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ANNUNZIATA ALVES IULIANELLO DEPOIMENTO ESPECIAL um instrumento de concretização da proteção integral de crianças e adolescentes submetidos a abuso sexual DEPOIMENTO ESPECIAL

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ANNUNZIATA ALVES IULIANELLO

ANNUNZIATA ALVES IULIANELLO

DEPOIMENTO ESPECIAL“

um ins trumento de concre t ização da proteção integral de cr ianças e adole scente s subme t idos a abuso sexual

DEPOIMENTO ESPECIAL

Este livro é um trabalho consentâneo com essa época e, digo sem qualquer receio de errar, contribui decisivamente para a ciência penal da pós-moder-nidade. Ele transparece exatamente a competência, o preparo, a pesquisa séria e o caráter de uma busca efetiva e resolutiva de problemas concretos e reais na busca da proteção integral de vítimas. Ele não é somente um curso sobre depoimento especial, é uma ferramenta de transformação social”.

Alexandre Rocha Almeida de Moraes

Trata-se de uma obra de fôlego, na qual a jurista medita sobre as bases da sua ciência. Entretanto, frases enigmáticas, tecnicismo estéril, erudição fin-gida, nada disso o leitor encontrará nesta obra. Esse, por sinal, é um dos grandes méritos da autora: habilidade para exprimir com clareza suas ideias, sem perda da sutileza do raciocínio e da argumentação”.

Pedro Henrique Demercian

O processo de revitimização pro-movido pelas instâncias formais de controle social pode ampliar subs-tancialmente os danos já suportados pelas vítimas em decorrência da prá-tica do crime, sobretudo das vítimas mais vulneráveis, como crianças e adolescentes submetidos a abuso sexual. A presente obra tem o obje-tivo de analisar como as disposições contidas na Lei n. 13.431/17, reflexo da doutrina da proteção integral, assu-mem substancial importância para evitar ou, pelo menos, minimizar os riscos de vitimização secundária, dando-se enfoque ao depoimento especial e à necessidade de atuação integrada entre a rede de atendimen-to da infância e juventude e as ins-tâncias formais de controle social.

ANNUNZIATA ALVES IULIANELLO

Promotora de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo. Ba-charel em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Pós-Graduação Lato Sensu (espe-cialização em Direito) pela Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro – EMERJ. Mestre em Direi-to Processual Penal pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. Professora convidada dos cursos de Pós-Graduação Lato Sen-su da Escola Superior do Ministério Público do Estado de São Paulo – ESMP, da Escola Paulista da Magis-tratura – EPM e do COGEAE. ISBN 978-65-5059-013-0

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DEPOIMENTO ESPECIALum ins trumento de concre t ização da proteção integral de

cr ianças e adole scente s subme t idos a abuso sexual

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ANNUNZIATA ALVES IULIANELLO

DEPOIMENTO ESPECIALum ins trumento de concre t ização da proteção integral de

cr ianças e adole scente s subme t idos a abuso sexual

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Plácido Arraes

Tales Leon de Marco

Bárbara Rodrigues

Letícia Robini(Sobre imagem de Katrina Knapp, via Unsplash [modificada])

Nathalia Torres

Editor Chefe

Editor

Produtora Editorial

Capa, projeto gráfico

Diagramação

Todos os direitos reservados.

Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, por quaisquer meios, sem a autorização prévia do Grupo D’Plácido.

Catalogação na Publicação (CIP)Ficha catalográfica

IULIANELLO, Annunziata Alves.Depoimento Especial: um instrumento de concretização da proteção integral de crian-

ças e adolescentes submetidos a abuso sexual. -- Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2019.

362 p.

ISBN: 978-65-5059-013-0

1. Direito. 2. Direito Penal. I. Título.

CDD341.5 CDU343

W W W . E D I T O R A D P L A C I D O . C O M . B R

Belo HorizonteAv. Brasil, 1843,

Savassi, Belo Horizonte, MGTel.: 31 3261 2801

CEP 30140-007

São PauloAv. Paulista, 2444, 8º andar, cj 82Bela Vista – São Paulo, SPCEP 01310-933

Copyright © 2019, D’Plácido Editora.Copyright © 2019, Annunziata Alves Iulianello.

