com a combinação dessas atividades em uma mesma localidade pode-se

obter uma melhoria, por exemplo, na questão da segurança, pois locais antes

considerados inóspitos em certos horários, passam a ser utilizados em tempo

integral. Outro fator a se considerar é que novos espaços são criados, sejam eles de

encontro, circulação, recreação ou lazer, entre outros.

A mobilidade urbana também é contemplada com os benefícios dessa

combinação de atividades, pois com as pessoas morando mais próximas do

trabalho, diminuem-se assim os congestionamentos e os gastos com o sistema de

transporte, seja ele público ou privado;

Outra questão que se favorece dessa multiplicidade de usos é a da

diversidade urbana, pois com essas medidas, a cidade ganha vida: não existem

mais as barreiras impostas pelo zoneamento rígido.

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3

1.2 Objetivos

Os objetivos desse trabalho se dividem em gerais e específicos, sendo eles:

1.2.1 Geral

Rever o atual conceito que se tem de urbanização nas grandes cidades em

quesitos como a mobilidade urbana, a expansão horizontal e o abandono do centro,

visando à elaboração de um projeto de uma edificação híbrida no centro de Campo

Grande/MS que promova melhorias na qualidade de vida dos usuários e que aponte

também em benefícios na sociedade em geral.

1.2.2 Específicos

Evidenciar ao cidadão comum esse modo híbrido de morar e de se relacionar

com a cidade;

Criar um espaço que ajude a revitalizar a já degradada região central de

Campo Grande/MS;

Promover políticas urbanas que favoreçam o desenvolvimento dessa

modalidade edilícia que está diretamente relacionada às necessidades desse

local em específico;

Propor uma edificação híbrida que além de ser sólida, funcional, e agradável

esteticamente, cause o menor impacto possível utilizando princípios da

sustentabilidade.

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4

1.3 Metodologia

Em um primeiro momento foi analisada a problemática atual dos grandes

centros urbanos em uma visão mais abrangente, com o estudo dos principais

problemas envolvidos nesse tema e algumas possíveis soluções. Também foi

analisado o centro da cidade de Campo Grande/MS, área escolhida para a

intervenção proposta nesse trabalho.

Foi realizada uma pesquisa do histórico da modalidade de edificação híbrida,

desde sua concepção, passando pelo seu desenvolvimento e finalizando na

consolidação desse conceito arquitetônico em abordagens contemporâneas do

tema.

Também foram analisados precedentes e referências arquitetônicas, sejam

eles relacionados às edificações híbridas ou que tenham alguma relevância ao

desenvolvimento do trabalho. Além de pesquisas em livros, publicações científicas,

sites disponíveis na internet, visitas in loco, etc.

Tendo em mente que um dos objetivos é revitalizar uma área urbana que

esteja degradada, foi selecionado um terreno localizado no centro da cidade de

Campo Grande/MS que possui tais características.

1.4 Conclusões

O edifício híbrido aparece como uma alternativa bastante adequada aos

principais problemas enfrentados pela população que vive nas grandes metrópoles

da atualidade.

Através de um projeto urbanístico e arquitetônico de qualidade é possível

melhorar a qualidade de vida não apenas dos usuários dessa edificação, mas

também da população em geral.

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5

2 CENTROS URBANOS E SEUS DESAFIOS

2.1 Breve histórico

Os primeiros esboços e concepções de um pensamento voltado à disciplina

urbanística foram dados a partir da segunda metade do século XIX, época em que a

cidade passava por grandes mudanças que acabaram gerando grandes conflitos

urbanos. A revolução industrial e o fim do sistema feudal fizeram com que a

população que trabalhava e vivia no campo migrasse para os grandes centros

urbanos. Essa migração em massa acabou alterando de forma muito intensa as

densidades e os contextos sociológicos locais (PERRIN, 2011).

Diante dessa situação, uma ação efetiva realizada através de um

planejamento urbano adequado acabou por beneficiar a classe dominante da época,

com medidas urbanísticas que se escondiam sob um falso pretexto de sanitização,

mas que tinham por objetivo destruir moradias e afastar as populações mais pobres

das áreas centrais.

[...] tais ações tinham uma conotação civilizadora: enquanto a cidade

ganhava prestígio, o poder público escondia nos subúrbios a vida e

as pessoas que não lhe convinha mostrar. Também, muitas vezes a

difusão de regulamentos de zoneamento restringiu a ocupação das

áreas centrais por populações étnica ou socialmente indesejáveis,

proibindo certos tipos de moradia ou ainda atividades econômicas

nas quais atuavam com sucesso algumas comunidades visadas.

Enfim, as administrações de nível estatal participaram do

desenvolvimento deste aparelho segregacionista institucional,

conduzindo políticas de habitação altamente discriminatórias.

(PERRIN, 2011, p.1)

Após a Segunda Guerra Mundial essas políticas segregacionistas

institucionalizadas pelos governos foram perdendo força, pois as minorias passaram

a ser apoiadas pela sociedade civil fazendo com que essa pressão popular

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6

passasse a limitar progressivamente as capacidades discriminatórias das

administrações públicas (PERRIN, 2011).

Esse período de pós-guerra na cidade ocidental, que começa a partir da

segunda metade do século XX foi dominado pelo urbanismo modernista que

defendia “a necessidade de produção de espaços vazios, de modo a evitar o seu

compartilhamento com arquitetura morfologicamente ‘comprometedoras ao seu

ideário’” (VARGAS, 2009).

Sob essa justificativa foram projetadas cidades com uma grande expansão

horizontal ou que tinham por característica principal extensos processos demolitórios

em função de uma pretensa renovação urbana. Entre os resultados dessas ações

estão os elevados custos da infra-estrutura urbana e as carências no transporte

urbano (VARGAS, 2009).

Heliana Comin Vargas divide esses processos de intervenção urbana em três

fases distintas:

A renovação urbana – 1950 a 1970: época da reconstrução do pós-guerra, o

propósito dessa geração era demolir e construir para renovar;

A preservação urbana – 1970 a 1990: caracteriza-se por uma negação do

movimento modernista, optando-se pela preservação das vizinhanças e a

restauração dos edifícios históricos;

A reinvenção urbana – 1980 a 2000: nesse processo unem-se os setores

público e privado, principalmente os empreendedores imobiliários, a fim de

reconstruir ou reinventar o ambiente construído, que agora não mais se

restringe apenas às áreas centrais, como áreas industriais, portuárias, orlas

ferroviárias, etc.

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7

Essas intervenções em áreas centrais vêm sendo cada vez mais requisitadas,

visto que os grandes centros urbanos passam por um contínuo processo de

degradação em todo o mundo e a população que migra das áreas rurais para as

cidades não para de crescer.

Se em 1950 apenas 29% da população mundial vivia em áreas urbanas, a

previsão estimada é que em 2025 esta população urbana atinja a marca de 60%

(ROGERS, 2001). Tomando como um exemplo de crescimento populacional urbano,

a cidade de Shenzhen, na China, passou de uma população de 100 mil para mais de

3 milhões de habitantes em um período de apenas 15 anos. Outro exemplo é a

Coreia do Sul, país onde em apenas 40 anos, passou de 80% de sua população

rural para 80% de população urbana segundo a Global Urban Observatory.

O gráfico da figura 1 demonstra claramente esse crescimento da população

urbana mundial: em 1900 era predominante a população que vivia no campo, com a

minoria das pessoas morando nas cidades, já na década de 1950 a população

urbana já representava cerca de 1/3 do total. No ano 2000 a população urbana e

rural já estava quase em pé de igualdade. E na previsão do ano de 2050 a

população rural será de apenas 1/4 do total, o que significa uma enorme mudança

no contexto sociológico de grande parte da população mundial.

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8

Figura 1 – Crescimento da população mundial

Fonte: ROGERS (2001, p.4) com alterações do autor

O mapa da figura 2 demonstra claramente essa migração da população rural

para as áreas urbanas. A ilustração mostra a porcentagem da população que reside

em centros urbanos, sendo que quanto mais escuro o tom de vermelho em um certo

país, maior a sua população urbana em comparação com a rural.