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Dedico este livro à minha família, em especial aos meus pais, Federico Iulianello Neto e Teresinha Alves Iulianello, meus

presentes de Deus, por todo amor, carinho, apoio e dedicação incansável. Só tenho a agradecê-los por tudo o que foram,

são, fizeram e fazem por mim.

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Sumár io

Prefácio 11

Apresentação 15

Introdução 17

1. A vitimologia e a posição da vítima nas ciências penais 21

1.1. A vítima: de protagonista a figura esquecida 21

1.1.1. A fase da vingança privada ilimitada 22

1.1.2. A fase da vingança privada limitada 25

1.1.3. A “Idade de Ouro das vítimas” 26

1.1.4. A concentração do monopólio do ius puniendi nas mãos do Estado 28

1.1.5. As consequências do afastamento da vítima 32

1.1.6. A redescoberta da vítima 37

1.2. A vitimologia e o resgate da importância da vítima 40

1.2.1. Criminologia e a vítima 40

1.2.2. O surgimento da Vitimologia 49

1.2.2.1. A Vitimologia tradicional 49

1.2.2.2. A Vitimologia moderna 54

2. A vítima e a criança ou adolescente vítima de abuso sexual: considerações fundamentais 61

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2.1. Conceito de vítima 61

2.1.1. Conceito gramatical ou literário 61

2.1.2. Conceito vitimológico amplo 62

2.1.3. Conceito criminológico 63

2.2. As disposições normativas acerca das vítimas 71

2.2.1. A normativa no âmbito internacional 71

2.2.2. A normativa no âmbito da legislação interna 75

2.3. A vítima como sujeito de direitos: direitos básicos das vítimas de crimes 81

2.3.1. A dignidade humana e o reconhecimento da vítima como sujeito de direitos 82

2.3.2. Direitos fundamentais das vítimas de crimes 88

2.3.2.1. Direito à informação 90

2.3.2.2. Direito à proteção 91

2.3.2.3. Direito à participação 93

2.3.2.4. Direito à reparação ou indenização 94

2.3.2.5. Direito à assistência 98

2.4. A criança e o adolescente vítima de abuso sexual 99

2.4.1. A vítima menor de idade como sujeito de direitos 99

2.4.2. A vítima menor de idade e a acentuada vulnerabilidade 103

2.4.3. A vítima menor de idade e o abuso sexual 105

3. A vitimização secundária ou revitimização 1153.1. O processo de vitimização 117

3.1.1. Tipos ou níveis de vitimização 118

3.1.1.1. Vitimização primária 119

3.1.1.2. Vitimização secundária 120

3.1.1.3. Vitimização Terciária 122

3.2. Vitimização secundária: fatores e consequências 125

3.3. Vitimização secundária: a fase pré-processual 131

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3.4. Vitimização secundária: a fase processual 138

3.5. Vitimização secundária: a fase pós-processual 146

4. Proteção integral, ius puniendi, vedação da proteção deficiente e a vitimização secundária de crianças e adolescentes submetidos a abuso sexual 151

4.1. A doutrina da proteção integral 151

4.2. O mandado de criminalização contido no artigo 227, § 4º, da Constituição Federal e o princípio da vedação de proteção deficiente 159

4.2.1. O artigo 227, § 4º, da Constituição Federal 160

4.2.2. O exercício do ius puniendi, a proteção integral e o princípio da vedação da proteção deficiente 164

4.3. A vitimização secundária das crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual 173

4.4. O advento da Lei n. 13.431/17 e a busca pela concretização da proteção integral da criança e do adolescente vítima 181

4.4.1. Considerações iniciais 181

4.4.2. A atuação integrada e a importância da capacitação da rede de atendimento com enfoque multidisciplinar: proteção e prevenção de “falsas memórias” 184