Analisando o mapa, que demonstra o período que vai entre 1970 a 1998,

pode-se perceber que essa migração da população rural para as áreas urbanas é

uma tendência global que é evidenciada tanto por países do continente Africano e

Asiático quanto por países da América do Sul como o Brasil, que passou da faixa de

45 a 60% da população urbana em 1970 para a faixa de 75 a 100% da sua

população residente em cidades em 1998.

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9

Figura 2 – População urbana entre 1970 e 1998 (em %)

Fonte: KOOLHAAS (2000, p.26)

A figura 3 demonstra um crescimento populacional principalmente nos países

subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, o que pode ocasionar, por conta de

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10

políticas inadequadas de planejamento urbano, a geração de grandes desigualdades

sociais.

Figura 3 – Crescimento anual médio da população urbana entre os anos de 1970 a 1998 (em %)

Fonte: KOOLHAAS (2000, p.27)

2.2 Principais problemas encontrados na contemporaneidade

Os grandes centros urbanos passam por um momento de crise em que o

modelo modernista de urbanismo adotado até então pelas principais metrópoles,

baseado em um sistema racionalizado de divisão dos espaços urbanos em zonas,

não consegue mais se adequar às diferentes necessidades impostas pela cidade

atual, que é diversa e dinâmica.

Nesse capítulo serão discutidos alguns dos principais problemas enfrentados

por quem reside nesses centros urbanos, problemas estes que não são

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11

exclusividade das grandes cidades brasileiras e que são compartilhados por

diversas metrópoles mundo afora.

2.2.1 O excesso de automóveis

A cultura que se tem na atualidade em relação aos automóveis gira em torno

da mística desses elementos tecnológicos que, não se pode negar, facilitaram a vida

das pessoas, mas que hoje já não servem mais apenas como um meio de

transporte, mas também (em muitos casos de forma predominante) como símbolo de

glamour e status orientados a quem os possui (ROGERS, 2001).

Se antigamente a invenção dos elevadores serviu como forma de incentivo e

viabilidade na construção dos grandes arranha-céus (ROGERS, 2001), que tinham

como empecilho o número de andares que deviam ser percorridos pelas escadas), o

mesmo pode ser dito com relação aos carros, que nos incentivaram e deram

viabilidade a construirmos nossas residências em qualquer parte da cidade, mesmo

que elas fossem cada vez mais distantes dos locais de trabalho e lazer. Tudo isso

devido à essa grande facilidade de locomoção adquirida com a invenção do

automóvel.

Essa forma de pensar acabou por relegar, em muitos lugares, o planejamento

das cidades em função dos carros, como acontece em centenas de cidades

americanas, baseadas no modelo modernista, que construíram quilômetros e mais

quilômetros de vias expressas separando as cidades em zonas residenciais, de

comércio, de lazer, e ainda por cima priorizando os veículos em função dos

pedestres nas políticas urbanas.

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12

Figura 4 – Cidade ou estacionamento?

Fonte: KOOLHAAS (2000, p. 540)

O excesso de automóveis acaba sendo prejudicial não só na questão dos

congestionamentos, onde se percebe um aumento cada vez maior e que é visto

principalmente nas grandes cidades brasileiras, carentes de políticas urbanas mais

eficientes, mas também no aumento da poluição e na diminuição da qualidade de

vida das pessoas.

De acordo com Cândido Malta (2003) e Richard Rogers (2001), estudos

realizados na cidade de São Francisco pela Universidade da Califórnia, em

Berkeley, revelam que o número de veículos que trafegam por hora em três

diferentes vias de um mesmo bairro está ligado diretamente à diminuição do contato

entre os vizinhos desse bairro (como mostra a figura 5). Ou seja, o crescimento no

tráfego de carros é inversamente proporcional ao sentido de comunidade de uma

região. As pessoas se isolam cada vez mais em suas casas à medida em que o

tráfego aumenta no seu entorno.

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13

Motivos como a falta de segurança para as crianças brincarem nas ruas e a

poluição são apontados pela pesquisa como fatores determinantes no aumento

desse problema social. O estudo mostra, por exemplo, que a uma frequência de

mais de oito veículos por minuto (ou um veículo a cada 7 ou 8 segundos):

[...]entra-se na faixa de um nível ambiental da rua muito

desagradável e os cidadãos abandonam as ruas como espaço de

convívio e se isolam dentro dos lotes e suas edificações, criando

barreiras protetoras entre o espaço público degradado e o espaço

privado, resguardado. (FILHO, 2003, p. 32)

Figura 5 – Relação entre o tráfego de veículos e o senso de comunidade

Fonte: ROGERS (2001, p.37)

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Essa situação acaba fazendo com que muitas ruas se tornem apenas

corredores de circulação, afastando os moradores e expulsando-os para locais mais

distantes e que tenham ruas mais tranquilas e resguardadas, verdadeiras “ilhas de

tranquilidade urbana” (FILHO, 2003).

Segundo Marc Augé “Quem privatiza o uso público do espaço viário é o

pequeno número dos que estão dentro dos numerosos automóveis que ali passam

em excesso”.

2.2.2 A especulação imobiliária

A especulação imobiliária passa a ser nociva a partir do momento em que ela

começa a interferir na estruturação e no planejamento das cidades. Quando essa

modalidade de expansão urbana se intensifica, seja de forma espontânea ou

planejada, muitas vezes regiões como os centros urbanos são delegados para o

segundo plano com relação à novos investimentos, pois com a concorrência de

novos subcentros, essas regiões centrais só fazem aumentar seus índices de

degradação e marginalização devido ao seu consequente abandono.

Esse processo de deterioração/degradação intensificou-se [...] pelo

crescimento e expansão do espaço urbano. Ao mesmo tempo em

que os centros congestionam-se pela intensidade das suas

atividades, amplia-se a concorrência de outros locais mais

interessantes para morar e viver. Assiste-se ao êxodo de atividades

ditas nobres e à saída de outras grandes geradoras de fluxos, como

as implementadas pelas instituições públicas. A substituição faz-se

por atividades de menor rentabilidade, informais e, por vezes, ilegais

e praticadas por usuários e moradores com menor ou quase nenhum

poder aquisitivo. Consequentemente, a arrecadação de impostos

diminui e o poder público reduz a sua atuação nos serviços de

limpeza e segurança públicas (VARGAS, 2009, p. 4).

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Esse processo de degradação ou deterioração urbana está associado à perda

de sua função, ao dano ou à ruína das estruturas físicas, ao rebaixamento do nível

do valor das transações econômicas de um determinado lugar (VARGAS, 2009). A

degradação não é exclusiva das estruturas físicas de um determinado local, ela

acontece também nos grupos sociais envolvidos com essa região através do

empobrecimento, marginalização, destruição das bases de solidariedade entre os

indivíduos e o descrédito da noção de bem comum (VARGAS, 2009). Ou seja, é um

processo de deterioração contínuo e que engloba direta ou indiretamente todas as

partes envolvidas.

2.2.3 A segregação entre ricos e pobres e o problema da violência

Com o crescente processo de degradação e deterioração dos centros

urbanos, cresce também a violência e a marginalização nesses locais. Essas áreas

acabam sendo utilizadas pelas classes sociais mais baixas que, por não terem

condições de se mudarem para regiões mais privilegiadas, acabam tendo que

conviver com todo tipo de problema urbano, aglomerando-se em guetos, favelas e

sendo praticamente esquecidos pelo poder público.

À medida que a vitalidade dos espaços públicos diminui, perdemos o

hábito de participar da vida urbana da rua. O policiamento natural ou

espontâneo das ruas, aquele produzido pela própria presença das

pessoas, é substituído pela segurança oficial e a própria cidade

torna-se menos hospitaleira e mais alienante. Logo, nossos espaços

públicos passam a ser percebidos como realmente perigosos e o

medo entra em cena. (ROGERS, 2001, p.10)

Mais recentemente o que se tem observado não somente no exterior, mas

também no Brasil, é a proliferação dos condomínios residenciais fechados. São

locais em que as classes sociais mais altas tentam buscar um ideal de sociedade

perfeita, imune aos perigos da vida urbana.

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Figura 6 – Típico subúrbio residencial norte-americano

Fonte: KOOLHAAS (2000, p.548)

É uma maneira de tentar fugir dos problemas das grandes cidades, dos

problemas que o Estado não consegue combater (entre os principais, a violência) e

de criar seus filhos em um ambiente estéril e livre das diversidades e dinamicidades

que uma vida em sociedade proporciona.