4.4.3. O dever legal de comunicação 190

4.4.4. A escuta especializada 196

4.4.5. A criação de delegacias de polícia e varas especializadas 201

4.4.6. O papel do Ministério Público na concretização dos objetivos traçados pela Lei n. 13.431/17 208

5. A persecução penal e o surgimento do depoimento especial: prevenindo-se a revitimização de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual 225

5.1. A persecução penal 225

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5.1.1. Conceito 225

5.1.2. A persecução penal, o modelo garantista e o princípio do superior interesse da criança e do adolescente 226

5.2. O depoimento da vítima menor de idade como meio de prova 236

5.2.1. Considerações gerais 236

5.2.2. A produção de prova e a busca pela “verdade” 237

5.2.3. As declarações da vítima como meio de prova 244

5.2.4. O direito da vítima menor de idade de ser ouvida 250

5.2.5. O depoimento da criança ou adolescente vítima de abuso sexual 258

5.3. O depoimento especial e a redução de danos 268

5.3.1. Escorço histórico: o “Projeto Depoimento Sem Dano” 270

5.3.2. Principais críticas ao depoimento especial 276

5.4. O depoimento especial na Lei n. 13.431/17 287

5.4.1. Oitiva em solo policial e depoimento especial 289

5.4.2. O depoimento especial em juízo 297

5.4.2.1. A intermediação feita por profissionais especializados e a resistência por parte de alguns profissionais das áreas de Psicologia e Assistência Social 299

5.4.2.2. O momento que antecede a realização do depoimento especial 308

5.4.2.3. Os protocolos de entrevista e a entrevista cognitiva 310

5.4.2.4. A importância das “perguntas abertas” e a necessidade de capacitação dos profissionais que participam das audiências 314

5.5. A produção antecipada de provas 317

Conclusão 335

Referências 341

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Prefác io

O Direito Penal é um raio-x da ética social. O Processo Penal, por sua vez, mais que indicar os valores de um tempo social, evidencia o modelo de Estado e de Política Criminal adotada.

Ser um profissional do Direito preocupado com a realidade social é crucial nesse tempo histórico em que vivemos. Para tanto, é preciso ter um olhar consciente do tempo social pós-moderno, assim como da dogmática penal e processual penal vigentes.

Nesse novo tempo social, há que se dar voz plena e proteção integral às vítimas.

A vítima que tinha o monopólio da vingança e que passou, desde a ideia de contrato social e Estado de Direito, a um papel nulo ou quase de coadjuvante, vem assumindo paulatinamente importante relevância nesse tempo democrático e pós-industrial.

Novos sistemas jurídicos, como o Estatuto da Criança e do Ado-lescente, a Lei Maria da Penha, o Estatuto do Idoso, entre outros, vêm demandando a formação de profissionais que trabalhem de forma mul-tidisciplinar, transversal, resolutiva e com clara ideia de proteção integral aos destinatários dos serviços do sistema de segurança e de justiça: a vítima tomada individualmente e a sociedade ou a vítima difusa dessa era.

Este livro é um trabalho consentâneo com essa época e, digo sem qualquer receio de errar, contribui decisivamente para a ciência penal da pós-modernidade. Ele transparece exatamente a competência, o preparo, a pesquisa séria e o caráter de uma busca efetiva e resolutiva de problemas concretos e reais na busca da proteção integral de víti-mas. Ele não é somente um curso sobre depoimento especial, é uma ferramenta de transformação social.

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Fui testemunha da dedicação da autora Annunziata Alves Iulianello na construção de sua dissertação de mestrado sob o título “Vitimização secundária: o depoimento especial como instrumento de concretização da proteção integral de crianças e adolescentes submetidos a abuso sexual”, defendida com brilhantismo perante seleta banca na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

A partir da ideia de uma Ciência Penal completa, conciliando Política Criminal, Criminologia (especificamente a Vitimologia) e a dogmática processual penal, a autora faz um preciso histórico sobre o tema, traça um paralelo com o direito comparado, máxime a partir dos tratados internacionais, explora o histórico de abusos sexuais de crianças e adolescentes, para apresentar a ideia de que se revela essencial um novo modo de se proceder à colheita da prova e à própria investigação em casos de crimes contra a dignidade sexual.