O que acontece é que atitudes como essa só aumentam a segregação entre

ricos e pobres, pois é criada uma barreira que não permite que exista mais uma

troca de experiências e vivências entre essas diferentes classes, e que apenas

estimula um crescente conflito e falta de entendimento entre essas duas populações.

Seguindo essa mesma lógica, o mercado de rua fica menos atrativo que o

shopping, a universidade transforma-se em campus fechado, e, à medida que este

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processo se espalha por toda a cidade, o domínio do espaço público multifuncional

sai de cena (ROGERS, 2001), como mostra a figura 7: uma passagem subterrânea

no centro de Houston, nos Estados Unidos onde o acesso é controlado para permitir

apenas a entrada de consumidores e executivos que trabalham nos escritórios da

região, deixando as ruas violentas e perigosas da superfície para a população mais

pobre.

Figura 7 – Passagem subterrânea no centro de Houston

Fonte: ROGERS (2001, p.13)

O senso de cidadania desaparece e dá lugar a uma cidade cada vez mais

dividida, segregada. A cidade que foi planejada para celebrar o que há em comum,

agora são projetadas para manter as pessoas afastadas umas das outras

(ROGERS, 2001).

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2.3 Propostas

Pôde-se perceber a quantidade de problemas pelos quais os grandes centros

urbanos passam atualmente, nesse subcapítulo serão abordadas algumas propostas

para que essas adversidades sejam, no mínimo, amenizadas.

2.3.1 Intervenção em centros urbanos

Uma das principais medidas utilizadas atualmente é a revitalização dos

grandes centros urbanos através de uma intervenção direta, ou seja, a retomada do

uso desses locais que já possuem uma abundância de infraestrutura e que com

políticas urbanas adequadas e planejadas em conjunto com a iniciativa privada,

podem dar novos ares a esses locais.

A farta infraestrutura proporcionada pelo centro, como sistema viário

consolidado, saneamento básico, energia, serviços de telefonia, transporte coletivo,

dentre outros, é um dos vários motivos para se investir na recuperação dos centros

urbanos, mas existem muitos outros, como elenca Vargas (2009):

Referência e identidade: os centros tem um papel essencial quanto à

identidade e à referência de seus cidadãos e visitantes;

História urbana: o centro é o lugar onde se encontram as sedimentações e as

estratificações da história de uma cidade;

Sociabilidade e diversidade: a variedade de atividades e a tolerância às

diversidades reforçam o caráter singular dos centros urbanos em relação aos

subcentros mais recentes;

Mudança nos padrões sociodemográficos: alterações como maior expectativa

de vida e consequente envelhecimento da população; redução do número de

componentes da família; ampliação do trabalho feminino, entre outros

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aspectos, facilitam e reconduzem ao retorno de habitações nas áreas

centrais;

Deslocamentos pendulares: estatisticamente, o centro de muitas cidades

ainda concentra um maior número de postos de emprego. O retorno do uso

residencial para o centro diminui sensivelmente a necessidade de movimento

pendular diário moradia-trabalho;

Distribuição e abastecimento: durante muitas décadas, vem ocorrendo a

dispersão locacional dos negócios. Em diversas escalas, entretanto, os

centros ainda retêm uma parcela da distribuição de bens e serviços.

O que também ajuda na recuperação desses locais é um incentivo para que

ele seja utilizado com mais intensidade, pois essa apropriação do espaço acaba

dando vitalidade e senso de comunidade aos cidadãos, um sentimento de que esse

espaço público é de responsabilidade e propriedade de todos.

Sendo assim, não faltam motivos para a intervenção nos centros urbanos,

que com as devidas medidas urbanísticas podem gerar um excelente retorno para a

comunidade em geral.

2.3.2 Diminuição no uso de carros e estímulo ao transporte público

Tem-se observado nos últimos tempos que a quantidade de carros vem

crescendo à um ritmo assustador, pois está cada vez mais fácil adquirir um

automóvel. Políticas errôneas do governo brasileiro, por exemplo, com a facilidade

na compra de um automóvel através de financiamentos, diminuição da taxa de juros,

acabam incentivando a população a focar seus investimentos em um transporte

individual, que é prático e conveniente, em oposição ao coletivo, que é considerado

desconfortável e não-confiável.

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Deveria haver um incentivo no uso do transporte coletivo através de políticas

de melhoria da frota atual com a aquisição de veículos mais modernos, criação de

faixas exclusivas de ônibus, criação de mais linhas de metrô, a imposição de tarifas

que dificultem a utilização do transporte individual no centro da cidade, entre outras

medidas. Hoje em dia uma pessoa que já possui um carro não tem nenhum motivo

para deixá-lo em casa e pegar um ônibus que está sempre lotado, que é

desconfortável, perigoso e que não segue os horários previstos de funcionamento.

Em uma breve análise, com a diminuição de carros em circulação nas

grandes cidades:

Tem-se menos congestionamentos;

Com menos congestionamentos, é liberada uma quantidade menor de gases

poluentes, melhorando a qualidade do ar;

Essa melhor qualidade do ar pode encorajar as pessoas a praticarem mais

atividades físicas como caminhar ou andar de bicicleta. Pode também

estimulá-las a abrirem mais as janelas das edificações, diminuindo

consequentemente a utilização do ar condicionado e gerando economia de

energia (ROGERS, 2001).

Além disso, com uma menor quantidade de carros, são necessárias menos

áreas destinadas às ruas e avenidas, o que abre oportunidade para mais espaços

públicos como parques, jardins e arborização, que geram mais sombreamento,

diminuindo as concentrações de massas de ar quente nas cidades e

consequentemente a temperatura.

2.3.3 Cidade densa/compacta

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Segundo Rogers (2001), o conceito de uma cidade densa não foi bem aceito

no século XX devido às terríveis experiências vividas nas cidades industriais do

século XIX. Nesse período as cidades sofriam com a superpopulação, a pobreza e

diversos problemas sanitários.

Canalizações de esgoto a céu aberto espalhavam cólera e febre

tifóide, detritos e resíduos tóxicos ficavam ao lado de moradias.

Como resultado, a expectativa de vida em muitas cidades industriais

inglesas da era vitoriana não chegava aos 25 anos (ROGERS, 2001,

p. 32).

Foram esses problemas que levaram pensadores da época a projetarem

cidades com uma menor concentração de habitantes em ambientes menos densos e

mais verdes, como as cidades-jardim de Ebenezer Howard em 1898 e as New

Towns, de Patrick Abercrombie em 1914.

Mas grande parte desses antigos problemas causados pela grande

concentração de pessoas é contornada atualmente com tecnologias cada vez mais

avançadas, que permitem, dentre outras coisas, uma disposição melhor dos

resíduos (com o tratamento do esgoto e do lixo), com sistemas de geração de

energia e transporte público virtualmente mais limpos e com a disponibilidade de

produtos ecologicamente corretos.

Uma cidade densa ou compacta, se acompanhada de um bom planejamento

integrado, pode ser pensada tendo em vista um aumento de sua eficiência

energética, um menor consumo de recursos, um menor nível de poluição e, além

disso, evitando sua expansão sobre a área rural.

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Figura 8 – Os núcleos compactos e de uso misto

Fonte: ROGERS (2001, p.39)

A cidade se transforma em um habitat ideal para uma sociedade baseada na

comunidade, ela fica mais próxima de seus habitantes, pois serve de catalisador

para a atividade humana na geração e na expressão de sua cultura local.

2.3.4 Promoção da diversidade urbana através da multiplicidade de usos

A diversidade urbana se constrói através de políticas que fomentem esse

conceito, como o auxílio e subsídio à pequenos comerciantes e uma maior restrição

aos grandes varejistas. Ou seja, um estímulo ao comércio de bairro, às diferentes

lojas que podem ser criadas, à variedade. E não aos grandes lojistas, que acabam

homogeneizando e destruindo o comércio local.

Ações pontuais, como projetos arquitetônicos de uso misto ou multifuncionais,

devem servir de exemplo a serem seguidos por outros investidores, tornando-se um

processo contínuo e ininterrupto de melhorias a serem proporcionadas na direção da

revitalização dos grandes centros.