O trabalho impecável dessa brilhante carioca, adotada em definitivo pelo Ministério Público de São Paulo, sob a ótica de uma política de doutrina integral de crianças e adolescentes, sentencia – isso mesmo, sentencia – a necessidade urgente de que profissionais do sistema de segurança e de justiça, incluindo o próprio Parquet, se afeiçoem a um novo modo de agir para evitar qualquer forma de revitimização.

Somente por fomentar a reflexão de tais temas contemporâneos, a obra já merece ser lida e discutida na academia.

Mas a importância do legado justifica-se ainda mais, pois esta obra será verdadeira referência nacional numa efetiva e concreta proteção integral de vítimas crianças que já sofreram seríssimos abusos e que exigem um cuidado profissional mais adequado e condizente.

Este livro – repita-se –, que se revela uma verdadeira ferramenta de transformação social, constitui um capítulo importante do futuro “Estatuto das Vítimas” que se pretende escrever no país, embora a au-tora, com sensibilidade e consciência, tenha alertado sobre o Estatuto já existente na Espanha, que, “infelizmente, a previsão de determinados direitos na legislação não significa que eles sejam realmente efetivados, na medida em que, por vezes, a efetiva concretização de direitos demanda uma mudança de cultura que somente vem com o passar do tempo”.

Precisa, consciente e realista.Não há como negar que esta obra será responsável por tornar

concreto e efetivo o Estatuto Nacional que se começa a escrever.Seus pais, por certo, devem estar orgulhosos de ver essa bri-

lhante colega escrever parte da história, seguindo os passos de seu

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conterrâneo e príncipe dos promotores, Roberto Lyra, que de forma enfática dizia:

Do lado da vítima é que gritam as saudades irreparáveis, as dores irremediáveis, as desgraças eternas, as indignações in-finitas. Se o réu tem mulher e filhos, a vítima deixou viúva e órfãos. Se alguém merece piedade, não é quem mata, mas quem morre. Seja qual for a culpa da vítima, é sempre menor do que a do réu1.

Esta obra, como uma inspiração em Roberto Lyra, fala por si só.Colegas e amigos de São Paulo e do Rio de Janeiro que já conhe-

ciam Annunziata Alves Iulianello, agora mostrarão ao país a profissional e escritora por trás deste brilhante estudo que a consagrou como Mestre com nota máxima.

Alexandre Rocha Almeida de MoraesPromotor de Justiça do I Tribunal do Júri da Comarca da

Capital - São Paulo. Mestre e Doutor em Direito Penal pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

1 LYRA, Roberto. Teoria e Prática da Promotoria Pública. São Paulo: Safe, 1989. p. 199.

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Apresentação

Não há novidade na constatação de que o destino reserva a al-gumas pessoas benesses superiores a seus méritos. Foi com paradoxal sentimento de orgulho e preocupação que recebi honrosa incumbência de fazer a apresentação da brilhante obra elaborada pela professora Annunziata Alves Iulianello.

Tive o privilégio de acompanhar a carreira acadêmica da autora, como seu orientador na pós-graduação stricto sensu da Pontifícia Uni-versidade Católica de São Paulo. Impressionou-me à época a fluência com que a autora transitava pelos domínios do Direito Penal e Processo Penal, com especial destaque para a sua preocupação com o papel e a condição das vítimas.

A presente obra teve origem em sua dissertação de mestrado, ver-sando sobre o depoimento especial como um instrumento efetivo para se obviar a revitimização de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual. Da banca de qualificação, fizeram parte os professores doutores Antonio Carlos da Ponte e Alexandre Rocha Almeida de Moraes, com reconhecidos atributos acadêmicos e práticos na área específica. Jun-tou-se à banca de mestrado a competência do professor doutor André Estefam Araújo Lima.