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O que se pode fazer também é incentivar o contato entre as diferentes

classes sociais através de projetos que propiciem essa integração, como a

construção de habitações para as classes populares em conjunto com habitações de

classe média, podendo ser tanto no mesmo prédio, no mesmo lote ou no mesmo

bairro, como defende Cândido Malta (2003).

Jane Jacobs (2000) em seu livro “Morte e Vida de Grandes Cidades”, cita

quatro condições para uma maior diversidade urbana:

1ª CONDIÇÃO: O distrito, e sem dúvida o maior número possível de

segmentos que o compõem, deve atender a mais de uma função principal; de

preferência, a mais de duas. Estas devem garantir a presença de pessoas

que saiam de casa em horários diferentes e esteja nos lugares por motivos

diferentes, mas sejam capazes de utilizar boa parte da infraestrutura.

2ª CONDIÇÃO: A maioria das quadras deve ser curta; ou seja, as ruas e as

oportunidades de virar esquinas devem ser frequentes.

3ª CONDIÇÃO: O distrito deve ter uma combinação de edifícios com idades e

estados de conservação variados, e incluir boa porcentagem de prédios

antigos.

4ª CONDIÇÃO: O distrito precisa ter uma concentração suficientemente alta

de pessoas, sejam quais forem seus propósitos. Isso inclui pessoas cujo

propósito é morar lá.

2.4 O Centro de Campo Grande e sua evolução urbana

Campo Grande foi fundada em 21 de junho de 1872 pelo mineiro José

Antônio Pereira, e emancipada no dia 26 de agosto de 1899. Desde então, passou

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por um processo de crescimento muito acelerado, principalmente com a chegada da

Maria Fumaça (da antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil), da vinda dos

migrantes pelo Trem do Pantanal e das novas riquezas da exportação do charque

para a Europa (ARRUDA, 2006).

Entre 1920 e 1930, com a construção do complexo militar pela Companhia

Construtora de Santos, a cidade passou por outro importante surto de

desenvolvimento, crescendo na direção oeste através do bairro Amambaí, com seus

450 lotes divididos entre operários e militares (ARRUDA, 2006).

Na década de 1940, Campo Grande já era considerada a cidade mais

importante de Mato Grosso, ultrapassando inclusive a capital, Cuiabá em

indicadores econômicos e populacionais (ARRUDA, 2006).

O primeiro plano diretor foi elaborado pelo escritório Saturnino de Brito,

encomendado pelo então prefeito Eduardo Olímpio Machado, e ficou pronto em

1941, organizando a malha urbana e o desenvolvimento da cidade por quase 30

anos, até ser substituído por um novo plano, da empresa Hidroservice Engenharia,

na gestão de Plínio Barbosa (ARRUDA, 2006).

A partir de 1970 a cidade rompe com os limites do perímetro urbano definidos

até então pelo plano diretor e passa a se espalhar horizontalmente em

empreendimentos imobiliários de loteamentos e conjuntos habitacionais situados

nas áreas periféricas, todos aprovados pelo Poder Público, gerando grandes vazios

urbanos no centro da cidade.

No período de 1960 a 1970, foram aprovados mais de 57 mil novos lotes, que

ainda hoje, são pouco adensados e muito problemáticos tanto em sua ocupação

quanto na questão da criminalidade, que geram um alto custo com a manutenção e

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que não conseguem ter um retorno na arrecadação de impostos por parte do

governo (ARRUDA, 2006).

Com a transformação da cidade em capital do estado, em 1979, todo esse

processo de enorme especulação imobiliária se agravou ainda mais, com novos

recursos e investimentos que acompanharam essa febre de desenvolvimento,

gerando bairros como a Moreninha I, II e III e muitos outros, tudo isso feito de

maneira desordenada e caótica. Após esse momento de caos que é criado o

Instituto Municipal de Planejamento Urbano - PLANURB em 1987 para regular e

criar leis para o ordenamento do desenvolvimento urbano da cidade, que são válidas

até hoje.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE,

Campo Grande atingiu uma população de 786.797 pessoas em 2010. Foi um

incremento superior a 5 vezes o tamanho da população entre 1970 e 2010, sendo

que no final desse período de pesquisa, a população residente na capital em relação

ao estado chegou a 32,13%, com uma taxa de urbanização de 98,66%, como

mostra a tabela 1 (PLANURB, 2013).

Tabela 1 – População total, urbana e rural e taxa de urbanização em Campo Grande – 1970/2010

Fonte: PLANURB, 2013

Dados retirados do censo de 2010 realizado pelo IBGE demonstram que a

região “Centro” de Campo Grande, local de realização desse trabalho, possui a

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menor população dentre as regiões urbanas do município. Mesmo assim, ainda

possui a maior densidade demográfica, com 35,43 hab/ha.

Ainda de acordo com o IBGE, o índice de envelhecimento, que expressa o

número de idosos (65 anos e mais de idade) para cada grupo de 100 jovens (0 a 14

anos de idade) é muito superior na região Centro se comparada à outras regiões,

com um valor de 92,50 como é mostrado na tabela 2.

Outro fato que chama a atenção é a “Taxa média geométrica de crescimento

anual” entre os anos de 2000 a 2010, que demonstra que a região do Centro foi a

única dentre todas as regiões que teve um decréscimo em seu valor (-0,63%), ou

seja, o que houve foi a migração das pessoas da região central para as outras

regiões da cidade.

Tabela 2 – Perfil demográfico segundo as regiões urbanas, distritos e o município de Campo Grande - 2010

Variáveis População

total

Densi-dade

demo-gráfica

(hab/ha)

Proporção da população no

total do município (%)

Idade média

Índice de envelheci

mento

Taxa média geométrica

de crescimento anual (%) - 2000-2010

Campo Grande 786.797 0,97 100,00 31,69 29,62 1,72

Re

giõ

es

Urb

anas

Total 774.202 21,93 98,40 31,69 29,63 1,70

Centro 71.037 35,32 9,03 38,21 92,50 -0,63

Segredo 108.962 24,23 13,85 30,16 22,19 2,82

Prosa 82.328 14,79 10,46 31,74 26,79 3,48

Bandeira 113.118 18,14 14,38 31,45 27,31 1,59

Anhanduizinho 185.558 29,97 23,58 30,23 22,72 2,00

Lagoa 114.447 22,63 14,55 31,21 26,46 1,47

Imbirussu 98.752 17,20 12,55 32,18 32,69 0,95 Distrito de Anhanduí

4.267 5,90 0,54 32,37 29,87 2,05

Distrito de Rochedinho

1.093 19,67 0,14 36,68 45,11 1,52

Demais áreas rurais 7.235 0,01 0,92 31,48 26,12 3,98

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. Elaboração do autor.

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Figura 9 – Evolução urbana de Campo Grande

Fonte: ARRUDA, 2006 (com alterações do autor)

Esse fato pode ser explicado em parte pelo gigantesco processo de

especulação imobiliária que a cidade sofreu (e que continua até hoje), o que acaba

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afetando os rumos para um crescimento sustentável. Ações como essas acabam

gerando enormes problemas urbanos.

Um dos principais problemas dessas políticas é a degradação atual de seu

centro urbano ocasionado pelo seu abandono, que está tentando ser contornado

através de um projeto de revitalização, chamado de Reviva Centro, que será

discutido no capítulo seguinte.

2.4.1 Projeto de revitalização

Trata-se de um plano de revitalização do centro de Campo Grande, elaborado

durante o mandato do prefeito Nelson Trad Filho e assinado no dia 25 de março de

2009.

A coordenação dos trabalhos referentes ao Plano Local das ZEIC’s Centro

será compartilhada entre o Grupo Técnico da Prefeitura Municipal de Campo

Grande, que acompanhará e supervisionará os trabalhos e a ORGANURA –

Planejamento, Projetos e Obras Ltda. (empresa que venceu a licitação).

A coordenação dos trabalhos do plano de revitalização do centro será

realizada pelo Grupo Técnico da Prefeitura Municipal de Campo Grande,

responsável pelo acompanhamento e a supervisão dos trabalhos e a ORGANURA,

empresa que venceu a licitação da obra (PLANURB, 2014).

Ainda de acordo com a Planurb, o plano de revitalização do centro tem como

premissas:

a) Humanização dos espaços coletivos produzidos;

b) Valorização dos marcos simbólicos e históricos existentes;

c) Incremento ao lazer e cultura;

d) Incentivo à instalação de habitações;

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e) Preocupação com aspectos ambientais;

f) Participação da comunidade na concepção e implantação.