O trabalho foi aprovado com distinção e nota máxima, demons-trando a excelência da pesquisa e, acima de tudo, o inegável alcance prático, com uma contribuição insofismável e de grande importância à escassa produção científica existente sobre o tema.

A autora explora, com maestria, as bases da Vitimologia e a dig-nidade da pessoa humana, com um consistente estudo e proposições para o enfrentamento da complexa questão da vitimização secundária,

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destacando os danos derivados de uma falha na tutela da vítima no pro-cesso penal e evidenciando as respostas ineficientes por parte do Estado.

Fica claro pela leitura do texto – bastante fluido – o absoluto senhorio sobre a arte da interpretação jurídica e a compreensão das regras que compõem o vasto universo do Direito.

Como já se disse alhures, quem permanece na superfície dos textos legislativos jamais poderá compreender a substância dos fenômenos jurídicos. É indispensável, portanto, a reflexão sobre os princípios, que dão coerência e sentido ao Direito, daí a importância desta obra, que não se limita a um livro de notas. Trata-se de uma obra de fôlego, na qual a jurista medita sobre as bases da sua ciência. Entretanto, frases enigmáticas, tecnicismo estéril, erudição fingida, nada disso o leitor encontrará nesta obra. Esse, por sinal, é um dos grandes méritos da autora: habilidade para exprimir com clareza suas ideias, sem perda da sutileza do raciocínio e da argumentação.

Em outras palavras, pela segurança, clareza e autoridade, a autora nos revela, de forma bem “heideggeriana”, o próprio “ser” do tema analisado, atingindo plenamente seus objetivos, quais sejam: (a) o estudo da Vitimologia; (b) a exata compreensão da vitimização secundária; (c) a escassez de instrumentos penais e processuais que dão concreção à dignidade humana da vítima; e (d) a apresentação de propostas concretas para a consecução dos objetivos mencionados, notadamente a figura da vítima no cenário atual.

De fato, em meio a tantas coisas fugazes que marcam a existência humana, a amizade desponta como uma poderosa proteção. Agradeço à professora Annunziata Alves Iulianello pelo privilégio de fazer essa breve apresentação da obra, que, não tenho dúvida, será de consulta necessária e obrigatória para aqueles que pretendam aprimoramento científico no vasto e complexo universo do papel da vítima no processo penal contemporâneo.

Pedro Henrique DemercianProfessor Assistente de Direito Processual Penal da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo. Procurador de Justiça Criminal em São Paulo.

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Int rodução

Embora a ampliação dos danos sofridos pelas vítimas perante as instâncias formais de controle social seja um fenômeno que ocorra de forma ampla, fato é que ele ganha maior relevância quando se está diante de vítimas dotadas de maior grau de vulnerabilidade, como crianças e adolescentes submetidos a abuso sexual. Assim, verifica-se, portanto, a necessidade de que sejam buscados instrumentos que tenham o condão de impedir que esse processo de revitimização ocorra ou, pelo menos, de minorar os riscos de possíveis novos danos, sendo o depoimento especial um importante instrumento nesse mister.

A correta compreensão do tema envolvendo o processo de revitimização de crianças e adolescentes que sofreram abuso sexual demanda, inicialmente, o conhecimento acerca dos aspectos fun-damentais existentes em torno do papel que a vítima ocupou nas ciências penais ao longo da história. Sendo assim, é importante que seja feita uma análise da forma como a vítima deixou o papel de protagonista e se tornou uma figura esquecida, passando a ser, para o Direito Penal, um mero sujeito passivo ou objeto material sobre o qual recai o delito e, para o Processo Penal, uma simples “informan-te”, tendo importância apenas para fins de reconstrução dos fatos em juízo. Mostra-se relevante, nesse aspecto, verificar a influência que a concentração do monopólio do ius puniendi nas mãos do Estado e a teoria do bem jurídico tiveram para tanto.

Posteriormente, é necessário analisar de que forma a vítima pas-sou a ter novamente importância para as ciências penais, fenômeno denominado pela doutrina de “redescoberta da vítima”, passando a ter relevância na análise do fenômeno criminoso. Aqui, afigura-se funda-

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mental a compreensão de algumas noções básicas sobre a evolução da Criminologia até o surgimento da Vitimologia, a qual ganhou força por influência da macrovitimização decorrente dos graves danos deixados pela Segunda Guerra Mundial. Além disso, é fundamental analisar a evolução que a própria Vitimologia teve ao longo dos anos até que chegasse à concepção preponderante hodiernamente, ou seja, à Viti-mologia moderna, mormente no que tange à identificação de grupos dotados de maior vulnerabilidade, apresentando uma política criminal de cunho preventivo, a qual não pode ignorar as vítimas.

O próprio conceito de vítima é tema que tem suscitado divergên-cias na doutrina, na medida em que alguns lhe conferem uma cono-tação mais ampla, enquanto outros, por sua vez, trazem uma definição mais restritiva. Encontrar um ponto de equilíbrio nessa controvérsia, possibilitando estabelecer um conceito que não seja demasiadamente amplo, mas que consiga refletir a necessidade de proteção das vítimas nas ciências criminais, é um desafio.

Na sequência, tema de extrema relevância, a respeito do qual serão tecidas algumas considerações, consiste no reconhecimento da vítima como sujeito de direitos, o que está intrinsicamente relacionado ao princípio da dignidade da pessoa humana. Somente a partir da premissa de que a vítima é sujeito de direitos é possível se falar na existência de determinados direitos que devem ser obrigatoriamente observados pelos profissionais que laboram no sistema de justiça, especialmente na esfera criminal.

Fundamental também que sejam feitas algumas observações acerca da vítima menor de idade, bem como sobre a forma como crianças e adolescentes, ao longo da história, foram reconhecidos como sujeitos de direitos, merecedores de especial proteção por possuírem a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Ademais, sob esse aspecto ge-ral, é fundamental que se verifique como as vítimas menores de idade, e em especial aquelas que sofreram abuso sexual, foram consideradas pela Vitimologia como vítimas dotadas de especial vulnerabilidade, necessitando de uma proteção especial por parte das instâncias formais de controle social.

Após essa digressão, será analisado o fenômeno da vitimização se-cundária, com algumas considerações iniciais a respeito do processo de vitimização, até que se chegue à vitimização provocada pelas instâncias formais de controle social, conhecida como vitimização secundária. Serão mencionados os principais fatores e consequências existentes

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em torno da revitimização, bem como a maneira como ela se verifica nas fases pré-processual, processual e pós-processual.

Especificamente em relação à criança e ao adolescente vítima de abuso sexual, é fundamental que se compreenda a correlação existente entre a doutrina da proteção integral, o mandado de criminalização contido no § 4º do artigo 227 da Constituição Federal e a vedação da proteção deficiente do bem jurídico. Com isso, será possível ve-rificar como o advento da Lei n. 13.431/17 representou uma busca pela concretização da proteção integral da criança e do adolescente vítima. Nesse contexto, mostra-se relevante o conhecimento de alguns aspectos trazidos pela referida lei, como a importância da atuação inte-grada e a capacitação com enfoque multidisciplinar, a criação de varas e delegacias de polícia especializadas, o dever legal de comunicação da suspeita da ocorrência de abusos sexuais aos órgãos competentes, a escuta especializada e o importante papel que o Ministério Público possui na concretização dos objetivos traçados pela Lei n. 13.431/17.