Tem como alguns dos principais projetos a reforma da Estação Ferroviária e

da Orla Ferroviária com parcerias público-privadas e que atualmente já se

encontram quase finalizados.

Além de projetos de reforma e revitalização de áreas degradadas, esse plano

promove também um programa de “Animação da Área Central”, com o objetivo de

criar ali um polo de atividades culturais variadas e que combine atividades

econômicas e de moradia, com instrumentos urbanísticos e fiscais de incentivo ao

uso residencial, o que é um dos focos principais do presente trabalho.

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3 ARQUITETURA E A EDIFICAÇÃO HÍBRIDA

3.1 Arquitetura

Desde a pré-história o homem já se preocupava em procurar um lugar para se

proteger das intempéries, como no período glacial em que o frio passou a ser um

dos principais fatores a serem considerados para sua sobrevivência, forçando-o a

procurar abrigo em grutas e cavernas.

Mas foi no Egito que realmente começou a relação do homem com a

Arquitetura propriamente dita, com a construção de gigantescos templos e

sepulturas. Estes eram muito venerados pelos egípcios, que os consideravam como

uma morada eterna. Já suas residências particulares eram tratadas como simples

hospedarias, pelo pouco tempo que ali se habitava em comparação com a

eternidade da pós vida (MOREUX, 1983).

Se por um lado os egípcios cultuavam e adoravam seus templos e sepulturas,

por outro os assírios, se interessavam muito pouco por essas edificações, focando-

se mais na construção de grandes palácios, assim como os persas, que além de

possuírem uma incrível habilidade em construir magníficos palácios, ainda tinham

grande facilidade em realizar a associação entre o pitoresco e o grandioso, com um

senso de ritmo até então inigualados (MOREUX, 1983).

A palavra arquitetura remonta à palavra grega, archetekton, (arkhé/principal +

tékhton/construção) e refere-se à arte ou técnica de projetar e edificar o ambiente

habitado pelo homem. Para os gregos, a arquitetura deveria ser, antes de mais

nada, útil. E essa utilidade deveria se sobrepor ao belo pois antes de um “discurso

estético”, buscava-se principalmente uma “realização técnica”, como pregava o

filósofo ateniense Sócrates.

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Essa forma de pensar não pode ser considerada equivocada, pois:

A arquitetura extrai beleza da aplicação do pensamento racional. É o

jogo entre conhecimento e intuição, lógica e espírito, mensurável e

imensurável. [...] A arquitetura tem uma grande característica

funcional, mas a ordem estética não é menos essencial. O Partenon,

o Tempieto de Bramante ou o Centro Salk de Louis Khan, todos

alcançam o sublime através do racional. (ROGERS, 2001, p.67)

Richard Rogers (2001) define a arquitetura como sendo uma expressão

fundamental da habilidade tecnológica e dos objetivos sociais e espirituais. A história

da arquitetura documenta não apenas a engenhosidade da humanidade, mas seu

senso de harmonia e seus valores. Ela representa uma profunda reflexão das

complexas motivações de indivíduos e sociedades ao longo das gerações.

Em um debate mais conceitual, quando se discute sobre arquitetura, o que

logo vem à cabeça são imagens de grandes obras paradigmáticas, sejam elas

contemporâneas ou da antiguidade clássica. Muitas pessoas acabam associando a

arquitetura apenas ao seu envoltório, ou seja, à fachada ou ao edifício em si, mas

ela é muito mais do que isso.

Outras formas de arte como a pintura e a escultura, podem sim, serem

apreciadas considerando apenas seus valores pictóricos, mas a arquitetura, como

forma de arte distinta que é, não deve ser encarada tão somente pelo seu lado

estético, mas principalmente por uma de suas grandes virtudes: a essência espacial

(ZEVI, 1996).

Essa essência espacial está relacionada à forma com que o edifício interage

com o seu entorno, aos seus espaços interiores além dos sentimentos subjetivos

que são provocados em seus usuários. O espaço acaba sendo o principal meio pelo

qual a arquitetura trabalha e se expressa. (ZEVI, 1996)

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Segundo Bruno Zevi (1996), um dos mais importantes teóricos da arquitetura,

a diferença entre a arquitetura e a não-arquitetura não se restringe a classificá-las

meramente em belas ou feias, pois esses conceitos acabam sendo relativos. Se

formos levar em conta o espaço interior nesse tipo de classificação, Bruno Zevi

(1996) diz: “A bela arquitetura será a arquitetura que tem um espaço interior que nos

atrai, nos eleva, nos subjuga espiritualmente; a arquitetura feia será aquela que tem

um espaço interior que nos aborrece e nos repele”. (ZEVI, 1996, p. 24). Richard

Rogers também defende esse conceito, dizendo que para buscar a beleza em uma

edificação deve-se transcender o cotidiano e elevar o espírito daqueles que o

utilizam, buscando sempre uma escala humana. (ROGERS, 2001)

Nem por isso a arquitetura deve ser restringida apenas ao seu valor espacial,

pois, não menos importantes, estão seus valores econômicos, sociais, técnicos e

artísticos. O valor espacial pode ser de extrema importância na arquitetura, mas não

tem o poder de defini-la por si só, sendo dependente dos fatores citados

anteriormente para um melhor julgamento.

Se pensarmos um pouco a respeito, o fato de o espaço, o vazio, ser

o protagonista da arquitetura é, no fundo, natural, porque a

arquitetura não é apenas arte nem só imagem de vida histórica ou de

vida vivida por nós e pelos outros; é também, e sobretudo, o

ambiente, a cena onde vivemos a nossa vida. (ZEVI, 1996, p. 28)

3.2 Edificação híbrida: origem e conceitos

Neste subcapítulo será abordado o tema das edificações híbridas, desde sua

origem até os conceitos que se tem atualmente dessa modalidade edilícia.

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3.2.1 Origem

A história dos edifícios híbridos começa no final do século XIX e início do

século XX, quando as já adensadas metrópoles da época começam a aceitar a

multiplicidade de funções como algo inevitável. A especulação imobiliária e a rigidez

do traçado urbano são uns dos fatores que favoreceram o florescimento dessas

edificações híbridas nos centros das grandes metrópoles norte-americanas (PER,

2011). Fenton, citado por Neves (2012, p.21), diz que “surgem os primeiros edifícios

híbridos com a finalidade de revitalizar as cidades norte-americanas e rentabilizar a

ocupação do solo”.

Com a aprovação do Plano Diretor de Nova Iorque em 1916, e com as

consequentes leis urbanísticas que a precederam, uns dos fatores que mais

geraram dificuldades para os projetistas da época foram as diretrizes relacionadas à

inclinação dos raios solares que deveriam alcançar o centro das ruas. Pois até

então, os prédios eram construídos sem levar em consideração o seu entorno. Com

isso, algumas ruas acabavam ficando o ano todo sem receber a luz do sol (PER,

2011).

Essas novas leis acabaram indo de encontro com a forma, o volume e a altura

dos novos prédios projetados, que a partir de então tiveram que ser repensados de

uma maneira totalmente diferente dos edifícios da época. Os arquitetos se viram

obrigados a interpretar as novas leis de forma literal, tendo que esquecer as

tradições arquitetônicas do passado em função das rígidas regras impostas.

Alguns anos depois dessa nova legislação ter entrado em vigor foi construído

o Rockefeller Center, um complexo multifuncional que combinava escritórios, lojas

comerciais, auditório e áreas para ensino e recreação. Foi um marco na época, pois

conseguiu aliar essa diversidade de usos funcionando quase que como uma

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pequena cidade, conseguindo influenciar de forma positiva não só na vida de seus

usuários como no entorno de seu complexo arquitetônico.

Figura 10 – Rockefeller Center, Nova York

Fonte: <http://virtualofficefaq.files.wordpress.com/2011/11/2009-tree-1-courtesy-of-tishman-speyer-photographer-bart-barlow.jpg>

3.2.2 Conceitos

Um edifício híbrido é aquele que consegue mesclar diferentes atividades e

usos em um mesmo local, sejam eles residenciais, comerciais, de serviço, lazer, etc.

Tem como uma de suas principais características a junção da sociabilidade

da vida pública com a intimidade da vida privada. A ligação desses fatores faz com

que ele adquira uma nova função, a de um edifício de tempo integral ou 24 horas,

pois ele consegue ser utilizado tanto de dia (por pessoas que trabalham no local, por

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exemplo), quanto à noite, através de sua vida noturna agitada que é criada com

essa combinação de funções.

A diversidade de usos contida em um edifício híbrido faz com que ele seja

apto a receber tanto as atividades programadas (que fazem parte de seu projeto

inicial como usos residenciais, comerciais, etc) quanto as não programadas (como

manifestações artísticas, culturais), pois por ter esse caráter público ele acaba sendo

parte atuante da vida urbana de uma cidade.

Edifícios híbridos normalmente possuem uma densidade elevada, ajudando a

revitalizar áreas que possam estar subutilizadas ou degradadas. Com essa alta

densidade demandada pela combinação de usos, a escala da maioria desses

edifícios tende a ser grande, o que pode gerar edificações com um alto número de

pavimentos devido à sobreposição de suas diferentes atividades. Por causa dessa

escala, muitas vezes a construção de um edifício híbrido demanda também o

acompanhamento de um projeto urbanístico adequado.

Genericamente, os edifícios híbridos são edifícios excepcionais na

sua concepção programática que se ajustam à trama da cidade. São

edifícios cosmopolitas, caracterizados por uma forte flexibilidade

formal e programática. (NEVES, 2012, p.22)

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Figura 11 – Características dos Edifícios Híbridos

Fonte: NEVES, 2012

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4 ANÁLISE DE REFERÊNCIAS ARQUITETÔNICAS

Foram escolhidos três projetos de arquitetura relacionados ao tema de

edificação híbrida e que se destacaram pelos seus elementos arquitetônicos além da

forma harmoniosa com que eles conseguiram interagir com o entorno. Os projetos

serão apresentados a seguir.

4.1 Empreendimento de uso misto em Santa Monica – OMA

O projeto é do escritório OMA, formado por seis associados, entre eles: Rem

Koolhaas, Ellen van Loon, Reinier de Graaf, Shohei Shigematsu, Iyad Alsaka, e

David Gianottene, que possuem escritórios em Rotterdam, Nova York, Pequim e

Hong Kong. A proposta foi vencedora de um concurso baseado em uma edificação

de uso misto no centro da cidade de Santa Monica na Califórnia.

Figura 12 – OMA fachada

Fonte: <http://www.bustler.net/images/news2/oma_santa_monica_entry-01.jpg>

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O edifício ocupará o local que atualmente é utilizado como estacionamento e

rinque de patinação, sendo que o último será mantido no projeto final. O que chama

atenção logo de cara é a praça localizada no térreo, que faz a ligação entre os vários

pisos elevados. Esses pisos elevados consistem de espaços altamente flexíveis

podendo ser adaptados para diversas atividades, o que permite, se necessário, uma

futura alteração na sua utilização (QUINTAL, 2014).

O design da implantação maximiza a permeabilidade visual enquadrando a

praça aberta e agregando-a com o seu entorno. É uma edificação que consegue

integrar as atividades privadas com o ambiente urbano.

Figura 13 – OMA: vista da rua

Fonte: <http://www.bustler.net/images/news2/oma_santa_monica_entry-02.jpg>

A disposição diagonal dos blocos, quase que como peças de dominó

empilhadas umas sobre as outras, cria uma série de terraços com vistas

panorâmicas do entorno (DEZEEN, 2014). O edifício combina escritórios,

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apartamentos residenciais, um hotel, garagem subterrânea e áreas destinadas à

cultura, o que garante uma grande diversidade de usos ao seu entorno, que está

localizado na região central da cidade.

Figura 14 – OMA: perspectiva esquemática

Fonte: <http://www.bustler.net/images/news2/oma_santa_monica_entry-09.jpg>

O projeto concebido pelo escritório OMA foi escolhido como referencial por

apresentar essa diversidade de usos proporcionada por uma edificação híbrida, que

acaba gerando animação em regiões que possam estar degradadas, como é o caso

do presente trabalho. A grande praça localizada em frente ao edifício convida os

pedestres a adentrarem em suas instalações, permitindo uma permeabilidade

espacial e uma interação com o exterior, gerando um espaço ambíguo, derrubando

as barreiras entre o que é público e o que é privado.

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4.2 FGMF – Complexo Multiuso

Localizado em Brasília/DF, o projeto idealizado pelo escritório paulista FGMF

– Forte, Gimenez & Marcondes Ferraz cria um novo marco na paisagem brasiliense,

tornando-se um ponto de referência na região. Sem falar na valorização e

requalificação do seu entorno através de um complexo multiuso formado por lajes

corporativas, varejo e escritórios modulares.

Sua implantação consegue ao mesmo tempo abrir-se às vias locais, mas

isolando-se do barulho da via expressa, criando também um corredor de circulação

para quem se desloca do transporte público para as vias locais (FERNANDES,

2014).

Figura 15 – Complexo Multiuso - FGMF

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/01-16416/complexo-multi-uso-sia-brasilia-fgmf/vista-1-final-large/>

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As lojas âncoras localizadas no térreo organizam o espaço criando focos

visuais que estimulam a circulação entre as diferentes lojas, cafés, sorveterias e

restaurantes. No térreo também estão localizadas portarias que controlam o acesso

aos escritórios e aos andares corporativos.

Figura 16 – Complexo Multiuso - vista da praça

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/01-16416/complexo-multi-uso-sia-brasilia-fgmf/vista-2-final-2-large/>

Todos os escritórios contam com uma vista privilegiada, seja ela da praça

térrea, da praça privativa suspensa ou ainda dos jardins privativos para aqueles

escritórios que estão voltados para o limite do terreno. A praça suspensa é

destinada apenas aos andares de escritórios e corporativos, sendo que ela pode

servir como espaço externo para almoço e descanso dos funcionários, área de

descompressão, etc.

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Figura 17 – Complexo Multiuso - Praça Suspensa

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/16416/complexo-multi-uso-sia-brasilia-fgmf/vista-3-final-large/>

O projeto é bem servido em quesitos como a sustentabilidade, com elementos

que primam pela eficiência energética, gestão da água, conforto higrotérmico e

relação com a cidade, tendo como exemplo: o brise-soleil metálico utilizado nos

escritórios, os espelhos d’água que resfriam e umidificam passivamente o ar seco de

Brasília e a vegetação de vários níveis que garante uma menor amplitude térmica e

um melhor isolamento das altas temperaturas nas lajes de cobertura.

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Figura 18 – Complexo Multiuso - esquema

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/01-92674/complexo-multiuso-slash-fgmf-arquitetos/50fca36fb3fc4b068c000096>

São utilizados também sistemas integrados como vaporizadores de água e

turbinas de ventilação previstos sobre os jardins suspensos e a utilização de

materiais que possuem maior desempenho energético.

Esse projeto foi escolhido como referência por apresentar não apenas essa

preocupação com questões sustentáveis mas também pela maneira como

conseguiu integrar esse tema na concepção dos diferentes ambientes, como é o

caso dos jardins suspensos.

Outro fator interessante foi a forma com que foi pensada a volumetria, que

procura fugir da monotonia, com volumes que se destacam do prédio principal

criando espaços sombreados que podem ser utilizados tanto como de permanência

como de passagem.

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4.3 Praça das Artes – Brasil Arquitetura

Situado na cidade de São Paulo e projetado pelo escritório Brasil Arquitetura,

esse espaço está implantado em meio a edificações pré-existentes, que, ao se

utilizar do miolo da quadra, expande seus prédios a três diferentes vias. Edificações

como o Antigo Conservatório Dramático Musical de São Paulo foram restauradas e

vinculadas a um conjunto de novos espaços de circulação e de estar, que foi

denominado de Praça das Artes.

Figura 19 – Praça das Artes

Fonte:<http://www.archdaily.com.br/br/01-98332/praca-das-artes-brasil-arquitetura/51228bccb3fc4bdcc200009e>

O complexo integra as sedes das Orquestras Sinfônicas Municipal e

Experimental de Repertório, dos Corais Lírico e Paulistano, do Balé da Cidade e do

Quarteto de Cordas. Fazem parte também desse local as Escolas Municipais de

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Música e de Dança, o Museu do Teatro, o Centro de Documentação Artística, além

de restaurantes, estacionamento subterrâneo e áreas de convivência.