A partir de então, na sequência, será analisada a forma como o depoimento especial surgiu no ordenamento jurídico brasileiro como importante instrumento para se evitar a vitimização secundária durante a persecução penal. Necessária, ainda, a verificação sobre como se com-patibilizar o modelo garantista com o princípio do superior interesse da criança e do adolescente. A difícil tarefa de produção de prova e os questionamentos existentes em torno da própria credibilidade confe-rida às declarações das crianças e adolescentes, mormente quando são vítimas de abuso sexual, são aspectos que também assumem especial relevância e precisam ser examinados

Sendo a persecução penal uma atividade estatal imprescindível, partindo-se da premissa de que as crianças e adolescentes vítimas têm o direito de falar sobre a violência que sofreram, será feita uma análise do depoimento especial como uma forma de redução dos danos causados pela atividade persecutória estatal. Essencial, ainda, algumas noções do escorço histórico de sua implantação no Brasil, especialmente quando ainda consistia no chamado Projeto Depoimento Sem Dano, bem como acerca das principais críticas que lhe são atribuídas.

Por fim, será examinada a forma como o depoimento especial foi regulado na Lei n. 13.431/17, iniciando-se pela controvérsia existente acerca da possibilidade ou não de sua realização em solo policial, pas-sando-se, então, à verificação de como ele deve ser feito em juízo. A intermediação feita por profissionais especializados, a entrevista cogni-

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tiva, a importância da realização de perguntas abertas, a necessidade de capacitação dos profissionais que participam das referidas audiências e a extrema relevância que a realização do depoimento especial possui, a título de produção antecipada de provas, serão os aspectos submetidos à análise para se compreender como deve ser feita a concretização da proteção integral das crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual perante as instâncias formais de controle social, evitando-se – ou ao menos minimizando – a vitimização secundária.

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ANNUNZIATA ALVES IULIANELLO

ANNUNZIATA ALVES IULIANELLO

DEPOIMENTO ESPECIAL“

um ins trumento de concre t ização da proteção integral de cr ianças e adole scente s subme t idos a abuso sexual

DEPOIMENTO ESPECIAL

Este livro é um trabalho consentâneo com essa época e, digo sem qualquer receio de errar, contribui decisivamente para a ciência penal da pós-moder-nidade. Ele transparece exatamente a competência, o preparo, a pesquisa séria e o caráter de uma busca efetiva e resolutiva de problemas concretos e reais na busca da proteção integral de vítimas. Ele não é somente um curso sobre depoimento especial, é uma ferramenta de transformação social”.

Alexandre Rocha Almeida de Moraes

Trata-se de uma obra de fôlego, na qual a jurista medita sobre as bases da sua ciência. Entretanto, frases enigmáticas, tecnicismo estéril, erudição fin-gida, nada disso o leitor encontrará nesta obra. Esse, por sinal, é um dos grandes méritos da autora: habilidade para exprimir com clareza suas ideias, sem perda da sutileza do raciocínio e da argumentação”.

Pedro Henrique Demercian

O processo de revitimização pro-movido pelas instâncias formais de controle social pode ampliar subs-tancialmente os danos já suportados pelas vítimas em decorrência da prá-tica do crime, sobretudo das vítimas mais vulneráveis, como crianças e adolescentes submetidos a abuso sexual. A presente obra tem o obje-tivo de analisar como as disposições contidas na Lei n. 13.431/17, reflexo da doutrina da proteção integral, assu-mem substancial importância para evitar ou, pelo menos, minimizar os riscos de vitimização secundária, dando-se enfoque ao depoimento especial e à necessidade de atuação integrada entre a rede de atendimen-to da infância e juventude e as ins-tâncias formais de controle social.

ANNUNZIATA ALVES IULIANELLO

Promotora de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo. Ba-charel em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Pós-Graduação Lato Sensu (espe-cialização em Direito) pela Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro – EMERJ. Mestre em Direi-to Processual Penal pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. Professora convidada dos cursos de Pós-Graduação Lato Sen-su da Escola Superior do Ministério Público do Estado de São Paulo – ESMP, da Escola Paulista da Magis-tratura – EPM e do COGEAE. ISBN 978-65-5059-013-0