Figura 20 – Praça das Artes: Croqui

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/01-98332/praca-das-artes-brasil-arquitetura/51228ecab3fc4b64c20000b0>

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Figura 21 – Praça das Artes: Diagrama de usos

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/01-98332/praca-das-artes-brasil-arquitetura/51228edcb3fc4b64c20000b4>

O conjunto de edificações se caracteriza por possuir o térreo completamente

livre, o que permite a circulação de pedestres pelo miolo da quadra que se

assemelha à uma grande praça. Esse conjunto também é caracterizado por ter se

moldado de acordo com os prédios vizinhos, pois o projeto passou a tomar forma a

partir do momento em que desapropriações de terrenos eram feitas pelo município.

Ou seja, nem os próprios autores do projeto sabiam ao certo como iria ser o

resultado final da obra.

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Figura 22 – Praça das Artes: Implantação

Fonte: < http://www.archdaily.com.br/br/01-98332/praca-das-artes-brasil-arquitetura/51228f8fb3fc4b2f650000c2>

A criação desse complexo consegue atender a uma carência histórica de

espaços teatrais na cidade de São Paulo ao mesmo tempo em que ajuda na

requalificação da área central da cidade, pois o programa possui funções que

contemplam espaços de caráter público, de convivência e de vida urbana (HELM,

2014). O projeto marca um momento de resgate do valor arquitetônico como política

urbana na cidade de São Paulo.

Essa característica de apropriação do miolo da quadra e da concepção do

partido através dessa “sobra” de terreno foi o que gerou interesse na adoção dessa

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referência arquitetônica neste trabalho. Sem contar no processo de requalificação

urbana proporcionada pelo projeto apresentado.

5 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

5.1 Área de intervenção

Para a escolha do terreno foi levado em consideração a sua localização no

centro da cidade de Campo Grande/MS, visto que o trabalho é focado na

revitalização dessa região específica.

Figura 23 – Área estudada

Fonte: PMCG com alterações do autor

Para ajudar nessa escolha, foram consultados mapas fornecidos pela

Organura – Planejamentos, Projetos e Obras Ltda e que foram fruto de um estudo

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feito para o projeto Reviva Centro da Prefeitura Municipal de Campo Grande -

PMCG. Esse estudo possui informações como o nível de degradação de

edificações, as diferentes tipologias, usos do solo, entre outras. Com base nesses

dados foi escolhido um terreno (será detalhado a seguir) que possui aberturas para

três vias, entre elas, a Rua Maracaju ao norte, a Avenida Calógeras ao oeste e a

Rua Marechal Rondon ao sul, como pode ser visto na figura 24.

Figura 24 – Área de Intervenção

Fonte: Google Earth com alterações do autor

Um dos dados analisados e levados em consideração foi a densidade da área

escolhida, que de acordo com o mapa de tipologia das edificações da Organura

(figura 25) é predominantemente térrea, demandando um maior adensamento nessa

região central da cidade. Como será necessário um processo de desapropriação de

algumas edificações, foi verificado se no terreno em questão existia alguma

edificação tombada ou em processo de tombamento, o que não foi constatado no

local. Em uma visita técnica, foi observado também a grande quantidade de

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estacionamentos no entorno do terreno, fato que acaba prejudicando na diversidade

local.

Figura 25 – Tipologia da edificação

Fonte: Organura com alterações do autor

No mapa de uso do solo (figura 26) foi verificada a predominância de

edificações comerciais e de serviço, além de algumas edificações desocupadas

como mostra a figura 27 e a inexistência de edificações residenciais. Isso significa

que seu uso não é realizado de forma integral, ou seja, durante a noite a região fica

deserta, sendo área fértil para a violência, prostituição, marginalidade, etc.

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Figura 26 – Uso do solo

Fonte: Organura com alterações do autor

Figura 27 – Degradação do entorno

Fonte: Imagem do autor

O terreno possui aproximadamente 7500 m² e está inserido na Z11, que

possui taxa de ocupação 1 no térreo e 1º pavimento e 0,8 nos demais pavimentos. A

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taxa de permeabilidade é dispensável, sendo que o coeficiente de aproveitamento é

6 e o índice de elevação é livre. Os recuos de frente são livres, já os recuos das

laterais e fundos são livres no térreo e no 1º pavimento. Se o índice de elevação for

entre 2 e 6, o recuo é h/6 (com no mínimo 3,00m), se o índice de elevação for maior

que 6, o recuo é de h/8 (com no mínimo 5,00m), conforme a Lei Complementar

74/13 – Uso e Ocupação do Solo.

Figura 28 – Esquina da Av. Calógeras e Rua Marechal Rondon

Fonte: Imagem do autor

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5.2 Ideias e Propostas

Entre as diretrizes que guiaram a implantação do complexo de edifícios no

terreno está entre as principais o princípio de atravessar toda sua extensão sem a

preocupação com barreiras visuais ou físicas. Ou seja, uma pessoa que olha da Rua

Marechal Rondon consegue visualizar o outro lado da quadra, a Rua Maracaju, e

vice versa. Isso faz com que os pedestres atravessem o empreendimento como se

estivessem em uma praça pública, cortando caminho, mas apreciando e

descobrindo a arquitetura do projeto, e dando vida ao lugar.

Para criar esses espaços abertos no térreo que permitiriam uma melhor

circulação e permeabilidade, foram utilizados balanços e pilotis, o que poderia

estimular os pedestres a adentrarem no miolo da quadra, mesclando os espaços

público e privado. Isso foi feito através de uma passagem coberta que liga a Rua

Maracaju à Av. Marechal Rondon, atravessando todo o complexo como foi feito no

projeto da Praça das Artes em que o prédio se abre em diferentes vias se

apropriando do miolo da quadra como um valor arquitetônico.

A esquina da Av. Calógeras com a Rua Marechal Rondon, com todo seu

movimento intenso de veículos, de agitação, deveria ser um ponto de destaque, de

atração, e para isso, as edificações foram afastadas dos limites da esquina do

terreno, ressaltando a monumentalidade do edifício com sua verticalidade e

estruturas à mostra, mas aliada à sua escala humana, dos espaços mais

aconchegantes, das pequenas lojas e serviços do entorno.

Já a Rua Maracaju, de aparente tranquilidade, em uma parte de meio de

quadra, tem sua implantação mais fechada, mais próxima da testada do terreno,

com um grande pórtico que marca a entrada do complexo.

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Para vencer o desnível do terreno, que é de aproximadamente 5 m entre sua

porção mais alta (Rua Marechal Rondon) e sua porção mais baixa (Rua Maracaju),

foram criadas escadarias diferenciadas. Uma delas, a que liga a Av. Calógeras ao

centro do complexo, além de servir de passagem, também serve como ponto de

descanso, com locais para sentar.

A acessibilidade ao projeto se dá através de rampas com inclinação máxima

de 8,33% em locais estratégicos como na Rua Marechal Rondon, próximo à agência

bancária, na porção central do empreendimento e na passagem lateral de quem vem

pela Av. Calógeras.

As vagas de estacionamento tanto para os moradores quanto para o comércio

foram situadas no subsolo do edifício, gerando maior área livre para a criação de

uma praça com locais de contemplação e de permanência e para a melhor

movimentação dos pedestres pelo térreo.

Existem dois acessos de entrada e saída de veículos: o primeiro fica

localizado na Rua Maracaju e o segundo na Av. Calógeras, sendo que ambos dão

acesso aos dois pavimentos subterrâneos de estacionamento. O primeiro subsolo é

destinado aos visitantes e trabalhadores em geral e o segundo subsolo é destinado

aos moradores dos apartamentos residenciais. Esse acesso ao segundo subsolo é

controlado através de chancelas e uma guarita.

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Tabela 3 – Áreas e Programa de Necessidades

Livraria Área Lojas (6) Área

1º pavimento 525,09 Loja 1 74,00

2º pavimento 240,79 Loja 2 74,00

3º pavimento 459,12 Loja 3 64,12

passarela 387,47 Loja 4 73,56

total 1612,47 Loja 5 74,00

Padaria/Lanchonete Área Loja 6 74,00

1º pavimento 309,00 total 433,68

2º pavimento 158,47 Escritórios Área

total 467,47 1º pavimento 1996,60

Restaurante Área 2º pavimento 1679,30

1º pavimento 271,99 3º pavimento 1679,30

2º pavimento 226,10 total 5355,20

total 498,09 Apto Mcju Área

Agência Bancária Área 1º pavimento 516,00

1º pavimento 268,80 2º pavimento 427,00

2º pavimento 202,85 pavimento tipo 516,00

total 471,65 tipo x6 3096,00

Academia Área total 4039,00

1º pavimento 92,49 Apto Mchal Área

2º pavimento 220,77 1º pavimento 646,00

total 313,26 2º pavimento 629,00

Serviços Área pavimento tipo 646,00

Agência Correios 61,75 tipo x7 4522,00

Lotérica 66,50 total 5797,00

total 128,25 Área construída total: 19116,07

Fonte: Do autor

Comércio, Alimentação e Serviços:

Os serviços como agência dos correios, agência bancária e lotérica ficaram

localizados no pavimento térreo, assim como a padaria/lanchonete e o restaurante.

Também foram alocados no térreo algumas lojas comerciais, uma academia e a

livraria, esta possuindo dois acessos, um pela fachada sul e o outro pela fachada

leste.

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O pavimento superior em todas as unidades é destinado à um mezanino ou à

um acréscimo de área à unidade em questão, como é o caso do restaurante e da

padaria/lanchonete, cada um com dois pavimentos.

Quanto à vegetação, foram utilizadas espécies nativas da região ou que

foram recomendadas pelo Guia de Arborização Urbana da Prefeitura Municipal de

Campo Grande.

Além da vegetação, que ajuda a criar um ambiente mais sombreado e

confortável, foram adotados espelhos d'água para melhorar ainda mais o micro-clima

do empreendimento, ajudando na umidificação e melhorando o conforto térmico em

dias mais secos.

A Livraria:

Em seu pavimento térreo, a livraria possui dois acessos, o principal voltado à

sua face leste, e o secundário voltado à sua face sul. Ela também pode ser

acessada pela passarela localizada no terceiro pavimento, através da passagem

pela escadaria do interior da padaria/lanchonete.

Essa passarela atravessa o terreno no sentido leste-oeste, e ao mesmo

tempo em que dá acesso à padaria/lanchonete, ainda demarca a entrada norte do

empreendimento formando um pórtico na Rua Maracaju.

Um fato que chama a atenção no desenho da livraria é o recuo que foi

formado em sua face norte (voltada para a Rua Maracaju) devido à entrada e saída

de veículos à garagem subterrânea. De dentro da livraria é possível observar essa

movimentação de veículos através de uma pele de vidro que permeia essa rampa

dando visão ampla tanto a quem está na parte de dentro quanto de fora da

edificação.

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A livraria possui um vão central formado por mezaninos no segundo e terceiro

pavimentos, o que também permite visualizar sua estrutura metálica aparente

formada por perfis I metálicos na cor preto.

Com relação à proteção solar, sua face leste é protegida tanto pelo pergolado

metálico localizado na parte exterior da livraria (que também marca a entrada)

quanto pela cobertura formada pela passarela que dá acesso à padaria/lanchonete.

A face oeste é totalmente fechada, já a face norte é protegida dos raios solares pela

marquise formada pelo avanço dos pavimentos de escritórios localizados acima da

livraria.

A passarela possui um fechamento em sua fachada norte, sendo apenas a

fachada sul aberta através de uma pele de vidro que percorre toda sua extensão e

dá ampla visão ao miolo do complexo de edificações.

O Edifício de Escritórios:

Os três pavimentos formados pelos escritórios podem ser acessados pelo

térreo através de um hall compartilhado, ou pela garagem subterrânea através de

duas circulações verticais localizadas em pontos estratégicos que servem de acesso

tanto para os escritórios em si quanto para os apartamentos residenciais, mas cada

um com seus elevadores próprios e controle de acesso diferenciado.

Para aumentar a privacidade e o controle de acesso foram destinados em

cada hall, dois elevadores para os escritórios e dois elevadores para os

apartamentos, cada um com mecanismos próprios, sendo o dos escritórios através

de cartão de acesso e catraca e dos apartamentos residenciais controlado pelos

próprios moradores.

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A estrutura dos escritórios é mista, sendo metálica em sua parte exterior e

convencional através de vigas e pilares nos pontos onde se necessita de

sustentação do prédio de apartamentos residenciais que fica localizado logo acima.

A implantação dos pavimentos dos escritórios se dá através da criação de

uma passagem coberta que liga a Rua Maracaju às Avenidas Calógeras e Marechal

Rondon, formando um L. Esse movimento que atravessa o terreno em toda sua

extensão, marcado por sua estrutura metálica treliçada vermelha, faz alusão à ponte

de aço que atravessa a Rua Antônio Maria Coelho entre a Av. Calógeras e a Av.

Ernesto Geisel, localizada no entorno do projeto e que caracteriza essa região da

cidade.

Por possuir uma planta livre, por conta de sua estrutura metálica treliçada

localizada em sua parte exterior, o edifício de escritórios permite que seu espaço

seja utilizado tanto para escritórios e salas particulares quanto para grandes

corporações que necessitem de toda a área do pavimento.

Todas suas faces são protegidas dos raios solares através de um painel de

aço perfurado que percorre toda sua extensão, menos nas "pontas" onde elas

possuem brises metálicos móveis. A face oeste, localizada acima das lojas, ainda

possui um terraço verde que serve de ponto de encontro entre as pessoas que

trabalham ou que visitam os escritórios em questão.

Os Apartamentos Residenciais:

A parte residencial do complexo, formado pelas torres MCJU e MCHAL, de 8

e 9 pavimentos respectivamente são acessadas, como foi dito anteriormente,

através de 2 elevadores próprios em cada prédio.

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Uma das diretrizes do trabalho é o adensamento do centro, mas impondo um

certo limite quanto à verticalização, por isso as unidades residenciais foram divididas

em duas torres, o que permitiu a criação de um espaço privativo forrado por

vegetação que liga os dois prédios.

Esse terraço jardim, que faz a ligação entre as duas torres, também acaba

servindo como ponto de encontro, contemplação e descanso. Além de ligar as duas

torres, ele ainda atravessa a torre MCJU dando continuidade e abrindo-se à sua face

norte, na Rua Maracaju.

Os acessos ao terraço jardim são dotados de mezaninos que dão visão

privilegiada tanto à natureza formada pela vegetação abundante quanto da cidade

de Campo Grande.

Com relação às unidades residenciais, existe uma grande variedade de

apartamentos, com dimensões que vão de 43 m² à 113 m². Com isso, os mais

diversos tipos de famílias e moradores podem ocupar esses espaços.

Os apartamentos foram pensados de forma a terem grandes varandas nas

faces norte e sul (protegendo dos raios solares no caso da fachada norte), e

procurando ter-se o mínimo possível de aberturas nas fachadas leste e oeste, sendo

que quando necessário ter-se-ia a proteção solar com a utilização de brises.

A estrutura adotada nos prédios de apartamentos é a convencional, com

vigas, pilares e lajes de concreto.

O sistema utilizado nas lajes que possuem telhados verdes foi o "SkyGarden".

Esse sistema permite a criação de verdadeiros jardins com diversas espécies e

tamanhos de plantas em apenas alguns centímetros de substrato e outros

componentes.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O abandono dos centros urbanos é uma realidade atual que não se pode

deixar de lado, pois com um mundo cada vez mais preocupado com as mais

diversas questões arquitetônicas e urbanísticas das grandes metrópoles como a

violência, o caos no trânsito, a poluição e a consequente diminuição na qualidade de

vida da população, projetos como o presente trabalho contribuem e muito na saúde

física e mental dos cidadãos e na requalificação da cidade como um todo.

Um edifício híbrido bem elaborado, com um programa bem fundamentado e

pensado principalmente no bem estar dos que ali convivem, pode revitalizar não

apenas aquele local que antes era fruto do descaso e do abandono, mas também

influenciar positivamente e servindo de inspiração em futuras percepções sobre o

que realmente importa na concepção arquitetônica: o espaço e os laços que são

construídos nele.

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